FILIS 2025: onde os grandes debates da Saúde acontecem. Veja a agenda completa

Está chegando a hora! No dia 21 de agosto, o Teatro B32, em São Paulo, será palco da 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Abramed.

O evento reunirá especialistas, autoridades e executivos do Brasil para discutir alguns dos temas mais estratégicos para o setor: impactos climáticos na saúde, qualidade assistencial, inovação, interoperabilidade e perspectivas para o futuro da Saúde no país.

A programação inclui a entrega da 7ª edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, a apresentação dos dados inéditos do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico (que neste ano traz pela primeira vez um capítulo especial sobre interoperabilidade).

Confira a agenda completa do FILIS 2025:

21 de agosto de 2025 | Teatro B32 – São Paulo

Abertura e Prêmio Dr. Luis Gastão Rosenfeld
Entrega da 7ª edição do prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld – uma homenagem que reconhece profissionais cuja trajetória contribuem de forma significativa para o desenvolvimento e a melhoria do sistema de saúde brasileiro.

Apresentação do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico.

Esta publicação anual é amplamente aguardada pelo setor e reúne dados estratégicos e atualizados do mercado de medicina diagnóstica. A edição deste ano traz, ainda, um capítulo especial sobre Interoperabilidade na Saúde, tema fundamental para o avanço da integração e da eficiência no cuidado em saúde no Brasil.

Eixo ESG

Palestra “Desafios da Saúde em Tempos de Mudanças Ambientais” com Paulo Saldiva (Médico Patologista, Professor e Pesquisador da USP)

Debate com o tema “Do Clima à Saúde: Os Desafios de um Mundo em Transformação” e participação de:

  • Pedro Westphalen – Deputado Federal (PP/RS)
  • Paulo Saldiva – USP
  • Mediação: Claudia Cohn – Membro do Conselho de Administração da Abramed e CEO do Alta Diagnósticos.

Eixo Qualidade na Saúde

Momento Transformação – com a apresentação de case internacional sobre soluções digitais que trazem impacto clínico na gestão e qualidade do cuidado em saúde, com Iván Mojica, Patologista Clínico e Líder em Medicina Diagnóstica.

Palestra “O Futuro do Diagnóstico e a Segurança do Paciente” – com Nelson Teich – Ex-Ministro da Saúde e Consultor Sênior na Teich Gestão em Saúde.

Debate com o tema “A Importância da Qualidade para a Eficiência do Sistema de Saúde” e participação de:

  • Anderson Nascimento – CEO da Rede Total Care
  • Jeane Tsutsui – CEO do Grupo Fleury
  • Nelson Teich, Ex-Ministro da Saúde e atual Consultor Sênior na Teich Gestão em Saúde
  • Marcos Queiroz – Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein e Membro do Conselho de Administração da Abramed
  • Mediação: Wilson Shcolnik – Membro do Conselho de Administração da Abramed e Gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury.

Eixo Inovação

Apresentação do Projeto de Interoperabilidade do InovaHC com Marco Bego – Diretor Executivo do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da FMUSP

Momento Transformação – com apresentação de case sobre Interoperabilidade com Paula Xavier – Diretora do Departamento de Informação e Informática do SUS (DATASUS).

Debate final com o tema “Interoperabilidade na Saúde: Oportunidades e Caminhos para o Futuro”, e participação de:

  • Ana Estela Haddad – Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde
  • Carlos Marinelli – Diretor Presidente da Bradesco Saúde
  • Rafael Lucchesi – CEO da Dasa Diagnósticos
  • Cesar Nomura – Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês
  • Mediação: Ademar Paes Jr. – Sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed

Encerramento – com participação da Vice-Presidente do Conselho de Administração da Abramed, Lídia Abdalla.

Ainda dá tempo de participar! Acesse www.abramed.org.br/filis e faça a sua inscrição!

Abramed alerta sobre a falta de segurança nos diagnósticos e atendimentos médicos fora do ambiente laboratorial

Em matéria publicada pelo portal Saúde Business, a Abramed esclareceu, com responsabilidade e respaldo técnico, a equívoca e preocupante ideia de dispor o setor farmacêutico como polo de diagnóstico e atendimento médico, cumprindo uma função que vai além do seu relevante papel na assistência e ampliação do acesso da população a medicamentos.

A entidade destaca que, de acordo com a RDC nº 978/2025 da Anvisa, em vigor desde 10 de junho, as farmácias podem realizar apenas exames simples de triagem, sem finalidade diagnóstica, e sob condições técnicas e sanitárias específicas.

“Não se faz diagnóstico em farmácia nem por meio de testes rápidos. O que pode ser feito ali são triagens muito pontuais, e mesmo assim com restrições claras”, afirma Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed. A posição da Associação se baseia na necessidade de garantir segurança, qualidade e rastreabilidade — pilares que exigem infraestrutura e controle de processos, características próprias do ambiente laboratorial.

Carlos Eduardo Ferreira, líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed e gerente médico do Laboratório Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, acrescenta que “não é sequer viável tecnicamente transformar o espaço de uma farmácia em um posto de coleta ou em um centro diagnóstico. Testes pontuais, de triagem, são bem-vindos; agora exames que exigem coleta e armazenagem de material biológico demandam infraestrutura tecnológica, supervisão e rigor. Não atender a esses pilares é algo que vai contra toda a busca por mais precisão do setor de Medicina Diagnóstica”.    

Como representante de associados responsáveis por mais de 80% dos exames da saúde suplementar, a Abramed reafirma o seu compromisso de ampliar o acesso à Medicina Diagnóstica de qualidade com base na legalidade, nas boas práticas clínicas e na segurança do paciente e segue atuando para que isso aconteça da melhor forma possível.

Confira o posicionamento completo da entidade: https://www.saudebusiness.com/laboratorios/abramed-alerta-sobre-falta-de-seguranca-nos-diagnosticos-e-atendimentos-medicos-fora-do-ambiente-laboratorial.

O valor econômico da Medicina Diagnóstica: muito além do laudo

Por César Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed

Quando se pensa em um exame médico, normalmente se foca apenas no resultado, que chega em formato de um laudo — dando pouca atenção às imagens e gráficos indecifráveis para os leigos, mas que já são sinal inequívoco da complexidade da Medicina Diagnóstica.

Por trás de cada exame, existe uma profunda inteligência em saúde, movida por uma engrenagem complexa que movimenta bilhões de reais, sustenta milhares de empregos e impulsiona a inovação no Brasil.

A Medicina Diagnóstica não é apenas uma etapa do cuidado. É um motor silencioso que conecta ciência, tecnologia, indústria e desenvolvimento econômico.

Em 2024, as empresas associadas à Abramed realizaram cerca de 1 bilhão de exames. Esse número, por si só, impressiona. Mas o que ele representa vai muito além do volume: cada exame envolve insumos adquiridos, equipamentos em funcionamento, profissionais qualificados e cadeias de serviços que se movimentam.

Um simples teste de sangue mobiliza fornecedores de reagentes, fabricantes de materiais de coleta, empresas de logística, energia, tecnologia da informação e até empresas de descarte seguro de resíduos.

O impacto econômico é concreto. Em 2024, o consumo de produtos e equipamentos médico-laboratoriais cresceu 11,5%. O uso de reagentes subiu 28,4% e as importações, 19,4%. São recursos que irrigam o mercado, geram empregos e sustentam empresas de diversos segmentos.

Além de ser parte essencial das demandas geradas pelo setor de Saúde, que responde por cerca de 10% do PIB brasileiro, a Medicina Diagnóstica é também um vetor de inovação. A busca por precisão, agilidade e confiabilidade estimula investimentos constantes da indústria nacional e internacional em novas tecnologias.

O setor ainda possui um ativo de grande valor, mas pouco visível: a informação. Cada exame gera dados clínicos que, quando integrados e compartilhados com segurança, podem transformar o cuidado no país.

Esse, aliás, é o princípio da interoperabilidade, assunto tão debatido em nossa área por evitar exames repetidos, reduzir desperdícios, acelerar diagnósticos e liberar recursos para atender mais pacientes. Na prática, interoperabilidade é eficiência — e eficiência significa economia.

Toda essa engrenagem também está conectada a outro tema que dialoga diretamente com o impacto econômico do setor: a sustentabilidade.

Quando reduzimos o uso de filmes e papéis em exames de imagem e migramos para formatos digitais, estamos diminuindo nosso impacto ambiental e impulsionando um novo mercado de soluções sustentáveis. Isso envolve fornecedores de tecnologia, empresas de armazenamento seguro em nuvem, softwares de visualização, equipamentos de digitalização e serviços de descarte adequado.

Ou seja, até na busca por práticas ambientalmente responsáveis, a Medicina Diagnóstica continua sendo uma grande compradora, geradora de serviços e um setor que impulsiona a inovação. Um movimento que cria uma cadeia de valor que une eficiência operacional, responsabilidade ecológica e dinamismo econômico.

É por isso que defendo que a Medicina Diagnóstica seja vista e tratada como um pilar econômico e social do Brasil. Investir no nosso setor não é gasto — é estratégia. Cada real aplicado em diagnóstico de qualidade significa decisões clínicas mais assertivas, tratamentos mais eficazes, menos desperdício de recursos e mais vidas salvas.

O desafio agora é consolidar essa visão na formulação de políticas públicas, na regulação e no próprio planejamento das empresas.

Precisamos garantir um ambiente sustentável para que o setor continue crescendo, inovando e integrando a saúde do país. Porque fortalecer a Medicina Diagnóstica não é apenas cuidar melhor das pessoas — é fortalecer o Brasil.

Agentes de IA para otimizar a jornada do paciente no laboratório

Na Medicina Diagnóstica, cada minuto conta — não apenas para agilizar o resultado de um exame, mas para melhorar a experiência do paciente e garantir decisões clínicas mais rápidas e seguras. Nesse contexto, os agentes de Inteligência Artificial (IA) têm se consolidado como aliados estratégicos para reduzir gargalos operacionais e aumentar a eficiência em todas as etapas do atendimento, do agendamento à entrega do laudo.

Segundo o Dr. Marcos Queiroz, diretor de Medicina Diagnóstica no Hospital Israelita Albert Einstein, conselheiro e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, algumas aplicações já atingiram alto nível de maturidade para uso nos laboratórios.

“Na etapa analítica, as aplicações mais maduras estão associadas ao reconhecimento de padrões de imagens, à aceleração da leitura microscópica e à interpretação de exames complexos, como os exames genéticos”, afirma.

Essas soluções, já são implementadas em hospitais como o Albert Einstein, por exemplo, permitindo que exames como hemogramas, análises de sedimento urinário ou interpretações genéticas sejam processados com mais agilidade e acurácia.

Isso significa menos tempo de espera para o paciente, diagnósticos mais rápidos para o médico e maior capacidade operacional para o laboratório — sem abrir mão da qualidade.

O impacto também é sentido antes e depois da análise propriamente dita. Agentes de IA podem ajudar a reconhecer automaticamente problemas em amostras logo na coleta, evitando retrabalhos e convocações desnecessárias. No pós-análise, sistemas inteligentes geram alertas em prontuários eletrônicos para prevenir exames repetidos ou destacar resultados críticos, acelerando a tomada de decisão clínica.

Apesar dos grandes benefícios, a adoção de IA nos serviços de diagnóstico exige mais tecnologia avançada e compromisso com a segurança do paciente e com princípios éticos sólidos.

De acordo com o Dr. Marcos, os algoritmos precisam ser validados considerando a realidade populacional local, evitando o simples uso de soluções genéricas importadas. Essa validação demanda investimentos financeiros, tempo e treinamento especializado, mas é o que garante que as respostas geradas sejam adequadas e seguras para cada perfil de paciente atendido.

Outro ponto essencial é o olhar final do corpo clínico. Mesmo com a automação, a interpretação médica continua sendo decisiva: apenas o profissional, com visão integral do histórico e do quadro clínico, pode identificar possíveis erros ou inconsistências nas conclusões da IA.

Como os agentes de IA dependem de grandes volumes de dados para funcionar, a privacidade e a proteção dessas informações são pilares inegociáveis. A adoção de políticas rigorosas de cibersegurança e a criação de barreiras para impedir a entrada de sistemas sem todos os requisitos de proteção são medidas indispensáveis.

Além disso, o treinamento contínuo das equipes é fundamental para que se extraiam o máximo das soluções e para que se identifiquem eventuais quedas de performance dos algoritmos — o que pode ocorrer, por exemplo, com mudanças nos perfis epidemiológicos.

“A IA é uma aliada indispensável dos médicos, não uma substituta. Seu valor está no potencial de análise integrada e no suporte para decisões mais seguras e personalizadas”, conclui o Dr. Marcos.

O futuro do diagnóstico passa, inevitavelmente, pela capacidade de integrar inteligência artificial e sensibilidade humana. Quando aplicados com responsabilidade e supervisão clínica, os agentes de IA não apenas otimizam processos: eles redefinem o papel da Medicina Diagnóstica no cuidado à saúde, encurtando jornadas, ampliando acesso, preservando recursos e salvando vidas.

É nesse ponto de encontro entre dados precisos e olhar clínico que nasce o verdadeiro avanço: uma Medicina Diagnóstica mais ágil, precisa e centrada no paciente.

Vieses algorítmicos na Saúde: a IA na Medicina Diagnóstica precisa de contexto, não só de dados

Por Tatiana Almeida, Gerente Médica da área de dados do laboratório clínico no Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Comitê de Análises Clínicas e Interoperabilidade da Abramed

A promessa de uma revolução na Medicina impulsionada pela Inteligência Artificial é real. A imagem de um “Waze da Saúde”, capaz de indicar as melhores rotas para diagnóstico e tratamento, já deixou de ser ficção científica e está sendo construída em hospitais, laboratórios e startups.

Mas por trás dessa inovação, esconde-se um desvio perigoso: o risco de transformar desigualdades históricas em verdades matemáticas. Não há dúvidas de que o debate em torno dos vieses algorítmicos ganhou escala com o avanço da inteligência artificial e do aprendizado de máquina a partir de grandes bases de dados, porém, já de início, é importante esclarecer que estamos diante de um desafio que tem raízes mais profundas.

Os vieses não nascem da IA — eles refletem um mundo construído com recortes sociais, culturais e econômicos que agora são aprendidos pelas máquinas. A medicina baseada em evidências tenta reduzir esses efeitos com ensaios clínicos e amostragens controladas. A IA, no entanto, aprende com o que existe — e o que existe, muitas vezes, é desigual.

Seja cognitivo ou algorítmico, o viés distorce decisões. E quando um algoritmo é treinado com bases incompletas ou enviesadas — o que infelizmente não é raro — ele tende a replicar e amplificar esses desvios, com aparência de neutralidade, sobretudo em um cenário de (hiper) digitalização.

Na Medicina Diagnóstica, isso é ainda mais sensível: decisões orientam condutas e definem desfechos. Os exemplos são sutis e, ao mesmo tempo, alarmantes.

Um algoritmo pode diagnosticar pneumonia em pessoas negras com uma frequência maior do que a real — mas o que ele lê, na verdade, são as consequências de uma vulnerabilidade social, que muitas vezes recaem em moradias precárias, falta de acesso ao saneamento básico e alimentação inadequada. Em outro caso, um sistema otimizou a fila de ressonâncias magnéticas ao separar meninos “mais agitados” das meninas “mais calmas”. A eficiência operacional cresceu. Mas a que custo? O de reforçar um estereótipo cultural e institucionalizar, sem perceber, uma lógica de segregação de gênero.

Os algoritmos não produzem causalidade, apenas reconhecem padrões. E padrões podem ser perigosos se não forem avaliados com senso crítico, responsabilidade e contexto. O maior risco, porém, é a invisibilidade do viés. Um ciclo se instala: diagnósticos excessivos em populações vulneráveis geram tratamentos desnecessários, que levam a efeitos adversos e reforçam a falsa ideia de que aquele grupo é “mais doente”.

A estatística final apenas confirma o erro — e ele vira política pública, decisão médica, critério de triagem. E, nesse cenário, a regulação atual — centrada na eficácia técnica — não consegue identificar distorções éticas ou sociais.

Esse, aliás, é um ponto central: a IA é ferramenta, não agente decisório. O profissional de saúde precisa manter sua autoridade crítica, interpretando os dados com conhecimento clínico, a partir de exames precisos e de sensibilidade.

Como virar esse jogo?

A primeira resposta está na base: os dados. Modelos treinados a partir de bases limitadas — como de um único hospital público ou privado — não são aplicáveis em outros contextos. Criar bases diversas, testar o desempenho dos modelos com rigor e cruzar variáveis socioculturais é uma exigência ética.

O case do modelo de risco metabólico desenvolvido pelo Hospital Israelita Albert Einstein para os seus pacientes é ilustrativo: baseado em check-ups clínicos, ele indica alterações com potencial de agravamento ou melhora, de forma individual, sem generalizar e sem prescrever condutas, preservando o papel do médico. É o tipo de IA que alerta, mas não decide.

Outras boas práticas já estão descritas, como mostram as diretrizes do Departamento de Medicina Laboratorial (DLM, 2024): divisão clara de dados em treino, teste e validação; reprodutibilidade e explicabilidade — ou seja, a capacidade de compreender por que determinada decisão foi tomada  — precisam se tornar regra.

Além disso, a regulação, nesse cenário, precisa acompanhar o ritmo da inovação. Modelos validados tecnicamente ainda podem ser falhos do ponto de vista ético ou social. Relatórios de equidade e diversidade devem deixar de ser exceção e se tornar parte obrigatória da governança algorítmica, especialmente em soluções para a Saúde.

O futuro da inteligência artificial no setor não pode ser construído apenas por engenheiros ou desenvolvedores. É preciso reafirmar o papel do profissional de saúde como intérprete crítico e reforçar o protagonismo e a responsabilidade da área para propor seus próprios padrões e colaborar com a construção de diretrizes claras que garantam o olhar humano no centro de toda decisão automatizada.

A inteligência artificial pode, sim, levar a Saúde a um novo patamar de precisão e eficiência. Mas, como no Waze, nem todo caminho mais rápido é o mais seguro. Se não estivermos atentos ao destino, podemos acabar reforçando os becos mais escuros das desigualdades sociais.

Afinal, não basta inovar. É preciso inovar com responsabilidade.

Hepatites Virais: Brasil quer diagnosticar 90% dos casos até 2030. Como avançar?

Julho marca o mês de conscientização sobre as hepatites virais — infecções silenciosas, muitas vezes assintomáticas, que podem evoluir para cirrose e câncer hepático. Nos últimos anos, o Brasil intensificou sua mobilização sobre o tema e assumiu, junto à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de eliminar as hepatites como problema de saúde pública até o fim da década.

Para apoiar esse objetivo, o Governo federal lançou o Guia de Eliminação de Hepatites Virais, que propõe uma resposta nacional integrada, com foco em testagem, tratamento e prevenção, especialmente em populações vulnerabilizadas.

A meta é ambiciosa: diagnosticar 90% dos casos, tratar ao menos 80% das pessoas diagnosticadas e reduzir em 65% a mortalidade pela doença. Isso exige uma articulação efetiva entre diferentes esferas do sistema de saúde.

Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de incidência da hepatite A subiu 325% entre 2022 e 2024 — sendo 54,5% apenas no último ano. Os casos concentram-se em homens de 20 a 39 anos, com maior incidência nas capitais do Sul e Sudeste. O perfil da doença mudou: menos transmissão na infância e mais associação a relações sexuais desprotegidas.

Em contrapartida, a vacinação infantil contra hepatite A tem mostrado impacto positivo. Entre 2014 e 2024, a incidência entre crianças de 0 a 9 anos caiu 99,9%, evidenciando a força da imunização como política pública e apontando caminhos para ampliar a cobertura em outras faixas etárias.

Hoje, os principais obstáculos estão no combate às desigualdades de acesso e na organização das redes de cuidado em contextos de vulnerabilidade. A hepatite B, por exemplo, ainda é comumente transmitida de mãe para filho durante o parto ou a amamentação, exigindo qualificação do pré-natal. Já a hepatite C segue avançando entre adultos.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais causam cerca de 1,4 milhão de mortes por ano, entre infecções agudas, câncer hepático e cirrose.

Apesar dos avanços, o diagnóstico precoce ainda é um dos principais desafios. “O acesso à testagem é fundamental para que os médicos possam identificar os pacientes que já estão imunes, os que estão em curso de uma infecção aguda e aqueles que apresentam quadros crônicos de hepatites e necessitam de tratamento e acompanhamento. Para isto os testes diagnósticos são fundamentais, sejam eles sorológicos (para hepatites A, B ou C) utilizados como triagem;  ou moleculares, que são mais úteis na confirmação diagnóstica e seguimento dos pacientes que iniciaram tratamento específico”, explica Carlos Eduardo Ferreira, Líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

Para ele, neste cenário de ampliação da testagem para a população brasileira, a iniciativa privada da Medicina Diagnóstica pode se unir com o setor público para buscar parcerias que permitam que os pacientes possam ter um maior acesso ao exame.

Além do rastreamento e da testagem, é essencial fortalecer o papel dos serviços diagnósticos no mapeamento da doença e no apoio à decisão clínica. Interoperabilidade entre sistemas, qualificação das informações e capilaridade dos laboratórios são pontos-chave para respostas ágeis, sobretudo em surtos ou em áreas com baixa cobertura.

Neste Julho Amarelo, a Abramed reafirma seu compromisso com a saúde preventiva e com o acesso a exames de qualidade, contribuindo para o alcance das metas de eliminação das hepatites virais no Brasil.

IA na Saúde: inovação exige dados de qualidade, regulação equilibrada e responsabilidade compartilhada

No dia 14 de julho, durante o Fórum Inovação Saúde (FIS) em Florianópolis, a Diretora Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed, Milva Pagano, mediou o painel “IA na Saúde: Caminhos para a Inovação Sustentável no Brasil”, que reuniu especialistas de diferentes áreas para discutir os impactos, desafios e caminhos para uma adoção responsável da Inteligência Artificial no setor. Participaram do debate Ademar Paes Jr, CEO da LifesHub e Sócio da Clínica Imagem; João Paulo Souza, Diretor Executivo da GE HealthCare; e Lucas Bonafé, Sócio da Machado Nunes Advogados.    

Milva abriu o encontro destacando o avanço da IA e o papel da Abramed na promoção de um debate técnico e qualificado. Enfatizou também a importância do PL do Marco Legal da IA, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, e a necessidade de garantir segurança jurídica sem engessar a inovação.

Para Ademar Paes Jr., o entusiasmo em torno da IA precisa ser equilibrado com uma reflexão sobre as bases estruturais. “Antes de falar de IA, temos que falar das nossas bases de dados. Não só da qualidade, mas de como esses dados estão organizados e acessíveis”, afirmou. Ele alertou para o excesso de debate sobre o processamento, sem que o dever de casa — a estruturação adequada das informações — tenha sido feito. “Vemos muitos sistemas isolados, integrações caríssimas, e empresas querendo ‘brincar de IA’ sem nem ter um cadastro decente. Se a gente não convencer a alta gestão de que dados estruturados são prioridade de orçamento, não sairemos do lugar.”

João Paulo Souza reforçou que a IA na Saúde existe há décadas e que o foco atual deve ser a contextualização. “Somos bombardeados por inputs, mas sem output isso não serve pra nada. A responsabilidade está em transformar essas saídas em algo aplicável à nossa realidade”, disse. Segundo ele, inovação responsável se apoia em três pilares: ética e responsabilidade social, capacitação e capital humano, que devem ser sustentados para conectar os dados de forma estruturada e regulada para que, de fato, as mudanças aconteçam.

Lucas Bonafé destacou os desafios regulatórios do Marco Legal da IA e a importância da participação do setor da Saúde nesse debate. “O Brasil fez um movimento positivo ao romper com a legislação da União Europeia e reconhecer o papel das agências reguladoras setoriais. Para a Saúde, isso é essencial.

O advogado ainda defendeu que a Anvisa, a ANS e o Ministério da Saúde têm de estar nesse debate, alertando para a necessidade de o setor propor suas próprias regras. “Autorregulação não é opcional — é essencial. O setor precisa ter maturidade para construir suas boas práticas e o PL traz a oportunidade para isso.”

O painel também abordou temas como o baixo nível de maturidade digital das empresas, os riscos da adoção indiscriminada de soluções importadas sem validação local e a importância de definir com clareza os objetivos de cada aplicação de IA. “O que buscamos com a IA? Sem clareza de objetivos, a gente começa a matar a inovação”, apontou João Paulo.

Ao encerrar o painel, Milva Pagano reforçou que a adoção da IA na Saúde exige um compromisso coletivo e reforçou o papel da Abramed na articulação do setor. “Temos que fazer valer nossa representatividade e endereçar esse tema com escuta ativa, técnica e visão de longo prazo. Essa é uma oportunidade histórica de moldar o futuro da Saúde com equilíbrio, responsabilidade e protagonismo e a Abramed seguirá atuando para que o setor avance de forma ética e segura”, finalizou.

Abramed debate inovações baseadas em IA durante o Fórum Inovação Saúde 2025

O painel “IA no Diagnóstico: Como Expandir Possibilidades e Maximizar Oportunidades?”, realizado no dia 7 de abril, no Fórum Inovação Saúde 2025, evento organizado pela Iniciativa FIS, em Recife, contou com mediação de Milva Pagano, Diretora Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), e reuniu Linaldo Vilar, Head of Lab Operations da DASA, e Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Abramed, para refletir sobre o uso da Inteligência Artificial no setor.

Os executivos compartilharam experiências e perspectivas sobre o uso da IA no setor, destacando avanços recentes, pontos de atenção e as transformações que ainda virão.

Linaldo Vilar relembrou que a jornada de inovação da DASA teve início em 2017 e passou por uma fase intensa de experimentação até alcançar resultados consistentes a partir de 2021. Segundo ele, hoje a empresa já opera com mais de 80 ressonâncias magnéticas equipadas com aceleradores de imagem e cerca de 50 algoritmos voltados à identificação de achados críticos.

“É preciso usar a tecnologia como um suporte à decisão clínica, e não como substituto da prática médica”, defendeu. Para Vilar, a IA oferece ganhos concretos de agilidade e qualidade, especialmente em áreas como oncologia e genômica, mas sua implementação precisa respeitar os fluxos operacionais dos prestadores. “Não será uma integração impositiva e única. É preciso escolher onde aplicar, adaptar rotinas, integrar sistemas e trabalhar a aceitação da equipe assistencial”, afirmou.

Ele também alertou sobre a importância de ter dados de qualidade para treinar as máquinas e poder usá-las com segurança.

Lídia Abdalla reforçou que a transformação digital exige mais do que investimento em tecnologia. Para ela, o fator humano ainda é o principal desafio. “Se as pessoas não confiarem na empresa e na liderança, se não entenderem que a IA está aqui para tornar a operação mais sustentável, haverá resistência — não só à IA, mas a qualquer tecnologia”, explicou.

A executiva também ressaltou o potencial da IA para ampliar o acesso ao diagnóstico em um país de dimensões continentais. No entanto, chamou atenção sobre os riscos de desigualdade em regiões que não têm estrutura operacional e iniciativas para capacitar as pessoas para usarem as novas tecnologias.

Em seu discurso, a CEO do Grupo Sabin ressaltou um entrave importante: o financiamento. “Na Saúde Suplementar, muitas operadoras ainda não cobrem procedimentos com IA, de modo que, muitas vezes, a inovação ainda é um privilégio de quem pode pagar particular”.

Segundo ela, o Grupo Sabin tem investido em um ecossistema robusto de inovação, com aceleradoras e parcerias com startups, buscando soluções que possam ser aplicadas de forma prática e sustentável para que os benefícios cheguem para todos, principalmente para os pacientes.

Tecnologia, comportamento e humanização

Durante a mediação do painel, Milva Pagano destacou o impacto da IA não apenas do ponto de vista técnico, mas também comportamental. Para ela, apesar do receio e medo de substituição, o avanço da tecnologia já transformou a forma como profissionais, pacientes e as pessoas no geral interagem com a tecnologia.

“Mesmo com resistência, nos acostumamos a usar e muitos até já criaram uma dependência. Mas, quando pensamos no cuidado com a saúde, não podemos perder a dimensão da relação humana e há o receio dessa relação ser substituída pela Inteligência Artificial”, pontuou.

Ela também mencionou a importância de considerar os pensamentos e valores das pessoas no processo de adoção tecnológica. “São as crenças que moldam nossa relação com o novo, por isso, nunca podemos subestimar as crenças que surgem nos seres humanos”.