Case SEIDIGI: parceria entre Abramed e Ministério da Saúde gera resultados concretos e impulsiona avanço da interoperabilidade

Acordo firmado na edição passada do FILIS se consolida com 204 exames já interoperáveis e amplia a digitalização do Sistema de Saúde

O 9º Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS) mostrou, mais uma vez, como a colaboração entre os setores público e privado é capaz de acelerar transformações estruturantes no sistema de saúde brasileiro.

Um dos destaques foi a apresentação de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde (SEIDIGI), que detalhou os avanços do acordo de cooperação firmado entre o Ministério e a Abramed em 2024 para a padronização e integração de dados de exames.

O case de interoperabilidade laboratorial já produz resultados tangíveis, com impacto direto para pacientes, profissionais e gestores das redes pública e privada.

Do acordo à prática: interoperabilidade laboratorial em expansão

Assinado no 8º FILIS, o acordo consolidou a construção de um modelo informacional comum para exames laboratoriais, representando um importante passo para que se supere a histórica fragmentação do sistema de saúde nacional. Segundo Ana Estela, esse foi um marco na padronização de dados tanto para o setor público quanto para o suplementar: “Pela primeira vez, público e privado falam a mesma língua em interoperabilidade laboratorial”, explicou a Secretária do SEIDIGI.

O trabalho começou com um esforço de harmonização entre a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e diferentes padrões utilizados pelos laboratórios. No início do projeto, foi realizada a tradução dos códigos LOINC (padrão internacional de codificação) dos exames constantes na Lista Nacional de Notificação Compulsória, seguida da revisão do modelo de resultados laboratoriais (REL) da RNDS.

Como resultado, 204 exames já foram incorporados ao modelo, com destaque para os relacionados às arboviroses – dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A segunda etapa do processo incluiu mais 87 exames, cobrindo febre do Nilo e mayaro, além da integração futura de exames voltados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

A Secretária destacou o impacto desse avanço na vida do cidadão:

“Como ganho direto dessa cooperação, um aspecto bastante interessante é a harmonização de terminologias laboratoriais. Na rede de laboratórios do setor público, o modelo LOINC não era utilizado, então não havia possibilidade de interoperabilidade efetiva. Agora, com a padronização, a gente pode oferecer todos os resultados para os pacientes na Rede Nacional de Dados em Saúde que podem ser acessados, em tempo real, pelos pacientes”, comentou Ana Estela.

O acesso, por sua vez, é feito via Meu SUS Digital, enquanto profissionais de Saúde contam com a integração no SUS Digital Profissional, garantindo continuidade do cuidado aos pacientes. O próximo passo é a federalização dos dados, permitindo que estados e municípios também integrem seus sistemas a esse modelo padronizado. Segundo a Secretária, o processo já está sendo levado à Comissão Intergestores Tripartite (CIT), ampliando o alcance nacional da iniciativa.

Uma agenda mais ampla para a saúde digital

O avanço da interoperabilidade se insere em um movimento mais amplo de transformação digital liderado pelo Ministério da Saúde. Ana Estela Haddad ressaltou que a agenda inclui o fortalecimento da telessaúde, com a publicação de editais que abrem espaço tanto para serviços públicos quanto privados. Estão previstas, nesse sentido, modalidades como teleconsulta, telediagnóstico, teleinterconsulta e telerregulação, com notificações automáticas para pacientes em fila.

Outro pilar desse movimento é o programa Agora Tem Especialistas, lançado em 2024, que busca reduzir o tempo de espera por exames e atendimentos especializados. O modelo de financiamento, baseado na Oferta de Cuidado Integrado (OCI), prevê pagamento apenas após o diagnóstico completo (em até 30 dias para câncer e 60 dias para outros agravos). A iniciativa conta também com a utilização da infraestrutura privada para complementar a rede pública.

A secretária foi enfática sobre o potencial dessa jornada de interoperabilidade: “Estamos transformando filas em fluxos digitais inteligentes, reduzindo tempo de espera e melhorando a resolutividade do SUS”.

Dentro desse contexto, já podem ser observados outros avanços importantes, como a integração inédita de dados da ANS à RNDS, a caderneta digital da criança – já com mais de 1,2 milhão de acessos – e o planejamento da linha de cuidado digital do câncer, com suporte de telediagnóstico.

É importante salientar ainda que todo esse processo pode aumentar a efetividade do Sistema de Saúde e da Medicina Diagnóstica como um todo, contribuindo, inclusive, para a redução de óbitos e melhoria direta da qualidade de vida dos pacientes – segundo dados do Governo Federal, por exemplo, o país ainda tem, em média, 370 mil óbitos relacionados a atrasos de diagnóstico em doenças não transmissíveis.

Impacto estratégico

O case apresentado no FILIS 2025 reforça o papel do Fórum como catalisador de mudanças, conectando inovação tecnológica, políticas públicas e a capacidade operacional e técnica do setor privado. Acima de tudo, como bem afirmou Ana Estela Haddad, “não se trata apenas de digitalizar processos, mas de melhorar a vida dos pacientes”.

Com esse movimento, o Brasil avança muitas casas rumo a uma Saúde digital realmente integrada e demonstra, mais uma vez, como o setor privado pode e deve atuar enquanto um parceiro indispensável do SUS.

Afinal de contas, em um Sistema de Saúde em que dados circulam de forma segura e ágil, será possível fortalecer continuamente a equidade e a qualidade do cuidado aos pacientes em todas as regiões do país.

InovaHC apresenta case de integração de dados e firma memorando de intenções com a Abramed

Projeto do Hospital das Clínicas inspira modelo nacional de integração de dados e reforça acordo firmado no 9º FILIS

Integrar dados clínicos no Brasil é uma das maiores barreiras para melhorar a eficiência do sistema de saúde e a jornada de cuidado do paciente. A fragmentação das informações na medicina diagnóstica resulta em redundância de exames, dificuldade na continuidade de tratamentos e risco de falhas diagnósticas, que podem aumentar custos e comprometer a segurança da população.

O InovaHC, hub de inovação do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), decidiu enfrentar esse desafio transformando uma dificuldade prática em um dos cases mais relevantes de interoperabilidade no país.

Durante o 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), Marco Bego, Diretor Executivo do Instituto de Radiologia (InRad), compartilhou como o projeto nasceu de um problema concreto: levar telediagnóstico e teleconsulta a regiões remotas, como a Amazônia e o Xingu. Nessas localidades, quando um paciente precisava ser encaminhado a um centro de referência, muitas vezes após longas horas de viagem, os dados de seus exames não o acompanhavam. O atendimento precisava recomeçar do zero, atrasando diagnósticos e aumentando os riscos clínicos.

Foi a partir dessa constatação que a equipe passou a investigar soluções de interoperabilidade, inspirando-se em benchmarks internacionais e em setores como o financeiro e de telecomunicações, onde a troca de dados já é consolidada. “A interoperabilidade em Saúde é tão transformadora para o setor quanto foi o open banking para o segmento financeiro”, destacou Bego.

O modelo desenvolvido pelo InovaHC é baseado em lógica transacional: os dados permanecem em seus sistemas de origem e só são compartilhados quando necessário, com autorização do paciente. Essa arquitetura evita a criação de grandes bases centralizadas, reduz custos de armazenamento e garante maior segurança da informação.

O projeto também prevê que a troca seja tratada como ativo estratégico — e não apenas como custo —, sustentada por governança, compliance e padrões globais como o Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR), que é usado para a troca de informação em Saúde, além de integração nativa à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).

Para viabilizar essa troca, a plataforma foi estruturada de forma modular, com APIs que permitem escalabilidade e a conexão entre laboratórios, ambulatórios, hospitais e diferentes especialidades médicas. A equipe também considerou a criação de um “marketplace de serviços”, no qual instituições com maior maturidade tecnológica poderiam oferecer infraestrutura de interoperabilidade a parceiros que ainda não possuíam capacidade de integração direta.

Segundo Bego, outro aprendizado fundamental foi adotar modelos já validados em outros setores. Assim como acontece nas câmaras de compensação financeiras, a proposta é que a interoperabilidade em Saúde funcione como um “cartório digital”: recebe os dados, autentica e entrega ao destinatário autorizado, sem manter cópias ou manipular informações. Essa lógica garante rastreabilidade, soberania dos dados e um custo transacional equivalente ao de uma operação financeira cotidiana, como um pagamento por cartão de crédito.

Os resultados do piloto no Hospital das Clínicas já demonstram ganhos expressivos. Pacientes passaram a ter um histórico único e contínuo, acessível a diferentes profissionais, reduzindo a duplicidade de exames, aumentando a precisão diagnóstica e diminuindo falhas clínicas. Do ponto de vista institucional, houve ganhos operacionais relevantes, com menos retrabalho, menor custo administrativo e maior eficiência no uso dos recursos. Além disso, o modelo abre caminho para pesquisas avançadas e desenvolvimento de soluções em inteligência artificial aplicadas à Saúde.

“O dado isolado é apenas um número; o dado integrado gera inteligência que salva vidas”, resumiu Bego.

A apresentação no FILIS também marcou um passo institucional decisivo. Durante o Fórum, foi assinado o Memorando de Intenções entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) do Ministério da Saúde, a Abramed e o HCFMUSP, por meio do InovaHC. O acordo prevê a implementação da plataforma OpenCare como projeto piloto para integrar dados do setor privado à RNDS, fomentando cooperação técnico-científica e garantindo privacidade, segurança e conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Para Giovanni Guido Cerri, presidente dos Conselhos do InRad e do InovaHC, interoperabilidade é mais do que inovação tecnológica: “É sair de uma Saúde fragmentada e reativa para um cuidado contínuo, integrado e centrado no paciente”. Já Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, destacou: “A interoperabilidade é fundamental para integrar e fortalecer a Saúde Suplementar e o SUS, consolidando o compromisso com a inovação, a qualidade e a segurança do paciente”.

O case do InovaHC mostra que a interoperabilidade não é um conceito abstrato, mas uma prática já em curso, capaz de transformar a Medicina Diagnóstica e a Saúde como um todo. Com baixo custo e ativos estratégicos, o projeto pavimenta o caminho para um modelo nacional de Open Health, aproximando o SUS e a Saúde Suplementar em benefício direto dos pacientes.