Exames de diagnóstico não são vilões nos gastos na saúde suplementar

*Ademar Paes Junior

O título desse artigo é direto e objetivo. A intenção é justamente deixar registrado desde as primeiras palavras que não deve haver dúvidas sobre o tema. Os exames estão longe de ser a causa principal da pressão de custos que aflige o setor de saúde. Mais que isso: em tempos de profundas mudanças na sociedade brasileira, com o envelhecimento populacional e o aumento na incidência de doenças crônicas, os exames de acompanhamento ou diagnóstico tendem a se tornar cada vez mais comuns e assumem papel importante como parte de políticas de promoção da saúde.

Para comprovar o que está dito, vamos analisar alguns dados. A sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico indica que os brasileiros fizeram praticamente 2,4 bilhões de exames de diagnóstico em 2023. O número cresceu 11% na comparação com o ano anterior. A saúde suplementar foi responsável por metade dos procedimentos: 1,2 bilhão de exames. Os demais foram realizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse crescimento não é um fato isolado, há uma clara tendência de as pessoas fazerem mais exames que permitam o acompanhamento da própria saúde.

A análise de números da saúde suplementar é ilustrativa. Entre 2019 e 2023, o total de beneficiários no país cresceu 8%. Houve aumento de 17% no número de procedimentos de todos os tipos pagos pelas operadoras. O volume de exames realizados cresceu 27% no período, as internações, 6%, e os atendimentos ambulatoriais, 13%. Houve, portanto, um aumento no volume de utilização por indivíduo no caso dos exames e dos atendimentos ambulatoriais.

Mas a análise precisa levar em conta também as despesas assistenciais totais, que cresceram 10% em valores reais (descontada a inflação do período, medida pelo IPCA). O custo dos exames (descontada a variação do IPCA) caiu 16%. Resultado: as despesas assistenciais com exames cresceram 7% em valores reais (descontada a inflação), o que fez diminuir o peso desse item na participação total dos custos da saúde suplementar. Em poucas palavras: os brasileiros estão fazendo mais exames, mas a remuneração real (sem impacto inflacionário) de cada procedimento caiu.

O quadro revela um enorme desafio que temos pela frente, pois há uma tendência de elevação no número de exames, devido aos fatores já mencionados, que exigem monitoramento constante.

Evidente que esses procedimentos não devem ser prescritos sem uma prévia anamnese e avaliação adequada do paciente pelos médicos – condições garantidas pela adequada formação profissional, bandeira histórica das entidades que representam os médicos brasileiros.

No entanto, é justamente aqui que reside o desperdício: profissionais malformados e a busca livre dos pacientes por múltiplos especialistas resultam em uma jornada de saúde excessivamente fragmentada, com solicitações redundantes e sobreposição de exames em muitos casos. Precisamos combater essa realidade.

De qualquer forma, é indiscutível que os exames são fundamentais na promoção da saúde. Exames permitem o diagnóstico precoce de doenças, a definição de tratamentos mais assertivos, a definição de perfis de pacientes que exigem planos de cuidados preventivos específicos, além de contribuir para o planejamento da saúde pública.

Dito de forma mais clara: exames de diagnóstico bem indicados ajudam a melhorar as condições de saúde de indivíduos – e da população –, bem como geram economias para a saúde, seja privada ou pública. Um exemplo é a campanha Outubro Rosa, que alerta sobre a importância da mamografia. A cobertura populacional do exame não é a adequada, o que contribui para diagnósticos tardios que exigem tratamentos mais agressivos – e caros.

O impacto sobre as mulheres que sofrem com a doença é incalculável. Os custos com internações, segundo levantamento da empresa de gestão hospitalar Planisa, podem passar dos R$ 200 milhões anuais. Nessa e em diversas outras situações, a prevenção seria essencial para proteger as pessoas, o que é o mais importante, e, ao mesmo tempo, reduzir gastos.

Em resumo, os exames ganham cada vez mais importância na prática médica – sem qualquer intenção de dizer, com isso, que eles substituem o conhecimento técnico e a experiência do médico, a boa anamnese e os exames tradicionais – e devem manter a trajetória de crescimento de demanda. Ao mesmo tempo, é preciso reavaliar a remuneração desses serviços. Hoje a demanda cresce mais do que o faturamento (em termos reais, descontada a inflação) e há uma pressão de custos sobre as prestadoras de serviços.

Preservar a capacidade de investimentos dessas companhias em novas tecnologias, em aperfeiçoamento de pessoal e em melhores práticas demanda garantir sua saúde financeira. Alcançar o melhor equilíbrio desse sistema complexo, que funciona com orçamentos finitos e demanda crescente, por certo exigirá o empenho de todos.

*Ademar Paes Junior
Membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Radiologista da Clínica Imagem e CEO da LifesHub.

(14/02/2025)

Abramed e Anahp alertam para golpes na entrega de exames médicos.

Um novo golpe tem sido aplicado por criminosos que se passam por funcionários de instituições de saúde. Os golpistas entram em contato alegando que determinado exame não pode ser acessado pela internet e oferecem a entrega domiciliar mediante o pagamento de uma taxa. No momento da entrega, apresentam uma máquina de cartão adulterada que, embora exiba o valor correto da taxa, realiza cobranças indevidas de valores significativamente maiores.

Diante da disseminação desse tipo de golpe, é fundamental que pacientes e familiares estejam atentos e adotem as seguintes medidas de precaução:

  • Desconfie de contatos telefônicos ou mensagens que solicitem pagamentos para a entrega de exames ou outros serviços não previamente agendados.
  • Antes de efetuar qualquer pagamento, entre em contato diretamente com a instituição de saúde para verificar a veracidade da solicitação.
  • Evite fornecer dados pessoais ou financeiros por telefone ou aplicativos de mensagens sem a devida confirmação da identidade do solicitante.
  • Ao realizar pagamentos com cartão, sempre confira o valor na máquina e no comprovante emitido.

Essa prática criminosa tem afetado diversos setores, incluindo as instituições de saúde. Por isso, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) estão empenhadas em alertar e conscientizar os pacientes para que não sejam vítimas desse tipo de golpe. Além disso, estão colaborando com as autoridades competentes para investigar e coibir essas atividades ilícitas. Caso suspeite de alguma tentativa de golpe, denuncie imediatamente às autoridades policiais.

Telemedicina no diagnóstico: teleECG e teleneurologia aceleram tratamentos

A análise de laudos à distância permite intervenções mais rápidas, salvando vidas e otimizando cuidados em situações críticas

10 de fevereiro de 2025 – A telemedicina tem revolucionado a área de diagnóstico ao permitir que exames sejam analisados por especialistas localizados em qualquer lugar do país, reduzindo o tempo de espera para emissão de laudos e aumentando a precisão diagnóstica.

Segundo o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, 57% das associadas à entidade oferecem serviços de telemedicina. Além da melhora na experiência e no tratamento dos pacientes, a ferramenta contribui para a sustentabilidade do setor ao reduzir custos operacionais e acelerar processos.

Carlos Pedrotti, presidente do Conselho de Administração da Saúde Digital Brasil (SDB), lembra que, no Brasil, os laudos à distância começaram a ganhar espaço nos anos 1990, inicialmente com a análise remota de eletrocardiogramas (ECG), especialmente para atender áreas remotas, com o sinal sendo transmitido por linha telefônica.

“Desde então, e principalmente após maior disponibilização de internet de banda larga, evoluiu para incluir diversas modalidades diagnósticas, como espirometria, eletroencefalografia e exames de imagem cada vez mais complexos”, explica.

Ferramentas como PACS (Picture Archiving and Communication System) e plataformas integradas passaram a facilitar o acesso remoto a imagens e dados, otimizando o fluxo de trabalho e ampliando a disponibilidade de especialistas para regiões menos assistidas. Além disso, a interoperabilidade dos sistemas facilita a troca de informações entre laboratórios e clínicas, promovendo maior eficiência operacional.

Segundo Pedrotti, a telemedicina tem mostrado resultados muito importantes na eficiência do atendimento, especialmente em áreas como teleECG e teleneurologia. “Por exemplo, no teleECG, pacientes com suspeita de infarto em áreas remotas têm seus exames analisados por cardiologistas em minutos, permitindo o início rápido de tratamentos como trombólise no infarto agudo do miocárdio, em que cada minuto pode fazer diferença no desfecho”, cita.

Do mesmo modo, estudos indicam que a teleneurologia também pode aumentar a taxa de tratamentos de reperfusão, reduzir a mortalidade e melhorar os tempos de resposta em emergências neurológicas. “A American Heart Association, respeitada sociedade americana de cardiologia, recomenda, inclusive, a implementação de serviços de telecardiologia e teleneurologia nos sistemas de cuidado de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente Vascular Cerebral (AVC), destacando que podem melhorar a precisão das decisões de tratamento e os desfechos clínicos”, aponta Pedrotti.

Em relação aos exames radiológicos complexos, a distribuição para análise por especialistas em estudos específicos, a possibilidade de obtenção de segunda opinião e as discussões de casos, entre outras práticas, contribuem para uma maior acurácia diagnóstica e redução de erros. Essas abordagens também aceleram a emissão de laudos, beneficiando tanto os pacientes quanto os serviços solicitantes.

Quando questionado sobre os avanços tecnológicos e regulamentares necessários para ampliar o alcance da telemedicina no setor de diagnósticos, Pedrotti destaca como fundamentais a expansão de redes cabeadas, o desenvolvimento do 5G e da internet via satélite, além do fortalecimento da interoperabilidade entre sistemas e da aplicação de inteligência artificial para suporte na análise de exames.

Ele expõe que regulamentar o compartilhamento seguro de dados entre instituições e aprimorar a proteção à privacidade do paciente também são prioridades para garantir uma maior rede de acesso a especialistas e melhor qualidade de laudos de exames comparativos. “Também é necessário estimular políticas que ampliem o acesso a equipamentos e capacitação em regiões carentes, promovendo uma maior equidade no uso dessas ferramentas”, destaca Pedrotti.

Abramed e Anahp alertam para golpes na entrega de exames médicos

07 de fevereiro de 2024

Um novo golpe tem sido aplicado por criminosos que se passam por funcionários de instituições de saúde. Os golpistas entram em contato alegando que determinado exame não pode ser acessado pela internet e oferecem a entrega domiciliar mediante o pagamento de uma taxa. No momento da entrega, apresentam uma máquina de cartão adulterada que, embora exiba o valor correto da taxa, realiza cobranças indevidas de valores significativamente maiores.

Diante da disseminação desse tipo de golpe, é fundamental que pacientes e familiares estejam atentos e adotem as seguintes medidas de precaução:

  • Desconfie de contatos telefônicos ou mensagens que solicitem pagamentos para a entrega de exames ou outros serviços não previamente agendados.
  • Antes de efetuar qualquer pagamento, entre em contato diretamente com a instituição de saúde para verificar a veracidade da solicitação.
  • Evite fornecer dados pessoais ou financeiros por telefone ou aplicativos de mensagens sem a devida confirmação da identidade do solicitante.
  • Ao realizar pagamentos com cartão, sempre confira o valor na máquina e no comprovante emitido.

Essa prática criminosa tem afetado diversos setores, incluindo as instituições de saúde. Por isso, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) estão empenhadas em alertar e conscientizar os pacientes para que não sejam vítimas desse tipo de golpe. Além disso, estão colaborando com as autoridades competentes para investigar e coibir essas atividades ilícitas. Caso suspeite de alguma tentativa de golpe, denuncie imediatamente às autoridades policiais.

O crescimento da genômica no diagnóstico: desafios e oportunidades

Popularização da tecnologia amplia o acesso a diagnósticos avançados, mas questões econômicas e éticas ainda precisam ser superadas

6 de fevereiro de 2025 – Entre as áreas de maior crescimento no setor de medicina diagnóstica está a genética, que permite identificar predisposições a doenças com maior antecedência, facilitando intervenções preventivas e reduzindo custos com tratamentos complexos. Segundo o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, 93% das associadas à entidade oferecem esse tipo de exame, mostrando a tendência do uso da tecnologia para a personalização dos cuidados em saúde.

O principal avanço em genética é a metodologia de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que possibilita analisar, concomitantemente, diversas amostras e regiões gênicas, ou mesmo o genoma completo, com menor tempo e custo quando comparada à metodologia utilizada até início dos anos 2000. É o que explica Fernanda Christtanini Koyama Ribeiro, gerente de Genômica e P&D na OC Medicina de Precisão.

A popularização da tecnologia acelerou a identificação de genes associados a doenças genéticas, como o câncer, e aprimorou a compreensão dos mecanismos moleculares, possibilitando o desenvolvimento de exames específicos, como painéis gênicos e análises de exoma (toda região do DNA codificante para proteínas).

Dessa forma, contribui para o aconselhamento genético, complementa a patologia molecular e amplia as possibilidades de tratamentos personalizados e direcionados. “Em resumo, o avanço das metodologias para testes genéticos, associado à descoberta de novas terapias alvos e aos estudos clínicos crescentes nos últimos anos, vem permitindo um diagnóstico mais preciso, tratamentos mais eficazes e uma maior expectativa de vida para os pacientes”, expõe Fernanda.

Segundo ela, o futuro dos exames genéticos no Brasil é promissor, mas há desafios em relação ao acesso. A questão está diretamente ligada à sustentabilidade do setor, que depende da redução de custos, estudos de viabilidade econômica locais e regionais, além práticas bem regulamentadas. Outro desafio é a formação de profissionais especializados na área.

Nos últimos anos, houve um acesso crescente aos exames para detecção de alterações em linhagem germinativa ou hereditária e, do ponto de vista de integração com a área médica, a telemedicina ganhou força com a pandemia, facilitando o acesso a consultas genéticas e a realização de exames em regiões mais remotas.

Contudo, de acordo com Fernanda, ainda há oportunidade para os testes somáticos, que estão atrelados não apenas à identificação dos biomarcadores associados às terapias alvo, mas também ao acesso a esses tratamentos.

“Especificamente para os painéis amplos, a detecção de alterações genéticas somáticas auxilia e complementa o diagnóstico realizado pela patologia clínica. Assim, a integração com outras áreas do diagnóstico e os avanços tecnológicos permitirão a personalização da medicina e a melhoria da qualidade de atendimento dos pacientes. No entanto, a maior abrangência nacional depende da superação de desafios operacionais e econômicos”, comenta.

De forma geral, o crescimento da genética no setor de medicina diagnóstica tem trazido impactos significativos e, a longo prazo, pode reduzir custos com internações e tratamentos complexos.

Fernanda conta que estudos de Mundo Real ajudam a entender a epidemiologia molecular brasileira, permitindo políticas públicas mais eficazes, como programas de triagem e prevenção. Na saúde privada, exames genéticos se tornam um diferencial competitivo. “Entretanto, questões como o custo, a formação de profissionais e os aspectos éticos ainda precisam ser enfrentadas para que os avanços possam beneficiar toda a população”, reforça.

Parceria Público-Privada: a integração em prol da saúde

* Milva Pagano

O sistema de saúde brasileiro é um dos maiores e mais desafiadores em termos de complexidade e abrangência, uma realidade que se torna ainda mais evidente diante do atual cenário de aumento de custos, limitações de acesso, envelhecimento da população e crescimento de doenças crônicas.

Nesse contexto, a parceria entre os setores público e privado (PPPs) desponta como uma estratégia com grande potencial para impulsionar melhorias em toda a cadeia, promovendo a evolução das práticas e o estabelecimento das bases para a construção de um modelo mais eficiente, acessível, transparente e sustentável.

De forma geral, as PPPs permitem que o setor público aproveite a expertise técnica, a eficiência operacional e a capacidade de inovação do setor privado. Por outro lado, o setor privado se beneficia do acesso a mercados amplos e do suporte institucional e regulamentar do setor público.

Neste cenário, as entidades sem fins lucrativos, que representaram diferentes atores da área de saúde, assumem o papel de liderar essa interlocução. Junto a órgãos regulatórios, é possível estruturar guias, cartilhas ou protocolos, facilitando a implementação de boas práticas pelos gestores e prestadores de serviços.

Essa cooperação também oferece um canal eficiente para que feedbacks do mercado sejam considerados no aperfeiçoamento das regulamentações, garantindo que sejam aplicáveis e adaptadas às realidades práticas. Essa dinâmica de troca contribui para um sistema regulatório mais ágil, eficiente e capaz de acompanhar a evolução das demandas do setor.

Além disso, a possibilidade de integração de dados de saúde entre os setores público e privado é uma oportunidade estratégica para promover a sustentabilidade de todo o ecossistema. A criação de um banco de dados unificado e robusto favorece a análise epidemiológica em larga escala, melhora o planejamento de recursos e evita duplicidades desnecessárias na realização de exames, por exemplo.

A interoperabilidade entre os setores reforça a qualidade assistencial, ao permitir que os profissionais de saúde tenham acesso a um histórico completo dos pacientes, resultando em condutas terapêuticas mais assertivas. Ela também possibilita uma jornada do paciente mais fluida e com menor risco de falhas na comunicação.

Outra frente de atuação das PPPs é a melhoria da transparência e da avaliação de qualidade no mercado. Programas regulamentados de monitoramento de indicadores oferecem uma visão clara sobre o desempenho dos prestadores de serviços, criando um ambiente de maior confiança entre contratantes de planos de saúde privados e usuários. Esse tipo de iniciativa favorece decisões embasadas e minimiza desperdícios e retrabalhos.

Não podemos nos esquecer que a saúde é um bem comum, e o aprimoramento contínuo dos serviços deve ser um objetivo compartilhado. Inclusive, está em discussão a criação de uma agência única de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), para harmonizar os processos de incorporação de tecnologias no Brasil, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na saúde suplementar.

Essa centralização eliminaria redundâncias, aceleraria a avaliação de novas tecnologias e garantiria critérios mais consistentes e transparentes. Além de reduzir a judicialização, uma agência única poderia priorizar as demandas de forma estratégica, equilibrando inovação, sustentabilidade financeira e as necessidades reais da população.

A troca de conhecimento entre os setores público e privado eleva os padrões de qualidade, promovendo cuidados mais humanizados e resultados clínicos mais eficazes. Ao otimizar processos e integrar serviços, as PPPs ajudam a reduzir os custos crescentes associados ao envelhecimento da população e às doenças crônicas.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) tem sido protagonista na criação de um espaço de diálogo aberto com órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), tanto em assuntos regulatórios e de qualidade quanto na área de interoperabilidade.

Tudo isso demonstra que o caminho para aprimorar a saúde no Brasil vai além da soma de esforços isolados. Ele demanda a criação de uma rede robusta de colaboração, onde cada participante do ecossistema— sejam prestadores, gestores públicos, empresas ou reguladores — atue de maneira integrada e comprometida com um objetivo comum: construir um sistema de saúde mais justo, eficiente e abrangente.

Esse sistema deve ser capaz de atender às necessidades crescentes da população, assegurando qualidade e acessibilidade, ao mesmo tempo em que equilibra os impactos financeiros sobre as empresas e o governo, promovendo a sustentabilidade a longo prazo.

*Milva Pagano

Diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

(22/01/2025)

Inovação, sustentabilidade e integração: o que esperar da medicina diagnóstica em 2025

Com avanços tecnológicos e foco em ESG, o setor reforça parcerias para atender aos desafios de 2025, assegurando a sustentabilidade do sistema de saúde

17 de janeiro de 2025 – O setor de medicina diagnóstica avança em direção a um futuro no qual inovação tecnológica, sustentabilidade e ética se integram de forma cada vez mais relevante. Em 2025, temas como transformação digital, qualidade dos serviços e responsabilidade ambiental e social ganham destaque, enquanto o envelhecimento populacional e as mudanças climáticas reforçam o papel estratégico do diagnóstico na prevenção, predição e gestão de doenças.

“Para 2025, esperamos um avanço expressivo na integração de sistemas, com foco em plataformas que garantam o fluxo contínuo e seguro de informações entre diferentes players do setor. Isso não é apenas uma tendência tecnológica, mas uma necessidade para promover eficiência operacional, precisão diagnóstica e, principalmente, a personalização do cuidado ao paciente”, comenta Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

A implementação de novas tecnologias, como inteligência artificial (IA), será um grande desafio para 2025, já que a regulamentação precisa equilibrar a inovação com a segurança dos pacientes. “A IA já está sendo usada para melhorar a análise de exames e a decisão clínica, mas isso exige uma abordagem cuidadosa para garantir que os processos não sejam apenas automáticos, mas também confiáveis e transparentes”, ressalta Nomura.

Segundo Lidia Abdalla, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, o avanço da tecnologia e a transformação digital no setor de saúde exigirão uma abordagem mais integrada para questões éticas e de proteção de dados.

“A crescente digitalização, incluindo prontuários eletrônicos unificados e interoperabilidade, facilitará o compartilhamento de informações. Nesse cenário, os investimentos para segurança da informação e privacidade são fundamentais em toda cadeia, inclusive na própria educação do usuário do sistema de saúde para proteção dos seus dados, evitando a exposição a golpes”, expõe.

Também será necessário dar mais atenção à prevenção de fraudes no setor, pois as práticas ilícitas vêm crescendo com o desenvolvimento da tecnologia. O setor precisará investir, cada vez mais, em sistemas avançados de proteção e criar campanhas educativas para profissionais e usuários.

Nomura acrescenta que, em 2025, a ampliação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) se tornará indispensável para a sustentabilidade do sistema de saúde, especialmente diante da crescente demanda por serviços, impulsionada pelo envelhecimento populacional e pela prevalência de doenças crônicas.

Essas parcerias podem oferecer soluções para expandir o acesso, otimizar recursos e ampliar a qualidade dos serviços oferecidos. “O fortalecimento das PPPs em 2025 representa uma oportunidade para transformar a medicina diagnóstica em uma aliada ainda mais estratégica na cadeia de saúde”, declara o presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Para Nomura, ao projetar o futuro da saúde, é preciso entender os desafios de hoje: a sustentabilidade financeira, a incorporação inteligente de tecnologias e o impacto do envelhecimento populacional. “A qualidade deve ser o princípio que guia todas as nossas ações, e é essencial que o setor privado colabore com o governo para garantir que as instituições mantenham altos padrões. As medidas precisam ser urgentes”, expõe. 

ESG

Em 2024, o setor de medicina diagnóstica demonstrou avanços em relação às práticas ESG, mas é importante que em 2025 as empresas continuem investindo no setor para garantir um futuro mais sustentável e socialmente responsável. Segundo a sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, as associadas reduziram o consumo de energia e o descarte de resíduos, além de aumentarem a diversidade de gênero.

“A mensuração de dados é ponto fundamental para validar os avanços nas práticas de ESG, permitindo que empresas avaliem o impacto de suas ações e identifiquem áreas de melhoria. Ferramentas de análise permitem acompanhar indicadores ambientais, sociais e de governança, garantindo transparência, embasando decisões e fortalecendo a confiança de investidores, colaboradores e da sociedade”, comenta Lidia.

Em 2025, as mudanças climáticas e seus impactos na saúde devem ganhar mais atenção. A medicina diagnóstica atuará na identificação precoce de doenças relacionadas a fatores climáticos, como problemas respiratórios agravados pela poluição, aumento de arboviroses em regiões tropicais e doenças causadas por água contaminada em enchentes. 

O foco na detecção precoce e na personalização de tratamentos será ainda mais relevante em um cenário em que o envelhecimento populacional aumenta a demanda por cuidados de saúde. “A medicina diagnóstica atuará no suporte à longevidade saudável, contribuindo para a qualidade de vida dos idosos e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”, aponta Lidia.

Regulamentação

O rápido avanço da tecnologia e das ferramentas na medicina diagnóstica demandará atualizações constantes no arcabouço regulatório. “Regulações bem fundamentadas ajudarão a consolidar a confiança dos stakeholders, promovendo um ambiente mais estável e previsível para investimentos”, comenta Lidia.

Em 2025, será essencial estabelecer regulamentos mais equilibrados, que considerem as realidades financeiras e operacionais das empresas, alinhando-se ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 de promover saúde e bem-estar para todos. O diálogo entre empresas e reguladores ganhará destaque, permitindo decisões baseadas em evidências e contribuindo para um ambiente regulatório flexível e inovador.

“A participação técnico-científica das empresas será decisiva para alinhar regulações às melhores práticas globais e às demandas locais, impulsionando a adoção de novas tecnologias e fortalecendo o setor de saúde”, declara Lidia.

Para Nomura, em 2025, a medicina diagnóstica continuará a ser uma aliada na eficiência do sistema de saúde, ajudando a reduzir custos e a otimizar recursos. Com a ampliação do uso de tecnologias e o trabalho em conjunto, o setor terá ainda mais impacto na cadeia, colaborando para o desenvolvimento de todo o setor.

Dengue em alta: dados de laboratórios privados reforçam necessidade de testagem e prevenção

Segundo Abramed, a taxa de positividade dos casos de dengue na semana de 22 a 28 de dezembro de 2024 foi a maior do último trimestre do ano

13 de janeiro de 2025 – Com a temporada de calor e chuvas, o temor das arboviroses – doenças virais transmitidas principalmente por mosquitos – volta a rondar a população brasileira. Dentre as mais conhecidas estão dengue, zika, chikungunya, oroupouche e febre amarela, segundo o Ministério da Saúde.

A combinação de altas temperaturas e acúmulo de água parada cria um ambiente propício para a proliferação dos mosquitos transmissores da doença. Eles se tornam portadores dos vírus ao picar uma pessoa infectada e, subsequentemente, passam o vírus para outras pessoas durante suas picadas. Por isso, é importante intensificar as ações de prevenção e diagnóstico.

Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados são responsáveis por cerca de 80% do volume de exames realizados na Saúde Suplementar no Brasil, a taxa de positividade dos casos de dengue foi de 13,81% na semana de 22 a 28 de dezembro de 2024, a maior do último trimestre de 2024.

Além disso, a taxa de positividade registrou sua 3ª semana consecutiva de alta (de 1 a 28 de dezembro de 2024). O mesmo acontece com a média móvel, quando comparada com as últimas 5 semanas, indicando uma tendência de alta para os próximos períodos.

“A testagem e a prevenção são as chaves para enfrentar o desafio que as arboviroses representam, especialmente no período de maior vulnerabilidade climática. Nesse contexto, a análise de dados laboratoriais torna-se estratégica para antecipar tendências epidemiológicas, avaliar a eficácia das campanhas de prevenção e orientar políticas públicas”, comenta o médico patologista Alex Galoro, líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

Exames como PCR e testes de antígeno são essenciais, permitindo o tratamento adequado dos pacientes. No caso da dengue, Galoro lembra que as sorologias permitem detectar em apenas alguns dias os anticorpos IgM. Já os anticorpos IgG passam a ser detectáveis a partir do sétimo dia de doença.

“Na dengue, o hemograma é imprescindível após o diagnóstico, para monitoramento do paciente, para avaliação da necessidade de reidratação e o risco de dengue hemorrágica”, explica.

A Abramed reforça a importância de que exames diagnósticos sejam realizados em laboratórios clínicos, que garantem precisão nos resultados, testes mais abrangentes e total conformidade com os padrões de qualidade. Diagnósticos rápidos e precisos são essenciais para o controle das arboviroses.

Monitoramento

Os dados de exames realizados pelas associadas à Abramed são compilados por meio da plataforma de inteligência de dados METRICARE, desenvolvida e gerenciada pela Controllab, parceira da associação. Essa colaboração tem permitido o acompanhamento de dados relevantes, fornecendo uma visão clara e estratégica para a tomada de decisões em prol da saúde populacional.

Importante ressaltar que as associadas da Abramed enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico conduzido pelo Ministério da Saúde. Essas informações são essenciais para entender a progressão da dengue no Brasil e embasar medidas de saúde pública voltadas à contenção da doença.

Privacidade e tecnologia: Abramed alerta sobre a responsabilidade na gestão de dados de saúde

No Dia Internacional da Privacidade de Dados (28/1), a entidade mostra como garantir a segurança das informações, especialmente na era da inteligência artificial

13 de janeiro de 2025 – A proteção de dados pessoais vem ganhando cada vez mais relevância no cenário mundial, e em especial no setor de saúde, responsável por tratar um grande volume de dados sensíveis e de natureza confidencial. Em alusão ao Dia Internacional da Privacidade de Dados (28/1), a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) lembra a importância do tema.

Antes da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), o setor de saúde não se preocupava tanto com a segurança dos dados pessoais, limitando-se à confidencialidade entre médico e paciente, que era frequentemente comprometida devido à falta de boas práticas em governança de dados e segurança tecnológica nas empresas.

“Antigamente, as quebras de confidencialidade não causavam grandes danos, mas, com a globalização das informações e o aumento de golpes envolvendo dados pessoais, o setor de saúde tornou-se alvo de estelionatários”, explica Eduardo Nicolau, membro do Comitê de Proteção de Dados da Abramed e DPO – Data Protection Officer da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Diante desse novo cenário, empresas de medicina diagnóstica implementaram soluções para garantir a segurança da informação. Entre elas, a adoção de controles de acesso baseados na função do colaborador e a autenticação de sistemas com múltiplos fatores. Ou seja, o colaborador recebe um token, por mensagem ou aplicativo de celular que, juntamente com seu usuário e senha, permite o acesso a sistemas e plataformas da empresa.

Outros exemplos são a criptografia de dados armazenados, a atualização de patches de segurança para sistemas operacionais e acesso remoto a sistemas com rede privada — que corrigem vulnerabilidades e falhas de segurança, protegendo os sistemas contra ataques — e o uso de protocolo seguro de transferência de dados na internet.

Além dos cuidados com a segurança cibernética, muitas empresas do setor de medicina diagnóstica implementaram modelos de governança, garantindo a proteção dos dados pessoais de pacientes, médicos e parceiros de negócio. Entre as principais medidas adotadas está a gestão de risco em privacidade, por meio de processos que orientam a proteção dos dados pessoais desde sua concepção e incluem medidas compensatórias para processos de alto risco.

“Também é comum a avaliação de terceiros quanto à sua maturidade em proteção de dados, a gestão adequada de políticas de retenção de dados para cumprir obrigações legais e reduzir riscos em casos de vazamentos ou acessos indevidos, como também a implementação de um plano robusto de resposta a incidentes”, acrescenta Nicolau.

Após a promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as empresas tiveram tempo para se adaptar aos novos requisitos antes das sanções entrarem em vigor. Essa adaptação incluiu um passo importante: conscientizar os colaboradores sobre como manipular dados pessoais de acordo com a lei, esclarecendo seus direitos como donos dos dados e os deveres das empresas que os tratam.

“Hoje aqueles que manipulam os dados pessoais de outras pessoas o fazem com a consciência dos impactos e da responsabilização de seus atos, deixando as operações mais seguras”, comenta. Embora algumas empresas estejam mais maduras em privacidade e proteção de dados do que outras, Nicolau diz que todas, sem exceção, incluem em seus orçamentos anuais iniciativas para aumentar sua maturidade, implantar controles e fortalecer a governança.

Legislação

Em relação à privacidade e proteção de dados pessoais no uso da inteligência artificial (IA), Nicolau diz que o Projeto de Lei 2338/2023, em análise pela Câmara dos Deputados, garante a proteção aos direitos fundamentais dos cidadãos e estabelece responsabilidades para desenvolvedores e operadores, mas sua eficácia só será comprovada com o passar do tempo, a evolução da tecnologia e o poder fiscalizatório dos órgãos reguladores.

“A proposta de regulação da IA permite inovações ao proteger dados pessoais e garantir algoritmos eficazes e éticos, mas o modelo de classificação de riscos pode dificultar a responsabilização e gerar debates complexos sobre impactos em direitos fundamentais. A IA ainda é muito recente e o mundo a entende de forma superficial”, expõe.

Nicolau considera a legislação atual de proteção de dados abrangente, mas aponta que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) precisa abordar as particularidades do setor de saúde, que envolve um ecossistema de informações heterogêneas e desconexas.

“Diferentemente do modelo europeu, o Brasil carece de regras específicas para o compartilhamento de dados de saúde. O setor necessita de regulamentações que garantam a segurança, a qualidade e a interoperabilidade dos dados, permitindo a integração entre entidades públicas e privadas e melhorando os diagnósticos, tratamentos e redução de custos”, comenta.

A privacidade de dados é essencial para evitar consequências graves, como discriminação ou exposição indesejada de informações de saúde. Em um mundo digital, organizações que investem na proteção e transparência dos dados se destacam. “A implementação da privacidade está ligada a práticas éticas e responsáveis, aumentando a confiança e reduzindo riscos legais. Com a crescente conscientização sobre a proteção de dados, os consumidores tendem a escolher marcas que priorizam a privacidade de seus dados pessoais”, expõe Nicolau.

Através de seu Comitê de Proteção de Dados, composto por profissionais de diversas áreas, como saúde, direito, tecnologia e cibersegurança, a Abramed discute questões relevantes para o setor. “Entre as conquistas, destaque à contribuição para subsídios da ANPD sobre temas como multas, sanções administrativas, transferência internacional de dados e notificação de incidentes. Atualmente, o Comitê está focado em discutir a regulação da inteligência artificial, buscando influenciar as políticas que impactam as atividades do setor de saúde”, finaliza Nicolau.

Biologia molecular em crescimento: tecnologia e IA impulsionam diagnósticos personalizados

A popularização dos testes moleculares tem gerado aumento na demanda, incentivando grandes empresas a investirem em soluções pré-analíticas

09 de janeiro de 2025 – Uma das áreas em crescimento no setor de medicina diagnóstica é a biologia molecular. De acordo com a sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, 93% das associadas à entidade atuam na área, atendendo às demandas de um mercado cada vez mais orientado pela tecnologia e pela personalização dos cuidados em saúde.

A biologia molecular identifica doenças e condições de saúde a partir da análise do material genético (DNA e RNA) dos pacientes, permitindo investigar alterações moleculares, como mutações genéticas, presença de microrganismos infecciosos e padrões de expressão gênica. “É uma área extremamente precisa e confiável”, afirma Guilherme Ambar, CEO da Seegene.

Com o uso de diversas técnicas avançadas, a biologia molecular permite diagnósticos rápidos, fornecendo informações detalhadas que orientam a definição da melhor conduta médica. “Com a popularização dessas técnicas e os avanços tecnológicos, cada vez mais essas ferramentas estarão acessíveis à toda a população”, diz.

Em termos de evolução, tem-se se visto no mundo todo o desenvolvimento do diagnóstico molecular com uma abordagem sindrômica. Esta estratégia, amplamente aprimorada pela Seegene, permite não apenas a identificação de múltiplos alvos simultaneamente, mas também a obtenção de dados quantitativos detalhados para cada alvo individualmente. Esse avanço reduz o tempo necessário para resultados, aumenta a precisão dos diagnósticos e auxilia na priorização de tratamentos mais eficazes.

Outro grande progresso é o refinamento das técnicas moleculares para o uso de Point-of-Care Testing (POCt), que se refere a métodos diagnósticos realizados “perto do paciente”, seja no local de atendimento ou em ambientes fora dos laboratórios convencionais. “Esses testes estão se tornando mais rápidos e precisos, o que possibilita uma tomada de decisão mais ágil em hospitais e centros de emergência. Além disso, com o auxílio da telemedicina, eles podem alcançar regiões distantes e com pouca infraestrutura de saúde”, explica Guilherme.

No campo da medicina personalizada, o avanço da abordagem multiômica está transformando a forma como os tratamentos são adaptados às características individuais de cada paciente. As multiômicas integram diferentes camadas de dados biológicos, gerados por tecnologias de análise, como genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica. Essa abordagem holística possibilita uma compreensão mais profunda dos processos biológicos, facilitando a adaptação dos tratamentos e potencializando a prevenção de doenças.

Inteligência artificial

Com o crescimento da inteligência artificial (IA) no apoio ao diagnóstico, as multiômicas têm ganhado cada vez mais relevância, especialmente no campo das doenças raras, no tratamento personalizado e, o mais importante, na prevenção. “A popularização dos testes moleculares tem gerado um aumento significativo na demanda, incentivando grandes empresas a investirem em soluções pré-analíticas para atender à crescente necessidade de processamento em larga escala”, acrescenta Guilherme.

A utilização de ferramentas de IA tem possibilitado a ampliação de técnicas diagnósticas que antes eram menos comuns, como o Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que permite sequenciar o material genético de forma rápida, precisa e em grande escala. Também está ganhando relevância a proteômica, técnica que estuda o conjunto completo de proteínas expressas por células, tecidos ou organismos em determinadas condições. Assim como a metabolômica, que analisa os metabólitos presentes em células ou tecidos em um dado momento. Os metabólitos são pequenas moléculas intermediárias ou finais do metabolismo, como açúcares, aminoácidos, lipídeos e ácidos nucleicos.

A farmacogenômica, que investiga como as variações no DNA influenciam a resposta a medicamentos, também se tornará mais comum na área de diagnóstico. “O grande volume de dados gerados por essas técnicas será cada vez mais analisado com maior eficiência pela IA, proporcionando suporte às decisões médicas”, diz Guilherme.

Segundo ele, essa evolução permitirá que a medicina deixe de focar apenas no tratamento e diagnóstico, abrindo caminho para abordagens mais personalizadas. A IA aplicada à análise de grandes volumes de dados populacionais e metadados já desempenha um papel importante, mas seu impacto será ainda mais significativo na medicina personalizada. “Quando os dados são coletados ao longo do tempo de um único paciente, incluindo informações diagnósticas e sua jornada de saúde, a IA poderá fornecer um suporte de altíssima acurácia na tomada de decisões.”

Desafios

Apesar dos avanços, Guilherme diz que ainda existem barreiras que dificultam a expansão da biologia molecular. Entre as principais estão os custos elevados, uma vez que essas técnicas demandam reagentes caros e alto investimento para a implementação de laboratórios. Além disso, a falta de um parque industrial nacional que desenvolva essas tecnologias no Brasil impede a redução desses custos, que poderiam ser drasticamente diminuídos com a produção local.

Outro desafio é a infraestrutura, pois muitos laboratórios ainda carecem de equipamentos e espaços adequados para implementar as tecnologias avançadas de diagnóstico molecular. A capacitação profissional se junta à lista, já que é necessária uma formação especializada para operar essas novas tecnologias e utilizar adequadamente os resultados, o que limita o uso generalizado dos diagnósticos moleculares.

“Superar essas barreiras é essencial para garantir que os benefícios da biologia molecular sejam amplamente acessíveis à toda a população e integrados na prática clínica”, conclui o CEO da Seegene.