“Telepredicina” : um remédio para o sistema de saúde

Artigo assinado por Caio Soares*

Ao longo do último ano, nunca antes no cenário da saúde havíamos ouvido falar tanto de todos os termos iniciados com o prefixo “tele”: telemedicina, teleatendimento, teleconsulta, teleassistência, teleoperação, telemonitoramento. Da mesma forma, a discussão e a percepção dos impactos, dos prós e contras, extrapolaram as barreiras das instituições de saúde e do âmbito governamental para entrar em rodas de discussões da população em geral.

No entanto, existem alguns impactos, que muitas vezes não são tão evidentes, em especial para quem não está no dia a dia. Além de facilitar o acesso e aumentar a velocidade com que o paciente é cuidado, entregar resolutividade, aumentar a segurança e evitar desperdícios, outra grande vantagem da telemedicina é antecipar cenários, algo crucial quando estamos falando sobre saúde de populações.

Apelidei esse conceito de “telepredicina”. Parece até nome de medicamento, o que não deixa de ser.  Afinal, essa predição pode ser de fato um remédio para o sistema de saúde. Isso porque, quando partimos para um lado mais analítico, a telemedicina revela informações que nos ajudam a corrigir rotas, a nos prepararmos, prevermos aumentos ou quedas de demanda. Explico o motivo.

Segundo dados extraídos das bases da Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital – a Saúde Digital Brasil (SDB), de março do ano passado a abril deste ano, foram mais de 7,5 milhões de atendimentos. Destes, 87% foram primeiras consultas, evitando as famosas idas desnecessárias e até identificando por meio de exames a necessidade de um atendimento em unidade hospitalar.

Aliás, uma das grandes capacidades que a telemedicina tem é de absorver um atendimento que seria tradicionalmente direcionado às estruturas mais complexas. Ela assume o papel dos prontos-socorros, que são em geral a porta de entrada do sistema, mas que foram desenhados para atender a um nível de complexidade superior ao que a grande maioria das pessoas realmente precisa.

Obviamente, todos que por ali chegam terão as suas queixas acolhidas. No entanto, ao mesmo tempo, essas pessoas estão usando um recurso de grande complexidade estrutural, quando, na verdade, a real necessidade seria de uma unidade de atendimento de grande densidade de conhecimento, capaz de resolver, na maioria dos casos, o problema, ou então encaminhar para um serviço  mais especializado, já muito certeiro.

Sendo assim, pode-se dizer que, além de desafogar essa estrutura complexa e evitar tanto a subutilização de especialistas quanto a superutilização do sistema, a telemedicina, pela agilidade que proporciona e pelo volume de dados que registra, consegue evidenciar, do ponto de vista populacional, os movimentos que acontecem de saúde e o adoecimento com alguma antecedência.

Isso, inclusive, mostrou-se verdadeiro durante a pandemia, quando tivemos um volume de atendimento muito grande e conquistamos a capacidade de acompanhar os indicadores que eram obtidos nas consultas online e compará-los com dados de atendimentos presenciais nas unidades ambulatoriais e hospitalares presenciais. Fazendo uma análise estatística com base nas curvas de crescimento dos atendimentos via telemedicina, no caso da Covid-19, por exemplo, percebemos que eles permitem antecipar a informação entre cinco e sete dias em relação ao que é observado no presencial.

Enquanto os números oficiais mostravam regressão e estabilidade, os da telemedicina apontavam crescimento. E temos visto isso se repetir constantemente, nas últimas quatro ou cinco semanas, com um aumento sistemático de casos entre 15% e 30%. Seria este uma predição do que está por vir e que impactará o sistema como um todo, mais uma vez?

Estamos falando apenas desta pandemia, que tem proporções assustadoras. Da mesma forma, a  telemedicina poderia ajudar a antecipar também outras variações e demandas do sistema de saúde (público e privado) de doenças e/ou surtos. Sabemos que as tendências dizem muito a respeito de epidemias e pandemias. Ou seja, é algo diretamente proporcional – se muitas pessoas entram no sistema com a mesma queixa, é (ou pode ser) um valioso sinal de alerta. Significa que tem algo errado. E aí voltamos para a questão de quanto a tecnologia pode ser preditiva e antecipar o que pode acontecer.

Posto isso, já parou para pensar quanto dinheiro, quantos recursos e, principalmente, quantas vidas poderiam ser poupadas, se a tecnologia for utilizada da forma correta e em todo seu potencial? O benefício é para todo mundo. O ganho é para o gestor, é para o sistema de saúde, é para o paciente e para o médico. A telepredicina, a telemedicina, a teleconsulta, o uso da tecnologia, ou como preferirem chamar, são definitivamente bons remédios para a nossa saúde.

*Caio Soares, vice-presidente da Saúde Digital Brasil –  Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital

Outubro Rosa e Novembro Azul – Prevenção sempre será o caminho

O calendário de saúde nacional dedica dois meses inteiros à prevenção de duas das doenças que mais matam no mundo: câncer de mama e câncer de próstata. Com campanhas como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, o país fortalece a cultura da prevenção, atitude que é sempre  o melhor caminho para garantir a saúde e a qualidade de vida populacional.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) a prevenção está ligada a duas abordagens distintas. A primeira é impedir que o câncer se desenvolva, ou seja, evitar a exposição aos fatores de risco adotando estilos de vida mais saudáveis. A segunda está em detectar e tratar doenças pré-malignas ou cânceres ainda quando são assintomáticos e estão sem seus estágios iniciais. E nesse momento a medicina diagnóstica assume papel extremamente relevante.

O INCA estima que em 2021 tenhamos cerca de 66.280 novos casos de câncer de mama no país, doença que mais causa a morte das brasileiras. Após investir em uma vida mais saudável, cortando hábitos ruins como o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo, as mulheres precisam se lembrar de manter os seus exames preventivos em dia.

A mamografia – radiografia capaz de detectar alterações mamárias – é um exame de rotina que contribui com o rastreamento do câncer de mama e permite a identificação da doença antes do surgimento de qualquer sintoma. No Brasil, a recomendação das autoridades é que mulheres de 50 a 69 anos realizem uma mamografia a cada dois anos. 

São inúmeros os desafios que o país enfrenta para garantir acesso à mamografia a todas as suas mulheres. Além do fato de que somente um em cada cinco municípios brasileiros tem um mamógrafo, o que nos leva a um vazio assistencial regionalizado, a pandemia tornou-se um novo empecilho para a prevenção do câncer de mama.

Muitas mulheres que estão na faixa etária para o rastreamento da doença deixaram de realizar o exame. Segundo dados do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, somente nas empresas que integram a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – que em 2019 representaram 56,4% do total de exames realizados na saúde suplementar – entre março e novembro de 2020 houve diminuição de 53,1% na quantidade de mamografias quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

Com o maior conhecimento acerca da disseminação do novo coronavírus, bem como com o avanço da testagem e o início da vacinação, o panorama começou a melhorar e as mulheres gradualmente voltaram às consultas, laboratórios e clínicas de imagem. Porém, a campanha segue sendo ainda mais necessária para lembrar a todos que mesmo diante de uma doença infecciosa como a covid-19, as outras doenças não deixam de existir.

No âmbito do câncer de próstata, o cenário não é muito diferente. Segundo tipo de câncer mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma) tendo matado, segundo o INCA, quase 16 mil brasileiros em 2019, a doença também carece de detecção precoce. Ao diagnosticar nos estágios iniciais, as chances de sucesso no tratamento aumentam consideravelmente.

Para essa detecção precoce estão disponíveis exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos ou radiológicos e o rastreamento de homens assintomáticos é feito pelo toque retal e pelo exame de sangue para avaliação da dosagem de PSA (antígeno prostático específico).

Durante a pandemia, os homens também se afastaram dos cuidados com a saúde e deixaram de realizar seus exames. Dados levantados pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) analisando relatórios do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS do Ministério da Saúde referentes aos procedimentos realizados entre janeiro e agosto de 2020 e comparando-os com as quantidades de testes no mesmo período de 2019, apontou queda média de 34,4% no número de exames de PSA.

Outros dois exames de imagem também relacionados ao diagnóstico da patologia, ultrassonografia de próstata por via abdominal e por via transretal, apresentaram queda de 37,8% e 35,7% respectivamente. Já a biópsia reduziu 22,7% no período.

Os números nos levam à percepção de que a pandemia de covid-19 fez o país dar um passo atrás na cultura da prevenção dessas doenças. O momento é de reforçar a importância do autocuidado, dos exames preventivos, e dos benefícios do diagnóstico precoce junto à população.

Presidente da Abramed é fonte de reportagem do Jornal O GLOBO

No último domingo, 24/10, foi dia de #AbramedNaMídia no #OGlobo. A edição do jornal trouxe reportagem sobre o avanço da ANS em programa para monitorar hospitais. Em meio a escândalo recente, que levantou debate sobre planos de saúde, a Agência cria avaliação de unidades e iniciou esta semana a fase final de teste do Programa da Qualidade de Monitoramento da Assistência Hospitalar, que começou a ser formatado em 2018.

Em entrevista, o presidente da Abramed, Wilson Shcolnik, ressaltou que há uma década a ANS vem discutindo qualificação, mas até agora esses programas ainda não mostraram grande efetividade. É preciso acelerar e dar os incentivos corretos para uma adesão maciça. Os hospitais são importantes, mas a maioria dos atendimentos aos consumidores são feitos em laboratórios e clínicas. Para se ter uma ideia, são mais de 12 bilhões de exames laboratoriais por ano. Leia a matéria na íntegra AQUI.

Abramed é destaque em reportagem do Valor Econômico

No dia 28/10, a Abramed teve amplo destaque no jornal Valor Econômico, em caderno especial dedicado ao tema Medicina Diagnóstica. O veículo ressaltou que investimentos em pesquisa e tecnologia, além de aquisições alteram o perfil do setor de medicina diagnóstica no Brasil. Além disso, outra matéria ressaltou a busca do segmento para governança de dados e mencionou que no início de outubro, a Associação lançou o Guia de Boas Práticas em Proteção de Dados para o Setor de Medicina Diagnóstica, desenvolvido pelo comitê de proteção de dados da entidade. 

Também fomos citados em texto sobre o debate de testes rápidos fora do laboratório, onde a Abramed ratificou a sua preocupação com a falta de parâmetros de segurança neste âmbito.

Em reportagem sobre dificuldade dos laboratórios menores, o jornal mencionou que como os grandes grupos, as empresas de pequeno e médio portes de medicina diagnóstica têm como principal fonte de receita as operadoras de saúde e que a Abramed aponta que 80,9% da receita do setor vem dos planos de saúde, o que, em tese, traz a segurança necessária para bancar despesas e investimentos. Segundo Wilson Shcolnik, presidente do conselho de administração da Associação, “o principal limitador para a operação dos pequenos é a necessidade de investimento constante em tecnologia. O que não significa que não haja espaço para eles”. 

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Medicina diagnóstica, personalizada e especializada é o caminho

Durante o Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), refletimos sobre a Medicina Diagnóstica e a construção do sistema de saúde do amanhã. Tendências do setor, avanços da Oncologia e dos exames de alta especialização estiveram na pauta.

29 de outubro de 2021

Ao longo dos anos, observamos como a ANS tem incorporado, no rol de cobertura, exames de alta complexidade, principalmente de Genética, Genômica e Biologia Molecular. Para o diretor-presidente do Grupo Pardini, Roberto Santoro, o movimento gera acesso aos diagnósticos complexos, e também desafios aos provedores desses exames. “É o que já estamos fazendo no Grupo Pardini, com a oferta de mais de 8 mil exames, um dos maiores portfólios do país, para os quatro cantos do país”, pontuou.

Viabilizar acesso à saúde significa, antes de tudo, estar presente de forma abrangente. Com essa percepção atrelada ao seu propósito, o Grupo Pardini anunciou, em junho, a aquisição de 100% do laboratório Paulo C. Azevedo. Líder no mercado de Medicina Diagnóstica (PSC) no estado do Pará, com 80 anos de reputação, o laboratório conta com 22 unidades, localizadas em Belém e em outros seis municípios. Referência em Análises Clínicas, Anatomia Patológica e Onco-hematologia, responde também pelo atendimento a quatro hospitais na região Norte do país. “A convergência em expertises fortalece a cadeia de saúde no Norte do Brasil e marca a estratégia do Grupo Pardini de reforçar sua presença em todas as regiões do país”, destacou Santoro.

Em agosto, a companhia anunciou a aquisição integral do laboratório APC, referência no Brasil em painéis de imuno-histoquímica e hibridização “in situ”, realizadas em biópsia de peças cirúrgicas com amplo espectro de diagnóstico em Oncologia. Com a aquisição, o Pardini amplia a oferta dos exames especializados a todo o país por meio de hospitais, médicos, indústria farmacêutica, e dos mais de 6 mil laboratórios parceiros Lab-to-Lab.

Desde 2012 o Pardini vem adquirindo laboratórios de alta credibilidade e especialização. A companhia percorreu esse caminho em Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), assumindo laboratórios de alta especialização e fortalecendo o mix de serviços direcionados ao paciente, incluindo exames de alta complexidade e de Medicina Personalizada.

O movimento responde às estimativas que apontam para o crescimento dos exames de alta especialização. Um exemplo é a Anatomia Patológica. A ANS e o SIA DATA SUS sinalizam que, nos últimos cinco anos, esse mercado deva crescer, aproximadamente, 11,3%, chegando a R$ 1 bilhão por ano. Desse montante, 36% da receita e 10% dos procedimentos estão vinculados à alta complexidade. O cenário reforça que demandas complexas exigem respostas cada vez mais precisas. Um caminho de atenção e compromisso de levar acesso ao diagnóstico especializado.

Setor da saúde precisa de união para ampliar o acesso à população e avançar nas políticas públicas

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, participou do Encontro Estratégico Conahp 2021 e questionou sobre a oneração que a Reforma Tributária pode trazer ao setor

25 de outubro de 2021

O Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, participou, no dia 8 de outubro, do Encontro Estratégico Conahp 2021 – evento que antecede o Congresso Nacional de Hospital Privados –, que reuniu lideranças políticas, representantes das agências reguladoras, gestores das instituições associadas à Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e representantes das principais entidades de saúde.

Do encontro também participaram os deputados federais Pedro Westphalen (PP-RS) e Luiz Antônio Teixeira (PP-RJ), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família na Câmara dos Deputados; Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde); Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo); Rafael Cremonesi, diretor-geral do Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre-RS); e José Octávio Leme, diretor-geral do Hospital Marcelino Champagnat (Curitiba-PR).

No debate, Westphalen destacou a importância do estreitamento do relacionamento dos representantes do setor com as lideranças políticas nacionais envolvidas nas temáticas de saúde nos últimos anos, principalmente durante a pandemia, e como isso tem sido decisivo para o entendimento sobre os projetos de lei que poderiam impactar na sustentabilidade do setor.

“As entidades estão se aproximando da política para tomar as decisões, com informações corretas e adequadas. O Congresso Nacional deu respostas muito importantes durante a pandemia, mostrando os caminhos que temos de trilhar juntos pela assistência à saúde no país e para definir o futuro do nosso setor”, disse Westphalen, que é médico.

A saúde, comentou Teixeira, representa 9,5% do PIB nacional, é o segundo setor que mais emprega no país e, para ele, não é dada a devida atenção, principalmente no que se refere a investimentos e desenvolvimento.

“Quando se trata de desonerar alguns setores, não se pensa na saúde e nem em estimular o setor, que além de gerar emprego e renda, é um dos que mais gera benefícios à população”, afirmou o deputado.

O presidente da Abramed reiterou que o estímulo é um dos pontos sensíveis à saúde, e questionou os parlamentares sobre a Reforma Tributária que tramita no Congresso. “Como está essa questão e como podem nos ajudar? Somos um setor essencial e não podemos ser mais onerados. Os deputados nos ajudaram a superar as barreiras com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), fundamental para que 17 milhões dos mais de 23 milhões de testes RT-PCR realizados até agosto fossem feitos pela iniciativa privada e pela saúde suplementar, mostrando que tivemos um papel essencial na pandemia e podemos complementar a atuação do SUS”, pontuou Shcolnik.

Westphalen explicou que a Reforma Tributária o preocupa sobremaneira e que não pode ser aprovada da maneira que hoje tramita na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Disse ser preciso “lutar para que o Congresso entenda que a saúde foi o setor que mais contratou durante a pandemia; e respeitar e dar estabilidade à indústria brasileira da saúde, pelo menos, previsibilidade, já que são as empresas nacionais que mais investem em pesquisa e desenvolvimento (18%, antes 1,5% do governo)”.

Para Teixeira, que também é médico, várias ações têm sido feitas junto aos parlamentares frente aos vários projetos que tratam da Reforma Tributária no Congresso. “Conseguimos desonerar os profissionais liberais, com a redução da alíquota do imposto de renda. Mas tem outro projeto tramitando no Senado que pode onerar a saúde. Enfim, todo dia é uma guerra frente ao controle tributário, por isso, precisamos de um programa de Estado para a saúde”, explicou.

Fraccaro concordou com o deputado e falou da falta de isonomia tributária ao país que, segundo ele, é prerrogativa dada pela Constituição Federal de 1988, que dá isenção de tributos para a compra de produtos importados, o que reflete na competitividade da indústria nacional.

Por todos esses motivos, Teixeira defendeu um programa estratégico nacional de saúde e a autonomia do Ministério da Saúde para que o país consiga implementar e ampliar as políticas públicas no setor e o acesso da população a uma assistência de qualidade, com o apoio do segmento privado.

“Precisamos da união dos prestadores de serviços com os médicos, a indústria de transformação, a medicina diagnóstica que, dessa forma, proporcionará um melhor desfecho clínico e, por consequência, diminuir o impacto nos custos das operadoras. Oferecendo mais qualidade e ampliando o acesso ofertaremos uma saúde melhor e uma prestação de serviço mais efetiva”, afirmou o deputado.

Na visão de Vera, os custos na saúde suplementar são absurdos e faltam projetos de lei que visem à sustentabilidade do setor, para que o resultado não seja o reajuste dos planos e a redução no número de beneficiários. Ela comentou que uma comissão especial na Câmara dos Deputados trabalha na modernização da lei nº 9.656 (Lei dos Planos de Saúde) e espera que “olhem com responsabilidade para o cenário brasileiro, visando realmente à ampliação do acesso da população ao sistema privado de saúde”.

Para ter essas conquistas, Cremonesi disse ser importante que haja um grau de entendimento e de relacionamento entre todos os atores da cadeia da saúde. Ele apoia a estratégia do deputado Teixeira de união no setor, pois, na sua opinião, “enquanto houver um cabo de guerra entre pagadores e prestadores, as soluções sempre serão míopes”.

Há ainda outras questões que são desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde no Brasil. Leme lembrou haver projetos de lei de reajustes de pisos salariais para algumas categorias no Congresso que têm causado enorme preocupação ao setor.

O deputado Teixeira concluiu dizendo acreditar que este ano nada deve evoluir em nenhuma das duas Casas, mas que no próximo ano, devido às eleições, os riscos aumentam, e que, por isso, é fundamental que os parlamentares e o setor estejam unidos para que todos entendam o quanto é importante garantir a sustentabilidade dos sistemas público e privado de saúde para uma assistência de qualidade à população brasileira.

5° FILIS discute a transformação e o futuro da medicina diagnóstica

Debate reuniu especialistas de mercado no segundo dia do evento

Moderado pelo conselheiro da Abramed e sócio da Clínica Imagem, Ademar Paes Junior, o debate “Transformação e o Futuro da Medicina Diagnóstica” marcou o segundo dia do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS).

Abordando temas relacionados à pandemia e a inovação, o painel contou com a participação de relevantes nomes do mercado como Armando Lopes, Diretor de Diagnósticos por Imagem e Digitalização da Siemens Healthineers na América Latina; Carlos Martins, presidente Roche Diagnóstica no Brasil; Cleber Morais, diretor-geral da Amazon Web Services; e Rafael Palombini, presidente e CEO da GE Healthcare para a América Latina. Juntos, eles discutiram como a Covid-19 transformou a visão da indústria diagnóstica, quais mudanças e oportunidades de avanços tecnológicos nos últimos 18 meses trouxeram para o Brasil e a humanidade.

“Na pandemia, a tecnologia passou a ser o grande habilitador de tudo, da manutenção preventiva, consulta remota, mas o mais importante é entender o paciente como o core de tudo isso, como a tecnologia pode ajudar o paciente nesta jornada”, afirmou Cleber Morais, da Amazon Web Services.

Para Morais, como divisão da Amazon que leva serviços de computação, armazenamento e segurança aos clientes através da internet, o apoio da empresa foi fundamental para ajudar os clientes a passar por este período pandêmico, destacando o papel da empresa na elaboração de uma das vacinas contra a Covid-19. “A Moderna utilizando uma tecnologia nossa, da WS, para conseguir desenvolver a vacina em um tempo recorde, por meio inteligência artificial, elasticidade e capacidade tecnológica maior”, reafirmando que o período consolidou a tecnologia como grande habilitador de redução de custos e acelerador de benefícios para os pacientes.

Mas antes da vacina ficar pronta, Carlos Martins, da Roche, lembrou que o teste diagnóstico foi “um herói silencioso no meio de tudo isso que ocorreu”. “Isolar doentes para separar da população saudável foi o que pode nos salvar antes da vacina”, pontuou ele, que utilizou dados significativos para contextualizar a relevância da medicina diagnóstica na prevenção e cura de doenças: “70% das decisões clínicas são baseadas em exames diagnósticos, seja in vitro, de laboratório; ou in vivo, no doente, de imagem”.

Segundo ele, devido à demanda, foi necessário um foco muito grande para que o primeiro teste de RT-PCR fosse lançado em janeiro de 2020. Deste esforço, ele acredita que nasceu um dos principais aprendizados da pandemia. “Vimos do que nós, seres humanos, fazemos quando estamos focados em um tema, qual o poder que temos quando estamos determinados a realizar algo conjuntamente”, afirmou.

Nesta linha, Rafael Palombini, da GE Healthcare para a América Latina, compartilha que “pessoas, empatia e relacionamento” foram a chave para toda uma nova perspectiva decorrente da pandemia. “ Precisamos entender como gerar valor em termos de relacionamento, de apoio, de estar próximo e se reinventar na busca do que fosse melhor para manter o setor de saúde funcionando e operando”, afirmou ele, contando que a partir daí, foi possível apoiar o time da linha de frente na utilização de equipamentos diferenciados, buscando ritmo e eficiência.

“Adicionalmente aos temas de volumetria de atendimento, acesso à saúde e utilização de máquinas está esse olhar no paciente em uma visão completa da sua jornada, como antecipamos buscando a saúde do indivíduo, o que em cima do hoje podemos prevenir o amanhã, essa conscientização”, explicou.

O nível de conscientização das pessoas com relação ao valor do zelo da saúde também foi destaque na fala do diretor da Siemens- Healthineers, Armando Lopes, explicando que essa conscientização “mudou de patamar”, lembrando que a taxa de abandono de exames diminuiu brutalmente. “A pessoa faz e no mesmo dia ou no dia seguinte quer saber o resultado. A discussão sobre comorbidades, como pressão alta, diabetes e sobrepeso também passou a ser discutida inclusive à luz da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados)”.

Tecnologia, convívio e investimentos – Outro aspecto citado por Lopes foi o fato de que embora muitas das ferramentas utilizadas na pandemia já estivessem disponíveis antes de 2020, foi durante essa “tragédia que se abateu sob a humanidade” que a telemedicina, por exemplo, foi usada com sofisticação tecnológica. “A maneira que enfrentamos esta pandemia é o que deixará um legado muito grande. O desafio do pós-pandemia será o modelo híbrido, que precisará manter o legado do afastamento, mas resgatar coisas anteriores importantes do convívio do nosso antigo normal”.

“O Brasil já consome tecnologia há muito tempo, no mundo ocidental somos o segundo maior mercado de full service depois dos Estados Unidos, temos uma rede pública bastante ampla, população grande, mas em alta tecnologia acabamos consumindo mais que desenvolvendo“, pontuou o moderador Ademar Paes Junior, que também preside a Associação Catarinense de Medicina (ACM). Segundo ele, o pós-pandemia traz a oportunidade de tornar o Brasil mais relevante no cenário de desenvolvedor de tecnologia e soluções para a saúde.

Para isso, Carlos Martins, da Roche, destaca a importância da proatividade da indústria na busca por parcerias. “Temos que nos conectar com todos os stakeholders, autoridades e profissionais de saúde, pois há necessidade de investimentos”, apresentando dados de que embora 2% de todo o valor associado à saúde esteja associado à medicina diagnóstica ao nível mundial, no Brasil este percentual é de apenas 0,5%.

Os demais debatedores também concordam que ainda há muitas lacunas a serem preenchidas no segmento de medicina diagnóstica no Brasil, responsável por suprir a necessidade de 25% da população que utiliza a saúde suplementar. “Investimos US$ 5 bilhões de dólares em desenvolvimento e pesquisa de healthcare e o fato da população brasileira ser heterogênea é muito importante para os algoritmos da inteligência artificial”, explica Rafael Palombini, da GE Healthcare para a América Latina.

Outro desafio citado no debate foi o envelhecimento da população. “O Brasil está se preparando para fazer uma transição demográfica muito grande. A população envelhecerá      nos próximos anos”, afirmou Ademar, que lembrou o pioneirismo do segmento da Abramed. “A medicina diagnóstica sempre foi pioneira em levar inovação para o paciente, e tenho certeza de que continuaremos a fazer esse trabalho de antecipar o futuro lá na ponta com o paciente, no consultório médico, na sala de cirurgia, no laboratório, na sala de imagem, para oferecer uma saúde cada vez melhor para o brasileiro”, completou.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui, a cobertura completa desta e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Pesquisas em saúde ganham escala na quarta revolução industrial

Em palestra no 5° FILIS, especialista britânico destaca necessidade de maturidade digital nos sistemas 

“Com muito investimento, existe a aplicação de ciência de dados e inteligência artificial para a pesquisa na área da saúde do diagnóstico ao tratamento”, afirmou o britânico Andrew Morris, Diretor do Health Data Research UK no segundo (14) no Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). Diretamente da Escócia, ele ministrou ao vivo e de maneira remota a palestra “Ciência de Dados e Tecnologia em Medicina Diagnóstica” .

O médico destacou que a ciência e a pesquisa em saúde estão prestes a vivenciar a quarta revolução industrial que unirá disciplinas como robótica, sensores e tecnologia web para criar produtos incríveis. “A segunda coisa que será abraçada é a escala com grandes números, com mais pessoas participando de estudos clínicos”, explicou. Para ele, outra vantagem conquistada por meio da big data e de estudos mais amplos é a possibilidade de uma mesma pesquisa mapear diferentes tipos de doenças.

Após citar dados históricos da pesquisa em saúde – como o estudo realizado por cientistas de Boston (EUA) com 5.200 pessoas que, em 1948, levou a criação do termo fator de risco para englobar hipertensão, tabagismo, colesterol e diabetes; e a criação do National Health Service (NHS), o amplo sistema público de saúde britânico; Morris destacou os atuais desafios dos estudos globais do setor.

De acordo com ele, o nível de maturidade digital dos sistemas é o principal deles. “É tudo muito fragmentado, então precisamos pensar como impulsionar o acesso e o compartilhamento de dados de grandes sistemas e isso precisa de uma equipe de ciência bem escolhida”.

Para enfrentar tamanho desafio, o NHS criou a organização que Morris dirige atualmente – a Health Data Research UK (HDRUK) – que conta com 12 financiadores nacionais e internacionais independentes. Por meio da organização, o Reino Unido consegue trabalhar com dados diversos de seus 68 milhões de habitantes. “É a democratização da ciência de dados e saúde. O setor precisa saber que tem dados com confiabilidade e transparência para serem usados de maneira escalada em benefício público”.

Nos últimos três anos, o HDRUK criou quatro institutos nacionais de dados, compostos por 86 organizações em 32 localizações do Reino Unido. “Isso mostra como conseguimos juntar a comunidade para compartilhar as políticas, os insights, as tecnologias de maneira escalada”. Além disso, foram instituídos subgrupos temáticos, os hubs, focados em câncer e saúde mental, por exemplo. “É uma coordenação para apuração e mentoria de dados, com evidências, que disponibilizamos para mais de 400 projetos da academia e do governo”, completou.

Segundo ele, o modelo de banco de dados da organização permite que sejam realizados diferentes tipos de pesquisa em todo o Reino Unido. Para exemplificar essa capilaridade geográfica e temática, ele apresentou alguns estudos de caso promovidos por meio do HDRUK, como a pesquisa da British Heart Foundation que conectou dados de doenças cardiovasculares com a Covid-19 através de dados de 54 milhões de pessoas cujas informações de cuidados primários e secundários estavam catalogados.

Outro exemplo citado pelo palestrante foi o estudo relacionado à eficácia das vacinas. “Sei que existem parcerias de trabalho com o Brasil nesta questão, mas o nosso time foi o primeiro a mostrar a eficácia de uma dose das vacinas da Astrazeneca Biontech e da Pfizer em termos de proteção, infecção, hospitalização e mortalidade”, lembrando que tais informações foram muito importantes na tomada de decisões políticas. “Em termos de genômica viral, o Reino Unido conseguiu sequenciar mais de 1,1 milhão de genomas virais para saber também a eficácia de vacinas, dados e resultados para demonstrar como esses diagnósticos podem influenciar políticas públicas”, afirmou ele, lembrando que há 18 meses a sequência viral era uma ferramenta de pesquisa e agora é uma ferramenta de uso clínico, que detecta, inclusive, a importação de novas variantes da Covid.

Internacionalmente, o HDRUK está trabalhando com diferentes organizações com o mesmo modelo. “É um cenário bem amplo de alianças de dados de Covid-19. Agora estamos com 12 grandes projetos e dois deles são em parceria com a Fiocruz para responder perguntas importantes globalmente”, completou ele, explicando que este esforço internacional possui liderança, inovação e especialização muito fortes também vindas do Brasil.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui a cobertura completa desta e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Especialistas debatem o legado e os desafios da medicina diagnóstica no pós-pandemia

Bate-papo abordou temas relevantes para o segmento no primeiro dia do 5° FILIS

O paciente no centro do atendimento, o acesso aos cuidados, a sobrecarga do sistema no pós-pandemia, a formação de profissionais e a fragmentação da saúde são alguns dos desafios econômicos para o segmento de diagnóstico debatidos na 5° edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). Moderado pelo médico sanitarista e professor da Universidade de São Paulo, Gonzalo Vecina, o painel com o tema “Futuro da Saúde e os impactos econômicos no Pós Pandemia” reuniu para a conversa o CEO da DB Diagnósticos do Brasil, Antonio Fabron Junior; o General Manager da Abbott no Brasil, Julio Aderne; o CEO Americas Serviços Médicos – UHG, Marco Costa; e o Presidente do Hospital Albert Einstein, Sidney Klajner.

De acordo com Vecina, é preciso articular como ficará a questão do acesso à saúde em um sistema sobrecarregado que ainda tem o ônus de muitos exames não realizados durante a pandemia de Covid-19. “É preciso discutir a questão do abalo econômico do setor que trabalha tanto com o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto com a iniciativa privada”, disse ele, que destacou que a Abramed é um elemento fundamental para construir essa colaboração no segmento.

Adepto deste conceito de união do setor, Sidney Klajner afirmou que para alcançar o propósito de levar saúde para todos os cidadãos são necessárias ações colaborativas e que, neste sentido, “nenhuma organização conseguirá fazer nada sozinha”. O presidente também falou sobre a diferença entre custos e valor quando se trata de saúde. “Valor não é previsibilidade de custos. A entrega em saúde, o tratamento ou a alta complexidade podem ser o maior valor”, explicou.

Para Julio Aderne, o paradigma central no processo de criar valor no sistema de saúde é colocar o paciente no centro das decisões. “Cada elemento da cadeia de saúde, complexa e fragmentada, precisa colocar verdadeiramente o interesse do paciente no centro”, lembrando que, uma enquete realizada pela Abbott em maio com mais de duas mil pessoas de todas as regiões do Brasil revelou ser esse exatamente o desejo da população “estar no centro do atendimento”.

A pesquisa mostrou ainda que 70% das pessoas querem utilizar tecnologia para interagir com seus médicos, o que, segundo Aderne, se relaciona diretamente ao compromisso da Abbott como desenvolvedor de tecnologia: gerar informação através da tecnologia para permitir a maximização da eficiência do sistema.

“Nosso setor tem grande potencial, mesmo na crise econômica, nós crescemos, mas temos que acelerar as transformações em tecnologia e a qualidade do atendimento aos pacientes, colocando-os no centro dos cuidados e investindo em ações preventivas”, comentou Antonio Fabron Junior, ponderando que elementos culturais institucionais brasileiros – como a corrupção e a falta de articulação dos agentes públicos –devem impactar a curva de recuperação da economia no pós-pandemia.

De acordo com Fabron, para diminuir os impactos econômicos do pós-pandemia, os gestores de empresas de medicina diagnóstica precisam acelerar a transformação tecnológica que aumenta eficiência e produtividade, bem como a qualidade da relação com os clientes, lembrando ainda da relevância da medicina preventiva.

Nesta linha, Marco Costa destacou os Sistemas de Excelência de Cuidados Avançados voltado às doenças crônicas. “Temos uma campanha de tentar resolver o problema da fragmentação do cuidado da saúde suplementar no Brasil e estamos tentando criar um sistema de saúde integral da saúde”. Com uma visão otimista sobre o futuro, Costa afirma que a Americas está investindo na digitalização dos serviços e no oferecimento do acesso à saúde. “E assim vamos avançando na redução do atendimento em pronto-socorro tratando esse paciente em casa ou no sistema ambulatorial e assim diminuir um pouquinho essa fragmentação na saúde”, completou.

Papel fundamental no futuro da saúde, a formação em novos médicos e profissionais da saúde também foi abordada. Segundo Klajner, o investimento na área acadêmica veio para suprir a necessidade de atualização dos currículos das instituições tradicionais de ensino. “Não cabe mais a formação de um profissional que não contenha temas como transformação digital e gestão.  É obrigação de todo médico poder antever o que a sua caneta consegue realizar com o sistema de saúde”, disse, completando que as iniciativas de ensino do Einstein cresceram 80% em 2000, chegando a 85 mil alunos por conta da ampliação de ambientes virtuais.

Confira aqui o debate na íntegra deste e das demais palestras e painéis concretizados nesta 5° edição do FILIS. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Debate do 5° FILIS discutiu as consequências da pandemia no desenvolvimento da medicina no Brasil

Representantes de instituições de pesquisa, da indústria de produtos para a saúde e da medicina diagnóstica apontaram erros e acertos do período e quais pontos merecem maior atenção

“O avanço da medicina sob pressão” foi tema da sala paralela no segundo dia do 5° Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica). Patrocinada pela Thermo Fisher, a sessão contou com a moderação de Cláudia Cohn, CEO do Alta Excelência Diagnóstica e Diretora-Executiva da Dasa.

Participaram do debate Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da      Universidade de São Paulo (USP); Esper Kallas, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da USP; Roberto Santoro, CEO do Grupo Pardini; e Nicolas Marchon, diretor de marketing Latam da Thermo Fisher.

Para iniciar, Claudia contextualiza explicando que a medicina sofre pressão em todos os aspectos e durante a pandemia continuou em plena ação, mesmo com os desafios remotos na organização e gestão da saúde, na produção de equipamentos e insumos, no transporte e logística dos materiais, enfrentando novos casos e diagnósticos variados nestes quase dois anos. Segundo ela, um Brasil sofrido que continuou a exercer sua atividade incansavelmente na área médica. 

“Vimos a medicina pública e privada contribuindo entre si, eliminando todo o viés político. Foi muito importante termos entes públicos que continuaram a regular e a definir políticas de diagnóstico e tratamento”, disse a moderadora, citando também a importância da indústria nesse período e convidando Nicolas Marchon  para iniciar sua fala.

Para ele, a velocidade de resposta da indústria à pandemia foi ímpar, após o momento inicial de surpresa. Entre os fatores primordiais que geraram este resultado citou o senso de urgência, devido ao potencial pandêmico; o avanço na pesquisa voltada aos testes de Covid-19, pois não foi necessário      desenvolver nenhuma tecnologia nova; e a colaboração entre os stakeholders da saúde. “Vimos indústria, universidades, agências reguladoras e      governo      atuando de forma uníssona”, ressaltou.

Na sequência, Ester Sabino contou que quando os casos de covid-19 começaram, a entidade já estava trabalhando em como responder de forma rápida a epidemias. “Tão logo apareceram os casos na China, nós nos organizamos. A resposta imediata depende do fortalecimento pré-pandemia. Por isso é importante investir em ciência”, expôs.

Outra questão importante citada foi o fato de a ciência ter passado a fazer parte do dia a dia das pessoas, recebendo seu merecido reconhecimento. “Isso estava faltando, não se conhecia o que a ciência vem produzindo no Brasil”, disse, comentando, inclusive, como o conceito de fator R0 (R zero) acabou se tornando assunto entre os leigos. 

Já Esper Kallas  aproveitou para chamar a atenção para as zoonoses, que podem dar um salto e causar outras pandemias. “Precisamos crescer na identificação dos vírus e outros patógenos que estão em circulação, temos um longo caminho para nos desenvolvermos nesta área. As iniciativas de enfrentamento que surgiram no Brasil se deram através da colaboração entre grupos que já existiam. Não há investimento em estudo de novas zoonoses. Veja, ainda, o recente corte no orçamento para pesquisas. É ultrajante”, comentou.

Segundo ele, o país não está preparado para enfrentar as próximas doenças, não tem fortalecido grupos para estudar pandemias, como de zika, nem criado estratégias racionais de enfrentamento, tampouco investido em ciência. “Claro que sempre há a possibilidade de erro. Erramos em vários momentos durante a pandemia. Poderíamos ter evitado mortes, mas, na posição de médicos, tivemos de encontrar uma solução. Tentamos algumas estratégias de tratamento, mas o que faltou, de forma geral, foi entender que a ciência é construída e se desenvolve ao longo do acúmulo do conhecimento”, frisou Esper.

O professor também criticou a politização durante a pandemia no Brasil, que acabou gerando a morte de muitas pessoas. “O conhecimento científico deveria ser respeitado. Essa interferência externa prejudicou ainda mais a situação. A saúde pública tem de ser, sim, uma conjunção entre ciência e política, mas, no nosso caso, a integração foi muito danosa. Faltou construir com a população, ao longo dos anos, a aceitação da importância da ciência. E faltou nutrir os nossos políticos de opiniões mais especializadas para a tomada de decisão. Temos de trazer essa discussão para a sociedade. A ciência é um método para encontrar soluções para a saúde coletiva.”

Claudia Cohn aproveitou a ocasião para ressaltar que a Abramed vem fazendo seu papel de levar luz a essas questões, para que políticos e sociedade entendam a importância do conhecimento científico. “Não dá para transformar o Brasil em uma referência sem construirmos isso juntos.”

Para Roberto Santoro, durante a pandemia, foi evidenciada a importância da medicina diagnóstica no Brasil e a sua adaptação sob pressão. “A medicina diagnóstica é infraestrutura, é logística, é capacidade de produção, é pesquisa & desenvolvimento, é interface de sistemas. A pandemia trouxe a visão da necessidade de uma infraestrutura melhor no Brasil”, disse.

Quando a demanda aumentou, o Pardini, que tem 10 mil laboratórios em todo o Brasil, desenvolveu inovações tanto na produção quanto na logística. “Hoje percorremos 90 mil quilômetros por dia, estamos em mais de dois mil municípios e temos mais de 100 bases logísticas. Nunca atuamos nesta dimensão.”

Um ponto que preocupa Santoro está relacionado justamente a esse crescimento e ao futuro. Uma projeção sobre a necessidade de laboratórios nos próximos cinco anos mostra que haverá um déficit no setor. Outro ponto que merece atenção é a falta da medicina diagnóstica na atenção primária e secundária e também na área oncológica. “Receio que este gap pode evoluir levando ao aumento da mortalidade desses pacientes”, expôs.

Santoro também citou a questão da interoperabilidade no Brasil. “Utilizar os dados coletados para construir modelos preditivos através de analytics e fazer interface com operadores de saúde, atenção pública e privada são grandes desafios. Na Europa, os setores público e privado compartilham dados, mas isso ainda é difícil no Brasil.”

Confira aqui o debate na íntegra deste e das demais palestras e painéis concretizados nesta 5° edição do FILIS. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.