Debate sobre ecossistema em saúde e os impactos regulatórios reuniu representantes da ANS, IDEC e Abramge durante a sexta edição do FILIS

Modelos de remuneração, planos populares, interoperabilidade, digitalização e biometria facial foram temas discutidos no painel

O 6° Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), iniciou com um debate sobre o tema: “Ecossistema: A reinauguração da Saúde e seus impactos regulatórios”. Foram convidados para esta discussão Ana Carolina Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC); Paulo Rebello, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); e Renato Freire Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). A moderação ficou com Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Modelos de remuneração, planos populares/acessíveis, interoperabilidade, open health, digitalização e biometria facial foram abordados com foco nos desdobramentos para a saúde suplementar. Palavras como qualidade, acesso, sustentabilidade, segurança, diálogo, transparência, conexão, regulamentação e confiabilidade fizeram parte da discussão, sempre tendo o paciente no centro do cuidado.

Shcolnik iniciou com um breve panorama sobre o assunto. “Sabemos que o sistema de saúde é fragmentado e muito se tem falado sobre a formação dos ecossistemas em saúde, na verdade, há tempos, os sistemas já existem em diferentes operadoras de saúde, sobretudo nas chamadas verticalizadas, que oferecem serviços próprios aos seus beneficiados.

”A verticalização é uma estratégia dos planos de saúde que consiste na criação de redes próprias de atendimento.. “Esse modelo tem riscos e benefícios, mas costumo dizer que não há modelo bom e ruim, mas sim gestor bom e ruim. Para um bom grupo verticalizado, a força está em excelentes protocolos para tratamento, com boa governança das exceções”, destacou Casarotti. Segundo ele, não devemos barrar a criação de ecossistemas, o desafio é fazê-los conversar entre si..

Para comentar sobre a opinião dos consumidores a respeito desses ecossistemas, Shcolnik chamou Ana Carolina, que disse que o IDEC não tem uma posição, já que o foco do instituto é o direito à saúde do usuário e a qualidade do atendimento. No entanto, a respeito da verticalização, fez duas ponderações. Uma delas é o impacto concorrencial, que merece atenção cuidadosa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). E outra é o fato de ser o mesmo agente econômico aquele que paga a conta e aquele que prescreve o tratamento, pois isso não garante necessariamente o melhor desfecho em saúde.

“A experiência com a CPI da Pandemia trouxe uma lacuna que precisa ser preenchida em termos de quem fiscaliza, quem pune e quem cuida, ao tratarmos de serviços de baixíssima qualidade. Isso é uma preocupação que temos em relação aos modelos verticalizados”, expôs Ana Carolina.

A respeito de novas formas de remuneração, que indicam como será cobrado o serviço em saúde, Shcolnik falou sobre o sistema atual, que é o fee for service, ou seja, pagamento por volume de procedimento. “Este modelo é muito criticado, pois afeta a sustentabilidade do sistema de Saúde Suplementar.” Ele questionou como a ANS analisa a formação de ecossistema e as novas formas de pagamento, como o pagamento por resultados.

Rebello disse que a agência tem estimulado outros modelos diferentes do fee for service“Mas é o desfecho para o paciente que vai fazer com que os ecossistemas se encontrem e tentem chegar num consenso sobre o modelo mais adequado, colocando sempre o paciente como foco, senão não será possível destravar essa questão. A ANS está estabelecendo alguns indicadores de desfechos clínicos para induzir a mudança através do diálogo. Os problemas não são simples, mas, se não dermos um passo à frente, a realidade vai nos atropelar. Precisamos nos acomodar para garantir a sustentabilidade do sistema”, destacou.

“Lembro que no setor de medicina diagnóstica já medimos muitos indicadores e sabemos da importância que eles têm na contribuição para um bom desfecho em saúde. Medimos atrasos na entrega de exames e repetição de exames por conta de algumas inadequações. Esses são exemplos de indicadores que merecem nossa atenção”, comentou Shcolnik.

Em se tratando de modelos de pagamento diferentes, Casarotti acredita que só será possível avançar quando o diálogo for aberto e houver o entendimento de que é fundamental caminhar juntos. “O que me traz esperança, mais do que modelos, é o diálogo na busca por uma melhor solução para todos os envolvidos: os que cuidam do financiamento, os que entregam o cuidado e, principalmente, os que recebem esse cuidado. Cuidado este que deve ser acessível, sustentável e com padrão de qualidade aceitável”, reforçou.

Ana Carolina comentou que essa discussão está bem distante do consumidor, já que a preocupação maior é que esse modelo não gere violação no direito à saúde ou impacto na qualidade do serviço. “Também fazemos uma ressalva sobre o quanto esse modelo de remuneração vem atrelado a uma discussão sobre o repasse da economia gerada para o usuário, o que não é necessariamente uma verdade, pois há outros setores que podem absorver esse valor. Claro que faz sentido promover a discussão sobre a formas de pagamento, mas não sei quanto vale colocar no consumidor essa expectativa.”

Na questão do prontuário único integrando Sistema Único de Saúde (SUS) e Saúde Suplementar, os participantes o consideram fundamental para deixar a navegação do usuário mais fluida. “No entanto, é preciso ter ouvido aberto para ouvir os riscos, entender as oportunidades e discutir as alternativas”, acrescentou Casarotti.

Na discussão sobre se planos de saúde acessíveis vão ajudar no acesso à saúde, Ana Carolina chamou a atenção para aqueles com cobertura parcial de doenças, que representam um retrocesso do marco legal. “Permitir que esteja disponível à população um serviço restrito é colocar no usuário o dever de saber do que ele vai precisar para se tratar ou que tipo de doença vai ter. E não há negócio jurídico válido que se sustente nessa base.”

Sobre as clínicas populares e as exigências regulatórias, Shcolnik fez um questionamento ao representante da ANS. “Sabemos que a regulação contribui para a redução drástica do número de operadores. Assim, muitas health techs e clínicas populares surgiram para alcançar usuários que não têm acesso ao sistema de Saúde Suplementar. Mas essas clínicas não são reguladas pela ANS, como garantir a proteção dos usuários?”

Rebello revelou que a ANS não tem previsão de regular o mercado das health techs e dos planos acessíveis. “É um serviço prestado pontualmente que não se enquadra na legislação como plano de saúde. Não há iniciativa da agência em fazer qualquer regulação desse mercado”, afirmou mais de uma vez durante o debate.

Com relação a esse assunto, Casarotti se revelou preocupado com aquelas empresas que fazem um paralelo entre o que ofertam e o que mercado regulado de planos de saúde oferece. “O modelo fechado de atendimento é uma demanda, mas, quando ele passa a querer competir com o plano de saúde, dá início à precarização. É preciso, também, acompanhar o acesso à telemedicina, pois aumentou muito a oferta, o que pode gerar problemas de qualidade. É fundamental equilibrar acesso com qualidade para o serviço oferecido fazer sentido.”

Já na questão da interoperabilidade, Rebello disse que a ANS tem discutido bastante o assunto, pois sua preocupação é trazer segurança nas informações e trabalhar com os dados dos pacientes. “A agência vem dialogando com o setor e mantendo contato com a autoridade nacional”, expôs.

Para Ana Carolina, existe grande potencial de uso positivo de intercâmbio de informações dos usuários de serviço de saúde entre prestadores. Mas alerta que é preciso cuidado para não haver vazamentos, como visto em 2021, pois, segundo ela, não há como falar em interoperabilidade sem pensar em uma plataforma segura. “Outra questão é a privacidade, pois são dados sensíveis de saúde, e é necessário impedir o cruzamento dessas informações. Além disso, não devemos fazer a discussão de prontuário único e open health sem ter em mente o perigo que é acharmos que o indivíduo é responsável por sua situação de adoecimento. O IDEC está olhando para essas questões”, salientou.

Ana Carolina também comentou que a digitalização na saúde é uma tendência, mas não deve ser via única. São necessários alguns cuidados para que ela, de fato, melhore a experiência do usuário. Esses cuidados envolvem segurança contra o vazamento de dados, sem falar no quanto o sistema é capaz de gerar dados sobre o usuário que transcendem o próprio conhecimento que ele tem de si, podendo ser usado em seu prejuízo.

Já a biometria facial ligada à informação de dados em saúde é outro tema muito sensível para o IDEC, de acordo com a coordenadora do Programa de Saúde, pois convém pensar na proporcionalidade da medida e na vantagem que ela traz. Em sua consideração final, fez uma provocação referente à expansão do mercado. “Qual a finalidade desse crescimento? Crescer para aumentar lucro sem retorno para a sociedade do valor saúde, no contexto de hoje, em que colhemos os aprendizados com a pandemia, me parece estéril. E crescer aumentando a desigualdade entre quem acessa os mercados público e privado também tem que entrar nessa discussão”, finalizou Ana Carolina.

Em sua fala de encerramento, Casarotti disse querer acreditar na intenção positiva das pessoas envolvidas no sistema de saúde. “É possível avançar se sairmos das zonas de conforto, pararmos de ver o outro como inimigo e ouvirmos mais do que falamos.”

Por fim, Rebello comunicou que, a partir de setembro, a ANS vai abrir audiência pública para sua agenda regulatória, ou seja, o planejamento das prioridades para o próximo triênio. “Peço a todos que nos procurem, nos provoquem, apresentem suas sugestões e apontem as necessidades. Estamos abertos a debater todo e qualquer tema referente à Saúde Suplementar.”

A sexta edição do FILIS aconteceu em formato híbrido no último dia 24 de agosto, no Teatro Santander, em São Paulo.

Em palestra no FILIS, CEO da Aceso Global abordou o Value-Based Health Care e sua experiência dos EUA

Maureen Lewis citou as ACOs – redes de médicos, hospitais e outros provedores – que utilizam formas de pagamento baseadas em VBHC

Uma das palestras internacionais da sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foi proferida por Maureen Lewis, CEO da Aceso Global, organização sem fins lucrativos que concentra seu trabalho em questões relacionadas ao sistema de saúde no setor público e no privado em mercados emergentes.

A palestrante abordou o financiamento e suas aplicações no diagnóstico, os desafios do cuidado em saúde no Brasil, a importância da qualidade no setor, o Value-Based Health Care (VBHC), os novos modelos de pagamento e as implicações para o setor de medicina diagnóstica.

Falando em desafios e oportunidades, a Maureen apontou que apesar do grande impacto na saúde global, a covid-19   alavancou o uso da telemedicina no mundo todo. Outros pontos citados foram o aumento rápido dos custos na saúde brasileira, o envelhecimento populacional, o crescimento das doenças crônicas e a busca dos pacientes por conveniências e conforto.

“No Brasil, o nível da qualidade do cuidado é muito baixo, com grande quantidade de eventos adversos, que são caros não só para o paciente como também para todo o sistema. Faltam qualidade e eficiência, mas o mais sério é que não existem dados para avaliar isso. Um prédio bonito, como os usuários gostam, não significa qualidade no cuidado”, disse.

Segundo ela, o paciente fica confuso com a bagunça no sistema, sem saber para onde vai: quem manda, como é organizado e como o financiamento funciona? Isso é um desafio também nos Estados Unidos, que tem um sistema muito parecido com o do Brasil.

Maureen citou que 25% da população brasileira custeia o próprio tratamento, enquanto nos Estados Unidos são 11%. No Brasil, 34% utilizam planos de saúde e 41% o SUS. De acordo com ela, o sistema brasileiro ainda não está pronto para pensar em valor em saúde, devido aos problemas já apontados, além do uso inadequado dos dados, da utilização do pronto-socorro em vez de consultas e da falta de informações sobre o desempenho.

As prioridades da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), com relação a financiamento e estrutura de saúde, são: colocar a qualidade do cuidado no centro; identificar e estratificar os riscos; concentrar-se em pacientes de alto risco e alto custo, mantendo-os saudáveis e evitando a hospitalização; sistema de dados integrados; e novos sistemas de pagamento.

Maureen mostrou um estudo feito nos Estados Unidos, em 2004, apontando que apenas metade dos pacientes recebeu o cuidado apropriado. Havia alta incidência de eventos adversos nos hospitais, baixa aderência a protocolos, alta morbidade e reinternações. Ao mesmo tempo, a despesa em saúde crescia em percentual do PIB sem melhores resultados. Depois desses dados preocupantes, o país mudou o sistema totalmente. 

O Value-Based Health Care foi uma resposta a alguns desses problemas. Trata-se de uma estratégia para promover qualidade e valor nos serviços em saúde com base nos pagamentos por resultados. Até então, o modelo predominante era o fee for service, pagamento por volume, que não informa sobre desempenho, nem se o gasto foi útil, além de não oferecer incentivos para eficiência nem qualidade. O pagamento por resultados é uma evolução do sistema.

Dentro do VBHC, Maureen citou bundled payments (pagamento por pacote), diagnostic related groups (DRGs), shared savings/risk (compartilhamento dos ganhos entre médicos e planos para melhorar qualidade e baixar custos) e pay for performance (P4P). Também falou sobre as Accountable Care Organizations (ACOs), redes de médicos, hospitais e outros provedores e prestadores de serviços de saúde, que utilizam várias formas de pagamento juntas, especialistas no VBHC. Essas entidades têm uma parceria muito forte entre gestão e equipe clínica, com enfoque em atenção primária e infraestrutura digital robusta. A palestrante acredita que, no Brasil, as ACOs podem oferecer muitos benefícios.

Segundo experiências de executivos de planos de saúde, com a adoção de VBHC, a qualidade melhorou em 80%, além de reduzir custos desnecessários. “Mas é difícil convencer operadores dos benefícios de bundled payments e outros sistemas de pagamento episódicos, porque é um modelo novo e há resistência”, disse.

Para melhorar a eficiência e aumentar a qualidade, as implicações para o setor diagnóstico, apontadas por Maureen, são: reduzir o desperdício no sistema, limitar o underuse, controlar os erros médicos, reduzir o número de infecções adquiridas em hospital e utilizar benchmarks para acompanhar o desempenho.

Desafios e possíveis ações para melhorar a saúde frente ao cenário econômico atual são temas do FILIS 2022

O orçamento público federal, a racionalidade no uso de recursos, a atenção primária, a tecnologia, a importância dos dados e da infraestrutura e a logística estiveram entre os temas abordados por lideranças internacionais e nacionais da saúde no módulo econômico do evento

Debater os principais desafios e obstáculos econômicos que permeiam o setor de saúde foi o objetivo de um dos painéis que aconteceram durante a sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Mediado pelo jornalista Sidney Rezende, o debate intitulado “Obstáculos econômicos frente aos desafios atuais” contou com a participação de Patricia Frossard, presidente Brasil da Philips; Roberto Santoro, CEO do Grupo Pardini; Maureen Lewis, CEO da Aceso Global; e Arthur Aguillar, diretor de Políticas Públicas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). O objetivo foi reunir diferentes visões sobre os pontos a serem observados e os aspectos do cenário econômico que podem ajudar a solucionar os principais desafios da saúde.

A saúde está em foco e a pandemia escancarou muitos obstáculos que até então estavam velados. Esse cenário, de acordo com Patricia, demanda discussões mais profundas sobre os entraves que permeiam o setor e por uma necessidade de os participantes da cadeia unirem-se em prol do paciente. A junção de esforços dos setores público, privado e da própria sociedade são, para ela, fundamentais, assim como os investimentos no engajamento do paciente e em PPPs (parcerias público-privadas), que, além de permitirem a consolidação de indicadores (KPIs), ajudam na redução de custos, no ganho de escala e no aprimoramento da efetividade no cuidado com o paciente.

“Pecamos na comunicação de massa para ensinar o paciente sobre quando ele deve procurar o hospital, em que momento ele tem que se submeter a um procedimento, entre outros. Embora eu veja essa consciência naturalmente acontecendo por conta da pandemia. Ainda esquecemos do paciente e de sua educação.”

Trazendo para o contexto da indústria, ela apontou a necessidade de solucionar o desafio de acompanhar o avanço, atender bem o paciente, com qualidade e, ao mesmo tempo, a baixo custo. Por isso, cada vez mais os produtos desenvolvidos consideram acompanhar toda a jornada do paciente, desde a entrada na recepção do serviço de saúde até o procedimento de diagnóstico, o tratamento e, eventualmente, o home care.

“Quando conseguimos participar de todo esse processo, conseguimos ajudar os hospitais e laboratórios a fazer uma gestão melhor de toda a sua cadeia, de forma que eles tenham menos perdas, seja de tempo, seja repetição de exames”, enfatizou Patricia.

A sofisticação das tecnologias, como a inteligência artificial, que ajuda a aprimorar o diagnóstico, também é útil e emerge como parte importante nessa busca da transformação. “Os gargalos existem, mas contamos com a IA, por exemplo, para melhorar a eficiência. Isso ainda é algo embrionário e que pode ser muito explorado, principalmente no que diz respeito ao diagnóstico.”

Do âmbito de políticas públicas, o diretor do  IEPS contextualizou que trazer a lente da economia, considerar a evidência empírica em políticas públicas para compreender os desafios do SUS e tentar resolvê-los da melhor maneira possível são objetivos da instituição. Para ele, ampliar o orçamento público de saúde, fazer melhor uso desses recursos e identificar possíveis fontes de origem desse incremento de receita, sobretudo em um momento como o atual, em que o cenário fiscal do país está complexo, são prioridades. “Seria irresponsável falar de mais gastos públicos, sem esclarecer como podemos fazer isso”, ressaltou.

Outro desafio apontado por Aguillar está em direcionar os investimentos à atenção primária, que, segundo ele, é mais custo-efetivo na saúde pública: “Na estratégia de saúde da família, que é uma política reconhecida, premiada e com as melhores evidências em periódicos científicos, mas que parou de crescer nos últimos oito anos, depois de um aumento de cobertura sistemático desde os anos 1990.

Usando como base uma nota técnica publicada pelo IEPS, que analisou o projeto de lei orçamentária para 2022, o especialista explicou que, olhando o orçamento público federal em saúde e descontando os gastos com a covid-19, trata-se do menor orçamento em dez anos para o setor. Além disso, o gasto em atenção primária está praticamente estabilizado, mesmo tendo um incremento importante da população nesse período. O outro ponto destacado é que o nível de investimento do governo caiu 70%.

“Nosso sistema de saúde tem diversas pressões de demanda, inflação médica, represamento de serviços advindos da covid-19, envelhecimento da população, afinal estamos em plena transição democrática, com um sistema que não está mudando seu patamar de financiamento. Temos também um momento muito complicado fiscal.”

Exatamente por esses motivos, o IEPS, na Agenda Mais SUS – documento da instituição para a eleição presidencial, propõe uma trajetória incremental do aumento de gastos públicos com saúde, saltando de 3,95% para 5% do PIB até 2026. Essa meta é considerada por ele exequível, quando observada a estrutura do orçamento. A saída apontada está em introduzir medidas para reduzir ou eliminar renúncias fiscais que o setor apresenta. Em 2018, o montante foi de 50 bilhões de reais, e, desse total, 26 bilhões em renúncias de imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas. No caso da pessoa física, 80% desse montante está relacionado a 10% da parcela mais rica da população. “Parar de subsidiar a saúde das pessoas mais abastadas na saúde suplementar e colocar esses recursos no sistema público de saúde talvez seja o primeiro passo.”

A segunda ação proposta é olhar para outros entes de governo. Ele citou o exemplo do Ceará, que acabou de triplicar a parte do ICMS repassada para os municípios, condicionando tudo ao valor agregado e aos resultados obtidos. Também faz parte das proposições olhar para todos os bens e serviços que fazem mal para a saúde e aumentar a tributação desses setores para financiar a saúde pública. É o caso de bebidas açucaradas, alimentos ultraprocessados, álcool e tabaco.

O CEO do Grupo Pardini, organização presente em diferentes regiões, apontou questões de infraestrutura como um obstáculo, que inclusive está diretamente relacionado à logística, um problema na saúde de forma geral no Brasil. É preciso solucionar essas questões e aumentar a capacidade de transitar, como no caso da instituição, exames laboratoriais, e não os clientes, solucionando uma questão importante, que é dar acesso a exames cada vez mais especializados e de qualidade, em localidades remotas.

“Se um recém-nascido nas entranhas maranhenses precisa de um diagnóstico de uma doença rara, isso tem que ser feito de uma forma rápida. Mas não lá. Tem que ser transportado para e por um laboratório de referência que forneça essa solução imediata. Quando olhamos para o quesito infraestrutura, é extremamente importante saber como se pode prover isso”, ressaltou.

Santoro reforçou não só a ideia colocada por outros participantes, que é a necessidade do foco em atenção primária no sistema de saúde, como também a relevância da medicina diagnóstica nesse contexto. “Hoje o setor representa 20% dos gastos na saúde suplementar. Mas, se associada à atenção primária, ela é muito mais resolutiva. O volume de exames feitos na rede pública equipara-se ao da saúde privada. Os exames estão acontecendo, mas sem ligação com atenção primária. Se formos falar em economia, gastos com hospitalização e outros custos também evitáveis, é preciso dar mais visibilidade à medicina diagnóstica. Penso que, inclusive, os resultados disso precisam ser medidos”, explica.

A necessidade de se rediscutir o modelo de saúde, a exemplo do que aconteceu na criação do SUS, é também uma urgência apontada pelo executivo, assim como a inclusão digital, que, apesar dos avanços, segue sendo uma barreira. Em sua fala ao longo do debate, Santoro também enfatizou várias vezes a necessidade de preparar profissionais, inclusive para lidar com as tecnologias, e de ser criada uma trilha de carreira para os profissionais no sistema público de saúde. “Esse é um momento adequado de realizar uma nova discussão setorial, fomentada pelo governo para podermos realmente atingir um novo patamar. Nenhuma transformação de saúde acontecerá sem transformação digital e utilização de tecnologia.”

Trazendo a visão internacional desses desafios, Maureen acredita que a carência do uso de dados para embasar a gestão, assegurar a qualidade e melhorar a eficiência deve ser prioridade quando o assunto é saúde. Existe a necessidade de um novo enfoque em qualidade, tema que está diretamente relacionado, segundo ela, a todos os outros desafios apontados durante o debate. “Dados são importantes para saber como tudo está funcionando e o que deveria ser mudado. Não se pode alcançar qualidade sem isso”, explica.

A própria configuração da saúde no Brasil foi salientada como um ponto de atenção, pois não há integração entre os sistemas público e privado e também dos serviços. Em sua concepção, o cenário ideal não seria falar de quem está prestando o serviço, e sim do resultado alcançado. Essa descentralização do cuidado e a existência de uma série de atores fazem o paciente se perder em sua jornada por não saber o que deve fazer.

“A gestão é fraca tanto na saúde suplementar como no sistema público. O uso de dados e os ajustes que eles permitem são fundamentais para a saúde de forma geral. Isso é muito interessante para acompanhar se houve melhora e para criar políticas. O tempo é agora e existe uma abertura para as PPPs, inédita, que é bastante animadora. Lembrando que o Brasil está à frente dos países emergentes”, enfatiza.

Maureen também trouxe a necessidade de se pensar em aspectos que ajudem a melhorar a eficiência e a qualidade do atendimento, apontando mais uma vez a atenção primária e a prevenção como caminhos bem-sucedidos.

A CEO da Aceso Global também foi palestrante no sexto FILIS. Confira aqui a matéria sobre sua apresentação.

Abramed realiza 6º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS

Em seu retorno ao formato presencial, evento aconteceu no dia 24 de agosto, em São Paulo, e apresentou os novos Conselhos de Administração e Fiscal da entidade

A sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), evento promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foi realizada no último dia 24 de agosto, no Teatro Santander, em São Paulo, reunindo mais de 450 participantes que acompanharam ao vivo o evento, sendo uma parte por transmissão remota através de uma plataforma customizada. Esse foi o retorno do FILIS ao formato presencial após um hiato de dois anos, em função da pandemia de covid-19.

Desde a primeira edição, em 2016, o Fórum se tornou referência de inovação e compartilhamento de experiências entre as lideranças que compõem a cadeia da saúde. Em 2022, trouxe como macrotema “A Medicina Diagnóstica na Disrupção da Saúde”, em uma programação composta de três módulos com debates abordando aspectos político-regulatórios, econômicos e de inovação e futuro. Além disso, contou com a participação de dois palestrantes internacionais: a CEO da Aceso Global, Maureen Lewis, e o líder de mercado em Soluções de Saúde e Ciências da Vida nas Américas do Google Cloud, Esteban López.

A abertura foi conduzida pela diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano. Ela celebrou o reencontro e agradeceu a confiança e o apoio inconteste de associados e não associados em prol da troca de conhecimento e informações qualificadas. “É uma emoção e felicidade estarmos aqui hoje, reunidos presencialmente. No ano passado, fizemos a nossa primeira edição remota que foi um desafio, mas também uma surpresa muito gratificante, pois tivemos ampla participação e engajamento. De qualquer forma, a tecnologia, por melhor que seja, não substitui a riqueza deste momento, do presencial, da conexão, da troca. É muito bom estarmos aqui. Agradeço a todos a confiança, o apoio, a possibilidade deste encontro”, discursou Milva.

Na ocasião, a diretora-executiva apresentou ao setor os membros que irão compor os Conselhos de Administração e Fiscal da Abramed pelos próximos três anos. A eleição dos nomes ocorreu no mês de agosto e foram empossados em jantar realizado na noite anterior ao 6º FILIS. Wilson Shcolnik foi reconduzido à presidência do Conselho de Administração e Cesar Higa Nomura assumiu a vice-presidência. Os demais membros nomeados são Ademar Paes Junior, Carlos Figueiredo, Claudia Cohn, Eliezer Silva e Lídia Abdala. O Conselho Fiscal da próxima gestão é formado por Caio Duarte, Guilherme Colares e Isadora Bittar.

Em seu discurso, Shcolnik reiterou a alegria do encontro presencial e lembrou que a pandemia de covid-19 não reprimiu os serviços de medicina diagnóstica, pelo contrário. O segmento foi alçado a um protagonismo poucas vezes observado, dada a importância que os exames de diagnóstico tiveram nesse período de emergência sanitária, contribuindo para confirmar infecções agudas, proporcionar informações sobre a gravidade da doença, na identificação de variantes do vírus e na avaliação de resposta vacinal.

“Capacitamos nossas equipes, adaptamos nossa infraestrutura, nossos processos e inovamos com drive thru; aumentamos os atendimentos domiciliares e não abandonamos os pacientes que precisavam tratar também de outras doenças. As empresas associadas à Abramed foram solidárias e muitas delas contribuíram com atendimento na área pública, o nosso famoso Sistema Único de Saúde (SUS). E a entidade não parou. Graças aos nossos colaboradores, continuamos realizando inúmeras atividades”, frisou o presidente do Conselho de Administração.

Shcolnik destacou o apoio oferecido aos associados na interlocução com diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que muito contribuíram para a liberação de reagentes e de kits que proporcionaram a realização dos exames de covid-19; assim como ressaltou os diálogos com diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que possibilitaram a incorporação dos exames de covid-19 no rol de cobertura obrigatória; além disso, outros biomarcadores para monitoramento de gravidade da doença em doentes hospitalizados foram igualmente incorporados. O presidente ainda mencionou a cooperação da entidade para possibilitar a transmissão de resultados de exames para a rede nacional de dados em saúde, possibilitando, dessa maneira, ao Ministério da Saúde monitorar epidemiologicamente o que se passava durante a pandemia.

“Tivemos um apoio permanente de entidades do nosso setor, sociedades médicas e da indústria, que nos apoiou em muitas iniciativas; mantivemos as reuniões periódicas dos nossos comitês e, como somos uma entidade empresarial, foi durante a pandemia que criamos mais um comitê em linha com a modernidade, o Comitê de ESG, que já está com projetos muito interessantes”, disse Shcolnik sobre a atuação da Abramed nos últimos anos.

“A medicina diagnóstica cada vez mais se complementa, contribuindo para a promoção da saúde, a prevenção e o gerenciamento de doenças. Já temos recursos para, hoje, indicar tratamentos personalizados. O segmento segue em frente, consciente da sua importância para os sistemas de saúde brasileiros”, concluiu o presidente do Conselho de Administração da Abramed na cerimônia de abertura.

“Canal de Denúncias e Compliance na Saúde” é tema de discussão em #DiálogosDigitais Abramed 2022

Evento digital contou com a participação de especialistas da área que abordaram o assédio nas instituições de saúde; a importância do canal de denúncias; novas tecnologias na área; entre outros.

No último dia 26 de julho, a série #DiálogosDigitais discutiu o tema “Canal de Denúncias e Compliance na Saúde”, com participação da sócia-fundadora da Flesch Advogados, Esther Flesch; o diretor executivo da Aliant – Plataforma de Riscos, Ética e Compliance do Grupo ICTS, Maurício Fiss; e a diretora de Riscos, Auditoria e Compliance no Hospital Albert Einstein, Viviane Miranda. A moderação foi da superintendente Jurídico e de Compliance na Dasa e diretora do Comitê de Governança, Ética e Compliance da Abramed, Walquiria Favero.

Segundo relatório da Aliant, a retomada do mercado de trabalho para o modelo presencial após a diminuição das restrições da pandemia acarretou um aumento de 18% no registro de denúncias de assédio em 2021 em relação a 2020. Para Maurício, apesar do crescimento, o número mostra uma maior conscientização, ou seja, comportamentos considerados “normais” não são mais vistos dessa forma e são denunciados.

O canal de denúncias é uma ferramenta importante para lidar com a questão, desde que realmente funcione e ofereça segurança ao denunciante. “Saber que serão levadas a sério, que não sofrerão retaliação e que receberão algum feedback faz as pessoas não terem medo de denunciar. Essa é a dica inicial para as empresas implementarem um canal de denúncia efetivo”, acrescentou Esther.

As companhias precisam ter processos bem estabelecidos para que as investigações sigam sem negligências. No caso de envolvimento com a alta direção e em assuntos sensíveis à organização, é importante recorrer a terceiros, para não haver constrangimentos e garantir a credibilidade no processo.

Viviane Miranda acrescenta que, no caso de assédio, seja moral, sexual ou discriminatório, o ideal é ter uma comissão de apuração permanente que se reúna com periodicidade para tratar de casos que envolvam qualquer colaborador. “No Einstein, conversamos com o denunciado e o denunciante e fazemos entrevistas com pessoas da área envolvida, para identificar as evidências. Após a apuração, é decidido qual medida educativa ou disciplinar é adequada, que pode ser demissão por justa causa, necessidade de coaching, alinhamento ou mudança de área. Planos de ações não faltam para mitigar as questões de assédio na instituição”, contou.

Todos que atuam na instituição são agentes de compliance e devem evitar que o assédio aconteça. “É preciso treinar, educar e agir. Temos visto muitas evoluções significativas. O mercado está amadurecendo”, acrescentou Viviane.

Walquiria aproveitou para deixar a mensagem para que as instituições reforcem as campanhas de conscientização e a cultura da organização, a fim de que todos cooperem com o sistema de retaliação a esse tipo de comportamento. “O comitê precisa dar respostas rápidas, sérias e idôneas ao denunciante e proteger a integridade da empresa, especialmente na relação médico e paciente”, ressaltou.

Sobre as mudanças referentes ao Decreto 11.129/2022, que entrou em vigor em 18 de julho de 2022, regulamentando a Lei Anticorrupção Brasileira (12.846, de 1º de agosto de 2013), Esther comenta que o decreto tornou necessário ter um mecanismo de tratamento de denúncias. “Não basta apenas implantar um canal de denúncias, elas precisam ser levadas a fundo. Algumas podem ser inconsistentes, mas todas devem ser investigadas para realmente confirmar se são reais”, explica a sócia-fundadora da Flesch Advogados.

Ela ainda destaca que, quando a empresa tem uma boa cultura, isso é transmitido aos colaboradores. No caso de contratação de terceiros, a recomendação é que seja feita uma due diligence (diligência prévia) para conhecer esse colaborador e saber se seus valores estão alinhados aos da empresa. 

Outro ponto fundamental citado por Esther é a documentação dos passos de compliance tomados pela companhia, a fim de comprovar o que se alega. “Há muita maquiagem sobre as ações executadas e isso é preocupante, pois geralmente envolve ganhos financeiros e vantagens. É mais importante documentar o que tem sido feito do que alardear o que não foi executado ainda”, finalizou.

Para os laboratórios pequenos que querem implantar ações de compliance, a diretora de Riscos, Auditoria e Compliance no Hospital Albert Einstein sugere começar com um mapeamento de riscos, analisando os pontos que podem comprometer os objetivos estratégicos da empresa. “Classifique os riscos em altos, médios e baixos e, a partir desse diagnóstico, escreva um manual de ética com os principais temas que vão direcionar o comportamento ético dos colaboradores. Importante, aqui, já ter um canal de denúncia. Conforme a evolução do programa, a área de compliance vai crescendo também”, disse, lembrando que a área precisa ter autonomia e apoio da alta administração.

Tecnologia

Sobre as tecnologias que apoiam a área de compliance, Maurício citou duas categorias. As tecnologias reativas, que são aquelas que permitem recuperar conversas apagadas por redes sociais ou apps, as que monitoram palavras-chaves em mensagens trocadas, além das câmeras de vigilância. E as tecnologias preventivas, que permitem detectar algo, como assédio, antes mesmo de acontecer, por meio de machine learning. As denúncias são classificadas em tipologias e identificadas automaticamente pelo sistema. “Também é possível identificar e traçar o perfil de um colaborador, por exemplo, monitorando suas interações nas redes sociais, possibilitando trabalhar a conscientização diretamente com ele”, destacou. 

O episódio “Canal de Denúncias e Compliance na Saúde” pode ser visto na íntegra no canal do YouTube da Abramed, clicando neste link.

Sobre #DiálogosDigitais Abramed

Lançada pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) em 2020, período em que os eventos presenciais foram cancelados por conta da pandemia de Covid-19, a série #DiálogosDigitais Abramed trouxe uma sequência de bate-papos online com o propósito de manter o diálogo entre os diversos atores da cadeia de saúde, contribuindo para o desenvolvimento do setor no Brasil.

Abramed participa de lançamento do Programa Einstein de Inovação em Biotecnologia

Iniciativa possibilitará a criação de ações com indústrias farmacêuticas, de dispositivos médicos e diagnósticos


No dia 4 de julho, o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, participou do Petit Comité para o lançamento oficial do Programa Einstein de Inovação em Biotecnologia, no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Estiveram presentes os executivos do Einstein: Sidney Klajner, presidente; Nelson Wolosker e Claudio Mifano, vice-presidentes; e Henrique Neves, CEO, que compartilharam a jornada da organização na escolha da biotecnologia em saúde como um guia de visão estratégica para os próximos anos.

O novo programa nasceu para apoiar iniciativas e possibilitar maior acesso à infraestrutura, aos insumos e a equipes profissionais com as quais se consiga produzir inovações em biotecnologia que sejam de fato transformadoras e tenham a possibilidades de chegar ao mercado mundial.

“O lançamento do Programa de Biotecnologia do Einstein representa importante iniciativa de estímulo à inovação em nosso país. Certamente trará bons frutos para a comunidade científica e para a população brasileira”, avalia Shcolnik.

Como parte dessa ação, o Einstein também anunciou uma nova unidade, a Eretz.bio biotech, para apoio a startups e empreendedores do setor de biotecnologia com foco em saúde. O novo braço contribuirá para o desenvolvimento de novas soluções diagnósticas, medicamentos e vacinas, além do fomento a pesquisas translacionais.

A sede da incubadora fica no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman, e estará em operação a partir deste mês de julho. A Eretz.bio biotech foca nas frentes de pesquisa translacional, empreendedorismo, incubação e aceleração em redes internacionais de colaboração. Todas elas poderão gerar iniciativas em conjunto com startups e empreendedores e cocriar produtos, além de promover transferência de conhecimento e tecnologia entre países. O programa possibilitará também a criação de ações com indústrias farmacêuticas, de dispositivos médicos e diagnósticos para desenvolvimento de novos produtos.

Os participantes do programa se beneficiarão da estrutura do novo Centro de Ensino e Pesquisa, com acesso aos laboratórios de alta tecnologia, como suporte para pesquisas e procedimentos. No local, há uma plataforma de “Salas Limpas”, que contribuirá para estudos pré-clínicos e clínicos. Além do novo Centro, o Programa contará com as estruturas dos Centros de Estudos pré-clínicos e da Academic Research Organization (ARO) do Einstein.

A rede de iniciativas internacionais para intercâmbio tecnológico é formada por países como Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Espanha, Israel e Singapura. Ainda este ano, os acordos de cooperação poderão ser ampliados para outros locais da América Latina, China, Japão e Coreia do Sul.

“Laboratório do Futuro” foi tema do painel promovido pela Abramed, no 47º CBAC, em Fortaleza

Com experiências dos Grupos Dasa, Fleury e Sabin, foram mostradas novas dinâmicas que o conceito traz para a área de Análises Clínicas

As questões que permeiam o “Laboratório do Futuro”, com abordagens que trouxeram um olhar estratégico para portfólios e parcerias, laboratórios clínicos e ecossistema de saúde, bem como transformação digital, foram destaques na temática do painel promovido pela Abramed, durante o 47º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), no dia 21 de junho, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza – CE.

Moderado por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade, o painel contou com a participação de Aline Amorim Martinez Ribeiro, Diretora no Grupo Fleury; Lídia Abdalla, CEO do Sabin Medicina Diagnóstica; e Linaldo Vilar Jr. – Diretor de Produção na Dasa.

A importância de debater esse tema na programação do congresso foi ressaltada por Luiz Fernando Barcelos, ex-presidente da SBAC. “Tratar sobre o Laboratório do Futuro faz-se necessário pela sua relevância no cenário atual do mercado de saúde, em constante evolução e, cada vez mais, voltado para as novas tecnologias”, destacou ele na abertura do painel.

Na sequência, Shcolnik fez seus agradecimentos e enalteceu a oportunidade de a Abramed, a convite da SBAC, participar pela primeira vez de um congresso de análises clínicas e poder, dessa forma, apresentar as atividades institucionais da associação, que foi criada há 11 anos com o objetivo de unir prestadores de serviços que atuam na área de Medicina Diagnóstica e são lideranças nesta área.

O presidente destacou que, devido a essa composição da Abramed, que conta com a participação significativa de empresas do setor, foi possível reunir, neste painel, participantes dos Grupos Dasa, Fleury e Sabin, associados da Abramed e protagonistas nesse tema, para mostrarem suas visões sobre o que está acontecendo em escala nacional. “Esses trabalhos respondem ao patamar que a Abramed atingiu por ser responsável por quase 60% dos exames que são realizados em saúde suplementar. Nesse nicho de mercado, alguns associados atuam também realizando exames na área pública, no Sistema Único de Saúde (SUS), através de convênios com prefeituras”, disse Shcolnik, compartilhando um panorama sobre as atividades da Abramed e seu quadro de associados.

Em termos de planejamento estratégico para 2022, informou ainda que a Abramed já tem aprovação para trazer à entidade laboratórios de pequeno e médio portes, ampliando as fronteiras na área da medicina diagnóstica.  Segundo ele, os objetivos da associação são modernos e, acima de tudo, visam debater temas de interesse do setor, promovendo um diálogo aberto, mas com uma característica que está vinculada aos tempos atuais em torno, principalmente, da ética.

“A Abramed tem um código de conduta e exige que seus associados o respeitem incondicionalmente. Sabemos que temos diversos desafios e estamos preparados para responder e atuar dia a dia a fim de superá-los com ética e transparência, especialmente no que tange aos exames de laboratório”, declarou.

Ele ainda fez considerações em torno de detalhes que estão sendo envolvidos na Reforma Tributária, que vai atingir prestadores de serviços de todos os portes e os diálogos que a entidade vem conduzindo para evitar possíveis penalidades ao setor, além de outros temas que interessam aos trabalhos da entidade e de seus associados nacionalmente, bem como os influenciam.

Em sua apresentação, o presidente falou especialmente sobre a forte atuação da Abramed na regulação do setor de Radiologia e destacou o trabalho em torno da Revisão da RDC 302, discutida pela associação com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em parceria com entidades como a SBAC, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e os Conselhos Federais de Farmácia, de Biomedicina e de Medicina. Ele finalizou explanando sobre as ações em torno da Agência Reguladora dos Planos de Saúde.

Destacou também que a Abramed atua de braços dados com as sociedades científicas. “Consideramos os trabalhos dessas organizações essenciais para a sobrevivência também do nosso setor e sua valorização. Portanto, além de parceria com a SBAC, atuamos com diversas outras entidades ligadas ao assunto”, diz.

Para Shcolnik, essas iniciativas dão o tom empreendedor da Abramed em seu pouco tempo de história, alimentando a disposição e o empenho da entidade para conduzir os trabalhos que ainda virão. Com isso, deu início às apresentações do painel convidando Linaldo Vilar Jr, que abordou o tema “Laboratório Clínico e Ecossistema de Saúde” e apresentou o modelo de saúde inteligente que busca integrar todo o setor de saúde para tratar de forma personalizada, contínua e preventiva ao longo da vida dos clientes.

“Olhar para a saúde e não para a doença é o objetivo do Dasa através da conexão com todos os entes que impactam o ecossistema da saúde e priorizando a inovação em nosso trabalho”, disse Vilar Jr.

O executivo destacou que a jornada da empresa não é fácil, é um processo longo, mas muito focado na prevenção, na promoção e na predição da saúde, embasado por um banco de dados robusto que permite toda a integração. “Ter esse ecossistema integrado não consiste só na infraestrutura ligada aos laboratórios e hospitais, mas em como conectá-los através de dados e como isso impacta também a jornada dos nossos pacientes e de todos os atores envolvidos, desde médicos até operadoras e parceiros em todo o Brasil”, informou.

Compartilhar esse trabalho com foco na inovação e em consonância com as premissas do conceito de Laboratório do Futuro é o grande diferencial do propósito da Dasa nesse setor, frisou o executivo ao apontar que a empresa busca conciliar a saúde que as pessoas desejam com a que o mundo precisa. “É uma realização diária que exige compromisso, eficiência, excelência e melhor experiência para o nosso paciente para alcançarmos a materialização do nosso trabalho”, descreveu. Vilar Jr. que fez, ainda, um breve relato sobre os três modelos de gestão adotados pela Dasa e os benefícios que propiciam para a empresa e seus clientes.

O painel contou também com o tema “Laboratório do futuro: um olhar estratégico para portfólio e parcerias”, ministrado por Aline Amorim Martinez Ribeiro. Ela apresentou a gestão estratégica conduzida pela empresa e seu portfólio de ações e parcerias que permitem a expansão da capilaridade no setor de investimentos em novos elos da cadeia da saúde, como ortopedia, oftalmologia, infusões de imunobiológicos e fertilidade.

A diretora do Grupo Fleury explorou a atuação da empresa na área de Lab to Lab. “Olhando para esse mercado no setor de medicina diagnóstica em 2021, conforme dados da Abramed, tivemos cerca de R$ 5 bilhões em exames diagnósticos feitos no sistema Lab to Lab e entendemos que é uma grande oportunidade de complementação de portfólio para os mais de 15 mil laboratórios espalhados em todo o território nacional”, informou.

Ela fez observações sobre as implicações no papel do paciente também no que concerne a esse trabalho e falou sobre a gestão do Grupo Fleury nas questões que envolvem as atividades de alta complexidade. “Conforme as nossas práticas internas, a gestão da complexidade exige o entendimento com o suporte transversal e da nossa equipe médica, que acompanha todo esse processo e suas diversas etapas, demandas e atores envolvidos”, observou.

“Transformação Digital no Laboratório Clínico” foi a pauta da palestra feita porLídia Abdalla, que destacou a representatividade da SBAC no país face à sua atuação em prol dos laboratórios clínicos no Brasil.

A CEO do Sabin abordou a importância da tecnologia, da inovação e da transformação digital ao longo da pandemia, em especial para o setor da saúde passar por ela e se reinventar. “Sem a tecnologia, certamente esses dois últimos anos teriam sido muito mais duros”, expressou.

A executiva contou sobre a estratégia de inovação adotada pelo Sabin nos últimos anos, com foco no propósito principal da companhia: inspirar e cuidar da saúde das pessoas, oferecendo prestação de serviços de saúde com excelência, entre outros valores adotados pela empresa desde 1999, quando implementaram o primeiro selo de qualidade do Sabin, em conformidade com a norma ISO 9001.  “Esses valores são revisados anualmente para atender à nossa estratégia de gestão e todo o desenvolvimento tecnológico que vem sendo construído ao longo dos anos. Assim, a inovação é parte do nosso DNA”, destacou, completando sobre as linhas de trabalho do Sabin em torno do tema e alguns resultados alcançados com a transformação digital onde a marca atua.

O painel foi finalizado com um debate entre os especialistas, que puderam discorrer sobre especificidades em torno da implementação do “Laboratório do Futuro” e demais informações importantes para o desenvolvimento das análises clínicas com base nesse conceito inovador.

Mais informações sobre a programação do 47º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas da SBAC podem ser acessadas no link: www.sbac.org.br/cbac/.

Abramed contribui para discussão sobre legado da pandemia no Fórum Brasil Imune

Milva Pagano salientou a importância da atuação dos associados à entidade, que oferecem a vacina de maneira complementar

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participou do Fórum Brasil Imune, evento online promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) nos dias 08 e 09 de junho.

A diretora-executiva da entidade, Milva Pagano, integrou o painel que discutiu os legados deixados pelo programa de imunização da covid-19, no dia 08. Compondo a mesa de debate também participaram Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge); Lely Guzmán, especialista internacional em imunização da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil; Ana Karolina Marinho, médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP); e Ana Goretti Kalume Maranhão, pediatra do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A presidente do LAL, Marlene Oliveira, participou juntamente com a jornalista Andressa Simonini, moderadora do debate.

A pandemia tornou o assunto vacinação comum entre familiares e amigos, então é preciso aproveitar esse interesse para aumentar a conscientização, já que o país passa por uma fase de baixa na cobertura vacinal.

“Acredito que, se algumas doenças estão voltando por falta de aderência ao programa de vacinação, todos temos nossa cota de responsabilidade. Por isso, é vital levarmos informações para a população em todas as frentes, tanto nas escolas quanto nas empresas. As palavras de ordem são educação e conscientização”, comentou Milva.

Sobre medicina diagnóstica, destacou a importância da atuação dos associados à Abramed, que oferecem a vacina de maneira complementar ao SUS. Citou, ainda, como o setor tem sido impactado por toda a transformação digital.

Destaques

A importância da integração entre o setor público e suplementar foi um dos temas apresentados. Para Cassarotti, da Abramge, as operadoras de saúde estão abertas e se sentirão honradas com essa parceria, porque sabem dos efeitos positivos para a saúde da população e para todo o sistema. “Poderemos participar de forma mais assertiva em prol do programa de imunização, porque é um benefício para todos”, disse.

Ana Goretti, do PNI, ressaltou a necessidade de investimento em três grandes campanhas: covid-19, influenza e sarampo. “Temos de aproveitar a experiência com a pandemia para trabalhar intensamente e recuperar o tempo perdido, a fim de que as vacinas cheguem principalmente a crianças e adolescentes.”

Sobre a questão da baixa cobertura de vacinação, Kfouri, da SBP, apontou que os motivos são diversos, de acordo com cada região. Por isso, são necessários estudos que avaliem essas razões, que podem ser falta de vacina, acesso, qualidade na informação, capacitação vacinal e, principalmente, falta de confiança da população.

“Não estamos sabendo passar informações de forma adequada, e a crítica é para todos. Se não tivermos a confiança das pessoas, será difícil a adesão. O caminho é duro, é difícil, mas precisa ser construído com informação de qualidade, usando as ferramentas digitais que os novos pais hoje utilizam, para que, de forma empática, possamos motivá-los a se vacinarem e vacinarem seus filhos”, comentou.

Lely, da OPAS e da OMS, lembrou que o PNI está prestes a comemorar 50 anos e que é necessário recuperar os bons resultados. “Temos de melhorar os números em toda a região pan-americana. Precisamos fortalecer políticas de vacinação para recuperação e construção de conhecimento e práticas especificamente voltadas aos trabalhadores de saúde, que garantem as boas práticas no processo.”

Além do desenvolvimento tecnológico, a pandemia trouxe como legado positivo a reflexão sobre pontos a fortalecer, como infraestrutura em saúde, ciência, cooperação e transdisciplinaridade, acrescentou Ana Karolina, da HC/FMUSP. “Nisso, o papel da comunicação é muito prioritário”, destacou.

No fim do debate, foi transmitido um vídeo produzido pelo LAL, que apresenta entrevistas com algumas pessoas sobre o que sabem a respeito de imunização e suas percepções.

A transmissão completa do evento no dia 8 de junho pode ser vista neste link.

Empresas devem ser protagonistas na promoção do cuidado integral dos seus colaboradores

Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, moderou o debate sobre promoção da saúde e Gestão de Pessoas no evento digital #ComMeet, na FISWeek

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) promoveu, no dia 3 de maio, durante o #ComMeets, um dos eventos digitais da FISWeek — encontro virtual que reúne lideranças, empresas e entidades para compartilhar conteúdos e experiências para transformar o ecossistema da saúde —, o painel Promoção da Saúde na Gestão de Pessoas.

Com a participação de Lucilene Costa, gerente de Saúde e Segurança Corporativa no Grupo Fleury e diretora do Comitê de RH da Abramed; Cesar Izique, gerente-executivo da Dasa e também membro do Comitê de RH da Abramed, e moderação da diretora-executiva da entidade, Milva Pagano, o debate destacou que as empresas vêm passando por um processo de transformação nos últimos anos no que se refere à gestão e promoção da saúde de seus colaboradores e beneficiários, acelerado ainda mais nos últimos dois anos pela pandemia de Covid-19.

Os especialistas ressaltaram que, por isso, cada vez mais é importante que as organizações sejam protagonistas do cuidado integral desses profissionais, inclusive de seus familiares, pensando no ecossistema da saúde como um bem maior.

“É importante que a empresa cuide dos seus colaboradores indo além da oferta de planos de saúde, completando esse ciclo com a gestão e a promoção da saúde, inclusive para haver o autocuidado”, afirmou Lucilene.

Para tanto, é fundamental um processo de mudança das instituições em que o ponto de partida deixe de ser a doença para dar lugar à saúde. Segundo Milva, trata-se de uma nova perspectiva em que as organizações passam a acompanhar de perto o histórico clínico dos seus colaboradores e fazer a coordenação do cuidado para que esses profissionais tenham mais qualidade de vida, ao mesmo tempo, em que sejam evitados desperdícios de recursos financeiros.

A resposta para esse desafio passa pela formação de ecossistemas. Na prática, é o desenvolvimento de soluções integradas que viabilizam enxergar todos os aspectos relacionados à saúde de cada indivíduo para fazer a efetiva coordenação de cuidados.

“É uma nova forma de observar a saúde, de maneira mais ampla, com atenção aos cuidados preventivos e preditivos, trabalhando com dados para evitar desperdícios, visto que o custo  hoje relacionado às doenças é altíssimo”, ponderou Izique, que salientou ser importante que se avalie também porque as pessoas estão precisando cuidar da saúde física e mental e como está a cultura de saúde dentro dessas organizações.

Na visão de Milva, a ideia da linha de cuidado no ecossistema, com a atuação primária, secundária e terciária efetivamente mostra essa transformação da saúde ocupacional e da medicina do trabalho, saindo da esfera meramente burocrática, muitas vezes de somente cumprir legislação, fazer exames admissionais e demissionais, para muito além.

“As empresas com a área da saúde ocupacional envolvida estão implantando os programas mais bem-sucedidos em gestão da saúde ou até mesmo liderando essas ações. Isso representa um forte indicador de sucesso nos programas de gestão de saúde corporativa”, afirmou a executiva.

O empoderamento das pessoas, enquanto pacientes, também foi destacado pela  diretora da Abramed.

“Hoje ele dialoga com o médico, discute os diagnósticos, ou seja, atua sob uma nova postura. Para nós, esse empoderamento representa vantagens e diversas oportunidades, pois estamos falando de pessoas e a pandemia revisitou a importância das pessoas, suas forças e fraquezas. Essa transformação pela qual o setor passa e que na saúde ocupacional também foi intensificada, trouxe mudanças positivas e vejo isso com bons olhos, como a telemedicina e a telessaúde, que com a eficácia dos atendimentos a distância, conseguiram promover a jornada do ciclo do cuidado com muito mais efetividade”, pontuou.

Saúde mental

Se hoje a saúde ocupacional tem uma atuação muito mais protagonista e relevante na gestão de saúde corporativa, liderando ou co-liderando a jornada do cuidado, também é necessário, segundo Milva, que as organizações estejam atentas às questões da saúde mental dos profissionais, pois antes mesmo do novo coronavírus já se vivia uma epidemia, com muitos afastamentos do trabalho em decorrência desse tipo de doença.

Saber como as pessoas estão sendo cuidadas nas corporações, com atenção ao tipo de ambiente, clima e cultura organizacionais ofertados, para identificar o que está adoecendo as pessoas, ou mantendo a saúde delas é papel da Gestão de Pessoas.

Para Lucilene, é muito importante a diretoria entender que os departamentos da empresa não são ilhas, que todas as informações recebidas a partir da operadora de plano de saúde, das gerências de RH, incluindo dados sobre turnover (taxa de rotatividade de funcionários), absenteísmo, presenteísmo e afastamento de trabalho, são necessárias para se entender como área de apoio.

“No Fleury, assim como em outras organizações, temos setores e negócios com as suas peculiaridades e entender que as necessidades de quem atua no laboratório, no administrativo, no home office, e no hospital diferem é fundamental. Essa delicadeza e pesquisa são importantes, assim como avaliar os dados com continuidade, pois darão insumos para analisar as necessidades de cada população. É entender no perfil epidemiológico qual é a sua população e criar programas específicos para ela, conforme o que precisa, inclusive com o olhar para a saúde mental”, explicou Lucilene.

É um trabalho dinâmico, segundo Izique, para entender se a linha do cuidado da sua população de colaboradores está no caminho certo. Ele ressaltou ser muito importante a integração entre a medicina assistencial, ocupacional e a segurança do trabalho, estruturas que não podem atuar em áreas e conceitos diferentes.

“A atuação do médico do Trabalho é relevante para direcionar as atuações nas companhias. Eles são os captadores das informações nos exames periódicos  para direcionar os cuidados que os colaboradores precisam”, justificou o gerente-executivo da Dasa.

Já para a segurança psicológica inclusive de líderes e gestores, ele informou ser preciso realizar treinamento e prepará-los para identificar quem está doente e necessita de acolhimento, por questionários, e contribuir para haver uma relação de confiança, algo tão importante em qualquer relação.

“Quando se  traz isso diminui-se turnover, absenteísmo, presenteísmo e de fato se consegue enxergar o cuidado que a empresa tem com o colaborador e com sua família”, finalizou Izique. 

Painel Abramed na JPR 2022 discute tendências do mercado de Saúde na visão de CEOs que atuam no setor

Entidade também participou com estande institucional que recebeu associados e parceiros durante os quatro dias de evento

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) esteve na 52ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR), evento organizado pela Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), que ocorreu entre os dias 28 de abril a 01 de maio, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

Em Painel promovido pela entidade e que compôs a programação oficial do evento, executivos discutiram as principais tendências do setor de medicina diagnóstica. O objetivo foi evidenciar os movimentos mais atuais, em curso em hospitais e em grupos de medicina diagnóstica e trazer subsídios para um maior entendimento do caminho para o qual o futuro aponta, especialmente na radiologia. 

Conduzida por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, o bate-papo contou com a participação de Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury; Fernando Ganen, Diretor Geral do Hospital Sírio Libanês; e Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin. Fragmentação do setor, digitalização, interoperabilidade, qualidade e a importância da educação continuada e da formação de profissionais foram tópicos abordados e apontados como desafios importantes pelos executivos.

“A JPR é um evento com foco em temas científicos e cumpre essa missão com muito brilhantismo. Mas, complementar a programação com discussões de cunho mercadológico, como a que estamos promovendo, é bastante importante para que os radiologistas conheçam o seu ambiente de trabalho”, iniciou Shcolnik, ao agradecer o espaço e também enfatizar a necessidade de que cada vez mais pautas como essas façam parte da grade de eventos para especialistas.

O setor de saúde, sem dúvidas, é um dos mais visados do ponto de vista de investimentos e de crescimento. Trata-se do 8º maior mercado de saúde globalmente, 6º mercado farmacêutico mundial e o 3º maior privado de saúde do mundo. São mais de 6,2 mil hospitais, 20 mil Centros de Diagnóstico e 300 mil entidades de saúde.

Entre os maiores desafios, segundo Ganen, que abriu o painel trazendo números sobre o setor, estão os movimentos cada vez mais intensificados de verticalização e consolidação e também um nível muito baixo de integração e conectividade. Tudo isso potencializado pela alta da inflação no pós-pandemia e pelo processo eleitoral para a Presidência da República e outros importantes cargos públicos. 

Fragmentação

A alta fragmentação do ecossistema, com múltiplas regiões, perfis diferentes de pagadores e provedores, foi também outro aspecto salientado por Ganen. Para ele, nesse cenário, é ainda mais importante para que o cuidado centrado no paciente seja o ponto inicial para qualquer discussão em saúde e que todos os stakeholders trabalhem em alinhamento. Sem isso, o sistema torna-se insustentável. “É preciso colocar a fonte pagadora, os contratantes da fonte pagadora e os prestadores de serviços para pensarem em soluções conjuntas e, desta forma, entregarem um melhor cuidado ao paciente”, enfatizou.

Segundo Jeane Tsutsui, esta fragmentação e a formação de diversos ecossistemas acaba atingindo todo setor de uma forma geral no Brasil. Mesmo quando se olha para o diagnóstico, os quatro maiores players do setor, correspondem a 30% do market share. A executiva lembrou durante a sua explanação que a própria jornada de cuidado do paciente é fragmentada e que, durante sua trajetória, não é incomum que o paciente se sinta perdido e seja deslocado de um local para outro, sem nenhuma conexão. Mas, destacou a importância da medicina diagnóstica tanto para integrar, como para respaldar todas essas etapas do cuidado.

“O diagnóstico está presente em todas as etapas do cuidado, seja na atenção primária ou no suporte para questões mais simples, até a alta complexidade. Ela acaba sendo a espinha dorsal. Por isso, ela traz uma vantagem: o paciente pode ser conduzido no cuidado na saúde, englobando o diagnóstico de uma maneira integrada e indo além, conseguindo completar a jornada de cuidado mesmo em um ambiente outpatient e com parcerias com hospitais de maior complexidade”.

A CEO do Grupo Sabin, Lidia Abdalla, também reforçou a ideia de o Brasil ser um país heterogêneo e com muitas diferenças de uma estrutura para outra. É evidente, na opinião da executiva, que olhar para a sustentabilidade do setor da saúde e também dos negócios para seguir sendo competitivo no mercado, seja algo complexo no atual cenário. Mas, atentou também para o fato que, embora essa estrutura traga os desafios da fragmentação, ela cria, em simultâneo, oportunidades para o setor e possibilidades de solucionar problemas que ocorrem já há algum tempo.

“Temos que estruturar novos serviços e inseri-los no fluxo para termos de fato uma presença maior na jornada do paciente, pensando em como podemos nos diferenciar e entregar mais valor ao cliente. A medicina diagnóstica tem uma característica muito importante, como já foi dito, e não podemos deixar de lado esse foco central: tudo começa por ela e tudo continuará passando independente do modelo verticalizado ou de consolidações.”, enfatizou Lídia. 

Ainda sobre a crucialidade do setor de medicina diagnóstica, o presidente do Conselho de Administração da Abramed, reforçou o seu papel na prevenção, que, no que lhe concerne, é ainda uma forte aliada para a redução dos custos totais na saúde. “Um diagnóstico errado, compromete todos os passos que se sucedem no cuidado à saúde. A medicina diagnóstica pode contribuir muito para trazer eficiência ao sistema de saúde. E, o nosso desafio é comprovar isso”, complementa Shcolnik.

Interoperabilidade

Emendando o tema aumento de eficiência, os CEOs foram indagados a respeito da importância da digitalização e da interoperabilidade nesse sentido. A inovação e o uso da tecnologia foram apontados como inegociáveis para o setor de radiologia, em especial com a chegada do 5G, inteligência artificial, entre outros avanços. Os radiologistas são afeitos a tecnologias e em alguns casos pioneiros em sua utilização. Muitos aspectos relacionados à digitalização e à interoperabilidade na saúde começam na medicina diagnóstica, área onde também muitos dados médicos são gerados. Inclusive, elas já são uma realidade e devem ser pensadas para agregar valor aos negócios e aos pacientes, sempre considerando os aspectos relacionados à segurança.

Porém, Lídia Abdalla, chamou a atenção para um ponto, enfatizando que existe uma certa ambiguidade nesse tema: de um lado a necessidade e do outro, a manutenção da privacidade. Ter dados e informações integradas de todos os exames, sejam eles de análises clínicas ou de imagem, é uma tendência. Como solução, a LGPD emerge como algo bastante positivo que norteia como trabalhar essa questão do compartilhamento de dados e destacou ainda que “muitas pessoas falam que a interoperabilidade é complicada e ela é. Mas, ela acontecerá de qualquer forma”, ressalta a executiva.

Fora a adequação, Jeane, apontou que a tecnologia tem que ser usada a favor da medicina e da prática médica para aumentar a produtividade. Segundo a presidente do Grupo Fleury, isso é crucial em um país de muita carência em saúde e de sobrecarga de trabalho.  “Existe diferença entre teoria e prática e uma lacuna grande entre o que é possível e o que é necessário. É importante pensar em como fazer isso, na prática. Olhando o futuro, o equilíbrio está em nossas mãos, e precisamos incorporar a tecnologia, porque o mundo será cada vez mais digital. Se somos organizações focadas no cliente, temos por obrigação aderir ao digital, pois isso já faz parte da vida dele e a área da saúde também pede isso”.

Porém, Ganen ressaltou que a despeito da tecnologia ser crucial, a humanização segue sendo um fator de extrema importância. “Diante de um achado crítico, por exemplo, é importante que o radiologista pegue esse exame e vá até à sala ao lado discutir esse caso com o seu colega. Isso muda a vida do paciente. Falo isso como clínico e não como gestor”.

A mudança nos modelos de remuneração e a continuidade ou não do modelo fee service também foram abordados durante a discussão. E, os painelistas chegaram à conclusão de que a complexidade da saúde não permite que se tenha um único modelo. O setor está tentando buscar alternativas sustentáveis, mas o fator crítico de sucesso desse negócio é ter pessoas preparadas, capacitadas e sendo desenvolvidas continuamente. Por isso, qualidade e educação continuada também foram aspectos abordados pelos CEOs durante diversos momentos do painel.

“O paciente é dono de seus dados e também de escolhas. Por isso temos que trabalhar para ter melhor serviço, pelo atendimento humanizado e sim olhando para a sustentabilidade financeira dos nossos negócios”, finaliza Lídia a respeito da questão.