Associados à Abramed realizaram mais de 720 milhões de exames em 2022

Terceiro capítulo da quinta edição do Painel Abramed explora dados sobre recursos humanos, produção assistencial e desempenho econômico

Em 2022, as associadas à Abramed realizaram mais de 720 milhões de exames de diagnóstico, um crescimento de 10% em relação a 2021. Esse aumento foi ainda mais significativo, considerando que o setor já havia se recuperado da queda de exames em 2020 devido à pandemia de Covid-19.

O segmento de análises clínicas lidera o volume de exames, com 677 milhões realizados em 2022, enquanto a área de diagnósticos por imagem atingiu 25 milhões. É importante destacar que os exames realizados pelas associadas à Abramed correspondem a mais de 65% do total feito na saúde suplementar no Brasil, mostrando sua representatividade e importância para o desenvolvimento do setor.

Todos os indicadores setoriais referentes a 2022 estão descritos no terceiro capítulo do recém-lançado Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico. Nele são explorados dados relacionados a recursos humanos, produção assistencial, avaliação dos serviços, desempenho econômico-financeiro e governança corporativa das associadas à Abramed. Estas informações são de extrema importância para uma visão abrangente do funcionamento desse setor em constante evolução.

Os gráficos mostram que as associadas atuam em diversos segmentos, incluindo análises clínicas, anatomia patológica e diagnóstico por imagem. Com a fusão de empresas e a integração de novas associadas, o perfil de atuação tem evoluído ao longo dos anos. Em 2022, a maioria (74%) estava focada em diagnóstico por imagem, análises clínicas e anatomia patológica. Menos de 30% atuaram em telerradiologia e telemedicina. 

Essas empresas têm se destacado por investir em tecnologia, tornando os serviços mais acessíveis e eficientes. Tecnologias como telessaúde, telepatologia e telerradiologia estão sendo amplamente adotadas. Além disso, muitas estão aderindo a modelos de atendimento móvel, levando a medicina diagnóstica diretamente aos pacientes.

Com mais de 290 mil colaboradores em 2022, o setor emprega uma força de trabalho multidisciplinar, incluindo profissionais médicos e técnicos. Há um foco crescente na formação técnica, com 42% dos colaboradores atuando nessa área. Além disso, a remuneração variável é o modelo predominante para médicos (46,7%).

De acordo com o painel, os pacientes demonstraram alto nível de satisfação com o serviço de diagnóstico recebido, com um Net Promoter Score (NPS) de 73,20 em 2022. As empresas também se esforçam para manter altos padrões de governança corporativa, com controles internos, transparência e conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

“A ênfase na governança corporativa é evidente nos dados, com todas as empresas associadas se comprometendo com elevados padrões de transparência e controle interno. Isso é essencial para garantir a qualidade dos serviços e a confiabilidade das informações em nosso setor”, salienta Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed.

Apesar dos desafios econômicos, a área de medicina diagnóstica mostrou resiliência, com uma receita operacional bruta de cerca de R$ 24 bilhões em 2022. Os investimentos se concentraram em aquisição de equipamentos de imagem, expansão de unidades de atendimento e tecnologias de informação. No entanto, o setor enfrenta desafios relacionados ao prazo médio de recebimento e às glosas indevidas.

“Com um prazo médio de 52 dias em 2022, a longa espera por pagamentos afeta significativamente os fluxos de caixa das empresas. Além disso, a glosa inicial correspondeu a 3,35% das receitas do setor. Isso pode prejudicar a capacidade de investimento, o pagamento de salários e a expansão de serviços de diagnóstico de alta qualidade. A colaboração com as operadoras de planos de saúde é essencial para otimizar esse aspecto”, comenta Paes Junior.

E isso se torna ainda mais uma necessidade, pois as empresas ligadas à Abramed obtêm sua principal fonte de receita dos planos e seguros de saúde privados. Em 2022, essa parcela correspondeu a 60,7% da receita total do setor. Os pagamentos derivados de acordos comerciais com laboratórios, na modalidade B2B, representaram aproximadamente 27,52% da receita, enquanto os pagamentos diretos feitos por pacientes particulares compuseram 9,52%. As fontes de financiamento públicas, por outro lado, contribuíram apenas com 0,66% da receita.Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e tenha acesso ao conteúdo completo, repleto de gráficos e análises aprofundadas. São cinco capítulos, abrangendo 274 páginas com informações para ajudar no desenvolvimento sustentável e integrado do setor de saúde brasileiro.

Sistemas de saúde globais: a análise de dez países e a importância da medicina diagnóstica

O quarto capítulo do 5º Painel Abramed mostra os principais sistemas de saúde no mundo, sua organização e influência.

O debate sobre os desafios enfrentados pelos sistemas de saúde ao redor do mundo é uma questão de interesse global. Cada país enfrenta seus próprios dilemas e adota abordagens únicas para superá-los. A Abramed reconhece a importância dessa discussão e incluiu um capítulo dedicado a esse tema na 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico.

Os sistemas de saúde são cruciais para a qualidade de vida. Uma estrutura bem organizada resulta em custos mais baixos, maior cobertura da população, melhor qualidade de atendimento e estímulo à inovação na área da saúde. Os principais atores são: beneficiários, prestadores e financiadores, e a tipologia mais utilizada é a RW1, que identifica 27 maneiras de organizar esses sistemas, considerando serviços, financiamento e regulamentação.

Apesar das muitas possibilidades teóricas, apenas cinco sistemas são viáveis na prática, conforme análise da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A regulação desempenha um papel vital na definição das regras e pode ser governamental, autorregulação ou privada. Em nenhum país da OCDE o mercado detém controle total na regulação, com o governo ou entidades não governamentais atuando em pelo menos uma das seis áreas-chave.

Os sistemas de saúde também variaram historicamente, indo desde o financiamento por famílias e caridade até sistemas organizados. Os três modelos principais de financiamento são público, privado e misto. Quanto à prestação de serviços, diferentes tipos: públicos, privados sem fins lucrativos e com fins lucrativos podem atender em sistemas variados.

Os modelos de atenção à saúde desempenham papel fundamental na produção de cuidados de saúde, influenciando como os serviços são entregues e acessados. A atenção coordenada à saúde prioriza prevenção e cuidados contínuos, reduzindo a fragmentação dos serviços e envolvendo protocolos e encaminhamentos. Essa abordagem é adotada em sistemas de saúde em vários países.

Sistemas de saúde pelo mundo

Os sistemas de saúde ao redor do mundo são diversos em sua organização e funcionamento. Este capítulo do Painel Abramed analisa dez países, entre eles, a Alemanha, que possui um sistema composto por seguro de saúde compulsório (SSC) e seguro de saúde privado (SSP). O SSC abrange a maioria da população, com contribuições divididas entre empregado e empregador. Os beneficiários têm liberdade de escolha de médicos e provedores de serviços. A regulação é supervisionada pelo Ministério da Saúde Federal, e o planejamento hospitalar é responsabilidade dos governos locais.

Na Argentina, o sistema de saúde inclui obras sociais, que cobrem cerca de 55% da população, além do sistema público, para aproximadamente 35%. As obras sociais são financiadas pelas contribuições de trabalhadores e empregadores, já o sistema público é administrado pelas províncias e utilizado por pessoas de menor renda. O seguro de saúde privado cobre 8% da população, e médicos trabalham em consultórios próprios.

Os Estados Unidos possuem um sistema de saúde complexo, com um grande setor privado e público. O Medicare e o Medicaid são programas públicos que atendem populações específicas. O setor privado desempenha um papel significativo, com a maioria dos americanos em planos privados. A regulamentação do governo nos EUA incide principalmente sobre medicamentos e produtos médicos.

Já o sistema de saúde francês é financiado por meio de impostos e um tributo específico. O governo central da França desempenha papel central na supervisão e organização do sistema. A prestação de serviços de saúde é mista, com médicos geralmente em consultórios privados. A remuneração dos médicos e hospitais é determinada pelo governo.

O Reino Unido possui o National Health Service (NHS), financiado por meio de impostos, fornecendo serviços de saúde gratuitos. O governo desempenha um papel central na regulação, no financiamento e na prestação de serviços.

Por sua vez, o Brasil possui dois subsistemas distintos de saúde: o SUS (Sistema Único de Saúde) e a Saúde Suplementar. O SUS é financiado por taxas e impostos e oferece cobertura universal, com prestação de serviços pública e privada. A Saúde Suplementar é financiada por recursos privados e regulamentada pelo Estado, mas a relação entre financiadores e prestadores é principalmente privada.

Confira no Painel outros detalhes desses países e também de Canadá, China, Dinamarca e Israel.

A medicina diagnóstica e os sistemas de saúde

Nos últimos anos, a relação entre medicina diagnóstica e sistemas de saúde se tornou crítica, especialmente no Brasil, devido a desafios complexos que afetam a eficiência e a qualidade do sistema. Fatores como o envelhecimento da população, a queda na natalidade e a transição epidemiológica têm aumentado a pressão sobre os sistemas de saúde, levando a uma demanda crescente por cuidados médicos, sobretudo para doenças crônicas e degenerativas, resultando em custos mais elevados.

“A moderação no uso dos recursos é necessária, enfocando a pertinência dos procedimentos diagnósticos, visto que estudos indicam tanto a subutilização quanto a sobreutilização desses procedimentos, destacando a importância de uma abordagem baseada em evidências científicas”, salienta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração.

Segundo ele, é essencial que políticas de saúde sejam orientadas por informações precisas e atualizadas, garantindo que a medicina diagnóstica desempenhe um papel fundamental na promoção da saúde, gerenciamento das doenças e no controle de custos, dentro de um sistema de saúde equitativo e de qualidade.

“A análise das despesas per capita e do desempenho em medicina diagnóstica em diferentes países nos lembra que o modelo do sistema de saúde é apenas uma peça do quebra-cabeça. Outros fatores, como políticas de saúde, práticas clínicas e incorporação da inovação, também desempenham um papel fundamental”, finaliza.Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e explore todo o conteúdo que aborda os desafios e as oportunidades do setor de saúde. Com cinco capítulos e 274 páginas repletas de informações, este recurso é uma fonte valiosa para profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas interessados em promover o desenvolvimento sustentável e integrado do setor de saúde no Brasil e em todo o mundo.

Empresas de diagnóstico avançam em ações de ESG e inspiram novas iniciativas

O quinto capítulo do Painel Abramed 2022 mostra o compromisso dos associados com práticas de sustentabilidade

A incorporação de práticas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa, tem se tornado uma tendência crescente no mundo dos negócios, e as empresas de medicina diagnóstica não ficam para trás. No quinto capítulo da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, foram incluídas, pela primeira vez, informações sobre ESG, fornecendo indicadores importantes para avaliar o compromisso do setor com as melhores práticas.

“Não é apenas uma tendência, mas uma maneira de construir uma cadeia de saúde mais sustentável e responsável. Estas ações demonstram um compromisso inegável com a ética médica, a equidade no acesso aos serviços de saúde, a redução do impacto ambiental e o bem-estar dos colaboradores e dos pacientes”, comenta Daniel Périgo, líder do Comitê ESG da Abramed.

Além disso, as empresas que abraçam o ESG têm a oportunidade de se destacar no mercado, atrair investidores conscientes e cultivar relacionamentos de longo prazo com clientes, fornecedores e outros stakeholders.

No que diz respeito ao aspecto ambiental, foi observada uma redução de 12,8% nos resíduos comuns e de 10,2% nos resíduos de material infectante entre 2021 e 2022. No entanto, é importante interpretar esses resultados com cautela, considerando que mudanças metodológicas na mensuração podem influenciar os números.

“A gestão adequada de resíduos é fundamental para a responsabilidade ambiental, 93% das associadas afirmaram que possuem uma política específica de gestão de resíduos infectantes, mesma porcentagem com relação aos resíduos comuns”, comenta Périgo.

O consumo de energia e água é uma métrica complexa devido às diferenças no porte e nas atividades das empresas. No entanto, indicadores que relacionam o faturamento ao consumo de energia e água proporcionam um referencial útil para avaliar a eficiência no uso desses recursos. “Embora as atividades das associadas variem, os dados revelam que há espaço para melhorias na eficiência no uso de recursos naturais ao longo do tempo”, destaca.

Todas as empresas participantes do levantamento utilizam água da concessionária, mas quase metade delas também recorre a fontes alternativas, como poços artesianos, água pluvial e água de reúso. Essa diversificação contribui para a preservação dos recursos hídricos e promove a sustentabilidade. É importante destacar que as empresas não apenas captam água de forma responsável, mas também adotam práticas de conservação e uso eficiente da água em suas operações.

Já as práticas de responsabilidade social, embora estejam em ascensão, ainda há muito a ser feito. Por exemplo, a promoção da diversidade e inclusão é crucial para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Metade das empresas associadas à Abramed disseram realizar até o momento somente ações de sensibilização. Outras 17% têm uma política de diversidade e inclusão, 17% contam com um programa estruturado de diversidade e inclusão e 17% não responderam.

“O painel mostra que 80% das empresas possuem percentual de mulheres em seus quadros de funcionários acima de 50%, uma característica do setor favorável do ponto de vista de equidade de gênero; no entanto, a representatividade de pessoas negras e da comunidade LGBTQIAP+ ainda é um desafio”, expõe Périgo.

A governança corporativa desempenha um papel vital no sucesso das práticas ESG. Quando perguntado se a empresa divulgou relatório das práticas ambientais, sociais e de governança corporativa no último ano, 50% das empresas responderam que não, contra 33% que responderam sim. Outros 17% não responderam.

Mesmo que muitas empresas ainda não tenham divulgado esses relatórios, a transparência e a responsabilidade estão se tornando cada vez mais importantes para garantir a qualidade dos serviços, a sustentabilidade ambiental e a conformidade ética e regulatória, por isso, é importante que a prática seja mais amplamente adotada no setor.

Este capítulo marca um avanço significativo no monitoramento e na compreensão das práticas ESG realizadas pelas empresas associadas, proporcionando um benchmark significativo para o setor de medicina diagnóstica. Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e tenha acesso ao conteúdo completo. São cinco capítulos, abrangendo 274 páginas com relevantes informações para alavancar o desenvolvimento do setor de saúde.

Tecnologias emergentes na saúde: oportunidades e desafios

Por Wilson Shcolnik*

A busca incessante por avanços científicos e tecnológicos no campo da saúde tem revolucionado a forma como enfrentamos desafios e promovemos o bem-estar em escala global.

No primeiro semestre de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um relatório intitulado “Tecnologias emergentes e inovações científicas: Uma perspectiva global de saúde pública”. Esse documento identifica as inovações mais promissoras em ciência e tecnologia capazes de impactar significativamente a saúde mundial no futuro próximo.

A medicina diagnóstica é um dos setores que se beneficiam dessas inovações, podendo disponibilizá-las imediatamente a pacientes. Por exemplo, o desenvolvimento de um diagnóstico viral de baixo custo traria uma mudança significativa na detecção precoce e no controle de doenças infecciosas, especialmente em regiões com recursos limitados.

A aplicação da genômica no diagnóstico precoce de doenças é outra inovação mencionada no relatório da OMS. Por meio da triagem pré-natal genômica universal e da identificação de distúrbios metabólicos e congênitos, é possível obter diagnósticos precisos e orientar o manejo e o tratamento dessas condições de forma mais eficiente. Além disso está bem descrita e já é realidade a aplicação da genômica na caracterização precisa de mutações relacionadas a diferentes tipos de câncer, e a definição de tratamentos personalizados.

Outra inovação citada refere-se ao diagnóstico remoto rápido por meio de dispositivos, como telefones celulares, relógios inteligentes e sensores vestíveis, que está revolucionando a maneira como conectamos pessoas aos serviços de medicina diagnóstica e outros serviços de saúde.

Essa solução permite a troca de informações em tempo real entre pacientes e médicos, promovendo a saúde individual, prevenindo doenças e melhorando o gerenciamento de condições médicas, além de fornecer dados relevantes para a gestão da saúde pública e economia da saúde.

Embora as tecnologias emergentes e as inovações científicas ofereçam promessas animadoras, é importante reconhecer e gerenciar os riscos associados a esses avanços.

Entre os desafios apontados pela OMS estão: a falta de confiabilidade e precisão dos resultados de exames; a dificuldade em compreender e interpretá-los, colocando em risco a segurança dos pacientes; a restrição de acesso devido a altos custos, com a ampliação das desigualdades na saúde; as preocupações com a privacidade de dados; e a necessidade de garantir padrões de fabricação consistentes.

Cabe adotar abordagens proativas para enfrentar esses desafios. Isso inclui investir em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar a confiabilidade e a precisão dos testes diagnósticos; garantir a acessibilidade sem comprometer a sustentabilidade de sistemas de saúde, por meio de parcerias estratégicas e modelos de negócios inovadores; promover a educação e o treinamento adequados para os profissionais de saúde e os pacientes; bem como estabelecer ações rigorosas de segurança de dados e privacidade. Neste ponto, a Abramed reafirma o seu papel de protagonista, colaborando na busca por um setor cada vez mais sustentável.

À medida que continuamos a explorar as fronteiras da inovação em saúde, é fundamental nos dedicarmos a mitigar esses riscos de forma cuidadosa e responsável. Somente assim poderemos aproveitar plenamente o potencial transformador das novas tecnologias e garantir um futuro mais saudável para todos.

*Wilson Shcolnik é Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

Valor da Medicina Diagnóstica para Integração da Saúde foi tema do primeiro debate do FILIS 2023

Precisão diagnóstica e redução dos custos provocados pela repetição de exames esbarram em gerenciamento de dados de beneficiários, desde sua coleta, padronização e compartilhamento. Especialistas debateram como então entregar serviço de valor ao paciente

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias, eventualmente disponibilizadas facilmente, inclusive ao público não médico, o mercado de saúde passa por mudanças. Ainda que essas soluções tecnológicas estejam ao “alcance das mãos” – como se costuma dizer atualmente – elas são consideradas investimento alto, mas essenciais para entregar diagnósticos e tratamentos de valor aos pacientes. 

Como solucionar essa equação por meio da integração, aumentando geração de valor ao beneficiário, considerando que a medicina diagnóstica é peça fundamental no conceito de saúde baseada em valor? O questionamento pautou o primeiro debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo.

Foram convidados para o debate o Professor Alberto Duarte, Pesquisador e Diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP; Ademar Paes Jr., Presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), membro do Conselho de Administração da Abramed e Sócio da Clínica Imagem; Cesar Nomura, Presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), vice-presidente da Abramed e Superintendente de Medicina Diagnóstica no Hospital Sírio-Libanês; Clóvis Klok, Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP); e moderando o Carlos Figueiredo, CEO do Cura Grupo e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo o CEO do Grupo Cura, o autor Michael Porter apresentou a equação que indica que valor em saúde é igual a qualidade sobre custo, porém há quem acrescente que “qualidade sobre custo deve ser multiplicado por pertinência (onde se enquadra a questão de desperdício). Não adianta ter qualidade ou baixo custo se não houver pertinência, pois se for zero, ao se multiplicar por zero o resultado é nulo. O interessante é entender a qualidade a partir do desfecho para o paciente, que a qualidade tem que ser medida a partir do que o paciente recebe e é resolutivo na vida dele”, afirmou.

Essa resolutividade pode ser alcançada, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), caso o profissional de saúde pense que o diagnóstico seja de um familiar; situação semelhante pela qual recentemente passou Cesar Higa Nomura, após ficar 11 dias internado. 

“Foi a primeira vez que como médico fiquei nessa posição de paciente grave”, revelou Nomura ao fazer um relato pessoal que no primeiro momento sob suspeita de ser um AVC foi submetido a uma tomografia que precisava ser realizada rapidamente utilizando um equipamento adquirido há quatro anos pelo hospital onde atua – “aparelho que realiza o exame em aproximadamente um segundo”. Ele explicou que essa máquina custa 60% mais do que uma máquina habitual, mas que a operadora vai pagar o mesmo valor do exame independentemente de qual equipamento será utilizado.  

Nomura pondera que a rapidez do equipamento em identificar que não era um AVC, um exame sem necessidade de anestesia, teve um valor importante: “Não é valor financeiro. No equipamento há um software de inteligência artificial que identifica se é ou não um AVC, isso não é cobrado, pois acreditamos que precisamos entregar isso de valor”.  Com o resultado de que não se tratava de um acidente vascular cerebral, foi iniciado tratamento para encefalite, sendo necessária uma ressonância.

“Aquele tubo é claustrofóbico. Para um paciente que não pode ser sedado, um exame rápido com acurácia, é importante ao diagnóstico. Nesse equipamento, embarcamos um algoritmo de inteligência artificial – que mais uma vez não será coberto – mas que acelera o exame em quase 60%. Tudo isso resulta na relevância de um diagnóstico bem colocado”, explica Nomura.

Mas se por um lado são fundamentais exames considerados caros, por outro há desperdício de valores com pedidos de exames desnecessários em quantidade. “Nós temos hoje uma medicina que se tornou banalizada! Nossos médicos formados terão dificuldades de diagnósticos. Vão pedir o que puderem para não serem chamados de negligentes”, afirma o pesquisador e diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP, Alberto Duarte.

Interoperabilidade de sistemas

Um dos atuais desafios da saúde é entregar aos pacientes, hospitais e médicos a tão desejada “qualidade”, que não pode ser obtida se não com interoperabilidade de sistemas, segundo Duarte. O pesquisador sugere uma solução que fosse portável para e por qualquer empresa, no modelo de nuvem computacional, armazenando informações. Isso evitaria repetição de exames e certamente resultaria em economia. “Temos que inovar no processo, criar robôs que facilitem análise e diagnóstico e pedir só exames que são necessários”, conclui.

Há, entretanto, segundo o presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, Ademar Paes Jr., alguns desafios, como a realização de um diagnóstico quanto à maturidade de cada uma das empresas, clínicas e hospitais em relação em construir métricas e dados relacionados à sua operação. E existem vários níveis de maturidade em relação a isso.

“Às vezes é difícil explicar desfecho favorável se não tiver isso adequadamente registrado”, explica Paes Júnior ao lembrar que esse registro impacta a execução de exames e tratamento e a prescrição. “Computação sempre foi input, processamento e output. Input por si não gera valor sozinho, não adianta guardar terabytes de dados. O que gera valor é o output e como se transforma isso em valor dentro das empresas”. 

Um exemplo desse output e transformação de dados em valor é que em Santa Catarina a ACM realiza levantamento estadual de fatores de risco populacional em cada região, então se identifica população diabética, de obesos, de consumo de alimentos, população de hipertensos, tabagismo e sedentarismo. “Onde há mais sedentários, faltam aparelhos de atividade, como praças. Esses dados são compartilhados com operadoras e governo. Isso é uma atividade simples”.

Para Nomura, porém, é necessário considerar um desafio característico da tecnologia: descentralização. “Nós em saúde tínhamos o monopólio de geração de dados, um paciente tinha que ir ao laboratório ou hospital e gerar lá o dado. A cada semana surgem novas tecnologias descentralizando essa geração de informações. Isso não vai parar”, compara e sentencia que estratégias para centralizar informações podem funcionar em determinados nichos, mas que globalmente não acontecerá, e que a real centralização deve ser no paciente. 

“Sempre fui um otimista e depois de alguns dias na UTI fiquei mais ainda”, afirma Nomura. “Olho para o futuro, com planejamento a médio e longo prazo, com as discussões e a proximidade entre instituições e governo percebida aqui no evento. E não esquecer em nossas empresas que valor em saúde não pode ser da boca para fora”, complementa.

Para Paes Júnior, embora ninguém tenha certeza dos caminhos para resolutividade dos problemas, que são muitos, é certo que “sozinho, ninguém vai resolver absolutamente nada”. “A solução está dentro das nossas instituições”, concluiu Klok.

Avanços e efetividade para a Gestão da Saúde foi o tema do segundo debate do FILIS 2023

Informações armazenadas desde o agendamento de consultas ou exames até o momento final de tratamento têm facilitado a rotina de grupos de saúde. Mas, a integração de diferentes serviços para oferecer valor ainda é desafio

A fim de propor caminhos para a gestão da saúde, Alexandre Fiorelli, Diretor da DIPRO da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e membro do COnselho de Administração da Abramed; Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio Libanês e Tobias Zobel, Diretor da Digital Health Innovation Platform e Membro do Conselho Estratégico da Medical Valley participaram do segundo debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo, mediado por Claudia Cohn, diretora-executiva na Dasa e membro do Conselho de Administração da Abramed.

“Estamos vivendo um ponto de inflexão da história. A possibilidade de mineração de dados e de aplicar inteligência artificial sobre isso. Há algum tempo estamos enchendo nosso data lake e padronizamos dados para encher o health lake, que é como precisamos deles”, revelou Nigro. Essas ações permitem a tomada de decisão para tratamentos ou predição que permitem a definição de linha de cuidado para aquele público ou indivíduo. 

Este cenário é semelhante ao apresentado pela CEO do Grupo Sabin. A companhia tem um sistema integrado em todo o País que permite que qualquer médico que trabalhe com o grupo possa acessar o histórico do paciente desde o agendamento de uma consulta até o final do tratamento, independentemente de onde tenha sido realizado o procedimento, com rastreabilidade dos dados e segurança. 

Para Fioranelli, entretanto são necessárias duas avaliações: uma clínica e outra sobre impacto financeiro. Da primeira se busca saber se ela responde ao que se precisa, se dá resultado e se é segura ao paciente. Quanto à segunda: “como médicos queremos tecnologia de ponta, mas devemos pensar se é eficaz e possível para todos os envolvidos no processo”, analisa. 

Ainda de acordo com Fioranelli, a ANS tem a obrigação de enxergar as condutas em todo o setor em diferentes vetores e que muitas vezes tem divergências próprias relacionadas aos seus negócios. “De que maneira vamos convergir esses agentes em um mercado com alteração legislativa, de que maneira será essa abrangência e de que maneira identificamos a adesão desses pacientes?”, questiona o diretor.

Quanto à alteração legislativa e adesão dos pacientes, Lidia afirma que na era em que padrão de qualidade é objetivo das empresas, se tivesse que escolher por dois caminhos eficientes para foco e diagnóstico, decidiria por processo e estratégia internos e pela integração de diferentes serviços para oferecer valor ao paciente. “A grande avenida é a cooperação entre todos os atores e empresas. Uma plataforma de compartilhamento de informação respeitando, claro, a Lei Geral de Proteção de Dados”, enfatiza a CEO do Grupo Sabin.

Zobel acrescenta que o sentimento de responsabilidade do paciente pela sua própria saúde colabora na utilização das soluções digitais. Uma nova lei na Alemanha possibilitou que empresas de aplicativos de terapia e diagnóstico atuem por um ano, período que funciona também como certificação, quando e se aprovadas, os médicos alemães podem prescrever esses apps para alguns tratamentos.  

Modelo brasileiro de padronização de dados

A utilização dos dados tem como premissa ampliar com qualidade os atendimentos aos beneficiários. Questionado por Claudia Cohn sobre quais estratégias que existem para melhorar a gestão da saúde e se poderia apresentar exemplos alemães que pudessem inspirar o Brasil, Zobel optou por fazer o caminho inverso. 

“Uma grande vantagem do Brasil em relação a outros países é o uso do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF). Isso não existe na Alemanha, por exemplo. Aqui, esse documento pode ser inserido no banco de dados”, compara e lembra que durante a pandemia da Covid-19 esse registro foi essencial para o monitoramento de pacientes depois de hospitalizados e ao receberem alta.

Além da ausência de um cadastro de pessoas físicas, Zobel sinalizou que na Alemanha há alguns problemas para se chegar às inovações que em eventuais avanços tecnológicos acontecem para suprir uma carência: “Olhando para trás, para uma iniciativa alemã, entendemos que usamos algoritmos pela falta de profissionais e (para se antecipar ao) crescimento da população”, explica. 

Atento a esse cenário, Nigro afirmou que o Hospital Sírio Libanês já tem seus próximos 100 anos planejados a fim de ampliar atendimento e manter padrão. Com novas unidades em Brasília e Águas Claras (DF) há planos de expansão, que necessitam de expansão digital. “Precisamos de padronização de dados”, garantiu.

Ainda sobre expansão, Claudia ressalta que o Fórum Internacional de Lideranças da Saúde tem trazido aprendizados e maturidade ao setor: “Nas primeiras edições falávamos muito de conflitos e hoje os temas das conversas são cooperação e interoperabilidade. E são temas para uma conversa continuada. Saímos do FILIS com tópicos para debater ao longo do ano e de forma prática”.

Debate sobre novas tecnologias e seus impactos para o futuro encerra a 7ª edição do FILIS

Soluções tecnológicas devem promover eficiência, melhorar os resultados ao paciente e ampliar o acesso

Encerrando a programação da 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), o debate “Novas tecnologias e seus impactos na Saúde: o que esperar do futuro?”, reuniu Eliezer Silva, diretor do Sistema de Saúde Einstein, do Hospital Israelita Albert Einstein, que atuou como moderador, os debatedores Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde; Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury; Gustavo Fernandes, diretor-geral de Oncologia da Dasa; e Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon.

A decisão sobre no que investir, segundo Silva é uma das primeiras questões quando se fala em novas tecnologias. Esses novos processos estão cada vez mais presentes no dia a dia dos gestores. Então, como decidir em qual inovação aplicar o dinheiro ou qual o setor que vai receber o investimento para a incorporação tecnológica mais eficiente?

Fernandes explicou que ação, tecnologia e pesquisa estão bastante misturadas na saúde, por isso definir onde investir requer uma análise consciente do que trará impacto positivo a mais pessoas.

“Em um país de dimensões continentais como o nosso, na minha área, em que mais de 500 mil novos casos de câncer são diagnosticados por ano e mais de 200 mil mortes são registradas anualmente, vive-se uma verdadeira pandemia. Procuro definir por soluções que possam ajudar o maior número de pacientes e que sejam mais eficientes para uma grande parcela deles”, ressaltou o oncologista, dizendo que a dúvida e a pressão sempre estarão presentes quando se toma esse tipo de decisão, pois há novas tecnologias surgindo a todo o momento e a incorporação delas nunca acontece em um processo tão rápido quanto elas surgem.

Retorno de investimento

Jeane ponderou que no momento de custo de capital alto que todo mundo vive, apesar de o cenário macro de perspectivas ser positivo para a redução de juros, de maneira geral, uma empresa de capital aberto é cobrada o tempo inteiro pelo retorno do investimento feito. Por isso, três aspectos precisam ser considerados ao se investir em tecnologia: parâmetros do ganho de produtividade; quais os benefícios que essa inovação pode trazer ao paciente, ou seja, evidências de que determinada incorporação vá trazer benefício real ao usuário; e se essa solução vai ampliar o acesso à saúde, seja no Sistema Únicos de Saúde (SUS), seja na saúde privada, ou na suplementar.

“Isso deve ser muito bem colocado, pois há a tendência de envelhecimento populacional, de maior demanda por serviços de saúde, e é preciso ponderar como vamos utilizar toda essa inovação que está surgindo. Não são decisões simples, pois o momento é de equilibrar o curto, médio e longos prazos, o que é fundamental, sem deixar de lado o foco no cuidado ao paciente”, salientou Jeane.

Opinião reiterada por Barros, que acredita ser importante avaliar os resultados que cada inovação pode trazer, de fato, ao seu público e o valor dessa nova tecnologia para aquilo que se propõe a entregar. Para tanto, ele reforça ser essencial a análise de indicadores e dos fatores de sucesso de cada solução.

“O investimento precisa ser harmônico e ter um propósito e não somente porque é novidade no mercado”, alerta Barros.

Para Ana Estela Haddad, na saúde pública, a primeira questão avaliada é o custo-benefício da inovação, em termos de cobertura populacional, do valor que ela vai gerar e a escalabilidade do uso da nova solução. Porém, ainda há um aspecto prévio que é feito que é a avaliação dos riscos que a tecnologia tem ou pode trazer ao setor.

“O Estado tem um papel importante em fomentar a inovação para que ela depois possa ser incorporada pela sociedade. Por isso, é importante dosar e equilibrar todos esses aspectos e não somente arrojar em novas tecnologias”, destacou a secretária.

Inclusão tecnológica

Sobre a questão apontada por Silva, como as diferentes tecnologias vão auxiliar o sistema de saúde em acolher o paciente, Jeane ponderou que a diferencialidade que há no país deixa claro que o fato das pessoas terem acesso a uma conexão de internet não quer dizer que ela vai conseguir usar determinada tecnologia. O processo de inclusão às novas soluções é necessário para que o cuidado possa ser feito a partir de inovações tecnológicas.

“É uma forma de contribuir para a utilização adequada dos recursos. Vimos isso com a telemedicina que levamos à favela, que com orientação usa-se melhor o potencial da tecnologia e pode-se, inclusive, fazer a estratificação de risco e contribuir para a sustentabilidade do setor”, explicou a CEO do Grupo Fleury.

Os ganhos sobre as novas soluções passam pelos resultados que a inteligência artificial (IA) pode trazer e o impacto que ela terá na vida das pessoas. Barros exemplifica que essa tecnologia desempenha um papel importante na distribuição de informações. Além disso, as discussões sobre a IA generativa prometem grandes transformações no setor, trazendo novas expectativas para a área da saúde.

“Com oportunidades na casa de trilhões de dólares, segundo o Fórum Econômico de Saúde, não há como ignorar seu impacto. Ela poderá ser importante na decisão clínica, na previsão de riscos de surtos, na medicina personalizada e no desenvolvimento de novos medicamentos”, exemplifica, destacando seu uso, inclusive, na segurança do paciente, pois aumentam as chances de prever eventos adversos.

Olhar crítico

Ao fim do debate, Ana Estela Haddad disse que a tecnologia sempre esteve presente na saúde e que é preciso ter um olhar analítico e crítico sobre as novas soluções.

“Não podemos incorporar acriticamente o aspecto das tecnologias. É necessário aprofundar, conhecer e entender como elas funcionam e como podemos moldá-las para serem usadas a favor do paciente e do que queremos promover. A inovação deve ser vista como um meio para melhorar a rede assistencial e potencializar o serviço prestado e, quando preciso, refazer os processos. Temos, então, a oportunidade de fazer diferente. Vamos aproveitar e fazer melhor”, concluiu a secretária.

O sucesso da saúde digital passa pela transformação digital do SUS

Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, foi palestrante do FILIS 2023, onde apontou a interoperabilidade de dados e a ampliação do acesso como ações importantes para o órgão

Um dos destaques da programação da 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), foi a participação da secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, que falou sobre a Saúde Digital no Brasil. Ela iniciou destacando que é preciso trabalhar a questão dos padrões para que se possa avançar no processo de interoperabilidade – considerado um dos desafios para a consolidação da transformação digital no país.

“Temos o compromisso de abrir uma agenda de trabalho para avançar nesse processo que passa também pela transformação digital do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explicou Ana Haddad.

A secretária esclareceu que a implementação de inovações tecnológicas sem critério ou respeito pelos princípios e diretrizes do SUS, é o caminho certo para a ampliação das disparidades regionais e mesmo a negação do atendimento médico a amplas faixas da população com dificuldade de acesso à tecnologia.

Por outro lado, se bem planejada, a introdução das novas tecnologias digitais na saúde pública pode ser um fator decisivo para superar certas lacunas do sistema e alcançar populações que recebem uma cobertura ainda insuficiente.

“A transformação digital, até reafirmando a questão da saúde como um direito, visa ampliar o acesso, a participação social. Para tanto, é preciso entender o sistema político brasileiro, fundamentado na estrutura tripartite: trabalhando ao nível federal, com os estados e os municípios de uma maneira articulada para superar os desafios”, declarou a secretária.

Resolver os problemas de informação no SUS, de fato, pode ser um desafio complexo e multifacetado, mas algumas estratégias podem contribuir para melhorar a qualidade e a efetividade do sistema.

Ana apontou que investir em sistemas de informação integrados e interoperáveis, capazes de compartilhar dados entre diferentes níveis de atenção à saúde e garantir a continuidade do cuidado; promover a padronização de dados e informações coletadas em todo o sistema; disponibilizar informações sobre saúde aos usuários do SUS, por meio de plataformas digitais e ferramentas de comunicação; garantir a qualidade das informações registradas nos sistemas de saúde; investir em tecnologia da informação e recursos humanos; estimular a participação do paciente, usuários e profissionais da saúde na gestão e no desenvolvimento dos sistemas de informação são soluções que devem ser implementadas de forma coordenada e integrada, envolvendo a participação de diferentes atores envolvidos no sistema de saúde, dos gestores aos acadêmicos e empresas de tecnologia da informação.

“Não podemos deixar de fora o setor privado e a saúde suplementar, fundamentais para o sucesso da transformação digital da saúde no país”, ressaltou.

Telessaúde

A secretária lembrou que a saúde digital começou há 20 anos, a partir de uma resolução da Organização Mundial da Saúde. Na época, no Brasil, o trabalho começou com a telessaúde integrada à política de educação permanente e formação dos profissionais de saúde, avançando, nos últimos anos, nos programas de saúde.

Os dados comprovam a importância da telessaúde no país. Entre 2020 e 2021, cerca de 7,5 milhões de atendimentos foram realizados por aproximadamente 52,2 mil médicos, via telemedicina; 87% foram primeiras consultas. Esses números devem crescer, acredita Ana Estela, haja visto os investimentos globais em ambientes virtuais de saúde e a regulamentação definitiva da modalidade pela lei 14.510, em 27/12/2022, no país.  

“Este foi um passo importante para organizar os processos, mas transformação digital é bem mais do que isso”, ponderou a Secretária, dizendo ser necessário ir além, implementar as diretrizes para a Política Nacional de Saúde Digital, que consiste em criar uma cultura de governança que fortaleça pacientes e grupos vulneráveis, assegurando saúde e direitos digitais; coletar e usar dados de saúde baseado no conceito de dados abertos e solidariedade, tendo como objetivo a proteção individual de dados sensíveis e simultaneamente a promoção das informações como bem público, fortalecendo uma cultura de Justiça e equidade; e priorizar as tecnologias mais necessárias em diferentes níveis de maturidade em saúde digital.

Para isso, ela garante ser fundamental ampliar a parceria com o segmento da saúde suplementar para se ter um espaço dinâmico que fomente o ecossistema da saúde com inovação em caráter permanente.

“Dessa forma, podermos implementar o Programa Saúde Digital Brasil, com múltiplas estratégias para a ampliação do acesso à informação em saúde, visando a continuidade do cuidado em todos os níveis de atenção à saúde para qualificar o atendimento e o fluxo de informações, fortalecendo o apoio à decisão clínica, à vigilância em saúde, à regulação, à gestão, ao ensino e à pesquisa”, explicou.

Este é o modelo que está sendo articulado multissetorialmente para integrar a transformação digital da saúde com as demais áreas do governo federal e dos outros setores. Inclusive, Ana Haddad adiantou que no próximo dia 26 de setembro, o Congresso Nacional irá criar a Frente Parlamentar da Saúde Digital para que o tema seja debatido em todas as esferas do poder.

Interoperabilidade

Para interoperabilidade na saúde, a integração dos sistemas e dos dados não será uma tarefa fácil, salientou a secretária, tomando como exemplo o DataSUS, que tem 35 anos e que quando foi criado tinha a preocupação de produzir e armazenar informação.

“Não podemos jogar fora toda uma série histórica. A solução é um modelo de interoperabilidade, com uma arquitetura interoperável a partir de um trabalho progressivo com todos os atores, serviços de saúde e centros de pesquisa, atuando em modelos informacionais, com conjuntos mínimos de dados, que se transformam em modelos computacionais, para que aí se possa trocar informação”, propôs.

Para isso, a secretaria está apostando na Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), que conectará os atores e dados em saúde de todo o país, estabelecendo o conceito de Plataforma Nacional de Inovação, Informação e Serviços Digitais de Saúde, que será uma plataforma para conectar qualquer sistema de informação, interligada ao Conecta SUS para o acesso aos dados dos usuários.

“Assim, esperamos como benefícios o provimento da continuidade do cuidado, a melhoria da coordenação da assistência e na qualidade do atendimento, segurança do paciente e redução de custos”, finalizou Ana Estela.

O laboratório pode ser um dos motores da transformação digital na saúde, segundo presidente da Roche

Carlos Martins apresentou cases de automação e integração de sistemas no FILIS 2023

Como parte do “Momento Transformação” do 7º FILIS, espaço na programação para apresentação de cases de inovação em Saúde, Carlos Martins, presidente da Roche Diagnóstica Brasil, participou como palestrante sobre o tema “A integração de dados aumenta a eficiência e melhora os cuidados com os pacientes” e compartilhou quatro cases de sucesso envolvendo soluções digitais da empresa. 

Iniciou apresentando dados de uma pesquisa recente com 742 líderes de saúde, conduzida pela Harvard Business Review Analytic Services. Segundo 95% dos participantes, é muito importante gerenciar dados em ambientes de cuidados em saúde, mas apenas 19% afirmam que sua organização é bem-sucedida nisso. “Isso quer dizer que há muitas oportunidades para melhorar e impactar ainda mais o cenário”, disse Martins.

O estudo mostrou, ainda, os principais obstáculos: equipes isoladas dentro das organizações e falta de colaboração, sistemas desconectados ou incompatíveis, orçamento insuficiente, preocupação com a segurança da informação e falta de infraestrutura tecnológica. “Os profissionais de saúde precisam de insights orientados por dados para tomar decisões mais assertivas. Faltam integração e colaboração”, resumiu.

Para que o paciente não seja impactado por isso, a Roche acredita que o laboratório possa ser um dos motores da transformação digital na saúde, já que cerca de 70% das decisões clínicas são influenciadas por dados laboratoriais, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Diagnóstico (EDMA).

“O Brasil tem grande importância nisso, pois é uma potência em termos de medicina laboratorial, não apenas do ponto de vista de volume, mas também de especialidade e diversidade”, expôs Martins. Para a Roche, superar todos os desafios que os laboratórios e a saúde enfrentam exige mais do que uma solução dinâmica, exige uma transformação.

Na prática

E mostrando que é possível fazer isso com as soluções já disponíveis no mercado, Martins apresentou quatro cases de renomadas instituições. O primeiro da Unimed Sorocaba (SP), que utiliza o sistema Infinity para gerenciar 330 mil testes por mês. A solução não só processa as amostras dentro do laboratório, como também centraliza toda a área de controle de qualidade. “A entidade tem mais de uma década de experiência e crescimento com a digitalização do diagnóstico. É um case importante em termos de pioneirismo digital”, destacou.

O segundo case foi do Hospital Israelita Albert Einstein, que buscou levar o máximo de inteligência para o novo Núcleo Técnico Operacional (NTO) do seu laboratório clínico. “Juntamente a outros parceiros, automatizamos e integramos equipamentos, fluxos e informações, o que beneficiou o paciente do ponto de rapidez e resposta, bem como de redução de erros.”

Dessa forma, o hospital obteve crescimento de 68% nos exames produzidos ao mês, gerando alta satisfação do corpo clínico e dos pacientes, com 100% das decisões baseadas em evidências. Mensalmente, são processados 500 mil testes e 114 mil amostras. 

A automação do novo NTO do Grupo Fleury, que processa 3 milhões de testes e 549 mil amostras por mês, foi o terceiro caso apresentado. “A automação permite prever o que vai acontecer, tendo um impacto importante na operação, trazendo consolidação, redução de custos, mais eficiência e resultados mais rápidos”, mostrou. 

Martins fechou sua participação apresentando o case do Ministério da Saúde, que lançou para a Roche o desafio: instalar 82 laboratórios em 27 estados e 58 cidades para monitorização de HIV e hepatites. Em 90 dias, a empresa atendeu o pedido, garantindo a operação otimizada dos analisadores e a integração de todos os equipamentos, com os resultados reportados em todo o Brasil. Por ano, são processados 1.6 milhão de testes.

“A automação de laboratórios é uma estratégia poderosa, impulsionando melhorias na qualidade do atendimento ao paciente, redução de custos e ampliação da eficiência operacional. Os casos exemplificados ilustram como essa abordagem bem-sucedida pode ser aplicada com êxito em entidades de variados tamanhos e especializações”, concluiu.

Palestrante do FILIS 2023 provoca reflexões sobre o uso de dados para a inovação na saúde

Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, mostrou a importância de mudar o mindset para criar insights e turbinar a experiência dos pacientes

Provocando o público com várias e pertinentes reflexões sobre como fazer diferente no dia a dia de suas operações, Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, apresentou durante a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS a palestra “Potencializando o uso de dados para a inovação na saúde”, mostrando como a empresa analisa as palavras “dados” e “inovação”.

A Amazon trabalha a inovação sob quatro eixos: cultura, mecanismo, arquitetura e organização. Barros focou nos dois primeiros. “Temos um ambiente integrado e todos os novos colaboradores, antes da primeira reunião, passam três meses estudando cada um dos 16 princípios de liderança da empresa”, explicou.

Entre os mais importantes está o conceito de “disagree and commit”, ou seja, é normal que as pessoas tenham opiniões diferentes e discordem em algumas decisões, mas é importante manter o progresso e a eficiência do trabalho em equipe. Significa que mesmo não concordando, há comprometimento em fazer acontecer.

Invent and simplify” é outro conceito que leva à reflexão: os colaboradores de sua empresa podem inventar? “Há abertura para receber uma proposta de simplificação de fluxo, por exemplo?”, provocou Barros, citando, ainda, a alta burocracia na saúde. “O sistema de informação de sua companhia é amigável para quem usa?”

Mais um “mantra” da Amazon é “think big”: pensar grande. “Quais são os planos da sua empresa? O que pretendem para os próximos anos?”, perguntou. 

Barros explicou, ainda, a importância do conceito working backwards (trabalhar de trás para frente), que envolve começar com um entendimento claro do resultado desejado ou do objetivo final e, em seguida, trabalhar de volta para determinar como alcançar esse objetivo. Dessa forma, todos sabem aonde pretendem chegar.

“O que queremos no fim do dia? Reduzir as filas? Diminuir os desperdícios? Todos os envolvidos estão alinhados com o mesmo objetivo? Isso acontece no seu dia a dia?”, questionou. “Não há nenhum segredo em aplicar tanto os princípios de liderança quanto os working backwards”, disse.

Desafios de saúde

Barros chamou a atenção para o fato de que a jornada do paciente não começa no hospital, mas bem antes disso, embora poucos se atentem a isso. “Os pacientes contam, hoje, com milhares de pontos de coletas de dados ao longo de sua jornada. Será que conhecemos quem atendemos? Precisamos analisar isso em nossa rotina”, provocou, mais uma vez.

As prioridades de saúde estão passando por uma evolução significativa, refletindo os desafios ouvidos na indústria de saúde. Há uma crescente demanda por acesso mais equitativo aos cuidados à medida que eles transitam de um modelo centrado no hospital para prestados localmente, focando na proximidade com os pacientes.

Além disso, há uma necessidade crescente de diagnósticos integrados que ofereçam uma visão 360 graus do paciente, permitindo uma abordagem mais holística para o tratamento. No entanto, os sistemas de saúde enfrentam pressões consideráveis, pois precisam capturar mais dados, manter o nível de serviços e responder rapidamente às necessidades dos pacientes, sob gerenciamento de orçamento constante.

“Para as organizações de saúde, o desafio de proporcionar cuidados centrados no paciente em meio a custos crescentes nunca foi tão significativo. Todo dia são gerados novos dados, precisamos saber separar o joio do trigo”, apontou Barros.

Em uma pesquisa feita com quem usa dados em saúde, o palestrante destacou duas afirmações dos respondentes: “Gastamos mais tempo ingerindo e processando dados do que traduzindo insights em melhores decisões de negócios”, e “Está tudo isolado! Pesquisar e analisar dados é difícil”. O que leva a outra reflexão: o quanto sua empresa trabalha para evitar o desperdício?

“Ouvimos muito sobre a importância da interoperabilidade, mas ela não é bala de prata, que resolve todos os problemas. Enfrentamos desafios cotidianos, questões da vida real, como a falta de treinamento adequado para profissionais e a crescente rigidez dos sistemas. Fundamental pensar nisso”, expôs Barros.

Data-driven

O profissional da Amazon também falou sobre data-driven, que, na saúde, refere-se ao uso de dados e análises para tomar decisões clínicas, operacionais e estratégicas. Pesquisa Executiva de Big Data e Inteligência Artificial 2022, feita pela NewVantage Partners, mostrou que tornar-se data-driven requer um foco organizacional na mudança cultural. Pelo 4º ano consecutivo, mais de 90% dos executivos apontaram a cultura como maior impedimento para alcançar resultados de negócios. 

“É preciso mudar o mindset. Uma organização data-driven é aquela que aproveita os dados como um ativo, para impulsionar a inovação sustentada e criar insights acionáveis a fim de turbinar a experiência de seus clientes. Pense nisso como tecnologia moderna complementada com uma metodologia moderna”, frisou.

A Amazon orienta que para chegar a uma visão moderna do uso do dado, é preciso trabalhar em ciclos. Primeiramente, definir um caso de uso – o mais palpável –, e a partir daí, comunicar e gerenciar a mudança no ritmo certo, para que todos visualizem aonde querem chegar.

Alguns pontos importantes nesse processo são: buscar o engajamento dos gestores, não apenas o patrocínio; usar os dados para subsidiar as decisões, não para justificá-las; ter os dados como um ativo da organização, não como propriedade departamental; e trabalhar a proficiência em capacidade analítica, e não proporcionar o “letramento de dados”, ou seja, investir na capacidade das pessoas de entender, interpretar e analisar dados de maneira eficaz.

Por fim, Barros deixou uma mensagem de Andy Jassy, CEO da Amazon: “Gostamos de dizer que não existe um algoritmo de compressão para a experiência”. Ou seja, a experiência é a base de tudo, e é a partir dela, com a ajuda dos dados, que seremos guiados e orientados às melhores decisões.