Aprovada emergencialmente durante crise de COVID-19, telemedicina veio para ficar

Infraestrutura, regulação e cultura digital para telessaúde foram temas do terceiro encontro da série #DiálogosDigitais Abramed

9 de setembro de 2020

A saúde é um dos setores que mais se apoiam na inovação tecnológica para prover atendimentos de qualidade e melhorar tanto as ações de prevenção quanto os prognósticos dos pacientes. Em um país continental como o Brasil, onde o acesso se dá de formas diferentes e por muitas vezes se mostra complexo, a telessaúde exerce papel indispensável e isso se tornou ainda mais claro durante a pandemia de COVID-19. Tratando sobre cuidado à distância, o terceiro encontro do #DiálogosDigitais Abramed reuniu, na noite de 8 de setembro, Eduardo Cordioli, presidente da Saúde Digital Brasil; Ricardo Santos, business development Brasil & Latin America da Cisco Systems; e Sami Foguel, CEO da Alliar Médicos à Frente em um bate-papo moderado por Claudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed e diretora-executiva da Dasa.

Nos últimos meses, enquanto o novo coronavírus se espalhava pelo mundo impondo restrições à locomoção e ações de distanciamento social, o Brasil aprovou a telemedicina em caráter emergencial para garantir o acesso da população à saúde evitando aglomerações desnecessárias. E esse foi um gatilho infeliz, porém relevante.

“E quando pensamos em saúde digital não nos restringimos às áreas hospitalar e de diagnóstico. A cadeia inteira é impactada por essa tecnologia que já vinha trilhando um importante caminho alternativo para que a medicina fosse exercida”, comentou Claudia Cohn ao abrir o debate enfatizando ser muito relevante que o encontro reunisse executivos de diferentes áreas produtivas da saúde.

Para Ricardo Santos, da Cisco Systems, o resultado da liberação da telemedicina foi positivo. “Uma das coisas que ficaram claras foi que a telessaúde se provou viável. Parecia que precisávamos ter um cataclisma, algo forte, para quebrar a inércia que segurava a América Latina. Ainda bem que tivemos essa regulamentação emergencial. Pena que por uma razão tão triste que foi a COVID-19”, declarou.

E no pós-pandemia? Daremos passos para trás? Os especialistas que debatiam no terceiro episódio do #DiálogosDigitais concordaram que essa não é uma possibilidade. “O que observo no pós-crise é uma busca maior por esses serviços”, comentou Foguel. Segundo o executivo, a iDr – plataforma digital da Alliar Médicos à Frente que permite a criação de franquias de centro de diagnóstico totalmente automatizado e com operação remota – praticamente dobrou o número de contratos nos últimos seis meses.

Cultura digital

Cordioli acredita que “saúde digital é uma forma da medicina estar constantemente quando, como e onde o paciente quiser”, o que naturalmente leva à adesão por parte da população. Porém, o executivo reforça que o mais importante para ampliar essa cultura digital é que a tecnologia só ganha reconhecimento quando gera valor para o usuário.

Mesmo vivenciando uma fase de adaptação, a telemedicina aprovada durante a pandemia gerou esse valor. “Apesar de a COVID-19 ter sido um motivo difícil ela contribuiu para um aprendizado contínuo tanto do médico que ainda não tinha experiência no uso das ferramentas, quanto do paciente que aprendeu em qual momento poderia fazer uma interlocução digital ou se precisaria de uma consulta presencial”, comentou Claudia.

Dar, a esse paciente, a chance de escolher qual plataforma vai utilizar pode ser um caminho muito profícuo também evidenciado na crise do novo coronavírus. “Quanto mais complexo e importante for o assunto, mais o paciente pode requisitar o contato presencial. Quanto mais simples e corriqueiro, mais deve buscar o atendimento remoto, que se mostra suficiente”, comentou Foguel.

Para o CEO da Alliar, a ideia de que um novo canal surge para eliminar o outro é inválida e não ocorreu em nenhum outro setor. Nos bancos, por exemplo, primeiro vieram as agências, depois os caixas eletrônicos, depois o call center e, por último, a internet. E mesmo com o advento do acesso remoto, as agências seguem funcionando com alta atividade. De acordo com essa visão, será natural, por exemplo, que um paciente prefira fazer um atendimento virtual com aquele médico que já está acostumado, para seguir com o tratamento de uma doença crônica. Mas que opte pela consulta presencial quando tiver algo mais grave e diferente para tratar com uma nova especialidade.

A consolidação dessa cultura também está atrelada a três pilares principais na opinião de Santos: as ferramentas precisam estar sempre disponíveis; precisam ser escaláveis, ou seja, funcionar com a mesma qualidade para um ou para cem mil acessos; e ter segurança. Na opinião do executivo da Cisco Systems, se o paciente tiver uma primeira experiência negativa, ele deixará de utilizar aquele modelo de atendimento.

Nos Estados Unidos, segundo Foguel, já há uma maior percepção de valor na saúde digital. Por lá, os cidadãos ganham descontos em suas mensalidades de planos de saúde ao comprovar melhorias como implementação de exercícios físicos em sua rotina, redução dos índices de saúde alterados, e realização de checkup periódico. Tudo isso feito, mais uma vez, pela tecnologia, visto que já contamos com inúmeros gadgets e tecnologias vestíveis capazes de monitorar e compartilhar essas informações.

Infraestrutura e regulação

Algumas das preocupações que surgem quando se pensa em telessaúde estão nos debates sobre a infraestrutura necessária para implementação dos sistemas e a falta de regulamentação.

Para Cordioli, saúde é para todos, mesmo em um país continental como o Brasil. E a tecnologia se faz presente para que seja possível cumprir esse objetivo. “Cabe uma Europa ocidental inteira dentro do nosso país e só vamos conseguir entregar saúde de forma democrática usando a tecnologia”, comentou.

Santos explicou que já existem modelos alternativos. “Podemos trabalhar com 3G, satélite, rádio ou rede. Temos uma série de tecnologias que estão aí para serem utilizadas”, disse. Paralelamente, reforçou que não adianta ter a tecnologia se não houver políticas públicas que permitam a utilização e aplicação delas. “Não adianta querer implementar a telessaúde em um município ainda sem energia elétrica. Por isso temos que acompanhar a infraestrutura disponível de vários aspectos diferentes e tudo tem que evoluir nessa mesma velocidade acelerada”.

Sobre regulamentação, todos concordam ser um caminho extremamente necessário. “O ambiente de falta de regulação criou incerteza e insegurança”, disse Cordioli.

Para encerrar o debate, Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, ganhou a palavra e trouxe uma pergunta elaborada pelo presidente do Conselho de Administração da entidade, Wilson Shcolnik, sobre quais as principais necessidades para a implementação plena da telessaúde.

Para Cordioli, regulação é o ponto nevrálgico. “Sem regulação, não temos nada”. Em contrapartida, Foguel reforça a importância do poder público atuar em parceria com o poder privado em um modelo de saúde unificado e que preze pelo acesso à população; Santos enfatizou a essencialidade da infraestrutura; e Claudia encerrou pedindo colaboração entre todos os elos da cadeia para que a telemedicina se torne a cada dia mais viável e abrangente.

O bate-papo completo deste episódio está disponível no canal do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir).

A próxima edição do #DialogosDigitais será realizada dia 22 de setembro, ao vivo, das 18h às 19h30, com o tema “Experiência na jornada do paciente”. Entre os convidados confirmados para o bate-papo estão Adriano Caldas, general manager da Guerbet do Brasil; Luiz Natel, CEO do Grupo Oncoclínicas; e Maria Alice Rocha, diretora-executiva de Pessoas e Experiências do Cliente da BP. A moderação será feita por Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed e sócio médico radiologista da Clínica Imagem. Fique de olho nas redes sociais da Abramed para se inscrever e participar.

Saúde Feita no Brasil: indústria nacional valorizada e fortalecida

Assinado por Franco Pallamolla, da ABIMO, artigo aborda campanha da entidade focada em ampliar capacidade produtiva interna do país

09 de agosto de 2020

* Por Franco Pallamolla

Desde a sua fundação, em 1962, a ABIMO busca fortalecer o setor industrial brasileiro de dispositivos médicos para a saúde. Acompanhamos o nascimento do Sistema Único de Saúde (SUS), hoje o maior sistema de saúde pública mundial em países com população acima de 100 milhões de habitantes. Testemunhamos grandes transformações como consequência das incontáveis inovações tecnológicas em todos os setores. Alcançamos, como país, as soberanias alimentar e energética.

Porém, ao longo das últimas décadas, assistimos a um desestímulo ao desenvolvimento tecnológico, à produção local. De certa forma, nos recusamos a alcançar a soberania tecnológica em produtos para a saúde e acabamos nos tornando dependentes das importações, seja pela ampla oferta de insumos, seja por vantagens econômicas e fiscais advindas de uma esquizofrênica legislação tributária que favorece as importações e eleva o custo da produção local.

Agora, neste momento em que a tragédia da pandemia da Covid-19 se abate sobre a nossa sociedade, a indústria brasileira de dispositivos médicos mostrou sua força, sua valia, seu papel estratégico, sendo determinante no enfrentamento do novo coronavírus. Ao longo dos últimos seis meses, desenvolvemos projetos, aumentamos a nossa capacidade produtiva, fizemos reconversõesindustriais e demos respostas concretas, eficientes e ágeis à sociedade num esforço gigantesco, mas silencioso.

Dentro desse cenário, não há dúvida de que a área diagnóstica é uma das mais importantes no controle dos diversos estágios da Covid-19, além de indicar os passos que devem ser dados em direção ao futuro. Assim como as indústrias responderam rapidamente às necessidades, esse setor mostrou total capacidade de atender às demandas de forma eficiente, com segurança e qualidade.

Temos total conhecimento da impossibilidade de fabricar todos os insumos necessários no País nessa área, porém, diante do panorama que o coronavírus evidenciou, é imprescindível estimular cada vez mais o setor diagnóstico para termos soluções adequadas aos diversos tipos de demandas com custos competitivos.

Sabemos que a pandemia vai passar. Por isso, neste momento é hora de olharmos para a frente, para o amanhã. Pensando no fortalecimento e na valorização do nosso setor, a ABIMO lançou a campanha Saúde Feita no Brasil. Nosso objetivo é mostrar a importância estratégica da indústria de dispositivos médicos, mostrar que é imprescindível alcançarmos a soberania tecnológica da indústria de produtos para a saúde. Precisamos valorizar e incentivar os empregos que são gerados pelo nosso setor, fomentar e valorizar a tecnologia desenvolvida e as pesquisas realizadas em nosso país.

A campanha Saúde Feita no Brasil é uma iniciativa pioneira do nosso setor e não envolve somente as indústrias. Também pretende engajar a sociedade e os governos nesse movimento nacional, para que a saúde no país seja vista não só na parte assistencial, mas como uma cadeia completa e abrangente e que é de importância fundamental para todos nós e estratégica nos momentos mais cruciais da história do país. 

* Franco Pallamolla é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO)

Implementação da LGPD exige mudança de cultura no trato com a segurança de dados

Setor de saúde deve se adequar imediatamente aos processos para atender às determinações da lei

4 de setembro de 2020

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), sancionada em agosto de 2018 (lei nº 13.709), que regulamenta o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, teve sua vigência aprovada pelo Senado Federal no último mês de agosto e entrará em vigor a partir da sanção da Presidência da República. 

A LGPD acolhe regras constantes no Marco Civil da Internet (lei º 12.965/2014), no Código de Defesa do Consumidor e em outras normativas precedentes inspiradas na lei de proteção de dados europeia, a GDPR (General Data Protection Regulation), aplicável a todos os países da União Europeia (UE) desde maio de 2018, que usa os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade como norte para estabelecer regras a respeito da coleta e armazenamento de dados pessoais e seu compartilhamento.

Para a saúde, segmento que lida com dados sensíveis – que permitem a identificação das pessoas – e, portanto, requerem um tratamento ainda mais rigoroso, as empresas precisam urgentemente se adequar e implementar os processos para atender aos requisitos impostos pela nova legislação.

Jair Rezini, gerente corporativo de Controles Internos e Compliance do Grupo Pardini e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstico (Abramed), recomenda que mais importante que cumprir a lei, as organizações precisam perceber que a proteção de dados pessoais  vai muito além de adequar sistemas e processos. “É uma mudança de mentalidade, de cultura na forma como se tratava os dados pessoais e de como proceder e lidar com essas informações de agora em diante, alinhado aos padrões internacionais.”

Sem a pretensão de criar um manual de implementação da LGPD, Rezini sugere às empresas dividir o processo por etapas para auxiliar na reflexão de como conduzir o desafiador projeto de implantação da lei. “É um procedimento que pode ser trabalhoso, mas não necessariamente difícil, pois uma vez que o processo se torne diário dentro da organização, será tratado com a mesma naturalidade e fluidez como tantos outros já são habitualmente”, explica.

Antes de tudo, o especialista sugere a avalição da possibilidade de contratar uma empresa para apoiar na implementação, pois essas instituições trazem em seus portfólios de atividades, modelos e metodologias que contribuem com sugestões de como fazer a gestão do projeto. “Para se enquadrar nas exigências da lei, as empresas terão de fazer algum investimento, seja em tecnologia ou em capacitação de seus profissionais internos, para que a implantação de uma estrutura e uma política interna de compliance digital acerca do tratamento de dados de seus clientes seja realmente eficaz”, destaca o gerente.

Na primeira etapa, chamada de planejamento, deve-se criar uma equipe para o “projeto LGPD”; definir os papeis e responsabilidades de cada um; obter o apoio da alta administração; com a participação da empresa parceira contratada, treinar os participantes do grupo sobre os principais aspectos da lei, para que tenham senso crítico; e definir as pessoas-chaves a serem entrevistadas, na fase de mapeamento e análise de dados, que vem em seguida.

Relacionar todos os sistemas da empresa e os macroprocessos que potencialmente tratam os dados pessoais e promover a conscientização e o envolvimento, com organização de mini workshops para sensibilização sobre o tema, são importantes, inclusive a diretoria, os líderes, as pessoas-chaves e demais colaboradores devem ser envolvidos nesse processo.

Para as entrevistas, Rezini sugere um questionário previamente elaborado, que será aplicado a todos os profissionais envolvidos em atividades que possam conter ou tratar de dados pessoais. Esta ação normalmente é realizada pela empresa parceira. Também deve ser estabelecido um Data Discovery, com o mapeamento de todos os sistemas. “Com um diagnóstico da equipe de Tecnologia da Informação (TI) juntamente com a área de controles internos, riscos e compliance – da própria empresa ou terceirizada –, com relatórios de análises de risco e de impacto das novas exigências, será possível verificar em qual estágio a empresa se encontra, quais são os pontos mais vulneráveis de seus sistemas e constatar os maiores fatores de risco”, ressalta.

Esta é a fase de avaliação dos riscos identificados – os gaps –, em que são criadas ou adequadas as políticas internas, normas e/ou procedimentos e identificados os recursos tecnológicos existentes para armazenamento, controle, segurança e proteção dos dados pessoais.

O passo seguinte é a criação do plano de ação para adequação de cada um dos gaps, com dimensionamento de recursos: pessoas, sistemas e equipamentos disponíveis; e a elaboração do cronograma geral (envolvendo todos os pontos) e específico (um para cada gap).

Dependo do perfil da empresa, Rezini propõe a criação de um Comitê de LGPD ou de Privacidade e devem ser priorizadas as ações a serem implementadas, principalmente porque a vigência da lei já foi aprovada, iniciando-se por aquelas que mitigarão os maiores riscos. “Neste momento, a organização deve discutir e definir qual é o seu ‘apetite ao risco’, pois certamente não será possível implementar todas as ações de imediato”, esclarece. 

Também é preciso definir quem será o Data Protection Officer (DPO): o profissional que, dentro da empresa, irá ser o encarregado de cuidar das questões referentes à proteção dos dados da organização e de seus clientes. “A designação do DPO deve ser realizada em função das competências profissionais, em especial, dos conhecimentos avançados de proteção de dados e que ele seja capaz de cumprir as tarefas relacionadas com a segurança das informações após a LGPD”, explica o gerente corporativo do Grupo Pardini.

Na penúltima etapa de implementação da Lei Geral de Proteção de Dados, a proposta é a execução do plano de ações, que deve contar com o engajamento de todas as áreas e colaboradores da empresa, inclusive a diretoria. Para tanto, reuniões periódicas e relatórios de status devem ser apresentados e o alinhamento com a equipe do projeto deve ser diário. Caso seja necessário, replanejar as ações se ocorrerem desvios ao que foi planejado.

Após a adequação à lei, Jair Rezini recomenda que o DPO passe a atuar no dia a dia dos processos e no monitoramento e controle. As correções e atualizações do sistema de proteção e segurança de dados devem ser mantidas como rotinas. “Sem um sistema preparado, as organizações não conseguirão atender às exigência da lei, e estarão expostas a possíveis processos judiciais”, alerta. As multas podem chegar a R$ 50 milhões, mas as punições foram adiadas até agosto de 2021 pela lei nº 14.010, criada em junho deste ano.

Porém, na visão do especialista, num momento em que o setor discute cada vez mais o empoderamento do paciente e sua efetiva participação no cuidado com a própria saúde, é preciso encarar esse desafio como mais uma oportunidade para trazê-los para perto das organizações de saúde. “Isso significa que os consumidores estão cada dia mais atentos a como as empresas coletam seus dados. Haverá pedidos por parte dos pacientes e um posicionamento das empresas pró proteção da privacidade pode ser um diferencial competitivo, com o nível de serviço adequado”, conclui Rezini.

O rompimento da represa

Assinado por Jacob Szejnfeld, do Grupo CURA, artigo aborda aumento de demanda diagnóstica e desafios na flexibilização

3 de setembro de 2020

* Por Jacob Szejnfeld

Já vivemos por seis meses sob as mazelas da pandemia de COVID-19 que afastou os médicos dos consultórios e os pacientes dos atendimentos. Mas o que devemos esperar para as próximas semanas? Estamos começando a assistir ao rompimento de uma represa.

Temerosas com o novo coronavírus e respeitando as imposições de distanciamento social, as pessoas deixaram de cumprir seus cuidados médicos rotineiros. Se afastaram dos hospitais, dos laboratórios e das clínicas de imagem, e adiaram suas queixas de sintomas. A soma da falta de disponibilidade com a falta de coragem da população afetou principalmente o cenário da prevenção. Durante os últimos meses, o tratamento preventivo de doenças não clínicas, ou seja, sem sintomas, e a avaliação de sintomas leves deixaram de ser realizados.

Ao direcionar todo o foco à COVID-19, pudemos constatar um outro problema surgindo: doenças não respeitam calendário, não respeitam mandantes, não respeitam regras. Elas acontecem, e continuam acontecendo. Em maior ou menor grau.

Nesse momento em que a frequência de infecções pelo novo coronavírus vem regredindo somada à flexibilização da quarentena, cenário em que a população começa um processo de retomar situações de normalidade como trabalho, lazer e prática de esportes, precisamos estar ainda mais atentos aos riscos naturais e individuais.

A área de ortopedia, por exemplo, está retornando à ativa depois de meses sem episódios de trauma. O exercício físico é altamente benéfico, mas não deixa de ter suas inconveniências como as lesões musculares. Com o sedentarismo que se impôs sobre o isolamento, as pessoas tiveram enfraquecimentos musculoesqueléticos. Agora, com a retomada, muitas delas voltaram à prática esportiva sem um cuidado adequado, o que pode acarretar traumas mínimos, médios e acentuados. E todos sabemos que essa condição é natural do esporte.

Se tínhamos notado o desaparecimento de pacientes com doenças musculoesqueléticas durante a quarentena, agora vemos que eles retornam às nossas clínicas de imagem.

Paralelamente, temos todas as outras condições que acabaram paralisadas durante os primeiros meses da pandemia e que, agora, também estão recebendo novamente a atenção devida. O paciente diabético volta a exercer sua rotina de cuidados, aqueles que têm riscos cardíacos retomam as pesquisas de suas dores agudas, e as pessoas com possibilidade de lesões tumorais voltam a investigar seus casos.

Então, já havíamos previsto o rompimento dessa represa e o que vemos agora é um aumento da procura de exames rotineiros como o diagnóstico de tumores e de distúrbios metabólicos que não param de surgir mesmo enquanto a COVID-19 se faz presente.

Temos uma reabertura onde situações que provocam dores e suspeitas recebem atendimento. Onde as pessoas começam a se sentir confortáveis em retornar suas rotinas de saúde e se mostram dispostas a frequentar os estabelecimentos. É o momento em que serviços de diagnóstico, tanto laboratórios quanto clínicas de imagem, precisam estar atentos e prontos para receber essas pessoas de forma adequada, criando fluxos distintos para seguirmos controlando a transmissão do novo coronavírus, dando ainda mais atenção aos pacientes dos grupos de risco e mantendo todo o distanciamento possível, tanto no planejamento das agendas e atendimentos, quanto fisicamente dentro das unidades. Esse é o desafio do momento!

* Jacob Szejnfeld é fundador e diretor médico do Grupo CURA Imagem e Diagnóstico

Reforma pode aumentar em até 40,4% carga tributária do setor de medicina diagnóstica

Como reflexo, setor perderá a capacidade de investimentos no desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos e terá serviços mais caros e menos acessíveis

1º de setembro de 2020

Com a Reforma Tributária tramitando no Congresso Nacional, o setor de saúde reforça sua preocupação com os resultados de uma reforma fiscal que, a princípio, não considera a função social da medicina diagnóstica no conjunto de atividades relacionadas a saúde e bem-estar da população, deixando assim de enxergar as especificidades de segmentos altamente estratégicos e essenciais para a manutenção da sociedade. Estudo elaborado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) elenca alguns cenários que a reforma pode trazer para o atendimento assistencial. O principal deles está em um possível aumento de até 40,4% na carga tributária de laboratórios e clínicas de imagem.

A criação de um imposto único que, no Brasil, seria chamado de CBS, sem considerar alíquotas diferenciadas ou mesmo isenção para setores essenciais como saúde – a exemplo do que fazem países altamente desenvolvidos como Austrália, Áustria e Canadá – pode dificultar ainda mais o acesso da população brasileira ao diagnóstico e inviabilizar o desenvolvimento de novos exames. Vale ressaltar, inclusive, que graças a essa capacidade, um conjunto relevante de laboratórios nacionais conseguiu elaborar testes para detecção da COVID-19 nesse momento de pandemia.

“O sistema tributário brasileiro é, de fato, disfuncional e tem uma complexidade que contribui para a construção de um ambiente de negócios pouco favorável a investimentos e empregabilidade. Precisamos de uma reforma focada na simplificação dos processos com objetivo de reduzir, entre outros entraves, o custo de conformidade. Porém, onerar ainda mais o segmento de saúde inviabilizará a atuação de inúmeras empresas de medicina diagnóstica, que deixarão de existir, especialmente em regiões menos desenvolvidas economicamente”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed.

Essa análise de que pode ocorrer aumento de até 40,4% na tributação da saúde foi feita considerando o modelo sugerido pelo Ministério da Economia que unifica o PIS/PASEP e Cofins sob uma alíquota única de 12%. “Ainda que se proponha a adoção de um regime não cumulativo, em que despesas com insumos são compensadas ao longo da cadeia, o setor será penalizado. Nossa maior despesa é folha de pagamento e será inevitável a redução da empregabilidade”, explica Fábio Cunha, diretor do Comitê Jurídico da Abramed.

Hoje, segundo dados do levantamento da Associação, a folha de pagamento representa cerca de 50% das despesas de laboratórios e clínicas de imagem, considerando contratações diretas e indiretas. Nesse sentido, na ausência de uma negociação voltada à neutralidade e inspirada no modelo adotado por grandes países, há a alternativa da desoneração da folha de pagamento, que permitiria a manutenção dos serviços e o investimento em tecnologia e inovação para a garantia do acesso dos brasileiros ao diagnóstico precoce e de qualidade. Porém, essa opção encontra-se a cada dia menos viável, pois demandaria a aprovação de um mecanismo de financiamento como, por exemplo, a CPMF, que encontra forte resistência no Congresso.

Impacto social – Além do impacto direto nas operações das empresas do setor de medicina diagnóstica, a Reforma Tributária não considera a essencialidade de serviços como a saúde e traz um impacto direto no custo assistencial geral, colocando o ônus sobre os cidadãos brasileiros.

Com carga tributária até 40,4% superior à atual, é inevitável que haja repasse de preços para pacientes e operadoras de planos e seguros de saúde. Isso levará a um aumento generalizado do valor dos serviços pagos, tanto por pacientes particulares quanto na precificação das seguradoras, que também serão obrigadas a repassar esses custos aos contratantes, sejam empresas ou famílias.

Como resultado, caso esse cenário se confirme, o mercado de saúde suplementar poderá experimentar uma nova redução do número de beneficiários. Outra consequência é o aumento da demanda sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que infelizmente não é capaz de atender grande parte da população com equidade.

“Se antes de vivenciarmos a pandemia já nos preocupávamos com a Reforma Tributária aumentando os custos e dificultando o acesso da população ao diagnóstico, nesse momento em que o novo coronavírus também desencadeou uma crise econômica levando milhões ao desemprego, o reflexo será desastroso”, comenta Priscilla. Segundo a executiva, os planos de saúde já perderam milhões de beneficiários nos últimos anos e esse número poderá crescer ainda mais, uma vez que muitos beneficiários e empresas contratantes não suportarão as mensalidades devido à instabilidade financeira pós-pandemia, e a reforma pode fazer com que esses valores se tornem ainda menos suportáveis.

Para Cunha, a somatória dos resultados da COVID-19 à Reforma Tributária levará a um cenário no qual a saúde pública, já sobrecarregada, terá de atender a todos os cidadãos que não puderam permanecer com seus atendimentos e procedimentos arcados pelo sistema suplementar, uma consequência bastante indesejada do ponto de vista de orçamento público. “O setor de medicina diagnóstica no Brasil visa a um alinhamento às melhores práticas internacionais em benefício da população. Assim, é necessário que o Legislativo trabalhe para ajustar a proposta garantindo a sobrevivência desses serviços tão essenciais ao progresso e ao bem-estar dos brasileiros”, finaliza.

Abramed conversa com autor da PEC 45/2019 sobre impactos da Reforma Tributária na Saúde

Webinar promovido pela PwC Brasil possibilitou explanação sobre como a falta de visão sobre a essencialidade da saúde pode prejudicar o paciente final

31 de agosto de 2020

A fim de tratar dos impactos da reforma tributária sobre o setor de saúde, a empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil realizou mais uma edição do PwC Debate | Tax, uma série de webcasts que tratam especificamente das mudanças que estão sendo previstas sobre os impostos em território brasileiro. O encontro realizado dia 27 de agosto e apresentado por Romero Tavares e Paula Romano, respectivamente sócio e diretora da consultoria tributária da PwC Brasil, recebeu Fabio Cunha, diretor do comitê jurídico da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed); Kamila Fogolin, diretora jurídica da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp); e Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal e um dos autores da Proposta de Emenda Constitucional, PEC 45/2019, para alteração do sistema tributário nacional.

Antes de iniciar o debate, os executivos da PwC Brasil apresentaram todo o cenário de tributação que está sendo planejado para a Reforma Tributária, considerando como seria a aplicação do imposto com alíquota única sobre o setor de saúde. Após explicação técnica, Tavares mencionou que a pressão eventual sobre os custos dos planos de saúde tende a atingir o paciente final. “Percebemos que o aumento final da carga tributária sobre os serviços privados de saúde pode levar a um efeito que não se observa em setores que não são essenciais que é a eventual redução de cidadãos utilizando a rede privada e mais pacientes dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, declarou.

O impacto direto no SUS, de fato, é uma das grandes preocupações do setor que considera que caso a Reforma Tributária seja aprovada nos moldes em que tramita atualmente no Congresso Nacional, o considerável aumento tanto sobre laboratórios e clínicas de imagem quanto sobre hospitais impreterivelmente acarretará repasses para o beneficiário. E a explicação de Cunha tomou esse caminho.

Ao ganhar a palavra, o executivo trouxe todo um panorama que foi estudado pela Abramed para compreender como seria o comportamento da saúde suplementar diante da reforma. Segundo Cunha, a iniciativa privada é responsável pela realização de 70% de todos os exames do setor no Brasil, principalmente os de alta complexidade. Além disso, é um setor que emprega mais de 2 milhões de pessoas diretamente.

Paralelamente, o diretor comentou que nos últimos seis anos mais de 4 milhões de pessoas deixaram de pagar seus planos de saúde, tendo de recorrer integralmente ao SUS. Com a pandemia de COVID-19, esse cenário tende a se intensificar, visto que somente nos últimos três meses as operadoras de saúde perderam mais de 300 mil vidas.

Mesmo contabilizando de forma conservadora o impacto da Reforma Tributária no setor, Cunha apresentou estudos que consideram uma redução de serviços que pode alcançar a marca de R$ 11 bilhões. Diante de toda essa perspectiva, o executivo reforçou que o setor concorda que investir em uma Reforma Tributária é extremamente importante, que não há interesse de redução da base tributária, mas que a neutralidade se faz necessária para evitar que todos saiam perdendo.

Kamila também se manifestou a favor dessa necessidade. “A gente nem pleiteia a alíquota zero. O que tratamos é a excepcionalidade do setor de saúde, bem como do setor de educação. Principalmente pois com esse repasse a conta final quem paga é o paciente”, disse.

Redução do acesso e desemprego

Ao detalhar os estudos que foram elaborados por entidades do setor de saúde, Cunha apontou todos os inúmeros impactos negativos que estão sendo considerados, a começar pelo aumento do desemprego no país. “Temos 40% do nosso custo na folha de pagamento e, em termos de eficiência tributária, a geração de empregos vai deixar de ser algo bem visto no setor de saúde”, declarou.

Outro ponto apresentado pelo diretor foi a maior dificuldade de acesso que a Reforma Tributária pode desencadear. Appy chegou a afirmar que quem mais consome serviços de saúde é a classe alta, e que o novo formato de tributação seria bastante justo considerando que é mais benéfico para o país cobrar impostos da parcela mais rica da população. Como alternativa, o autor da PEC 45/2019 mencionou a possibilidade de trabalhar a devolução dos impostos às famílias.

Porém essa linha de pensamento é equivocada na visão de Cunha, que trouxe novos números para exemplificar que, nesse caso, a classe média será a mais afetada. “80% dos beneficiários de planos de saúde utilizam planos coletivos, ou seja, serviços que são oferecidos pelas empresas que os contratam. Dessa forma, quem está perdendo o acesso são os trabalhadores. Não é verdade que o gasto com saúde é um gasto do rico, pois todo mundo fica doente e todo mundo precisa de atendimento”, pontuou complementando que a política de devolução também não deve funcionar justamente por serem as empresas que arcam com esses custos.

Além disso, o executivo mostrou que com a classe média deixando de utilizar a saúde suplementar para estrangular ainda mais o SUS, a saúde pública que poderia investir esforços em saúde populacional e epidemiológica, acaba tendo de retomar atendimentos eletivos que antes eram absorvidos pelas instituições privadas.

Exemplo internacional

Na visão de Cunha, se o Brasil quer seguir as melhores experiências internacionais, é preciso utilizar o modelo completo. “De todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aplicam o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), apenas dois não fazem a diferenciação dos setores de saúde e educação: Japão, que não cresce há mais de 20 anos, e Chile”, declarou. Segundo ele, o Canadá – que também tem alíquota diferenciada para a saúde – tentou unificar o imposto e não conseguiu, retrocedendo ao modelo prévio de diferenciação.

Com o argumento de que os especialistas reforçam que o modelo ideal é o que considera uma alíquota única sem qualquer diferenciação, Appy explicou que ao abrir uma alíquota diferenciada para a saúde, por exemplo, abre-se precedentes para que outros serviços como academias e alimentação também se valham dessa justificativa para pleitear redução tributária. Sobre esse ponto, Cunha questionou os motivos que levaram a maioria absoluta dos países que apostam em um imposto único a oferecer diferenciação de alíquotas para setores essenciais como saúde e educação. “Por que as nações tidas como referência não ouviram os experts? Por que o modelo historicamente aplicado de IVA nunca migrou para a alíquota única como sugerem esses especialistas? É melhor na teoria ou é melhor pois foi testado? O ótimo é inimigo do bom e precisamos lidar com essa realidade”, finalizou.

Pandemia de COVID-19 movimenta mercado de biologia molecular

Confira a entrevista com Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, sobre as mudanças que vêm ocorrendo na medicina diagnóstica

26 de agosto de 2020

Até que o SARS-CoV-2 chegasse ao Brasil, o país não tinha uma ampla atuação no ramo de biologia molecular, área que estuda o ponto de vista molecular dos organismos e atua, inclusive, com DNA e RNA gerando resultados diagnósticos muito precisos. Porém, com a popularização dos testes RT-PCR para detecção da COVID-19, o tema vem ganhando espaço e a população passa a entender que biologia molecular não está restrita ao diagnóstico de doenças complexas.

Em entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, marca focada no mercado de diagnóstico in vitro, fala sobre como a crise do novo coronavírus vem promovendo mudanças nesse cenário e sobre como a empresa atua para a popularização dessas técnicas, reconhecidas por sua assertividade.

Com altos investimentos em desenvolvimento de tecnologia em sua sede na Coreia do Sul, a Seegene detém mais de 160 patentes que prometem tornar o diagnóstico molecular mais acessível. No Brasil, está mudando suas instalações de Belo Horizonte (MG) para o interior de São Paulo a fim de melhorar sua cadeia logística. Além disso, promove investimentos diversos para permitir que mais brasileiros possam realizar exames de alta confiabilidade.

Confira a entrevista completa.

Abramed em Foco – Qual é, hoje, o cenário da biologia molecular no Brasil?

Guilherme Ambar – Por aqui, biologia molecular ainda é uma técnica bastante cara, pois nosso país nunca investiu, de fato, nesse segmento. Como a demanda sempre foi pequena, não houve uma redução de custos significativa ao longo do tempo e somente os grandes laboratórios implementavam essa técnica. Antes de estourar a pandemia de COVID-19, apenas poucos laboratórios realizavam esses exames no país. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, com a crescente demanda de testes moleculares RT-PCR, que são apontados como o padrão ouro para diagnóstico da infecção, faltou estrutura para a realização de tantos testes simultâneos. E enfrentamos o primeiro grande gargalo. Com base nisso, outros laboratórios passaram a visar a biologia molecular. Neste ano a Seegene Brazil já deu suporte para que oito laboratórios menores investissem em suas próprias estruturas, deixando de terceirizar esses exames.

Abramed em Foco – Podemos nos comparar a outros países?

Guilherme Ambar – É difícil comparar. Somos um continente perto de países da Europa. Analisar de que forma nações como Alemanha, Espanha e Itália lidam com a biologia molecular, e trazer essa percepção para nossa realidade não é simples. Um equipamento que, no exterior, custa 20 mil dólares, por exemplo, aqui no Brasil custa 200 mil reais. Um robô que custa 80 mil dólares, aqui passa de 1 milhão de reais. É uma discrepância muito grande que faz com que fora do nosso país, mesmo um laboratório pequeno tenha condições de investir, já aqui é mais complicado. E isso tudo ocorre por não termos fabricação interna, o que nos torna dependente das importações. Estamos sempre amarrados ao mercado externo.

Isso faz com que a Seegene tenha, na Itália, mais de 200 plataformas espalhadas e, no Brasil, hoje, pouco mais de 20. Com a entrada de novos players no mercado e o fomento do desenvolvimento de produtos nacionais, o mercado brasileiro tem muito a ganhar pois o potencial é imenso.

Abramed em Foco – A pandemia de COVID-19 promoveu mudanças nesse cenário?

Guilherme Ambar – Acreditamos que no período pós-pandemia o diagnóstico molecular vai estar muito mais presente, já que mais laboratórios brasileiros estarão capacitados a realizar esses testes. Além disso, há uma popularização, pois devido ao novo coronavírus e a relevância que o diagnóstico tomou diante da pandemia, todos já sabem e entendem o que é um RT-PCR. E isso acaba incentivando o mercado, visto que a pressão popular ajuda a difundir a técnica.

Abramed em Foco – Havia uma percepção equivocada de que biologia molecular eram exames apenas para doenças mais raras ou complexas?

Guilherme Ambar – Existem diversas aplicações para a biologia molecular e ela não está, de forma alguma, atrelada apenas à alta complexidade. Temos desde painéis oncológicos que medem 328 mutações relacionadas à câncer; até painéis para testes de infecções por vírus respiratórios super comuns como a influenza e a H1N1.

Importante ressaltar que a biologia molecular pode ser utilizada para detecção de inúmeras doenças que hoje são identificadas por tentativa e erro, acelerando o diagnóstico e tornando-o muito mais assertivo. Para um paciente que busca atendimento e tem uma infecção respiratória, por exemplo, temos um painel capaz de identificar 26 vírus do sistema respiratório. Sabendo exatamente qual o agente causador, o tratamento será muito mais eficiente. É garantia de melhor qualidade de vida desse paciente e de maior sustentabilidade para os sistemas de saúde.

Abramed em Foco – Como a pandemia de COVID-19 tem impactado os negócios da Seegene?

Guilherme Ambar – Fomos uma das primeiras empresas a disponibilizar no mercado brasileiro kits para diagnóstico de COVID-19 e a Seegene cresceu muito nos últimos meses. Tanto que devido a esse aumento de operação estamos consolidando nossa mudança de Belo Horizonte (MG) para o interior de São Paulo, pois estar perto do aeroporto de Viracopos, em Campinas, nos dá maior controle logístico. Agora, como sabemos que o Brasil não tem, por prática, utilizar a biologia molecular para o diagnóstico, temos um plano de negócios focado em ganhar esse mercado, oferecendo essa opção mais assertiva.

E nossa ideia é prosseguir com a abordagem que iniciamos na pandemia de intensificar o nosso suporte para que os pequenos laboratórios, descentralizados e que atuam no interior do país, possam ter suas próprias plataformas. Tudo isso aumenta o acesso dos pacientes à biologia molecular e aumenta a demanda para todos.

Além disso, ampliamos nossa gama de produtos e nos próximos dois anos vamos começar a construir uma planta fabril em Sorocaba (SP) para atender tanto ao mercado local quanto à América Latina. Nos tornaremos o ponto focal dos negócios de toda a América Latina.

Abramed em Foco – E como a parceria com a Abramed, que acaba de completar 10 anos no mercado de medicina diagnóstica, contribui com a atuação da Seegene no nosso país?

Guilherme Ambar – A parceria com a Abramed foi crucial. Éramos uma empresa com seis meses de existência lutando para se estabelecer nesse mercado e ter esse contato com a Associação nos aproximou de grandes players do setor. Sem a Abramed, demoraríamos muito mais tempo para conseguir nos firmar.

Além disso, os eventos que a Abramed realiza são excelentes para mostrar à comunidade médica as novidades que estão surgindo. E nosso segmento, de biologia molecular, é muito veloz, tornando difícil para os médicos acompanharem todas as evoluções. Então vemos que para os associados da Abramed essa nossa parceria também é relevante para que eles consigam visualizar o que já está disponível no mercado.

Na pandemia, comunicação e transparência são características fundamentais da gestão positiva de pessoas

Segundo encontro do evento Abramed #DiálogosDigitais tratou das inúmeras mudanças nos recursos humanos durante e após a crise de COVID-19

25 de agosto de 2020

Conversando sobre a gestão de pessoas na retomada das atividades econômicas, o segundo episódio da série #DiálogosDigitais, projeto promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), tratou das mudanças corporativas que foram impulsionadas pela pandemia de COVID-19 e de como essas mudanças impactarão o futuro dos recursos humanos no país.

O debate virtual foi realizado na noite de 24 de agosto e contou com a participação de Lidia Abdalla, CEO do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica; Milva Gois dos Santos Pagano, presidente-executiva da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (ABPRH); e Tommaso Montemurno, country manager da Bracco Imaging do Brasil. Desta vez a moderação foi de Daniela Bernardo, membro do Comitê de Recursos Humanos da Abramed e sócia trabalhista da Machado Nunes.

Multinacional italiana, porém com grandes operações nos Estados Unidos e na China, a Bracco trouxe uma experiência muito enriquecedora ao debate por ter vivenciado de perto o começo da pandemia do novo coronavírus. “Foi na China que desenvolvemos nossos protocolos, políticas e abordagens para a crise, que depois foram implementadas nos outros países”, comentou Montemurno. Segundo o executivo, adaptações foram necessárias de acordo com o cenário de cada filial.

No Brasil, por exemplo, Montemurno comentou que o deslocamento dos colaboradores precisou ser modificado. “Tivemos que nos adaptar. Em alguns lugares, a política de RH indicava o uso dos meios de transporte públicos. No Brasil montamos um sistema de transporte particular para evitar que os funcionários ficassem expostos”, declarou.

Falando sobre a experiência do Sabin, que tem 5.400 colaboradores em todo o Brasil, Lidia Abdalla enfatizou como a construção de uma relação de confiança entre a empresa e os funcionários foi fundamental para que a companhia pudesse vencer os inúmeros obstáculos que surgiram em um cenário em que os times estavam inseguros.

“Tomamos um enorme cuidado para que não faltassem equipamentos de proteção individual. E realmente não faltou, em nenhum momento. Mesmo pagando mais caro, conseguimos manter essa aquisição extremamente importante para proteção dos nossos colaboradores”, pontuou. Segundo a executiva, 70% da força de trabalho do Sabin está na linha de frente, no atendimento, o que impossibilita o home office. Aliás, para Lidia, o trabalho remoto não será abraçado em sua integralidade pela rede de laboratórios. A presidente acredita que a integração, o contato próximo entre os pares, e a proximidade criada pelo trabalho presencial são indispensáveis ao crescimento, aprendizado e evolução das equipes.

Essa preocupação da empresa com os colaboradores também fez com que a companhia ampliasse seu serviço de atenção primária. Desde o começo da pandemia, colaboradores e familiares dos colaboradores tiveram acesso 24h, por meio de teleatendimento, a profissionais de saúde para consultas e dúvidas. E esse atendimento foi ampliado à saúde mental, visto que a companhia incluiu psicólogos e terapeutas ocupacionais no rol de serviços prestados ao seu público interno. “O suporte emocional tem sido um dos grandes desafios da crise”, disse Lidia.

Tomar atitudes e promover ações de nada adianta se a comunicação não for eficiente. Para Daniela Bernardo, que moderava o debate, um diálogo transparente é indispensável. “Esse é um momento sem precedentes e precisamos de uma comunicação saudável com os colaboradores. Podemos ter erros e acertos, e a comunicação é que fará a diferença”, disse ao convidar Milva Pagano, da ABPHR, para o diálogo.

A executiva à frente da Associação Brasileira dos Profissionais de RH foi direta ao mencionar que nesses momentos de crise torna-se ainda mais visível a necessidade de as empresas colocarem a preocupação com seu corpo de trabalho acima de todas as outras preocupações. Relembrando que empresas são formadas por pessoas e que os negócios dependem desses profissionais, Milva falou sobre como é importante que haja uma coerência entre os anseios pessoais e corporativos.

“Quando você tem na equipe pessoas com propósito pessoal alinhado com o propósito empresarial, tudo flui melhor. E esse alinhamento só é possível quando há preocupação genuína com o ser humano”, pontuou. A executiva ainda complementou que a comunicação é muito importante, mas que “comunicação sem empatia e sensibilidade não vale de nada”.

Essa empatia também se faz presente quando a empresa consegue olhar para cada funcionário de forma individual, entendendo suas particularidades para auxiliá-lo da melhor forma. “As pessoas lidam de forma diferente com as situações”, disse Milva.

Complementando esse raciocínio, Montemurno mencionou que uma das dicas mais valiosas que recebeu das equipes internacionais da Bracco foi a de entender a situação particular de cada membro da equipe. Segundo o executivo, não pensar na diversidade gera muitos problemas. “Uma parte da nossa força de trabalho, direcionada às vendas, foi uma das mais abaladas. As pessoas estavam acostumadas a ficar o tempo inteiro na rua, visitando clientes, e de repente se viram em casa”, exemplificou. Para atingir todos os públicos, a Bracco desenvolveu treinamentos diversos que abordavam desde as ferramentas para o melhor desempenho do trabalho remoto até aulas comportamentais e cursos com foco no emocional.

Lídia também comentou sobre a necessidade de enxergar colaborador por colaborador. “Temos líderes que se cobram de forma diferente, então criamos ações diferenciadas para cada liderança”, esclareceu.

Quanto à testagem dos colaboradores, a executiva que comanda o Sabin explicou qual foi o protocolo adotado pela empresa: foco no rastreamento. Segundo Lidia, a qualquer sinal de sintomas gripais, o colaborador é imediatamente afastado e testado por meio do RT-PCR, exame de diagnóstico para COVID-19 apontado como padrão ouro pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com o resultado positivo, cerca de cinco dias depois todos os profissionais da área em que o colaborador estava infectado também são testados, mesmo que estejam assintomáticos. “Adotamos esse protocolo que nos dá segurança pois conseguimos controlar a disseminação de casos dentro da empresa”, esclareceu.

Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, foi a responsável pela abertura e pelo encerramento do encontro. Na ocasião, trouxe aos participantes uma pergunta enviada por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade, que estava participando da plateia virtual. Shcolnik questionou os participantes qual a maior dificuldade enfrentada e como ela foi solucionada.

Para Lídia Abdalla, a maior dificuldade foi incorporar a necessidade de tomar decisões muito rapidamente e implementar mudanças de forma ágil, entrave solucionado pela criação de um comitê de crise no início da pandemia; Milva Pagano acredita que a falta de informações sobre o público interno interferiu negativamente na agilidade das medidas por parte das companhias, e que isso só pode ser solucionado com o entendimento sobre o perfil populacional e uma boa gestão da saúde; e Tommaso Montemurno disse que lidar com o desespero inicial pela falta de contato próximo com os clientes foi uma barreira que, no final das contas, foi superada de forma mais simples do que imaginavam, visto que ferramentas tecnológicas possibilitam que mesmo com o isolamento social, o contato com os parceiros fosse próximo.

O segundo episódio do Diálogos Digitais está disponível na íntegra no canal do YouTube da Abramed. Clique AQUI para assistir. A próxima edição está marcada para dia 8 de setembro e falará do cuidado à distância, enfatizando a era da telessaúde. Fique atento às redes sociais da Abramed para se inscrever. Os interessados inscritos ganham três meses de assinatura premium no Canal Meio, tendo acesso diário à um resumo relevante de notícias.

Papel do diagnóstico na jornada de volta ao trabalho é debatido em evento on-line

Abramed participa de painel virtual Valor em Saúde

13 de agosto de 2020

A saúde corporativa, a questão assistencial, exames de sorologia e análises clínicas e até outras infecções respiratórias (além das causadas pela COVID-19) estiveram entre os assuntos abordados pelos especialistas que participaram da mesa redonda digital “O Papel do Diagnóstico na jornada de volta ao trabalho” tema do Valor em Saúde, evento on-line organizado pela TMJobs na última quarta-feira, dia 12 de agosto.

Moderador do painel, o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, destacou quão complementares foram as apresentações dos quatro participantes: o médico Marco Antonio Cyrillo, da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia; a infectologista Nancy Bellei, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp); Leonardo Piovesan, que gerencia o programa de saúde integral do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; e o diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Rodrigo Rodrigues Aguiar.

“Essa pandemia atingiu nosso país e provocou mudanças em toda a sociedade”, afirmou  Shcolnik, que diante da informação divulgada pelo diretor da ANS de que a agência deliberaria, no dia seguinte ao talk show, a incorporação dos exames sorológicos na testagem da COVID-19, questionou os debatedores sobre a eficácia desse tipo de teste independentemente da fase de contaminação ou imunização que cada paciente se encontra.

Marco Antonio Cyrillo lembrou que a COVID-19 é muito nova e que, por enquanto, estão sendo utilizados modelos epidemiológicos que partem de versões anteriores do coronavírus. “É muito importante conhecer epidemiologia, conhecer as medidas realmente eficientes e seguramente diminuir o contágio utilizando medidas não farmacológicas porque os estudos são muito conflitantes. Várias sociedades têm se manifestado, inclusive a Sociedade Brasileira de Infectologia, com relação a tratamentos terapêuticos ou profiláticos que não tem respaldo da literatura e não existam em estudos bem desenhados”, disse ele, que é diretor do hospital IGESP, destacando por conta disso a importância dos testes sorológicos para a diminuição da quantidade de novos casos de Covid-19.

Já a apresentação da infectologista da Unifesp Nancy Bellei abordou justamente os vários tipos de exames aplicados para testar os pacientes, bem como as cargas virais e as fases de contágio, considerando os diferentes sintomas apresentados pelos infectados, e ainda que há pacientes assintomáticos. Ela também explicou sobre vacinação e citou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, já começou a ser testada em profissionais da Unifesp.

Wilson Shcolnik perguntou também a respeito das mudanças demandadas na rotina de trabalho de agências reguladoras e órgãos governamentais, como a ANS, bem como os desafios enfrentados pelos serviços de saúde como o programa de saúde integral do hospital Oswaldo cruz. “Foi preciso cuidar de seus colaboradores, médicos, enfermeiros, auxiliares, uma gama de profissionais que atuam dentro do hospital e também os pacientes que procuram o hospital”, disse ele.

De acordo com Leonardo Piovesan, muitos dos atendimentos do Oswaldo Cruz migraram para a plataforma de telemedicina e foi aplicada testagens em larga escala entres os colaboradores. “Facilitou porque já tínhamos mapeados os colaboradores de grupo risco e também uma plataforma de telemedicina”, disse ele, explicando que o hospital alemão ofereceu um serviço de consultoria empresarial no qual infectologistas fazem o mapeamento de layouts de escritórios, orientam os médicos do trabalhos sobre as testagens para o coronavírus mais adequadas a cada caso e ainda ministram palestras aos colaboradores para evitar o contágio da COVID-19.

Menos de 30 dias antes de deixar a sua posição na ANS, Rodrigo Rodrigues Aguiar, aproveitou a oportunidade, a pedido de Shcolnik, para avaliar o trabalho da agência nos últimos anos. “Mesmo não sendo capaz de responder se temos um setor melhor do que tínhamos há três anos, que tenhamos deixado a semente ai que possa germinar para melhor o setor de saúde suplementar”, afirmou, destacando os projetos de melhoria do modelo de atenção primária, bem como a construção nacional de indicadores de hospitais que ficarão prontos no final de 2020.

Primeiro episódio da série Abramed Diálogos Digitais fala de retomada econômica e os impactos na saúde

Evento digital recebeu executivos do Grupo Fleury, Hospital Sírio-Libanês e XP Investimentos

11 de agosto de 2020

Em um momento de tantos desafios, fica ainda mais clara a importância do diálogo aberto e da troca de experiências. Neste contexto, nasce o projeto #DiálogosDigitais, uma série de eventos digitais, promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para dialogar sobre os mais variados temas que afetam a cadeia da saúde. O primeiro episódio da série recebeu, na noite de 11 de agosto, lideranças da saúde e especialistas para tratar da retomada econômica na nova realidade.

Com as incertezas que permeiam o cenário nacional abalado pela pandemia de COVID-19, como gestores, médicos e economistas encaram os desafios que estão pela frente? Moderado por Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, o diálogo contou com a participação de Carlos Alberto Marinelli, CEO do Grupo Fleury; Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês; e Rachel de Sá, economista da XP Investimentos.

Logo após a confirmação do primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil, a crise começou a se instalar. Com a paralisação de algumas atividades, sendo mantidos apenas os serviços essenciais, a economia começou a enxergar que os desafios seriam enormes. Ainda dentro dessa perspectiva, hospitais, laboratórios e clínicas de imagem viram sua movimentação entrar em vertiginosa queda com a suspensão de atendimentos eletivos, visto que a prioridade do país era identificar e tratar pessoas acometidas pela COVID-19.

Diante de tantas incertezas – estávamos frente a uma doença nova em uma situação difícil de ser compreendida em tão pouco tempo – o conhecimento foi evoluindo tanto na área da saúde quanto na economia. É o que explica Rachel de Sá. “No começo, a maior parte dos economistas do mundo entendiam que vivíamos uma crise de oferta. Porém, depois da compreensão de que o grande problema do novo coronavírus não era a letalidade, mas sim a disseminação muito rápida que ameaçava os sistemas de saúde, entramos em isolamento social e a economia mundial parou. Começamos, então, a avaliar que a COVID-19 era uma crise da economia real, que trazia tanto problemas de oferta quanto de demanda”, disse.

Para os serviços de saúde, a crise também se instalou. Apontando que a incerteza é o maior desafio de todos nesse momento, Carlos Marinelli, falando sob a ótica do Grupo Fleury, traçou um panorama das atividades da rede ao longo dos últimos meses enfatizando que os resultados da companhia mostram que o segundo trimestre de 2020 foi, de fato, muito desafiador.

Lembrando de cenários internacionais como o de Nova Iorque, nos Estados Unidos, que acusou aumento de 800% no número de mortes nas residências por doenças cardíacas ocasionadas principalmente pelo receio das pessoas buscarem atendimento médico e, assim, serem contaminadas com a COVID-19 nos equipamentos de saúde, Marinelli avaliou o segundo semestre. “Cuidados de saúde são prioritários e chega uma hora que a pessoa precisa ir ao médico, precisa fazer seus exames. Quando projetamos 2020, pensamos que uma segunda onda de infecções pelo novo coronavírus não seja o cenário mais provável, visto que infelizmente não tivemos um controle tão efetivo da pandemia”, pontuou. “A gente não teve um colapso do sistema de saúde, o que foi muito positivo. Mas isso não quer dizer que controlamos a pandemia da melhor maneira”, completou.

Ao falar sobre a contenção do patógeno na sociedade, o executivo declara que todos estão a cada dia aprendendo mais sobre a doença e sobre como os serviços devem se comportar em um país continental como o Brasil, onde os surtos chegaram em tempos e com intensidades diferentes. “Trabalhamos com pesquisadores da USP e da Unifesp para entender a prevalência de COVID-19 na cidade de São Paulo e o que vemos é uma divergência muito grande em função do nível de renda, visto que em regiões mais pobres já vemos soro prevalência batendo 23%”, apontou. Segundo Marinelli, quando a porcentagem de pessoas que já tiveram contato com o vírus chega a esse patamar, começamos a observar características de imunidade de rebanho. “E é isso que reforça nossa percepção de que não necessariamente teremos uma segunda onda”, disse.

Trazendo dados sobre como o Hospital Sírio-Libanês foi impactado pelo alto número de casos de COVID-19 de março até hoje, Paulo Chapchap fez uma análise de como a pandemia provocou uma mudança na saúde geral da população, mesmo naqueles indivíduos que não se contaminaram com o novo coronavírus. “Começamos a ver internações de pacientes muito mais graves. Tanto de COVID-19 quanto de quem não tinha COVID-19”, disse. O executivo no comando do hospital acredita que nos próximos meses assistiremos o número de exames de diagnóstico voltar a 90% do que era realizado na pré-pandemia.

Papel da testagem – Priscilla provocou os participantes a falarem sobre o papel do diagnóstico nesse cenário. “Sabemos quão importante é a testagem para que a retomada realmente ocorra e que temos testes cada dia mais confiáveis. Temos ciência de que o exame molecular RT-PCR é o padrão ouro para diagnóstico da COVID-19, mas vemos que os testes sorológicos estão a cada dia mais assertivos. Como está esse cenário hoje?”, questionou.

Sem deixar de reforçar que a melhor estratégia para o combate de uma pandemia infecciosa como a COVID-19 é testar, isolar e rastrear, Marinelli falou sobre o teste sorológico como um excelente caminho para empresas que estão retornando às atividades. “Muitas pessoas contaminadas não têm nenhum sintoma característico. O RT-PCR identifica a fase aguda da doença. Vamos, então, testar essas pessoas o tempo todo para identificar o patógeno? Nesse caso, testar pela sorologia é mais vantajoso. Caso o paciente apresente IgM alto, sabemos que está no período mais crítico da doença. Se tiver alto o IgG, é porque já teve contato e o corpo dele já se manifestou, mesmo que não tenha tido sintomas e complicações”, explicou.

Comportamento do cidadão – Chapchap aproveitou a oportunidade para enfatizar que vivemos uma crise onde o cidadão tem papel fundamental. “Uma infecção de transmissão respiratória como a COVID-19 é a situação em que o paciente é mais responsável pelo que acontece com ele. A gente sabe evitar essa doença e nessa pandemia somos responsáveis pela nossa saúde e pela saúde de todos que vamos encontrar”, declarou.

Para Marinelli, com o passar dos meses o conhecimento se multiplicou, mas não adianta compreender melhor a doença se o comportamento não se adéqua aos cenários. “Todos sabemos que temos que usar máscara. Não deveríamos nem estar saindo, mas se já estamos podendo sair, vamos usar a máscara”, enfatizou.

Previsão para 2021 – Para Rachel, a resposta brasileira em termos de política pública foi muito positiva. Em sua análise, a economista declarou que o Brasil, no comparativo com países emergentes da América Latina, é um dos que menos assistirá a quedas econômicas. “Os gastos desse ano estão precificados e justificados. A grande preocupação está no próximo ano”, disse ao mencionar que o que levou o país para a crise que se instalou antes da chegada da COVID-19 foi um cenário similar ao que está sendo traçado agora, onde após políticas econômicas acertadas as políticas contracíclicas permaneceram somadas à estratégia fiscal de estímulo à demanda sem que fosse necessário. “O grande problema era a oferta”, completou.

Para Chapchap, o caminho é único: “Se o Brasil se comportar do ponto de vista fiscal, ano que vem não teremos um problema tão grande para lidar”.

Em termos de saúde, Marinelli se preocupa em não perdermos tudo o que conquistamos em prevenção. Relembrando que muitas pessoas deixaram de fazer suas consultas, exames e cirurgias por medo da contaminação, mas, também, pela paralisação das atividades (muitos serviços públicos cancelaram os atendimentos eletivos), falou sobre a adaptação das instituições para separar os pacientes garantindo segurança nos atendimentos.

“Posso garantir que os locais hoje estão seguros, com fluxos completamente separados. O conhecimento vai nos ajudar a não perder ganhos significativos que tivemos. Além disso, parcimônia e equilíbrio são fatores críticos para retornarmos à nossa normalidade sem desperdiçar a grande evolução que conquistamos com as campanhas de prevenção em saúde que investimos há anos no nosso país”, disse.

Legado da pandemia – Para encerrar o debate, Priscilla trouxe uma pergunta do presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik, que questionou aos palestrantes os dois principais pontos de aprendizado que eles acreditam que ficarão para a história.

Rachel, da XP Investimentos, apontou a adesão tecnológica que fez com que as empresas conseguissem bons resultados mesmo diante da crise e a lição de que a responsabilidade fiscal não deve ser um fim, mas um meio para obtenção de respostas em momentos desafiadores; Paulo Chapchap mencionou a compreensão sobre as benesses da ciência de dados gerando informações que baseiam a tomada de decisões, além de que equipes bem treinadas e um bom ambiente de trabalho são fatores fundamentais para o enfrentamento; e Carlos Marinelli enfatizou que estabelecer uma cultura empresarial forte, aprender a fazer mais com menos, foi um dos aprendizados, assim como a percepção de que a tecnologia em saúde é real e pode contribuir de forma grandiosa para os atendimentos e a qualidade de vida de todos.

O bate-papo está disponível no canal do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir). O próximo debate do projeto Diálogos Digitais também tratará da nova realidade após a crise de COVID-19, porém enfocando a gestão de pessoas. Siga a Associação nas redes sociais (Instagram, Facebook e LinkedIn) e fique por dentro.