Abramed avança na discussão sobre interoperabilidade e padrão LOINC no Brasil

Junto ao Instituto HL7 Brasil e à SBIS, a entidade vem impulsionando a transformação digital em prol da sustentabilidade

Nos últimos anos, a área da saúde tem enfrentado um cenário de transformação digital que tem revolucionado a forma como os dados são gerenciados e compartilhados. No entanto, ainda enfrenta desafios significativos na adoção de padrões de informação que permitam a interoperabilidade entre sistemas e a melhoria da qualidade dos cuidados.

Quando se trabalha com a padronização de dados, há mais estabilidade e previsibilidade, o que facilita a antecipação de requisitos de negócios, a economia de recursos e a redução de erros, colaborando para a sustentabilidade de toda a cadeia da saúde.

A Abramed vem se dedicando para avançar na discussão da interoperabilidade e do padrão LOINC através de seus comitês e em parcerias com outras entidades, buscando uma padronização nacional. O LOINC é um modelo internacional de terminologia para procedimentos de diagnóstico laboratorial, de imagem médica e outros, que exige o detalhamento de cada exame e resultado em todos os níveis, garantindo a interoperabilidade e a qualidade dos dados.

Em 2018, a tradução do LOINC para o português no Brasil foi iniciada pela DASA. Atualmente, existem 62.659 termos na hierarquia de Laboratório no LOINC, dos quais cerca de 29 mil já foram traduzidos para português. Essa iniciativa está sendo liderada pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), em colaboração com o Instituto HL7 Brasil e a Abramed.

“Esse é o primeiro movimento que pode contribuir efetivamente para a priorização de algo tão relevante para a medicina diagnóstica quanto o LOINC, porque a Abramed tem os players adequados e a governança necessária para traduzir e manter o LOINC para que seja adotado como um padrão nacional. Parabéns pela proposta de enfrentar esse desafio”, disse Lincoln A. Moura Jr, consultor em estratégias de saúde digital, durante palestra na Reunião Mensal de Associados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), em setembro.

A colaboração entre a Abramed, o Instituto HL7 Brasil e a SBIS é fundamental para impulsionar essa transformação e garantir um futuro mais eficiente e seguro para a saúde no Brasil. O tema é tão importante que a associação criou recentemente o Comitê de Interoperabilidade.

Por que LOINC?

O LOINC busca estabelecer a noção de que cada exame solicitado e cada resultado devem ser detalhados em todos os níveis. Para que essa troca de informações seja eficaz, ela deve atender a alguns requisitos, como padronização, legibilidade por máquinas, adaptabilidade, base em requisitos e testabilidade.

O LOINC abrange uma ampla gama de resultados de análises clínicas, incluindo áreas como bioquímica, toxicologia, hematologia, microbiologia e muitas outras. Ele segue políticas de desenvolvimento que incluem a marcação de termos errôneos ou duplicados em vez de removê-los, o que garante a preservação de registros históricos. Esse vasto sistema tem mais de 102 mil componentes, mais de 62 mil dados de laboratórios e mais de 27 mil dados clínicos.

Seu conteúdo é organizado em um banco de dados, onde cada termo possui sinônimos e um conjunto de atributos detalhados. Uma característica essencial é que seu uso é gratuito, não exigindo acordos assinados. No entanto, para Lincoln, é fundamental estabelecer governança para determinar como e quando incorporar novos termos. Não faz sentido entidades terem suas próprias versões.

“A missão da Abramed é contribuir para a saúde pública no Brasil. Não basta termos um código LOINC para cada instituição; é necessário estabelecer um código nacional. Esse é o compromisso que vamos assumir e, posteriormente, estender esse esforço às empresas desenvolvedoras de sistemas. Afinal, elas serão as responsáveis pela relação com a tabela TUSS do Ministério da Saúde, para que os médicos compreendam que os exames serão codificados de forma que os sistemas possam se comunicar sem confusões”, ressaltou Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Sobre os entraves ao desenvolvimento da interoperabilidade, Lincoln considera que são muito mais organizacionais do que tecnológicos ou financeiros. “Envolvem mais a nossa capacidade de nos organizarmos para construir um consenso entre os diversos participantes, sejam empresas associadas da Abramed, empresas que desenvolvem softwares, o governo ou os representantes dos pacientes. Estamos falando em ter um conjunto significativo de atores que possam construir esse consenso, isso é imbatível”, finalizou.

Como vencer as barreiras da transformação digital na saúde

A adoção do padrão FHIR é uma estratégia para impulsionar a mudança, permitindo a interoperabilidade de dados

Enquanto outros setores têm adotado tecnologias digitais rapidamente, a área da saúde enfrenta desafios em relação a essa transformação. A Tecnologia da Informação (TI) continua em estágios iniciais, e a utilização de padrões para integração entre negócios e usuários não está bem estabelecida. Além disso, existem outros obstáculos, como questões culturais, regulamentações e resistência às mudanças. A análise foi feita por Guilherme Zwicker, presidente do Instituto HL7 Brasil, durante palestra na Reunião Mensal de Associados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), em setembro.

A questão sobre se o digital é realmente benéfico para a saúde pode parecer absurda agora, mas não era no passado. O setor está em constante evolução, e é importante considerar como causar um impacto positivo. Segundo Zwicker, é preciso gerenciar melhor os registros de saúde, empoderar o usuário e dar acesso ao dono do dado, que é o paciente. “No entanto, esse é um desafio complexo devido a intermediários e às dificuldades técnicas que as empresas enfrentam ao entregar isso”, expôs. 

Também é preciso tornar mais eficientes as práticas de trabalho existentes e os fluxos de pacientes, bem como melhorar o processo de tomada de decisão sobre cuidados e criar novas maneiras de conectar prestadores com aqueles que requerem assistência. “Tudo isso é fácil de fazer mal, difícil de fazer bem e ameaça o modelo de negócios existente de alguém. Por isso há uma grande resistência para que essas modificações aconteçam de fato”, destacou Zwicker.

Para trazer a internet para a área de saúde, o Instituto HL7 Brasil desenvolveu o FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources), permitindo a troca de informações de forma mais eficiente e colaborando para a interoperabilidade dos dados. O FHIR é um padrão aberto e de domínio público que descreve como as informações de saúde podem ser trocadas por meio de interfaces de programação de aplicativos (APIs). Isso possibilita maior conectividade entre prestadores de cuidados de saúde e pacientes.

Um exemplo de sucesso na implementação do FHIR é o Projeto Argonauta, do governo dos Estados Unidos. Em 2011, o custo total de aquisição de uma conexão à prontuário de saúde pessoal (PHR) era aproximadamente de US$ 100.000,00, incluindo despesas relacionadas ao desenvolvimento, aspectos legais, marketing, testes, retrabalhos e manutenção.

O governo dos Estados Unidos estava interessado em estabelecer um acesso padronizado aos prontuários dos pacientes e propôs um projeto colaborativo com o setor privado para desenvolver uma API padrão que permitisse aos pacientes acessarem seus registros de saúde. Os fornecedores de saúde optaram pelo FHIR, que foi renomeado para FHIR US-Core.

Hoje em dia, o custo desse acesso aos prontuários de saúde praticamente foi reduzido a zero, porque a conexão PHR por meio da FHIR US-Core se tornou uma commodity, com login de acesso padronizado nos sites. As únicas despesas estão relacionadas à gestão interna de projetos, não sendo mais necessário destinar recursos à adaptação de conceitos diversos para integrar sistemas heterogêneos. 

O FHIR tem sido adotado em todo o mundo em projetos de saúde. Nos Estados Unidos, é obrigatório para instituições que atuam no setor, enquanto no Canadá, na Austrália, na Europa, na América Latina e na África, também tem ganhado destaque em diversos projetos de saúde pública e cuidados de saúde.

O HL7 abriu mão da licença de uso restrito do FHIR, o que significa que é permitido copiar, modificar, distribuir e utilizar, inclusive para fins comerciais, sem a necessidade de obter permissão. “É uma das licenças mais abertas disponíveis”, reforçou Zwicker. 

Qualquer pessoa ou empresa pode participar da Cultura FHIR. É uma construção comunitária, realizada por ciclos e demonstrações contínuas. Para fomentar a colaboração e a inovação na área da saúde, são realizados Connectathons, reuniões presenciais, teleconferências e fóruns.

Diferenças entre FHIR e LOINC

O FHIR é um padrão de interoperabilidade de saúde que aborda a troca de uma ampla variedade de informações de saúde eletrônicas, enquanto o LOINC (Logical Observation Identifiers, Names and Codes) é uma terminologia de codificação focada na padronização de observações clínicas e resultados laboratoriais. Ambos desempenham papéis importantes no ecossistema de saúde digital, mas têm finalidades diferentes. Frequentemente, são usados em conjunto para garantir a interoperabilidade e a padronização dos dados de saúde.

Clínicas e laboratórios investem em espaços lúdicos para crianças

Os ambientes dedicados exclusivamente a esses pacientes contribuem para uma melhor experiência e tranquilidade de toda a família

A conscientização sobre a importância do bem-estar infantil em clínicas e laboratórios vem crescendo e muitos estabelecimentos perceberam a necessidade de criar ambientes mais acolhedores e amigáveis. Investir no conforto e na segurança das crianças tornou-se uma prioridade, pois isso pode melhorar significativamente a experiência das famílias que buscam cuidados de saúde. 

Atualmente, as prestadoras de serviços de diagnóstico contam com espaços dedicados exclusivamente a esse público, com brinquedos, jogos educativos e decorações alegres. Além disso, as equipes de saúde passaram a receber treinamento especializado em lidar com pacientes pediátricos, o que contribui para uma abordagem mais sensível e empática.

Acolhimento

Uma dessas clínicas é a CDPI Criança, do Rio de Janeiro, que surgiu no começo dos anos 2000 justamente para fazer essa diferenciação. “Passamos a ter um espaço exclusivo para atendimento aos pequenos pacientes. Na recepção já tínhamos uma área de lazer com brinquedos, além de um espaço mais lúdico para entreter as crianças e deixá-las mais tranquilas”, explica Tatiana Fazecas, radiologista pediátrica da CDPI Criança, que faz parte da Dasa.

Segundo ela, o espaço infantil é a melhor forma de acolher a criança. “Também temos um cuidado especial com os pais, que muitas vezes estão estressados com a saúde dos filhos e precisam de um atendimento mais cuidadoso”, complementa.

A equipe da CDPI Criança é formada por especialistas em pediatria, ou seja, todos os profissionais e equipes multidisciplinares, incluindo radiologistas pediátricos, equipes de enfermagem, apoio ao diagnóstico e técnicos, têm formação geral em suas áreas e especialização em cuidado infantil. “Isso traz inúmeras vantagens, como o conhecimento mais aprofundado em como lidar com a criança, desde o acolhimento na sala de espera até o momento da realização do exame, diagnóstico diferenciado e preciso das patologias pediátricas e exames mais direcionados com menor tempo de execução”, destaca Tatiana.

No contexto da realização de tomografias computadorizadas em pacientes pediátricos, a equipe especializada demonstra uma atenção extra à dose de radiação necessária e à condução do exame. A expertise em patologias pediátricas permite programar exames com doses de radiação reduzidas e protocolos adaptados à faixa etária, garantindo a segurança e a qualidade do diagnóstico.

Além disso, na CDPI Criança, a utilização da sedação em pacientes pediátricos durante tomografias é minimizada devido à eficiência dos aparelhos e ao foco nas necessidades das crianças. Em relação à ressonância magnética, quando necessária, são adotadas abordagens para evitar a sedação, como a comunicação clara com o paciente para reduzir ansiedade e a possibilidade de acompanhamento dos pais durante o procedimento.

Humanização

Goiânia está prestes a contar com uma unidade infantil totalmente lúdica do Laboratório Padrão, marca que passou a integrar o Grupo Fleury este ano. No novo laboratório a criança encontra um castelo com personagens logo ao entrar. Na recepção, uma linda paisagem transmite calma, causando a sensação de imersão em uma floresta. 

As portas dos elevadores dão continuidade ao interior da floresta. Elas se abrem como um distanciamento entre as árvores e trazem os animais. A sala de espera é uma brinquedoteca dentro do castelo, com brinquedos, mobiliários e desenhos para colorir alinhados à temática.

Para coletas de exames e vacinas há várias salas: do Castelo, dos Dragões, das Princesas, dos Animais, dos Unicórnios, da Floresta e dos Guerreiros. O colchonete das camas, os jalecos dos atendentes e até os curativos são personalizados com o tema. Ao final do atendimento, a criança leva um brinde e o certificado de coragem. 

“Além do ambiente lúdico e do espaço preparado para a comodidade das famílias, nossa equipe está treinada para oferecer o manejo e os cuidados adequados ao realizar a coleta dos pequenos clientes. O objetivo é proporcionar uma melhor experiência para todos na hora de cuidar da saúde”, diz a coordenadora de operações da rede de Laboratórios Padrão, Mariana Rodrigues.

Ela reforça ainda que a unidade também realiza o atendimento para adultos. Sendo assim, enquanto os pais fazem alguma coleta ou exame, os filhos podem aguardar em um ambiente acolhedor. 

Ambientação

No laboratório do Lab Imagem, do CURA grupo, em Londrina, também há um espaço kids dedicado ao acolhimento de crianças em processo de coleta de exames. A ambientação é completamente adequada a elas, com salas lúdicas decoradas com desenhos e cores que são familiares ao seu mundo. Na sala de brinquedos, podem se distrair enquanto aguardam atendimento.

Além disso, há um certificado de coragem e um painel com bichinhos disponíveis. O jaleco usado também possui uma cor diferenciada, ocasionalmente colorido, de forma que a criança não associe ao branco típico de hospitais. Todas essas medidas visam tornar o processo de coleta menos impactante.

Ela conta que os melhores técnicos de enfermagem, especialmente aqueles com maior empatia no cuidado com as crianças, foram selecionados para treinamentos de coleta no Hospital do Câncer de Londrina, uma vez que as veias das crianças são tão finas quanto as dos pacientes em tratamento quimioterápico.

Dessa forma, os técnicos receberam capacitação para aperfeiçoar a punção durante a coleta com maior cuidado. “Atualmente, o nosso Espaço Kids, que agora está mais estabelecido, conta com uma equipe inteiramente dedicada não apenas às crianças, mas também aos recém-nascidos”, explica Katlin Marçal, gerente de operações do Lab Imagem.

Tudo isso prova que um ambiente acolhedor e apropriado pode fazer uma diferença significativa na jornada de tratamento e na construção de uma relação de confiança com os pacientes mais jovens. O laboratório não precisa ser um ambiente frio e pouco amigável.

Abramed registra aumento de 73,2% no número de exames de Covid-19 realizados em setembro

Os dados são em comparação a agosto e também mostram crescimento de 12 pontos percentuais na taxa de positividade, indicando nova onda

Uma onda de Covid-19 – mais amena que as anteriores – começou em agosto e pode ter atingido o pico em setembro, segundo dados compilados pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados representam cerca de 65% dos exames realizados na Saúde Suplementar no Brasil.

Em agosto de 2023, foram realizados 26.530 exames de Covid-19, com 11% de positividade (2.870). Já em setembro, os números saltaram para 45.957 exames e 23% de positividade (10.518). Isso significa um aumento de 73,2% no número de exames e de 12 pontos percentuais na taxa de positividade.

Analisando o mês de junho, quando foram realizados 45.204 exames de Covid-19, quantidade parecida com setembro, a taxa de positividade foi bem menor, de 5%. Vale ressaltar que os exames que mostram esses resultados foram feitos nos laboratórios clínicos, não incluindo testes feitos em outros locais.

Segundo a entidade, a quantidade de exames identificada ainda é muito menor em comparação ao pico da doença, mas o comportamento da taxa de positividade é similar ao de outras ondas.

A Abramed desempenha um papel fundamental na compilação e no registro de dados relacionados à evolução da Covid-19. Os laboratórios clínicos associados enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde.

Essas informações são essenciais para avaliar a situação da pandemia e orientar as medidas de saúde pública. A entidade também enfatiza a importância de seguir as diretrizes de prevenção e cuidados para combater a propagação do vírus e proteger a saúde de todos.

Brasil vive cenário desafiador na saúde, marcado por quedas nas receitas e alta sinistralidade

Segundo capítulo do 5º Painel Abramed destaca o papel estratégico da medicina diagnóstica e os desafios da Saúde Suplementar

As despesas com saúde no Brasil alcançaram entre R$ 912 bilhões e R$ 951 bilhões em 2022, representando um aumento real de aproximadamente 10% em relação a 2019, segundo projeção da Abramed. Esse crescimento é uma tendência mundial.

Dentro do contexto da saúde, o setor de medicina diagnóstica desempenha um papel estratégico, pois os serviços oferecidos são a fonte mais econômica e menos invasiva de se obter informações objetivas sobre o estado de saúde do paciente.

Essas e outras informações são detalhadas no segundo capítulo do 5º Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, intitulado “Panorama do Setor de Saúde no Brasil”, que oferece uma visão abrangente do contexto da saúde no país, com foco especial no setor de medicina diagnóstica.

“Esses dados foram cuidadosamente organizados para ajudar os leitores a entenderem a dinâmica do sistema, revelando não apenas os investimentos, mas também evidenciando os desafios enfrentados pelo setor e as oportunidades para aprimorar a qualidade e efetividade dos serviços prestados no país”, comenta Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed.

Em termos de infraestrutura de serviços, o capítulo aborda os maiores desafios, como a desigualdade regional na disponibilidade de hospitais. As regiões Sudeste e Centro-Oeste possuem maior proporção de hospitais em relação ao tamanho de suas populações, enquanto a região Nordeste apresenta menos hospitais nesta comparação.

Sobre o número de equipamentos de diagnóstico por imagem, os gráficos mostram aumento geral na quantidade em uso no Brasil entre 2021 e 2022. O maior crescimento registrado foi de tomógrafos computadorizados (14%), seguido do ultrassom (12%). O material também revela o aumento no número de equipamentos por métodos gráficos e ópticos no país.

Com relação à mão de obra médica, o Brasil viu um crescimento de mais de 80% no número de médicos, de 2010 ao final de 2022. Isso contribui para melhorar o acesso aos serviços de saúde, embora o país ainda esteja atrás da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em termos de proporção de médicos para a população.

O capítulo aborda, ainda, o cenário da Saúde Suplementar pós-pandemia. Houve uma queda de 3,3% nas receitas, passando de R$ 239 bilhões em 2021 para R$ 231 bilhões em 2022, o que compromete a estabilidade financeira do setor, afetando a qualidade dos serviços.

As despesas assistenciais, principalmente internações hospitalares, permaneceram estáveis, em torno de R$ 206 bilhões, indicando um cenário inédito de estabilidade. Já os exames complementares representaram um grupo crescente de despesas, com uma participação de 20,2% nos custos totais.

A sinistralidade, que mede a proporção entre despesas e receitas das operadoras, atingiu níveis preocupantes em várias modalidades, com destaque para a Autogestão (94%) e Seguradora Especializada em Saúde (93%). A persistente alta pode ser atribuída a diversos fatores, como aumento da demanda por serviços de saúde, inflação médica e custos mais altos de procedimentos.

Além disso, o prazo médio de pagamento por parte das operadoras aos prestadores de serviços de saúde variou consideravelmente, chegando a até dois meses em alguns casos. Isso pode impactar a qualidade e a continuidade dos serviços prestados.

Em relação ao total de beneficiários da Saúde Suplementar, o número ultrapassou 81 milhões em 2022, com cerca de 50 milhões na assistência médico-hospitalar e aproximadamente 31 milhões no setor odontológico. Isso representou um aumento de aproximadamente 3,8% em comparação a 2021. 

“A Saúde Suplementar no Brasil enfrenta um cenário desafiador, marcado por quedas nas receitas, alta sinistralidade, ampliação dos prazos de pagamento. O crescimento no número de beneficiários reflete uma recuperação econômica, mas também observamos uma mudança no perfil destes beneficiários, com uma maior conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde, exigindo ainda mais a busca por soluções sustentáveis e parcerias estratégicas para garantir a estabilidade e a qualidade do setor”, analisa Milva.

Convidamos você a aprofundar a compreensão das implicações dessas mudanças e a descobrir as estratégias necessárias para enfrentar os desafios que o futuro reserva. Faça o download gratuito do 5º Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e tenha acesso ao conteúdo completo. São cinco capítulos, abrangendo 274 páginas com importantes informações para ajudar no desenvolvimento sustentável e integrado do setor de saúde.

Associados à Abramed realizaram mais de 720 milhões de exames em 2022

Terceiro capítulo da quinta edição do Painel Abramed explora dados sobre recursos humanos, produção assistencial e desempenho econômico

Em 2022, as associadas à Abramed realizaram mais de 720 milhões de exames de diagnóstico, um crescimento de 10% em relação a 2021. Esse aumento foi ainda mais significativo, considerando que o setor já havia se recuperado da queda de exames em 2020 devido à pandemia de Covid-19.

O segmento de análises clínicas lidera o volume de exames, com 677 milhões realizados em 2022, enquanto a área de diagnósticos por imagem atingiu 25 milhões. É importante destacar que os exames realizados pelas associadas à Abramed correspondem a mais de 65% do total feito na saúde suplementar no Brasil, mostrando sua representatividade e importância para o desenvolvimento do setor.

Todos os indicadores setoriais referentes a 2022 estão descritos no terceiro capítulo do recém-lançado Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico. Nele são explorados dados relacionados a recursos humanos, produção assistencial, avaliação dos serviços, desempenho econômico-financeiro e governança corporativa das associadas à Abramed. Estas informações são de extrema importância para uma visão abrangente do funcionamento desse setor em constante evolução.

Os gráficos mostram que as associadas atuam em diversos segmentos, incluindo análises clínicas, anatomia patológica e diagnóstico por imagem. Com a fusão de empresas e a integração de novas associadas, o perfil de atuação tem evoluído ao longo dos anos. Em 2022, a maioria (74%) estava focada em diagnóstico por imagem, análises clínicas e anatomia patológica. Menos de 30% atuaram em telerradiologia e telemedicina. 

Essas empresas têm se destacado por investir em tecnologia, tornando os serviços mais acessíveis e eficientes. Tecnologias como telessaúde, telepatologia e telerradiologia estão sendo amplamente adotadas. Além disso, muitas estão aderindo a modelos de atendimento móvel, levando a medicina diagnóstica diretamente aos pacientes.

Com mais de 290 mil colaboradores em 2022, o setor emprega uma força de trabalho multidisciplinar, incluindo profissionais médicos e técnicos. Há um foco crescente na formação técnica, com 42% dos colaboradores atuando nessa área. Além disso, a remuneração variável é o modelo predominante para médicos (46,7%).

De acordo com o painel, os pacientes demonstraram alto nível de satisfação com o serviço de diagnóstico recebido, com um Net Promoter Score (NPS) de 73,20 em 2022. As empresas também se esforçam para manter altos padrões de governança corporativa, com controles internos, transparência e conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

“A ênfase na governança corporativa é evidente nos dados, com todas as empresas associadas se comprometendo com elevados padrões de transparência e controle interno. Isso é essencial para garantir a qualidade dos serviços e a confiabilidade das informações em nosso setor”, salienta Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed.

Apesar dos desafios econômicos, a área de medicina diagnóstica mostrou resiliência, com uma receita operacional bruta de cerca de R$ 24 bilhões em 2022. Os investimentos se concentraram em aquisição de equipamentos de imagem, expansão de unidades de atendimento e tecnologias de informação. No entanto, o setor enfrenta desafios relacionados ao prazo médio de recebimento e às glosas indevidas.

“Com um prazo médio de 52 dias em 2022, a longa espera por pagamentos afeta significativamente os fluxos de caixa das empresas. Além disso, a glosa inicial correspondeu a 3,35% das receitas do setor. Isso pode prejudicar a capacidade de investimento, o pagamento de salários e a expansão de serviços de diagnóstico de alta qualidade. A colaboração com as operadoras de planos de saúde é essencial para otimizar esse aspecto”, comenta Paes Junior.

E isso se torna ainda mais uma necessidade, pois as empresas ligadas à Abramed obtêm sua principal fonte de receita dos planos e seguros de saúde privados. Em 2022, essa parcela correspondeu a 60,7% da receita total do setor. Os pagamentos derivados de acordos comerciais com laboratórios, na modalidade B2B, representaram aproximadamente 27,52% da receita, enquanto os pagamentos diretos feitos por pacientes particulares compuseram 9,52%. As fontes de financiamento públicas, por outro lado, contribuíram apenas com 0,66% da receita.Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e tenha acesso ao conteúdo completo, repleto de gráficos e análises aprofundadas. São cinco capítulos, abrangendo 274 páginas com informações para ajudar no desenvolvimento sustentável e integrado do setor de saúde brasileiro.

Sistemas de saúde globais: a análise de dez países e a importância da medicina diagnóstica

O quarto capítulo do 5º Painel Abramed mostra os principais sistemas de saúde no mundo, sua organização e influência.

O debate sobre os desafios enfrentados pelos sistemas de saúde ao redor do mundo é uma questão de interesse global. Cada país enfrenta seus próprios dilemas e adota abordagens únicas para superá-los. A Abramed reconhece a importância dessa discussão e incluiu um capítulo dedicado a esse tema na 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico.

Os sistemas de saúde são cruciais para a qualidade de vida. Uma estrutura bem organizada resulta em custos mais baixos, maior cobertura da população, melhor qualidade de atendimento e estímulo à inovação na área da saúde. Os principais atores são: beneficiários, prestadores e financiadores, e a tipologia mais utilizada é a RW1, que identifica 27 maneiras de organizar esses sistemas, considerando serviços, financiamento e regulamentação.

Apesar das muitas possibilidades teóricas, apenas cinco sistemas são viáveis na prática, conforme análise da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A regulação desempenha um papel vital na definição das regras e pode ser governamental, autorregulação ou privada. Em nenhum país da OCDE o mercado detém controle total na regulação, com o governo ou entidades não governamentais atuando em pelo menos uma das seis áreas-chave.

Os sistemas de saúde também variaram historicamente, indo desde o financiamento por famílias e caridade até sistemas organizados. Os três modelos principais de financiamento são público, privado e misto. Quanto à prestação de serviços, diferentes tipos: públicos, privados sem fins lucrativos e com fins lucrativos podem atender em sistemas variados.

Os modelos de atenção à saúde desempenham papel fundamental na produção de cuidados de saúde, influenciando como os serviços são entregues e acessados. A atenção coordenada à saúde prioriza prevenção e cuidados contínuos, reduzindo a fragmentação dos serviços e envolvendo protocolos e encaminhamentos. Essa abordagem é adotada em sistemas de saúde em vários países.

Sistemas de saúde pelo mundo

Os sistemas de saúde ao redor do mundo são diversos em sua organização e funcionamento. Este capítulo do Painel Abramed analisa dez países, entre eles, a Alemanha, que possui um sistema composto por seguro de saúde compulsório (SSC) e seguro de saúde privado (SSP). O SSC abrange a maioria da população, com contribuições divididas entre empregado e empregador. Os beneficiários têm liberdade de escolha de médicos e provedores de serviços. A regulação é supervisionada pelo Ministério da Saúde Federal, e o planejamento hospitalar é responsabilidade dos governos locais.

Na Argentina, o sistema de saúde inclui obras sociais, que cobrem cerca de 55% da população, além do sistema público, para aproximadamente 35%. As obras sociais são financiadas pelas contribuições de trabalhadores e empregadores, já o sistema público é administrado pelas províncias e utilizado por pessoas de menor renda. O seguro de saúde privado cobre 8% da população, e médicos trabalham em consultórios próprios.

Os Estados Unidos possuem um sistema de saúde complexo, com um grande setor privado e público. O Medicare e o Medicaid são programas públicos que atendem populações específicas. O setor privado desempenha um papel significativo, com a maioria dos americanos em planos privados. A regulamentação do governo nos EUA incide principalmente sobre medicamentos e produtos médicos.

Já o sistema de saúde francês é financiado por meio de impostos e um tributo específico. O governo central da França desempenha papel central na supervisão e organização do sistema. A prestação de serviços de saúde é mista, com médicos geralmente em consultórios privados. A remuneração dos médicos e hospitais é determinada pelo governo.

O Reino Unido possui o National Health Service (NHS), financiado por meio de impostos, fornecendo serviços de saúde gratuitos. O governo desempenha um papel central na regulação, no financiamento e na prestação de serviços.

Por sua vez, o Brasil possui dois subsistemas distintos de saúde: o SUS (Sistema Único de Saúde) e a Saúde Suplementar. O SUS é financiado por taxas e impostos e oferece cobertura universal, com prestação de serviços pública e privada. A Saúde Suplementar é financiada por recursos privados e regulamentada pelo Estado, mas a relação entre financiadores e prestadores é principalmente privada.

Confira no Painel outros detalhes desses países e também de Canadá, China, Dinamarca e Israel.

A medicina diagnóstica e os sistemas de saúde

Nos últimos anos, a relação entre medicina diagnóstica e sistemas de saúde se tornou crítica, especialmente no Brasil, devido a desafios complexos que afetam a eficiência e a qualidade do sistema. Fatores como o envelhecimento da população, a queda na natalidade e a transição epidemiológica têm aumentado a pressão sobre os sistemas de saúde, levando a uma demanda crescente por cuidados médicos, sobretudo para doenças crônicas e degenerativas, resultando em custos mais elevados.

“A moderação no uso dos recursos é necessária, enfocando a pertinência dos procedimentos diagnósticos, visto que estudos indicam tanto a subutilização quanto a sobreutilização desses procedimentos, destacando a importância de uma abordagem baseada em evidências científicas”, salienta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração.

Segundo ele, é essencial que políticas de saúde sejam orientadas por informações precisas e atualizadas, garantindo que a medicina diagnóstica desempenhe um papel fundamental na promoção da saúde, gerenciamento das doenças e no controle de custos, dentro de um sistema de saúde equitativo e de qualidade.

“A análise das despesas per capita e do desempenho em medicina diagnóstica em diferentes países nos lembra que o modelo do sistema de saúde é apenas uma peça do quebra-cabeça. Outros fatores, como políticas de saúde, práticas clínicas e incorporação da inovação, também desempenham um papel fundamental”, finaliza.Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e explore todo o conteúdo que aborda os desafios e as oportunidades do setor de saúde. Com cinco capítulos e 274 páginas repletas de informações, este recurso é uma fonte valiosa para profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas interessados em promover o desenvolvimento sustentável e integrado do setor de saúde no Brasil e em todo o mundo.

Empresas de diagnóstico avançam em ações de ESG e inspiram novas iniciativas

O quinto capítulo do Painel Abramed 2022 mostra o compromisso dos associados com práticas de sustentabilidade

A incorporação de práticas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa, tem se tornado uma tendência crescente no mundo dos negócios, e as empresas de medicina diagnóstica não ficam para trás. No quinto capítulo da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, foram incluídas, pela primeira vez, informações sobre ESG, fornecendo indicadores importantes para avaliar o compromisso do setor com as melhores práticas.

“Não é apenas uma tendência, mas uma maneira de construir uma cadeia de saúde mais sustentável e responsável. Estas ações demonstram um compromisso inegável com a ética médica, a equidade no acesso aos serviços de saúde, a redução do impacto ambiental e o bem-estar dos colaboradores e dos pacientes”, comenta Daniel Périgo, líder do Comitê ESG da Abramed.

Além disso, as empresas que abraçam o ESG têm a oportunidade de se destacar no mercado, atrair investidores conscientes e cultivar relacionamentos de longo prazo com clientes, fornecedores e outros stakeholders.

No que diz respeito ao aspecto ambiental, foi observada uma redução de 12,8% nos resíduos comuns e de 10,2% nos resíduos de material infectante entre 2021 e 2022. No entanto, é importante interpretar esses resultados com cautela, considerando que mudanças metodológicas na mensuração podem influenciar os números.

“A gestão adequada de resíduos é fundamental para a responsabilidade ambiental, 93% das associadas afirmaram que possuem uma política específica de gestão de resíduos infectantes, mesma porcentagem com relação aos resíduos comuns”, comenta Périgo.

O consumo de energia e água é uma métrica complexa devido às diferenças no porte e nas atividades das empresas. No entanto, indicadores que relacionam o faturamento ao consumo de energia e água proporcionam um referencial útil para avaliar a eficiência no uso desses recursos. “Embora as atividades das associadas variem, os dados revelam que há espaço para melhorias na eficiência no uso de recursos naturais ao longo do tempo”, destaca.

Todas as empresas participantes do levantamento utilizam água da concessionária, mas quase metade delas também recorre a fontes alternativas, como poços artesianos, água pluvial e água de reúso. Essa diversificação contribui para a preservação dos recursos hídricos e promove a sustentabilidade. É importante destacar que as empresas não apenas captam água de forma responsável, mas também adotam práticas de conservação e uso eficiente da água em suas operações.

Já as práticas de responsabilidade social, embora estejam em ascensão, ainda há muito a ser feito. Por exemplo, a promoção da diversidade e inclusão é crucial para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Metade das empresas associadas à Abramed disseram realizar até o momento somente ações de sensibilização. Outras 17% têm uma política de diversidade e inclusão, 17% contam com um programa estruturado de diversidade e inclusão e 17% não responderam.

“O painel mostra que 80% das empresas possuem percentual de mulheres em seus quadros de funcionários acima de 50%, uma característica do setor favorável do ponto de vista de equidade de gênero; no entanto, a representatividade de pessoas negras e da comunidade LGBTQIAP+ ainda é um desafio”, expõe Périgo.

A governança corporativa desempenha um papel vital no sucesso das práticas ESG. Quando perguntado se a empresa divulgou relatório das práticas ambientais, sociais e de governança corporativa no último ano, 50% das empresas responderam que não, contra 33% que responderam sim. Outros 17% não responderam.

Mesmo que muitas empresas ainda não tenham divulgado esses relatórios, a transparência e a responsabilidade estão se tornando cada vez mais importantes para garantir a qualidade dos serviços, a sustentabilidade ambiental e a conformidade ética e regulatória, por isso, é importante que a prática seja mais amplamente adotada no setor.

Este capítulo marca um avanço significativo no monitoramento e na compreensão das práticas ESG realizadas pelas empresas associadas, proporcionando um benchmark significativo para o setor de medicina diagnóstica. Faça o download gratuito da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e tenha acesso ao conteúdo completo. São cinco capítulos, abrangendo 274 páginas com relevantes informações para alavancar o desenvolvimento do setor de saúde.

Tecnologias emergentes na saúde: oportunidades e desafios

Por Wilson Shcolnik*

A busca incessante por avanços científicos e tecnológicos no campo da saúde tem revolucionado a forma como enfrentamos desafios e promovemos o bem-estar em escala global.

No primeiro semestre de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um relatório intitulado “Tecnologias emergentes e inovações científicas: Uma perspectiva global de saúde pública”. Esse documento identifica as inovações mais promissoras em ciência e tecnologia capazes de impactar significativamente a saúde mundial no futuro próximo.

A medicina diagnóstica é um dos setores que se beneficiam dessas inovações, podendo disponibilizá-las imediatamente a pacientes. Por exemplo, o desenvolvimento de um diagnóstico viral de baixo custo traria uma mudança significativa na detecção precoce e no controle de doenças infecciosas, especialmente em regiões com recursos limitados.

A aplicação da genômica no diagnóstico precoce de doenças é outra inovação mencionada no relatório da OMS. Por meio da triagem pré-natal genômica universal e da identificação de distúrbios metabólicos e congênitos, é possível obter diagnósticos precisos e orientar o manejo e o tratamento dessas condições de forma mais eficiente. Além disso está bem descrita e já é realidade a aplicação da genômica na caracterização precisa de mutações relacionadas a diferentes tipos de câncer, e a definição de tratamentos personalizados.

Outra inovação citada refere-se ao diagnóstico remoto rápido por meio de dispositivos, como telefones celulares, relógios inteligentes e sensores vestíveis, que está revolucionando a maneira como conectamos pessoas aos serviços de medicina diagnóstica e outros serviços de saúde.

Essa solução permite a troca de informações em tempo real entre pacientes e médicos, promovendo a saúde individual, prevenindo doenças e melhorando o gerenciamento de condições médicas, além de fornecer dados relevantes para a gestão da saúde pública e economia da saúde.

Embora as tecnologias emergentes e as inovações científicas ofereçam promessas animadoras, é importante reconhecer e gerenciar os riscos associados a esses avanços.

Entre os desafios apontados pela OMS estão: a falta de confiabilidade e precisão dos resultados de exames; a dificuldade em compreender e interpretá-los, colocando em risco a segurança dos pacientes; a restrição de acesso devido a altos custos, com a ampliação das desigualdades na saúde; as preocupações com a privacidade de dados; e a necessidade de garantir padrões de fabricação consistentes.

Cabe adotar abordagens proativas para enfrentar esses desafios. Isso inclui investir em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar a confiabilidade e a precisão dos testes diagnósticos; garantir a acessibilidade sem comprometer a sustentabilidade de sistemas de saúde, por meio de parcerias estratégicas e modelos de negócios inovadores; promover a educação e o treinamento adequados para os profissionais de saúde e os pacientes; bem como estabelecer ações rigorosas de segurança de dados e privacidade. Neste ponto, a Abramed reafirma o seu papel de protagonista, colaborando na busca por um setor cada vez mais sustentável.

À medida que continuamos a explorar as fronteiras da inovação em saúde, é fundamental nos dedicarmos a mitigar esses riscos de forma cuidadosa e responsável. Somente assim poderemos aproveitar plenamente o potencial transformador das novas tecnologias e garantir um futuro mais saudável para todos.

*Wilson Shcolnik é Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

Valor da Medicina Diagnóstica para Integração da Saúde foi tema do primeiro debate do FILIS 2023

Precisão diagnóstica e redução dos custos provocados pela repetição de exames esbarram em gerenciamento de dados de beneficiários, desde sua coleta, padronização e compartilhamento. Especialistas debateram como então entregar serviço de valor ao paciente

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias, eventualmente disponibilizadas facilmente, inclusive ao público não médico, o mercado de saúde passa por mudanças. Ainda que essas soluções tecnológicas estejam ao “alcance das mãos” – como se costuma dizer atualmente – elas são consideradas investimento alto, mas essenciais para entregar diagnósticos e tratamentos de valor aos pacientes. 

Como solucionar essa equação por meio da integração, aumentando geração de valor ao beneficiário, considerando que a medicina diagnóstica é peça fundamental no conceito de saúde baseada em valor? O questionamento pautou o primeiro debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo.

Foram convidados para o debate o Professor Alberto Duarte, Pesquisador e Diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP; Ademar Paes Jr., Presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), membro do Conselho de Administração da Abramed e Sócio da Clínica Imagem; Cesar Nomura, Presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), vice-presidente da Abramed e Superintendente de Medicina Diagnóstica no Hospital Sírio-Libanês; Clóvis Klok, Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP); e moderando o Carlos Figueiredo, CEO do Cura Grupo e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo o CEO do Grupo Cura, o autor Michael Porter apresentou a equação que indica que valor em saúde é igual a qualidade sobre custo, porém há quem acrescente que “qualidade sobre custo deve ser multiplicado por pertinência (onde se enquadra a questão de desperdício). Não adianta ter qualidade ou baixo custo se não houver pertinência, pois se for zero, ao se multiplicar por zero o resultado é nulo. O interessante é entender a qualidade a partir do desfecho para o paciente, que a qualidade tem que ser medida a partir do que o paciente recebe e é resolutivo na vida dele”, afirmou.

Essa resolutividade pode ser alcançada, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), caso o profissional de saúde pense que o diagnóstico seja de um familiar; situação semelhante pela qual recentemente passou Cesar Higa Nomura, após ficar 11 dias internado. 

“Foi a primeira vez que como médico fiquei nessa posição de paciente grave”, revelou Nomura ao fazer um relato pessoal que no primeiro momento sob suspeita de ser um AVC foi submetido a uma tomografia que precisava ser realizada rapidamente utilizando um equipamento adquirido há quatro anos pelo hospital onde atua – “aparelho que realiza o exame em aproximadamente um segundo”. Ele explicou que essa máquina custa 60% mais do que uma máquina habitual, mas que a operadora vai pagar o mesmo valor do exame independentemente de qual equipamento será utilizado.  

Nomura pondera que a rapidez do equipamento em identificar que não era um AVC, um exame sem necessidade de anestesia, teve um valor importante: “Não é valor financeiro. No equipamento há um software de inteligência artificial que identifica se é ou não um AVC, isso não é cobrado, pois acreditamos que precisamos entregar isso de valor”.  Com o resultado de que não se tratava de um acidente vascular cerebral, foi iniciado tratamento para encefalite, sendo necessária uma ressonância.

“Aquele tubo é claustrofóbico. Para um paciente que não pode ser sedado, um exame rápido com acurácia, é importante ao diagnóstico. Nesse equipamento, embarcamos um algoritmo de inteligência artificial – que mais uma vez não será coberto – mas que acelera o exame em quase 60%. Tudo isso resulta na relevância de um diagnóstico bem colocado”, explica Nomura.

Mas se por um lado são fundamentais exames considerados caros, por outro há desperdício de valores com pedidos de exames desnecessários em quantidade. “Nós temos hoje uma medicina que se tornou banalizada! Nossos médicos formados terão dificuldades de diagnósticos. Vão pedir o que puderem para não serem chamados de negligentes”, afirma o pesquisador e diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP, Alberto Duarte.

Interoperabilidade de sistemas

Um dos atuais desafios da saúde é entregar aos pacientes, hospitais e médicos a tão desejada “qualidade”, que não pode ser obtida se não com interoperabilidade de sistemas, segundo Duarte. O pesquisador sugere uma solução que fosse portável para e por qualquer empresa, no modelo de nuvem computacional, armazenando informações. Isso evitaria repetição de exames e certamente resultaria em economia. “Temos que inovar no processo, criar robôs que facilitem análise e diagnóstico e pedir só exames que são necessários”, conclui.

Há, entretanto, segundo o presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, Ademar Paes Jr., alguns desafios, como a realização de um diagnóstico quanto à maturidade de cada uma das empresas, clínicas e hospitais em relação em construir métricas e dados relacionados à sua operação. E existem vários níveis de maturidade em relação a isso.

“Às vezes é difícil explicar desfecho favorável se não tiver isso adequadamente registrado”, explica Paes Júnior ao lembrar que esse registro impacta a execução de exames e tratamento e a prescrição. “Computação sempre foi input, processamento e output. Input por si não gera valor sozinho, não adianta guardar terabytes de dados. O que gera valor é o output e como se transforma isso em valor dentro das empresas”. 

Um exemplo desse output e transformação de dados em valor é que em Santa Catarina a ACM realiza levantamento estadual de fatores de risco populacional em cada região, então se identifica população diabética, de obesos, de consumo de alimentos, população de hipertensos, tabagismo e sedentarismo. “Onde há mais sedentários, faltam aparelhos de atividade, como praças. Esses dados são compartilhados com operadoras e governo. Isso é uma atividade simples”.

Para Nomura, porém, é necessário considerar um desafio característico da tecnologia: descentralização. “Nós em saúde tínhamos o monopólio de geração de dados, um paciente tinha que ir ao laboratório ou hospital e gerar lá o dado. A cada semana surgem novas tecnologias descentralizando essa geração de informações. Isso não vai parar”, compara e sentencia que estratégias para centralizar informações podem funcionar em determinados nichos, mas que globalmente não acontecerá, e que a real centralização deve ser no paciente. 

“Sempre fui um otimista e depois de alguns dias na UTI fiquei mais ainda”, afirma Nomura. “Olho para o futuro, com planejamento a médio e longo prazo, com as discussões e a proximidade entre instituições e governo percebida aqui no evento. E não esquecer em nossas empresas que valor em saúde não pode ser da boca para fora”, complementa.

Para Paes Júnior, embora ninguém tenha certeza dos caminhos para resolutividade dos problemas, que são muitos, é certo que “sozinho, ninguém vai resolver absolutamente nada”. “A solução está dentro das nossas instituições”, concluiu Klok.