Gestão corporativa de saúde eficiente se faz com integração

Os players precisam trabalhar em conjunto com a mesma quantidade de dados, olhando para o paciente de forma igualitária

Para uma gestão corporativa de saúde eficiente, dois pontos são fundamentais: integração entre os players do setor, inclusive interoperabilidade, e remuneração baseada em valor, na busca por eliminar os desperdícios. Essas questões acompanham as mudanças pelas quais o sistema de saúde vem passando, principalmente após a pandemia de covid-19.

Atualmente, muitas das empresas da área da saúde tem capital aberto na bolsa ou estão buscando destaque no mercado financeiro, necessitando apresentar resultados positivos e em períodos mais curtos de, no máximo, um ano, caso, contrário, suas lideranças podem ser trocadas. Na verdade, estas lideranças são contratadas sabendo do foco em resultados e até por este motivo, muitos são oriundos do mercado financeiro, não na área de saúde.

A questão delicada é que, além de oferecer saúde, é preciso ser sustentável para dar retorno aos acionistas. “Não há nada errado em empresas entrarem no mercado visando ao lucro, mas é preciso fazer o outro lado, ou seja, a operação técnica. Afinal, o objetivo não é meramente financeiro”, expõe Claudio Tafla, presidente da Aliança para a Saúde Populacional (ASAP).

Pelo lado dos pacientes, Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), ressalta que hoje as pessoas estão mais conscientes da responsabilidade sobre a própria saúde, buscando saber mais. Questões ligadas ao autocuidado não eram nem conhecidas há alguns anos. Ainda, vale lembrar que a gestão de saúde se faz com três pilares básicos: alimentação saudável, atividade física e consciência sanitária. Por si só, o sistema não tem o poder de mudar o perfil da pessoa; a motivação precisa vir dela, mas as empresas devem estar preparadas para lidar com isso.

Outra mudança relevante no sistema de saúde é a prevalência de planos coletivos empresariais ou coletivos por adesão, enquanto, no passado, os planos para pessoas físicas detinham a maior quantidade. “Com isso, há uma pressão ainda maior das empresas contratantes das operadoras de planos de saúde nos dois sentidos: menores reajustes anuais das mensalidades, porém com incremento e foco na saúde dos colaboradores para que diminuam absenteísmo e presenteísmo em curto, médio e longo prazos, aumentando sua produtividade”, comenta Tafla.

Por conta disso, a gestão da saúde passou a ser impulsionada pelas empresas contratantes/empregadoras e o termo gestão de saúde corporativa ganhou força, como observa Milva, citando a sinistralidade e a polarização entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços de saúde, que levam à eterna discussão sobre demanda X necessidade e as consequentes glosas. “E aqui entra o valor efetivamente do serviço que está sendo prestado, não o aspecto da quantidade, mas o da qualidade. Tirando as distorções do mercado, quando olhamos para a integração da cadeia e uma gestão mais eficiente, com o paciente no centro, conseguimos pensar mais na efetividade do cuidado, no uso do recurso certo na hora certa, conforme a necessidade real”, diz.

Essa questão se liga ao desperdício em saúde, como mostram vários estudos quantitativos e qualitativos sobre o tema. Em 2005, a Universidade de Boston identificou que 50% do que era investido acabava desperdiçado. Esse mesmo estudo, em 2009, revelou que o valor caiu para 30%. Atualmente, no Brasil, segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), 20% do valor investido em saúde é desperdiçado. “Hoje, são investidos R$ 600 bilhões em saúde, se esses 20% fossem reinvestidos em ações eficientes, seriam mais de R$ 120 bilhões para melhorar o sistema, o que traria menos tensão a questões como má remuneração de prestadores, falta de recursos e judicialização na saúde”, acrescenta Tafla.

No entanto, vale lembrar que não basta colocar mais recursos no sistema de saúde se ele é mal gerido, porque isso só aumentaria a ineficiência e o desperdício. Primeiramente, é necessário melhorar a gestão para então começar a aportar recursos e “cortar pelas beiradas” o que é preciso cortar. “É um conjunto de ações que passa pela efetiva integração da cadeia. Quanto mais integração, mais efetividade e menos desperdícios”, complementa Milva.

Faz parte desse conjunto de ações a mudança do modelo de remuneração. “Precisamos equilibrar o acesso à saúde com modelos acordados entre todos os atores do sistema e realizáveis na prática. Assim, traremos todos para o mesmo lado e foco no melhor desfecho para o usuário, porque o sistema está fragmentado devido a um modelo de remuneração onde cada um busca o melhor resultado para si, e isso, com certeza, não traz eficiência para o sistema”, explica Tafla.

“Se houvesse um modelo de remuneração que convidasse a medicina diagnóstica a fazer uma melhor gestão das solicitações de exames pelos profissionais de saúde, seria possível criar uma consultoria/auditoria/curadoria dos pedidos, permitindo ao médico avaliar a própria solicitação, inclusive com base no histórico e no prontuário do paciente”, argumenta Tafla. “O modelo de remuneração vai forçar uma integração e vice-versa, os dois caminham juntos”, adiciona Milva.

Os players precisam trabalhar em conjunto utilizando a mesma quantidade de dados e informações, olhando para o paciente com visão igualitária. “O médico que está examinando o indivíduo tem determinado olhar para ele; a operadora tem outro olhar; e a medicina diagnóstica tem um terceiro. Como eles não têm os mesmos dados, a discussão se torna inócua, não se chega a um ponto em comum. Se todos os players tiverem a responsabilidade de atuar com eficiência, conseguiremos trazer todos para o melhor cenário”, analisa Tafla.

Importante reconhecer que prevenção e promoção da saúde são básicas para a gestão de saúde, mas é preciso encontrar recursos e fornecer acesso para entregar a todas as populações, de forma igualitária, tudo aquilo que é possível entregar. “Não podemos utilizar tecnologias muito avançadas para analisar o genoma, por exemplo, e não dar acesso a medicamentos e tratamentos básicos a pacientes já diagnosticados. Acredito que não podemos fechar os olhos para esse desequilíbrio em termos de saúde populacional”, diz Tafla.

O presidente da ASAP defende um sistema de saúde mais consistente, mesmo que caminhe devagar. “Ganhos que acabam trazendo repercussões negativas dão passos para trás na evolução do sistema de saúde. Temos de ser pró-inovação, pró-desenvolvimento, pró-pesquisa, mas com eficiência e responsabilidade.”

A melhor forma de tomar decisões é reunir todos os envolvidos no setor da saúde e debater se um ganho individual pode ser benéfico para todos. Dessa forma, as informações serão combinadas para alcançar resultados mais satisfatórios. É preciso buscar cases de sucesso e investir em pilotos de mudança que ajudem a trilhar esse caminho juntos, para gerar eficiência.

A medicina diagnóstica, com seus recursos de dados, qualidade e informações técnicas, pode ajudar a melhorar a seleção de exames, as prescrições e as indicações médicas no sistema de saúde. “É importante que as empresas sejam adequadamente recompensadas por isso. Ao realizar menos exames, é possível obter resultados mais precisos e precoces, contribuindo para a melhora do tratamento do paciente. Essa economia também gera beneficiários melhores, por isso, essa questão precisa ser considerada”, declara Tafla. Para os entrevistados, o foco na sustentabilidade é fundamental para o equilíbrio do sistema. A ideia agora é que haja avanços na integração entre os diversos atores da cadeia de saúde e que a transformação comece desde já. Abramed e ASAP, por exemplo, já estão articulando essa união de esforços em prol do setor.

Quantidade de exames e positividade de Covid-19 seguem estáveis, segundo Abramed

Na semana de 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2023, foram realizados 15.287 exames, com positividade de 12,6%

A quantidade de exames de Covid-19 realizados em clínicas e laboratórios privados no Brasil vem se mantendo estável nas últimas três semanas, assim como a taxa de positividade. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados respondem por cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país.

Na semana de 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2023, foram realizados 15.287 exames de Covid-19, com positividade de 12,6%. Em relação à semana anterior, de 21 a 27 de janeiro, houve crescimento de apenas 5,7% na quantidade de exames (14.461) e redução de 0,9 pontos percentuais na positividade (13,5%). Na semana de 14 a 20 de janeiro, foram 15.715 exames, com 13% de positividade, comprovando a situação de estabilidade.

Desde 24 de dezembro de 2022, o número de positivos vem reduzindo, passando de 27,1% para 12,6%. No total das últimas seis semanas (24 de dezembro a 3 de fevereiro), foram realizados 111.329 exames de Covid-19, com taxa média de positividade de 17,7%.

Importante ressaltar que dados mais antigos estão sendo atualizados pelos associados da Abramed. Segundo as novas informações, de 31 de dezembro de 2022 a 6 de janeiro de 2023, foram realizados 21.643 exames de Covid-19, com 20,2% de positividade. De 7 a 13 de janeiro, foram 18.602 exames, com 15,7% de positividade. E de 14 a 20 de janeiro, foram 15.715 exames, com 13% de positividade. 

Segundo a Abramed, é fundamental que a saúde suplementar reporte os dados de diagnóstico em relação à Covid-19, pois isso ajuda a compreender a situação epidemiológica da doença e a identificar focos de disseminação, contribuindo para a tomada de decisões e a implementação de medidas de prevenção e controle mais eficazes.

Número de exames e positividade de covid-19 continuam a cair, segundo Abramed

De 14 a 20 de janeiro, o número de exames caiu 22,5% em relação à semana anterior; enquanto a positividade teve decréscimo de 1,1 ponto percentual

Dados reunidos pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados respondem por cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país, revelam que o número de exames de covid-19 realizados e a taxa de positividade vêm caindo a cada semana.

De 14 a 20 de janeiro de 2023, foram realizados 13.548 exames, com 14,5% de positividade, contra 17.502 na semana anterior, de 7 a 13 de janeiro, com 15,6% positivos. A diferença no número de exames foi de 22,5%; em relação à positividade, registrou-se apenas 1,1 ponto percentual de decréscimo.

Nas últimas seis semanas, o maior valor, tanto de exames realizados quanto de positividade, foi registrado de 10 a 16 de dezembro de 2022, quando os laboratórios associados à Abramed realizaram 37.948 exames, com 34,9% de positividade. Em comparação com a semana atual, representa uma queda de 64,2% na quantidade de exames e de 20,4 pontos percentuais em positividade.

A Abramed lembra que vacinação é uma das formas mais eficazes de prevenir doenças infecciosas e é de extrema importância, pois não apenas protege a pessoa vacinada, mas também a comunidade como um todo. Além disso, a vacinação evita complicações graves e mortes relacionadas às doenças imunizadas.

A medicina diagnóstica ajuda a identificar as doenças infecciosas em uma fase precoce, o que permite que o tratamento seja iniciado o mais cedo possível e evita o agravamento da doença. Além disso, também é usada para determinar se uma pessoa está realmente infectada com uma determinada doença, o que é importante para a tomada de decisão sobre a vacinação. Isso é fundamental quando se trata de doenças infecciosas que podem ser transmitidas de pessoa para pessoa, como a covid-19.

Publicado em: 16/1/2023

Perspectivas da medicina diagnóstica para 2023: oportunidades e desafios

Por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed

Os avanços tecnológicos, o aumento do envelhecimento populacional, e a crescente preocupação com a saúde e o bem-estar tendem a impulsionar o setor de medicina diagnóstica no Brasil e no mundo. Entre os desafios a serem superados, podemos considerar a existência de infraestrutura, recursos tecnológicos e humanos capacitados para lidar com o contínuo aumento da demanda. Também deverá ser solucionado o acesso a exames laboratoriais e de imagem, que têm trazido avanços proporcionando o cuidado personalizado, gerando economia para o sistema de saúde e benefícios diretos aos pacientes.

Serão necessários investimentos para dotar os serviços com equipamentos que disponham de tecnologias mais avançadas, e a expansão, verificada para novos mercados na prestação de serviços de saúde, exigirá novos aprendizados.

Não podemos esquecer que para conviver com essa nova realidade é preciso uma mudança de cultura. O conhecimento médico avança e já há exames preditivos disponíveis, levando as pessoas a compreender a importância de cuidar de sua saúde antes que as doenças ocorram, em vez de aguardar o aparecimento de sintomas e até que elas sejam diagnosticadas.

Entre os novos exames podemos citar a biópsia líquida, um exame de sangue que possibilita detecção de câncer, testes genéticos para identificar predisposição a certas doenças hereditárias e os exames moleculares que possibilitam reclassificar doenças conhecidas, possibilitando indicação precisa de tratamentos. Equipamentos de diagnóstico por imagem modernos, que introduziram várias formas de imagem funcional e molecular já podem ser operados à distância e integrados com inteligência artificial, possibilitando a identificação de lesões e tumores cada vez menores.

Em 2023, esperamos ver um aumento na utilização de tecnologias de inteligência artificial (IA) em todas as áreas da medicina diagnóstica, o que pode trazer benefícios significativos para os pacientes, como aumento da precisão e rapidez dos diagnósticos. No entanto, também devemos estar atentos aos desafios potenciais da IA, como a necessidade de supervisão e regulamentação adequada para garantir a precisão dos resultados e a segurança dos pacientes.

A telessaúde também tem se tornado cada vez mais popular, permitindo que os pacientes tenham acesso a cuidados de saúde, o que amplia o acesso das pessoas a exames de diagnóstico, principalmente em áreas remotas. Outra tendência é o crescimento da medicina personalizada, que se baseia no uso de dados genéticos e outros marcadores para personalizar o tratamento e os diagnósticos para cada paciente individualmente. Isso pode levar a melhores desfechos e reduzidos efeitos colaterais.

Também é preciso estarmos cientes dos desafios financeiros e de infraestrutura necessária atrelados a essas tecnologias avançadas. É importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para lidar com elas e sejam capazes de interpretar e utilizá-las de maneira eficaz para beneficiar os pacientes.

A demonstração de valor que cada exame pode trazer para atividade médica será cada vez mais necessária. Já é tema há muitos anos a necessidade de mudança da forma de pagamento fee-for-service para uma abordagem baseada em valor, Value Based Healthcare (VBH), em que o pagamento é feito de acordo com o valor dos serviços de saúde entregues aos pacientes e ao sistema de saúde, levando em conta a qualidade e a aplicação prática dos resultados reportados, não apenas o volume de procedimentos realizados.

Isso exige que a medicina diagnóstica demonstre seu valor e o impacto na saúde dos pacientes, e que os provedores de serviços trabalhem juntos com outras especialidades médicas para fornecer cuidados integrados e coordenados.

Também é tendência a crescente estruturação de ecossistemas integrados de saúde que incluam serviços de medicina diagnóstica. Esses ecossistemas são projetados para fornecer uma abordagem holística, permitindo que os pacientes tenham acesso a uma ampla variedade de serviços médicos e de saúde, num mesmo ambiente, seja corporativo ou empresarial.

No âmbito regulatório, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou sua agenda 2023, incluindo tópicos que deverão ser discutidos pela Abramed neste ano. Entre eles, as diretrizes para organização do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a descentralização das ações de inspeção e fiscalização sanitárias, regulamentação da análise prévia de dispositivos médicos para diagnóstico in vitro e Regulamento Técnico para o Funcionamento de Provedores de Ensaios de Proficiência para Serviços que executam Exames de Análises Clínicas. Vale lembrar que a nossa entidade sempre atua em estreita colaboração com autoridades regulatórias para ajudar no desenvolvimento do setor de diagnóstico no país.

Vale mencionar, ainda, a disseminação da cultura ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa. Organizações mais maduras na adoção de estratégias nesse contexto podem direcionar e apoiar as que estão ingressando. Exatamente enxergando a relevância e poder do compartilhamento de conteúdo e de melhores práticas, que a Abramed estruturou, em 2022, o Comitê ESG, com o desafio de desmitificar a relação que o tema possui com práticas exclusivamente voltadas às questões ambientais, trazendo a discussão para o contexto da área da saúde.

Como mencionado anteriormente, o setor está vivendo um intenso processo de transformação digital e de inovação com foco na ampliação do acesso à saúde. A medicina diagnóstica contribui diretamente para a crescente do ecossistema empresarial e pode contribuir com outros objetivos de desenvolvimento sustentável que abrangem as temáticas voltadas ao crescimento econômico e emprego; padrões de produção e consumo sustentáveis, e as medidas para combater a mudança do clima dinâmica econômica e social do país e tem também uma responsabilidade grande na redução e neutralização dos impactos das suas atividades no planeta.

Muitos laboratórios associados à Abramed já trilham o caminho da sustentabilidade, outros estão iniciando. A pauta ESG tem enorme potencial para o segmento, mas ainda há, sim, muito a evoluir. É necessário provocar uma mudança no mindset dos líderes.

Estamos cientes das oportunidades e dos desafios que a medicina diagnóstica enfrentará neste ano e comprometidos a trabalhar com nossos associados e parceiros para abordar esses desafios e aproveitar as oportunidades de melhoria do segmento. Continuaremos a promover a educação, a pesquisa, a ética e a transparência em colaboração com outras Entidades e autoridades sanitárias.

Contem sempre conosco!

Painel Abramed 2022 – O DNA do Diagnóstico trará comparativos entre sistemas de saúde de diferentes países e boas práticas de ESG

O documento passou a ser lançado no início do ano, para que as informações do ano anterior sejam fechadas e comparáveis

O Painel Abramed 2022 – O DNA do Diagnóstico, uma publicação da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), será lançado ainda no primeiro trimestre de 2023 e traz diversas novidades, reforçando sua relevância no mercado de saúde ao apresentar o panorama do setor de medicina diagnóstica no Brasil com responsabilidade, transparência e abrangência.

Lançado em 2018, o Painel tem um processo de concepção estruturado e, nesta edição, traz mudanças no formato de elaboração e lançamento, sendo o material divulgado para o mercado no início do ano, para que as informações de um ano inteiro sejam fechadas e comparáveis. Além disso, serão inseridas atualizações de dados de outros anos. “Essa primeira mudança permite contrastar dois anos cheios, 2021 e 2022, ficando mais fácil e atraente para os leitores”, explica Bruno Santos, coordenador de Inteligência de Mercado da Abramed.

Outra novidade é a construção de uma seção que compara o sistema de saúde do Brasil com o de outros países. Foram escolhidos cerca de 10 ou 12 nações para se fazer uma descrição detalhada de como funciona o sistema de saúde de cada um. Muitos pensam que nos Estados Unidos, por exemplo, não há sistema de proteção pública, mas, na verdade, cerca de 60% dos americanos dependem do sistema financiado pelo governo.

“A ideia é trazer essas informações para as pessoas entenderem como a situação no Brasil se compara à de outros países, especialmente no que diz respeito à produção assistencial e aos exames de imagem. A quantidade de exames de imagem feitos no Brasil é muito diferente da quantidade dos Estados Unidos, da Alemanha e da China? Qual é o resultado disso? Queremos mostrar como esses sistemas diferem e quais são os resultados disso”, explica Santos.

Para Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed, o material é uma rica fonte de pesquisa, conhecimento e informação. Ele destaca, justamente, a revisão dos sistemas de saúde, comparando o Brasil e o mundo.

“Isso é extremamente importante para entendermos que existe uma grande complexidade, não só no Brasil, mas também em outros países em relação ao funcionamento dos sistemas de saúde, para equilibrar os orçamentos públicos e privados”, explica. Assim como no Brasil, há na Inglaterra um sistema universal, mas na maioria existem sistemas complementares, com graus variados de participação da iniciativa privada e do governo, assim como diferentes modelos de orçamento e financiamento.

Em relação a essas comparações, Santos acrescenta que o modelo em si não embute grandes diferenças assistenciais, são outras condicionantes que impactam a saúde. “Os americanos têm um estilo de vida totalmente diferente do inglês, mostrando, então, que o comportamento importa muito mais do que o modelo de saúde”, expõe.

O Painel fornecerá um panorama para que as empresas do setor de medicina diagnóstica possam conhecer esses sistemas e se inspirar para desenvolver novos modelos usando a criatividade. “A inovação e a criatividade serão fundamentais para superar o momento de dificuldade que o sistema de saúde vive atualmente no Brasil, tanto em termos de financiamento, quanto de relacionamento de confiança entre as partes envolvidas”, complementa Paes Junior. Segundo ele, as negociações ficam direcionadas, basicamente, a reajustes, sendo que é necessário propor novos modelos: o grande desafio para o setor.

Panorama geral

O mais importante referente à edição 2022 do Painel são os dados setoriais, pois as associadas realizam aproximadamente 70% dos exames de medicina diagnóstica do setor privado brasileiro. Vale lembrar que a Abramed inclui empresas de todos os portes, as quais atuam com laboratórios clínicos, serviços de patologia, serviços de análise de líquor, radiologia e diagnóstico por imagem.

O panorama de dados setoriais permite definir parâmetros de comparação entre medicina diagnóstica privada e pública. “Inclusive, há uma grande oportunidade nesse ponto para o setor privado contribuir para a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS), eventualmente até pensando em parcerias público-privadas, levando o que é feito na medicina diagnóstica privada para o SUS”, acrescenta Paes Junior.

De acordo com ele, é crucial trabalhar para que as empresas brasileiras tenham um setor de medicina diagnóstica saudável, a fim de prosperar e oferecer aos usuários brasileiros o que há de melhor no mundo. Mas, isso só será possível, se houver um ambiente adequado e equilibrado, que é justamente uma das missões da Abramed.

“O nosso papel é criar um espaço saudável para que essas companhias possam se desenvolver e garantir que os pacientes em todo o país, estejam eles em São Paulo, Florianópolis, Recife, Belém ou Brasília, tenham a segurança de que estão recebendo atendimento semelhante ao que encontrariam nas melhores clínicas e hospitais do mundo, como Berlim, Nova York, Paris ou Tóquio”, expõe Paes Junior.

Para facilitar a coleta e manter os dados atualizados constantemente, a Abramed vem construindo sistemas de pesquisa e coleta de dados automatizados, organizados em dashboards, utilizando inteligência artificial do tipo NLP (Natural Language Processing), além de dashboards inteligentes.

Sustentabilidade

Outra novidade nesta edição é o capítulo dedicado ao tema ESG – Governança ambiental, social e corporativa (do inglês Environmental, social, and corporate Governance), com ações adotadas pelas associadas e indicadores que possam guiar todo o setor a seguir essas práticas fundamentais com foco em meio ambiente, social e governança. “Assim, continuamos a melhorar cada vez mais nosso setor, a exemplo de outros que já têm avançado no tema”, acrescenta Paes Junior.

A inclusão desse capítulo no Painel mostra que o setor está preocupado com essas questões e demonstra para as empresas associadas e para o mercado como um todo que é importante medir e implementar essas medidas. Além disso, a inclusão também serve como uma forma de divulgar o que já está sendo feito no setor e mostrar o que ainda precisa ser feito.

“O Painel Abramed é uma ferramenta essencial para o setor de saúde como um todo, pois permite que as empresas se inspirem em líderes do setor, identifiquem seu posicionamento atual no mercado, verifiquem se suas estratégias de produtos e serviços estão alinhadas às tendências do segmento e planejem seu futuro com base em tendências emergentes”, finaliza Paes Junior.

Número de exames de covid-19 realizados na primeira semana de janeiro tem queda de 20,5%

De 26 de novembro de 2022 a 6 de janeiro de 2023, tanto o número de exames quanto de positividade foram diminuindo.

Na semana de 31 de dezembro de 2022 a 6 de janeiro de 2023, foram realizados na saúde suplementar 20.379 exames de covid-19, com 21,9% de positividade, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Na semana anterior, de 24 a 30 de dezembro de 2022, o total de exames foi de 25.621, com 27,1% de positividade. O resultado mostra queda de cerca de 20,5% no número de exames e de 5,2 pontos percentuais em positividade.

Comparando com o ano anterior, foram realizados 244.135 exames na primeira semana de janeiro de 2022, com 35,13% positivos. Em número de exames, a queda foi de mais de 91% em relação à primeira semana de janeiro de 2023, e de 13,2 pontos percentuais em positividade.

De 26 de novembro de 2022 até 6 de janeiro de 2023, tanto o número de exames quanto de positividade foram diminuindo gradativamente. Por exemplo, a positividade, que era de 39,6%, foi caindo para 38%, 34,9%, 32,6%, 27,1% até chegar em 21,9%.

No acumulado do ano de 2022, os associados à Abramed realizaram 4.440.811 exames de covid-19, com 35,7% de positividade. Outubro foi o mês que registrou menor número de exames realizados: 76.195, enquanto setembro registrou a menor taxa de positividade: 4%. Já os maiores índices do ano foram no mês de janeiro, com 1.210.169 exames e 49,7% de positividade.

Mesmo depois de muitos meses de pandemia, os casos de COVID-19 continuam a ocorrer. Um dos principais motivos é a falta de vacinação suficiente na população. Enquanto não houver uma imunidade coletiva suficiente, a doença poderá continuar a se espalhar.

A Abramed reforça que a vacinação é uma das formas mais eficazes de prevenir doenças infecciosas e sua importância é inestimável. Ela protege não apenas a pessoa vacinada, mas também a comunidade como um todo. Além disso, a vacinação evita complicações graves e mortes relacionadas às doenças imunizadas. É importante vacinar-se regularmente de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde.

Também vale ressaltar que os exames de diagnóstico são fundamentais para identificar doenças e determinar o tratamento adequado. Eles permitem que os médicos confirmem ou descartem a suspeita de uma doença, determinem sua extensão e acompanhem a evolução do tratamento. Os exames de diagnóstico também são importantes para a prevenção e detecção precoce de doenças, o que pode aumentar significativamente as chances de cura e evitar complicações graves.

Retrospectiva 2022: Empenho e dedicação da Abramed em um ano de transformações no setor da saúde

Entidade acredita em seu papel de influenciar o mercado na defesa de comportamentos éticos e transparentes, vitais para a evolução e a sustentabilidade do sistema de saúde

Nas palavras da diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano, o ano de 2022 foi “de transformações e impactos para o setor da saúde”. Muitas foram as contribuições e conquistas pelo empenho e atuação da entidade nos últimos 12 meses, nas quais destacam-se o envolvimento em temas como RDC 302; Piso de Enfermagem e telemedicina, entre outros.

“A Abramed participou ativamente da revisão da RDC 302, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que dispõe sobre o regulamento técnico e visa definir os requisitos necessários para o funcionamento dos laboratórios clínicos e postos de coleta laboratorial públicos e privados que realizam atividades na área de análises clínicas, patologia clínica e citologia. Reconhecemos o empenho e cuidado da Anvisa na atualização da norma e nosso objetivo foi de contribuir, trazendo clareza sobre os impactos na segurança do paciente com as modificações propostas”, frisou Milva.

Em maio, quando aprovado o PL 2.564/2020, que fixava o piso salarial da enfermagem, a Abramed se manifestou favorável à valorização dos recursos humanos desta profissão, mas entendendo que esse caminho deveria ser percorrido com sustentabilidade.

Outras ações enfatizadas por Milva foram a atuação da entidade na construção da Agenda Regulatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a criação do Fórum de Proteção de Dados; e o desenvolvimento de um planejamento estratégico para atuação e expansão da entidade nos próximos cinco anos.

O Fórum Permanente do Setor de Saúde em Proteção de Dados e Privacidade, lançado em agosto, em Brasília, trata-se de uma coalizão em caráter permanente composta de associações, federações e confederações representativas do setor de saúde, cuja missão é debater e fomentar os temas envolvendo Privacidade e Proteção de Dados, inovação e tecnologia para o segmento, além de preparar a proposta de autorregulação do setor.

Com a Abramed, integram o Fórum a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para a Saúde (Abraidi), Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), Associação de Planos Odontológicos (Sinog), Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

“Esse Fórum nasceu da necessidade do setor de saúde de trabalhar, eventualmente, em uma autorregulação regulada, já que é um segmento muito sensível, que lida com dados sensíveis, e, simultaneamente, traz vários stakeholders, desde o hospital, que presta assistência beira-leito, até as entidades de medicina diagnóstica, como a Abramed; as operadoras, que trabalham com os dados; e as Santas Casas, que lidam muito com dados públicos. Em determinado momento, entendemos ser necessário tentarmos, em alguns temas críticos, buscar convergir entendimentos”, explicou Milva.

Como resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido desde 2021, a Abramed no início deste ano apresentou o seu novo posicionamento estratégico. O projeto, que conduzirá as ações da entidade nos próximos cinco anos, teve como foco a dinâmica setorial, que tem mudado bastante nos últimos anos, a visão dos associados com relação à entidade, bem como os desafios e oportunidades para a medicina diagnóstica. Entre os objetivos estão o fortalecimento, aumento da representatividade, pluralidade e oferta de valor da entidade para seus associados.

“A Abramed tem um olhar para o futuro, influenciando os caminhos da saúde no Brasil. Somos um agente influenciador e pretendemos manter a nossa contribuição constante para uma mudança setorial que envolva maior compartilhamento e maior integração dos elos da cadeia,” salienta Milva.

Em 2022, a entidade finalizou a implantação da reestruturação de seus dez comitês, com representantes dos associados, para deliberar sobre as agendas propositivas, com atuação em três eixos: benchmarking de boas práticas; desenvolvimento de conteúdos de valor; e desenvolvimento de projetos aplicados.

“Acreditamos no nosso papel de influenciar o mercado na defesa de comportamentos éticos e transparentes, vitais para a evolução e a sustentabilidade do sistema de saúde e em benefício da população que busca os serviços essenciais que o setor fornece e queremos gerar cada vez mais valor para nossos associados e para a sociedade”, afirma Milva.

Em um ano de retomada dos eventos presenciais, a diretora-executiva relembra a sexta edição do FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde, organizado pela Abramed, e realizado pela primeira vez em formato híbrido, com transmissão ao vivo, discutindo assuntos relevantes sob a temática central “A Medicina Diagnóstica na Disrupção da Saúde”. “Foi um reencontro marcante, com debates necessários para o melhoramento e desenvolvimento do setor da Saúde e da Medicina Diagnóstica nos próximos anos. Um verdadeiro sucesso”, destaca.

A Abramed participou ainda de importantes eventos do setor, entre eles: Hospitalar; JPR – Jornada Paulista de Radiologia; FIS Week; Congresso Brasileiro de Análises Clínicas; Diálogos Digitais Abramed; FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde; CBR – Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem; Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial; Global Summit Telemedicine & Digital Health; Debates Fenasaúde, e Saúde Business Fórum.

Durante a Hospitalar 2022, a Abramed participou da cerimônia de criação de área dedicada à medicina diagnóstica na feira. O espaço, que concentra as soluções e as inovações para laboratórios, diagnóstico e análises clínicas, surgiu para atender a crescente demanda dos visitantes por produtos relacionados à área. Nesta primeira edição, já foi um sucesso absoluto, reunindo 30 empresas.

Confraternização

A Abramed promoveu um jantar que reuniu membros do Conselho de Administração, Conselho Fiscal, líderes dos comitês, associados e parceiros para brindar o encerramento de 2022, ressaltar as conquistas e realizações e reafirmar o empenho da entidade em prol do setor de medicina diagnóstica no próximo ano.

“O nosso setor de medicina diagnóstica continua muito pujante. Novas metodologias são desenvolvidas, a indústria nos disponibiliza aqui no Brasil muitas inovações e novos exames são oferecidos aos médicos e aos nossos pacientes. O segmento tem demonstrado um crescimento ano a ano. Um estudo publicado essa semana, realizado por dois centros de pesquisa da Universidade Johns Hopkins, sintetizou pesquisas realizadas ao longo de 20 anos sobre os erros diagnósticos, revelando que 5,7% de pacientes atendidos em prontos-socorros, em vários países, recebem diagnóstico incorreto, e desses, 2% são vítimas de eventos adversos, ou seja, sofrem danos por conta disso”, comentou Shcolnik.

O presidente do Conselho de Administração prosseguiu ressaltando que o valor do trabalho, que é realizado por profissionais da área, muito qualificados, se reflete em um apoio diário oferecido aos médicos, quer seja na prevenção, no diagnóstico, na definição e gerenciamento de tratamentos.

“O compromisso da Abramed, firmado há anos, que é de conhecimento público, permanece intacto. Defendemos o uso racional de exames, a sustentabilidade do sistema de saúde, do qual todos somos parte, e a integridade e o acesso da nossa população a serviços de saúde de qualidade”, garantiu Shcolnik.

Abramed divulga dados atualizados sobre exames de covid-19 e mpox

Número de exames de covid-19 reduziu, mas positividade ficou estável, já a positividade em exames de mpox caiu 69,6% em novembro

O número de exames de covid-19 realizados na semana de 3 a 9 de dezembro de 2022 (48.881) caiu 15,8% em relação à semana anterior, 26 de novembro a 2 de dezembro (58.058). Já a taxa de positividade caiu de 39,8% para 38,4%, uma redução de 1,4 ponto percentual. Os dados foram compilados pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados respondem por cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país.

Apesar da ligeira queda, a taxa de positividade pode ser considerada estável nas últimas cinco semanas (de 5 de novembro a 9 de dezembro), variando apenas entre 2,7 pontos percentuais no período.

Já no acumulado do ano, até 9 de dezembro, foram realizados pelas associadas aproximadamente 4,3 milhões de exames. Esse número representa uma redução de cerca de 60% em relação a 2021, quando foram realizados aproximadamente 11 milhões de exames. No entanto, a taxa de positividade em 2022 (35,9%) é mais alta do que a de 2021 (30,5%) em 5,4 pontos percentuais. O resultado pode ser atribuído, entre outros fatores, ao maior critério na solicitação dos exames. 

Mpox

No caso da mpox (monkeypox), a taxa de positividade de exames realizados pelas associadas à Abramed, em novembro, caiu 69,6% em comparação a outubro. Foram 20 resultados positivos em novembro contra 66 no mês anterior.  

Com relação ao número de exames realizados em novembro (137), a redução também foi significativa, de 58,7%, comparando com outubro (332).

O acompanhamento dos exames de mpox pela Abramed começou em primeiro de julho de 2022. Desde então, foram realizados 1.425 exames, com positividade de 26,2%.

Contribuições Científicas da Medicina Diagnóstica: o que evoluiu?

Os métodos de sequenciamento de nova geração na área diagnóstica deram um salto, impulsionados pela pandemia

A medicina diagnóstica vem ganhando cada vez mais protagonismo e não foi diferente em 2022. A área foi indispensável para a gestão de casos de covid-19, em suas mais variadas cepas, e também de outras doenças, como a mpox (monkeypox, ou varíola dos macacos).

“Iniciamos 2022 ainda com muitos casos de covid-19, gerando grandes incertezas. No entanto, ao longo dos meses, os casos diminuíram e entramos num período de menos registros graves, em comparação a 2020 e 2021. Por outro lado, houve picos de outras doenças respiratórias, como influenza, H3N2 e H1N1”, analisa o diretor científico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e coordenador médico do Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Israelita Albert Einstein, André Doi.

Um ponto de evolução neste ano, ainda segundo Doi, são os métodos de sequenciamento de nova geração na área diagnóstica. “Estamos caminhando no campo de medicina de precisão, por exemplo, na área oncológica, usando a técnica para caracterizar genomicamente diferentes tipos de câncer e tratar o paciente de maneira personalizada, com terapias específicas. Isso já existia antes, mas foi consolidado em 2022”, explica.

O método de sequenciamento de nova geração também deu um grande salto na área de doenças infecciosas, impulsionado pela covid-19. Por exemplo, a metagenômica – que consiste em colher uma amostra do paciente e fazer uma varredura de todos os agentes etiológicos que podem estar causando essa infecção – permite não só o diagnóstico de doenças conhecidas, como também de doenças raras, de baixa ocorrência e doenças novas.

Outra questão importante relacionada ao método foi viabilizar o sequenciamento de todos os patógenos. No caso do vírus SARS-CoV-2, isso possibilita entender os picos de casos e as mutações que ocorrem, permitindo caracterizar os tipos de variantes, como Ômicron e Delta.

Além de cânceres e doenças infecciosas, há marcadores genômicos também para doença de Alzheimer e outros tipos de doenças em diversas especialidades. “Cada vez mais a técnica está sendo divulgada e utilizada, e as pessoas estão tendo mais conhecimento sobre ela. “A medicina genômica entrou em pauta em 2022 e promete crescer muito em 2023”, expõe Doi. 

Vale lembrar que o uso da tecnologia de sequenciamento genômico é restrito, devido ao alto custo dos equipamentos, no entanto, todos os LACENs (Laboratório Central de Saúde Pública) serão equipados com sequenciadores de nova geração para fazer esse tipo de exame. “Os laboratórios públicos que não têm a tecnologia poderão encaminhar amostras para esses laboratórios no caso de doenças infecciosas ou mesmo para caracterização de cepas de vírus circulantes, como SARS-CoV-2 e variantes. Isso representa um grande avanço, pois como há LACENs em todos os estados, as instituições de saúde públicas, de alguma maneira, terão acesso a essa ferramenta”, conta Doi.

Com relação à pesquisa, o diretor científico da SBPC/ML destaca um ramo que tem evoluído e que representa uma grande inovação tecnológica: o transplante de fezes, já utilizado há alguns anos para tratamento de infecções refratárias a tratamentos. Ele cita casos de pacientes com a bactéria Clostridium difficile, causadora de inflamação no intestino e diarreia aguda, que não melhoram com o uso de antibióticos, apenas com o transplante de fezes.

A técnica consiste em retirar todo o microbioma do paciente doente e colocar o de um paciente saudável. “Há estudos sobre o papel do microbioma intestinal na saúde e na doença, inclusive existem bancos de fezes de pacientes saudáveis para tratar infecções por essa bactéria, o que seria inimaginável antigamente. O Food and Drug Administration (FDA) aprovou alguns tratamentos relacionados com transplante de microbioma nos Estados Unidos, então, isso logo vai chegar no Brasil”, adianta Doi.

O médico patologista clínico, gestor regional do Grupo Sabin e diretor do Comitê de Análises Clínicas da Abramed, Alex Galoro, destaca também que os laboratórios de análises clínicas estão bastante sintonizados com avanços tecnológicos, com relevantes contribuições de informática e inteligência artificial. Chama atenção, ainda, o uso de drones para o transporte de amostras de exames.

“Na fase pré-analítica, tem-se utilizado desde aparelhos para fazer aliquotagem, distribuição de amostras até drone para transporte de material em locais próximos, encurtando o tempo de entrega de exames, muitas vezes imprescindíveis. Quando o médico tem um resultado mais ágil, mais rápido ele pode tomar uma decisão, refletindo em ganho para o paciente. Com isso, o desenvolvimento da medicina diagnóstica será mais voltado para utilização de novas tecnologias e conhecimento das doenças, da fisiopatologia que permite o desenvolvimento e o lançamento de novos exames, novas pesquisas, material genético, metabólicos. Tudo isso trará subsídios para o clínico fazer o diagnóstico e ter uma atuação mais correta, o que chamamos de medicina personalizada”, reforça Galoro.

Do diagnóstico à prevenção: como os exames de sequenciamento genético contribuem para a medicina

Eles permitem a adequação personalizada do tratamento com base no background genético do indivíduo e de sua doença

A avaliação genética com fins diagnósticos ou preventivos tomou um grande impulso nos últimos 10 anos, principalmente com o advento de uma tecnologia chamada sequenciamento de nova geração, conhecida como NGS (Next Generation Sequence).

O NGS tornou o custo de sequenciamento do material genético em laboratórios mais acessível e aumentou a velocidade do procedimento, possibilitando a utilização da informação em testes clínicos. “Podemos dizer que essa área se delineou a partir do uso mais maciço dessa tecnologia genômica”, explica Cristóvão Mangueira, membro do Comitê de Análises Clínicas da Abramed e diretor de Medicina Laboratorial do Hospital Israelita Albert Einstein.

Importante ressaltar que genômica não é o mesmo que genética. Genética é a disciplina médica mais tradicional, e a genômica é basicamente a aplicação do NGS na composição de painéis de testes genéticos, com a finalidade de uso na medicina clínica.

Segundo Marcos Queiroz, diretor suplente do Comitê de Radiologia da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Albert Einstein, a genômica está revolucionando a medicina. “Antigamente, o tratamento para um tumor de pulmão, por exemplo, era o mesmo para todas as pessoas acometidas por ele. Com o sequenciamento genético, é possível detectar subtipos e características próprias para aquele indivíduo, fazendo com que o tratamento seja diferenciado. Cada lesão tem sua característica, e o sequenciamento genético permite identificar e entender se há um tratamento específico”, explica.

O sequenciamento também é importante no desenvolvimento de terapias celulares, porque, uma vez conhecido o aspecto característico do tumor, desenvolvem-se terapias que podem ser aplicadas diretamente nele. Além dos benefícios no tratamento oncológico, a genômica tem grande papel preventivo. Já existem check-ups genéticos que permitem estudar o DNA para entender se há algum gene que determine predisposição para determinado tipo de câncer.

Abordagens

Existem várias abordagens e maneiras de usar a tecnologia NGS na medicina, mas Cristóvão as divide em três mais frequentes. Uma envolve o sequenciamento do material genético humano, o DNA, à procura de mutações e variações genéticas que possam estar associadas ao diagnóstico de alguma doença ou à predição de risco ao seu desenvolvimento. Um exemplo na área oncológica é o câncer de mama. “Algumas mutações são identificadas no sequenciamento de genoma, associadas a um risco aumentado de câncer de mama hereditário. Isso pode levar a condutas diferentes na condução da saúde do indivíduo com a mutação”, explica.

Outra abordagem é o sequenciamento de material genético de um câncer já diagnosticado. Por meio de uma biópsia, tira-se um pedaço do câncer ou todo ele, e é feito o sequenciamento genético do material. “Esse procedimento é útil para vários tipos de cânceres, pois é possível individualizar o tratamento, dependendo da mutação genética encontrada. Dessa forma, podemos prever se vale a pena tratar com medicação, quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia”, destaca Cristóvão.

Por essa abordagem, também é possível prever se o paciente terá mais ou menos propensão a efeitos colaterais do tratamento. “Isso é o que chamamos de medicina personalizada, individualizada ou medicina de precisão, que é a adequação do tratamento para um indivíduo com base no background genético dele e de sua doença”, acrescenta o especialista.

A terceira abordagem é a utilização da tecnologia NGS para sequenciar microrganismos. Atualmente é possível estudar completamente a flora bacteriana do intestino fazendo o microbioma, que pode ser útil no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, síndromes disabsortivas que levam à diarreia e doenças crônicas associadas com o mau funcionamento do intestino, por exemplo.

No diagnóstico, a tecnologia pode ser utilizada, por exemplo, para fazer sequenciamento total do vírus da covid-19 e identificar as novas variantes, como delta, ômicron, alfa, beta e assim por diante. “Resumindo, podemos usar o sequenciamento genético para diagnóstico de doença, predição de risco de doenças e para sequenciamento de microrganismos que causam doenças”, expõe Cristóvão.

Prevenção

Muito se fala da saúde do futuro, que está mais relacionada a cuidar preventivamente do paciente no contexto de sua saúde do que tratar a doença quando ela chega. Sem dúvida, os testes genéticos fazem parte dessa revolução.

Cristóvão conta, inclusive, que existem várias iniciativas de incorporação do sequenciamento genético no check-up tradicional, ou seja, muito além de exames de sangue, de imagem, físicos e da consulta médica. “Isso possibilita uma análise geral da saúde do paciente e uma visão mais aprofundada do risco para desenvolver doenças no futuro, como câncer, cardiopatias e doenças neurológicas.”

Na área de neurologia, há pesquisas para identificar, a partir do sequenciamento genético, o risco de doenças neuromusculares, neuropatias hereditárias, risco de epilepsia (InternationalEpilepsyDay), demência e Doença de Alzheimer, por exemplo.

No caso de doenças cardiológicas, uma das principais aplicações do teste genético é na identificação do risco de morte súbita, pois algumas pessoas não sabem que têm uma doença do coração, acabam sofrendo um mal súbito e vão a óbito. “O teste genético consegue identificar as doenças com antecedência, possibilitando ao médico prescrever medicamentos que previnam a morte súbita, como anticoagulantes ou outros que corrijam o ritmo cardíaco”, diz Cristóvão.

Como são feitos?

Testes genéticos são exames de alta tecnologia que demandam grande investimento nos sequenciadores genéticos, máquinas importadas dos Estados Unidos e China, por exemplo, que chegam a custar milhões de dólares. “Além do investimento nesse parque de equipamentos, os laboratórios e as clínicas de diagnóstico precisam investir em profissionais capacitados, pois não basta um profissional de laboratório comum, sem formação ou com formação generalista; são necessárias pessoas com PhD e treinamento específico na área genética”, conta Cristóvão.

Ele disse que foi incorporado um novo profissional ao laboratório: o bioinformata, profissional que une o conhecimento de TI e de biologia, capaz de desenvolver e utilizar softwares que interpretam dados de sequenciamento, transformando-os em um laudo inteligível para o profissional de saúde. “Atualmente, os laboratórios que trabalham com genômica têm equipes de bioinformática, ou seja, biólogos e biomédicos com formação específica, a maioria com pós-graduação.”

Na prática, a análise pode ser feita em qualquer material que contenha DNA ou RNA, no caso de vírus ou mesmo humano, como sangue ou saliva. Algumas informações oriundas do sequenciamento genético são chamadas de colaterais ou recreacionais, ou seja, não servem para fazer diagnóstico, mas matam a curiosidade das pessoas. Por exemplo, os testes de ancestralidade mostram o percentual de ascendência negra, europeia, indígena ou oriental no código genético da pessoa. No entanto, esse dado não tem nenhuma aplicação prática do ponto de vista médico.

Também é possível fazer sequenciamento de qualquer amostra que contenha células, pois todas têm DNA. Em testes focados em sequenciamento tumoral, que definem tratamento de cânceres, é usada a amostra de tecido tumoral, ou seja, um fragmento do próprio tumor retirado cirurgicamente, que é sequenciado no laboratório.

Análise dos resultados

Para análise dos resultados, a amostra passa por um processo de extração, que é a separação do DNA da amostra. Isso significa que primeiramente é preciso isolar o material genético e depois sequenciá-lo em outro equipamento, o sequenciador.

O resultado são alguns gigabytes ou até terabytes de informações, dependendo da profundidade do sequenciamento de dados brutos. Depois, esses dados são colocados em um software específico que traduz as informações para a linguagem médica clínica. O software vai rastrear os dados e identificar quais são as variações que estejam associadas a doenças. Depois, isso vai para outro sistema, que produzirá um laudo com a informação analisada.

“Não são exames fáceis com resultados que saem de um dia para outro. Geralmente são necessários vários dias ou até semanas para processar uma amostra e gerar um laudo. Esse exame geralmente é feito uma vez só e define o risco de ter alguma doença ou o tratamento específico para uma doença já diagnosticada, não é um exame de rotina”, explica Cristóvão.

Investimento

Para os laboratórios que querem investir nesses exames, Cristóvão diz que o retorno financeiro é difícil, porque o investimento inicial é muito alto, tanto em equipamentos quanto em profissionais qualificados. No caso de um laboratório inserido em sistemas de saúde de alta complexidade, com serviços de oncologia e outros serviços especializados, ele acredita que vale a pena buscar soluções genômicas para incorporar ao portfólio.

“Como o investimento é muito alto, uma tendência mundial é fazer associações entre laboratórios, pois o número maior de amostras viabiliza o retorno financeiro. O Brasil é um mercado de saúde grande e há poucos serviços de genômica privados. Assim, a tendência é que esses serviços se juntem para buscar sustentabilidade. Uma mão lava a outra”, analisa Cristóvão.

Por sua vez, Queiroz acredita que investir em genética é o futuro e que, com o tempo, o valor do aporte vai diminuir. “No entanto, é fundamental investir em educação médica, para que a análise desses resultados seja a mais assertiva possível”, acrescenta. Aliás, segundo ele, também é preciso educar a população em geral, através da divulgação dos benefícios gerados pela medicina genética de precisão.

“É fundamental fazer uma divulgação responsável desse tipo de exame. Por outro lado, vale lembrar que ele não resolve tudo, pois há doenças com fatores ambientais, que dependem da alimentação e de uma série de outros fatores”, finaliza Queiroz.

Texto publicado em: 12/12/2022