Especial Hospitalar: Liderança Colaborativa e Visão Sistêmica para Transformar a Saúde

No último dia da Hospitalar 2025, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), participou do painel “Transformação Coletiva: Como Lideranças Estão Redesenhando a Saúde”, realizado na arena HIS + Sustentabilidade.

O debate foi conduzido por Larissa Eloi, CEO do SindHosp (Sindicato Patronal do setor privado da saúde em São Paulo), e reuniu lideranças femininas de diferentes instituições para discutir os caminhos possíveis — e necessários — para um setor de Saúde mais integrado, humano e sustentável.

Milva iniciou sua fala destacando a potência simbólica de um painel composto exclusivamente por mulheres em posições de liderança. “É raro termos uma mesa exclusivamente feminina, especialmente quando se trata de lideranças do setor. Estar aqui com outras mulheres debatendo pautas tão importantes é uma honra e um sinal de transformação”, afirmou.

E reforçou a importância de conectar os elos do sistema de Saúde, ainda extremamente fragmentado, e de colocar o paciente no centro da jornada de cuidado. “Falar em transformação coletiva exige lideranças colaborativas, capazes de integrar visões, respeitar divergências e buscar convergências que beneficiem toda a cadeia”, destacou. Para Milva, a interoperabilidade é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma das principais alavancas para alcançar esse novo modelo.

Vanessa Silva, presidente da ANBIOTEC, falou da importância de pensar o setor a partir de uma lógica coletiva e de longo prazo. “Faltam líderes com visão sistêmica. O Brasil sofre com a ausência de planejamento estruturado, e a saúde sente isso de forma ainda mais crítica. Precisamos deixar de lado a visão segmentada e construir alianças que transcendam gestões”, afirmou. Ela ressaltou que a biotecnologia tem alto impacto social, mas só cumpre seu papel quando há acesso real às inovações.

Já Nathalia Nunes, CEO do CBEXs (Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde), defendeu que o momento atual exige líderes com propósito, coragem e flexibilidade cognitiva. “Não basta seguir protocolos de forma automática. É preciso compreender o contexto do paciente, suas barreiras sociais, culturais e econômicas. A liderança precisa ser empática, colaborativa e orientada à pertinência”, disse. Ela também enfatizou que a transformação do sistema de Saúde só será possível com mais diálogo, conexão entre as instituições e um esforço consciente para reduzir a fragmentação.

Ao comentar o papel da inovação, Milva lembrou que ela precisa caminhar lado a lado com a segurança, a qualidade e o compromisso com o acesso. “Não pode ser ou qualidade ou acesso. Tem que ser qualidade e acesso. E nós, enquanto lideranças, temos a responsabilidade de não permitir que a população receba só um ou outro”, pontuou. Segundo ela, cerca de 70% das decisões médicas têm como base os exames — o que reforça o papel central da Medicina Diagnóstica na jornada do cuidado.

Ao encerrar sua participação, Milva enfatizou que alianças verdadeiras só existem quando há escuta, confiança e disposição para ceder. “Cada um vai defender sua pauta, e isso faz parte. Mas aliança é também reconhecer onde há convergência e buscar o bem coletivo. Quando um elo se fortalece às custas do outro, todos perdem. Nossa missão é garantir que todos ganhem”, concluiu.

Especial Hospitalar: Desafios e Oportunidades para a Implementação de Novas Tecnologias Diagnósticas

O último painel do Summit Abramed discutiu os caminhos e obstáculos que permeiam a adoção de novas tecnologias no setor de Medicina Diagnóstica.

A moderação foi conduzida por Cristovão Mangueira, diretor de medicina laboratorial do Hospital Israelita Albert Einstein, que começou com uma pergunta simples, mas crucial: “por que inovar?”.

Cristovam Scapulatempo, diretor médico de genética e patologia da Dasa, destacou que a inovação precisa ter propósito e foco no paciente. “Se olharmos para os últimos dez anos e tudo o que foi implementado, especialmente, fica claro o quanto a inovação foi decisiva para oferecer novas perspectivas de tratamento e segurança ao paciente.” Ele reforçou que a maior parte das inovações realizadas hoje é incremental, buscando melhorar processos, reduzir custos e ampliar o acesso sem comprometer a qualidade.

A visão foi compartilhada por Rafael Jácomo, diretor técnico do Grupo Sabin, que trouxe à tona o desafio da padronização da inovação em um país continental. “Inovar em São Paulo ou Brasília não é o mesmo que inovar em Gurupi ou Tangará da Serra. Um dos maiores desafios é garantir que essas novas soluções cheguem à ponta com efetividade – e, acima de tudo, sejam compreendidas e utilizadas por quem está lá”.

Ele também defendeu uma mudança de mentalidade: mais do que separar análises clínicas, imagem e anatomia patológica, é preciso encarar o diagnóstico de forma integrada e centrada no paciente.

Guilherme Ambar, da Seegene, acrescentou a importância de tornar as tecnologias mais acessíveis e escaláveis. Segundo ele, a inovação, para ser sustentável, precisa estar apoiada em pilares como educação médica, redução de custos e interoperabilidade.

“Investimos em tecnologias PCR que funcionam em máquinas menores, ocupam menos espaço e podem ser operadas em locais com infraestrutura limitada, porque sabemos que o desafio no Brasil é fazer a tecnologia chegar aonde ela é mais necessária”, afirmou Ambar.

O debate abordou ainda os dilemas da inteligência artificial na prática diagnóstica. Scapulatempo explicou que, embora haja avanços significativos, especialmente no apoio à decisão e controle de qualidade, o custo computacional ainda é uma barreira.

“Infelizmente, você não vê nenhuma empresa de inteligência artificial de patologia crescendo rapidamente como a gente vê em outras áreas, por causa do custo ainda muito alto. Hoje, a gente lida com um exame barato e que é caro para guardar. E você precisa guardar essas imagens para desenvolver o algoritmo. Não é todo laboratório que consegue arcar com isso.”

Ao final, os participantes foram unânimes ao afirmar que a inovação não deve aprofundar desigualdades, mas ajudar a reduzi-las. Tecnologias como o sequenciamento genético, antes restritas a poucos, já começam a se tornar mais acessíveis graças ao ganho de escala e à evolução da indústria.

Nesse contexto, a transformação tecnológica precisa ser acompanhada por estratégias que priorizem a organização e o uso inteligente dos dados, para que a adoção de novas ferramentas se traduza em impacto real na saúde da população.

A mensagem final foi clara: restringir a inovação por não ser, a princípio, universal é limitar o progresso. O desafio está em construir pontes entre avanço e equidade, garantindo que o setor privado também atue como vetor de democratização, ampliando o alcance de soluções que, hoje, salvam vidas e promovem qualidade de vida em larga escala.

Especial Hospitalar: Biologia molecular e a revolução na detecção precoce

A palestra de Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, durante o Summit Abramed na Hospitalar 2025, trouxe uma análise aprofundada sobre o impacto da biologia molecular na revolução do diagnóstico precoce. Com técnicas como o PCR em tempo real e o sequenciamento de nova geração, exames laboratoriais ganham agilidade, precisão e capacidade de detectar doenças antes mesmo do aparecimento dos sintomas — o que tem efeito direto sobre desfechos clínicos, custos do tratamento e qualidade de vida dos pacientes.

Segundo Guilherme, estudos recentes demonstram que exames moleculares podem reduzir em até 85% o tempo de internação hospitalar e gerar economias significativas em tratamentos, especialmente no caso de doenças oncológicas, infecciosas e genéticas.

“Estamos falando de tecnologias que já têm mais de 30 anos de aplicação, mas que hoje precisam ser ampliadas em termos de acesso e aplicadas com mais estratégia dentro da jornada do paciente”, reforçou.

Durante a apresentação, ele mostrou evidências concretas do impacto positivo dessas tecnologias em pacientes com câncer, recém-nascidos com doenças raras e infecções congênitas, além de exemplos sobre o uso de ferramentas moleculares durante a pandemia de Covid-19. “A biologia molecular não apenas melhora o diagnóstico, como também reduz custos ao longo da jornada. Mesmo com um custo inicial mais alto, ela evita terapias equivocadas, reduz internações e melhora o prognóstico”, destacou.

O palestrante também alertou para a necessidade de superar barreiras de custo e ampliar a incorporação desses exames na Saúde Pública e Suplementar. “O próximo passo é democratizar o acesso, treinar profissionais e fomentar políticas públicas que reconheçam o valor dessas tecnologias na atenção primária e na gestão de saúde populacional”, concluiu.

Especial Hospitalar: Summit Abramed debate diagnóstico como ponto de partida para a gestão da Saúde

A abertura institucional do Summit Abramed foi realizada pela diretora-executiva da Associação, Milva Pagano, que também moderou o primeiro painel do evento. Com o tema “A Importância do Diagnóstico na Gestão da Saúde”, o debate contou com o presidente do Conselho de Administração da entidade, Cesar Nomura, Paula Campoy, presidente da ASAP – Aliança para Saúde Populacional, Gustavo Campana, diretor médico no DB Diagnósticos e Ademar Paes Júnior, membro do Conselho de Administração da Abramed.

Milva reforçou a necessidade de “desfragmentar o olhar sobre o diagnóstico”, destacando que ele deve ser entendido como um elemento estruturante da jornada de cuidado. Também alertou para o desafio que o setor enfrenta para mensurar desfechos clínicos com base em dados integrados que demonstrem o valor da Medicina Diagnóstica para o sistema de Saúde.

Cesar Nomura deu continuidade destacando que a sustentabilidade e qualidade da Medicina Diagnóstica estão diretamente associadas à inovação e automação. “O que nos trouxe até aqui foi inovação, e é ela que continuará nos levando adiante. Nossa responsabilidade é seguir investindo em tecnologia e qualidade para mantermos o protagonismo da Medicina Diagnóstica na sustentabilidade do sistema de Saúde”, defendeu. Para Nomura, o papel das associações é essencial para promover equilíbrio entre os diferentes interesses da cadeia e construir soluções integradas para o setor.

Na mesma linha, Gustavo Campana ressaltou o potencial estratégico dos dados gerados pelos exames laboratoriais e de imagem. “Precisamos sair do modelo fragmentado e desestruturado. A Medicina Diagnóstica pode ser o eixo de um sistema mais coordenado, com base em dados objetivos que nos permitam influenciar os desfechos clínicos e financeiros”, afirmou. Para ele, tecnologias como Inteligência Artificial só trarão impacto real se apoiadas em estruturas de big data, interoperabilidade e indicadores bem definidos.

Por outro lado, Ademar Paes Júnior trouxe uma provocação contundente: embora os exames representem cerca de 17% a 18% do custo assistencial das operadoras, seus dados ainda são pouco usados para definir estratégias populacionais e precificar Planos de Saúde. “Temos dados estruturados e de alto valor, mas seguimos guardando tudo a sete chaves, sem transformar isso em inteligência para melhorar a performance do sistema”, alertou.

Ele defendeu que os laboratórios assumam uma postura mais ativa, criando áreas de dados capazes de transformar informações clínicas em ferramentas para decisões mais precisas, contratos mais equilibrados e políticas de Saúde mais efetivas.

Encerrando o painel, Paula Campoy, presidente da ASAP, reforçou que diagnóstico é antecipação, “é entender o risco da população, personalizar o cuidado e garantir que o paciente seja o centro. Precisamos resgatar o propósito da Saúde no país — cuidar das pessoas — e o diagnóstico é a porta de entrada”.

Paula também fez críticas à visão de curto prazo nas decisões assistenciais e lembrou que exames normais também têm valor, pois evitam procedimentos desnecessários. “Não é quanto custa fazer, é quanto custa não fazer”, sintetizou.

O papel do diagnóstico precoce no enfrentamento de doenças silenciosas

*Por Paula Campoy

Que o diagnóstico precoce é uma ferramenta essencial para reduzir despesas com tratamentos, potencializar uma cultura de medicina preventiva no país e melhorar a jornada de cuidados junto aos pacientes, não deveria haver dúvidas.

Estudos do setor indicam que mais de 20 mil internações por ano poderiam ser evitadas com um olhar mais estruturado sobre a atenção primária, especialmente com o uso sistemático de exames laboratoriais e de imagem que, graças à evolução tecnológica, tornam-se cada vez mais precisos, acessíveis e eficientes.

Em termos financeiros, essa redução de internações representa um potencial de economia de até R$ 400 milhões por ano para o sistema de saúde brasileiro — recursos que poderiam ser redirecionados para ampliar o acesso, fortalecer redes de atenção primária e reduzir desigualdades estruturais.

Ainda assim, há um olhar de curto prazo que alcança também o setor de Saúde Suplementar para o qual, a priorização dos investimentos em Medicina Diagnóstica – que, como vimos, podem gerar sustentabilidade financeira, impacto em desfechos e eficiência operacional — ainda é vista, muitas vezes, como custo. A pergunta certa, nesse cenário, não é ‘quanto custa diagnosticar?’ — e sim ‘quanto custa não diagnosticar?’

Além disso, é importante salientar que, do ponto de vista estritamente econômico, os exames laboratoriais representam hoje cerca de 17% do custo assistencial das operadoras, proporção que se manteve estável ou mesmo se reduziu nas últimas décadas, a despeito do aumento expressivo da complexidade diagnóstica e da alta na demanda por exames.

Ainda assim, tanto na prática assistencial quanto na formulação das políticas de Saúde, a negligência diante das doenças assintomáticas ainda é estrutural. Diabetes, hipertensão e doença renal crônica avançam de modo insidioso em milhões de brasileiros, transformando o tempo, que poderia ser um ativo estratégico da medicina, em vetor de dano cumulativo. Para elucidar esse cenário, segundo o IBGE, mais de 20 milhões de brasileiros já convivem com a diabetes, necessitando de um acompanhamento contínuo de exames laboratoriais para um cuidado mais eficiente de seus quadros clínicos.  

Nesse cenário, o diagnóstico precoce não é um recurso adicional, mas sim condição elementar de sustentabilidade para o ecossistema de Saúde nacional. É preciso reforçar também que não estamos falando apenas de diagnósticos complexos: exames laboratoriais simples, como hemogramas, são determinantes para a identificação de uma série de doenças silenciosas, incluindo casos de leucemia.

E o desafio aqui, não é de capacidade técnica, operacional ou tecnológica: na verdade, é animador observar que a inovação tem avançado de modo expressivo e contínuo no campo da Medicina Diagnóstica.

Segundo dados do Painel Abramed 2024, por exemplo, cerca de 27% dos investimentos realizados pelas principais empresas do setor em 2023 foram direcionados à inovação. Além disso, a Associação indica que, também em 2023, houve um aumento de 54% no número de exames ou laudos acessados digitalmente em relação a 2022. Na comparação com 2021, o volume dobrou. Em outras palavras: estamos falando de um contexto que favorece a integração de um ambiente que, conforme supracitado, segue muito fragmentado no Brasil.

Ainda em relação aos avanços tecnológicos, mais de 50% dos algoritmos de IA na Saúde foram desenvolvidos a partir de dados do campo da Medicina Diagnóstica. Trata-se, portanto, de uma área com processos estabilizados, resultados objetivos e forte capacidade de entrega.

No entanto, essa capacidade precisa estar vinculada à interoperabilidade e ao compartilhamento de dados entre os agentes da Saúde Suplementar, muitos dos quais já possuem bases de big data valiosas, mas precisam avançar na integração de data lakers modernos, capazes de revolucionar o cuidado com os pacientes e a prevenção de doenças silenciosas no Brasil.

Nesse mesmo sentido, é urgente o desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam o uso inteligente e precoce dos exames; a conexão real entre os sistemas público e privado; e a valorização da Medicina Diagnóstica como eixo estruturante do cuidado — e não apenas como ferramenta de confirmação clínica.

Finalmente, associações e entidades do setor devem assumir um papel decisivo para fomentar a colaboração e o fortalecimento de um modelo de Saúde mais integrado e sustentável no Brasil. O diagnóstico precoce, afinal de contas, é não só um instrumento essencial para o enfrentamento de doenças silenciosas, mas também a porta de entrada para o cuidado e promoção da saúde populacional.

Inovação Incremental: como solucionar os desafios da Medicina Diagnóstica com recursos tecnológicos já disponíveis no mercado?

Com avanço em soluções de automação e na nuvem na saúde, setor aposta em tecnologias consolidadas para otimizar fluxos, reduzir desperdícios e melhorar a experiência do paciente

Na corrida da transformação digital que impulsiona diferentes setores da economia e da sociedade, incluindo o universo da saúde e da Medicina Diagnóstica, é muito comum que os olhares se voltem para a próxima tendência disruptiva capaz de trazer novos paradigmas para o mercado e nosso dia a dia.

No entanto, é na chamada inovação incremental – aquela que se baseia em tecnologias já existentes, implementadas para aprimorar processos e recursos – que organizações do Brasil e do mundo concentram boa parte de seus esforços de digitalização na busca por mais eficiência, qualidade e sustentabilidade financeira. 

E, na Medicina Diagnóstica, em que grandes volumes de atendimentos e rotinas operacionais – como as solicitações de autorização, agendamentos, abertura de fichas, preenchimento de documentações e registros de cobranças – são processados diariamente, esse modelo de inovação que busca, por exemplo, maximizar o uso de ERPs, plataformas de auto-atendimento, sistemas de automação e soluções na nuvem, é especialmente relevante.

“A incorporação destas tecnologias já disponíveis no mercado tem tornado a experiência de todos os envolvidos no atendimento muito mais fluida, uma vez que elas tornam os processos centrais do setor mais seguros, ágeis, menos burocráticos e com um maior nível de informação que, por sua vez, melhora a tomada de decisões e permite a otimização do gerenciamento e da rastreabilidade de todo o workflow. Tudo isso potencializa a experiência para o paciente, para o colaborador e para o corpo clínico, trazendo ainda resultados práticos para a organização em termos de fluxos, tempos de atendimento e resultados financeiros”, afirma Júlio Vieira, Diretor de Negócios e Estratégias no HCor e membro do Conselho de Administração da Abramed.

E, quando lançamos um olhar para tecnologias já consolidadas no mercado, é positivo observar seu gradativo avanço no setor de saúde. O relatório Healthcare Cloud Computing Market aponta, por exemplo, que os investimentos em computação na nuvem devem crescer 17,5% até 2029 no segmento, ao passo que, segundo o estudo Medical Automation Market Size, os processos de automação na medicina já movimentaram mais de US$ 52 bilhões em todo o mundo, trazendo avanços e eficiência para o campo dos diagnósticos e exames de pacientes.

Na prática, isso significa enfrentar gargalos históricos da Medicina Diagnóstica com soluções, via de regra, de menor custo para as organizações e que podem ser integradas por meio de APIs (interfaces e protocolos de programação que facilitam a conexão entre sistemas) e dos próprios ERPs das empresas.

“Na minha visão, o próximo passo da transformação digital da Medicina Diagnóstica consiste, justamente, em explorar de modo mais estratégico os recursos de tecnologias já existentes. A maioria das empresas já tem ERPs em funcionamento, por exemplo, mas não utilizam todo o seu potencial. Temos também muitos sistemas que solucionam problemas específicos do setor. São ferramentas baratas, já maduras, que podem ser integradas e que resolvem gargalos em larga escala, mas que ainda dependem de uma maior maturidade do setor em sua jornada de digitalização. Isto inclui desde a automação de processos operacionais (elegibilidade, autorizações), e robôs que executam tarefas repetitivas (faturamento) e até softwares que aceleram a produção de exames”, diz Júlio Vieira.

Dentro do campo das inovações incrementais, Júlio explica ainda que outro pilar que pode ser melhor explorado pela Medicina Diagnóstica envolve os sistemas de predição, que combina o uso de dados, machine learning e algoritmos de inteligência artificial para melhorar a previsibilidade em processos como o planejamento de compras, gestão de estoques e dos fluxos logísticos do setor.

“Temos um case importante nesse sentido e que contou não só com a implantação de tecnologia de predição, mas também com a revisão de políticas de planejamento, saldos de estoques, distribuição entre os diversos pontos de consumo e estabelecimento de cotas e implantação de VMI (projeto em que o fornecedor apoia e executa o planejamento de compras e distribuição) no Hcor. Este projeto gerou uma economia de R$ 9 milhões para o hospital, assegurou o estoque e a disponibilidade de todos os itens padronizados, racionalizou o consumo, reduziu o índice de perdas e vencimentos, diminuindo ainda a necessidade de compras de urgência”, acrescenta o  Diretor de Negócios e Estratégias no HCor e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Os ganhos da inovação incremental podem ser observados também no dia a dia de pacientes. Segundo estudo da Abramed, por exemplo, já em 2023, tivemos um aumento de 54% no número de exames ou laudos acessados digitalmente em relação a 2022. Na comparação com 2021, o volume dobrou.

Esse número é reflexo de um ecossistema de saúde mais integrado e que explora com mais eficiência tecnologias que permitem a informatização de seus processos. Para elevar o patamar dessa corrida tecnológica, é fundamental que as empresas do setor reestruturem protocolos e treinem suas equipes para que possam atuar em ambientes organizacionais com maiores níveis de digitalização. Afinal de contas, antes de reinventar a roda, é fundamental fazer um melhor uso de recursos subutilizados.

COP 30: desafios e oportunidades para o avanço da sustentabilidade e da agenda ESG na Medicina Diagnóstica

Com o Brasil no centro das discussões climáticas globais, o setor de saúde tem a oportunidade de se posicionar como um dos protagonistas da transição para modelos operacionais mais sustentáveis, inovadores e socialmente responsáveis

Por Daniel Périgo

A COP 30, que será sediada em Belém (PA) em 2025, representa um marco geopolítico e ambiental para o Brasil e para o mundo. Ao colocar o país como palco central das discussões sobre clima, a conferência também abre uma janela estratégica para que setores fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, como o de saúde, se posicionem como protagonistas da transição para uma economia de baixo carbono e de práticas ESG mais maduras.

O momento é de urgência, mas também de enorme potencial de transformação, e naturalmente abarca os esforços da Medicina Diagnóstica, especialmente quando consideramos fatores como o aumento de doenças emergentes relacionadas ao aquecimento global e à proliferação de vetores em ambientes úmidos, além dos impactos nas doenças circulatórias e respiratórias, que aumentam a pressão sobre os setores de exames diagnósticos e cuidados preventivos.

No campo das oportunidades, por exemplo, o desenvolvimento de novos testes para doenças emergentes e melhoria dos modelos atuais visando uma maior agilidade na liberação de resultados pode ser decisivo para o desenho do futuro na Medicina Diagnóstica.

Isso posto, a responsabilidade ambiental do setor de saúde se apresenta como uma demanda indispensável para o planeta, haja vista que, atualmente, os sistemas de healthcare são responsáveis por cerca de 4,4% das emissões de CO2 globais.

Nesse sentido, o primeiro passo é entendermos que a agenda ESG é estratégica e merece destaque na condução central dos negócios, tendo de ser vista como um investimento essencial, e não somente como uma despesa, já que a sustentabilidade se reverte também em políticas de governança mais sólidas, redução de riscos, atração de investimentos e ganhos institucionais junto a uma sociedade cada vez mais atenta ao comprometimento das empresas com a pauta socioambiental.

Dentro desse contexto, é importante destacar ainda que a intensificação de eventos climáticos extremos já está aumentando a ocorrência de determinadas doenças, sobretudo em comunidades mais vulneráveis e sem acesso a saneamento básico e saúde de qualidade, fato que impõe,  segundo posicionamento recente da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em colaboração com o Ministério da Saúde do Brasil, a necessidade de preparar os serviços de saúde da América Latina para combaterem os impactos decorrentes das mudanças climáticas.

Essa necessidade mobiliza ainda a criação de um Plano de Ação sobre Clima e Saúde, atualmente em desenvolvimento por essas organizações que será considerado no âmbito da COP 30. Essa iniciativa, somada ao plano setorial de adaptação ao clima da área de saúde do governo brasileiro, atualmente em consulta pública, pode fornecer subsídios para um melhor enfrentamento aos efeitos das mudanças do clima no setor de saúde e no país.

Em outras palavras: o setor de saúde será um ator relevante para o cumprimento dos objetivos da COP 30 que prioriza, dentre outros, temas como adaptação e justiça climática, transição energética, redução da emissão de gases de efeito estufa, desenvolvimento de soluções de baixo carbono e atenção aos impactos sociais das mudanças no clima.

Para o setor de saúde e de Medicina Diagnóstica, na prática isso significa ampliar o acesso à saúde de forma equitativa, fortalecer a resiliência dos sistemas assistenciais frente às emergências climáticas e reduzir o impacto ambiental das operações implantando ações concretas que incluem desde a ampliação da telemedicina para diminuir deslocamentos, passando por um aumento nos investimentos na redução e em uma melhor gestão dos resíduos gerados e na diversificação da matriz energética das operações até a adoção de mecanismos de redução do consumo ou substituição do uso de gases anestésicos com alto potencial de geração de emissões, como o óxido nitroso.

No entanto, é necessário ainda avançar em iniciativas conjuntas, em especial com a cadeia de fornecimento, na busca de soluções mais sustentáveis com relação à logística reversa de resíduos e eletrificação de frotas logísticas, apenas para citar alguns exemplos que podem ser decisivos para uma nova mentalidade em um segmento tão importante para a vida da população.

Neste cenário, a inovação tecnológica desponta como ferramenta indispensável. A inteligência artificial, por exemplo, pode ajudar a construir modelos preditivos climáticos mais precisos que orientem investimentos em prevenção de impactos, otimizem fluxos e reduzam desperdícios. Equipamentos de menor consumo energético e investimentos na integração de informações e processos do ecossistema de saúde são outros passos fundamentais. Mas há desafios: o próprio processamento intensivo de informações na IA consome energia, o que exige a criação de modelos computacionais mais enxutos e bases de dados mais otimizadas.

Ato contínuo, no campo social da agenda ESG que dialoga com a COP 30 dentro da busca pela redução dos impactos sociais frente às mudanças climáticas, é fundamental fortalecer programas de saúde para populações vulneráveis, investir em diversidade, inclusão e na formação e bem-estar dos profissionais de saúde, bem como, garantir acesso equitativo ao diagnóstico e a saúde de qualidade para a toda a população.

Diante de tantas demandas urgentes que envolvem ainda a padronização de protocolos nacionais e internacionais voltados ao tema e fortalecimento da governança das políticas ESG, a Abramed coloca essa agenda no centro de suas discussões. Além de contar com um Comitê ESG exclusivo que incentiva os debates e trocas de experiências entre empresas associadas, a Associação tem investido na consolidação de dados de ESG do setor e na disseminação de conteúdo e aprendizado sobre essas pautas, seja na newsletter mensal, no Fórum de Líderes de Saúde (FILIS) ou na realização de simpósios específicos sobre as temáticas ambientais, sociais e de governança.

A COP 30 é, portanto, mais um chamado para que a temática socioambiental se torne um pilar estratégico do setor de saúde e da Medicina Diagnóstica, que deve cumprir um papel decisivo, tanto diante das mudanças climáticas que já são uma realidade no Brasil e no mundo, quanto como um setor ativo na jornada de transição para sistemas econômicos de baixo nível de emissões e na busca por mais equidade social. 

Daniel Périgo é Líder do Comitê ESG da Abramed e Gerente Sênior de Sustentabilidade do Grupo Fleury

Revisão da tabela TUSS 38 da ANS: Abramed participa de Comitê para aprimorar classificação de glosas

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participou recentemente 1ª reunião do Comitê de Padronização das Informações em Saúde Suplementar (COPISS) da ANS de 2025.Entre os temas debatidos, um dos destaques foi a retomada da revisão da Tabela TUSS 38 — instrumento que organiza a nomenclatura, codificação de procedimentos e mensagens padronizadas na comunicação entre operadoras e prestadores de serviços de saúde, incluindo a Medicina Diagnóstica. A atualização da tabela busca eliminar repetições, padronizar descrições e trazer maior clareza e objetividade aos fluxos de informação.

Para a Abramed, trata-se de uma discussão estratégica, com impactos diretos na previsibilidade financeira e na sustentabilidade do setor. A entidade tem contribuído ativamente com propostas técnicas, com foco em dois desafios principais enfrentados por seus associados: o excesso de códigos pouco aplicáveis e a subjetividade das mensagens de glosa.

Segundo Claudio Laudeauzer, líder do Comitê Padrão TISS da Abramed e Gerente Corporativo de TI do Grupo Sabin, “a TUSS 38 possui muitos códigos que acabam ficando dúbios e em duplicidade. Isso dificulta o entendimento da glosa ou da negativa, e é comum as operadoras utilizarem códigos diferentes para o mesmo motivo”.

Essa falta de padronização prejudica a gestão operacional das instituições de Saúde, impactando diretamente o tempo e os custos administrativos. “O excesso de códigos atrapalha o entendimento do real motivo da glosa ou negativa. Muitas vezes, a correção depende da interpretação da descrição da mensagem, o que pode atrasar o processo ou, até mesmo, torná-lo ineficaz”, explica o especialista.

Com a revisão em curso, o objetivo é tornar a tabela mais enxuta, objetiva e funcional. “A proposta é reduzir o número de mensagens e clarificar os textos das remanescentes. Isso vai reduzir o trabalho interpretativo e gerar uma comunicação mais assertiva”, afirma Laudeauzer. “Teremos uma tabela mais compacta e objetiva, que permitirá uma correção mais rápida e eficaz, reduzindo a recorrência das glosas”.

A participação ativa da Abramed inclui a sistematização de contribuições técnicas elaboradas por seus associados, atualmente em fase de compilação pelo grupo de trabalho do Comitê de Padronização das Informações em Saúde Suplementar, para posterior convergência entre as entidades envolvidas e envio da versão final para avaliação no COPISS.

Essa discussão também reforça a importância de se buscar, no futuro, maior interoperabilidade e padronização entre os sistemas utilizados na Saúde Suplementar brasileira. “Hoje, cada prestador possui seus códigos internos e muitas operadoras adotam protocolos próprios de comunicação. Isso gera um cenário fragmentado e de difícil sustentação. Um modelo único, padronizado e adotado por toda a cadeia traria ganhos reais de eficiência e transparência”, defende Laudeauzer.

O papel da Abramed como voz técnica da Medicina Diagnóstica em discussões como essa reforça o compromisso do setor com a promoção da qualidade da informação em saúde, a busca uma regulação mais eficiente e a construção de relações mais equilibradas e transparentes entre operadoras e prestadores.

Lançamento do livro Medicina Diagnóstica e Direito Administrativo tem apoio da Abramed

A obra Medicina Diagnóstica e Direito Administrativo, coordenada pelo professor André Saddy e publicada pelo Centro para Estudos Empírico-Jurídicos (CEEJ) da Universidade Federal Fluminense (UFF), reúne especialistas de diferentes áreas do Direito e da Saúde para discutir, sob uma perspectiva técnico-regulatória, temas relevantes para a prática da Medicina Diagnóstica no país.


Entre eles, a atuação normativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os impactos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) na gestão de exames e informações sensíveis, o papel da biossegurança nos laboratórios, o uso de inteligência artificial no diagnóstico, a responsabilização civil por erros em exames e a viabilidade legal dos serviços laboratoriais em farmácias.


Além disso, o livro discute a contribuição das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e de startups para o desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas à saúde, destacando os desafios regulatórios e as oportunidades para a modernização do setor.

“Publicações como essa fortalecem a base técnica e jurídica que sustenta as transformações da Medicina Diagnóstica, promovendo um olhar mais integrado entre saúde, regulação e inovação”, afirma Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed.


Com mais de 400 páginas, o livro conta com o apoio da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e, em breve, estará disponível nas versões física e digital.


A obra se propõe a ser uma referência para profissionais da Saúde, juristas, gestores públicos, reguladores e pesquisadores interessados em compreender os desafios e caminhos para um setor mais seguro, ético e eficiente.

Abramed debate inovações baseadas em IA durante o Fórum Inovação Saúde 2025

O painel “IA no Diagnóstico: Como Expandir Possibilidades e Maximizar Oportunidades?”, realizado no dia 7 de abril, no Fórum Inovação Saúde 2025, evento organizado pela Iniciativa FIS, em Recife, contou com mediação de Milva Pagano, Diretora Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), e reuniu Linaldo Vilar, Head of Lab Operations da DASA, e Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Abramed, para refletir sobre o uso da Inteligência Artificial no setor.

Os executivos compartilharam experiências e perspectivas sobre o uso da IA no setor, destacando avanços recentes, pontos de atenção e as transformações que ainda virão.

Linaldo Vilar relembrou que a jornada de inovação da DASA teve início em 2017 e passou por uma fase intensa de experimentação até alcançar resultados consistentes a partir de 2021. Segundo ele, hoje a empresa já opera com mais de 80 ressonâncias magnéticas equipadas com aceleradores de imagem e cerca de 50 algoritmos voltados à identificação de achados críticos.

“É preciso usar a tecnologia como um suporte à decisão clínica, e não como substituto da prática médica”, defendeu. Para Vilar, a IA oferece ganhos concretos de agilidade e qualidade, especialmente em áreas como oncologia e genômica, mas sua implementação precisa respeitar os fluxos operacionais dos prestadores. “Não será uma integração impositiva e única. É preciso escolher onde aplicar, adaptar rotinas, integrar sistemas e trabalhar a aceitação da equipe assistencial”, afirmou.

Ele também alertou sobre a importância de ter dados de qualidade para treinar as máquinas e poder usá-las com segurança.

Lídia Abdalla reforçou que a transformação digital exige mais do que investimento em tecnologia. Para ela, o fator humano ainda é o principal desafio. “Se as pessoas não confiarem na empresa e na liderança, se não entenderem que a IA está aqui para tornar a operação mais sustentável, haverá resistência — não só à IA, mas a qualquer tecnologia”, explicou.

A executiva também ressaltou o potencial da IA para ampliar o acesso ao diagnóstico em um país de dimensões continentais. No entanto, chamou atenção sobre os riscos de desigualdade em regiões que não têm estrutura operacional e iniciativas para capacitar as pessoas para usarem as novas tecnologias.

Em seu discurso, a CEO do Grupo Sabin ressaltou um entrave importante: o financiamento. “Na Saúde Suplementar, muitas operadoras ainda não cobrem procedimentos com IA, de modo que, muitas vezes, a inovação ainda é um privilégio de quem pode pagar particular”.

Segundo ela, o Grupo Sabin tem investido em um ecossistema robusto de inovação, com aceleradoras e parcerias com startups, buscando soluções que possam ser aplicadas de forma prática e sustentável para que os benefícios cheguem para todos, principalmente para os pacientes.

Tecnologia, comportamento e humanização

Durante a mediação do painel, Milva Pagano destacou o impacto da IA não apenas do ponto de vista técnico, mas também comportamental. Para ela, apesar do receio e medo de substituição, o avanço da tecnologia já transformou a forma como profissionais, pacientes e as pessoas no geral interagem com a tecnologia.

“Mesmo com resistência, nos acostumamos a usar e muitos até já criaram uma dependência. Mas, quando pensamos no cuidado com a saúde, não podemos perder a dimensão da relação humana e há o receio dessa relação ser substituída pela Inteligência Artificial”, pontuou.

Ela também mencionou a importância de considerar os pensamentos e valores das pessoas no processo de adoção tecnológica. “São as crenças que moldam nossa relação com o novo, por isso, nunca podemos subestimar as crenças que surgem nos seres humanos”.