Reforma Tributária – Atualização do cenário e impactos para a medicina diagnóstica

Segunda fase está totalmente voltada ao imposto de renda; impactos variam de acordo com o modelo de tributação das empresas

14 de setembro de 2021

Desde as primeiras movimentações pela Reforma Tributária no Brasil, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), por meio do seu Comitê Jurídico, segue atenta avaliando os impactos das mudanças no setor de saúde e contribuindo para um debate mais claro e transparente tanto com os tomadores de decisão quanto com a sociedade.

Ao final do ano passado, encerradas as atividades da Comissão Mista que avaliou a PEC 45/19 e a PEC 110/19, foi gerado um novo projeto de lei: o PL 3887/20. Esse projeto altera a legislação tributária federal e institui a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), que unifica PIS/Pasep e Cofins num único tributo com uma alíquota geral de 12%.

Ainda sem considerar que alguns setores da economia – como saúde e educação – são essenciais, o PL 3887/20 ameaça a funcionalidade e a sustentabilidade da medicina diagnóstica nacional e permanecem os problemas apontados previamente pelas instituições de saúde: a aprovação dessa reforma desencadeará o fechamento de muitas unidades que atuam com medicina diagnóstica, que não conseguirão arcar com o aumento expressivo de custos, e, como consequência, teremos uma nova leva de desempregados (já que o segmento é responsável pela manutenção de 264 mil postos de trabalho); ampliaremos a pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), já sobrecarregado e tentando se recuperar de uma pandemia; e teremos uma dificuldade ainda maior de garantir acesso a exames de qualidade a todos os cidadãos brasileiros.

“Seguimos dedicados à discussão da CBS. Semanalmente temos audiências com deputados e senadores, por meio da Aliança Saúde e Educação, e essa é uma frente que tem surtido bastante efeito. Tanto que agora estamos considerando uma perspectiva positiva de uma alíquota diferenciada para os setores da saúde, educação e também de transportes. A neutralidade fiscal é justamente o nosso pleito”, explica Fábio Cunha, diretor do Comitê Jurídico da Abramed.

Porém, paralelamente ao debate sobre o PL 3887/20, no início deste ano a Reforma Tributária entrou em uma segunda fase com a apresentação, pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, do projeto de lei 2337/21, que altera a legislação do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas e das Pessoas Jurídicas e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

“Essa é uma fase totalmente voltada ao imposto de renda e temos que nos atentar a duas modificações principais: a reinstituição da tributação da distribuição de lucros e dividendos, que desde 1995 é isenta; e a redução da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica”, explica Renato Nunes, sócio da área Tributária da Machado Nunes.

É preciso entender que essas mudanças propostas pelo PL 2337/21 afetam as empresas de forma diferente a depender do seu modelo de tributação.

Para as optantes pelo Simples Nacional (ou seja, pessoas jurídicas com faturamento máximo anual de R$ 4,8 milhões), se o projeto for aprovado não deve haver muito impacto. Isso porque na versão mais recente do texto essas empresas estarão dispensadas de promover a retenção de Imposto de Renda sobre as distribuições de lucros, independentemente de valor. Considerando que inicialmente a isenção seria apenas para a distribuição de até R$ 20 mil por sócio, podemos entender que houve um avanço.

A mesma previsão acima voltada ao Simples se aplicaria às empresas optantes pelo Lucro Presumido e que faturam até R$ 4,8 milhões ao ano. Para estas, os impactos devem ser indiretos, ou seja, podem surgir pelo aumento de preços de fornecedores e prestadores de serviço que sofrerão com uma possível ampliação da carga tributária.

Já para empresas que faturam mais de R$ 4,8 milhões ao ano e atuam sobre Lucro Real ou Lucro Presumido, os impactos precisam ser compreendidos e analisados, pois são bem significativos. As companhias mais penalizadas, em tese, serão aquelas que optam pelo lucro presumido.

“Isso acontece porque essas empresas trabalham com percentuais de presunção, e não com lucro efetivo. Assim, acabam sentindo menos o impacto positivo da redução do IRPJ, que é uma das principais contrapartidas ao retorno da tributação sobre a distribuição de lucros e dividendos”, explica Nunes reforçando que ao mesmo tempo em que se beneficiam pouco dessa redução, do outro lado estão sentindo totalmente o peso do aumento da carga tributária.

Outro ponto apresentado por Nunes e que deve ser percebido é que no setor de serviços da saúde, o lucro presumido conta com um regime especial apelidado de “lucro presumido saúde”. Enquanto no modelo tradicional, o percentual de presunção para se chegar à margem de cálculo é de 32%, nesse formato especial os percentuais de presunção do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro caem para, respectivamente, 8% e 12%. “Isso faz com que tenhamos o aproveitamento da redução da alíquota do IRPJ seja bastante limitado, e, por consequência, uma menor neutralização do Imposto sobre a distribuição de lucros”, declara Nunes.

“Tínhamos uma grande preocupação com o impacto dessas mudanças nos prestadores de serviço e no efeito em cascata que poderia ocorrer. Quando o texto foi alterado, mantendo a isenção para todas as empresas do Simples Nacional e para uma parcela das optantes pelo lucro presumido, a situação melhorou”, relata Cunha.

Monitorando a Reforma Tributária desde o início, o executivo acredita que nos últimos dias a aprovação da reforma foi dificultada. “Enquanto na primeira fase, de aprovação do CBS, tínhamos metade da sociedade contra e outra metade a favor, nessa segunda fase focada no imposto de renda temos 100% dos setores se posicionando contrários ao projeto de lei. Na nossa visão, isso faz com que a reforma enfrente muito mais dificuldades para ser tramitada e o fato de a aprovação ter sido recentemente postergada deixa claro o enfraquecimento do governo com relação a esse movimento”, finalizou.

A Abramed segue acompanhando todos os novos passos para esclarecer os impactos e as demandas do setor de medicina diagnóstica, evitando prejuízos para as empresas e para a população. Inclusive, participará de uma reunião com o deputado federal Luiz Carlos Mota (PL-SP), relator do PL 3887/20, intermediada pela Frente Parlamentar de Serviços.

Wilson Shcolnik coordena mesa redonda durante 2º Congresso Virtual da SBPC/ML

Foram realizadas quatro palestras com temas atuais e relevantes ao cenário da medicina diagnóstica

13 de setembro de 2021

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) marcou presença no 2º Congresso Virtual da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML). O encontro, que teve a transformação digital como tema principal, foi realizado entre os dias 7 e 11 de setembro. Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi o coordenador da mesa redonda “Desafios Laboratoriais do Século XXI”.

Foram, ao todo, quatro palestras com temas distintos, mas que contribuem de forma relevante com os principais debates conduzidos hoje no campo do diagnóstico. Confira, a seguir, os destaques de cada apresentação:

Burnout e inteligência emocional: os seus colaboradores vão bem?

A primeira palestra, comandada por Marina Reis, professora de gestão de pessoas e desenvolvimento humano, abordou burnout e inteligência emocional. Em sua apresentação, Marina enfatizou que para que a saúde esteja, de fato, no centro das empresas, é necessário aderir ao conceito de responsabilidade compartilhada. Segundo a especialista, o local de trabalho é um ambiente que ensina a cuidar da saúde. “O que temos visto nas grandes empresas são processos grandes de autogestão, autoconhecimento e principalmente autocuidado”, declarou.

Considerando que não há como falar em cuidado sem mencionar saúde mental, Marina comentou que antes mesmo da pandemia o Brasil já tinha altas taxas de ansiedade, e o novo coronavírus piorou esse cenário. Diante de tantas incertezas, o que a especialista incentiva é que todos tomem cuidado com o viés de negatividade. Para isso, levou ao congresso uma interessante frase de Rick Hanson, psicólogo norte-americano e autor de conteúdos sobre neurociência: “a nossa mente é velcro para coisas ruins e teflon para as coisas boas”.

O que Marina frisou foi que o medo é uma defesa, mas que não podemos viver o tempo inteiro com medo. “Precisamos ter esse cuidado para que nossa mente não permaneça sempre grudada a coisas negativas, senão teremos uma ansiedade exacerbada”, disse.

Depois de mencionar que estamos saindo do mundo VUCA (acrônimo em inglês para volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) e entrando no mundo BANI (acrônimo em inglês para frágil, ambíguo, não-linear e incompreensível), a especialista encerrou sua apresentação com quatro focos para que consigamos prevenir o burnout: atenção plena, consciência emocional, conexão com o propósito e resiliência.

Medicina personalizada

Na sequência da palestra de Marina, a mesa redonda recebeu Armando Fonseca, médico especialista em pediatria e membro da SBPC/ML e de outras entidades do setor, para explicar a história e as vantagens da medicina personalizada, bem como a participação do diagnóstico nesse contexto.

Trazendo imagens históricas que demonstram que, a princípio, as doenças eram atribuídas a castigos divinos, Fonseca declarou que mesmo diante de cenários tão distintos da nossa atual realidade, é possível atribuir o conceito da medicina personalizada há Hipócrates, considerado o “pai da medicina” que viveu há mais de 2.300 anos. “Hipócrates já falava em personalização da medicina quando atrelava a alteração dos fluidos biológicos às doenças”, disse.

Enfatizando que não há uma competição entre a medicina tradicional e a medicina personalizada, Fonseca relembrou a importância do Projeto Genoma Humano para a evolução da ciência e mencionou um marco histórico para o Brasil. “No final de 2019, um projeto da USP sequenciou 15 mil genomas em uma plataforma de pacientes focada em relacionar manifestações clínicas e expressões da doença ao genoma. Isso nos inseriu no mundo da genômica definitivamente”, declarou.

O especialista também enfatizou o importante papel dos exames diagnósticos para a consolidação da medicina personalizada. Segundo ele, diagnosticar e tratar pacientes com base em suas características genéticas é o que prevê a medicina personalizada, além de acelerar a resolutividade para atenuar custos do sistema. Fonseca, inclusive, mencionou um dado do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico que reforça que até 70% das decisões clínicas são fundamentadas nos resultados de exames.

Ao longo de sua apresentação, Fonseca trouxe uma frase interessante atribuída ao médico Michael Yurkewics e que diz respeito ao diagnóstico individualizado: é mais importante saber que tipo de pessoa tem aquela doença, do que saber que tipo de doença tem aquela pessoa.

Telemedicina no laboratório clínico

Com a pandemia de COVID-19, a telemedicina cresceu de forma exponencial não só no Brasil, mas no mundo. Para tratar desse tema, a mesa redonda recebeu Eduardo Cordiolli, gerente médico de telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente da Saúde Digital Brasil.

Segundo Cordiolli, a mídia vem destacando os avanços da telemedicina, porém enquanto algumas reportagens declaram que as teleconsultas podem crescer até 15% ao ano, ele acredita que o desenvolvimento é muito mais agressivo. “Em 2021 falavam em 7,5 milhões de consultas virtuais e já passamos de 10 milhões. Acredito que o crescimento pode chegar a 80% ao ano”, disse. Para complementar essa percepção, o especialista declarou que em 2015 atendia um caso virtualmente por dia, em 2020 passou a atender 60 casos diários por meios digitais.

Há uma percepção de que esse crescimento não está atrelado apenas à necessidade de distanciamento gerada pelo novo coronavírus, os pacientes parecem aprovar a ideia de serem atendidos de forma remota. Trazendo dados europeus, Cordiolli mencionou o caso de um ambulatório espanhol que foi fechado durante a primeira onda de surtos, realizando apenas atendimentos remotos, e quando, posteriormente, foi reaberto, notou que 91% dos pacientes gostariam de continuar os atendimentos pela telemedicina. “A ideia de melhorar a experiência é tão forte que os pacientes querem a telessaúde”, disse.

Porém, como essa digitalização pode chegar à medicina diagnóstica? Segundo o especialista, os laboratórios clínicos, por exemplo, estão seguindo caminhos baseados em coleta domiciliar, testes point-of-care e aquisição de equipamentos portáteis de ultrassonografia. Isso, claro, do ponto de vista do contato entre profissional de saúde e paciente.

Paralelamente há toda uma atividade fundamental depois que os exames são coletados, e nesse momento a telessaúde pode se fazer ainda mais presente para atingirmos a quádrupla meta: acesso, equidade, qualidade e eficiência. “Se temos uma tecnologia possível, é desejável do ponto de vista humano, sustentável e viável, conseguimos produzir algo que mudará a saúde para melhor”, pontuou.

Para finalizar, reforçou que a telepatologia é muito importante, visto que há uma carência de médicos patologistas em determinadas regiões do país, e mencionou as quatro formas com que ela pode ser aplicada:

  • Estática – Quando a amostra é fotografada e a imagem enviada para análise em outro local
  • Dinâmica – Quando um técnico manipula a lâmina sob orientação de um médico à distância
  • Robótica – Quando o médico manipula, à distância, o microscópio
  • WSI – Quando toda a lâmina é fotografada em alta resolução e encaminhada para o médico, que consegue manipular a imagem para a análise
  • Híbrida – Mescla outras formas e permite a análise tanto da imagem quanto do microscópio se necessário for

Aquisição, associação ou terceirização: tendências do mercado

A última palestra da mesa redonda comandada por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi conduzida por Fabio Sodre, médico patologista clínico, e trouxe, de forma didática, conceitos, vantagens e desafios de três processos que vem sendo muito vivenciados pelas empresas do setor de diagnóstico: aquisições, associações e terceirizações.

Em sua apresentação, Sodre falou sobre as tendências relacionadas a cada um desses formatos. “Nunca tivemos tantas aquisições no mercado de saúde brasileiro. As taxas de juros, apesar de crescentes, estão em níveis mínimos; há muito capital parado no mercado privado e os bancos estão retomando a confiança”, disse. Sobre associações, mencionou que diante desse cenário de múltiplas fusões, aqueles laboratórios que não querem ser adquiridos podem optar por se associarem e, quanto à terceirização, mencionou que a Lei nº 13.249 trouxe segurança jurídica fazendo com que as empresas pudessem terceirizar e, assim, focar nas vantagens competitivas e na busca por crescimento significativo.

O especialista também explicou um pouco mais detalhadamente cada processo.

O primeiro tópico abordado foram as fusões e aquisições e Sodre enfatizou que esse é um processo que sempre visa a geração de valor para o acionista, buscando sinergias entre as empresas. “A proposta é que as duas companhias juntas obtenham resultado melhor do que a somatória dos resultados individuais de ambas”, explicou.

Entre as armadilhas que precisam ser superadas, enfatizou que não basta apenas avaliar o balanço da empresa que vai ser adquirida, é preciso checar se aquela é a empresa “certa”. “Temos que observar a complementaridade, as sinergias e como está a cultura de cada empresa para que seja feito um processo suave de integração”, disse.

Ao falar sobre as associações, quando há união de empresas com o objetivo de conquistarem, juntas, benefícios e desenvolvimento mútuo, Sodre apontou como benefícios o fortalecimento da capacidade de ação, a criação de soluções efetivas, e a possível redução de custos junto a fornecedores. “Há, também, a criação de confiança entre os associados para uma livre troca de ideias”, pontuou. Entre as dificuldades, destacou o processo mais lento de tomada de decisão, a presença de interesses divergentes, a possibilidade de uma gestão tendenciosa e a necessidade de tempo para interação entre os associados.

Por fim, o especialista falou sobre a terceirização, processo muito utilizado por grande parte dos laboratórios clínicos nacionais que comumente contratam empresas para realização de serviços tanto atrelados à sua atividade fim, porém mais complexos, quanto complementares à sua atividade como limpeza, segurança e portaria. “A terceirização permite a rápida tomada de decisão sem custos adicionais relativos à demissão e a transformação de um custo que antes era fixo, em variável”, explicou.

A saúde tem voz junto à ANPD – Seremos ouvidos e trabalharemos pela adequação

Assinado por Marcos Ottoni, da CNSaúde, artigo detalha cenário da aplicação da LGPD no Brasil

9 de setembro de 2021

Com o início da vigência da Lei nº 13.709/2018 (LGPD), ocorrido em setembro de 2020, bem como de suas sanções a partir de agosto de 2021, uma das principais preocupações do setor de saúde é assegurar que seus anseios e preocupações sejam ouvidos pelas autoridades reguladoras.

A boa notícia é que conseguimos uma das 23 cadeiras no Conselho Nacional de Proteção de Dados – CNPD, o qual auxiliará a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) no processo de regulamentação da LGPD. Agora, será possível ao setor apresentar suas peculiaridades e complexidades, bem como propor sugestões de como realizar uma eficiente gestão de nosso principal insumo (dados pessoais), sem deixar de lado a privacidade e o devido cuidado com as informações de nossos pacientes.

Além disso, poderemos participar, de forma ativa, do processo de regulamentação da norma junto à ANPD, órgão que também possui a atribuição de normatizar, educar e conduzir o processo de aplicação de sanções.

Um ponto importante, e que precisa ser destacado, é que não devemos encarar a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como uma ameaça ao dia a dia do setor. Sabemos que a norma busca trazer uma profunda mudança de cultura organizacional no que tange ao tratamento de dados pessoais, e que esse é um processo que requer investimento e atenção. Porém, esse movimento em prol de uma eficiente governança de dados, além de caminhar no mesmo sentido de diversos países, especialmente europeus, permite ganhos de eficiência através da revisão de diversos processos internos e aprimoramento de práticas de compliance.

A Cisco divulgou um estudo que inclui empresas brasileiras e revela retornos positivos das organizações que investem nessa adequação. Segundo o relatório, para cada US$ 1 aplicado, o retorno é de US$ 2,70. Entre os reflexos, surgem melhorias de eficiência e de governança. Essa é uma boa oportunidade, e não uma amarra.

O importante, agora, é nos atentarmos à essa adequação lembrando, sempre, que a LGPD é uma lei principiológica com foco na regulação responsiva. Ou seja, ao contrário das legislações em que o binômio “comando e controle” eram a regra, a norma permite que as empresas e instituições se adequem à lei mediante a definição de suas próprias condutas de governança, lastreadas em análises de risco próprias e nos princípios legais existentes.

Enquanto isso, a ANPD pretende executar suas atribuições em três momentos bem definidos. O primeiro é o processo de regulamentação da Lei, mediante a realização de debates e consultas públicas, de forma bastante transparente. O segundo será promover o processo de conscientização e educação da sociedade quanto à importância das regras de privacidade e proteção de dados para os setores púbico e privado. E, em um terceiro momento, após a efetiva definição das regras, a Autoridade irá exercer o seu papel sancionador em sua plenitude. Assim, ao contrário do que muito se apregoa, o que vemos é que a Autoridade não está focada, neste momento, em punir, mas sim em normatizar e educar.

E quais devem ser os pontos de atenção iniciais do setor de saúde e, principalmente, das empresas de medicina diagnóstica? Primeiramente podemos pensar em quatro linhas principais:

  • Coleta de dados e a observância dos princípios da Lei – A empresa precisa avaliar o processo de coleta de dados para que seja possível verificar se as informações tratadas são necessárias, adequadas, e que tenham uma finalidade clara e amparada em uma base legal legítima, sempre buscando a coleta do mínimo necessário. Neste ponto, temos de rever o nosso dia a dia, a forma como trabalhamos, identificar o ciclo de vida desses dados e não enquadrar o tratamento em apenas uma base legal, como o consentimento, por exemplo.
  • Compartilhamento – Hoje o compartilhamento de dados é um dos grandes desafios do setor, já que os prestadores precisam compartilhar dados com o Governo Federal, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, Agências Reguladoras, e eventualmente com Operadoras de Planos de Saúde e outros players. Para a medicina diagnóstica o desafio é enorme, já que o segmento gera um grande volume de informações sensíveis e de extrema importância, cujo compartilhamento deve estar rigorosamente embasado em uma base legal clara.

  • Treinamento – Precisamos mudar a cultura das empresas e treinar nossas equipes para a importância da privacidade e proteção dos dados de nossos pacientes e colaboradores. Inicialmente, esse é o foco mais importante para uma empresa, ao invés de investirmos em projetos complexos e caros. Se conseguirmos o apoio dos nossos colaboradores para que todos entendam a necessidade de uma eficaz governança de dados, o sucesso do respectivo projeto de adequação será inevitável.
  • Segurança da informação – Recentemente o Valor Econômico publicou uma matéria que relata que, entre 2019 e 2020, as tentativas de invasão subiram 715%, sendo o setor de saúde um dos mais visados. De fato, o número de ataques contra o setor aumentou exponencialmente, seja em razão de uma atuação cada vez mais elaborada e arrojada de grupos de hackers, mas também diante de diversas vulnerabilidades estruturais existentes, seja do setor público ou privado, em decorrência da falta de investimentos em tecnologias de segurança da informação bem como em treinamento de funcionários. A segurança da informação passou a ser item obrigatório e prioritário para todas as empresas e em especial as do segmento de saúde.

Verifica-se que tais preocupações iniciais buscam assegurar o uso transparente e eficiente dos dados pelo setor, diminuindo-se os riscos de ferir ou afrontar direitos dos titulares.

Essa mudança de postura diante do tema é fundamental, pois sabemos que nosso segmento utiliza dados pessoais para as atividades mais básicas, seja para uma anamnese, para uma prescrição médica, realização de exames, identificação de doenças e prescrição de um tratamento.

Além disso, o advento das novas tecnologias, o uso da internet das coisas, a inteligência artificial, e o big data, associados à telemedicina e a um modelo de gestão da saúde trazem novos desafios envolvendo a privacidade e proteção de dados. E em um contexto de pandemia como o presente momento, ficou evidente, também, a importância do uso dos dados para a realização de pesquisas clínicas e científicas para o bem de toda a humanidade.

Neste contexto, compreender os princípios da LGPD, investir na mudança de cultura e garantir que os dados possam ser tratados em prol do desenvolvimento da saúde e da segurança dos pacientes é mandatório para os prestadores de serviços de saúde, e em especial para o setor de medicina diagnóstica.

* Marcos Ottoni é conselheiro do Conselho Nacional de Proteção de Dados e Coordenador Geral Jurídico da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde)

Abramed leva importantes debates sobre medicina diagnóstica à Digital Journey by Hospitalar

Apresentações da entidade abordaram LGPD, Medicina Diagnóstica Hospitalar e Inteligência Artificial

9 de setembro de 2021

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) teve uma participação bastante forte na segunda edição da Digital Journey, programação virtual promovida pela Feira Hospitalar. O evento, que teve início em 16 de agosto, contou com três encontros conduzidos pela Associação no dia 30 abordando temas extremamente relevantes para a comunidade de medicina diagnóstica nacional: Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Limites da Medicina Diagnóstica Hospitalar e Inteligência Artificial.

“Para aproveitarmos a oportunidade de mostrar um pouco mais do setor de medicina diagnóstica para o público da Digital Journey, trouxemos alguns temas muito relevantes. Tenho certeza de que esses debates blindaram o público com informações importantes sobre o segmento”, mencionou Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, na abertura das sessões.

Confira, abaixo, os links para as coberturas completas de cada uma das apresentações:

Proteção de dados em Medicina Diagnóstica
Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed
Rogéria Leoni Cruz, diretora Jurídica e Data Protection Officer do Hospital Israelita Albert Einstein
COBERTURA COMPLETA

Medicina Diagnóstica Hospitalar – Quais são os Limites?
Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed
Marcos Paulo Novais Silva, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge)
Alessandro Ferreira, vice-presidente Comercial e Marketing do Grupo Hermes Pardini
COBERTURA COMPLETA

Inteligência Artificial como facilitadora do acesso ao diagnóstico e redutora das disparidades sociais
Cesar Higa Nomura, superintendente de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração da Abramed
COBERTURA COMPLETA

PL 7.419/2006 – Abramed apresenta cinco pontos de atenção para o setor de medicina diagnóstica

Em audiência pública, Wilson Shcolnik representou o segmento no debate sobre alterações nos planos e seguros privados de assistência à saúde

9 de setembro de 2021

A 7ª Reunião Extraordinária da Comissão Especial destinada a proferir pareceres quanto ao Projeto de Lei 7.419/2006, realizou, no dia 1º de setembro, uma audiência pública para que diversos setores da saúde pudessem debater as questões relativas aos prestadores de serviço atuantes no sistema de saúde suplementar do país. Presidida pela deputada Soraya Manato (PSL-ES), a comissão tem, como relator, o deputado Hiran Golçalves (PP-RR).

Na ocasião, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), apresentou cinco pontos de atenção na visão dos laboratórios e clínicas de diagnóstico por imagem.

“A Abramed é formada por empresas de diferentes naturezas que, juntas, realizam mais de 50% de todos os exames do sistema suplementar, sendo que muitas delas também atendem o Sistema Único de Saúde (SUS). Na pandemia de COVID-19, que estimamos terem sido realizados 35 milhões de exames, nossas associadas foram as responsáveis por efetuar cerca de 70% deles. Temos associados em todo o país e entendemos ser necessário dar ênfase a cinco pontos nessa discussão”, disse Shcolnik ao iniciar sua apresentação.

Confira, abaixo, os cinco tópicos apresentados pelo executivo:

Regras de contratualização – Apesar da Lei nº 13.003, o setor de medicina diagnóstica não tem recebido o repasse dos reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Além disso, há a existência das glosas, ou seja, serviços que foram prestados e faturados, mas foram contestados sem razão clara. “Sem a remuneração justa, corremos o risco de termos redução da qualidade dos serviços, prejudicando todos os beneficiários da saúde suplementar”, pontuou Shcolnik.

Desperdícios em saúde – Problema que deve ser visto com seriedade por afetar a sustentabilidade do sistema, os desperdícios existem e precisam ser combatidos. Porém, é preciso compreender que há uma inversão na pirâmide etária, ou seja, há o envelhecimento populacional somado a um aumento no número de doentes crônicos. Para essa população, os exames complementares são essenciais, pois as doenças precisam ser gerenciadas e o tratamentos controlados.

“Há uma tendência global de aumento no número de exames complementares e precisamos mudar a ótica de atenção à saúde, incentivando a promoção e a prevenção. Para isso, os exames complementares são indispensáveis”, esclareceu. O presidente também mencionou a relevância da medicina personalizada que, baseada em resultados de exames laboratoriais, é uma ferramenta que traz economia ao indicar a direção exata de tratamentos efetivos.

Substituição de prestadores de serviços não hospitalares – A substituição de hospitais nas redes credenciadas é feita com tratamento apropriado que protege o beneficiário ou a empresa contratante, mas não há essa mesma atenção na substituição de prestadores não hospitalares, como laboratórios e clínicas de diagnóstico por imagem. Ainda dentro desse contexto, há uma necessidade de envolver critérios de qualificação para evitar que o beneficiário perca prestadores ou os veja sendo trocados por outros que não são equivalentes. Segundo Shcolnik, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde ainda não oferece um campo referente a qualificação para inserção de dados como certificados de acreditação.

Regulação de Prestadores de Serviços de Saúde pela ANS – “Nosso setor, por meio da Abramed, é contra a regulação de prestadores por considerar que ao longo de 20 anos de existência da ANS temos coexistido de forma pacífica e harmoniosa”, pontuou o executivo lembrando que os prestadores de serviço já são rigidamente regulados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que exige o seguimento de diversos critérios para minimizar ou eliminar os riscos sanitários.

Respostas aos novos desafios da saúde suplementar – O setor de medicina diagnóstica vem se adaptando a novos formatos de ofertas de serviços. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, fortaleceu os atendimentos domiciliares e otimizou as informações em saúde para que esses dados pudessem balizar a tomada de decisão em benefício dos pacientes. “Ao mesmo tempo, temos adotado, em contratos com operadoras de planos de saúde, novas formas de remuneração a fim de atender às demandas do mercado”, complementou.

Após elencar os pontos de atenção quanto as mudanças ensaiadas pelo PL 7.419/2006, Shcolnik agradeceu a oportunidade dada à Abramed para expor as particularidades da medicina diagnóstica e agradeceu à ANS. “Reconhecemos o esforço da Agência que, enquanto não temos um marco regulatório, reativou a Câmara Técnica e agradecemos a incorporação ao Rol de novos procedimentos em caráter excepcional durante a crise de COVID-19, visto que esses exames têm sido essenciais para diagnosticar e gerenciar a gravidade da doença, principalmente nos pacientes hospitalizados”, disse.

Em sua declaração final, o relator Gonçalves enfatizou que a comissão visa ouvir todos os componentes do setor. “Essas audiências têm sido muito explicativas, auxiliando no meu convencimento e na ideia do que devemos construir em nosso relatório”, disse.

Além de Wilson Shcolnik, que representou a Abramed, também participaram da 7ª Reunião Extraordinária da Comissão Especial, Gustavo de Barros Macieira, gerente de análise setorial e contratualização com prestadores da Diretoria de Desenvolvimento Setorial da ANS; José Fernando Macedo, diretor de Defesa Profissional da Associação Médica Brasileira (AMB); Salomão Rodrigues Filho, segundo tesoureiro do Conselho Federal de Medicina (CFM); e Carlos Fernando da Silva, representante da Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

É possível assistir à reunião na íntegra AQUI.

Indispensáveis à segurança materna e neonatal, exames estão presentes em todas as fases da gestação

Do pré-natal ao nascimento, exames laboratoriais e de imagem contribuem com o cuidado; Abramed participa da Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso

8 de setembro de 2021

Em 17 de setembro comemora-se o Dia Mundial da Segurança do Paciente e, a cada ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define um tema focal para a construção de ações que visam a melhoria contínua da assistência. Diante de um cenário em que cerca de 810 mulheres e 6.700 recém-nascidos (1) morrem todos os dias ao redor do globo, muitas vezes por causas evitáveis, o assunto escolhido para 2021 foi Cuidado Materno e Neonatal Seguro.

Considerando que a medicina diagnóstica tem papel extremamente relevante na segurança da gestação e do nascimento, integrando muitas das etapas do pré-natal, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participa da Aliança Nacional para o Parto Seguro e Respeitoso colocando todo o setor de diagnóstico à disposição das ações que promovem a melhor qualidade da assistência.

Os exames, tanto laboratoriais quanto de imagem, integram os cuidados obstétricos ao longo de todas as fases da gestação e permanecem presentes nas primeiras horas de vida dos bebês. “Durante a gravidez, a mulher faz uma série de exames para detectar doenças e mesmo os testes mais simples e rotineiros, como hemogramas e exames de urina, são fundamentais nesse momento”, comenta Alex Galoro, diretor do Comitê de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin.

Segundo o especialista, os exames de sangue auxiliam na detecção de anemias e diabetes que podem evoluir com a gestação e por meio da análise laboratorial da urina pode-se detectar infecções e perdas de proteína capazes de contribuir para o parto prematuro. “Exames laboratoriais também checam incompatibilidades entre os tipos sanguíneos da gestante e do bebê; detectam sorologias diversas como hepatite, HIV e sífilis; infecções por citomegalovírus, toxoplasmose e rubéola, doenças que podem acarretar má formação fetal; e existem marcadores bioquímicos para pré-eclâmpsia”, complementa Galoro. Importante lembrar que, no Brasil, a hipertensão arterial é a causa de morte materna mais frequente, responsável por 23% dos óbitos maternos diretos (2).

A gestante também passa por exames de imagem, um momento que costuma vir repleto de ansiedade (KimONeillPsychic). “Além dos ultrassons obstétricos normais, existe o ultrassom morfológico, que avalia o feto em detalhes, podendo detectar má formações cardíacas, pulmonares e esqueléticas”, relata Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Alliar e diretor do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed.

O médico também recorda que pela ultrassonografia é possível identificar as circulares de cordão – principalmente em torno do pescoço, presentes de 20 a 37% dos bebês ao nascimento (3) –, e algumas outras condições do feto que podem ser tratadas antes mesmo do parto, com intervenções intraútero.

Chegado o momento de dar luz a uma nova vida, os exames seguem presentes. Logo ao nascer, há um acompanhamento do bebê, principalmente nos casos em que a mãe desenvolveu alguma condição clínica ao longo da gestação. “Caso ela tenha tido diabetes, por exemplo, há risco de o recém-nascido desenvolver hipoglicemia e para isso são feitos exames de monitoramento”, pontua Galoro. Outro teste extremamente importante é o de bilirrubina: “a icterícia pode desencadear problema neurológico grave”, complementa o especialista.

Há, também, os testes de triagem como o teste do pezinho. Realizado nos cinco primeiros dias de vida, vem em contínua evolução e, hoje, consegue detectar 53 patologias, todas raras. “Agora temos, também, um outro teste que é chamado de ‘teste da bochechinha’. Com um cotonete, é feita uma raspagem das células da mucosa oral do bebê de onde é possível extrair o DNA. Com essa amostra, fazemos uma triagem para várias doenças genéticas que possam trazer implicações para o desenvolvimento da criança”, comenta Galoro.

Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso

Promovida pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), a Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso – que conta com participação ativa da Abramed – é uma iniciativa que busca o comprometimento de todo o setor de saúde com a assistência materna e neonatal. Alinhada com a campanha proposta pela OMS, reúne cerca de 40 entidades que buscam a redução da mortalidade materna, um dos problemas de saúde pública mais graves do país.

“Muitas das causas de morte materna e neonatal são evitáveis. Precisamos da mobilização de toda a sociedade para conscientização sobre esse problema e a criação de medidas que consagrem os direitos ao parto seguro e respeitoso. Assim, unindo agências governamentais, empresas privadas, institutos, associações e profissionais de saúde, ampliamos a discussão”, comenta Victor Grabois, presidente da Sobrasp.

Representando o setor de medicina diagnóstica nessa coalizão de áreas, a Abramed reconhece a necessidade de amplificar esse tema junto a seus associados. “Nos colocarmos à disposição de todo o ciclo de cuidado para a redução das altíssimas taxas de mortalidade materna e neonatal. Os exames têm um peso enorme na construção de uma gestação segura e seguem nos acompanhando ao longo de toda a vida”, diz Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Na visão de Grabois, o setor de diagnóstico é fundamental durante todo o pré-natal, mas ainda mais importante para aquela parcela de mulheres com comorbidades e risco aumentado de complicações. “Gestantes e recém-nascidos com quadros clínicos mais graves e complexos precisam da medicina diagnóstica. Não é possível pensar em segurança do paciente sem todo o aporte laboratorial e de imagem”, diz.

O tema tornou-se ainda mais emergencial agora. Segundo divulgado pela Sobrasp, em 2021, dados do Observatório Obstétrico Brasileiro mostram que 38 gestantes morrem por semana no Brasil em decorrência da COVID-19. “Quando somamos as taxas já altas de mortalidade materna com a crise do novo coronavírus, temos uma situação trágica. Ano passado tínhamos 10 mortes maternas por semana e esse ano estamos beirando 40 mortes semanais”, finaliza Grabois.

Referências:
(1) Dia Mundial da Segurança do Paciente 2021
(2) Fatores de risco relacionados à pré-eclâmpsia
(3) Qual a melhor orientação para gestantes com 38 semanas, com circular de cordão?

Racionalizar – e não racionar – é o caminho para a sustentabilidade da medicina diagnóstica

Debate sobre os limites do setor de diagnóstico hospitalar foi conduzido pela Abramed na Digital Journey

01 de setembro de 2021

O setor de saúde como um todo segue debatendo de forma consistente tanto o underuse quanto o overuse, ou seja, a não realização de exames mesmo quando necessário e a realização excessiva ou desnecessária de procedimentos diagnósticos. Reconhecer essa realidade é fundamental para que o segmento possa atuar na busca pela segurança do paciente e sustentabilidade dos sistemas. Para tratar desse assunto principalmente no ambiente hospitalar, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conduziu um painel com especialistas durante a segunda edição da Digital Journey, evento digital promovido pelo time da Feira Hospitalar.

Na noite de 30 de agosto, Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, recebeu Alessandro Ferreira, vice-presidente comercial e de marketing do Grupo Hermes Pardini, e Marcos Paulo Novais Silva, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), para tratar desses questionamentos.

Um dos primeiros pontos – e talvez um dos mais relevantes do debate – se prendeu à diferenciação de termos com grafias muito parecidas, mas conceitos totalmente diferentes: racionar x racionalizar. No âmbito da medicina diagnóstica, entender que a racionalização é importante para todos os atores da cadeia, mas que o racionamento tende a ferir alguns princípios fundamentais, é imprescindível.

O assunto foi iniciado por Silva. “Somos favoráveis à racionalização no sentido de buscar o melhor uso, de forma consciente, evitando tanto o overuse quanto o underuse. Mas somos contra racionar no intuito de reduzir a assistência, entregando menos do que seria necessário”, destacou.

Na visão de Ferreira, a racionalização é, inclusive, um objetivo global. Segundo o executivo, a proposta universal é sermos cada vez mais assertivos na prescrição e na realização dos exames diagnósticos. E isso extrapola o ambiente hospitalar. “Na prática, os dois extremos seguem acontecendo, tanto o excesso quanto a ausência. E isso pode acontecer pela falta de esclarecimento da equipe médica quanto a maneira mais adequada de conduzir aquela situação ou pela falta de conhecimento sobre as possiblidades diagnósticas que estão disponíveis naquele serviço laboratorial do hospital”, disse.

O executivo exemplificou como a falta de esclarecimento e de conhecimento impactam na prescrição com um cenário visto durante a pandemia de COVID-19. “Observamos, de modo geral, um uso acima do necessário de exames como a procalcitonina, que só apresenta alteração depois de 48 ou 72 horas da infecção, e de testes de dímero D. Tudo isso em decorrência da insegurança causada pela novidade do novo coronavírus no ambiente hospitalar”. Segundo Ferreira, com o melhor entendimento sobre o curso da doença, essas solicitações também diminuíram.

Na outra ponta o especialista mencionou uma baixa utilização de exames ligados à medicina personalizada e à genômica que mesmo não sendo aplicados à urgência e à emergência, tem um papel essencial em especialidades mais avançadas e hospitais que são centros de referência em algumas especialidades. “A falta de conhecimento dos benefícios que esses exames podem trazer para o hospital, os médicos, as operadoras e os pacientes leva a baixa utilização. Cabe a nós, que entendemos as duas vertentes, termos uma conversa transparente e auxiliar na construção de protocolos que conversem com todos os players da cadeia de saúde”, disse.

Medicina defensiva

A judicialização da saúde também foi tema de debate nesse painel sobre os limites da medicina diagnóstica no ambiente hospitalar. “Hoje existe uma prática defensiva da solicitação de exames para embasamento clínico e para a tomada de decisão. Qual o limite da solicitação de exames dentro de um ambiente hospitalar”, questionou Figueira.

Reconhecendo que a medicina defensiva é uma calamidade não só no Brasil, mas no mundo, Ferreira apontou que o limite está no bem-estar do paciente, e isso não envolve apenas ele estar fisicamente saudável, mas ele estar confortável e consciente de tudo o que está incluso no seu ciclo de cuidados.

“Devemos levar em consideração também o conforto psicossocial dos pacientes. Como balancear tudo isso? Com argumentação clínica”, declarou. Para o executivo, uma das maneiras de garantir esse bem-estar está em ser transparente com esse paciente assim que ele chega para o atendimento.

“Sabemos que a jornada pode depender da evolução da doença, mas existem processos definidos e o paciente pode ter acesso ao desenho dessa jornada. Porém, em muitos casos, ele fica sem a informação e acaba acordado no meio da noite para uma coleta de exames que nem sabia que ocorreriam. Demonstrar quais serão as etapas diminui a ansiedade e deixa menos abertura para a busca desenfreada de informações na internet”, detalhou. Essa falta de previsibilidade de sua própria jornada vai contra o cuidado centrado no paciente e atrapalha a segurança psicológica.

Além disso, Ferreira pontuou ser preciso uma observação de potenciais pressões externas, inclusive de familiares, que possam indicar um risco de judicialização. Nesses casos, com embasamento clínico e científico para qualquer decisão tomada, mesmo que seja a negativa para a realização de determinado procedimento, há tranquilidade por parte do corpo clínico.

Na visão de Silva, que complementa o apresentado pelo executivo do Hermes Pardini, dois pontos estão em jogo. O primeiro é o conhecimento técnico e a formação do profissional de saúde, que tem que estar sempre muito bem atualizado para agir com confiança. O segundo é que esse profissional atende uma grande quantidade de pacientes diferentes, com necessidades diferentes, todos os dias. Então ele precisa de protocolos e guidelines que o auxiliem nessa tomada de decisão.

“Além da educação continuada, eu aponto como fundamental a formatação de bons protocolos que deem amparo maior para que os profissionais de saúde possam tomar boas decisões de forma rápida”, declarou.

Dificuldades, métricas e educação continuada

Avaliando como a medicina diagnóstica funciona nos diferentes formatos de assistência, Silva pontuou que a assimetria de informações é um fator complicador. “Nas redes verticalizadas, temos operadoras e hospitais olhando de forma única e isso pode levar a um resultado menor do que o desejável por conta de um alinhamento grande demais entre as duas pontas. Por outro lado, fora da verticalização, o grande dificultador é a assimetria pois há dois grupos independentes que se baseiam no fee-for-service, e podem levar a uma busca pelo aumento da remuneração.

Na visão de Ferreira, talvez o modelo mais transparente possível seja a inclusão de terceiros na estrutura dos hospitais e operadoras. “Pois o serviço terceirizado não vai trabalhar custo como o laboratório verticalizado do próprio hospital e o hospital não olhará seu laboratório como uma central de custos. Quando há outros prestadores de serviço lá dentro, eles emergem como moderadores dessa relação”, explicou.

Na sequência, o time de especialistas mencionou a importância da educação continuada para que haja, de fato, essa racionalização da medicina diagnóstica. “As grandes empresas do setor têm a obrigação de investir em programas de educação médica continuada a fim de prover atualização para os profissionais”, disse. Segundo ele, essa ação também contribui com o acesso à saúde.

Outro ponto que merece investimento, na opinião de Silva, é a construção de dados e indicadores mais ricos e confiáveis para o setor. “Precisamos de informações sobre a efetividade de protocolos, sobre resultados clínicos para levar para as universidades e auxiliar na formação médica”, finalizou.

Mais acurácia e mais acesso – Como a inteligência artificial contribui com a medicina diagnóstica

Tema encerrou a participação da Abramed na segunda edição da Digital Journey by Hospitalar

01 de setembro de 2021

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) encerrou sua participação na segunda edição da Digital Journey, evento virtual promovido pela Feira Hospitalar, com uma rica apresentação sobre a inteligência artificial como facilitadora do acesso ao diagnóstico e redutora das disparidades sociais. O tema foi conduzido por Cesar Higa Nomura, superintendente de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração da entidade, na noite de 30 de agosto.

“A inteligência tem várias faces e nosso foco, nessa apresentação, é apontar suas funcionalidades quando aplicadas ao diagnóstico relacionado à linha de cuidado”, disse Nomura ao iniciar sua palestra que trouxe uma sequência de exemplos, sempre fundamentados em evidências científicas, de como algoritmos bem treinados são capazes de auxiliar na definição diagnóstica e otimizar os tratamentos em diversas especialidades médicas.

Câncer de pele e dermatologia

Em 2016, o The Lancet, um dos principais periódicos científicos do mundo, publicou um artigo que questionava se o câncer de pele poderia ser diagnosticado por meio de inteligência artificial. Naquele mesmo ano, um trabalho divulgado por outra renomada revista, a Nature, apontou que algoritmos de inteligência artificial conseguiam identificar carcinomas e melanomas com alta acurácia.

“O estudo envolveu a análise de 129 mil imagens dermatológicas e o trabalho de diagnóstico de 21 médicos e o que foi observado foi que a acurácia do algoritmo para a detecção do câncer de pele foi de 0.96, ou seja, o software atingiu uma excelente capacidade”, explicou Nomura.

Segundo o executivo, no Brasil há, inclusive, um aplicativo de teledermatologia que permite que o paciente tire uma foto e envie para avaliação e potencial diagnóstico de câncer de pele. “Se pensarmos que não temos especialistas em dermatologia em todos os cantos do nosso país, esse app tem muita utilidade e pode ser absolutamente interessante”, destacou.

Oftalmologia

Outra possibilidade diagnóstica somada à inteligência artificial foi publicada pelo JAMA Network. “120 mil imagens de fundo de olho foram analisadas junto com sete oftalmologistas experientes. Nesse caso, a acurácia do software para detectar retinopatia diabética foi de 0.99. É o algoritmo ajudando o diagnóstico de um acometimento muito importante relacionado à diabetes”, explicou Nomura destacando que a inteligência artificial é tão precisa que com essas imagens consegue até mesmo apontar se o paciente é homem ou mulher.

Cardiologia

A cardiologia também se beneficia do diagnóstico via inteligência artificial. Existem algoritmos para eletrocardiograma capazes de detectar infarto agudo do miocárdio. “Esses algoritmos também podem predizer a função ventricular, apontando se está normal ou alterada. Além disso, trazem estimativas interessantes”, disse Nomura. Segundo o especialista, a capacidade é tão vasta que a inteligência artificial pode identificar até mesmo anemia por esse eletrocardiograma e predizer o risco daquele paciente falecer nos próximos doze meses.

Outra adesão tecnológica à especialidade mencionada por Nomura diz respeito a reserva de fluxo para avaliar angiotomografia de coronária. “Existe a tomografia de coronária e é possível avaliar o fluxo por meio dela. Porém, os algoritmos que existem atualmente utilizam supercomputadores, são exames caríssimos que precisam de um longo tempo de processamento e que exigem que as imagens sejam enviadas para fora do país. Porém estão surgindo alternativas. No Sírio-Libanês publicamos, este ano, conteúdos com algoritmos mais simples em machine learning que conseguem simplificar a análise para uso em estações de trabalho mais simples. São softwares que avaliam a coronária e ainda dizem se, além da estenose, há algum achado que possa estar reduzindo o fluxo”, pontuou. “É um campo vasto de possibilidades”, complementou.

COVID-19

No Brasil, um trabalho ganhou destaque. Qualquer assistência, em qualquer local do país, que tivesse um equipamento de tomografia poderia enviar gratuitamente as imagens dos seus pacientes para um servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a chance daquela imagem representar um caso de COVID-19 e quantificar o comprometimento do pulmão.

Com apoio e financiamento de muitas instituições e empresas, o projeto auxiliou 52 hospitais espalhados por todo o Brasil. “Avaliamos 27 mil tomografias computadorizadas de tórax nessa plataforma que ficou em funcionamento até janeiro de 2021. E além da contribuição diagnóstica, alguns achados foram interessantes. Dados preliminares mostraram que pacientes com mais de 50% do pulmão acometido com vidro fosco tinham maior mortalidade. Além disso, os pacientes com mais da metade do pulmão afetado tinham mais chances de irem para a UTI e de precisar de intubação”, destacou o especialista que participou ativamente do projeto.

Por fim, ao encerrar sua apresentação, Nomura declarou que mesmo na inteligência artificial existem falhas e que para sanar essas falhas é preciso investir em treinamento contínuo dos dados. “É um passo de cada vez com um conhecimento que vai sendo adquirido aos poucos”, disse.

Na visão do executivo, os algoritmos quando bem empregados aumentam a acurácia diagnóstica, encurtam distâncias e democratizam o acesso. “Com a comunidade, a academia, o setor privado e o governo trabalhando como parceiros, é possível fazer muito mais com muito menos”, finalizou.

Na pandemia, indústria foca em priorização para vencer os desafios

Adriano Caldas, vice-presidente para América Latina da Guerbet, comemora o fato de vencer a pandemia sem demissões

01 de setembro de 2021

Com drástica diminuição na quantidade de exames e procedimentos eletivos realizados nos primeiros meses da pandemia, a indústria de saúde também sofreu no país vendo a demanda cair vertiginosamente. Para vencer esses desafios impostos pela COVID-19, mantendo-se firme para seguir em atuação, muitas empresas precisaram tirar o pé do acelerador e reformular suas estratégias.

Na Guerbet, empresa de origem francesa especialista em imagens médicas no mundo, os gestores apostaram em manter, intocadas, suas equipes. Adriano Caldas, vice-presidente para América Latina, conta orgulhoso como conseguiu sobreviver a 2020 sem desligamentos. Nessa entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, aborda, também, quais as outras estratégias adotadas pela companhia e como estão os planos de negócios para o futuro.

Confira o papo na íntegra.

Abramed em Foco – Com a chegada da pandemia, o setor de diagnóstico sofreu bastante, especialmente o de diagnóstico por imagem, já que mesmo que houvesse uma continuidade de demanda de tomografias de tórax, outros exames como ultrassonografias, ressonâncias e mamografias ficaram parados. Como esse afastamento dos pacientes das clínicas e laboratórios impactou os negócios da Guerbet?

Adriano Caldas – É fato que houve uma queda bastante expressiva na realização de exames, confirmada, por exemplo, pelos boletins divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre abril e maio de 2020, vimos o volume de exames e atendimentos caindo na faixa de 60% no comparativo com o período pré-pandemia. Já com a recuperação do último trimestre de 2020, chegamos a números bem mais próximos do que tínhamos antes.

Toda essa oscilação teve um forte impacto que nos exigiu ações estratégias para ajustar nosso fluxo de caixa. Aqui a palavra-chave foi priorização. No ano passado tivemos de olhar realmente ao que era essencial não só para o curto prazo, para o longo prazo. Tentamos não paralisar investimentos importantes, críticos e estratégicos que impactaram os anos de 2021, 2022 e 2023. Porém, tínhamos que fazer escolhas para conter os gastos. Essa foi a tônica de 2020, acreditando que o cenário começaria a melhorar no final do ano.

Abramed em Foco – E o ritmo da Guerbet foi o mesmo dos clientes?

Adriano Caldas – Interessante observar que a velocidade de recuperação dos nossos clientes não foi padronizada. Dependia do tipo de negócios e da região. Mas a sequência foi parecida, tendo início em outubro com um crescimento gradativo dos negócios.

Abramed em Foco – Os recursos humanos da companhia foram impactados?

Adriano Caldas – Na Guerbet, temos muito orgulho de dizer que mesmo tendo de fazer escolhas difíceis durante o ano de 2020, nós conseguimos priorizar nosso time. Temos uma organização muito eficiente, com pessoas com conhecimento e competência, além de processos bem ajustados. Assim, conseguimos passar por tudo isso sem desligar nenhuma posição. Na verdade, acabamos contratando posições adicionais. Por fim, não tivemos desligamentos, tampouco redução das jornadas. Passamos pela pandemia mantendo nosso maior ativo que é a nossa equipe.

Abramed em Foco – Muitas empresas de diagnóstico tiveram de mudar seus cardápios de exames para reequilibrar as atividades. Aconteceu o mesmo na indústria?

Adriano Caldas – Ao longo de toda a pandemia fomos acompanhando a realidade do mercado. Nosso portfólio não tem produtos dedicados a essa ou aquela patologia. Vendemos, por exemplo, contrastes para ressonância magnética de forma geral. Se o número de ressonâncias cai, cai também a nossa produção. Foi algo que nos afetou e não tivemos como mudar. Então, no curto prazo, buscamos alternativas de crescimento junto a novos clientes a fim de aumentar nosso volume de exames.

Globalmente, a aposta da Guerbet vem sendo a de incluir, na vitrine, algumas soluções digitais, investimentos nos exames e no contraste para ressonância magnética, e produtos atrelados à maior incidência de casos oncológicos no mundo (já que o aumento da expectativa de vida tende a também aumentar os casos de câncer). Além disso, outra área de dedicação é a radiologia intervencionista. A empresa tem muitos planos para se desenvolver nesse segmento com soluções ainda mais completas.

Abramed em Foco – E quanto à pesquisa, desenvolvimento e inovação? Na sua opinião, a pandemia promoveu um avanço da tecnologia em saúde?

Adriano Caldas – A Guerbet definiu cinco áreas de investimentos globais prioritários e a boa notícia é que, com isso, todos os projetos andaram na velocidade esperada, apesar da pandemia. Teremos lançamentos de produtos na área de contrastes, bem como parcerias com empresas para adesão de soluções digitais que complementam nosso portfólio, incluindo softwares que utilizam inteligência artificial para suportar o diagnóstico de patologias em áreas como demência, esclerose múltipla, pâncreas e fígado. No Brasil, essa estratégia se traduziu em uma dedicação a projetos pilotos. Estamos discutindo e trazendo essas soluções sempre com o objetivo do aprendizado.

Abramed em Foco – Quais mudanças foram implementadas por conta da COVID-19 que acredita que permanecerão pós pandemia?

Adriano Caldas – O primeiro ponto, sendo quase óbvio, é a conectividade. Com a transformação digital muito acelerada – lembrando, claro, que mais em alguns locais do que eu outros a depender da infraestrutura e da capacidade de cada um em investir e se adaptar – encontramos maneiras de nos tornarmos mais digitais, e penso que isso vai permanecer. Não voltaremos a ser como antes, mesmo que vivenciemos um balanço entre as relações pessoais e o uso de ferramentas virtuais. Diante disso, temos um longo caminho pela frente para investir e digitalizar processos de compra, de pedidos, entregas e fortalecer as interações com os clientes.

Essa conectividade ampliada chega, também, ao paciente. Quantas e quantas vezes vemos que o paciente não mais carrega aquela pasta repleta de exames, pois quando ele chega ao consultório, o médico já tem acesso ao laudo digitalizado. Isso era algo que já estava acontecendo, mas se fortaleceu.

Assim, apostamos em uma estratégia totalmente relacionada a soluções mais amplas que envolvam produtos e serviços. Soluções que ajudem as pessoas a gerenciar melhor todos os processos. Assumimos cada vez mais um papel consultivo.

Abramed em Foco – Qual o papel da indústria na ampliação de acesso da população a exames de qualidade e na implementação de ações que promovam melhorias aos processos já estabelecidos?

Adriano Caldas – Quando falamos em acesso, temos duas direções a seguir. A primeira é diminuir o custo ao mesmo tempo em que aumenta a eficiência e a produtividade. E aqui está justamente o core da Guerbet ao oferecer soluções de contraste, injetoras e produtos somados a serviços fundamentais que garantem o funcionamento dos equipamentos com baixa manutenção. A segunda está em agregar soluções digitais que ajudam na identificação de métricas que mostram onde aquele cliente pode mexer para reduzir seus custos. Esses dois direcionamentos atuam pela melhoria de acesso.

Paralelamente, temos de mencionar o papel da inovação nesse contexto. Precisamos entender que não podemos olhar apenas o custo daquela inovação, mas sim o ciclo como um todo. Muitas vezes o investimento inicial pode ser mais alto, porém, quando se olha todo, o custo total, há economia na cadeia. Por exemplo, quando conseguimos detectar casos oncológicos muito precocemente, teremos redução dos custos de tratamento, além, claro, de melhor prognóstico para esse paciente.

Abramed em Foco – Como enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

Adriano Caldas – Sou sempre favorável às associações sejam da indústria ou dos prestadores, pois essas entidades permitem que o setor ganhe força e colocam mais cabeças para pensarem juntas sobre um mesmo tema. Problemas complexos exigem visão sistêmica para serem sanados, e para isso é indispensável reunir muita gente.

No caso da Abramed, em particular, vejo uma atuação fundamental na consolidação do valor da medicina diagnóstica no país. Um diagnóstico correto, com bons exames, e a capacidade de entregar valor junto à prevenção de doenças é uma mensagem que precisa ser clara e sempre validada até mesmo para evitar aquele famoso mal-entendido de que há exames desnecessários. Com isso, vejo que a Abramed pode evoluir gerando uma interação importante com a comunidade médica e, para o setor empresarial, auxiliar compartilhando informações que mostram o tamanho do nosso mercado e a capacidade que nosso país tem de buscar investimentos.

Por fim, a possibilidade de interação e discussão sobre os problemas e as oportunidades do setor de saúde geradas pela Abramed com seus eventos e reuniões é essencial, pois a sustentabilidade do sistema exige esse trabalho em conjunto.

Diagnóstico por imagem e inteligência artificial otimizando o manejo dos pacientes com COVID-19

Estudos reforçam os benefícios da tecnologia agregada à medicina diagnóstica; projeto brasileiro que uniu achados de tomografia com IA avaliou mais de 25 mil casos em apenas nove meses

01 de setembro de 2021

Passados 15 meses do início da pandemia, muito se aprendeu sobre a COVID-19 e seus impactos no organismo humano, mas muito ainda precisa ser desvendado. Além de ser fundamental para a rápida detecção dos infectados, possibilitando o isolamento e a redução da disseminação do patógeno, a medicina diagnóstica tem papel extremamente relevante durante todo o curso da doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que o RT-PCR, teste molecular de alta complexidade, é o padrão-ouro para o diagnóstico. Paralelamente, outros testes laboratoriais surgiram e os exames de imagem assumiram um papel bastante relevante no manejo dos pacientes contaminados.

Lembrando que a medicina diagnóstica é um setor em constante evolução e inovação, a adesão tecnológica traz ganhos consideráveis. Estudo publicado em julho deste ano pela Sociedade Europeia de Radiologia (1) desenvolveu um sistema de inteligência artificial que, integrado à tomografia computadorizada de tórax e utilizando dados clínicos, conseguia prever a deterioração futura de doenças críticas em acometidos pela COVID-19.

Para os pacientes, essa antecipação do risco de agravamento é crucial, pois permite uma intervenção oportuna, melhorando os resultados. Já para o sistema de saúde, possibilita a criação de uma estratégia mais assertiva pela melhor alocação de recursos como, por exemplo, ventiladores mecânicos ou máquinas de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).

Foram incluídos no estudo, 1.051 pessoas comprovadamente infectadas pelo novo coronavírus, sendo que 282 delas desenvolveram doença crítica responsável por internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ventilação mecânica, ou óbito. Na ocasião, o sistema de inteligência artificial conseguiu estratificar com sucesso quais pacientes tinham alto risco de piora clínica.

Esse estudo foi conduzido no cenário internacional com pacientes da China e dos Estados Unidos, porém no Brasil a comunidade científica focada no desenvolvimento de inovação diagnóstica também atuou com a somatória de exames de imagem e inteligência artificial para a melhor gestão da crise.

Ainda em julho de 2020, poucos meses após a OMS ter declarado a pandemia de COVID-19, Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Alliar e diretor do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, publicou um artigo de revisão intitulado “COVID-19: uma breve atualização para radiologistas” (2) no qual além de abordar os principais aspectos clínicos e imaginológicos da infecção e as diretrizes para solicitação e utilização dos métodos de imagem durante a pandemia, mencionava as inovações que surgiam citando, inclusive, a utilização da inteligência artificial para análise das imagens e a construção de modelos preditivos.

Na publicação, o especialista relatava um potencial benefício dessa tecnologia para a triagem rápida de pacientes com suspeita clínica da doença em locais com poucos recursos diagnósticos.

Justamente nesse sentido, foi desenvolvido o projeto RadVid-19. Um grupo de pesquisadores, radiologistas e profissionais das ciências da computação e exatas atuaram no desenvolvimento de uma solução inovadora e de rápida implementação para diagnóstico da COVID-19 em todo o país.

“Qualquer instituição de saúde, de qualquer região do Brasil, que contasse com um equipamento de tomografia podia enviar imagens para esse servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a probabilidade de uma infecção pelo novo coronavírus e quantificar o acometimento pulmonar em cada exame de imagem compartilhado”, explica Cesar Nomura, superintendente de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Conduzido pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo por meio do InovaHC, o projeto contou com patrocínio de muitas empresas, associações e entidades da saúde. Entre maio e dezembro de 2020, com 50 hospitais cadastrados, emitiu mais de 50 mil reports de inteligência artificial construindo um banco de dados com 25 mil casos analisados.

“A inteligência artificial tem sido cada vez mais utilizada como apoio ao diagnóstico nos mais diferentes tratamentos de saúde e, em tempos de pandemia, utilizá-la é fundamental. Nos últimos anos temos avançado na aplicação dessa tecnologia para diferentes tipos de exames”, comenta Meirelles.

Corroborando com essa percepção, outro estudo (3), dessa vez publicado em fevereiro desse ano pela Sociedade Norte-Americana de Radiologia (RSNA), considerou todos os avanços no diagnóstico por imagem da COVID-19 – inclusive a aplicação de inteligência artificial – e relatou que mesmo que nos estágios iniciais da doença, as imagens de tórax possam deixar de apresentar alterações, no ciclo de cuidado desempenham papel importante informando as decisões clínicas relacionadas à necessidade de internação hospitalar, momento de intubação, manejo do paciente e eficácia terapêutica. Com a agregação da inteligência artificial, esses exames podem melhorar a precisão do diagnóstico e a avaliação da gravidade.

Referências:

(1) Artificial intelligence for prediction of COVID-19 progression using CT imaging and clinical data

(2) COVID-19: uma breve atualização para radiologistas

(3) COVID-19 Imaging: What We Know Now and What Remains Unknown