Cofundador da Dengo Chocolates palestra sobre propósito e impacto social nos negócios para associados da Abramed

Realizado na sede da Roche, em São Paulo, o 2º Simpósio de ESG na Medicina Diagnóstica, organizado pelo Comitë de ESG da Abramed, reuniu associados em um encontro que reforçou a relevância dos temas ambientais, sociais e de governança para o setor. A abertura do evento foi conduzida por César Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed; Milva Pagano, diretora-executiva da entidade; e Carlos Martins, presidente da Roche, que deu as boas-vindas aos participantes.

O ponto alto do encontro foi a palestra de Estevan Sartoreli, cofundador da Dengo Chocolates, que compartilhou reflexões sobre propósito, impacto social e ambiental, os desafios de colocar em prática a sustentabilidade de forma autêntica, além da urgência de repensar o papel das lideranças e revisar a lógica de sucesso nas organizações.

“O mundo está adoecido emocionalmente. O desengajamento começa pelo colaborador desmotivado — e o responsável é o líder. Precisamos parar de correr tanto e refletir se estamos fazendo as coisas certas”, afirmou.

Sartoreli também relacionou saúde mental a fatores como uso excessivo de telas, ambientes tóxicos e alimentação ultraprocessada e pontuou que relações de qualidade impactam diretamente na saúde emocional das pessoas. “Será que estamos juntos apenas para saber o que o outro está fazendo, ou para começar a fazer juntos?”, provocou.

Ele defendeu ainda que propósito não é algo genérico ou apenas comunicável, apresentando a trajetória da Dengo como exemplo de empresa que nasceu com um propósito claro e o mantém como guia estratégico, e pontuou que a sustentabilidade precisa estar na origem do modelo de negócio — não como uma agenda paralela, mas como parte indissociável da operação.

Debate: ESG e o futuro dos negócios

Na sequência, Estevan Sartorelli participou de um painel com Daniel Périgo (Líder do Comitê de ESG da Abramed) e César Nomura, com mediação de Lídia Abdalla (Vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed). O debate abordou os desafios da Saúde Suplementar, o papel da interoperabilidade na sustentabilidade e a necessidade de colaboração entre players da cadeia.

Daniel Périgo ressaltou que, apesar de avanços heterogêneos, a agenda de sustentabilidade ainda precisa amadurecer no setor e apontou a necessidade de desenvolver parcerias mais sustentáveis ao longo da cadeia de fornecimento, reforçando que o setor ainda conversa pouco para propor soluções conjuntas. “Quando há um problema, a Saúde é lembrada. Mas na prevenção, somos esquecidos. Isso precisa mudar”, alertou.

Nomura reforçou que ESG é uma maratona, não uma corrida de 100 metros, e que decisões consistentes exigem coragem e tempo para amadurecimento. Ele destacou ainda a atuação da Abramed para conectar o setor privado ao público, inclusive por meio do trabalho em interoperabilidade. “Evitar exames desnecessários e reduzir a repetição está diretamente ligado à sustentabilidade do sistema. Mas todo mundo quer interoperabilidade — ninguém quer ser o primeiro a compartilhar seus dados”, afirmou.

Complementando o debate, Lídia Abdalla destacou que o setor de Medicina Diagnóstica precisa assumir com mais clareza o seu protagonismo no impacto social e na contribuição efetiva para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Nosso setor tem um impacto social gigantesco no Brasil, especialmente por levar serviços de qualidade e segurança para regiões distantes, fora dos grandes centros. Mas ainda falamos pouco sobre isso. Precisamos escolher onde atuar com profundidade e responsabilidade, e entender que nossos negócios só vão prosperar se cuidarmos verdadeiramente do entorno. Sustentabilidade é também sobre fazer escolhas conscientes, equilibrando custo, investimento e impacto”, refletiu.

O CEO da Dengo finalizou dizendo que gestores devem fazer escolhas difíceis e que não será mais fácil daqui em diante. Sartorelli também pontuou que “a ação deve preceder a regulação” — uma frase que resume o espírito do encontro: incentivar que, mais do que se adaptar a regras externas, as organizações de Saúde liderem com propósito, promovam práticas sustentáveis e colaborem para um setor mais justo e resiliente.    

A Abramed, como representante desse ecossistema, seguirá incentivando o diálogo e o protagonismo de seus associados na construção desse caminho.

COP 30: desafios e oportunidades para o avanço da sustentabilidade e da agenda ESG na Medicina Diagnóstica

Com o Brasil no centro das discussões climáticas globais, o setor de saúde tem a oportunidade de se posicionar como um dos protagonistas da transição para modelos operacionais mais sustentáveis, inovadores e socialmente responsáveis

Por Daniel Périgo

A COP 30, que será sediada em Belém (PA) em 2025, representa um marco geopolítico e ambiental para o Brasil e para o mundo. Ao colocar o país como palco central das discussões sobre clima, a conferência também abre uma janela estratégica para que setores fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, como o de saúde, se posicionem como protagonistas da transição para uma economia de baixo carbono e de práticas ESG mais maduras.

O momento é de urgência, mas também de enorme potencial de transformação, e naturalmente abarca os esforços da Medicina Diagnóstica, especialmente quando consideramos fatores como o aumento de doenças emergentes relacionadas ao aquecimento global e à proliferação de vetores em ambientes úmidos, além dos impactos nas doenças circulatórias e respiratórias, que aumentam a pressão sobre os setores de exames diagnósticos e cuidados preventivos.

No campo das oportunidades, por exemplo, o desenvolvimento de novos testes para doenças emergentes e melhoria dos modelos atuais visando uma maior agilidade na liberação de resultados pode ser decisivo para o desenho do futuro na Medicina Diagnóstica.

Isso posto, a responsabilidade ambiental do setor de saúde se apresenta como uma demanda indispensável para o planeta, haja vista que, atualmente, os sistemas de healthcare são responsáveis por cerca de 4,4% das emissões de CO2 globais.

Nesse sentido, o primeiro passo é entendermos que a agenda ESG é estratégica e merece destaque na condução central dos negócios, tendo de ser vista como um investimento essencial, e não somente como uma despesa, já que a sustentabilidade se reverte também em políticas de governança mais sólidas, redução de riscos, atração de investimentos e ganhos institucionais junto a uma sociedade cada vez mais atenta ao comprometimento das empresas com a pauta socioambiental.

Dentro desse contexto, é importante destacar ainda que a intensificação de eventos climáticos extremos já está aumentando a ocorrência de determinadas doenças, sobretudo em comunidades mais vulneráveis e sem acesso a saneamento básico e saúde de qualidade, fato que impõe,  segundo posicionamento recente da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em colaboração com o Ministério da Saúde do Brasil, a necessidade de preparar os serviços de saúde da América Latina para combaterem os impactos decorrentes das mudanças climáticas.

Essa necessidade mobiliza ainda a criação de um Plano de Ação sobre Clima e Saúde, atualmente em desenvolvimento por essas organizações que será considerado no âmbito da COP 30. Essa iniciativa, somada ao plano setorial de adaptação ao clima da área de saúde do governo brasileiro, atualmente em consulta pública, pode fornecer subsídios para um melhor enfrentamento aos efeitos das mudanças do clima no setor de saúde e no país.

Em outras palavras: o setor de saúde será um ator relevante para o cumprimento dos objetivos da COP 30 que prioriza, dentre outros, temas como adaptação e justiça climática, transição energética, redução da emissão de gases de efeito estufa, desenvolvimento de soluções de baixo carbono e atenção aos impactos sociais das mudanças no clima.

Para o setor de saúde e de Medicina Diagnóstica, na prática isso significa ampliar o acesso à saúde de forma equitativa, fortalecer a resiliência dos sistemas assistenciais frente às emergências climáticas e reduzir o impacto ambiental das operações implantando ações concretas que incluem desde a ampliação da telemedicina para diminuir deslocamentos, passando por um aumento nos investimentos na redução e em uma melhor gestão dos resíduos gerados e na diversificação da matriz energética das operações até a adoção de mecanismos de redução do consumo ou substituição do uso de gases anestésicos com alto potencial de geração de emissões, como o óxido nitroso.

No entanto, é necessário ainda avançar em iniciativas conjuntas, em especial com a cadeia de fornecimento, na busca de soluções mais sustentáveis com relação à logística reversa de resíduos e eletrificação de frotas logísticas, apenas para citar alguns exemplos que podem ser decisivos para uma nova mentalidade em um segmento tão importante para a vida da população.

Neste cenário, a inovação tecnológica desponta como ferramenta indispensável. A inteligência artificial, por exemplo, pode ajudar a construir modelos preditivos climáticos mais precisos que orientem investimentos em prevenção de impactos, otimizem fluxos e reduzam desperdícios. Equipamentos de menor consumo energético e investimentos na integração de informações e processos do ecossistema de saúde são outros passos fundamentais. Mas há desafios: o próprio processamento intensivo de informações na IA consome energia, o que exige a criação de modelos computacionais mais enxutos e bases de dados mais otimizadas.

Ato contínuo, no campo social da agenda ESG que dialoga com a COP 30 dentro da busca pela redução dos impactos sociais frente às mudanças climáticas, é fundamental fortalecer programas de saúde para populações vulneráveis, investir em diversidade, inclusão e na formação e bem-estar dos profissionais de saúde, bem como, garantir acesso equitativo ao diagnóstico e a saúde de qualidade para a toda a população.

Diante de tantas demandas urgentes que envolvem ainda a padronização de protocolos nacionais e internacionais voltados ao tema e fortalecimento da governança das políticas ESG, a Abramed coloca essa agenda no centro de suas discussões. Além de contar com um Comitê ESG exclusivo que incentiva os debates e trocas de experiências entre empresas associadas, a Associação tem investido na consolidação de dados de ESG do setor e na disseminação de conteúdo e aprendizado sobre essas pautas, seja na newsletter mensal, no Fórum de Líderes de Saúde (FILIS) ou na realização de simpósios específicos sobre as temáticas ambientais, sociais e de governança.

A COP 30 é, portanto, mais um chamado para que a temática socioambiental se torne um pilar estratégico do setor de saúde e da Medicina Diagnóstica, que deve cumprir um papel decisivo, tanto diante das mudanças climáticas que já são uma realidade no Brasil e no mundo, quanto como um setor ativo na jornada de transição para sistemas econômicos de baixo nível de emissões e na busca por mais equidade social. 

Daniel Périgo é Líder do Comitê ESG da Abramed e Gerente Sênior de Sustentabilidade do Grupo Fleury