A medicina diagnóstica no centro da tomada de decisão

Painel da Abramed na grade oficial da JPR 2023 discutiu as novas formas de se fazer medicina diagnóstica para promover acesso à Saúde, melhor gestão de insumos e sustentabilidade financeira

A Abramed promoveu painel sobre “Futuro da medicina diagnóstica” durante a 53ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR). Os participantes destacaram a utilização de tecnologia para promoção do acesso à Saúde e ética nos procedimentos.

Moderado por César Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da entidade, participam do painel Wilson Shcolnik, presidente do conselho de administração da Abramed, Fábia Tetteroo-Bueno, CEO Phillips Latin America; Eliezer Silva, diretor do Sistema de Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Conselho de Administração da Abramed, Romeu Domingues, presidente do Conselho de Administração da Dasa. Milva Pagano, diretora-executiva, abre as duas discussões.

A medicina diagnóstica é peça chave nas deliberações sobre acesso à Saúde, e se tornou peça-chave na implantação de tecnologias sustentáveis e na discussão para a saudabilidade das operadoras, que representam 90% da sua demanda.  Wilson Shcolnik, presidente do conselho de administração da instituição, destaca que “de todos os exames realizados na rede suplementar, 60% são feitos pelos associados da Abramed”. A Abramed tem cadeira na mesa de discussões da Agência Suplementar de Saúde (ANS), atuando como elo fundamental nas tomadas de decisão e na elaboração de políticas.

César Nomura lembrou que “a medicina diagnóstica é fundamental pelo seu potencial de precocidade de enfrentamento de doenças, prevenção e acompanhamento”, mas, ele completa, a medicina deve ser mais assertiva. Exaltando a realização do evento, destacou que é importante que as sociedades representativas ocupem espaços de diálogo e sejam protagonistas. “A Abramed busca olhar a medicina diagnóstica para o futuro. São sementes que estamos plantando.”

Mas a falta de eficiência ou as fraudes de algumas clínicas e hospitais ainda vilanizam o setor. “Escutamos falar de más práticas”, comenta Shcolnik. Segundo a Abramed, constatam-se pedidos de exames excessivos sem mesmo haver análise clínica. Ressaltando que os diálogos incluem as operadoras, o presidente destaca que o fomento de boas práticas e ética é fundamental e inegociável. Mas a pertinência é conhecida pelos profissionais.

Leonardo Vedolin também repercute a importância das análises diagnósticas. Segundo ele, o setor é grande gerador de dados e impacta muito a vida das pessoas. “Temos potencial de fazer análise preditiva, antecipar tendências e diminuir custos, e isso tem papel fundamental na crise.”

Fábia Tetteroo-Bueno destaca a interoperabilidade para evitar pedidos duplos e refação de exames. E defende que, frente aos problemas como envelhecimento populacional, falta de recursos humanos e acesso, a indústria deve investir em inovação para o prestador de serviços melhorar a eficiência da medicina diagnóstica, que já lança mão de inteligência artificial (IA) e softwares modernos de leitura e atendimento remotos. Segundo ela, o uso de IA pode melhorar em até 80% a eficiência, produtividade e velocidade na execução de exames.

“Mas é necessário ensinar médicos e enfermeiros a usar a tecnologia e analisar dados. No futuro, todos terão que saber usar”, comenta a CEO. Segundo ela, outro fator importante, além do ensino de novas formas de se fazer medicina nas universidades e para os formados há muitas décadas, é necessário regular as mudanças dinâmicas que acontecem e garantir a ética nos processos. Nomura somou à discussão o fato de que a Abramed, atenta ao tema levantado por Fábia, tem Código de Conduta e estimula seus associados para que eles sejam seguidos. “Isso deve ser multiplicado em todas as instituições.”

Repercutindo o futuro, tema do painel, em outra frente, Eliezer Silva, diretor do Sistema de Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Conselho de Administração da Abramed, ponderou que a falta de estratégia com que os stakeholders se relacionam com o setor só piora a visão de futuro. “Agimos sem entender do ponto de vista epidemiológico, não desenhamos promoção, criamos um sistema reativo para ser consumido, como um shopping.” Nesse contexto, ele ressalta que o próprio paciente deve ser informado sobre como usar a prestadora de Saúde e reconhece que os médicos também devem mudar a forma de agir. E vai além, o médico não pode trabalhar sob pressão de pagamentos, mas sob a lógica do cuidado.

Inteligência artificial promete revolucionar a medicina diagnóstica

O uso das de tecnologias disruptivas no setor é promessa de melhoria do acesso e do cuidado; assunto pautou o 2º Encontro Latino-Americano de IA em Saúde

A aplicação da inteligência artificial (IA) tem sido tema central na medicina diagnóstica. A leitura de dados beneficiada pelos algoritmos, a leitura de imagens além do que o olho vê, a codificação de processos, a telerradiologia, tudo isso vem beneficiando o setor, tornando-o mais sustentável e proporcionando resultados precisos. A temática pautou o 2º Encontro Latino-Americano de IA em Saúde, que aconteceu durante a Jornada Paulista de Radiologia, a JPR 2023.

O pesquisador em tecnologia na radiologia, Paul Yi, da Universidade de Maryland (EUA), deixou claro que a substituição do humano não deve ser uma preocupação. São os médicos que alimentam sistemas, que fazem a triagem dos processos e são eles que estão à frente na cadeia de cuidado. As transformações tecnológicas são permanentes e jamais substituíram o homem. Há 20 anos se discutia telemedicina. O estudioso, por exemplo, se debruça sobre a IA há seis.

No Brasil, o uso de IA vem transformando o setor. A possibilidade de economizar insumos, focando prognósticos melhores, possibilita que o paciente não tenha que refazer procedimentos ou procurar por doenças em lugares errados, o que ajuda a evitar gastos desnecessários. Aliás, a medicina está mais preventiva com a chegada de tecnologias. Hari Trivedi, da Universidade de Atlanta (EUA), defendeu a aplicabilidade na construção de diagnóstico e demanda de tratamento a pacientes.

Felipe Barjud, coordenador médico de Informática, Inovação e Novos Negócios do departamento de Imagem do Hospital Albert Einstein, ressalta a importância da educação. Para ele, há interação diferente com o tema entre os profissionais mais jovens e os antigos. Felipe Campos Kitamura, head de Inovação Aplicada e IA na Dasa, lembrou que é necessário atenção ao processamento de dados. Além de também produzirem respostas equivocadas, eles podem criar padrões exclusivos com relação ao acesso.

A democratização foi tema de carta aberta elaborada por diversos presidentes de grandes multinacionais de tecnologia, como Google, enviada à imprensa em abril deste ano. No documento, foi ponderado o avanço nas pesquisas antes de se entender como o avanço galopante da IA pode interferir negativamente em diferentes setores. Aqui, a legislação é recente e trata de proteção de dados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já falava sobre a temática em 2021. Segundo o relatório Ethics and governance of artificial intelligence for health (Ética e governança da inteligência artificial para a saúde, em tradução livre) da entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso garantir alguns princípios para a regulamentação e governança da IA: proteger a autonomia humana; promover o bem-estar, a segurança e o interesse público; garantir a transparência, a explicabilidade e a inteligibilidade; promover a responsabilidade e a prestação de contas; garantir a inclusão e a equidade e promover a inteligência artificial que seja responsiva e sustentável.

Enquanto isso, a Lei Geral de Proteção de Dados é usada para garantir a proteção de dados do paciente e a tranquilidade para a exposição de seus diagnósticos. O Projeto de Lei 21/20 cria o marco legal do desenvolvimento e uso da IA pelo poder público, por empresas, entidades diversas e pessoas físicas. O texto, em tramitação na Câmara dos Deputados, estabelece princípios, direitos, deveres e instrumentos de governança para a IA a fim de que se garantam os direitos humanos e os valores democráticos.

Abramed e Bracco discutem sustentabilidade da medicina diagnóstica em simpósio durante a JPR 2023

A sustentabilidade na medicina diagnóstica, inclusive na indústria que fornece insumos, pode promover redução de gastos e qualidade e segurança para o paciente; o uso da tecnologia é fundamental para esse processo

Durante a 53ª edição da Jornada Paulista de Radiologia (JPR), realizada de 27 a 30 de abril no Transamérica Expo Center em São Paulo (SP), a Abramed e a Bracco realizaram em parceria o simpósio “Desafios e Oportunidades para a Sustentabilidade do Setor de Diagnóstico por Imagem”. As ações que otimizam a utilização de recursos foram pontos centrais. A Abramed também participou da programação oficial da JPR 2023 com painel que discutiu “O futuro da medicina diagnóstica” e com estande institucional para receber associados e parceiros.

Estiveram presentes, além do presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik; Tommaso Montemurno, Country Manager da Bracco do Brasil; Gustavo Meirelles; vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Alliança Excelência em Saúde e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed; Marcos Queiroz, diretor de medicina diagnóstica no Hospital Albert Einstein e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed; e Márcio Sawamura, vice-diretor médico do InRad-HCFMUSP.

Shcolnik abriu a rodada de discussões destacando a importância da Associação na medicina diagnóstica. Mais de 60% dos exames diagnósticos privados são realizados pelos seus associados. Entre todos os exames realizados, na saúde suplementar e complementar, essa representação chega a 30%. Comentando sobre a importância do setor, pontuou que ele é frequentemente acusado de ser insustentável. Porém, aproximadamente 70% das decisões médicas são pautadas por exames laboratoriais ou de imagem.

Mas, o bom uso desse recurso e as boas práticas ocuparam o ponto central do debate. Foi unânime a defesa do uso de tecnologias, como a inteligência artificial (IA) para promover a sustentabilidade financeira na medicina diagnóstica. Destacaram-se protocolos que preconizam uso racional de insumos e softwares que monitoram a jornada do paciente e orientam os médicos sobre pedidos de exame mais assertivos.

Meirelles destaca que deve haver uma educação de como usar o sistema para usuários. “O problema das operadoras envolve paciente: eu pago, eu preciso usar, isso não é sustentável, a má medicina beneficia mercadologicamente a curto prazo, até estrangular o sistema.” Queiroz destacou que é necessário, além de chamar o paciente para a discussão, chamar para perto das deliberações as operadoras. Como integrantes da Abramed, ambos são centrais na discussão da sustentabilidade da medicina diagnóstica.

O contexto da discussão permeia o fato de a saúde suplementar apresentar dificuldades financeiras, o que amplia o debatesobre melhor aproveitamento dos recursos. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as operadoras de Saúde acumulam um prejuízo operacional de mais de R$ 11 bilhões. Estão envolvidos os prestadores de serviços, a indústria e, finalmente, o paciente. Por isso, encontrar formas de prestar serviços mais assertivos passa pela otimização e pelo não desperdício de recursos, assim como pontuou Sawamura. O objetivo final é promover acesso de qualidade para usuários e mudar os paradigmas de como se fazer medicina para que isso aconteça sem implodir o setor, ou seja, com mais planejamento, assertividade e com menor desperdício.

Tommaso Montemurno, comentou que o mercado de tomografia está crescendo globalmente entre 6% e 8%, mas, atualmente, há uma melhor utilização de recursos, evitando desperdícios. “Reciclamos mais que 90% do excedente.” Na pandemia e, atualmente, durante a guerra na Ucrânia, o fornecimento de insumos passa por momentos de escassez.

“Inspirados na saúde privada, usamos a IA para que o médico seja alertado para um pedido de exame desnecessário”, comentou Márcio Sawamura. Ele ainda destacou o uso de chatbot e aplicativos de celular para marcação remota de exames. Isso evita a ida rotineira do paciente ao hospital, otimizando o atendimento e o uso de recursos humanos e diminuindo o tempo de espera.

Esses são alguns exemplos para promover melhor uso de recursos no maior hospital público da América Latina. Outro exemplo foi a implantação de protocolos quando se percebeu que os contrastes continuavam sendo injetados mesmo depois do procedimento. Por paciente, 10 ml foram economizados, segundo o radiologista. “Na saúde pública, que tem problemas de financiamento, isso representa muito”, pontua o vice-diretor médico do InRad-HCFMUSP.

Além disso, problemas econômicos globais afetam a indústria. Montemurno cita ainda os benefícios ambientais de ações como essa. “Não dá para imaginar pessoas saudáveis num mundo não saudável.” Segundo estudos da Health Care Without Harm (HCWH), o setor da Saúde também exerce atividade poluente por meio da indústria e dos hospitais, seja pela emissão de CO2 ou pelo uso e descarte dos insumos.

A implantação de protocolos para diminuir a utilização de insumos e de procedimentos pode parecer uma estratégia menos lucrativa, mas é mais sustentável a longo prazo, ou seja, evita gargalos no futuro. É o que defende Meirelles, que destacou o projeto da Associação, que está em desenvolvimento para este ano, para redução de impressão de filmes e papéis. Segundo ele, assim é possível remanejar custos para outros investimentos, mas comenta que não é suficiente as decisões serem tomadas por “meia dúzia” de profissionais sem chegar a locais mais remotos. “É preciso de educação continuada e sistemas de controle na ponta para garantir a aplicação desses protocolos de eficiência no setor.”

Sawamura, destacou a medicina preventiva como base do exercício da medicina. “Ainda fazemos uma medicina curativa, mas nosso foco deve ser atenção primária, no rastreamento de doenças.”

“Na formação, fomos ensinados a cuidar de doenças, não de saúde”, complementa Marcos Queiroz, que moderou a rodada de debates, estimulando a discussão dos atores envolvidos.

Abertura da JPR 2023 destaca importância das entidades de classe nas discussões sobre acesso à saúde

A medicina diagnóstica, protagonista do evento, foi exaltada pelos presentes; tecnologia e prevenção de doenças foram citadas

No último dia 27 de abril, aconteceu a abertura da 53ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR), maior congresso do setor na América Latina e quarto maior do mundo. A feira reuniu 16 mil participantes, 3 mil expositores e 100 empresas do setor. O evento também contemplou a 25ª edição do Congresso da Sociedade Latino-Americana de Radiologia Pediátrica (SLARP) e foi realizado de 27 a 30 de abril em São Paulo (SP). A Abramed esteve presente com estande institucional e painéis de discussão que integraram a programação oficial do evento.

O presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), realizadora do evento, e vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, César Nomura, destacou a importância da união entre as entidades de classe e do aperfeiçoamento da radiologia como grade curricular nas faculdades de Medicina. “Criamos, com o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), o encontro das ligas de radiologia, trazendo alunos gratuitamente para viver experiências.” Ele destacou o protagonismo da medicina diagnóstica frente às transformações tecnológicas para a prevenção de doenças, como o uso da inteligência artificial e a telemedicina. “Já fazemos isso há 20 anos.”

A parceria e o fortalecimento do papel das entidades de classe estiveram no discurso de diversos atores importantes. Valdair Muglia, médico radiologista e ex-presidente do CBR, que recebeu a placa de Patrono de Mauro Brandão, presidente do Conselho Consultivo da SPR, e ressaltou a importância das entidades para a melhoria da Saúde Pública. Cibele Alves de Carvalho, atual presidente da CBR, também destacou a parceria entre as entidades médicas e lembrou aos quase 13 mil médicos radiologistas, em sua maioria com menos de 40 anos, que é necessário se aproximar do paciente e se inserir na linha de cuidado.

Com o título de Presidente de Honra da JPR, o médico radiologista Eleuses Vieira de Paiva, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, chamou atenção para a necessidade da realização de um diagnóstico da Saúde atual. “Nunca nos preparamos para o que estamos vivendo. Surgiu um passivo pós-pandemia, financeiro, assistencial e de gestão, que culminou nos balanços negativos das operadoras de saúde, verticalizando a assistência.” Ele se refere à crise sistêmica nos planos de Saúde que atinge o setor como um todo. Com relação à saúde pública, destacou a necessidade da regionalização do sistema para melhor enfrentamento dos gargalos, como filas e internações. Na ocasião, o secretário estava representando o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos-RJ).

Títulos de Membros Honorários

Receberam a homenagem: Beatriz González Ulloa, radiologista mexicana; Jean-Luc Drapé, da Sociedade Francesa de Radiologista; José Lipsich, da Argentina; Dr. Marcelo Gálvez, do Chile.

“Desafio de Inteligência Artificial para determinação do gênero e da idade pela radiografia de tórax”

Durante a abertura foram apresentados os resultados do desafio promovido pela SPR. A ação consistiu na criação de um modelo capaz de predizer o gênero e a faixa etária do paciente por meio da radiografia de tórax. Instituições convidadas pela SPR doaram dezenas de milhares de imagens; esses dados permitem que os participantes criem algoritmos de inteligência artificial para indicar o gênero e a idade do paciente. Os dados foram compartilhados segundo a legislação de segurança de dados. Participaram mais de 100 pessoas de dez países do mundo. Foram mais de 900 algoritmos criados. Veja o resultado no link SPR.

Boas práticas nas clínicas de medicina diagnóstica garantem segurança do usuário

Certificações que avaliam o exercício da medicina e das instituições de Saúde garantem qualidade, resolutividade e sustentabilidade; tema foi discutido durante a JPR 2023

Analisar o cumprimento ético, seguro e eficaz dos serviços de Saúde foi o tema da palestra “Profissionalismo e Gestão em Saúde – Sessão Especial PADI (Programa de Acreditação em Diagnóstico por Imagem)”. Os debatedores destacaram a importância da segurança do paciente por meio de programas de acreditação dos serviços, inclusive no enfrentamento de eventos adversos, e lembraram os requisitos que norteiam o uso de novas tecnologias. O evento aconteceu durante a Jornada Paulista de Radiologia (JPR) 2023.

As acreditações são como selos de qualidade que avaliam, por meio de instituições de classe e reguladoras, padrões e requisitos pré-definidos que devem estar na rotina de quem é avaliado para garantir a aplicação de boas práticas. A Abramed, sendo responsável por 60% dos exames particulares realizados no país, traz como critério associativo, a obrigatoriedade de as empresas serem acreditadas, seguindo as regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Essas avaliações proporcionam a observância da atuação profissional, das condições dos estabelecimentos, da aplicação de boas práticas e da ética, da gestão, da eficiência, como redução de desperdício, confiabilidade nos resultados e, finalmente, garantir a segurança no exercício da medicina. Mas especialistas atestam que poucos locais têm uma política voltada para isso.

Segundo a Abramed, dos 12 mil a 17 mil laboratórios no Brasil, apenas cerca de 5 mil utilizam controle de qualidade, obrigatório na Anvisa. Nesse cenário, a Associação estimula fortemente a regulação dos serviços. Na instituição, as clínicas de diagnóstico por imagem são acreditadas pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e passam por avaliações periódicas, em que devem demonstrar evidências do cumprimento dos padrões de segurança por meio do Padi.

Os laboratórios de análises clínicas ainda são certificados pelo Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (Palc), oferecido pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), reconhecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e certificado pela International Society for Quality in Health Care (ISQua), única sociedade no mundo que chancela padrões voltados para a acreditação em saúde, reconhecendo-os internacionalmente.

A certificação avalia se os locais de saúde estão preparados para enfrentamento de reações adversas em procedimentos. Natalia Henz Concatto, médica radiologista do Hospital Moinhos de Vento, destacou que, no caso da execução de ressonância magnética, é possível haver, mesmo que raramente, eventos adversos graves associados à aplicação de contraste. “Os profissionais de Saúde devem estar cientes dos potenciais riscos e tomar as medidas para minimizá-los.” Cláudia Maria Meira Dias, representante da DASA, completou que é necessário um time multidisciplinar qualificado para enfrentar possíveis problemas.

A comunicação assertiva também foi pauta do debate. E deve ser uma habilidade estimulada e prevista nas boas práticas da profissão. Felipe Veiga Rodrigues apresentou o sistema desenvolvido pelo Hospital Sírio-Libanês, que classifica em uma plataforma os tipos de achados críticos e auxilia em todo o processo de comunicação de eventos adversos para o paciente ou familiares.

O uso de tecnologias também faz parte da análise de padrões de qualidade, uma vez que recursos são cada vez mais usados na prática clínica, como a proteção de dados por meio da Lei Geral de Proteção de Dados. A discussão do uso das tecnologias passa por regulação, mas também por humanização dos serviços. Especialistas entendem que o uso de softwares e plataformas que facilitem a atuação do médico e a torne mais precisa possibilita que o profissional esteja mais disponível para o cuidado.

Abramed esclarece revisão da RDC 302 pela ANVISA

A Diretoria Colegiada (Dicol) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na quarta-feira (3/5), a revisão de  norma que trata dos requisitos técnico-sanitários para o funcionamento de laboratórios clínicos, de laboratórios de anatomia patológica e de outros serviços que executam atividades relacionadas a exames de análises clínicas (EACs) no Brasil. Com o objetivo de não confundir os usuários de serviços de saúde, profissionais e a população em geral, a Abramed vem esclarecer o papel de cada ator envolvido no assunto.

A resolução aprovada substitui a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 302/2005. A nova regra entra em vigor no dia primeiro de agosto deste ano. Os laboratórios e outros serviços de saúde que desejem realizar testes rápidos terão um prazo de 180 dias para adequação. Um dos novos requisitos é que somente profissionais treinados podem fazer os exames. Além disso, as farmácias só estão autorizadas a realizar testes de triagem, que, segundo a norma da Anvisa, não substituem uma consulta médica nem confirmam diagnóstico de doenças. 

As farmácias não podem coletar sangue venoso para remeter a algum laboratório, por exemplo.  Ressalta-se que a normativa de 2005 já exigia que, no caso de qualquer exame feito fora do laboratório clínico, como testes rápidos, que eram realizados à beira do leito do paciente ou em qualquer lugar fora do laboratório (point-of-care), já era exigido o vínculo obrigatório com um laboratório clínico. A Anvisa não se furtou à segurança do diagnóstico e se mantém assim quando impõe novos requisitos para que farmácias e consultórios realizem tais exames. Na edição original da RDC, a exigência de utilização de controle de qualidade não era prevista, e muitos resultados de exames realizados em farmácias podem ter sido emitidos de maneira errada pela não identificação de deficiências de kits ou pelo despreparo técnico de quem os fez.

É importante lembrar que, como qualquer teste diagnóstico, os testes rápidos também podem apresentar falsos negativos ou falsos positivos, o que pode comprometer as condutas e decisões médicas e a segurança dos pacientes. Portanto, para evitar riscos desnecessários à saúde dos pacientes, os exames realizados fora dos laboratórios clínicos devem seguir as mesmas diretrizes e os mesmos regulamentos aplicados aos laboratórios, incluindo as normas de qualidade, segurança e biossegurança.

Importante esclarecer que, durante a pandemia, houve uma autorização da Anvisa para que os testes rápidos da covid-19 fossem feitos em farmácias. Apenas os testes rápidos. Isso foi justificado por estarmos em período pandêmico. Mas, mesmo antes da revisão, muitas farmácias já realizavam outros exames irregularmente, sem o vínculo exigido com o laboratório clínico. Agora, mesmo autorizadas a fazer testes sem o referido vínculo, têm de cumprir as várias exigências mencionadas. 

A revisão da norma vem ao encontro dos interesses da Abramed,  uma vez que a evolução do setor de diagnósticos, assim como dos produtos e instrumentos para diagnóstico, tornava evidente a defasagem da norma frente à realidade tecnológica e já era apontada desde a abertura do processo regulatório, em 2017.  A Associação, em qualquer circunstância, preza pelo benefício e pela segurança do paciente. É dever destacar que, para garantir a precisão e confiabilidade dos resultados dos exames, é necessário seguir rigorosos procedimentos de qualidade e segurança. Os laboratórios de medicina diagnóstica possuem ambientes controlados, pessoal especializado, equipamentos precisos utilizados em países desenvolvidos e seguem diretrizes rigorosas de controle de qualidade e segurança para garantir aos pacientes e aos médicos confiabilidade dos resultados e evitar contaminações e erros. 

A Abramed ressalta, ainda, a importância da comunicação obrigatória dos resultados dos exames às autoridades sanitárias. Sem essa comunicação, a realização dos testes, mesmo de triagem, tem um valor limitado e não contribui para o funcionamento de sistemas de saúde e a elaboração de políticas baseadas em evidências epidemiológicas. Portanto, é crucial que as vigilâncias sanitárias municipais ou estaduais exerçam sua fiscalização efetivamente, visando proteger a saúde pública e garantir a segurança dos cidadãos brasileiros.

A liderança deve ser focada nas pessoas, sejam elas colaboradoras ou pacientes

* Por Juliana Richter

A saúde sempre teve grande relevância na vida das pessoas. Falamos mais sobre o assunto, buscamos mais saúde nos últimos anos, com um foco ainda maior na prevenção. Como liderança na área, no setor de medicina diagnóstica, busco estabelecer e praticar o lema #cuidesesempre, sejam nas práticas que adoto quando influencio em decisões que podem impactar pacientes, quanto na promoção de ações que envolvam saúde e bem-estar dos colaboradores.

Os números apontam uma retomada no setor de saúde suplementar, superando o patamar de 50 milhões de vidas cobertas. Em outra via, observa-se grande reestruturação das operadoras de saúde, um olhar mais dirigido na qualidade das prestadoras de serviços. Avanços em pesquisas, tecnologias e a busca na melhor experiência dos usuários vêm modificando a forma de conduzir o setor, de transformar os negócios e de equilibrar o interesse de todos os stakeholders.

Para promover empresas brasileiras do setor, será necessário criar um ambiente adequado e equilibrado. A inflação da saúde pressiona o Produto Interno Bruto (PIB) por mais investimentos e é utópico pensar que esses recursos virão apenas da iniciativa pública. O mercado de saúde suplementar tende a crescer fortemente, somado ao envelhecimento populacional, das tecnologias não excludentes e do modelo de negócios existente.

Certamente, tudo isto promoverá mudanças na busca por exames no setor de medicina diagnóstica. Entendendo o tamanho do desafio, busco encarar o presente e, ao mesmo tempo, me transformar para o futuro.

Na Clinoson, empresa de medicina diagnóstica de Porto Alegre (RS), onde atuo há mais de cinco anos, mantemos o foco no paciente. Entender de gente sempre foi algo natural na minha formação. Impactar positivamente a sociedade por meio da minha liderança sempre foi o meu norte. Para isso, é necessário, desenvolver negócios e pessoas, se envolver no ecossistema como um todo, conduzindo times para que a jornada do paciente seja a melhor possível, trazendo a satisfação, a segurança e a entrega dos resultados propostos.

Mulheres na liderança

Inevitavelmente, me perguntam sobre ser mulher em um ambiente tão masculino, já que permeio o espaço de grandes lideranças. Com minha veia empreendedora e proatividade, de gostar de “fazer acontecer”, desde cedo busquei estabelecer movimentos que me permitissem acessar melhores oportunidades, sejam nos setores da indústria como no segmento de serviço.

Nunca me senti sozinha. Pude contar com líderes incríveis, de ambos os gêneros, que visualizaram minhas competências, acreditaram, apostaram no meu desenvolvimento e experimentaram a minha capacidade (e vontade) de entrega.   Percebo que nas grandes empresas do segmento de medicina diagnóstica, é perceptível a relevância e o domínio das mulheres na abordagem de temas estratégicos e ocupando cargos de alta gestão. Na Clinoson, buscamos fomentar a competência, gerando oportunidades a todos. Contudo, somos sabedores que ainda há um caminho fértil a ser percorrido pela sociedade.

Em uma breve retrospectiva, minha carreira foi mais que uma escolha, foi a consequência de minhas ações reforçadas pelas formações que busquei e lideranças que me inspirei. Liderar sempre brilhou meus olhos. Desde muito cedo, me recordo de ir em busca de boas ferramentas e aprendizados e entender de negócios. Percorrer um caminho na área da indústria, ter pessoas que me inspiram e ensinam, ser apaixonada por gente e por tecnologia me fizeram chegar ao cargo de CEO.  Sempre foi “um olhar no presente e outro no futuro”.

*Juliana Richter é CEO da Clinoson e Conselheira de Administração da Casa dos Raros. Formada em análise de sistemas. Tem mestrado profissional em Gestão e Negócios (Brasil/França)

Laboratórios investem em atendimento domiciliar para absorver alta na demanda

O Jornal Folha de S. Paulo, do último dia 29 de abril, conversou com a Abramed sobre o aumento da demanda de atendimento domiciliar nos laboratórios e os investimentos para atendê-la. 

Wilson Shcolnik, presidente do conselho de administração da Abramed, comentou que o atendimento domiciliar mudou radicalmente nos últimos anos e segue crescendo fortemente.

Nossos dados mostram que, em 2022, houve aumento na realização de exames com relação ao ano anterior, sendo um dos motivos a maior preocupação das pessoas com a saúde e com diagnóstico precoce de doenças. 

Alguns laboratórios, como Fleury, associado da Abramed, por exemplo, leva às casas dos pacientes exames de análises clínicas, como sangue e urina, testes genéticos, mapa (monitoramento ambulatorial da pressão arterial) e holter. Além da aplicação de vacinas.

A Abramed é uma fonte segura e bastante procurada pela grande imprensa pela sua atuação frente aos interesses da medicina diagnóstica, por meio do diálogo com fornecedores, instituições regulatórias, pesquisadores e, principalmente, pacientes. Seus associados, juntos, respondem por mais de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país, que atende 50 milhões de brasileiros.

Leia a matéria completa no link.

Líderes dos comitês da Abramed se reúnem para debater temas transversais focando a atuação conjunta

A partir desse encontro, haverá um canal de comunicação entre os comitês para facilitar a condução dos projetos.

A Abramed promoveu, no dia 13 de abril, um encontro com as lideranças de seus comitês para discutir ética, compliance, sustentabilidade do setor da saúde, regulação e outros temas transversais. 

“A partir desse encontro, poderemos criar grupos de trabalho com membros de mais de um comitê, para que possam contribuir entre si e facilitar a condução dos projetos”, disse Milva Pagano, diretora-executiva da associação, que moderou o debate. 

Os líderes se apresentaram e debateram sobre os principais temas e projetos de seus comitês, buscando alinhamento com outros. Sobre o Comitê de Comunicação, Milva salientou a importância de apoiar a campanha Saúde Sem Fraude, da FenaSaúde, e a atuação deste comitê no trabalho de conscientização e educação a respeito de boas práticas para orientar o paciente no uso adequado do sistema de saúde. 

A Abramed não estimula a solicitação de exames desnecessários, e sim a utilização correta e consciente do sistema de saúde. Esse tema tem alinhamento com outros comitês, como o de Governança, Ética e Compliance (GEC) e o de Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança Corporativa (ESG).

Andrea Pinheiro (Sabin), uma das líderes do Comitê de Comunicação, disse ser importante englobar os associados de grande e pequeno porte nessas discussões, mostrando que a Abramed tem um trabalho sério de racionalizar o serviço de saúde. “Grandes empresas estão demitindo colaboradores por participarem de atividades fraudulentas relacionadas aos planos de saúde. O assunto tem ocupado as páginas policiais, o que é muito ruim para o setor”, apontou.

William Malfatti (Fleury), também líder do Comitê de Comunicação, disse que boa parte da sinistralidade do segmento acabou se formando no mercado de reembolsos assistidos e devido ao uso inadequado do plano. “Precisamos fazer essa mobilização por questão de sobrevivência, não apenas dos planos, mas nossa também”, observou.

Nessa questão, ele acredita ser importante envolver a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e a Associação Médica Brasileira (AMB), além de fazer parceria com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), para que apliquem punições aos infratores. 

“Essas entidades podem negar o reembolso, descredenciar o médico que aderiu à prática, verificar qual é o laboratório e tomar as medidas adequadas. Assim, seremos mais efetivos e mostraremos a todos os agentes de saúde que há um olhar atento para a questão”, explicou Malfatti.

Tecnologias

O Comitê de GEC está atento, em se tratando da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), à questão da segurança e padronização no envio obrigatório de dados referentes a endemias e pandemias para secretarias municipais e estaduais. “Se não fornecemos, somos penalizados; se fornecemos, ficamos vulnerabilizados, devido à exposição de dados”, apontou o líder do grupo, Jair Rezini (Grupo Pardini).

A falta de integração entre os sistemas leva a outros temas sensíveis, como interoperabilidade e compartilhamento de dados. Na reunião, foi salientada a importância de a Abramed levar essa preocupação ao conhecimento da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), para se engajarem pela melhoria.

A questão das notificações das doenças também é um assunto que envolve o Comitê de Análises Clínicas. “Se conseguirmos informatizar e padronizar, poderemos ajudar outros comitês que venham a ter a mesma dificuldade”, disse Alex Galoro (Grupo Sabin), um dos líderes desse comitê.

Outro ponto são as atualizações da tabela da Classificação Brasileira Hierarquizada de procedimentos médicos (CBHPM) quanto à codificação do TUSS e TISS. “Poderemos interagir com as sociedades científicas para fazer propostas de testes a serem retirados ou adicionados”, acrescentou Galoro.

Prioridade também é trabalhar a interoperabilidade e usar o padrão LOINC, mas isso envolve vários níveis, inclusive o governo, passando pelas empresas de sistemas. Nesse sentido, Milva adiantou que a Abramed vai criar mais um comitê, o de interoperabilidade.

A novidade do Comitê de Padrão TISS é a entrada em vigor da nova versão. Ele também está acompanhando, com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), uma sugestão de padronização para biometria facial que seja incorporada nas próximas  versões TISS.

Há ainda a criação de um possível grupo de trabalho sobre questões que envolvam faturamento. “Algumas operadoras de saúde querem mudar a forma de agrupar o lote de faturamento, tentando estabelecer o padrão de envio em formato único”, acrescentou Cláudio Laudiauzer (Sabin), líder desse comitê.

Já no Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, há dois assuntos que merecem atenção. Um deles é a eliminação do uso de filmes, em busca de soluções mais ecológicas, o que se relaciona ao Comitê de ESG. 

“Há um caminho longo a ser percorrido, porque as operadoras enxergam como uma forma de reduzir a remuneração, sendo que o investimento feito no sistema de imagens é muito maior do que o feito no processo de revelação dos filmes”, apontou Marcos Queiroz (Albert Einstein), um dos líderes do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. 

O segundo tema é a exigência legal sobre o prazo de armazenagem de exames de diagnóstico por imagem. A Abramed pode ajudar a partir de um posicionamento oficial, mas, para isso, entra o segundo ponto: por quanto tempo guardar o exame radiológico, já que é preciso investir em armazenamento em nuvem? É importante considerar que a discussão não tem a ver com os laudos, mas com as imagens, que ocupam um espaço consideravelmente maior. 

“Queremos trazer esse debate englobando os Comitês Jurídico, de Proteção de Dados e de ESG. Precisamos do respaldo deles ainda que lutemos por uma mudança na legislação”, disse Queiroz.

Uma sugestão consiste em elaborar um dossiê completo que contenha tanto uma avaliação dos prazos adequados para a guarda das imagens quanto uma análise técnica minuciosa. Esse dossiê poderia ser apresentado a um regulador legalmente habilitado para dispor sobre essa questão. No entanto, é importante destacar que esse trabalho exige uma abordagem multidisciplinar, com a participação de diferentes áreas, para que seja devidamente fundamentado.

Gestão de risco e pessoas

Por sua vez, o Comitê de ESG está focado nas maneiras de estimular as boas práticas e de ajudar o setor de saúde a ser mais transparente. Não fazer isso gera desperdícios e mau uso de recursos, tema que se conecta com sustentabilidade e questão social.

“Outro assunto é a gestão de riscos. As empresas precisam olhar não apenas para os riscos assistenciais, mas também para direitos humanos e mudanças climáticas. Como ampliar essa visão nas instituições de saúde?”, expôs Daniel Périgo (Grupo Fleury), líder do comitê de ESG.

Ele também citou a relevância dos temas da diversidade e da inclusão, que precisam ganhar mais força no setor da saúde, não incluindo somente a gestão interna de colaboradores, mas também o atendimento de pacientes, o preparo das equipes e as instalações. 

Sobre a atualização da RDC 302, Périgo disse que é necessário considerar o quanto isso pode trazer novas obrigações e pontos a serem considerados. “Precisamos ter um conhecimento mais homogêneo entre todos os comitês sobre esse tema.”

O Comitê de RH está trabalhando justamente a questão da diversidade e da inclusão, como comentou a líder Lucilene Costa (Grupo Fleury). “Estamos desdobrando esses temas falando também de PcD, grupos de afinidade, pessoas LGBTs, violência e etarismo, bem como debatendo o papel da empresa e seu olhar para a sociedade”, explicou.

Ela lembrou que os assuntos sobre reembolso assistido, judicialização e liminares trazem custo para a folha de pagamento, o que reafirma a importância de trabalhar a conscientização da população e de ter o apoio da FenaSaúde e da ANS.

Sustentabilidade e regulação

No Comitê Jurídico, há dois grandes temas em discussão: a sustentabilidade do setor, no qual se encaixa a campanha da conscientização de boas práticas para pacientes, e a regulamentação da saúde digital.

Além da RDC 302, ainda em andamento, outro assunto é o piso de enfermagem, que, segundo Caroline Ranzani (Dasa), uma das líderes do comitê, não terá uma solução muito rápida, pois o governo não vai regulamentar isso por medida provisória. No entanto, em paralelo, a Abramed já está trabalhando na criação de um novo código de Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

Há, ainda, a questão da reforma tributária. “Se houver uma supertributação do setor, os usuários migrarão para o sistema público, que não tem capacidade de absorver a demanda”, disse Caroline.

“A Abramed tem atuado fortemente sobre esses temas juntamente a outras entidades do setor de saúde, envolvendo os seus comitês nos debates e nas ações necessárias”, complementou Milva.

Já o Comitê de Proteção de Dados tem importante interação com outros comitês, como RH, ESG e GEC, no que se refere a ética digital. Entre os pontos de discussão estão a proteção dos dados pessoais dos pacientes, o compartilhamento desses dados e a transparência na comunicação online. É importante que sejam desenvolvidas regras para prescrição eletrônica, prontuário único eletrônico e inteligência artificial. 

“E ainda estamos lidando com o novo Regulamento de Dosimetria e Aplicação de Sanções Administrativas, publicado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados, em fevereiro, que aplica penalidades elevadíssimas dentro de um setor extremamente sensível. Afinal, dependemos de pessoas, e a maioria das falhas são humanas”, expôs Rogéria Cruz (Einstein), líder desse comitê.

Os focos do Comitê de Anatomia Patológica são a patologia digital, que exige um Termo de Consentimento do paciente para compartilhar informações; a responsabilidade técnica dos laboratórios em ter um médico responsável para receber amostras; e o transporte de material biológico, conforme explicou Cristovam Scapulatempo (Dasa), líder desse comitê.

Evolução dos comitês

Os Comitês da Abramed são grupos de trabalho compostos exclusivamente por associados. Cada Comitê tem uma liderança e um planejamento anual bem definido, atuando sob três eixos principais: benchmark/boas práticas, desenvolvimento de conteúdos e desenvolvimento de projetos aplicados.

“No ano passado, esses comitês foram reestruturados com base nesses eixos, seguindo um caminho de evolução constante. Agora, o objetivo é ir além e implantar ainda no primeiro semestre deste ano indicadores de desempenho para cada eixo. Isso permitirá uma melhor avaliação do trabalho realizado e também contribuirá para o aprimoramento contínuo das atividades desenvolvidas por eles”, finalizou Milva.

Abramed reforça parceria com IES para trabalhar autorregulação e ética

A associação é parte importante de um grupo de trabalho que tem a finalidade de identificar os principais riscos para a manutenção da integridade no setor de saúde.

A Abramed está reforçando sua parceria com o Instituto Ética Saúde (IES), da qual é conselheira consultiva, para contribuir no desenvolvimento do projeto de mapeamento de riscos e autorregulação.

O Instituto Ética Saúde é uma instituição independente cujo objetivo principal é promover um ambiente de negócios mais ético no setor, por meio de iniciativas e medidas que visam garantir a integridade e a transparência das atividades realizadas na área.

Seu Conselho de Administração é eleito entre quase 200 associados, que representam fabricantes, distribuidores, hospitais, laboratórios e outros setores. Além disso, o IES conta com um Conselho Consultivo, formado por entidades representativas de diversos elos da cadeia de valor, e com um Conselho de Ética, composto por indivíduos notáveis no terceiro setor, sem conflito de interesse.

Mapeamento de riscos e autorregulação

Um dos principais benefícios do Instituto Ética Saúde é unir, em um grupo de trabalho, as diversas entidades do setor, as quais, com experiência e conhecimento de mercado, conseguem identificar os principais riscos para a manutenção da integridade na área de saúde.

A partir dessa avaliação de riscos, o instituto propõe Instruções Normativas (INs), que servem como um importante instrumento de autorregulação do mercado, ajudando a mitigar tais riscos e promovendo os ajustes necessários. Além disso, como conselheiros, essas entidades ajudam a orientar as ações do Instituto Ética Saúde.

A autorregulação oferece uma vantagem significativa na rapidez de resposta aos riscos identificados. O IES, por exemplo, compila informações provenientes dos levantamentos de riscos no setor e do seu canal de denúncias, a fim de priorizar temas críticos. Em seguida, o Conselho de Ética é encarregado de elaborar uma instrução normativa para tratar desses pontos de atenção e mitigar os problemas encontrados.

“O grande instrumento acaba sendo a IN, que a Abramed e as outras entidades mais do que nunca são convidadas a nos ajudar a escrever, de forma dinâmica e sempre atual, a fim de mostrar o caminho que o mercado está percorrendo para mitigar ou prevenir os riscos”, diz Carlos Eduardo Gouvea, executivo de Relações Institucionais do IES.

Graças ao levantamento de riscos, foi possível publicar, em 23/09/2022, a Instrução Normativa nº 16 (5), que “adota e fomenta procedimentos para a adequada gestão dos riscos à transparência tributária e ética concorrencial relativos à aquisição e controle de produtos médicos e à prestação de serviços, de modo a desencorajar a retenção desleal de faturamento, e dá outras providências”.

O IES monitora e acompanha de perto propostas de projetos de lei relacionados à corrupção e à integridade no setor de saúde, contando com uma equipe jurídica dedicada a esse monitoramento constante.

“Estamos buscando fortalecer ainda mais essa atuação e envolver todo o nosso Conselho Consultivo, que inclui a Abramed. Reconhecemos a autoridade da entidade e entendemos que sua contribuição pode enriquecer ainda mais nossa atuação em prol da ética e da transparência no setor de saúde. Acreditamos na importância dessa interface e dessa permeabilidade para alcançarmos resultados efetivos na promoção da integridade e no combate à corrupção no mercado de saúde”, declara Filipe Venturini Signorelli, diretor-executivo do IES.

Gouvea acrescenta que é preciso empregar consideráveis esforços para alterar a direção do mercado e que existem duas maneiras de alcançar esse objetivo. A primeira é trabalhar em conjunto no levantamento de riscos. “A Abramed já fez boa parte do trabalho, e vamos continuar com outros laboratórios e até mesmo trazer outras entidades, como a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), para a discussão”, conta ele. Juntos, será possível construir um modelo de instrução normativa que seria uma referência para todo o mercado.

A segunda forma é agir em situações que indicam ilegalidade ou irregularidade, inclusive do ponto de vista concorrencial. Nessas ocasiões, pode-se contatar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Associação Nacional da Saúde (ANS) ou outras entidades competentes. “Esse trabalho não é fácil e nem rápido, mas precisa ser feito. O IES está disposto a trabalhar com a Abramed e outros parceiros do mercado laboratorial para alcançar esse objetivo”, reforça Gouvea.

Para Signorelli, a via produtiva de uma autorregulação se dá em médio e longo prazo. Quando o setor está bem trabalhado e autorregulado, com concorrência leal, a corrupção é muito menor.

De acordo com um estudo do IES, se houvesse menos corrupção e fraudes no Brasil, incluindo no setor privado, a saúde seria de 30% a 40% mais acessível e barata. “Embora esse benefício possa parecer intangível, ele é uma consequência direta da eliminação de más práticas e oportunismos no mercado. É por isso que os departamentos de compliance são tão importantes, pois as regras devem ser cumpridas para garantir que o setor esteja livre de más práticas e de estímulos à corrupção. O valor disso deve ser reconhecido pelos associados e pela sociedade em geral”, salienta Signorelli.

O instituto também conta com o Canal de Denúncias Ética Saúde (0800 741 0015 ou pelo site www.eticasaude.org.br), administrado pela International Consultants on Targeted Security (ICTS), especializada em gerenciamento de risco e compliance.

Uma denúncia pode envolver múltiplos denunciados, se um deles for associado do IES, terá um processo iniciado junto ao Conselho de Ética e será convidado a se defender. A decisão pode resultar em uma punição ou repressão em diferentes graus. Já com relação aos não associados, a situação é mais difícil, pois o instituto não tem poder de polícia para obrigá-los a se defender.