Reforma Tributária, fator de risco para a saúde

As propostas de reforma tributária representam grande avanço em direção à modernização de estruturas arcaicas que subsistem no Brasil do século XXI. A ideia de simplificação do modelo arrecadatório é muito bem-vinda, mas precisa contemplar especificidades de setores estratégicos para evitar distorções.

Espera-se de um bom sistema tributário que seja simples e transparente para os contribuintes, neutro para não prejudicar a organização eficiente da produção e equânime para não onerar cidadãos com menor capacidade contributiva. A matriz arrecadatória brasileira, no entanto, não apresenta nenhuma dessas características: é complexa e onera excessivamente o consumo, contribuindo para aumento da regressividade; é cumulativa, desorganizando a produção; gera distorções alocativas, estimulando tensões federativas; além da absoluta falta de transparência, causando insegurança jurídica e altos custos de litígio. Neste sentido, os projetos em discussão no Congresso trazem esperança de superação dessa estrutura paquidérmica e ineficiente, rumo a um caminho de estímulo aos investimentos e ao crescimento do país.

Apesar dos benefícios que podem advir da reforma, havemos de nos atentar para seus problemas escondidos, sob pena de prejudicar setores estratégicos para a sociedade, como a saúde. Não obstante as diferenças presentes nos textos em análise, o principal objetivo é reunir todos os tributos incidentes sobre o consumo em um único imposto, com previsão de regime não cumulativo e alíquota uniforme para todos os bens e serviços. Tais características impedem que as particularidades do setor sejam consideradas.

A cadeia de prestadores de serviços da saúde é de complexidade e de capilaridade muito grandes, mas a folha de pagamentos – maior parte da despesa do setor – não poderá ser deduzida do imposto único sobre a receita bruta, resultando em significativo aumento da carga tributária. Nas simulações que fizemos, se a tributação do setor da saúde (ISS + PIS/Cofins) for substituída por uma alíquota de 25% de IBS, haverá aumento de aproximadamente 100% sobre a atual carga tributária!

Em um cenário já combalido pela prolongada crise econômica aliada às altas taxas de desemprego, a saúde tem sido pressionada tanto pelo lado do consumidor, que gradativamente perde capacidade de arcar com os custos dos planos de saúde, quanto pelo lado das fontes pagadoras, que veem suas receitas diminuídas com a perda de usuários. Se acrescentarmos a isso o ônus para o setor da transformação no modelo tributário, a saúde comprometerá seu potencial de contratações e investimentos em inovação.

Fabio Cunha, Diretor da Câmara Jurídica da Abramed

2020 DESAFIOS E TENDÊNCIAS NA VISÃO DE LIDERANÇAS DA SAÚDE

Uma das principais demandas da população, o setor da Saúde começa o novo ano com grandes expectativas.

O Brasil vem de uma das maiores crises de sua história. As turbulências não ficaram totalmente para trás, mas sinais de recuperação e estabilidade, mesmo que tímidos, já podem ser vislumbrados. As reformas têm caminhado em Brasília, a inflação está sob controle e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) registrou no país um discreto aumento do número de beneficiários de planos de assistência médica, de 0,1% (outubro/2019). “Porém, ainda existe a desconfiança acerca do ritmo de crescimento, mesmo diante de uma retomada lenta e gradual da atividade econômica”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Mas a conjuntura que se apresenta já indica que 2020 será o ano da retomada, com reflexo positivo para o setor de Saúde? Para Sérgio Rocha, presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi), a Associação projeta 2020 com otimismo. “Vemos um país que se movimenta novamente para frente e enxergamos que a economia começa a mostrar reações positivas, o que nos faz pensar em resultados melhores em nossa área”, sublinha. Confira a seguir, na visão de diferentes lideranças e especialistas da Saúde, quais são as tendências e os grandes desafios do setor para o ano que se inicia.

MEDICINA DIAGNÓSTICA

O mercado de medicina diagnóstica é um dos que mais evolui e inova a cada ano. O avanço de tecnologias permite que os exames de diagnóstico sejam realizados em grande escala, em menor tempo, com melhor qualidade e precisão. Este segmento movimenta entre R$ 42 e R$ 43,7 bilhões por ano. E as tendências apontam para um cenário de desenvolvimento, com o surgimento de diversas healthtechs focadas em soluções nos diversos segmentos que permeiam os cuidados do paciente. Mas o país está atrasado quando a gente fala em incorporação tecnológica e uso de alta tecnologia. Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

LGPD

Em 2020, precisamos falar abertamente em inserção de novas tecnologias, com o máximo de transparência. Este, em nosso entendimento, é o principal assunto. O governo precisa esclarecer melhor o que quer fazer na saúde e de que forma. Ser mais transparente em suas possíveis ações para que haja previsibilidade e planejamento. Outro assunto é a Lei Geral de Proteção de Dados, sobre a qual nada está claro ainda. Há certa dificuldade de entendimento no setor, uma vez que, além da LGPD, há legislações sanitárias que também lidam com dados dos pacientes e tudo isso precisa ser bem esclarecido. Sérgio Rocha, presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi).

SAÚDE 5.0

Acredito que a Saúde no Brasil tem evoluído muito nos últimos anos com a chegada de novas tecnologias, como soluções paperless, telemedicina, inteligência artificial, IoTs, wearables e a própria medicina de precisão, que possibilita tratar o paciente de modo personalizado através de estudo genômico. Um dos desafios já em discussão da Saúde 5.0 é manter o paciente como o foco principal do processo contando com a otimização no atendimento e tratamento por meio da automação desta jornada, mas ainda assim, proporcionando um cuidado humanizado. Andréa Rangel, CEO da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).

ATENÇÃO PRIMÁRIA

Muitos não entenderam quando começamos dizendo que iríamos reorganizar o sistema partindo da atenção primária. No ato mais primário da atenção [a vacinação], vimos que os índices caíram. Então iniciamos um movimento para recuperar um dos orgulhos do SUS: o programa nacional de imunização. Já o Médicos pelo Brasil é um programa em que os critérios não serão mais políticos. Uma série de indicadores apontarão quais unidades e cidades precisam de profissionais. Vamos colocar médico contratado, com carteira assinada, ganhando bem, capacitado em atenção primária. Luiz H. Mandetta, ministro da Saúde, em entrevista para a imprensa no final de 2019.

SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA

Uma das maiores expectativas do setor para este ano é a retomada no crescimento da economia. Acreditamos que os impactos serão positivos para a Saúde no que diz respeito à geração de empregos e ao aumento de beneficiários dos planos de saúde, o que reflete em um maior acesso à saúde privada. Já um dos grandes desafios é a busca pela redução de custos e maior sustentabilidade do sistema. Muitos investimentos estão sendo feitos por nossos hospitais, como modernização de sistemas, melhoria de processos, uso de big data, inteligência artificial, entre outros. Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

EXPECTATIVA DA SOCIEDADE

Dentre os principais desafios estão as definições de melhores políticas públicas, que sejam capazes de atender os direitos e as expectativas da sociedade e o equilíbrio financeiro do setor para que sejamos capazes de manter e melhorar a estrutura e também adquirir novas tecnologias. Quanto aos assuntos mais abordados neste ano, estão o desenvolvimento e a aquisição de novas drogas; a ampliação do controle e da rastreabilidade dos medicamentos; e a aquisição de novas tecnologias para o tratamento de doenças. Paulo Cesar Maia, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Distribuidores de Medicamentos Especializados, Excepcionais e Hospitalares (Abradimex).

TEMPO DE RECUPERAÇÃO

As perspectivas são boas. Vivemos um período consistente de recuperação econômica, tendo no ano de 2019 PIB positivo e com previsões melhores para 2020. Com a economia aquecida, a expectativa é que a geração de emprego ganhe fôlego e isso reflita também no número de vidas na saúde suplementar. Outro cenário de grandes perspectivas é o de fusões e aquisições, que a cada ano ganha destaque. Apenas no ano passado foram registradas 80 operações do ramo no setor Saúde, melhor ano desde 2000, com um número 50% maior que no ano anterior. Breno de Figueiredo Monteiro, Presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) e da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess).

MELHOR CUSTO BENEFÍCIO

A perspectiva é dar prosseguimento ao engajamento das entidades de ensino no projeto de integridade na formação dos profissionais de saúde e médicos. Existem desafios no setor, como a escassez de recursos, seja no público ou privado, obrigando a melhoria da gestão através da formação e informação dos gestores em todos os níveis, por meio da digitalização dos processos – de forma confiável -, visando o melhor custo benefício. Outros temas que tendem a ganhar destaque são Telemedicina, LGPD e o cadastro único de pacientes, o qual, na minha avalição, é o grande passo inicial para toda essa revolução. Gláucio Pegurin Libório, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde.

CAPACITAÇÃO FREQUENTE

Diante das mudanças que a Saúde apresenta ao longo dos anos, com o turbilhão de novas tecnologias, modelos de atendimento e regulações, é necessário que gestores setor estejam sempre engajados com melhores práticas e procurem atualizações constantes. Não basta ter ciência de que transformações existem, é preciso capacitar-se para lidar com elas e estar preparado para resolvê-las. Nós, gestores, não devemos nos acomodar. É preciso ter como hábito o estudo e a capacitação frequentes. É desta maneira que alcançamos o modelo de saúde que esperamos. Líderes bem formados e organizados podem transformar o mercado de Saúde. Francisco Balestrin, presidente do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXS).

ROTA DA PRODUTIVIDADE

A perspectiva é sempre positiva. Com as movimentações políticas que levam à aprovação de importantes reformas para a transformação do atual cenário econômico do país, a indústria tende a ganhar. Acreditamos que somente as reformas poderão nos colocar novamente na rota da produtividade. É o caminho para aumentarmos a nossa competitividade dentro e fora do país. Do lado de cá, seguimos batalhando por uma indústria inovadora, em parceria com universidades e institutos de pesquisa, a fim de desenvolver soluções disruptivas capazes de atender às demandas de um país em desenvolvimento e que está em processo de envelhecimento. Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (ABIMO).

QUALIDADE DE VIDA

Embora existam motivos para preocupações, a indústria farmacêutica tem sido otimista com o futuro imediato do País. Quanto à ciência, tem caminhado cada vez mais para tratamentos personalizados e complexos, como as terapias gênicas e novos tratamentos biológicos. Ao observar essas abordagens, precisamos levar em conta não apenas a sobrevida do paciente, mas também a qualidade de vida, com controle de sintomas e resgate da autonomia. O papel do setor produtivo é participar da discussão com o governo e as agências reguladoras, para que as novas tecnologias possam ser trazidas ao Brasil de maneira segura para o paciente. Elizabeth de Carvalhaes, presidente-executiva da Interfarma.

ATENÇÃO AO PACIENTE

Com a tecnologia cada dia mais presente em nossas vidas, a expectativa é que possamos estar preparados para atender nossos pacientes da melhor forma, com agilidade e precisão das informações. Assim, temas como Internet das Coisas e Transformação Digital, devem ser olhados com muita atenção pelos Gestores da Saúde. Mesmo com toda tecnologia a nosso favor, não podemos deixar de lado itens como Atenção ao Paciente e tudo que o cerca. Em 2020 temos que observar e dar atenção para temas como Maturidade de Gestão; Projetos de Longevidade; e Neuroética. Marcio Moreira, presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares (FBAH).

QUALIFICAÇÃO HUMANA

Depois de muitas perdas de leitos e fechamento de hospitais, desejamos e seguimos confiantes com o crescimento da economia, o desenvolvimento da saúde, mas, também, da educação, pois, para se ter um setor de qualidade, a qualificação é o principal instrumento de avanço e evolução. Acredito que estamos no momento de investir na qualificação humana. Não há dúvidas de que a tecnologia continuará evoluindo e se inovando. O que precisamos é de cuidar da formação dos profissionais. Acredito que 2020 será o ano da consolidação de tecnologias digitais, não apenas como ferramentas de gestão, mas também de assistência, a exemplo da telemedicina e da tecnologia 3D. Adelvânio Francisco Morato, presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH).

DEMANDA PERMANENTE

Os principais desafios da saúde para 2020 são: mudanças nas relações entre pagadores e fornecedores; restrições do orçamento público para o setor da saúde; maior demanda da população em relação à saúde, principalmente pelo envelhecimento populacional; maior demanda por novas tecnologias e novos tratamentos. E três temas tendem a ser bastante abordados neste ano: modelos de pagamento, tabelas SUS e saúde corporativa. Acredito que a saúde tem perdido espaço nas discussões públicas. Nos períodos eleitorais, a Saúde é a demanda número um da população. É preciso que esta demanda seja permanente. Ruy Baumer, diretor titular do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia (ComSaude) da Fiesp.

VALOR EM SAÚDE

Precisamos avançar na pauta relativa à melhoria da atenção primária. E temos que encontrar caminhos para melhorar a sustentabilidade financeira do setor de saúde, em função das questões de orçamento público, o aumento das contribuições privadas para os planos de saúde e o impacto do envelhecimento da população nos custos da Saúde. Teremos um aprofundamento não apenas dos debates, como também das experiências práticas na implantação de modelos de gestão relacionados a oferecer valor em Saúde. Já no setor de dispositivos médicos, vamos continuar observando o rápido avanço da tecnologia. Fernando Silveira Filho, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed).

Abramed participa de debate no Welcome Saúde 2020

Com o tema “Despertar de uma nova era”, evento discute perspectivas econômicas e políticas para o setor na nova década

28 de Janeiro de 2020

O vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, Leandro Figueira, foi um dos executivos da saúde convidados a participar do Welcome Saúde 2020, promovido pelo Grupo Mídia, no dia 28 de janeiro, em São Paulo, e que reuniu líderes e representantes de indústrias, laboratórios, hospitais, operadoras de planos de saúde e fornecedores do setor. Figueira compôs a mesa que discutiu “A busca por um ambiente seguro e estável de negócios na saúde em 2020”, com a participação de Valdir Ventura, CEO do Grupo São Cristovão; Rodrigo Lopes, CEO do Grupo Leforte; Amaury Guerrero, CEO do Grupo Opty; moderado pelo doutor em filosofia e direito pela Universidade de Frankfurt, Giovanni Agostini Saavedra.

De acordo com Figueira, poucas áreas foram tão beneficiadas pelo avanço da tecnologia como a saúde, e a medicina diagnóstica tem sido um dos segmentos que têm aproveitado muito essa oportunidade, evoluindo a ponto de permitir que, por exemplo, se detecte a probabilidade de alguém desenvolver determinadas doenças. “Há casos também em que patologias são identificadas muito precocemente, aumentando as chances de sucesso no tratamento”, ressaltou. 

Destacou ainda ser importante que se continue investindo em tecnologia e inovação para a descoberta de novos exames e processos que irão fazer com que a sociedade esteja mais segura. Trouxe como exemplo, o mapeamento do código genético do coronavírus, realizado em menos de dez dias. “Isso vai acelerar a busca por uma vacina eficaz no combate ao vírus e mostra que investir em tecnologia e em segurança fará a sociedade mudar a história no mundo”, completou Figueira.

Já Valdir Ventura, aposta em planejamento estratégico e qualidade para a obtenção de um ambiente seguro nos negócios em saúde. Segundo ele, planejar estratégias trouxe confiança à economia para desenvolver ações dentro da organização que realmente tivessem retorno financeiro, visando o crescimento no mercado.

Outro ponto fundamental, segundo Ventura, foi a mudança na cultura da instituição, investindo em qualidade e transparência. “Temos trabalhado em processos, por meio das certificações, na busca por qualidade no plano de saúde, hospital e unidades ambulatoriais, e vamos trabalhar com muita força em 2020 na sustentabilidade e nos pilares: transparência, iniciativa, comprometimento, criatividade e velocidade das ações para melhor atender os nossos beneficiários”, disse.

Rodrigo Lopes, concordou com Ventura, afirmando que a saúde precisa de transparência em todos os segmentos, mudança no modelo atual de investimentos em políticas de saúde e mais parcerias com a iniciativa privada. “É impossível se pensar em sustentabilidade no setor sem passar pela mudança no modelo de assistência. É fundamental investir em atenção primária, prevenção de doenças, em compliance e em análise de dados, já que informações temos muitas. Precisamos também de parcerias entre os sistemas público e privado para que a saúde, a partir de 2020, possa debater gestão, encontrar seus gargalos e voltar a crescer”, alertou.

O moderador da mesa, Giovanni Agostini Saavedra, comentou que o Brasil é tradicional importador de tecnologias e que as normativas do Estado acabam por atrapalhar os processos de inovação e integração tanto com universidades quanto com o mercado. “As grandes invenções no mundo surgiram em universidades. Por sua vez, temos iniciativas como a telemedicina, que amplia o acesso ao atendimento em saúde, sendo barradas por entidades. Algum dia teremos condições de acompanhar o processo de inovação mundial?”, questionou.

Nos dias atuais, segundo Amaury Guerrero, em que está difícil a sobrevivência no mercado, ainda há a cautela na manutenção da sustentabilidade, o que acaba por atuar como barreira para a inovação. “A modernização faz-se necessária em qualquer cenário, e isso significa incorporar inovações. Não acompanhar esse fluxo pode levar ao desaparecimento de suas empresas. Isso inclui, por exemplo, a automação de processos e telemedicina. Quem não está acompanhando essas modernizações corre o risco de enfrentar dificuldades e perder competitividade”, falou Guerrero.

Segundo Figueira, é preciso que haja mudança da mentalidade de que a incorporação de tecnologia é irreversível e que a telemedicina é real. “Falta regular e estabelecer a remuneração para essa prática, que é um estímulo às inovações e ao desenvolvimento sustentável do setor”, reforçou o vice-presidente, abordando ainda a necessidade de se ter atitudes positivas para conquistar resultados. “Com investimento em tecnologia, busca por eficiência e uso racional de recursos, é possível ofertar mais qualidade ao paciente. Além disso, quando trazemos transparência às ações, a sociedade vive melhor”, pontuou.

Saúde 5.0

Claudia Cohn e Lídia Abdalla, membros do Conselho de Administração da Abramed, também participaram do evento integrando a mesa de debate “Os desafios das Organizações de Saúde rumo à saúde 5.0”, com Irene Minikovski, presidente da Qualirede, e Francisco Balestrin, presidente do CBEXs, moderados por Lauro Miquelin, CEO da L+M.

Na visão de Lídia, a tecnologia e a chegada da internet colocaram todos no mundo globalizado, o que foi positivo do ponto de vista da evolução da medicina, mas há de se saber como aplicar esse conhecimento. “Falar de saúde 5.0 é ter a responsabilidade de que as inovações irão servir à humanidade, e não a sociedade servirá à tecnologia. Cabe aos líderes ver que este é um universo incrível, mas que o princípio de tudo são as pessoas, o paciente no centro do cuidado; e o papel das lideranças é melhorar isso”, disse ela.

Claudia reforçou que os líderes devem sanar as dúvidas e incertezas para as novidades que o advento 5.0 trará à saúde. “Mais do que tudo, não temos de ter pessoas para substituir, temos de ter indivíduos melhores”, afirmou, reforçando que será importante a evolução da sociedade individualista para uma com pensamento de colaboração e busca do bem comum.

De mesma opinião, Francisco Balestrin reforçou que “os líderes precisam ser figuras inspiradoras, que buscam conhecimento e renovação todo dia. O método antigo não vai mais funcionar nesse mundo novo”.

O evento ainda discutiu políticas inovadoras para o país, os reflexos na saúde com a reforma previdenciária e digital health como estratégia para um novo modelo de saúde.

Healthtechs brasileiras apresentam soluções tecnológicas para saúde no 4° FILIS

CUCOhealth, GlucoGear e Neoprospecta participaram do painel “Healthtechs: transformando o acesso à saúde”

As healthtechs – empresas com propostas inovadoras e disruptivas na área da saúde – têm mudado, em todo o mundo, a maneira com que muitos pacientes vêm interagindo com os serviços de saúde.

Três startups brasileiras apresentaram suas soluções para o mercado durante o 4º FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), que aconteceu em São Paulo, dia 30 de agosto. Entre os cases apresentados estavam um aplicativo para engajar os pacientes em tratamentos médicos, outro que ajuda a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia se comporta, e o diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos.

A CEO e fundadora da CUCOhealth, Lívia Cunha, foi a primeira a apresentar sua solução. Fundada em 2015, a healthtech trouxe para o mercado um aplicativo gratuito de engajamento de pacientes em tratamentos médicos. Funciona como um enfermeiro digital na vida dos pacientes em tempo integral, oferecendo conteúdo segmentado para educá-los sobre a condição crônica, alertas para lembrança dos compromissos de saúde como medicamentos e medições, além de trabalhar com gamificação para beneficiar os pacientes mais engajados.

Lívia ressaltou que a empresa ajuda os pacientes a aderirem ao tratamento médico, uma vez que a cada 100 diagnósticos, somente 20 voltam na farmácia para comprar remédios. “A não adesão gera mais custos na saúde. Nós trabalhamos com hospitais e temos o paciente no centro do processo”, afirmou. A empresa atende mais de 100 mil pessoas no Brasil e outros países da América Latina, além de Estados Unidos e Alemanha.

Já o fundador e CEO da GlucoGear, Yuri Matsumoto – startup que utiliza inteligência artificial para controle do diabetes – apresentou a estratégia da empresa de oferecer tecnologias preditivas como informações para bomba de insulina. Segundo o empresário, foram desenvolvidos algoritmos para produção de canetas inteligentes de insulina com um ecossistema integrado a outras empresas para garantir um sistema 100% autônomo para as pessoas com diabetes.

Seu primeiro produto é um aplicativo chamado GlucoTrends, que tem como objetivo ajudar pacientes a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia deles se comporta. “Utilizando inteligência artificial, a tecnologia consegue prever a curva glicêmica futura de cada usuário e alertar para possíveis eventos de hipo ou hiperglicemia, bem como recomendar ações preventivas”, disse. “Além disso, oferece um histórico digital de glicemia, medicamentos administrados, calculadora de insulina, tabela de alimentos com contagem nutricional e registro de atividades físicas com estimativa de consumo energético.” O aplicativo traz ainda conteúdo publicado por experts em diabetes para orientar os usuários sobre os desafios do dia a dia, e também uma interação social para que usuários encontrem outros com perfil similar para compartilhar momentos, experiências e suporte emocional.

A Neoprospecta foi a última startup a se apresentar no 4º FILIS. O CEO Luiz Felipe Oliveira iniciou ressaltando que o corpo humano produz milhões de bactérias a partir do intestino e que a solução da empresa é realizar testes para saber se a microbiota do paciente está ligada à situação diagnosticada. Isso acontece através do diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos, utilizando como base as novas tecnologias de sequenciamento de DNA em larga escala. “Trabalhamos a estratégia B2B com principais players do mercado, como Dasa e Albert Einstein”, afirmou Oliveira.

Segundo ele, esse pipeline tecnológico possui duas etapas principais: a laboratorial, que compreende a purificação e extração do DNA, o preparo molecular da amostra e o sequenciamento do DNA; as etapas computacionais, que consistem em análises de bioinformática; e a implementação dos dados na plataforma de visualização.

Após a apresentação das healthtechs, Antônio Vergara, CEO da Roche Diagnóstica Brasil; iniciou o debate ressaltando que a contribuição das startups é bem-vinda, uma vez que traz interação com modelos de negócios inovadores. “Essa cooperação entre healthtechs e grandes empresas é importante, pois o setor de saúde está em constante busca de melhorias, seja para garantir a segurança dos pacientes quanto para prover uma gestão mais eficiente e sustentável”.

Pedro de Godoy Bueno, presidente da Dasa, mencionou que as grandes empresas têm processos mais lentos e atuações em diversas áreas, enquanto as startups conseguem mirar em um problema específico. “Essa cooperação é um caminho sem volta”, afirmou. “Trazer cultura de startup para dentro das empresas é um desafio. Temos várias que funcionam dentro da Dasa, e essa parceria é importante para nós e para elas também, já que é uma possibilidade de escalar. Unir é o caminho”, defendeu.

Para convergir com as grandes e garantir as parcerias, as healthtechs precisam ter, segundo ele, persistência, ciclo comercial largo e defensor interno dentro das grandes empresas. Bueno defendeu também que o capital precisa migrar para onde há mais retorno e lembra que os médicos não estão 100% prontos para o que está vindo.

Durante a discussão, Rodrigo Aguiar, Diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), lembrou que a Agência precisa tratar a inovação dentro da regulação, porém sem inibir os avanços. “Se conseguirmos não atrapalhar, já ajudamos, uma vez que a regulação é muitas vezes a antítese da inovação”, afirmou. Dessa forma, ele considera que é papel também da ANS fomentar o ambiente para novas healthtechs. “Queremos que floresçam a inovação e novas plataformas de cuidado. Temos que evitar as más práticas, sem brecar as novas”, resumiu.

Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury, reforçou que as soluções oferecidas precisam estar casadas com as intenções do médico. Ele avalia, no entanto, que o momento atual oferece muitos recursos, mas não novas ideias. “Temos o big data, mas não a big idea. Há ideias muito segmentadas, que não são escaláveis”, provocou.

Renato Buselli, head LATAM da Siemens Healthineers, indicou que há verbas disponíveis no fundo de pensão do governo federal e que vivemos um momento de transformação cultural. “Precisamos de novas práticas para construir essa história de transformação”, avaliou. Ele indica, ainda, que as novas empresas devem buscar inovações disruptivas, mas também adaptar soluções que já existem, contribuindo para a evolução do mercado.

Entidades debatem os rumos do Brasil para 2020

Evento destacou a importância da união e sustentabilidade para o setor de saúde

06 de dezembro de 2019

A Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), em parceria com Abramed, Abiis, Abimed, Abimo, Abraidi, CNSaúde, Instituto Ética Saúde (IES), Fehoesp, Sbac e SBPC/ML, realizou no dia 5 de dezembro, no auditório do Grupo Fleury, em São Paulo, o encontro “Brasil 2020 – Quebrando barreiras e estabelecendo novos paradigmas para o crescimento sustentável”. Wilson Shcolnik e Claudia Cohn, respectivamente, presidente e membro do Conselho de Administração da Abramed, bem como Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva, estiveram presentes. Líderes de todas as entidades realizadoras também participaram do evento.

Na abertura do encontro, o presidente do Grupo Fleury, Carlos Iwata Marinelli, disse que é o momento de todos do setor unirem-se em um compromisso em prol da saúde. “Vivemos um momento de retomada da atenção à saúde primária e de pacientes cada vez mais participativos. Cabe às lideranças buscar conhecimento para conquistar a sustentabilidade e a excelência do setor. Temos que acreditar que em 2020 viveremos momento melhores.”

Fábio Accury, presidente da CBDL, falou que os tempos são difíceis mais que a troca de experiências pode ajudar na busca por soluções para a saúde. “Os desafios são grandes, principalmente no que se refere ao acesso a novas tecnologias e convergências regulatórias, num cenário político e econômico difícil. Precisamos ser otimistas e entender que juntas, as entidades representantes da saúde são mais fortes, até porque sozinho não se chega a lugar algum.”

A primeira palestra do evento foi do economista, empresário do ramo imobiliário e montanhista Juarez Gustavo Pascoal Soares, 24° brasileiro a atingir o cume do Monte Everest, o topo do mundo, em 2019.  Ele falou sobre “Estresse, auto sabotagem, burnout e superação: do Everest para as empresas”, em que faz uso de suas experiências em escaladas para discutir a importância do planejamento e autoconhecimento para definição de estratégias para ajudar pessoas e empresas.

“Minha atuação junto às companhias, entidades e conselhos é marcada pela busca de convergência entre os interesses dos diversos profissionais que os compõem. Meu trabalho é construir pontes, definir propósitos e estratégicas, estabelecer vínculos de confiança e prevenir danos”, explicou, comentando a importância da tomada de decisão. “Num ambiente de extrema pressão e risco, quando se precisa tomar decisões responsáveis, é necessária autoconfiança na dose certa. Em um ambiente corporativo, por exemplo, onde boa parte das decisões têm consequências significativas, em geral, não se pode ter muita tolerância com desempenhos ruins. Confiar na capacidade de tomar boas escolhas passa pelos nossos dilemas éticos, que nos irão proporcionar resultados mais seguros.”

Soares também disse que ser agente de mudanças significa compartilhar aprendizado, experiências e conhecimento. Nesse ponto, as habilidades emocionais podem ajudar em questões cruciais, como decisões sob pressão, estratégia flexível, performance e mudanças. “Contribuir na maneira como um líder enfrenta os desafios relacionados à mudança, sejam elas desejáveis ou inevitáveis, tendo por princípios o resultado, a segurança e a ética, bem como ajudá-lo a conciliar seus objetivos profissionais e seus sonhos pessoais, é pré-requisito para se alcançar o cume, o topo do reconhecimento pessoal ou profissional”, garantiu.  

Também alertou que é preciso estar preparado para o empoderado, porque é a partir dos medos que superamos as dificuldades e alcançamos o sucesso. “A provação que deixo é: como queremos que nossas empresas sejam lembradas depois dessa jornada?”, concluiu Soares. 

A segunda palestra foi do economista sênior do Banco Mundial, Edson Araújo, sobre “Desafios para sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro – perspectivas do BM”. 

Nos últimos 30 anos, o Brasil fez progressos notáveis na construção e expansão do Sistema Único de Saúde (SUS), que contribuiu para melhorar os resultados de saúde da população, a proteção financeira e reduzir as desigualdades na distribuição e acesso dos recursos de saúde em todo o país, exemplificou Araújo. No entanto, ainda existem desafios para consolidar essas conquistas e responder às pressões existentes e crescentes, como o envelhecimento da população e o crescimento de doenças não transmissíveis. 

Outro ponto destacado pelo economista do BM foi sobre a questões do subfinanciamento relativo do SUS. “Existe consenso de que há escopo claro para alcançar melhores resultados com o nível atual de gastos. O Brasil, como a maioria dos países ao redor do mundo, enfrenta desafios relativos à sustentabilidade do sistema tendo em vista que os gastos em saúde frequentemente aumentam a taxas superiores às taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB). Mantido o padrão atual de crescimento nominal dos gastos, os custos com o SUS chegarão R$ 700 bilhões em 2030.”

 A melhoria da eficiência poderia resultar em ganhos (nominais) de até R$115 bilhões em 2030 (ou aproximadamente R$ 989 bilhões no período). Conquistas essas que, segundo Araújo, poderiam amenizar os impactos e possibilitar a consolidação do sistema. Na opinião dele, para lidar com a expansão necessária na demanda por serviços de saúde, esperada a partir da transição demográfica, o sistema de saúde do Brasil precisa de reformas estratégicas: consolidação da atenção  hospitalar para maximizar escala, qualidade e eficiência; melhorar o desempenho da força de trabalho em saúde, com expansão da oferta de profissionais e a introdução de incentivos para aumentar a produtividade; e integrar melhor os vários níveis de prestação de serviços, por meio de redes integradas de atenção à saúde, incluindo a saúde suplementar. “A experiência dos países que consolidaram seus sistemas de saúde, com reformas periódicas, mostra que a consolidação do SUS depende da capacidade de adotar medidas avançadas para sua modernização”, justificou. 

Na visão de Araújo, para se alcançar mais qualidade, com melhor experiência ao paciente e mais eficiência, com foco nos resultados e melhorar o acesso e a proteção financeira, é preciso fazer reformas de gestão do sistema, de demanda, da oferta e do financiamento. “O sistema de saúde como um todo exigirá um redesenho dos modelos de prestação, gestão e financiamento dos serviços do SUS, assim como melhorar a coordenação com o setor privado, expandir a cobertura e os recursos para a atenção primária em 100% e racionalizar a oferta de serviços ambulatoriais e hospitalares”, finalizou.

Abramed participa de debate sobre certificação digital

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, esteve no eSaúde & PEP 2019, em 2 de dezembro 

05 de dezembro de 2019

A Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis) promoveu o Congresso eSaúde & PEP 2019, entre os dias 2 e 4 de dezembro, em São Paulo, para debater os aspectos práticos de temas como certificação digital, papel dos profissionais da área da saúde na era de transformação digital e diversos aspectos para garantir a segurança dos dados de pacientes com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por meio de discussões com a participação do púbico, além de encontros voltados a médicos, enfermeiros e farmacêuticos envolvidos com saúde digital.

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, participou do painel “Certificação digital – desafios e alternativas para implantação em laboratórios”, que discutiu as formas de autenticação e assinatura bem como as legislações sobre digitalização dos documentos na saúde. 

Ele comentou que a assinatura com certificação digital nos laudos laboratoriais exigida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 30/2015, foi o que assustou o segmento, pelo fato de a maioria dos laboratórios brasileiros serem de pequeno e médio portes. “O impacto do custo seria grande, e essa exigência seria insuportável economicamente. Mas numa ação conjunta do setor conseguimos que o órgão regulador revogasse essa RDC em 2017.”

Shcolnik informou que fraudes não têm sido registradas em virtude da utilização de sistemas que asseguram a autenticidade da certificação digital. Porém, o que está preocupando o setor é a questão da interoperabilidade dos sistemas de modo a garantir que, apesar de suas particularidades, interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente. “O que vejo é que há uma grande expectativa de que garantir o compartilhamento dos dados entre prestadores de serviços, operadoras e instituições será benéfico aos pacientes e a toda cadeia da saúde, uma vez que evitaria o desperdício de recursos, o que impacta diretamente os custos operacionais no setor..” 

Mas ressalta que, para isso, será necessário que todos do sistema de saúde tornem seus processos mais ágeis e eficientes, usando de soluções que possibilitam uma atuação integrada. “Ainda que a interoperabilidade garanta que mais seja feito com investimentos menores, ainda está longe de ser unanimidade no mercado”, afirmou Shcolnik.

Na visão de Marcelo Botelho, da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), para a interoperabilidade sair do discurso e ir para a prática é preciso que hospitais, laboratórios, clínicas, operadoras e demais agentes de saúde incorporem protocolos e padrões a fim de que todos os sistemas se conversem automaticamente. “Se não houver interoperabilidade, é preciso copiar os dados manualmente, de um sistema a outro, e o padrão é complexo. Pergunto sempre se há interesse que tudo isso e a certificação digital de fato funcionem”, questionou. 

Contundente na questão do compartilhamento de informações, Botelho ainda afirmou que não há dúvidas de que ele trará mais agilidade e qualidade para a saúde brasileira. No entanto, os desafios para que isso se torne algo real são grandes e envolvem questões tecnológicas, legais, econômicas e administrativas. “Para deixar de ser algo incipiente, é necessária uma mudança gradual envolvendo governo, instituições de saúde e empresas”, afirmou. 

Para Carlos Eduardo Ferreira, presidente da SBPC/ML na gestão 2020-2021, o desafio da certificação digital está na garantia da qualidade dos serviços prestados e na questão da interoperabilidade para que de fato seja implementado o prontuário eletrônico do paciente (PEP) em todo o sistema de saúde. “Um dos maiores desafios da transformação digital no Brasil, em todas as instâncias governamentais (federal, estadual e municipal), pode, a partir dos prontuários eletrônicos, ser resolvido com o emprego gradativo, em toda a rede pública, da tecnologia de certificação digital.” 

Já testada em hospitais privados e em alguns públicos, a tecnologia dos prontuários a partir da certificação digital, segundo Ferreira, amplia a percepção de eficiência por parte dos pacientes e profissionais. “Quando pensamos no envelhecimento da população e no natural crescimento demográfico, dar maior celeridade e eficiência às formas de atendimento é sem dúvida uma medida de extrema relevância”, destacou.

O cenário de aumento do custo assistencial, envelhecimento populacional, fragmentação dos serviços de atendimento e ampla difusão de tecnologias de informação, bem como a integração das informações de saúde entre toda a linha de cuidado, para Ruy Ramos, assessor técnico do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), pode propiciar maior valor a todos da cadeia de saúde. Mas, para isso, é preciso reorganizar a área de tecnologias de informação em saúde (TIS). “Reconhecendo a obsolescência das tecnologias empregadas atualmente e os problemas decorrentes do modelo vigente de produção de informações, as instituições precisam buscar modelos, experiências, padrões tecnológicos e de informação que possam ajudar na reformulação da área da saúde e garantir a interoperabilidade no sistema.”

Wilson Shcolnik encerrou o painel afirmando que é preciso surgir uma liderança para tomar a frente das discussões sobre o compartilhamento de informações na saúde e na implantação do prontuário eletrônico. “Na esfera pública, o governo já gastou muito do nosso dinheiro com o PEP. Acredito que na área privada precisa surgir uma liderança para integrar os sistemas, porque se depender unicamente do prestador de serviço não haverá compartilhamento.”

Abramed apoia diagnóstico preciso e de qualidade para geração de valor aos pacientes

ema foi debatido por Claudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed, em talk show realizado no Congresso Nacional de Hospitais Privados

29 de novembro de 2019

Com uma programação voltada para o conhecimento, inovação e relacionamento, a sétima edição do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), realizado pela Anahp, entre 26 e 28 de novembro, em São Paulo, trouxe o tema “Saúde Baseada na Entrega de Valor: o papel do hospital como integrador do sistema”, que foi debatido a partir das perspectivas de experiência do paciente, modelos assistenciais, informação e tecnologia.

Representando a Abramed, Claudia Cohn, membro do Conselho de Administração, participou do talk show “Experiência do paciente: muito além do cuidado humanizado e da hotelaria, as diferentes dimensões de atuação para a geração de valor aos pacientes”, no dia 28, e defendeu o diagnóstico preciso e de qualidade para tornar a experiência do paciente mais positiva. “Temos que ter a responsabilidade e a consciência para saber que o diagnóstico interfere no cuidado. E quando o paciente está no hospital ou no ambulatório, todos os pontos de contato são diferentes, por isso precisamos pensar efetivamente de forma multidisciplinar. Levar em consideração a expectativa de quem está sendo cuidado é fator fundamental.”

Marcelo Alvarenga, chief experience office do Hospital Sírio-Libanês e coordenador do painel, provocou os participantes comentando que “o ponto de vista individual do paciente sobre o cuidado está relacionado à expectativa de cada um”. 

Para Lucas Andrade, CEO da Clínica Florence, ao longo de uma jornada de assistência, o paciente pode ter expectativas diferentes, mas existe um elemento que não pode deixar de estar no centro do cuidado. “Não existe experiência positiva se não oferecermos segurança”, ressaltou, lembrando que quando se trata de pacientes no fim da vida o cuidado tem de ser maior. “É preciso olhar esse processo como nossa razão de existir para entendermos que seu sofrimento é intenso e nos colocarmos no lugar de quem está precisando de assistência.”

Outro ponto abordado no debate foi o engajamento da equipe e a importância do treinamento para as lideranças, o que impacta diretamente na experiência de quem é atendido por esses profissionais. Para Vania Rohsig, superintendente assistencial do Hospital Moinhos de Vento, “o colaborador é parte importante da entrega do cuidado e é preciso que haja desenvolvimento das lideranças para esse olhar.  Avançar na satisfação do paciente é evoluir no modelo assistencial. Temos um caminho grande para o desenvolvimento dos líderes para prepará-los para essa entrega de cuidado e esse novo cenário da assistência.”

Florentino Cardoso, diretor-executivo médico do Hospital Care, ressaltou que é preciso debater a educação em saúde. “Há muitos anos defendo não falar apenas de diagnóstico e tratamento. Temos de instruir a população sobre direitos e deveres”. Para ele, o profissional que está na ponta, no atendimento, deve sempre perguntar ao paciente se há dúvidas em relação ao seu cuidado. “É necessário ouvir muito, praticar empatia e buscar a qualidade da assistência.”

Alvarenga comentou ainda a importância de se olhar para o colaborador e dar condições para que ele atue da melhor forma no atendimento ao paciente. “Autocuidado é algo que devemos dar aos nossos colaboradores para que eles possam desenvolver ferramentas de empatia, por exemplo.”

A mudança no comportamento do paciente, na visão de Andrade, também deve ser levada em conta. “Ele não aceita mais o cuidado paternalista, que dita o que fazer. O paciente hoje quer ser ouvido, ter uma participação mais ativa no tratamento.”

Para isso, na opinião de Claudia, é necessária uma nova cultura. “A propaganda induziu o paciente a crer que valor em saúde é contar com alta tecnologia, equipamentos de alto custo. Investir na mudança de hábito desse paciente é uma forma de mudar a visão dele”, disse. E para que ele seja mais saudável, o estímulo à prevenção, fazer exames e tratar as doenças antes que elas se agravem são fundamentais. “O desafio de todos do setor de saúde é a geração de valor para a população, medindo de forma eficiente os desfechos clínicos”, finalizou.

Abramed participa do lançamento dos Resultados Laboratoriais da Pesquisa Nacional de Saúde-2013,

26 de novembro de 2019

Nosso presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik, participou hoje do lançamento dos Resultados Laboratoriais da Pesquisa Nacional de Saúde-2013, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde, no Salão Internacional da Escola Nacional de Saúde Pública, no campus Manguinhos/Fiocruz.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é o mais amplo inquérito em saúde no Brasil realizada pelo IBGE em parceria com o MS e em colaboração com instituições de ensino e pesquisa. Além de ser um estudo abrangente em relação à população estudada e aos temas abordados, a PNS é inovadora na incorporação da coleta de material biológico (sangue e urina) em uma subamostra, contemplando aproximadamente 9 mil adultos nas cinco grandes regiões do país.

O evento incluiu o lançamento de suplemento temático da Revista Brasileira de Epidemiologia, que contém artigos baseados em resultados inéditos dos exames laboratoriais da PNS, representando seu potencial de produção de conhecimentos sobre características e condições de saúde da população brasileira e de aprimoramento da vigilância das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e dengue no país. Os laboratórios associados da Abramed participaram do estudo auxiliando na coleta e realização de exames.

Os autores dos artigos do suplemento promoveram um debate sobre os resultados encontrados. À tarde, pesquisadores convidados apresentaram trabalhos com proposições de inovações metodológicas em inquéritos de saúde.

O laboratório da PNS constitui um marco para a saúde pública brasileira e fez uma homenagem a Luiz Gastão Mange Rosenfeld, consultor da Câmara Técnica de Análises Clínicas e outros grupos de trabalho da Abramed, falecido em 2018, pelo seu valoroso trabalho e sua luta incansável para a coleta dos dados do laboratório.

Abramed recebe Sindhosp para debate sobre desafios e oportunidades do sindicalismo

Em encontro realizado com os associados, vice-presidente do sindicato falou sobre as mudanças trazidas pela reforma trabalhista ao sistema sindical

20 de novembro de 2019

A reforma trabalhista aprovada em 2017 modificou as obrigações das empresas em relação aos sindicatos. Em função disso, cada empresa tem definidas políticas diferentes de relacionamento com essas entidades. Por esse motivo, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) recebeu, no dia 19 de novembro, em sua sede, Luiz Fernando Ferrari Neto, vice-presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (Sindhosp) para falar sobre o trabalho que vem realizando e os benefícios que uma empresa obtém quando se relaciona com um sindicato da categoria.

Ferrari informou que o Sindhosp está buscando ouvir as necessidades dos segmentos da saúde para atender aos anseios do setor. “Somos a entidade sindical mais estruturada da saúde no Brasil, por isso nos coube o papel de nos reinventarmos após a reforma trabalhista, que acabou com as contribuições sindicais. Nossa proposta é ofertar mais serviços para juntos podermos enfrentar os problemas, buscar as soluções e dialogar com o setor.”

A entidade tem sete regionais no interior do estado e com outros cinco sindicatos compõe a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estados de São Paulo (Fehoesp), que possui assento na Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) para debater assuntos importantes do setor na esfera federal e com as agências nacionais de Saúde Suplementar (ANS) e de Vigilância Sanitária (Anvisa). O sindicato oferece assessoria jurídica e contábil; comitês; comissões de Recursos Humanos, de clínicas, de segurança e saúde ocupacional; além de cursos e treinamentos para aperfeiçoamento e qualificação profissional, visando ao fortalecimento do setor. “Com a reforma, o que prevalece é o negociado sobre o legislado. Por isso, precisamos de segurança nas negociações com mais de 50 categorias profissionais para que tenhamos força no processo negocial, que está cada vez mais difícil. Não podemos enfraquecer”, destacou Ferrari.

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, comentou que o segmento de medicina diagnóstica tem dificuldades específicas, bem como que o período é de transição e de tomada de decisões. “É necessário clareza nas ações e pontuarmos nossas necessidades ao sindicato. Precisamos de soluções e para isso temos de decidir se queremos um setor forte ou enfraquecido.”

A questão da perda do poder de negociação com os sindicatos de empregados também foi lembrada no encontro. Associados disseram que, como essas entidades estão enfraquecidas, não há apoio nem força para que o negociado sobre o legislado seja satisfatório ao setor. A sugestão de Shcolnik foi que se promovam encontros com os sindicatos das categorias ao longo do ano, e não somente na data-base da negociação coletiva. “Podemos nos aproximar deles mostrando quão difícil está o cenário, contextualizá-los das dificuldades do segmento para termos um bom diálogo no processo negocial. Nesse ponto o Sindhosp pode nos ajudar. Precisamos ser mais unidos.”

Ferrari concluiu dizendo que é preciso também melhorar a troca de informação na saúde suplementar para que a interação entre os atores do setor de saúde seja maior. “Com vontade política é possível fazer acontecer. Estamos no mesmo barco, por isso é importante estarmos coesos num sindicato forte.”

Em summit sobre ética, Abramed defende educação médica e papel das associações no fomento a políticas de integridade

Wilson Shcolnik e Claudia Cohn, respectivamente presidente e membro do Conselho de Administração da Abramed, participaram do encontro realizado dia 7 de novembro

08 de novembro de 2019

Incorporar a ética como uma ação rotineira em todos os elos da complexa cadeia de saúde foi um dos pontos defendidos pela Abramed durante participação no Ética Saúde Summit 2019, evento organizado dia 7 de novembro pelo Instituto Ética Saúde para promover reflexões sobre a sustentabilidade do setor. Representando a Associação, Wilson Shcolnik e Claudia Cohn, respectivamente presidente e membro do Conselho de Administração, reforçaram a importância de investir na educação médica para banir, desde a formação, práticas ilegais e em como as entidades podem contribuir para disseminar a cultura da transparência.

Participando da mesa-redonda “Os desafios das Sociedades Médicas e Operadoras de Planos de Saúde; Sensibilidade, Modelos Comportamentais e Dilemas Éticos do Profissional de Saúde”, Shcolnik, que também preside a SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), foi incisivo ao mencionar a relevância da ética médica. 

Para o executivo, é fundamental investir na educação dos profissionais. “Os médicos precisam conhecer as questões éticas que envolvem a cadeia, entendendo o custo dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que prescrevem. Hoje, infelizmente, isso ainda não é uma realidade”, pontuou.

Para Fernando Costa, que é diretor de promoção de saúde cardiovascular da SBC/Funcor (Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia) e estava presente no debate, é preciso integrar ética e compliance no currículo das universidades. “Essas deveriam ser matérias obrigatórias em todos os cursos, inclusive em mestrados e doutorados. Quem não pauta a vida inteira em comportamentos éticos está mais propenso a escapar”, declarou.

Corroborando com essa necessidade latente de rever as salas de aula, Myiuki Goto, membro da Comissão de Defesa Profissional da AMB (Associação Médica Brasileira), trouxe dados importantes. Segundo a especialista, nas últimas duas décadas o número de faculdades de medicina no país dobrou. “Em nosso cenário, o aluno já sai da faculdade de medicina com um passivo de financiamento em torno de R$ 700 mil, ou seja, ele já se forma devendo”, mencionou fazendo uma indicação de que a realidade do jovem profissional no país já o encaminha a um teste sobre suas atitudes. 

Além de Shcolnik e dos representantes da AMB e da SBC/Funcor, também participaram da mesa-redonda Simone Parré, da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde); José Rodrigues Laureano Filho, da CBCTBMF (Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial); Diego Falcochio, da Sbot (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); e Anderson Mendes, da Unidas Autogestão em Saúde. 

Papel das Associações – Claudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed, esteve presente no summit e reforçou o papel das entidades na construção de uma cultura que preza pela transparência. 

Participando da mesa-redonda “Fornecedores de Produtos e Serviços de Saúde; Inovação, Incorporação Tecnológica, Sustentabilidade Sistêmica, Valor ao Paciente e Dilemas Éticos da Atividade Econômica”, Claudia, que também atua como diretora-executiva do Alta Excelência Diagnóstica, afirmou que a ética é a melhor ferramenta para a garantia da sustentabilidade do sistema de saúde.

“A ética está em nosso dia a dia”, disse. Reforçando que desenvolver o assunto de forma unificada é fundamental, pontuou que é preciso dar o exemplo. “Nas empresas e associações, os líderes devem comprar essa causa para, então, apoiar as iniciativas. Somente assim será possível contaminar até as pequenas atitudes rotineiras com a vestimenta da transparência”, completou a executiva.

Falando sobre o papel das associações neste cenário que carece de atitudes mais corretas e justas, Claudia reforçou que é preciso apoiar todo o complexo, dando atenção especial às pequenas empresas que muitas vezes não têm estrutura para investir em comitês e grupos de compliance. 

“Nós, na Abramed, temos como responsabilidade fomentar essa cultura de ética nas empresas. Para isso, é benéfico trabalhar atitudes mais lúdicas, com menos ‘juridiquês’, para torna-las práticas do dia a dia”, disse sobre como tangibilizar as ações pode aproximar os atores dessa nova cultura. A Abramed disponibiliza, aos seus associados, uma cartilha de compliance (clique AQUI para baixar) e conta com um grupo de trabalho dedicado à debater o assunto. Além disso, publica mensalmente na Abramed em Foco uma matéria sobre o tema.

Ao lado de Claudia no debate estavam Fabrizio Signorin, da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde); Patricia Braile, da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios); Sergio Rocha, da Abraidi (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde); Eduardo Amaro, da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados); Yussif Ali Mere Júnior, da Fehoesp (Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo); e Marcos Moreto, do Ibross (Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde).