Reforma pode aumentar em até 40,4% carga tributária do setor de medicina diagnóstica

Como reflexo, setor perderá a capacidade de investimentos no desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos e terá serviços mais caros e menos acessíveis

1º de setembro de 2020

Com a Reforma Tributária tramitando no Congresso Nacional, o setor de saúde reforça sua preocupação com os resultados de uma reforma fiscal que, a princípio, não considera a função social da medicina diagnóstica no conjunto de atividades relacionadas a saúde e bem-estar da população, deixando assim de enxergar as especificidades de segmentos altamente estratégicos e essenciais para a manutenção da sociedade. Estudo elaborado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) elenca alguns cenários que a reforma pode trazer para o atendimento assistencial. O principal deles está em um possível aumento de até 40,4% na carga tributária de laboratórios e clínicas de imagem.

A criação de um imposto único que, no Brasil, seria chamado de CBS, sem considerar alíquotas diferenciadas ou mesmo isenção para setores essenciais como saúde – a exemplo do que fazem países altamente desenvolvidos como Austrália, Áustria e Canadá – pode dificultar ainda mais o acesso da população brasileira ao diagnóstico e inviabilizar o desenvolvimento de novos exames. Vale ressaltar, inclusive, que graças a essa capacidade, um conjunto relevante de laboratórios nacionais conseguiu elaborar testes para detecção da COVID-19 nesse momento de pandemia.

“O sistema tributário brasileiro é, de fato, disfuncional e tem uma complexidade que contribui para a construção de um ambiente de negócios pouco favorável a investimentos e empregabilidade. Precisamos de uma reforma focada na simplificação dos processos com objetivo de reduzir, entre outros entraves, o custo de conformidade. Porém, onerar ainda mais o segmento de saúde inviabilizará a atuação de inúmeras empresas de medicina diagnóstica, que deixarão de existir, especialmente em regiões menos desenvolvidas economicamente”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed.

Essa análise de que pode ocorrer aumento de até 40,4% na tributação da saúde foi feita considerando o modelo sugerido pelo Ministério da Economia que unifica o PIS/PASEP e Cofins sob uma alíquota única de 12%. “Ainda que se proponha a adoção de um regime não cumulativo, em que despesas com insumos são compensadas ao longo da cadeia, o setor será penalizado. Nossa maior despesa é folha de pagamento e será inevitável a redução da empregabilidade”, explica Fábio Cunha, diretor do Comitê Jurídico da Abramed.

Hoje, segundo dados do levantamento da Associação, a folha de pagamento representa cerca de 50% das despesas de laboratórios e clínicas de imagem, considerando contratações diretas e indiretas. Nesse sentido, na ausência de uma negociação voltada à neutralidade e inspirada no modelo adotado por grandes países, há a alternativa da desoneração da folha de pagamento, que permitiria a manutenção dos serviços e o investimento em tecnologia e inovação para a garantia do acesso dos brasileiros ao diagnóstico precoce e de qualidade. Porém, essa opção encontra-se a cada dia menos viável, pois demandaria a aprovação de um mecanismo de financiamento como, por exemplo, a CPMF, que encontra forte resistência no Congresso.

Impacto social – Além do impacto direto nas operações das empresas do setor de medicina diagnóstica, a Reforma Tributária não considera a essencialidade de serviços como a saúde e traz um impacto direto no custo assistencial geral, colocando o ônus sobre os cidadãos brasileiros.

Com carga tributária até 40,4% superior à atual, é inevitável que haja repasse de preços para pacientes e operadoras de planos e seguros de saúde. Isso levará a um aumento generalizado do valor dos serviços pagos, tanto por pacientes particulares quanto na precificação das seguradoras, que também serão obrigadas a repassar esses custos aos contratantes, sejam empresas ou famílias.

Como resultado, caso esse cenário se confirme, o mercado de saúde suplementar poderá experimentar uma nova redução do número de beneficiários. Outra consequência é o aumento da demanda sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que infelizmente não é capaz de atender grande parte da população com equidade.

“Se antes de vivenciarmos a pandemia já nos preocupávamos com a Reforma Tributária aumentando os custos e dificultando o acesso da população ao diagnóstico, nesse momento em que o novo coronavírus também desencadeou uma crise econômica levando milhões ao desemprego, o reflexo será desastroso”, comenta Priscilla. Segundo a executiva, os planos de saúde já perderam milhões de beneficiários nos últimos anos e esse número poderá crescer ainda mais, uma vez que muitos beneficiários e empresas contratantes não suportarão as mensalidades devido à instabilidade financeira pós-pandemia, e a reforma pode fazer com que esses valores se tornem ainda menos suportáveis.

Para Cunha, a somatória dos resultados da COVID-19 à Reforma Tributária levará a um cenário no qual a saúde pública, já sobrecarregada, terá de atender a todos os cidadãos que não puderam permanecer com seus atendimentos e procedimentos arcados pelo sistema suplementar, uma consequência bastante indesejada do ponto de vista de orçamento público. “O setor de medicina diagnóstica no Brasil visa a um alinhamento às melhores práticas internacionais em benefício da população. Assim, é necessário que o Legislativo trabalhe para ajustar a proposta garantindo a sobrevivência desses serviços tão essenciais ao progresso e ao bem-estar dos brasileiros”, finaliza.

Abramed conversa com autor da PEC 45/2019 sobre impactos da Reforma Tributária na Saúde

Webinar promovido pela PwC Brasil possibilitou explanação sobre como a falta de visão sobre a essencialidade da saúde pode prejudicar o paciente final

31 de agosto de 2020

A fim de tratar dos impactos da reforma tributária sobre o setor de saúde, a empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil realizou mais uma edição do PwC Debate | Tax, uma série de webcasts que tratam especificamente das mudanças que estão sendo previstas sobre os impostos em território brasileiro. O encontro realizado dia 27 de agosto e apresentado por Romero Tavares e Paula Romano, respectivamente sócio e diretora da consultoria tributária da PwC Brasil, recebeu Fabio Cunha, diretor do comitê jurídico da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed); Kamila Fogolin, diretora jurídica da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp); e Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal e um dos autores da Proposta de Emenda Constitucional, PEC 45/2019, para alteração do sistema tributário nacional.

Antes de iniciar o debate, os executivos da PwC Brasil apresentaram todo o cenário de tributação que está sendo planejado para a Reforma Tributária, considerando como seria a aplicação do imposto com alíquota única sobre o setor de saúde. Após explicação técnica, Tavares mencionou que a pressão eventual sobre os custos dos planos de saúde tende a atingir o paciente final. “Percebemos que o aumento final da carga tributária sobre os serviços privados de saúde pode levar a um efeito que não se observa em setores que não são essenciais que é a eventual redução de cidadãos utilizando a rede privada e mais pacientes dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, declarou.

O impacto direto no SUS, de fato, é uma das grandes preocupações do setor que considera que caso a Reforma Tributária seja aprovada nos moldes em que tramita atualmente no Congresso Nacional, o considerável aumento tanto sobre laboratórios e clínicas de imagem quanto sobre hospitais impreterivelmente acarretará repasses para o beneficiário. E a explicação de Cunha tomou esse caminho.

Ao ganhar a palavra, o executivo trouxe todo um panorama que foi estudado pela Abramed para compreender como seria o comportamento da saúde suplementar diante da reforma. Segundo Cunha, a iniciativa privada é responsável pela realização de 70% de todos os exames do setor no Brasil, principalmente os de alta complexidade. Além disso, é um setor que emprega mais de 2 milhões de pessoas diretamente.

Paralelamente, o diretor comentou que nos últimos seis anos mais de 4 milhões de pessoas deixaram de pagar seus planos de saúde, tendo de recorrer integralmente ao SUS. Com a pandemia de COVID-19, esse cenário tende a se intensificar, visto que somente nos últimos três meses as operadoras de saúde perderam mais de 300 mil vidas.

Mesmo contabilizando de forma conservadora o impacto da Reforma Tributária no setor, Cunha apresentou estudos que consideram uma redução de serviços que pode alcançar a marca de R$ 11 bilhões. Diante de toda essa perspectiva, o executivo reforçou que o setor concorda que investir em uma Reforma Tributária é extremamente importante, que não há interesse de redução da base tributária, mas que a neutralidade se faz necessária para evitar que todos saiam perdendo.

Kamila também se manifestou a favor dessa necessidade. “A gente nem pleiteia a alíquota zero. O que tratamos é a excepcionalidade do setor de saúde, bem como do setor de educação. Principalmente pois com esse repasse a conta final quem paga é o paciente”, disse.

Redução do acesso e desemprego

Ao detalhar os estudos que foram elaborados por entidades do setor de saúde, Cunha apontou todos os inúmeros impactos negativos que estão sendo considerados, a começar pelo aumento do desemprego no país. “Temos 40% do nosso custo na folha de pagamento e, em termos de eficiência tributária, a geração de empregos vai deixar de ser algo bem visto no setor de saúde”, declarou.

Outro ponto apresentado pelo diretor foi a maior dificuldade de acesso que a Reforma Tributária pode desencadear. Appy chegou a afirmar que quem mais consome serviços de saúde é a classe alta, e que o novo formato de tributação seria bastante justo considerando que é mais benéfico para o país cobrar impostos da parcela mais rica da população. Como alternativa, o autor da PEC 45/2019 mencionou a possibilidade de trabalhar a devolução dos impostos às famílias.

Porém essa linha de pensamento é equivocada na visão de Cunha, que trouxe novos números para exemplificar que, nesse caso, a classe média será a mais afetada. “80% dos beneficiários de planos de saúde utilizam planos coletivos, ou seja, serviços que são oferecidos pelas empresas que os contratam. Dessa forma, quem está perdendo o acesso são os trabalhadores. Não é verdade que o gasto com saúde é um gasto do rico, pois todo mundo fica doente e todo mundo precisa de atendimento”, pontuou complementando que a política de devolução também não deve funcionar justamente por serem as empresas que arcam com esses custos.

Além disso, o executivo mostrou que com a classe média deixando de utilizar a saúde suplementar para estrangular ainda mais o SUS, a saúde pública que poderia investir esforços em saúde populacional e epidemiológica, acaba tendo de retomar atendimentos eletivos que antes eram absorvidos pelas instituições privadas.

Exemplo internacional

Na visão de Cunha, se o Brasil quer seguir as melhores experiências internacionais, é preciso utilizar o modelo completo. “De todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aplicam o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), apenas dois não fazem a diferenciação dos setores de saúde e educação: Japão, que não cresce há mais de 20 anos, e Chile”, declarou. Segundo ele, o Canadá – que também tem alíquota diferenciada para a saúde – tentou unificar o imposto e não conseguiu, retrocedendo ao modelo prévio de diferenciação.

Com o argumento de que os especialistas reforçam que o modelo ideal é o que considera uma alíquota única sem qualquer diferenciação, Appy explicou que ao abrir uma alíquota diferenciada para a saúde, por exemplo, abre-se precedentes para que outros serviços como academias e alimentação também se valham dessa justificativa para pleitear redução tributária. Sobre esse ponto, Cunha questionou os motivos que levaram a maioria absoluta dos países que apostam em um imposto único a oferecer diferenciação de alíquotas para setores essenciais como saúde e educação. “Por que as nações tidas como referência não ouviram os experts? Por que o modelo historicamente aplicado de IVA nunca migrou para a alíquota única como sugerem esses especialistas? É melhor na teoria ou é melhor pois foi testado? O ótimo é inimigo do bom e precisamos lidar com essa realidade”, finalizou.

Pandemia de COVID-19 movimenta mercado de biologia molecular

Confira a entrevista com Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, sobre as mudanças que vêm ocorrendo na medicina diagnóstica

26 de agosto de 2020

Até que o SARS-CoV-2 chegasse ao Brasil, o país não tinha uma ampla atuação no ramo de biologia molecular, área que estuda o ponto de vista molecular dos organismos e atua, inclusive, com DNA e RNA gerando resultados diagnósticos muito precisos. Porém, com a popularização dos testes RT-PCR para detecção da COVID-19, o tema vem ganhando espaço e a população passa a entender que biologia molecular não está restrita ao diagnóstico de doenças complexas.

Em entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, marca focada no mercado de diagnóstico in vitro, fala sobre como a crise do novo coronavírus vem promovendo mudanças nesse cenário e sobre como a empresa atua para a popularização dessas técnicas, reconhecidas por sua assertividade.

Com altos investimentos em desenvolvimento de tecnologia em sua sede na Coreia do Sul, a Seegene detém mais de 160 patentes que prometem tornar o diagnóstico molecular mais acessível. No Brasil, está mudando suas instalações de Belo Horizonte (MG) para o interior de São Paulo a fim de melhorar sua cadeia logística. Além disso, promove investimentos diversos para permitir que mais brasileiros possam realizar exames de alta confiabilidade.

Confira a entrevista completa.

Abramed em Foco – Qual é, hoje, o cenário da biologia molecular no Brasil?

Guilherme Ambar – Por aqui, biologia molecular ainda é uma técnica bastante cara, pois nosso país nunca investiu, de fato, nesse segmento. Como a demanda sempre foi pequena, não houve uma redução de custos significativa ao longo do tempo e somente os grandes laboratórios implementavam essa técnica. Antes de estourar a pandemia de COVID-19, apenas poucos laboratórios realizavam esses exames no país. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, com a crescente demanda de testes moleculares RT-PCR, que são apontados como o padrão ouro para diagnóstico da infecção, faltou estrutura para a realização de tantos testes simultâneos. E enfrentamos o primeiro grande gargalo. Com base nisso, outros laboratórios passaram a visar a biologia molecular. Neste ano a Seegene Brazil já deu suporte para que oito laboratórios menores investissem em suas próprias estruturas, deixando de terceirizar esses exames.

Abramed em Foco – Podemos nos comparar a outros países?

Guilherme Ambar – É difícil comparar. Somos um continente perto de países da Europa. Analisar de que forma nações como Alemanha, Espanha e Itália lidam com a biologia molecular, e trazer essa percepção para nossa realidade não é simples. Um equipamento que, no exterior, custa 20 mil dólares, por exemplo, aqui no Brasil custa 200 mil reais. Um robô que custa 80 mil dólares, aqui passa de 1 milhão de reais. É uma discrepância muito grande que faz com que fora do nosso país, mesmo um laboratório pequeno tenha condições de investir, já aqui é mais complicado. E isso tudo ocorre por não termos fabricação interna, o que nos torna dependente das importações. Estamos sempre amarrados ao mercado externo.

Isso faz com que a Seegene tenha, na Itália, mais de 200 plataformas espalhadas e, no Brasil, hoje, pouco mais de 20. Com a entrada de novos players no mercado e o fomento do desenvolvimento de produtos nacionais, o mercado brasileiro tem muito a ganhar pois o potencial é imenso.

Abramed em Foco – A pandemia de COVID-19 promoveu mudanças nesse cenário?

Guilherme Ambar – Acreditamos que no período pós-pandemia o diagnóstico molecular vai estar muito mais presente, já que mais laboratórios brasileiros estarão capacitados a realizar esses testes. Além disso, há uma popularização, pois devido ao novo coronavírus e a relevância que o diagnóstico tomou diante da pandemia, todos já sabem e entendem o que é um RT-PCR. E isso acaba incentivando o mercado, visto que a pressão popular ajuda a difundir a técnica.

Abramed em Foco – Havia uma percepção equivocada de que biologia molecular eram exames apenas para doenças mais raras ou complexas?

Guilherme Ambar – Existem diversas aplicações para a biologia molecular e ela não está, de forma alguma, atrelada apenas à alta complexidade. Temos desde painéis oncológicos que medem 328 mutações relacionadas à câncer; até painéis para testes de infecções por vírus respiratórios super comuns como a influenza e a H1N1.

Importante ressaltar que a biologia molecular pode ser utilizada para detecção de inúmeras doenças que hoje são identificadas por tentativa e erro, acelerando o diagnóstico e tornando-o muito mais assertivo. Para um paciente que busca atendimento e tem uma infecção respiratória, por exemplo, temos um painel capaz de identificar 26 vírus do sistema respiratório. Sabendo exatamente qual o agente causador, o tratamento será muito mais eficiente. É garantia de melhor qualidade de vida desse paciente e de maior sustentabilidade para os sistemas de saúde.

Abramed em Foco – Como a pandemia de COVID-19 tem impactado os negócios da Seegene?

Guilherme Ambar – Fomos uma das primeiras empresas a disponibilizar no mercado brasileiro kits para diagnóstico de COVID-19 e a Seegene cresceu muito nos últimos meses. Tanto que devido a esse aumento de operação estamos consolidando nossa mudança de Belo Horizonte (MG) para o interior de São Paulo, pois estar perto do aeroporto de Viracopos, em Campinas, nos dá maior controle logístico. Agora, como sabemos que o Brasil não tem, por prática, utilizar a biologia molecular para o diagnóstico, temos um plano de negócios focado em ganhar esse mercado, oferecendo essa opção mais assertiva.

E nossa ideia é prosseguir com a abordagem que iniciamos na pandemia de intensificar o nosso suporte para que os pequenos laboratórios, descentralizados e que atuam no interior do país, possam ter suas próprias plataformas. Tudo isso aumenta o acesso dos pacientes à biologia molecular e aumenta a demanda para todos.

Além disso, ampliamos nossa gama de produtos e nos próximos dois anos vamos começar a construir uma planta fabril em Sorocaba (SP) para atender tanto ao mercado local quanto à América Latina. Nos tornaremos o ponto focal dos negócios de toda a América Latina.

Abramed em Foco – E como a parceria com a Abramed, que acaba de completar 10 anos no mercado de medicina diagnóstica, contribui com a atuação da Seegene no nosso país?

Guilherme Ambar – A parceria com a Abramed foi crucial. Éramos uma empresa com seis meses de existência lutando para se estabelecer nesse mercado e ter esse contato com a Associação nos aproximou de grandes players do setor. Sem a Abramed, demoraríamos muito mais tempo para conseguir nos firmar.

Além disso, os eventos que a Abramed realiza são excelentes para mostrar à comunidade médica as novidades que estão surgindo. E nosso segmento, de biologia molecular, é muito veloz, tornando difícil para os médicos acompanharem todas as evoluções. Então vemos que para os associados da Abramed essa nossa parceria também é relevante para que eles consigam visualizar o que já está disponível no mercado.

Na pandemia, comunicação e transparência são características fundamentais da gestão positiva de pessoas

Segundo encontro do evento Abramed #DiálogosDigitais tratou das inúmeras mudanças nos recursos humanos durante e após a crise de COVID-19

25 de agosto de 2020

Conversando sobre a gestão de pessoas na retomada das atividades econômicas, o segundo episódio da série #DiálogosDigitais, projeto promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), tratou das mudanças corporativas que foram impulsionadas pela pandemia de COVID-19 e de como essas mudanças impactarão o futuro dos recursos humanos no país.

O debate virtual foi realizado na noite de 24 de agosto e contou com a participação de Lidia Abdalla, CEO do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica; Milva Gois dos Santos Pagano, presidente-executiva da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (ABPRH); e Tommaso Montemurno, country manager da Bracco Imaging do Brasil. Desta vez a moderação foi de Daniela Bernardo, membro do Comitê de Recursos Humanos da Abramed e sócia trabalhista da Machado Nunes.

Multinacional italiana, porém com grandes operações nos Estados Unidos e na China, a Bracco trouxe uma experiência muito enriquecedora ao debate por ter vivenciado de perto o começo da pandemia do novo coronavírus. “Foi na China que desenvolvemos nossos protocolos, políticas e abordagens para a crise, que depois foram implementadas nos outros países”, comentou Montemurno. Segundo o executivo, adaptações foram necessárias de acordo com o cenário de cada filial.

No Brasil, por exemplo, Montemurno comentou que o deslocamento dos colaboradores precisou ser modificado. “Tivemos que nos adaptar. Em alguns lugares, a política de RH indicava o uso dos meios de transporte públicos. No Brasil montamos um sistema de transporte particular para evitar que os funcionários ficassem expostos”, declarou.

Falando sobre a experiência do Sabin, que tem 5.400 colaboradores em todo o Brasil, Lidia Abdalla enfatizou como a construção de uma relação de confiança entre a empresa e os funcionários foi fundamental para que a companhia pudesse vencer os inúmeros obstáculos que surgiram em um cenário em que os times estavam inseguros.

“Tomamos um enorme cuidado para que não faltassem equipamentos de proteção individual. E realmente não faltou, em nenhum momento. Mesmo pagando mais caro, conseguimos manter essa aquisição extremamente importante para proteção dos nossos colaboradores”, pontuou. Segundo a executiva, 70% da força de trabalho do Sabin está na linha de frente, no atendimento, o que impossibilita o home office. Aliás, para Lidia, o trabalho remoto não será abraçado em sua integralidade pela rede de laboratórios. A presidente acredita que a integração, o contato próximo entre os pares, e a proximidade criada pelo trabalho presencial são indispensáveis ao crescimento, aprendizado e evolução das equipes.

Essa preocupação da empresa com os colaboradores também fez com que a companhia ampliasse seu serviço de atenção primária. Desde o começo da pandemia, colaboradores e familiares dos colaboradores tiveram acesso 24h, por meio de teleatendimento, a profissionais de saúde para consultas e dúvidas. E esse atendimento foi ampliado à saúde mental, visto que a companhia incluiu psicólogos e terapeutas ocupacionais no rol de serviços prestados ao seu público interno. “O suporte emocional tem sido um dos grandes desafios da crise”, disse Lidia.

Tomar atitudes e promover ações de nada adianta se a comunicação não for eficiente. Para Daniela Bernardo, que moderava o debate, um diálogo transparente é indispensável. “Esse é um momento sem precedentes e precisamos de uma comunicação saudável com os colaboradores. Podemos ter erros e acertos, e a comunicação é que fará a diferença”, disse ao convidar Milva Pagano, da ABPHR, para o diálogo.

A executiva à frente da Associação Brasileira dos Profissionais de RH foi direta ao mencionar que nesses momentos de crise torna-se ainda mais visível a necessidade de as empresas colocarem a preocupação com seu corpo de trabalho acima de todas as outras preocupações. Relembrando que empresas são formadas por pessoas e que os negócios dependem desses profissionais, Milva falou sobre como é importante que haja uma coerência entre os anseios pessoais e corporativos.

“Quando você tem na equipe pessoas com propósito pessoal alinhado com o propósito empresarial, tudo flui melhor. E esse alinhamento só é possível quando há preocupação genuína com o ser humano”, pontuou. A executiva ainda complementou que a comunicação é muito importante, mas que “comunicação sem empatia e sensibilidade não vale de nada”.

Essa empatia também se faz presente quando a empresa consegue olhar para cada funcionário de forma individual, entendendo suas particularidades para auxiliá-lo da melhor forma. “As pessoas lidam de forma diferente com as situações”, disse Milva.

Complementando esse raciocínio, Montemurno mencionou que uma das dicas mais valiosas que recebeu das equipes internacionais da Bracco foi a de entender a situação particular de cada membro da equipe. Segundo o executivo, não pensar na diversidade gera muitos problemas. “Uma parte da nossa força de trabalho, direcionada às vendas, foi uma das mais abaladas. As pessoas estavam acostumadas a ficar o tempo inteiro na rua, visitando clientes, e de repente se viram em casa”, exemplificou. Para atingir todos os públicos, a Bracco desenvolveu treinamentos diversos que abordavam desde as ferramentas para o melhor desempenho do trabalho remoto até aulas comportamentais e cursos com foco no emocional.

Lídia também comentou sobre a necessidade de enxergar colaborador por colaborador. “Temos líderes que se cobram de forma diferente, então criamos ações diferenciadas para cada liderança”, esclareceu.

Quanto à testagem dos colaboradores, a executiva que comanda o Sabin explicou qual foi o protocolo adotado pela empresa: foco no rastreamento. Segundo Lidia, a qualquer sinal de sintomas gripais, o colaborador é imediatamente afastado e testado por meio do RT-PCR, exame de diagnóstico para COVID-19 apontado como padrão ouro pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com o resultado positivo, cerca de cinco dias depois todos os profissionais da área em que o colaborador estava infectado também são testados, mesmo que estejam assintomáticos. “Adotamos esse protocolo que nos dá segurança pois conseguimos controlar a disseminação de casos dentro da empresa”, esclareceu.

Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, foi a responsável pela abertura e pelo encerramento do encontro. Na ocasião, trouxe aos participantes uma pergunta enviada por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade, que estava participando da plateia virtual. Shcolnik questionou os participantes qual a maior dificuldade enfrentada e como ela foi solucionada.

Para Lídia Abdalla, a maior dificuldade foi incorporar a necessidade de tomar decisões muito rapidamente e implementar mudanças de forma ágil, entrave solucionado pela criação de um comitê de crise no início da pandemia; Milva Pagano acredita que a falta de informações sobre o público interno interferiu negativamente na agilidade das medidas por parte das companhias, e que isso só pode ser solucionado com o entendimento sobre o perfil populacional e uma boa gestão da saúde; e Tommaso Montemurno disse que lidar com o desespero inicial pela falta de contato próximo com os clientes foi uma barreira que, no final das contas, foi superada de forma mais simples do que imaginavam, visto que ferramentas tecnológicas possibilitam que mesmo com o isolamento social, o contato com os parceiros fosse próximo.

O segundo episódio do Diálogos Digitais está disponível na íntegra no canal do YouTube da Abramed. Clique AQUI para assistir. A próxima edição está marcada para dia 8 de setembro e falará do cuidado à distância, enfatizando a era da telessaúde. Fique atento às redes sociais da Abramed para se inscrever. Os interessados inscritos ganham três meses de assinatura premium no Canal Meio, tendo acesso diário à um resumo relevante de notícias.

Papel do diagnóstico na jornada de volta ao trabalho é debatido em evento on-line

Abramed participa de painel virtual Valor em Saúde

13 de agosto de 2020

A saúde corporativa, a questão assistencial, exames de sorologia e análises clínicas e até outras infecções respiratórias (além das causadas pela COVID-19) estiveram entre os assuntos abordados pelos especialistas que participaram da mesa redonda digital “O Papel do Diagnóstico na jornada de volta ao trabalho” tema do Valor em Saúde, evento on-line organizado pela TMJobs na última quarta-feira, dia 12 de agosto.

Moderador do painel, o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, destacou quão complementares foram as apresentações dos quatro participantes: o médico Marco Antonio Cyrillo, da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia; a infectologista Nancy Bellei, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp); Leonardo Piovesan, que gerencia o programa de saúde integral do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; e o diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Rodrigo Rodrigues Aguiar.

“Essa pandemia atingiu nosso país e provocou mudanças em toda a sociedade”, afirmou  Shcolnik, que diante da informação divulgada pelo diretor da ANS de que a agência deliberaria, no dia seguinte ao talk show, a incorporação dos exames sorológicos na testagem da COVID-19, questionou os debatedores sobre a eficácia desse tipo de teste independentemente da fase de contaminação ou imunização que cada paciente se encontra.

Marco Antonio Cyrillo lembrou que a COVID-19 é muito nova e que, por enquanto, estão sendo utilizados modelos epidemiológicos que partem de versões anteriores do coronavírus. “É muito importante conhecer epidemiologia, conhecer as medidas realmente eficientes e seguramente diminuir o contágio utilizando medidas não farmacológicas porque os estudos são muito conflitantes. Várias sociedades têm se manifestado, inclusive a Sociedade Brasileira de Infectologia, com relação a tratamentos terapêuticos ou profiláticos que não tem respaldo da literatura e não existam em estudos bem desenhados”, disse ele, que é diretor do hospital IGESP, destacando por conta disso a importância dos testes sorológicos para a diminuição da quantidade de novos casos de Covid-19.

Já a apresentação da infectologista da Unifesp Nancy Bellei abordou justamente os vários tipos de exames aplicados para testar os pacientes, bem como as cargas virais e as fases de contágio, considerando os diferentes sintomas apresentados pelos infectados, e ainda que há pacientes assintomáticos. Ela também explicou sobre vacinação e citou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, já começou a ser testada em profissionais da Unifesp.

Wilson Shcolnik perguntou também a respeito das mudanças demandadas na rotina de trabalho de agências reguladoras e órgãos governamentais, como a ANS, bem como os desafios enfrentados pelos serviços de saúde como o programa de saúde integral do hospital Oswaldo cruz. “Foi preciso cuidar de seus colaboradores, médicos, enfermeiros, auxiliares, uma gama de profissionais que atuam dentro do hospital e também os pacientes que procuram o hospital”, disse ele.

De acordo com Leonardo Piovesan, muitos dos atendimentos do Oswaldo Cruz migraram para a plataforma de telemedicina e foi aplicada testagens em larga escala entres os colaboradores. “Facilitou porque já tínhamos mapeados os colaboradores de grupo risco e também uma plataforma de telemedicina”, disse ele, explicando que o hospital alemão ofereceu um serviço de consultoria empresarial no qual infectologistas fazem o mapeamento de layouts de escritórios, orientam os médicos do trabalhos sobre as testagens para o coronavírus mais adequadas a cada caso e ainda ministram palestras aos colaboradores para evitar o contágio da COVID-19.

Menos de 30 dias antes de deixar a sua posição na ANS, Rodrigo Rodrigues Aguiar, aproveitou a oportunidade, a pedido de Shcolnik, para avaliar o trabalho da agência nos últimos anos. “Mesmo não sendo capaz de responder se temos um setor melhor do que tínhamos há três anos, que tenhamos deixado a semente ai que possa germinar para melhor o setor de saúde suplementar”, afirmou, destacando os projetos de melhoria do modelo de atenção primária, bem como a construção nacional de indicadores de hospitais que ficarão prontos no final de 2020.

Primeiro episódio da série Abramed Diálogos Digitais fala de retomada econômica e os impactos na saúde

Evento digital recebeu executivos do Grupo Fleury, Hospital Sírio-Libanês e XP Investimentos

11 de agosto de 2020

Em um momento de tantos desafios, fica ainda mais clara a importância do diálogo aberto e da troca de experiências. Neste contexto, nasce o projeto #DiálogosDigitais, uma série de eventos digitais, promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para dialogar sobre os mais variados temas que afetam a cadeia da saúde. O primeiro episódio da série recebeu, na noite de 11 de agosto, lideranças da saúde e especialistas para tratar da retomada econômica na nova realidade.

Com as incertezas que permeiam o cenário nacional abalado pela pandemia de COVID-19, como gestores, médicos e economistas encaram os desafios que estão pela frente? Moderado por Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, o diálogo contou com a participação de Carlos Alberto Marinelli, CEO do Grupo Fleury; Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês; e Rachel de Sá, economista da XP Investimentos.

Logo após a confirmação do primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no Brasil, a crise começou a se instalar. Com a paralisação de algumas atividades, sendo mantidos apenas os serviços essenciais, a economia começou a enxergar que os desafios seriam enormes. Ainda dentro dessa perspectiva, hospitais, laboratórios e clínicas de imagem viram sua movimentação entrar em vertiginosa queda com a suspensão de atendimentos eletivos, visto que a prioridade do país era identificar e tratar pessoas acometidas pela COVID-19.

Diante de tantas incertezas – estávamos frente a uma doença nova em uma situação difícil de ser compreendida em tão pouco tempo – o conhecimento foi evoluindo tanto na área da saúde quanto na economia. É o que explica Rachel de Sá. “No começo, a maior parte dos economistas do mundo entendiam que vivíamos uma crise de oferta. Porém, depois da compreensão de que o grande problema do novo coronavírus não era a letalidade, mas sim a disseminação muito rápida que ameaçava os sistemas de saúde, entramos em isolamento social e a economia mundial parou. Começamos, então, a avaliar que a COVID-19 era uma crise da economia real, que trazia tanto problemas de oferta quanto de demanda”, disse.

Para os serviços de saúde, a crise também se instalou. Apontando que a incerteza é o maior desafio de todos nesse momento, Carlos Marinelli, falando sob a ótica do Grupo Fleury, traçou um panorama das atividades da rede ao longo dos últimos meses enfatizando que os resultados da companhia mostram que o segundo trimestre de 2020 foi, de fato, muito desafiador.

Lembrando de cenários internacionais como o de Nova Iorque, nos Estados Unidos, que acusou aumento de 800% no número de mortes nas residências por doenças cardíacas ocasionadas principalmente pelo receio das pessoas buscarem atendimento médico e, assim, serem contaminadas com a COVID-19 nos equipamentos de saúde, Marinelli avaliou o segundo semestre. “Cuidados de saúde são prioritários e chega uma hora que a pessoa precisa ir ao médico, precisa fazer seus exames. Quando projetamos 2020, pensamos que uma segunda onda de infecções pelo novo coronavírus não seja o cenário mais provável, visto que infelizmente não tivemos um controle tão efetivo da pandemia”, pontuou. “A gente não teve um colapso do sistema de saúde, o que foi muito positivo. Mas isso não quer dizer que controlamos a pandemia da melhor maneira”, completou.

Ao falar sobre a contenção do patógeno na sociedade, o executivo declara que todos estão a cada dia aprendendo mais sobre a doença e sobre como os serviços devem se comportar em um país continental como o Brasil, onde os surtos chegaram em tempos e com intensidades diferentes. “Trabalhamos com pesquisadores da USP e da Unifesp para entender a prevalência de COVID-19 na cidade de São Paulo e o que vemos é uma divergência muito grande em função do nível de renda, visto que em regiões mais pobres já vemos soro prevalência batendo 23%”, apontou. Segundo Marinelli, quando a porcentagem de pessoas que já tiveram contato com o vírus chega a esse patamar, começamos a observar características de imunidade de rebanho. “E é isso que reforça nossa percepção de que não necessariamente teremos uma segunda onda”, disse.

Trazendo dados sobre como o Hospital Sírio-Libanês foi impactado pelo alto número de casos de COVID-19 de março até hoje, Paulo Chapchap fez uma análise de como a pandemia provocou uma mudança na saúde geral da população, mesmo naqueles indivíduos que não se contaminaram com o novo coronavírus. “Começamos a ver internações de pacientes muito mais graves. Tanto de COVID-19 quanto de quem não tinha COVID-19”, disse. O executivo no comando do hospital acredita que nos próximos meses assistiremos o número de exames de diagnóstico voltar a 90% do que era realizado na pré-pandemia.

Papel da testagem – Priscilla provocou os participantes a falarem sobre o papel do diagnóstico nesse cenário. “Sabemos quão importante é a testagem para que a retomada realmente ocorra e que temos testes cada dia mais confiáveis. Temos ciência de que o exame molecular RT-PCR é o padrão ouro para diagnóstico da COVID-19, mas vemos que os testes sorológicos estão a cada dia mais assertivos. Como está esse cenário hoje?”, questionou.

Sem deixar de reforçar que a melhor estratégia para o combate de uma pandemia infecciosa como a COVID-19 é testar, isolar e rastrear, Marinelli falou sobre o teste sorológico como um excelente caminho para empresas que estão retornando às atividades. “Muitas pessoas contaminadas não têm nenhum sintoma característico. O RT-PCR identifica a fase aguda da doença. Vamos, então, testar essas pessoas o tempo todo para identificar o patógeno? Nesse caso, testar pela sorologia é mais vantajoso. Caso o paciente apresente IgM alto, sabemos que está no período mais crítico da doença. Se tiver alto o IgG, é porque já teve contato e o corpo dele já se manifestou, mesmo que não tenha tido sintomas e complicações”, explicou.

Comportamento do cidadão – Chapchap aproveitou a oportunidade para enfatizar que vivemos uma crise onde o cidadão tem papel fundamental. “Uma infecção de transmissão respiratória como a COVID-19 é a situação em que o paciente é mais responsável pelo que acontece com ele. A gente sabe evitar essa doença e nessa pandemia somos responsáveis pela nossa saúde e pela saúde de todos que vamos encontrar”, declarou.

Para Marinelli, com o passar dos meses o conhecimento se multiplicou, mas não adianta compreender melhor a doença se o comportamento não se adéqua aos cenários. “Todos sabemos que temos que usar máscara. Não deveríamos nem estar saindo, mas se já estamos podendo sair, vamos usar a máscara”, enfatizou.

Previsão para 2021 – Para Rachel, a resposta brasileira em termos de política pública foi muito positiva. Em sua análise, a economista declarou que o Brasil, no comparativo com países emergentes da América Latina, é um dos que menos assistirá a quedas econômicas. “Os gastos desse ano estão precificados e justificados. A grande preocupação está no próximo ano”, disse ao mencionar que o que levou o país para a crise que se instalou antes da chegada da COVID-19 foi um cenário similar ao que está sendo traçado agora, onde após políticas econômicas acertadas as políticas contracíclicas permaneceram somadas à estratégia fiscal de estímulo à demanda sem que fosse necessário. “O grande problema era a oferta”, completou.

Para Chapchap, o caminho é único: “Se o Brasil se comportar do ponto de vista fiscal, ano que vem não teremos um problema tão grande para lidar”.

Em termos de saúde, Marinelli se preocupa em não perdermos tudo o que conquistamos em prevenção. Relembrando que muitas pessoas deixaram de fazer suas consultas, exames e cirurgias por medo da contaminação, mas, também, pela paralisação das atividades (muitos serviços públicos cancelaram os atendimentos eletivos), falou sobre a adaptação das instituições para separar os pacientes garantindo segurança nos atendimentos.

“Posso garantir que os locais hoje estão seguros, com fluxos completamente separados. O conhecimento vai nos ajudar a não perder ganhos significativos que tivemos. Além disso, parcimônia e equilíbrio são fatores críticos para retornarmos à nossa normalidade sem desperdiçar a grande evolução que conquistamos com as campanhas de prevenção em saúde que investimos há anos no nosso país”, disse.

Legado da pandemia – Para encerrar o debate, Priscilla trouxe uma pergunta do presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik, que questionou aos palestrantes os dois principais pontos de aprendizado que eles acreditam que ficarão para a história.

Rachel, da XP Investimentos, apontou a adesão tecnológica que fez com que as empresas conseguissem bons resultados mesmo diante da crise e a lição de que a responsabilidade fiscal não deve ser um fim, mas um meio para obtenção de respostas em momentos desafiadores; Paulo Chapchap mencionou a compreensão sobre as benesses da ciência de dados gerando informações que baseiam a tomada de decisões, além de que equipes bem treinadas e um bom ambiente de trabalho são fatores fundamentais para o enfrentamento; e Carlos Marinelli enfatizou que estabelecer uma cultura empresarial forte, aprender a fazer mais com menos, foi um dos aprendizados, assim como a percepção de que a tecnologia em saúde é real e pode contribuir de forma grandiosa para os atendimentos e a qualidade de vida de todos.

O bate-papo está disponível no canal do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir). O próximo debate do projeto Diálogos Digitais também tratará da nova realidade após a crise de COVID-19, porém enfocando a gestão de pessoas. Siga a Associação nas redes sociais (Instagram, Facebook e LinkedIn) e fique por dentro.

Transparência e compliance são pilares para gestão de crises

Organizações precisam ser resilientes e manter o gerenciamento de riscos ativo para superar a pandemia de COVID-19

10 de agosto de 2020

A pandemia do novo coronavírus fez com que muitas organizações corressem para ativar ou elaborar um plano de gestão de crises. A continuidade dos negócios ganhou prioridade, assim como garantir a segurança dos colaboradores, colocando-os em home office, desde que o trabalho permitisse este modelo de atuação. Ações sociais e doações ganharam força, assim como o aumento do uso da tecnologia e dos meios virtuais, e a necessidade de buscar novos fornecedores para garantir a sequência das operações.

Superar essas adversidades em meio a tão grave crise de saúde pública, mantendo a transparência, o cumprimento da legislação e os princípios das organizações, é um desafio, mas, também, deve ser o pilar de sustentação para as empresas. “Nesse cenário, é preciso ser resiliente e usar a crise para o crescimento. As diligências de compliance, a ética e as boas práticas de governança tornaram-se essenciais para evitar desvios, fraudes ou possíveis casos de corrupção”, explica Tairyne Claudino, consultora de Gestão de Riscos e Compliance do Grupo Fleury e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).   

Muitas instituições precisaram adotar novas rotinas e processos, mas que não estão formalizados nas políticas corporativas, nem foram atualizadas à nova realidade de trabalho remoto, como o uso intensivo de ferramentas de conferência, acesso remoto de redes corporativas e afins. Tampouco os colaboradores estavam preparados para transformar suas residências em seus postos de trabalho, o que dificulta o alinhamento às expectativas da empresa e às orientações corporativas.

Dessa maneira, segundo Tairyne, a governança e o compliance não podem, nem devem deixar de ser prioridades nas organizações. “A crise deve sim ser uma oportunidade para reavaliarmos as rotinas e procedimentos das empresas. Mas não podemos permitir que se transforme esse momento em uma crise de integridade ou de fragilidade à transparência”, afirma.

Ela lembra que em tempos de pandemia a saúde foi altamente demandada pelos setores público e privado, com solicitações de doações de testes, serviços de diagnóstico, materiais e equipamentos, para apoio no combate ao novo coronavírus. Por isso, são tão importantes os controles e a correta diligência reputacional da organização que irá receber a doação.

Tairyne orienta que deve ser avaliado se há histórico de corrupção e improbidade, de má gestão ou desvio de recursos, envolvimento de pessoas politicamente expostas ou conexões com políticos e partidos, pois um processo mal conduzido pode trazer sérias consequências para a empresa e seus executivos. “A corrupção continua sendo crime e a boa intenção não é suficiente para justificar a falta dos devidos cuidados ou desconhecimento dos executivos”, garante.

Nesse caso, é fundamental seguir todos os trâmites e ritos legais necessários, ter uma política de doações e segui-la, formalizar o processo em contrato, declaração ou termo, realizar a prévia de due diligence e mitigar os riscos advindos de potenciais conflitos de interesses. Outra etapa importante é de ser transparente e dar visibilidade às ações. Auditar e acompanhar a utilização da doação feita também são necessários. Vale pedir fotos, vídeos ou mesmo realizar uma auditoria independente.

Da mesma forma, a gestão de terceiros merece atenção, tais como parceiros de negócio, intermediários e fornecedores. Seja no âmbito público, ou privado, há um cenário diferente em razão da pandemia, o que tem exigido maior flexibilidade e busca rápida por opções. “É nesse relaxamento que podem acontecer as fraudes, muitas vezes associadas a desvios de recursos e superfaturamento”, alerta a consultora de Gestão de Riscos e Compliance do Grupo Fleury.

Mitigando impactos

Como as organizações foram atingidas de formas diferentes durante a pandemia, Tairyne orienta que neste momento a ativação de planos de contingência bem estruturados e atualizados se tornou uma necessidade para a mitigação de impactos nas operações. Como exemplo, cita os impactos logísticos, indisponibilidade de insumos, ativação de trabalho remoto pelos colaboradores, indisponibilidade de infraestrutura de tecnologia da informação (TI), etc.

Muitas empresas já possuem planos de contingência, geralmente implementando-os imediatamente em caso de grandes emergências. Mas se a instituição não dispuser de tais planos, ela deve fazer uma avaliação imediata e abrangente de todos os riscos, incluindo questões com funcionários, terceiros, governo, demais públicos externos e toda a sua cadeia logística. “Seguir um passo a passo claro e objetivo para o gerenciamento de crises é importante para que a tarefa não se torne mais uma preocupação ou um gatilho que desencadeie novos incidentes ou problemas institucionais”, argumenta Tairyne.

Estabelecer um mecanismo positivo de comunicação de informações para funcionários, clientes e fornecedores, e criar documentos de comunicação padronizados também são importantes. O gerenciamento de informações e serviços aos clientes evitam a visão negativa decorrente de negligência ou inconsistência.

Outro risco potencializado às organizações apontado pela consultora de Gestão de Riscos e Compliance trata-se da gestão de dados para garantir segurança e confidencialidade de informações.

Com a necessidade imediata de liberação das redes corporativas para realização de trabalho remoto e o uso de meios digitais para acesso à informação e contato com as outras pessoas, os aspectos relacionados à segurança de informação se tornaram ainda mais relevantes durante a pandemia.

Tairyne lembra que mesmo diante da possibilidade de prorrogação da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), com a medida provisória  n.º 959/2020, para maio 2021, ainda  em discussão, é imprescindível que as empresas se adéquem e tornem o critério de segurança da informação e proteção de dados como prioridade. 

Além disso, é necessário que as instituições implementem um processo de monitoramento da infraestrutura de Segurança da Informação e procedimentos para orientação dos colaboradores que acessam a rede corporativa de suas casas, visando aprimoramento das barreiras de segurança, protegendo assim suas informações. “A privacidade de dados permite enfrentar imprevistos e mudanças com mais tranquilidade, além de garantir melhor competitividade e diferenciação das organizações”, afirma Tairyne Claudino.

Tecnologia é aliada da saúde durante e após a pandemia de COVID-19

Confira a entrevista com Alfonso Migliore Neto, diretor-geral do Hospital 9 de Julho, que fala sobre a relevância da telemedicina e do diagnóstico precoce em tempos de crise

10 de agosto de 2020

A pandemia do novo coronavírus enfatizou a relevância do diagnóstico precoce e acelerou processos tecnológicos que já estavam sendo ensaiados pelo setor de saúde. Com a telemedicina, o atendimento médico pode estar perto dos pacientes mesmo em uma fase de distanciamento social. Para tratar de como a inovação impacta positivamente o setor, Alfonso Migliore Neto, diretor-geral do Hospital 9 de Julho, concedeu uma entrevista exclusiva à Abramed em Foco.

Confira na íntegra.

Abramed em Foco – A pandemia do novo coronavírus atingiu drasticamente os hospitais brasileiros que assistiram ao aumento de internações por Covid-19 e ao desaparecimento de pacientes para outras cirurgias e procedimentos eletivos e ambulatoriais. Qual foi esse impacto no H9J?

Alfonso Migliore Neto – Assim como todos, fomos impactados logo no início da chegada do novo coronavírus ao Brasil. No primeiro mês, tivemos uma queda em torno de 70% nos atendimentos e cirurgias. Entretanto, estávamos acompanhando de perto as medidas que estavam sendo tomadas nos outros países e conseguimos, rapidamente, aplicar novos protocolos de atendimento e medidas de segurança para que tanto a equipe quanto os pacientes se sentissem seguros.

Fizemos uma separação das áreas, criamos fluxos de atendimento distintos, com equipes dedicadas exclusivamente para cada área, além de sinalização em todo o hospital e implantação do distanciamento social. Com todas essas medidas, hoje estamos com 75% do movimento retomado.

Abramed em Foco – Qual o legado que a pandemia deixa para o nosso país?

Alfonso Migliore Neto – Acho que um dos aprendizados mais importantes é sobre o uso da tecnologia. Já defendíamos isso há muito tempo, mas muitos enxergavam a tecnologia o oposto da humanização, o que não é verdade. Temos que utilizar a tecnologia a serviço da vida e da saúde das pessoas. Nesse momento, quantos casos de atendimentos foram resolvidos pelo uso da telemedicina, teleconsultas, etc. Ao mesmo tempo, a tecnologia tornou possível o contato entre as pessoas em um momento em que o isolamento social foi uma questão imprescindível, quando as visitas, por exemplo, foram suspensas e os contatos com os familiares se dão por meio de chamadas de vídeo.

Abramed em Foco – Inovação tecnológica está no DNA do H9J que, inclusive, há anos realiza cirurgias robóticas. Qual a relevância da área de inovação no H9J? Quanto essa área tem de representatividade no planejamento estratégico da instituição?

Alfonso Migliore Neto – A tecnologia é um pilar importante para o desenvolvimento da medicina, por isso, ela é peça fundamental no planejamento estratégico do Hospital, estando presente em diversas áreas, trazendo vantagens para médicos, pacientes e todos os funcionários. É por meio da tecnologia que conseguimos trazer diagnósticos mais assertivos e buscar alternativas de tratamento menos invasivas, proporcionando mais qualidade de vida para os pacientes. Além disso, a tecnologia também tem um papel fundamental na desburocratização do sistema. Isso traz mais agilidade e conseguimos ter um aproveitamento melhor de espaços e equipes. Atualmente, temos diversos projetos em andamento no Hospital, como, por exemplo, o hospital digital, que visa diminuir o uso de papel, reduzindo a burocracia, otimizando o tempo e estrutura, garantindo mais segurança aos dados e informações e a implementação de novidades no centro cirúrgico para maior controle do uso das salas e, com isso, redução de possíveis atrasos.

Abramed em Foco – A medicina diagnóstica esteve, nos últimos meses, em evidência devido à importância dos testes de Covid-19 neste cenário pandêmico. E o Centro de Diagnósticos do H9J é um dos mais bem equipados de São Paulo. Acredita que a pandemia nos permitirá priorizar ainda mais o diagnóstico precoce, mostrando a todos a importância desse setor da saúde?

Alfonso Migliore Neto – É inegável que a pandemia trouxe uma série de mudanças estruturais importantes, não só para o setor da saúde, mas para o mundo como um todo. Mas falando do nosso setor, especificamente, acredito que o novo coronavírus mostrou, sim, a importância do diagnóstico precoce, principalmente por causa da sua rapidez de contágio. O nosso desafio daqui para frente é continuar investindo no diagnóstico precoce para outras doenças e mostrar quantas vidas podemos salvar com uma medicina preventiva e a tecnologia, que também passou, e vai passar, por mudanças estruturais pós-pandemia, será a nossa principal aliada nesse aspecto.

Abramed em Foco – Em tempos de crise é ainda mais importante focar em humanização do atendimento, colocando o paciente sempre no centro da atenção?

Alfonso Migliore Neto – A humanização do atendimento sempre foi uma premissa do Hospital 9 de Julho e a falta de contato com o paciente, em um primeiro momento, foi um desafio. Entretanto, a tecnologia, que era tão demonizada justamente porque muitos achavam que iria desumanizar a medicina, foi fundamental para que conseguíssemos atingir o nosso propósito. Foi por meio dela que conseguimos manter o contato com o paciente sem trazer riscos para a sua saúde, também conseguimos levar conforto aos pacientes em isolamento, por meio de videochamadas, enfim, a pandemia veio para nos mostrar que a tecnologia pode, sim, ajudar na humanização do relacionamento médico-paciente e pode, ainda, trazer mais agilidade no tratamento, fazendo com que o paciente fique internado por menos tempo e com mais conforto. 

Abramed em Foco – Como o H9J tem lidado com o advento da telemedicina? Acredita que essa tecnologia deixará mesmo de ser apenas uma tendência para se consolidar como uma realidade no ambiente hospitalar?

Alfonso Migliore Neto – A telemedicina já vem sendo debatida há anos e, apesar de não substituir uma consulta presencial, é uma ferramenta importante que pode facilitar o trabalho do médico e dar mais conforto para pacientes. O novo coronavírus veio para acelerar esse debate e todos diversos setores tiveram que promover mudanças na forma de se relacionar. Os escritórios, por exemplo, tiveram que adotar o home office, com reuniões via videochamada. Com os pacientes não tem por que ser diferente. Hoje, o Hospital 9 de Julho oferece o serviço para algumas especialidades com cobertura de planos de saúde. Também implementamos o telemonitoramento para pacientes com Covid, mas que não necessitam de internação. E temos percebido que é possível trazer mais facilidade, agilidade e conforto por meio desse serviço. 

Abramed em Foco – Qual é, ao seu ver, a importância de o setor de medicina diagnóstica contar com a representação da Abramed, uma associação que abrange desde os grandes hospitais até os pequenos laboratórios espalhados pela imensidão do Brasil?

Alfonso Migliore Neto – A medicina diagnóstica tem papel fundamental no sistema de saúde. Dessa forma, é muito importante termos uma Associação que defende os interesses comuns, toma a frente de iniciativas que regulamentam o setor, discutindo de forma abrangente as questões que envolvem relações com governo, órgãos regulatórios e empresas. Sem contar suas parcerias científicas que contribuem para a disseminação de conhecimento entre seus associados.

Nesse momento da pandemia, a agilidade da Associação foi um diferencial.

Abramed em Foco – Em 2020, a Abramed comemora 10 anos de história. O que espera da Associação para a próxima década?

Alfonso Migliore Neto – A medicina irá mudar ainda mais nesses próximos 10 anos, novas tecnologias irão surgir, novas práticas e, com elas, a necessidade de mais conhecimento, agilidade nas implantações, agilidade nas regulamentações do setor, sempre de forma ética e sustentável. Dessa forma, tenho certeza de que nos próximos 10 anos, a Abramed continuará sendo essa instituição representativa competente e eficiente que é hoje e, com isso, os interesses da sociedade civil e do setor de saúde continuarão a ganhar. O uso da tecnologia pela área de medicina diagnóstica é motivo de inspiração para o setor hospitalar.

Saúde e Educação abatidas pela reforma tributária

Superoneração de serviços essenciais terá consequências perversas para população

06 de agosto de 2020

* Por Bruno Sobral, Elizabeth Guedes e Fabio Cunha

Há um ponto comum e negativo que não pode ser ignorado nas propostas de reforma tributária da Câmara, do Senado e do Executivo: o aumento expressivo da carga tributária para os setores de Saúde e Educação. Esta superoneração de serviços que são essenciais terá consequências perversas não só para as instituições, mas para o próprio governo e para a população brasileira. Se calcularmos o impacto da reforma com base no modelo sugerido pelo Ministério da Economia —  unificação de PIS/Pasep e Cofins sob alíquota única de 12% —, teremos um aumento médio de tributação de 67% na carga tributária para os hospitais e laboratórios; para Educação será de 940% com o fim da isenção sobre PIS/Cofins do Prouni, retirando, apenas da educação superior, cerca de 500 mil alunos. Além disso, a proposta do governo pode representar uma redução de 80% das receitas líquidas, nas pequenas unidades escolares e hospitalares que atendem a municípios do interior do país.

Ainda que se proponha adoção de um regime não cumulativo, em que despesas com insumos são compensadas ao longo da cadeia, os referidos setores seguem no prejuízo, pois a parte mais expressiva dos custos de hospitais e laboratórios, bem como de escolas e universidades, é formada por folha de pagamento, o que não é dedutível neste sistema.

Outro efeito nefasto é o desincentivo ao emprego que a proposta do governo cria, pois como este não gera crédito tributário ao longo da cadeia, as empresas que menos empregarem, ou demitirem, serão as maiores beneficiadas. Ao justificar que os setores não serão prejudicados com as mudanças, o governo argumenta que o novo imposto incide sobre o consumo e, portanto, é o consumidor final quem arca com o impacto.  Na Saúde, projeta-se um aumento de mais de 7% nos preços do serviço, o que fará a demanda reduzir em R$ 3,1 bilhões. É um consumidor que terá que mudar para um plano de saúde de pior qualidade ou recorrer ao SUS. Impacto semelhante se dará no setor de Educação e impactará principalmente o ensino das famílias mais carentes, dependentes de créditos estudantis.

Se mudarmos a lente para a experiência internacional, veremos que o Brasil já impõe cargas tributárias sobre Saúde e Educação das mais altas do mundo. Não se pode, dessa forma, aceitar o argumento de que estamos caminhando, com a reforma, para o que há de mais moderno no mundo em termos de tributação. Não é verdadeira a afirmação de que o Imposto sobre Valor Agregado, ou IVA, é o modelo de imposto adotado em todo o mundo e aplicado de forma unificada a bens e serviços, outro bordão a que recorre a equipe econômica com frequência. A Educação teve um aumento expressivo de inadimplência e de redução de mensalidades e espera que cerca de 25% das escolas não sobrevivam à crise, incluindo aí a educação infantil, que deverá praticamente desaparecer; já a Saúde viu suas receitas despencarem em pelo menos 50% (com os laboratórios chegando a 70%), pois os hospitais foram impedidos de fazer cirurgias eletivas e os serviços voltaram toda a sua atenção ao combate à Covid-19.

Se somarmos os impactos da reforma tributária aos efeitos da pandemia sobre estes setores, a consequência será o inquestionável fechamento de escolas, universidades, hospitais e laboratórios por todo o país, gerando uma migração de usuários para os serviços públicos. A única forma de evitar tal cenário é a garantia da neutralidade da reforma tributária para estes setores. Não se trata de pleitear qualquer tipo de benefício ou vantagem, apenas alinhamento às melhores práticas internacionais, em benefício da população. É necessário que o Legislativo envide esforços para ajustar a proposta, salvaguardando a sobrevivência destes serviços essenciais ao progresso e bem-estar dos brasileiros.

* Bruno Sobral é secretário-executivo da Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde), Elizabeth Guedes é presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP) e Fabio Cunha é diretor da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

** Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Globo

Saúde e Educação se unem por uma Reforma Tributária justa

Compartilhando dores similares, setores essenciais batalham para que as mudanças não inviabilizem suas atividades

07 de agosto de 2020

Com o desenrolar da Reforma Tributária no Congresso Nacional, Saúde e Educação se uniram na luta por mudanças fiscais justas e que não inviabilizem a atuação da esfera privada, indispensável para o atendimento da demanda brasileira. Com perfis semelhantes – ambos são direitos constitucionais, essenciais ao desenvolvimento do país, e que têm a maior parte de suas despesas consolidadas na folha de pagamento – , os setores firmaram uma aliança que levanta dados e informações para apresentar aos poderes legislativo e executivo os impactos que uma reforma tributária míope podem gerar.

“Sempre que nos aproximávamos do governo para tratar desse assunto, víamos que saúde e educação estavam alinhadas. Foi natural entender que os dois setores tinham a mesma visão, as mesmas dores e as mesmas necessidades”, declara Fabio Cunha, diretor do comitê jurídico da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) sobre a criação da Aliança Saúde-Educação. “O que nos uniu é que estamos na mesma sala de espera sofrendo do mesmo mal”, complementa Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP).

São muitos pleitos em comum. Na medicina diagnóstica, por exemplo, laboratórios e clínicas terão seus serviços inviabilizados caso se concretize o aumento brutal da carga tributária esperado no modelo sugerido pelo Ministério da Economia, que unifica o PIS/PASEP e COFINS sob uma alíquota única de 12%.

Na educação privada, o cenário se repete. “Mais de 80% das instituições de ensino superior são pequenas. Muitas delas funcionando no interior do Brasil, em locais onde muitas vezes não há nada, a não ser a escola. O fechamento dessas instituições, bem como das pequenas empresas da saúde, vai pressionar ainda mais a rede pública”, explica Elizabeth.

Além disso, ambos os setores são grandes promotores de empregos formais. Na medicina diagnóstica, cerca de 50% das despesas de laboratórios e clínicas de imagem são com folha de pagamento. No ensino, essa porcentagem chega a 80%. Dessa forma, a superoneração pode desencadear uma sequência desastrosa de novos desempregados em um panorama que já é de índices alarmantes de desemprego.

As semelhanças desses dois setores não é exclusividade do Brasil. “No mundo todo, onde há o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), saúde e educação são setores tratados com essencialidade. O que o governo brasileiro está fazendo é ir na contramão do mundo”, enfatiza Cunha explicando que muitas nações isentam esses setores dos tributos ou, ao menos, ofertam a eles alíquotas diferenciadas.

Em resumo, saúde e educação estão juntas a fim de lutar por uma reforma que não aumente a carga tributária de seus serviços, essenciais para a população; que não sobrecarregue ainda mais os serviços públicos, levando milhões de pacientes para o Sistema Único de Saúde (SUS) e milhões de alunos para as escolas federais, estaduais e municipais; e que permita que essas atividades permaneçam atuantes gerando emprego e contribuindo para a saúde e o bem-estar da população brasileira.