Vieses algorítmicos na Saúde: a IA na Medicina Diagnóstica precisa de contexto, não só de dados

Por Tatiana Almeida, Gerente Médica da área de dados do laboratório clínico no Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Comitê de Análises Clínicas e Interoperabilidade da Abramed

A promessa de uma revolução na Medicina impulsionada pela Inteligência Artificial é real. A imagem de um “Waze da Saúde”, capaz de indicar as melhores rotas para diagnóstico e tratamento, já deixou de ser ficção científica e está sendo construída em hospitais, laboratórios e startups.

Mas por trás dessa inovação, esconde-se um desvio perigoso: o risco de transformar desigualdades históricas em verdades matemáticas. Não há dúvidas de que o debate em torno dos vieses algorítmicos ganhou escala com o avanço da inteligência artificial e do aprendizado de máquina a partir de grandes bases de dados, porém, já de início, é importante esclarecer que estamos diante de um desafio que tem raízes mais profundas.

Os vieses não nascem da IA — eles refletem um mundo construído com recortes sociais, culturais e econômicos que agora são aprendidos pelas máquinas. A medicina baseada em evidências tenta reduzir esses efeitos com ensaios clínicos e amostragens controladas. A IA, no entanto, aprende com o que existe — e o que existe, muitas vezes, é desigual.

Seja cognitivo ou algorítmico, o viés distorce decisões. E quando um algoritmo é treinado com bases incompletas ou enviesadas — o que infelizmente não é raro — ele tende a replicar e amplificar esses desvios, com aparência de neutralidade, sobretudo em um cenário de (hiper) digitalização.

Na Medicina Diagnóstica, isso é ainda mais sensível: decisões orientam condutas e definem desfechos. Os exemplos são sutis e, ao mesmo tempo, alarmantes.

Um algoritmo pode diagnosticar pneumonia em pessoas negras com uma frequência maior do que a real — mas o que ele lê, na verdade, são as consequências de uma vulnerabilidade social, que muitas vezes recaem em moradias precárias, falta de acesso ao saneamento básico e alimentação inadequada. Em outro caso, um sistema otimizou a fila de ressonâncias magnéticas ao separar meninos “mais agitados” das meninas “mais calmas”. A eficiência operacional cresceu. Mas a que custo? O de reforçar um estereótipo cultural e institucionalizar, sem perceber, uma lógica de segregação de gênero.

Os algoritmos não produzem causalidade, apenas reconhecem padrões. E padrões podem ser perigosos se não forem avaliados com senso crítico, responsabilidade e contexto. O maior risco, porém, é a invisibilidade do viés. Um ciclo se instala: diagnósticos excessivos em populações vulneráveis geram tratamentos desnecessários, que levam a efeitos adversos e reforçam a falsa ideia de que aquele grupo é “mais doente”.

A estatística final apenas confirma o erro — e ele vira política pública, decisão médica, critério de triagem. E, nesse cenário, a regulação atual — centrada na eficácia técnica — não consegue identificar distorções éticas ou sociais.

Esse, aliás, é um ponto central: a IA é ferramenta, não agente decisório. O profissional de saúde precisa manter sua autoridade crítica, interpretando os dados com conhecimento clínico, a partir de exames precisos e de sensibilidade.

Como virar esse jogo?

A primeira resposta está na base: os dados. Modelos treinados a partir de bases limitadas — como de um único hospital público ou privado — não são aplicáveis em outros contextos. Criar bases diversas, testar o desempenho dos modelos com rigor e cruzar variáveis socioculturais é uma exigência ética.

O case do modelo de risco metabólico desenvolvido pelo Hospital Israelita Albert Einstein para os seus pacientes é ilustrativo: baseado em check-ups clínicos, ele indica alterações com potencial de agravamento ou melhora, de forma individual, sem generalizar e sem prescrever condutas, preservando o papel do médico. É o tipo de IA que alerta, mas não decide.

Outras boas práticas já estão descritas, como mostram as diretrizes do Departamento de Medicina Laboratorial (DLM, 2024): divisão clara de dados em treino, teste e validação; reprodutibilidade e explicabilidade — ou seja, a capacidade de compreender por que determinada decisão foi tomada  — precisam se tornar regra.

Além disso, a regulação, nesse cenário, precisa acompanhar o ritmo da inovação. Modelos validados tecnicamente ainda podem ser falhos do ponto de vista ético ou social. Relatórios de equidade e diversidade devem deixar de ser exceção e se tornar parte obrigatória da governança algorítmica, especialmente em soluções para a Saúde.

O futuro da inteligência artificial no setor não pode ser construído apenas por engenheiros ou desenvolvedores. É preciso reafirmar o papel do profissional de saúde como intérprete crítico e reforçar o protagonismo e a responsabilidade da área para propor seus próprios padrões e colaborar com a construção de diretrizes claras que garantam o olhar humano no centro de toda decisão automatizada.

A inteligência artificial pode, sim, levar a Saúde a um novo patamar de precisão e eficiência. Mas, como no Waze, nem todo caminho mais rápido é o mais seguro. Se não estivermos atentos ao destino, podemos acabar reforçando os becos mais escuros das desigualdades sociais.

Afinal, não basta inovar. É preciso inovar com responsabilidade.

Hepatites Virais: Brasil quer diagnosticar 90% dos casos até 2030. Como avançar?

Julho marca o mês de conscientização sobre as hepatites virais — infecções silenciosas, muitas vezes assintomáticas, que podem evoluir para cirrose e câncer hepático. Nos últimos anos, o Brasil intensificou sua mobilização sobre o tema e assumiu, junto à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de eliminar as hepatites como problema de saúde pública até o fim da década.

Para apoiar esse objetivo, o Governo federal lançou o Guia de Eliminação de Hepatites Virais, que propõe uma resposta nacional integrada, com foco em testagem, tratamento e prevenção, especialmente em populações vulnerabilizadas.

A meta é ambiciosa: diagnosticar 90% dos casos, tratar ao menos 80% das pessoas diagnosticadas e reduzir em 65% a mortalidade pela doença. Isso exige uma articulação efetiva entre diferentes esferas do sistema de saúde.

Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de incidência da hepatite A subiu 325% entre 2022 e 2024 — sendo 54,5% apenas no último ano. Os casos concentram-se em homens de 20 a 39 anos, com maior incidência nas capitais do Sul e Sudeste. O perfil da doença mudou: menos transmissão na infância e mais associação a relações sexuais desprotegidas.

Em contrapartida, a vacinação infantil contra hepatite A tem mostrado impacto positivo. Entre 2014 e 2024, a incidência entre crianças de 0 a 9 anos caiu 99,9%, evidenciando a força da imunização como política pública e apontando caminhos para ampliar a cobertura em outras faixas etárias.

Hoje, os principais obstáculos estão no combate às desigualdades de acesso e na organização das redes de cuidado em contextos de vulnerabilidade. A hepatite B, por exemplo, ainda é comumente transmitida de mãe para filho durante o parto ou a amamentação, exigindo qualificação do pré-natal. Já a hepatite C segue avançando entre adultos.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais causam cerca de 1,4 milhão de mortes por ano, entre infecções agudas, câncer hepático e cirrose.

Apesar dos avanços, o diagnóstico precoce ainda é um dos principais desafios. “O acesso à testagem é fundamental para que os médicos possam identificar os pacientes que já estão imunes, os que estão em curso de uma infecção aguda e aqueles que apresentam quadros crônicos de hepatites e necessitam de tratamento e acompanhamento. Para isto os testes diagnósticos são fundamentais, sejam eles sorológicos (para hepatites A, B ou C) utilizados como triagem;  ou moleculares, que são mais úteis na confirmação diagnóstica e seguimento dos pacientes que iniciaram tratamento específico”, explica Carlos Eduardo Ferreira, Líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

Para ele, neste cenário de ampliação da testagem para a população brasileira, a iniciativa privada da Medicina Diagnóstica pode se unir com o setor público para buscar parcerias que permitam que os pacientes possam ter um maior acesso ao exame.

Além do rastreamento e da testagem, é essencial fortalecer o papel dos serviços diagnósticos no mapeamento da doença e no apoio à decisão clínica. Interoperabilidade entre sistemas, qualificação das informações e capilaridade dos laboratórios são pontos-chave para respostas ágeis, sobretudo em surtos ou em áreas com baixa cobertura.

Neste Julho Amarelo, a Abramed reafirma seu compromisso com a saúde preventiva e com o acesso a exames de qualidade, contribuindo para o alcance das metas de eliminação das hepatites virais no Brasil.

IA na Saúde: inovação exige dados de qualidade, regulação equilibrada e responsabilidade compartilhada

No dia 14 de julho, durante o Fórum Inovação Saúde (FIS) em Florianópolis, a Diretora Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed, Milva Pagano, mediou o painel “IA na Saúde: Caminhos para a Inovação Sustentável no Brasil”, que reuniu especialistas de diferentes áreas para discutir os impactos, desafios e caminhos para uma adoção responsável da Inteligência Artificial no setor. Participaram do debate Ademar Paes Jr, CEO da LifesHub e Sócio da Clínica Imagem; João Paulo Souza, Diretor Executivo da GE HealthCare; e Lucas Bonafé, Sócio da Machado Nunes Advogados.    

Milva abriu o encontro destacando o avanço da IA e o papel da Abramed na promoção de um debate técnico e qualificado. Enfatizou também a importância do PL do Marco Legal da IA, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, e a necessidade de garantir segurança jurídica sem engessar a inovação.

Para Ademar Paes Jr., o entusiasmo em torno da IA precisa ser equilibrado com uma reflexão sobre as bases estruturais. “Antes de falar de IA, temos que falar das nossas bases de dados. Não só da qualidade, mas de como esses dados estão organizados e acessíveis”, afirmou. Ele alertou para o excesso de debate sobre o processamento, sem que o dever de casa — a estruturação adequada das informações — tenha sido feito. “Vemos muitos sistemas isolados, integrações caríssimas, e empresas querendo ‘brincar de IA’ sem nem ter um cadastro decente. Se a gente não convencer a alta gestão de que dados estruturados são prioridade de orçamento, não sairemos do lugar.”

João Paulo Souza reforçou que a IA na Saúde existe há décadas e que o foco atual deve ser a contextualização. “Somos bombardeados por inputs, mas sem output isso não serve pra nada. A responsabilidade está em transformar essas saídas em algo aplicável à nossa realidade”, disse. Segundo ele, inovação responsável se apoia em três pilares: ética e responsabilidade social, capacitação e capital humano, que devem ser sustentados para conectar os dados de forma estruturada e regulada para que, de fato, as mudanças aconteçam.

Lucas Bonafé destacou os desafios regulatórios do Marco Legal da IA e a importância da participação do setor da Saúde nesse debate. “O Brasil fez um movimento positivo ao romper com a legislação da União Europeia e reconhecer o papel das agências reguladoras setoriais. Para a Saúde, isso é essencial.

O advogado ainda defendeu que a Anvisa, a ANS e o Ministério da Saúde têm de estar nesse debate, alertando para a necessidade de o setor propor suas próprias regras. “Autorregulação não é opcional — é essencial. O setor precisa ter maturidade para construir suas boas práticas e o PL traz a oportunidade para isso.”

O painel também abordou temas como o baixo nível de maturidade digital das empresas, os riscos da adoção indiscriminada de soluções importadas sem validação local e a importância de definir com clareza os objetivos de cada aplicação de IA. “O que buscamos com a IA? Sem clareza de objetivos, a gente começa a matar a inovação”, apontou João Paulo.

Ao encerrar o painel, Milva Pagano reforçou que a adoção da IA na Saúde exige um compromisso coletivo e reforçou o papel da Abramed na articulação do setor. “Temos que fazer valer nossa representatividade e endereçar esse tema com escuta ativa, técnica e visão de longo prazo. Essa é uma oportunidade histórica de moldar o futuro da Saúde com equilíbrio, responsabilidade e protagonismo e a Abramed seguirá atuando para que o setor avance de forma ética e segura”, finalizou.

RDC 978/25: o que os laboratórios precisam observar para garantir conformidade regulatória

Nova norma da Anvisa já está em vigor e requer atenção redobrada à implementação prática e ao alinhamento com a fiscalização sanitária

A RDC 978/25 da Anvisa, em vigor desde 10 de junho, trouxe importantes avanços para a regulação da Medicina Diagnóstica no Brasil. Entre os destaques estão a atualização das regras para laboratórios clínicos e postos de coleta, a flexibilização na calibração de instrumentos e a ampliação das exigências nos laudos laboratoriais.

No entanto, mais do que conhecer as mudanças, é essencial que os laboratórios estejam preparados para colocar em prática as novas exigências com segurança jurídica, especialmente diante de possíveis diferenças interpretativas entre vigilâncias sanitárias estaduais e municipais.

Confira os principais pontos de atenção para uma transição segura e alinhada:

1. Prazo de adaptação e análise técnica detalhada

A norma prevê um prazo de 90 dias, a partir da publicação, para que laboratórios e prestadores se adequem. Esse período deve ser utilizado estrategicamente para revisar processos internos, atualizar protocolos e buscar orientações técnicas com entidades representativas.

2. Uniformização da fiscalização

Um dos principais desafios está na interpretação local das novas regras. É essencial que as vigilâncias sanitárias estaduais e municipais atuem com base em diretrizes padronizadas, evitando interpretações subjetivas que possam gerar insegurança jurídica.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) acompanha, junto à Anvisa e demais entidades do setor, a produção de materiais orientativos — como documentos de perguntas e respostas — para apoiar tanto os fiscais quanto os serviços laboratoriais nesse momento inicial.

3. Responsável técnico nas Centrais de Distribuição (CDs)

A exigência de responsável técnico para CDs ainda gera dúvidas quanto ao escopo de atuação e ao perfil exigido para o profissional. A Abramed defende que esse ponto seja melhor especificado para evitar decisões conflitantes nas fiscalizações.

4. Controle Externo de Qualidade (CEQ)

A obrigatoriedade de CEQ para todos os equipamentos em uso deve ser implementada com critério técnico, evitando generalizações que possam impactar financeiramente os prestadores e comprometer a sustentabilidade operacional do setor.

5. Informações mínimas nos laudos

Os laboratórios devem revisar seus modelos de laudo à luz das novas exigências, garantindo que todos os dados requeridos estejam padronizados. Esse é um ponto crítico, que exige alinhamento prévio com as áreas técnicas e acompanhamento da atuação dos órgãos de fiscalização.

6. Triagem não é diagnóstico: atenção à interpretação

Outro ponto sensível é a diferenciação entre exames de triagem e exames diagnósticos. A RDC reforça a importância de que a natureza dos exames seja claramente compreendida pelas equipes de fiscalização, evitando que testes com finalidades distintas sejam avaliados com os mesmos critérios técnicos e operacionais. Essa distinção é fundamental para garantir interpretações regulatórias corretas e evitar autuações indevidas.

Para que os avanços propostos pela RDC 978/25 se traduzam em ganhos reais para os pacientes e para o sistema de saúde, é indispensável que a sua implementação ocorra de forma coordenada e equilibrada. Isso exige investimento imediato em capacitação técnica das vigilâncias sanitárias locais, com foco na uniformização do entendimento da norma, especialmente em pontos como triagem versus diagnóstico e escopo de atuação nas Centrais de Distribuição.

A Abramed seguirá acompanhando o tema junto aos seus associados e atuando junto à Anvisa para garantir segurança jurídica, previsibilidade regulatória e qualidade nos serviços prestados à população.

“Nosso compromisso é apoiar os associados na compreensão e na implementação prática das exigências da RDC 978/25. Além de dialogar com a Anvisa sobre os principais pontos de atenção, estamos promovendo treinamentos técnicos e encontros exclusivos para esclarecer dúvidas e alinhar interpretações. Acreditamos que a qualificação contínua e o compartilhamento de boas práticas são essenciais para o sucesso dessa transição”, comenta Milva Pagano, diretora-executiva da Associação.

Abramed completa 15 anos promovendo qualidade e avanços na Medicina Diagnóstica

No dia 14 de julho, a Abramed celebrou 15 anos de uma história construída com diálogo, conhecimento técnico e disposição para posicionar a Medicina Diagnóstica como um pilar essencial para a Saúde no Brasil. A jornada de cuidado começa pelo diagnóstico e que exames realizados com base em evidências e boas práticas são fundamentais para uma medicina mais preventiva, eficiente e acessível.

Hoje, a entidade é uma das principais vozes da Saúde Suplementar, seus associados são responsáveis por mais de 80% dos exames realizados no país. Com a dedicação de muitos ampliamos, atua papel em temas como inovação, regulação e ESG, tornando-se referência com iniciativas como o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico e o FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde.

“Chegar aos 15 anos é alcançar um novo momento de maturidade, com representatividade fortalecida e atuação cada vez mais estratégica. Mudanças exigem perseverança, escuta ativa e disponibilidade para agir coletivamente e a Abramed seguirá sendo esse espaço de articulação, diálogo e proposição, promovendo uma cultura de cuidado que antecipa, diagnostica e transforma”, diz  Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed    

A Abramed segue construindo e trabalhando por um setor cada vez mais preparado para contribuir com a saúde de toda a população e comprometido em cuidar das pessoas.    

Cofundador da Dengo Chocolates palestra sobre propósito e impacto social nos negócios para associados da Abramed

Realizado na sede da Roche, em São Paulo, o 2º Simpósio de ESG na Medicina Diagnóstica, organizado pelo Comitë de ESG da Abramed, reuniu associados em um encontro que reforçou a relevância dos temas ambientais, sociais e de governança para o setor. A abertura do evento foi conduzida por César Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed; Milva Pagano, diretora-executiva da entidade; e Carlos Martins, presidente da Roche, que deu as boas-vindas aos participantes.

O ponto alto do encontro foi a palestra de Estevan Sartoreli, cofundador da Dengo Chocolates, que compartilhou reflexões sobre propósito, impacto social e ambiental, os desafios de colocar em prática a sustentabilidade de forma autêntica, além da urgência de repensar o papel das lideranças e revisar a lógica de sucesso nas organizações.

“O mundo está adoecido emocionalmente. O desengajamento começa pelo colaborador desmotivado — e o responsável é o líder. Precisamos parar de correr tanto e refletir se estamos fazendo as coisas certas”, afirmou.

Sartoreli também relacionou saúde mental a fatores como uso excessivo de telas, ambientes tóxicos e alimentação ultraprocessada e pontuou que relações de qualidade impactam diretamente na saúde emocional das pessoas. “Será que estamos juntos apenas para saber o que o outro está fazendo, ou para começar a fazer juntos?”, provocou.

Ele defendeu ainda que propósito não é algo genérico ou apenas comunicável, apresentando a trajetória da Dengo como exemplo de empresa que nasceu com um propósito claro e o mantém como guia estratégico, e pontuou que a sustentabilidade precisa estar na origem do modelo de negócio — não como uma agenda paralela, mas como parte indissociável da operação.

Debate: ESG e o futuro dos negócios

Na sequência, Estevan Sartorelli participou de um painel com Daniel Périgo (Líder do Comitê de ESG da Abramed) e César Nomura, com mediação de Lídia Abdalla (Vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed). O debate abordou os desafios da Saúde Suplementar, o papel da interoperabilidade na sustentabilidade e a necessidade de colaboração entre players da cadeia.

Daniel Périgo ressaltou que, apesar de avanços heterogêneos, a agenda de sustentabilidade ainda precisa amadurecer no setor e apontou a necessidade de desenvolver parcerias mais sustentáveis ao longo da cadeia de fornecimento, reforçando que o setor ainda conversa pouco para propor soluções conjuntas. “Quando há um problema, a Saúde é lembrada. Mas na prevenção, somos esquecidos. Isso precisa mudar”, alertou.

Nomura reforçou que ESG é uma maratona, não uma corrida de 100 metros, e que decisões consistentes exigem coragem e tempo para amadurecimento. Ele destacou ainda a atuação da Abramed para conectar o setor privado ao público, inclusive por meio do trabalho em interoperabilidade. “Evitar exames desnecessários e reduzir a repetição está diretamente ligado à sustentabilidade do sistema. Mas todo mundo quer interoperabilidade — ninguém quer ser o primeiro a compartilhar seus dados”, afirmou.

Complementando o debate, Lídia Abdalla destacou que o setor de Medicina Diagnóstica precisa assumir com mais clareza o seu protagonismo no impacto social e na contribuição efetiva para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Nosso setor tem um impacto social gigantesco no Brasil, especialmente por levar serviços de qualidade e segurança para regiões distantes, fora dos grandes centros. Mas ainda falamos pouco sobre isso. Precisamos escolher onde atuar com profundidade e responsabilidade, e entender que nossos negócios só vão prosperar se cuidarmos verdadeiramente do entorno. Sustentabilidade é também sobre fazer escolhas conscientes, equilibrando custo, investimento e impacto”, refletiu.

O CEO da Dengo finalizou dizendo que gestores devem fazer escolhas difíceis e que não será mais fácil daqui em diante. Sartorelli também pontuou que “a ação deve preceder a regulação” — uma frase que resume o espírito do encontro: incentivar que, mais do que se adaptar a regras externas, as organizações de Saúde liderem com propósito, promovam práticas sustentáveis e colaborem para um setor mais justo e resiliente.    

A Abramed, como representante desse ecossistema, seguirá incentivando o diálogo e o protagonismo de seus associados na construção desse caminho.