Câncer de Mama: a importância da qualidade na mamografia para um diagnóstico preciso

* João Henrique Campos de Souza

No contexto do Outubro Rosa, é essencial ressaltar como a qualidade dos serviços de mamografia impacta diretamente o diagnóstico precoce do câncer de mama. Mamografias que atendem a padrões rigorosos de precisão, segurança e eficácia são fundamentais para identificar alterações sutis nos tecidos mamários, como pequenos nódulos ou microcalcificações, que podem indicar câncer em estágio inicial. A detecção precoce aumenta significativamente as chances de sucesso no tratamento.

Imagens de alta qualidade são essenciais para avaliar a extensão do tumor e auxiliar na escolha do tratamento mais adequado, seja cirúrgico, radioterápico ou medicamentoso. Elas também são importantes no monitoramento da resposta do tumor às terapias, permitindo a detecção precisa de mudanças no tamanho ou na forma do tumor e a realização de ajustes no tratamento. Assim, a qualidade da mamografia não apenas acelera o diagnóstico, mas também melhora o tratamento, aumentando as chances de cura e sobrevida para pacientes com câncer de mama.

Além disso, impacta diretamente na experiência do paciente e na confiança no exame, influenciando tanto o conforto físico quanto a confiança nos resultados. Em contraste, exames feitos com equipamentos inadequados podem resultar em diagnósticos imprecisos, aumentar a exposição à radiação e exigir procedimentos adicionais.

Vale lembrar que problemas técnicos que levam à repetição de mamografias não apenas afetam a saúde das pacientes, mas também sobrecarregam o sistema de saúde com custos adicionais, gerando ineficiência e ansiedade. Cada repetição envolve gastos com equipamentos, tempo de profissionais e insumos, acumulando custos ao longo do tempo e interferindo na sustentabilidade de todo o ecossistema.

A literatura científica sobre os riscos dos exames de mamografia é muito extensa, o que traz segurança jurídica para estabelecer em norma os padrões de qualidade e de desempenho para os equipamentos, de modo a assegurar imagens cujos critérios físicos permitam identificar as alterações de maneira precisa.

Assim sendo, o serviço de mamografia que cumpre integralmente a legislação sanitária vigente (RDC/Anvisa nº 611/2022, a IN/Anvisa nº 92/2021, entre outras) tem a garantia de que o seu equipamento opera conforme os padrões internacionalmente harmonizados para a segurança, qualidade e desempenho.

E justamente para reduzir riscos nos serviços de saúde e fortalecer a qualidade dos equipamentos de mamografia no Brasil, em 8 de março de 2024, a Anvisa lançou o Projeto Com a Visa no Peito, uma iniciativa da Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES).

O projeto busca promover o uso de dois roteiros: ROI Mamografia, que é aplicado nos serviços de mamografia, e ROI Controle de Qualidade, destinado à avaliação dos equipamentos. Ambos foram elaborados com a participação ativa do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).

Esses roteiros permitem obter um panorama dos serviços de mamografia no país, identificando riscos potenciais para intervenções da vigilância sanitária. A implementação dos ROI também traz ganhos perceptíveis aos serviços inspecionados, pois agrega transparência, clareza, objetividade e previsibilidade.

Para divulgar essa iniciativa, a Anvisa fechou parceria com a Abramed, lançando uma cartilha para gestores de saúde que facilita o monitoramento de conformidade e a detecção de não conformidades, incentivando a melhoria contínua. A publicação está disponível aqui.

Acredito que o sucesso de qualquer ação de governo na área da saúde depende do envolvimento do setor regulado. A parceria com a Abramed, uma entidade de referência no setor de diagnóstico, é estratégica para melhorar a qualidade da medicina diagnóstica no Brasil. A expertise da entidade permitirá otimizar os resultados do projeto.

Ao priorizar a qualidade, não apenas estamos contribuindo para a saúde individual, mas também para a saúde coletiva, promovendo melhores desfechos. Empresas e gestores de saúde devem priorizar a excelência dos equipamentos, afinal, esse compromisso resulta em tratamentos mais eficazes e um sistema de saúde mais regulado, seguro, confiável, sustentável e eficiente.

*João Henrique Campos de Souza

Gerente de regulamentação e controle sanitário em serviços de saúde (Grecs/GGTES) da Anvisa. Bacharel, Mestre e Doutor em física pela Universidade de Brasília, com Pós-doutorado em física pela Université de Montréal, Canadá. É especialista em vigilância sanitária pela Fiocruz e especialista em regulação e vigilância sanitária da GGTES/Anvisa desde 2005.

28/10/2024

Empresas de medicina diagnóstica ampliam inclusão de profissionais experientes em alinhamento a práticas de ESG

Segundo a Abramed, as políticas formais de diversidade e inclusão nas associadas cresceram de 17%, em 2022, para 50%, em 2023.

18 de outubro de 2024 – O envelhecimento populacional no Brasil é uma realidade incontestável, com a projeção de que, até 2060, 33% da população será composta por idosos (60+), conforme dados do Censo 2022 e projeções do IBGE. Esse cenário traz desafios e oportunidades, principalmente para o mercado de trabalho. A inclusão de profissionais acima de 60 anos está se tornando uma questão central no âmbito de ESG, considerando os impactos sociais e a sustentabilidade das empresas.

De olho nessa realidade, as empresas de medicina diagnóstica estão cada vez mais focadas em promover diversidade e inclusão, como revela a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Segundo a sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, as políticas formais de diversidade e inclusão nas associadas cresceram de 17%, em 2022, para 50%, em 2023.

Em outra comparação, 75% das empresas relataram que até 10% de seus colaboradores tinham mais de 50 anos, em 2022. Já em 2023, a situação melhorou levemente, com 50% indicando que entre 11% e 20% de seus colaboradores estão nessa faixa etária. Mesmo que ainda haja espaço para melhorias, o resultado sugere um movimento em direção à inclusão de profissionais mais experientes.

Segundo Regiane Saladino, presidente do laboratório Biofast, associada da Abramed, os profissionais 60+ agregam uma riqueza de conhecimento prático, indispensável para decisões críticas e complexas que envolvem precisão e responsabilidade, como na medicina diagnóstica. “Sua presença pode criar uma cultura de respeito e aprendizado mútuo, o que é especialmente valioso em um campo onde a qualidade do atendimento e a precisão na interpretação diagnóstica são fundamentais”, diz.

Para ela, a inclusão desses profissionais nas empresas de saúde não é apenas uma questão de justiça social, mas também um importante indicador social que promove a diversidade geracional. Essa diversidade é essencial para uma gestão mais abrangente e sensível, especialmente no contexto das práticas de Governança Corporativa.

“Com a inclusão de colaboradores mais experientes no processo de tomada de decisões, as empresas podem garantir que suas ações estejam alinhadas com os princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, criando um ambiente de trabalho mais respeitoso e conectado com os valores da comunidade”, declara Regiane.

Iniciativas e integração com tecnologias

Para promover a inclusão de profissionais 60+, as empresas do setor de medicina diagnóstica têm adotado algumas medidas, como a flexibilização de horários e melhorias na acessibilidade física e tecnológica. “Além disso, a implementação de programas de treinamento e requalificação ajudam a garantir que esses colaboradores se sintam valorizados e aptos a lidar com as inovações tecnológicas, assegurando que suas contribuições sejam plenamente aproveitadas”, expõe.

Na questão de tecnologia, Regiane defende uma abordagem cooperativa e sensível. Segundo ela, é fundamental criar um ambiente de aprendizado contínuo, onde esses colaboradores possam não apenas ser treinados, mas também compartilhar suas valiosas experiências.

“A inclusão deles nas equipes de inovação pode enriquecer o processo, garantindo que decisões e soluções levem em conta a sabedoria acumulada ao longo de suas carreiras, especialmente em um setor que lida com questões críticas de saúde e precisão”, complementa.

Regiane lembra que o idoso atual é cada vez mais ativo fisicamente e apresenta alto grau de funcionalidade e independência. Profissionais com mais de 60 anos, oriundos da geração baby boomer, são conhecidos pela busca de relações profissionais mais estáveis e pela sua tendência a permanecer por longos períodos no mesmo emprego.

“A inclusão dessa geração no mercado de trabalho não apenas traz experiência e comprometimento, mas também é vital para a formação de uma força de trabalho mais diversificada, refletindo as necessidades de uma sociedade em rápida transformação”, ressalta.

A Abramed, ao incluir em sua publicação anual os dados de diversidade e inclusão de suas associadas, demonstra preocupação com temas relacionados a ESG, reconhecendo que esses pilares são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e ético do setor. “No longo prazo, a adoção dessas práticas fortalece a resiliência do setor de medicina diagnóstica, ao alinhar-se às exigências da sociedade, dos investidores e de um mercado cada vez mais consciente sobre seu impacto social e ambiental”, complementa Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed

Abramed participou de painel sobre inovação em saúde e inteligência artificial, durante o Conahp 2024

Foram discutidos o uso e os desafios da GenAI na medicina, além do desenvolvimento de algoritmos para diagnósticos mais eficientes

18 de outubro de 2024 – Contribuindo ativamente para o debate sobre inovação em saúde, a Abramed participou do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), evento anual promovido pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), em São Paulo. O presidente do Conselho de Administração da Abramed, César Nomura, além de marcar presença na cerimônia de abertura, teve um papel central ao moderar o painel “Inovação em Saúde: Medicina Baseada em Inteligência Artificial”, realizado no dia 16 de outubro, trazendo discussões relevantes sobre o impacto da IA no setor.

Os debatedores foram Chao Lung Wen, professor e chefe da Disciplina de Telemedicina da FMUSP; Marco Bego, diretor-executivo do Instituto de Radiologia (InRad) do HCFMUSP e Chief Innovation Officer do InovaHC; e Victor Gadelha, head de Educação, Pesquisa e Inovação da Dasa e TEDx Speaker.

Entre os principais assuntos discutidos estiveram a transformação da saúde com novas plataformas de inteligência artificial baseadas em Grandes Modelos de Linguagem (LLMs), o uso e os desafios da inteligência artificial generativa (GenAI) na medicina, além do desenvolvimento de algoritmos para diagnósticos mais eficientes e suas aplicações em telessaúde, radiologia e monitoramento de pacientes.

Compartilhando sua experiência, Bego contou que o InRad começou a trabalhar com IA antes da pandemia. “Fechamos uma parceria com a Siemens para desenvolver algoritmos e criamos um laboratório para estudar o assunto, pois recebíamos muitas startups e pesquisadores interessados em trabalhar com IA, mas enfrentávamos dificuldades para acessar dados e treinar os algoritmos.”

Quando estavam no início dessa estruturação, a pandemia de Covid-19 começou. O InRad, então, iniciou parceria com uma empresa chinesa e outra americana, com o objetivo de usar algoritmos para acelerar o processo de diagnóstico da doença. “Auxiliamos 50 hospitais de campanha em todo o país, realizando mais de 35 mil diagnósticos de Covid-19 naquela época”, contou.

Com essa experiência, a equipe aprendeu que apesar do potencial de impacto da IA, ela precisa ser introduzida com um propósito claro e no momento adequado na cadeia de cuidado. “Após essa fase inicial, passamos a focar mais em pesquisa, com o laboratório funcionando plenamente. Agora, estamos na fase de aplicação prática”, disse.

Para citar soluções de sucesso aplicadas no Dasa usando IA, Gadelha contou que dos exemplos mais bem-sucedidos é o acelerador de ressonância magnética, que permitiu aumentar a velocidade dos exames em cerca de 30% a 40%. Isso não só reduz o tempo que o paciente permanece no equipamento, como também possibilita maior rentabilidade ao otimizar o uso das máquinas.

Outra aplicação é o uso de IA para leitura de laudos, implementado principalmente no eixo Rio-São Paulo. Todas as noites, por volta das 2h, mais de 50 algoritmos analisam automaticamente os laudos em busca de achados clínicos relevantes, como nódulos pulmonares e alterações renais. Ao todo, são 55 tipos de lesões identificadas, e essas informações são encaminhadas ao núcleo de assessoria médica, com uma priorização baseada na relevância clínica.

“Isso tem um impacto direto na jornada dos pacientes, permitindo que casos críticos sejam atendidos com maior rapidez. Como resultado, conseguimos melhorar em 18 pontos percentuais a taxa de retorno desses pacientes à linha de cuidado e reduzimos em 10 a 12 dias o tempo total da jornada de atendimento. Essas iniciativas geraram muito valor ao cuidado”, ressaltou.

Alertando para a importância da qualidade da base de dados, Chao apontou que a IA generativa genérica não possui precisão adequada e comete erros. “As IAs disponíveis no mercado não são as mais adequadas para a área médica. Se o objetivo é utilizá-las para evidências científicas, é necessário treiná-las com bases de dados de revistas científicas, o que muitos fornecedores já oferecem. Além disso, a IA é eficaz para emular raciocínios a partir de perguntas feitas, criando um encadeamento lógico. Isso caracteriza uma IA orientada para a construção de raciocínio”, explicou.

O professor também ressaltou que, na telemedicina, a IA generativa pode ser útil em entrevistas pré-atendimento, pois permite levantar, em cerca de 30 segundos, os pontos principais que o profissional deve explorar, considerando as queixas e o histórico do paciente. “Isso facilita a orientação do médico durante a entrevista estruturada, acelerando o processo. Outro uso importante é o acompanhamento por telemonitoramento de pessoas com doenças crônicas ou câncer”, acrescentou.

Chao lembrou que empresas como OpenAI e Google estão licenciando algoritmos para empresas. Assim, as instituições podem treinar a IA com suas próprias bases de dados, criando um sistema de orientação específico e personalizado.

Como começar?

Como os hospitais, principalmente os filantrópicos, podem começar a usar IA, considerando que precisam fazer escolhas criteriosas? Para Bego, o uso da IA é transformador e necessário. No entanto, seu uso deve ser focado na resolução de um problema específico. Ele citou um dos trabalhos do InRad, que consistiu em um sistema para sumarizar as informações do prontuário do paciente em três linhas. Se houvesse algo relevante, a informação deveria ser aberta para o radiologista.

“Após o teste, 87% dos sumários receberam classificações entre 4 e 5, sendo 5 a nota máxima. Além disso, 98% não apresentaram qualquer tipo de alucinação, um desempenho que superou as expectativas”, contou. Dessa forma, foi possível sumarizar 20 mil laudos ao mês por 500 reais, o que é uma solução ideal para hospitais com menos recursos.

Bego lembrou, no entanto, que a estruturação inicial não é barata, pois envolve o custo do conhecimento. “Quem quer entrar nessa área, precisa investir recursos para entender como a IA funciona e como ela pode resolver uma necessidade específica. A partir desse ponto, o processo começa a ganhar forma, permitindo a escolha dos próximos passos”, explicou.

Para iniciar a implementação de IA na saúde, Gadelha acredita que é melhor começar com aplicações simples, por exemplo, é possível utilizar modelos generativos, como o LLaMA da Meta (antigo Facebook), para classificar dados com qualidade e segurança. Assim, se for necessário identificar quantas pneumonias evoluíram de X para Y em um determinado período na UTI, o modelo pode gerar os indicadores em minutos.

“É impressionante o quanto avançamos na Dasa. Uma pesquisa endoscópica que, há alguns anos, envolvia 6 mil casos, agora, com IA generativa, abrange 120 mil casos. Nos últimos dois anos, saímos do impossível para o possível em muitas áreas de pesquisa”, explicou. Em resumo, a IA pode ser muito útil na classificação de dados e em indicadores de negócios, agradando inclusive o CEO da empresa.

Olhar para o futuro

Nomura questionou os participantes sobre os pontos principais de impacto da IA no futuro, em nível Brasil. Segundo ele, é preciso que estejamos sentados no cockpit do avião para dirigi-lo, não apenas sermos passageiros. “Não precisamos saber programar, mas, como líderes de instituições de saúde, precisamos promptar, ou seja, fazer perguntas e comandos adequados para extrair o máximo da IA”, disse.

Em sua resposta, Bego destacou áreas onde já é possível ver avanços. Ele acredita que a IA generativa terá um grande impacto na relação com os consumidores, especialmente em serviços como chatbots, onde a empatia e o tempo dedicado ao usuário podem ser maiores do que no atendimento humano. “Cito também os ganhos impressionantes no uso da IA para busca de informações e sumarização de dados, áreas que já mostram resultados claros”, expôs.

Na visão de Gadelha, o futuro da IA na saúde está profundamente ligado ao diagnóstico precoce e ao tratamento personalizado. E então explicou dois conceitos de fenótipo. O digital é a coleta contínua de dados sobre o comportamento e interações de uma pessoa com dispositivos digitais. O fenótipo profundo integra esses dados com informações biomédicas, como genética, exames laboratoriais e históricos médicos. “Isso permitirá a criação de gêmeos digitais, ou seja, modelos virtuais dos pacientes, que poderão ser comparados com grandes bancos de dados para identificar o melhor tratamento personalizado”, disse.

Com essa tecnologia, será possível aumentar o valor terapêutico, especialmente em áreas como a terapia gênica, que é extremamente custosa. “A IA está nos guiando para a próxima etapa da medicina: uma transição da medicina baseada em evidências para uma medicina baseada em precisão”, destacou.

Chao compartilhou uma visão futurista sobre o impacto da IA generativa, especialmente no contexto de robótica e monitoramento de saúde. Ele ressaltou o avanço dos robôs hiper-realísticos, capazes de responder em várias línguas, exemplificando o potencial da IA generativa tanto em forma física quanto em software.

O professor acredita que a IA generativa vocal, similar à Alexa, crescerá significativamente, e não se limitará a interações via chat. “Essa tecnologia terá um papel central dentro das casas, expandindo a atuação dos profissionais de saúde e possibilitando um monitoramento mais adequado. Até 2030, com o aumento da população idosa, o telehomecare e o telemonitoramento de qualidade de vida em domicílio se tornarão comuns”, acrescentou.

Embora os especialistas reconheçam que prever o futuro com exatidão é um desafio, todos concordaram que a IA generativa já está moldando o presente e abrirá novas fronteiras na saúde. Seja na otimização de processos, no diagnóstico precoce ou no monitoramento de pacientes, essa tecnologia promete transformar a forma como médicos e pacientes interagem, promovendo uma medicina mais personalizada, eficiente e acessível.

Por fim, Nomura comentou que existe uma revista dedicada exclusivamente à inteligência artificial aplicada à radiologia, que agora está expandindo seu foco para a medicina como um todo. Dentro dessa área, há uma seção específica voltada para a IA generativa, com centenas de algoritmos e inúmeras possibilidades de aplicação. “Para aproveitá-las ao máximo, é preciso fazer as perguntas certas. Como eu gosto de dizer, precisamos ter humildade para aceitar e utilizar essas ferramentas, reconhecendo que elas são uma tendência que, sem dúvida, irá permear a medicina de precisão”, finalizou.

Outubro Rosa: A Inteligência Artificial e a luta contra o câncer de mama

O uso da IA permite cuidados mais proativos e personalizados, aumentando as chances de detecção precoce e, consequentemente, melhorando os desfechos clínicos.

18 de outubro de 2024 – A Inteligência Artificial tem o enorme potencial de se tornar uma ferramenta auxiliar para o rastreamento do câncer de mama, o tipo da doença que mais acomete as mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). 

Entre suas funcionalidades está a capacidade de prever o risco de uma paciente desenvolver câncer de mama no futuro. Isso se dá por meio da análise de uma variedade de dados, incluindo históricos médicos, características genéticas, estilo de vida e resultados de exames anteriores.

Ao utilizar algoritmos avançados de aprendizado de máquina, a IA pode identificar padrões sutis que podem não ser facilmente perceptíveis a olho nu, permitindo uma avaliação mais precisa do risco individual.

“Essa previsão permite a implementação de protocolos de rastreamento personalizados e mais eficazes, que podem incluir exames de imagem mais frequentes, aconselhamento genético e intervenções preventivas direcionadas”, explica Marcos Queiroz, Membro do Conselho de Administração e Líder do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein.

Como resultado, as pacientes podem receber cuidados mais proativos e personalizados, aumentando as chances de detecção precoce e, consequentemente, melhorando os desfechos clínicos.

“Além disso, a IA auxilia tanto na detecção de lesões em exames mamográficos quanto na organização do fluxo de trabalho dos radiologistas. Ao classificar os exames entre ‘alto risco’ e ‘baixo risco’, a ferramenta permite priorizar aqueles que demandam maior atenção, diminuindo a carga de trabalho dos médicos diante do grande volume de exames realizados em programas de rastreamento populacional”, acrescenta Queiroz.

Integração de dados

O câncer de mama está sendo abordado de forma cada vez mais individualizada, e a integração de dados, aliada à gestão inteligente por meio de soluções de IA, permitirá uma personalização ainda maior. “A inteligência artificial ajudará não apenas a definir o tipo de rastreamento mais adequado para cada mulher, visando a detecção precoce, mas também a identificar o tratamento mais eficaz para o seu caso específico. Isso evitará exames desnecessários e tratamentos ineficazes”, salienta Queiroz.

Segundo ele, o futuro do rastreamento e do tratamento do câncer de mama envolve não apenas o avanço de novas tecnologias e equipamentos, mas também uma profunda integração de diferentes tipos de dados, como demográficos, clínicos, de imagem e genéticos. “Portanto o desenvolvimento simultâneo destas várias frentes certamente vai contribuir na abordagem do câncer de mama, desde a sua detecção até o tratamento”, diz.

Desafios

Quanto aos maiores desafios na aplicação da IA, Queiroz cita a dificuldade em replicar os resultados obtidos em populações controladas para a população geral, especialmente em diferentes países. Estudos de IA conduzidos em uma região ou país específico muitas vezes não podem ser generalizados para outras áreas, devido às particularidades de cada população, como variações genéticas, ambientais e de acesso aos serviços de saúde. “Por isso, investimentos na construção de bancos de dados locais são cada vez mais importantes”, acrescenta.

Outro grande desafio é a gestão do vasto volume de dados confidenciais gerados no setor de saúde, especialmente diante das rigorosas legislações de proteção de dados, como a LGPD no Brasil.

Veja mais: Número de mamografias realizadas na rede privada cresce 20%, segundo Abramed.

Número de mamografias realizadas na rede privada cresce 20%, segundo Abramed

A comparação é entre 2022 e 2023, de acordo com dados dos associados, que representam 80% de todos os exames feitos na Saúde Suplementar no Brasil

Neste Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) reforça a importância da mamografia como uma ferramenta essencial na detecção precoce desta doença, que é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). 

Em 2023, as associadas da Abramed realizaram 1.499.154 exames de mamografia, um crescimento de 20% em comparação a 2022, com 1.248.522 exames. Esses dados, da sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, destacam o avanço na conscientização e no rastreamento da doença.

Entretanto, o percentual de não comparecimento aos exames permanece alto. Tanto em 2022 quanto em 2023, mais de 15% das pacientes agendadas não foram ao local para realizar a mamografia. Esses índices de ausência revelam um desafio importante a ser enfrentado, tanto para a otimização dos serviços de saúde quanto para garantir que mais mulheres possam realizar o exame preventivo.

De todos os exames de imagem realizados pelos associados à Abramed, a mamografia correspondeu a 5% do total, tanto em 2022 quanto em 2023, em um universo de mais de 24 e 29 milhões de exames, respectivamente. Vale lembrar que os associados à Abramed são responsáveis por 80% de todos os exames feitos na Saúde Suplementar no Brasil.

“Os números crescentes de mamografias realizadas refletem um avanço significativo na conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. No entanto, o desafio do ‘no show’ ainda persiste, e cabe a todos trabalharmos para que mais mulheres compreendam a importância de realizar esse exame, pois ele pode salvar vidas,” destaca Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a mamografia bienal para mulheres entre 50 e 69 anos é a rotina adotada pela maioria dos países que implementaram programas organizados de rastreamento do câncer de mama. Essa recomendação se fundamenta em sólidas evidências científicas, que demonstram o impacto positivo dessa estratégia na redução da mortalidade entre as mulheres desse grupo etário.

A inovação na construção de soluções eficientes para o futuro da saúde foi tema de debate promovido pela Abramed

Foram discutidos como equilibrar orçamento e inovação, além de formas de ampliar o acesso às novas tecnologias

17 de outubro de 2024 – A Reunião Mensal de Associados da Abramed (RMA) de setembro foi realizada no dia 27, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A programação contou com um debate sobre “O papel da inovação na construção de soluções eficientes para o futuro”, moderado por Marcos Queiroz, diretor de Medicina Diagnóstica no Hospital Israelita Albert Einstein e Líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed.

Cesar Nomura, diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e presidente do Conselho de Administração da Abramed, auxiliou na condução dos temas junto aos participantes. Os debatedores foram Denise Santos, CEO da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Edgar Rizzatti, presidente da Unidade de Negócios Médico, Técnico, de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury; e Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.

Para começar, Queiroz questionou os participantes sobre um ponto fundamental: como equilibrar, no mesmo orçamento, as demandas atuais dos hospitais com a implementação de inovações. Denise contou, então, a experiência da BP, que passou por três reformulações na área, tentando integrar o conceito à cultura organizacional. Além do orçamento destinado à tecnologia, havia também a necessidade de investimento específico para inovação. “Por isso, fizemos um redesenho e vinculamos a inovação à diretoria de estratégia, criando um braço focado na área de pessoas”, contou.

Para ela, o equilíbrio entre os orçamentos sempre é um desafio, mas a BP fez escolhas importantes. Neste ano, por exemplo, decidiu focar em projetos que se autofinanciam e que estão voltados para a produtividade, e essa estratégia começou a gerar resultados positivos. “O pensamento disruptivo precisa estar presente no dia a dia”, destacou.

Para o Grupo Fleury, este tema é de muita relevância, não em termos financeiros, mas pela importância estratégica, como expôs Rizzatti. “Hoje, enfrentamos um enorme desafio: vivemos uma dupla revolução, tanto na área digital quanto na biotecnologia, com inovações surgindo praticamente todas as semanas e a tarefa de compatibilizá-las”, disse.

É preciso, por um lado, construir o futuro e avançar sobre a base que já foi estabelecida e, por outro lado, também resolver os desafios do dia a dia, incorporando as tecnologias digitais, que costumam ter alto custo e, se não forem geridas com cuidado, podem consumir grande parte do orçamento. “Isso poderia deixar poucos recursos disponíveis para a inovação, que é tão importante para melhorar a qualidade, reduzir custos e otimizar prazos na área de medicina diagnóstica”, explicou.

Para Rizzatti, o grande desafio está em saber fazer escolhas estratégicas. Um olhar atento para a área de pesquisa e desenvolvimento é fundamental, pois ajuda a definir o pipeline tecnológico para resolver os problemas dos pacientes. “Ao mesmo tempo, precisamos incorporar inovações no atendimento, como a inteligência artificial, que está cada vez mais presente e essencial. Conciliar tudo isso com as restrições orçamentárias é o grande desafio que vivemos diariamente”, comentou.

Por sua vez, Klajner destacou a importância de discutir a inovação sob uma perspectiva cultural. Nesse contexto, declarou que a forma com que a instituição se organiza e permite que as pessoas se engajem tem a ver com o conhecimento de cada profissional. “Aqui no Einstein, o envolvimento da alta liderança é fundamental para que a inovação se torne um tema estratégico, com disseminação da cultura para toda a organização”, disse.

O ponto central, segundo ele, é que a inovação não avança sem uma abordagem colaborativa, afinal, nenhuma organização consegue fazer tudo sozinha de forma excepcional. Portanto, é importante observar o que outros setores estão desenvolvendo para adaptar esses avanços à saúde, o que já ocorre, por exemplo, com a medicina genômica.

“Uma organização que tem um propósito claro e utiliza a inovação para atingi-lo está, naturalmente, seguindo seu planejamento estratégico. Não importa se a inovação é tecnológica, processual, digital ou baseada em inteligência artificial; o importante é que, se existe uma maneira de entregar esse propósito de forma mais eficiente, ela não vai competir com o orçamento, mas sim contribuir para uma entrega de valor com o menor custo possível”, ressaltou.

Sobre comparação do Brasil com outros países, Klajner disse que aqui temos um verdadeiro celeiro de boas ideias, mas os desenvolvedores buscam atuar no exterior por conta da insegurança jurídica e tributária. “O ambiente para investidores aqui é pouco atrativo, ao contrário do que acontece em outros países, onde o estímulo é muito maior. Por isso, a maioria das startups brasileiras aspira expandir-se para fora. Ao mesmo tempo, curiosamente, o Brasil tem se tornado um destino para startups estrangeiras que veem no nosso ecossistema uma oportunidade para validar suas ideias”, explicou.

Além disso, no exterior, há um forte investimento em conhecimento e um ambiente estruturado para conectar pesquisadores com empresas capazes de escalar suas inovações. Isso é feito por meio de organizações especializadas em transferência de tecnologia, chamadas de TechTransfer, que transformam descobertas científicas em patentes e produtos. “No Brasil, não há empresas com know how em transferência de tecnologia”, disse.

Acesso a inovações

Conduzindo o debate, Queiroz comentou sobre a dificuldade em conectar as inovações que se observa em eventos e fóruns com a prática real. “Também enfrentamos o desafio de disseminar essas inovações por todos os níveis da organização. Uma terceira dificuldade diz respeito ao acesso”, comentou, fazendo uma pergunta sobre como garantir que o setor público tenha acesso às inovações, de forma a melhorar o atendimento.

Denise apontou que, mesmo fazendo parte do PROADI-SUS, a BP considera que há muito espaço para ampliar o acesso à saúde, e falou sobre colaboração. “Palavra bonita, mas extremamente desafiadora, especialmente entre nós, os hospitais, e entre os setores público e privado. Portanto, estamos buscando ampliar o ecossistema, trazendo novos atores. Um exemplo é nosso projeto com o InovaHC, que usa a rede 5G para diagnóstico e suporte remoto em áreas isoladas”, contou.

Para ela, quando se fala em inovação, é preciso ir além dos projetos já incentivados através do PROADI-SUS e entender como ampliar a visão trazendo outros parceiros para levar saúde de qualidade a mais pessoas. “É fundamental discutir formas de financiamento com novas parcerias, indo além dos modelos contratuais tradicionais”. Ela também citou o trabalho da BP com o SUS para melhorar a interoperabilidade.

No ponto sobre o acesso, Klajner voltou a falar de propósito, reforçando que o objetivo é atender a população. E questionou: precisamos realmente do 5G? “Não necessariamente; o 3G também é suficiente. Embora se discuta a possibilidade de cirurgias remotas, devemos lembrar que monitoramento remoto via 5G não é, por si só, superior ao 4G. O foco deve ser o atendimento, independentemente da tecnologia utilizada”, disse.

De acordo com ele, é preciso ter cautela ao estabelecer parcerias com instituições com fins lucrativos, pois pode haver viés. “A inovação deve sempre ter um propósito claro: se o objetivo é ampliar o acesso a populações carentes, precisamos garantir que isso realmente aconteça. A interoperabilidade é importante, mas precisamos desenvolver soluções que também gerem dados relevantes”, acrescentou.

Genômica

Levando a discussão para o tema de genômica, Nomura comentou que ela é fundamental na área de diagnóstico. “Embora o sequenciamento ainda seja caro devido ao investimento em máquinas, seus preços estão em queda, indicando um avanço promissor nesse campo”. Ele, então, pediu a Rizzatti que falasse sobre as tendências na área.

A genômica tem ganhado destaque na mídia de forma ampla, mas é essencial focar nos problemas que ela pode resolver, como a detecção precoce de doenças raras em recém-nascidos, apontou Rizzatti. “A combinação da genômica com métodos bioquímicos e espectrometria de massa tem demonstrado ser uma solução poderosa. Ao identificar precocemente a necessidade de restrições dietéticas ou a suplementação de vitaminas, podemos transformar a vida de uma criança e sua família”, disse.

Ele considera que com os avanços em sequenciamento de DNA e a redução de custos, o acesso a essas tecnologias está se ampliando. Isso abre novas possibilidades, como os testes farmacogenéticos. “Se esses testes forem mais utilizados, os dados poderão ser integrados ao prontuário do paciente, permitindo que antes de qualquer prescrição sejam identificados possíveis incompatibilidades. Áreas como neurologia e psiquiatria já adotam essa prática”, comentou Rizzatti.

Além disso, a identificação precoce de câncer através de painéis multicâncer, como estudado no Reino Unido, envolvendo centenas de participantes, pode se tornar parte da nossa realidade. “Poderemos incorporar essas ferramentas às nossas estratégias de prevenção de doenças, tornando a genômica cada vez mais relevante no cuidado à saúde”, expôs.

De forma geral, o debate destacou a importância de abordagens colaborativas e escolhas estratégicas que conciliem tecnologia e orçamento, além de tendências. O evento se encerrou com uma visita técnica guiada ao Centro Diagnóstico do Hospital Israelita Albert Einstein.

A importância da acreditação para o futuro da saúde foi tema de palestra magna no 2º Congresso Virtual de Acreditação e Qualidade

Segundo Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed, os programas de acreditação podem contribuir ainda mais para as práticas assistenciais no Brasil

15 de outubro de 2024 – O 2º Congresso Virtual de Acreditação e Qualidade, realizado 17 de setembro, em alusão ao Dia Mundial da Segurança do Paciente, promoveu a troca de conhecimentos e experiências, buscando incentivar a melhoria contínua dos serviços de diagnóstico. O evento foi realizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), em parceria com a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed, fez a palestra magna, que abordou a “Importância da Acreditação para o Futuro da Saúde”. Com vasta experiência no setor, ele lembrou que os programas de acreditação foram criados como uma resposta a persistentes alegações de má prática, inexistência de padrões, fraudes e baixa performance de laboratórios clínicos.

Nos anos 60, nos Estados Unidos, surgiram denúncias de que laboratórios não realizavam os exames e que o sangue coletado era descartado na pia. Em resposta a essas acusações, o Colégio Americano de Patologistas (CAP) lançou, dois anos depois, seu programa de acreditação, que se tornou o maior do mundo em laboratórios clínicos e de anatomia patológica.

No Brasil, em julho de 1998, um incidente específico levou à criação de novas normas obrigatórias para garantir a qualidade dos exames. A reportagem “Teste do Guaraná” revelou que 12 laboratórios no Rio de Janeiro não conseguiram diferenciar urina de uma mistura de água com guaraná, emitindo laudos incorretos.

Em 1999, duas entidades internacionais se juntaram para definir os propósitos e a natureza da acreditação laboratorial: a International Federation Of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (IFCC) e a World Association of Societies of Pathology and Laboratory Medicine (WASPaLM). Elas declararam que é interesse dos pacientes, da sociedade e do governo que laboratórios clínicos operem sob padrões de alta competência técnica e profissional.

Entre as razões, está que as decisões sobre diagnóstico, prognóstico e tratamento baseiam-se, frequentemente, em resultados e interpretação de exames laboratoriais, e danos irreversíveis podem ser causados por resultados errados. Outro motivo é que usuários de serviços de laboratórios clínicos (pacientes e médicos) podem não ter conhecimentos técnicos suficientes que lhes permitam determinar se um laboratório opera em nível satisfatório. Além disso, pacientes e clínicos, em menor extensão, podem não ter escolha (ou ter poucas opções) sobre o laboratório a ser usado.

O quarto motivo é que exames de laboratório têm um “custo”, e pacientes, convênios, seguradoras ou governos (instituições pagadoras) esperam que o laboratório forneça informações válidas e confiáveis. Por fim, que é do interesse dos laboratórios que sua competência seja verificada, através de processo de inspeção, comparação com padrões apropriados e sua boa performance divulgada publicamente.

“Trouxemos para o Brasil David Burnett, do Reino Unido, que nos ensinou muito sobre sistemas de acreditação. Ele nos recomendou que os programas de acreditação deveriam ser gerenciados por agências não governamentais e independentes, liderado por profissionais tecnicamente preparados, que fossem sem fins lucrativos e com forte influência educacional”, explicou Shcolnik.

Com base nessas premissas, em 1998, a SBPC/ML estabeleceu o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC). Essa trajetória foi celebrada com a publicação de um relatório sobre os 15 anos do programa, amplamente divulgado em nível internacional. Por sua vez, o CBR, inspirado pelo Colégio Americano de Radiologia, criou o Programa de Acreditação de Diagnóstico por Imagem (PADI), em 2013, desenvolvido para complementar e fortalecer os programas de qualidade já existentes no CBR, seguindo a mesma linha do PALC.

Eventos adversos

Apresentando a problemática dos eventos adversos, Shcolnik lembrou uma notícia de 2023, mostrando que o Brasil registrou quase 300 mil falhas na assistência à saúde em 2022, de acordo com um levantamento baseado em dados da Anvisa, analisados pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e da Segurança do Paciente (SOBRASP).

As falhas incluíam erros de diagnóstico, medicações equivocadas e problemas de comunicação entre as equipes durante a transição de cuidado. Entre esses eventos, 6.000 foram classificados como “never events”, ou seja, que nunca deveriam ocorrer, podendo resultar na morte do paciente ou em sequelas graves.

Segundo o painel público de notificação de eventos adversos, da Anvisa, em 2023, houve 368.170 incidentes notificados em diferentes estados. Os hospitais foram responsáveis por 92,5% deles. “Se analisarmos as áreas de medicina nuclear e radiologia, houve 1.031 notificações, correspondendo a 0,28% do total de eventos notificados em 2023. Já nos laboratórios de análises clínicas, foram registradas 951 notificações, representando 0,25% do total”, revelou Shcolnik.

O erro de diagnóstico é uma das principais consequências desses incidentes, podendo levar a eventos adversos graves. Segundo o estudo “Improving Diagnosis in Health Care”, do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, publicado em 2015, todos os cidadãos enfrentarão pelo menos um atraso ou erro de diagnóstico ao longo da vida. No ambiente ambulatorial, estima-se que 5% dos pacientes sejam vítimas de erro de diagnóstico. Já em hospitais, entre 6% e 17% dos eventos adversos são atribuídos a falhas diagnósticas.

Os dados do estudo “Common contributing factors of diagnostic error: A retrospective analysis of 109 serious adverse event reports from Dutch hospitals”, publicado em agosto de 2023 no BMJ Quality & Safety, revelaram os principais fatores contribuintes para erros de diagnóstico em hospitais da Holanda. Entre eles, destacaram-se falhas e atrasos na solicitação de testes necessários, leitura incorreta de exames de imagem ou radiologia, falhas ou atrasos na comunicação dos resultados ao clínico, acompanhamento inadequado de resultados anormais e erros na interpretação dos resultados pelo clínico.

No Brasil, o relatório “The assessment of adverse events in hospitals in Brazil”, de Walter Mendes e colaboradores, analisou pacientes adultos admitidos em 2003, em três hospitais de ensino do Rio de Janeiro. A incidência de pacientes com eventos adversos foi de 7,6%, e a proporção geral de eventos adversos evitáveis ​​foi de 66,7%. Além disso, 10,02% estavam diretamente relacionados a erros de diagnóstico.

Três pilares da prática do profissional

Com base na definição de erro diagnóstico, que se refere à incapacidade de estabelecer uma explicação correta para o problema de saúde do paciente ou de comunicá-la em tempo oportuno, Shcolnik propôs uma reflexão sobre três pilares que estão diretamente ligados à prática do profissional.

“A primeira é a precisão. Os nossos resultados precisam ser corretos e confiáveis. Nada é pior do que o médico receber um exame e questionar sua veracidade, colocando em dúvida o nosso trabalho e comprometendo a confiança no diagnóstico”, disse. A segunda é a oportunidade, relacionada ao tempo de entrega dos resultados. Para Shcolnik, um exame preciso perde seu valor se for entregue com atraso, pois retarda o diagnóstico e a definição do tratamento, prejudicando tanto o paciente quanto o médico.

Por fim, está a explicação. “Um laudo de um anatomopatologista, por exemplo, oferece um diagnóstico definitivo; um laudo de um exame de análises clínicas pode identificar com precisão um agente etiológico. Temos painéis capazes de identificar rapidamente, em uma emergência, a causa de uma meningite ou de uma infecção em qualquer outro local. Portanto, a explicação clara e precisa dos resultados também é essencial para a nossa atividade”, detalhou.

Os dois lados

Segundo Shcolnik, infelizmente, no Brasil, não há o reconhecimento esperado por parte das autoridades sanitárias para os programas de acreditação. “Em outros países onde isso acontece, apenas um percentual muito pequeno de serviços de saúde acreditados é inspecionado por agências reguladoras, de modo que eles confiam nos programas e isso abrevia o trabalho das autoridades sanitárias”, disse.

Outro problema é a independência de auditorias. A ISQua, entidade internacional que define guidelines de saúde, recentemente acreditou o manual de uma operadora de plano de saúde, levantando dúvidas sobre quem auditará a conformidade, já que o manual não foi feito por uma entidade independente. Mais um desafio citado por Shcolnik é a dificuldade em mostrar que serviços acreditados, como laboratórios e clínicas radiológicas, fazem a diferença.

Além disso, apesar do movimento da ANS para reconhecer a acreditação, desde 2011, poucos prestadores de serviço a receberam. “Algumas normativas vigentes ainda preveem que o certificado de acreditação tenha peso na composição do fator de qualidade, que deveria influenciar os reajustes de remuneração dos prestadores de serviço”, lembrou.

Shcolnik também apresentou boas notícias. A ANS anunciou o programa PM QUALISS, que visa monitorar a qualidade de prestadores de serviços em medicina diagnóstica para aumentar a transparência e permitir que os pacientes escolham laboratórios e clínicas com mais informação. Esse modelo, que já funciona para hospitais, será adaptado para essas clínicas e laboratórios, com indicadores específicos e uma metodologia de comparação adequada. “A ANS planeja desenvolver uma ferramenta de gestão de indicadores e um painel dinâmico para acompanhamento”, explicou. O programa está em andamento, em parceria com a Abramed.

Ele acredita que o próximo passo após a acreditação é a avaliação de desempenho. “Quando tivermos processos bem definidos e monitorados, precisaremos de indicadores e controle contínuo para verificar se as atividades estão alinhadas com o planejado e identificar possíveis variações, especialmente se estiverem em descompasso com outros serviços que exercem a mesma atividade”, disse.

Shcolnik lembrou que hospitais como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês já divulgam indicadores de desempenho, seguindo uma tendência de conectar qualidade e remuneração. Isso ocorre também nos Estados Unidos, onde exames de ressonância só são pagos se realizados por serviços acreditados. Na área de laboratórios, especialistas italianos, como Mario Plebani, também defendem essa prática. O movimento, que inicialmente enfrentou críticas, agora se consolida como um caminho natural. “Portanto, esse é um passo irreversível e nós todos devemos nos preparar para podermos lidar com isso”, reconheceu.

Em conclusão, Shcolnik acredita que os programas de acreditação já contribuíram e podem contribuir ainda mais para a mudança de cultura e das práticas assistenciais no Brasil. “Além disso, já temos evidências na literatura internacional sobre os benefícios tanto para os pacientes quanto para os sistemas de saúde, e eu acrescentaria também para os médicos assistentes. Considero essencial divulgar esses benefícios, esse é um desafio que cabe a todos nós. No entanto, infelizmente, sem incentivos concretos para a participação voluntária, não alcançaremos os resultados desejados, nem a adesão e a melhoria contínua”, finalizou.

Revista Marie Claire publicou dados da Abramed sobre aumento na realização de mamografias

Neste Outubro Rosa, mês de conscientização sobre câncer de mama, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, foi entrevistada pela revista feminina Marie Claire. Ela mostrou o aumento de 20% na realização de mamografias em 2023, comparando a 2022, segundo o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico.

“Houve maior conscientização da população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. O acesso ampliado à internet, permitindo obter informações sobre saúde, antes restritas a atendimentos médicos, também contribuiu significativamente”, afirmou Milva.

No entanto, a adesão aos testes ainda enfrenta desafios: a taxa de “no show” foi de cerca de 15,9%, tanto em 2022 quanto em 2023. “Questões emocionais, como medo do diagnóstico, além da falta de prioridade pessoal, podem influenciar o não comparecimento aos exames”, acrescentou Milva.

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Money Report destacou dados do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico

Dados da sexta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico foram publicados na plataforma de comunicação Money Report, em 2/10/2024. A matéria, intitulada “Indústria diagnóstica é gigante discreto de R$ 26,4 bilhões”, trouxe os principais resultados da publicação anual da entidade, com participação de Milva Pagano, diretora-executiva, e Ademar Paes Junior, membro do conselho de administração da Abramed e coordenador do Painel.

“No mercado de saúde brasileiro, a medicina diagnóstica é frequentemente apontada como um dos principais responsáveis pelo aumento das despesas assistenciais, um ofensor dos custos da saúde suplementar, mas ocorre justamente o oposto. O setor é um dos maiores aliados na sustentabilidade do sistema de saúde”, comentou Paes Junior.

Como destacou Milva, “o Painel Abramed oferece insights tanto para empresas e prestadores de serviços que desejam desenvolver estratégias alinhadas às necessidades reais do sistema, quanto para investidores que buscam uma compreensão aprofundada do mercado”.

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Folha entrevista Abramed sobre quantidade de máquinas de RM no Brasil

Em 20 de setembro de 2024, a Folha online trouxe uma matéria com participação de Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, sobre a disponibilidade de máquinas de ressonância magnética no setor privado.

Ele disse que a quantidade de máquinas ofertadas às regiões Norte e Nordeste tende a ser menor porque esse tipo de equipamento depende de uma infraestrutura consolidada para ser instalado. “Essa máquina tem um custo de instalação e manutenção muito grande. Por exemplo, se você não tiver energia elétrica instalada, um equipamento de ressonância magnética não vai funcionar”, afirmou Nomura.

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