Abramed pede padronização nas notificações de resultados de testes de COVID-19

Ampla diversidade de informações solicitadas pelas vigilâncias municipais e estaduais somadas à falta de padrão no formato para comunicação dos dados geram dificuldades para notificação compulsória da doença

6 de agosto de 2020

O setor privado de medicina diagnóstica no Brasil já estava em conformidade com a notificação compulsória de inúmeras doenças conforme estipulado pela Portaria de Consolidação nº 4 do Ministério da Saúde. Assim, qualquer resultado de exame para diagnóstico de pacientes com Dengue, Febre Amarela e Hepatite, entre outras patologias, naturalmente já era comunicado à autoridade competente dentro do prazo estipulado.

Porém, com a pandemia do novo coronavírus, os laboratórios passaram a ter de notificar, em até 24 horas, todos os resultados de testes para COVID-19 tanto para a Federação quanto para Estados e Municípios. Com milhares de testes sendo realizados todos os dias e a falta de padronização nas solicitações advindas de cada uma das esferas, os laboratórios se viram em uma situação caótica.

Dessa forma, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – com 26 empresas que respondem por cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país  –  vem encabeçando diálogos tanto com o Governo Federal e o Ministério da Saúde quanto com os municípios por meio do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), a fim de sanar esses entraves e, dessa forma, permitir que a notificação de todos os testes realizados pelos laboratórios privados sejam enviadas e possam auxiliar na construção da análise epidemiológica do país e no controle da disseminação do SARS-CoV-2.

Considerando que a portaria institui a notificação compulsória imediata, porém não deixa claro qual deve ser o formato dessa notificação, cada vigilância em saúde institui seu fluxo próprio. “Sempre tivemos essa falta de padronização, porém não vivíamos um cenário de pandemia com milhares de exames sendo realizados por cada laboratório todos os dias, então o entrave era superável. Porém, agora, com a COVID-19 e o altíssimo volume de exames, tornou-se impossível atender às diferentes solicitações de cada região”, esclarece Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed.

No âmbito Federal, o problema foi solucionado por meio da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Agora, todas as notificações são inseridas na RNDS. Porém, nas esferas Estadual e Municipal, as dificuldades permanecem, como esclarece Marília Bortolotto, membro da Câmara Jurídica Abramed e advogada da DASA. “Cada secretaria tem seu fluxo próprio, sendo que algumas exigem que o laboratório entregue uma ficha física preenchida pelo paciente diretamente na vigilância, enquanto outras pedem o envio dos dados por e-mail, inclusive, em alguns casos, da via digitalizada dos laudos, documento que não deve ser compartilhado sem o conhecimento do paciente e os requisitos de segurança adequados”, pontuou.

Além do processo não estar definido, ou seja, dos laboratórios terem de se adaptar a diferentes formas de notificação, há também a falta de padronização nos dados que são solicitados, o que leva à uma preocupação ainda maior quanto à proteção das informações dos pacientes.

“Os laboratórios não têm parametrizados em seus sistemas de atendimento dados que não são indispensáveis à realização dos exames. Seguindo as indicações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrará em vigor no primeiro semestre de 2021, os estabelecimentos nem mesmo podem solicitar esses dados aos pacientes”, complementa Marília ao explicar que há, por exemplo, casos de municípios que pedem dados como nome da mãe, raça e cor dos pacientes, além de informações do médico prescritor do exame. É com base na LGPD, também, que a Abramed se preocupa com o compartilhamento dessas informações por meio de plataformas pouco seguras como, por exemplo, o correio eletrônico, que não trabalha com criptografia e pode facilitar o vazamento desses dados sensíveis gerando problemas tanto para o paciente quanto para a instituição que detinha esse controle.

Dessa forma, o pleito emergencial da Abramed é pela padronização tanto do formato da notificação quanto dos dados que são solicitados. “Precisamos criar e definir um padrão para ser seguido por todas as esferas da Federação e que, assim, não sujeite os laboratórios a trabalhar de uma forma diferente em cada região”, pontua Marília.

Em uma live realizada na manhã de 3 de agosto, o DATASUS respondeu às principais dúvidas relativas à RNDS, inclusive sobre as dificuldades para integração e credenciamento dentro do sistema. Participando do encontro virtual, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, questionou se teremos, em breve, as vigilâncias municipais e estaduais com acesso à RNDS para que tenhamos a resolução do problema da falta de padronização.

“Estamos fazendo todos os esforços para alimentar a base de dados nacional com os resultados dos exames que realizamos diariamente, porém se as outras pastas interessadas não conseguem visualizar esses dados, nosso esforço pode não resultar em nada. Quanto tempo demora para que as secretarias tenham de fato acesso?”, perguntou.

Em resposta, Henrique Nixon, da Coordenação-Geral de Sistemas de Informações e Operações (CGSIO) do DATASUS, confirmou que essa pendência está sendo solucionada. “Vamos entregar a integração do e-SUS Notifica à RNDS nos próximos 15 dias. Tudo será automatizado e estamos muito próximos de concretizar essa etapa”, disse.

Sobre os testes rápidos realizados, com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em farmácias e drogarias, o DATASUS reforçou que a notificação da COVID-19 é compulsória a qualquer profissional da saúde, seja biomédico, enfermeiro ou farmacêutico. Porém, no caso dos testes rápidos, a notificação se faz obrigatória em pacientes sintomáticos e com resultado positivo. “A preferência é por notificar todos os resultados, sejam positivos, sejam negativos. Porém sabemos que talvez não seja possível por não se tratar de um ambiente laboratorial. Dessa forma, os sintomáticos positivos são obrigatórios”, declarou.

Apesar de muitos laboratórios já terem vencido a barreira da integração de suas plataformas com a RNDS, esse tema ainda preocupa. Com experiência do processo realizado na DASA, Marília detalha que é preciso amplo conhecimento técnico para que a integração seja bem-sucedida. “A integração foi super trabalhosa, tivemos que colocar nossas melhores cabeças do ponto de vista técnico em TI para suprir essa etapa”, comentou.

Esse foi um dos pontos alertados por Shcolnik ao DATASUS na reunião de 3 de agosto, visto que grande parte dos laboratórios clínicos do país são pequenas e médias empresas que, nem sempre, têm estrutura de TI adequada para trabalhar nessa integração. Em resposta, os executivos do Ministério da Saúde disseram que há espaço para que empresas mais fortes de tecnologia da informação trabalhem para a construção dessas integrações e prestem serviços aos laboratórios menores, consolidando e transmitindo os dados.

Relevância da medicina diagnóstica e mudanças no “novo normal”

Webinar da SAHE debateu aspectos do setor no cuidado geral com a saúde e protagonismo nesse momento de pandemia

4 de agosto de 2020

Para tratar da relevância da medicina diagnóstica no contexto geral da saúde e debater os novos rumos do setor após a pandemia de COVID-19, a South America Health Education (SAHE), plataforma de compartilhamento de conteúdo do Grupo Mídia, recebeu Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para um encontro virtual realizado na noite de 3 de agosto. Comandado por Claudia Cohn, que além de membro do Conselho de Administração da Associação, é diretora-executiva da DASA e presidente do comitê científico do Masterclass de Medicina Diagnóstica da SAHE’21, o webinar tratou de temas que permeiam muitas das atuais discussões da saúde.

O encontro foi iniciado com uma conversa sobre a contribuição do diagnóstico para a medicina e com os executivos elencando as inúmeras atribuições do setor na melhoria da saúde populacional. “Os médicos utilizam exames complementares para confirmar ou excluir possibilidades diagnósticas, porém o segmento também atua na definição dos tratamentos mais adequados à determinadas patologias”, explicou Shcolnik exemplificando que um corriqueiro antibiograma é extremamente útil para indicar, ao médico, qual o medicamento mais eficaz para combater especificamente aquele determinado micro-organismo.

O executivo também mencionou o monitoramento de resultados de tratamentos, como a coleta de sangue para análise de desempenho das terapias anticoagulantes, evitando que os pacientes utilizem doses elevadas da medicação levando a possíveis sangramentos; e o monitoramento das doenças em si, como no caso de pneumonias que são acompanhadas por meio de exames de imagem. Além disso, Shcolnik enfatizou a relevância dos exames tanto para a indicação de hospitalização quanto para balizar a decisão da alta hospitalar.

Pensando no contexto dos sistemas de saúde, a prevenção também foi elencada como uma das principais estratégias de adoção do diagnóstico. “O exame bem realizado, no paciente certo, na hora certa, tem grande valor para os desfechos da assistência à saúde”, pontuou o presidente da Abramed reforçando que a Associação defende o uso racional dos exames, ou seja, a aplicação de procedimentos adequados que gerem valor para a sustentabilidade dos sistemas, mas sobretudo aos pacientes.

Entrando no atual contexto, Claudia enfatizou que a medicina diagnóstica se tornou protagonista, levando termos mais técnicos para o conhecimento de todos. “Dois dos termos repercutidos são qualidade e rastreabilidade. Qual a importância desses conceitos?”, questionou.

Para explicar essas terminologias, Shcolnik enfatizou que a tecnologia trouxe muitas evoluções, entre elas kits de diagnóstico industrializados que entregam ainda mais precisão. Porém, a qualidade desses testes também depende dos processos pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos. “Temos procedimentos utilizados antes das amostras laboratoriais chegarem e no preparado dos pacientes que serão submetidos a exames de imagem; precisamos de cuidados para a execução dessas amostras e desses exames; e não podemos nos desprender dos processos de qualidade na emissão dos laudos, pois se essas etapas não forem seguidas, algo pode dar errado”, detalhou.

Ainda citando termos que se tornaram conhecidos, Claudia abordou a questão da especificidade e da sensibilidade dos exames para diagnóstico da COVID-19. Momento em que Shcolnik aproveitou para mencionar a qualidade dos testes e enfatizar a preocupação do setor em prover informação para que todos os interessados pudessem investir em exames realmente eficazes.

“Os testes rápidos, por exemplo, já foram por nós questionados antigamente para a detecção da AIDS, pois não tinham sensibilidade adequada, deixando de apontar resultados positivos para quem estava doente; e também não eram específicos, pois não entregam resultados negativos quando as pessoas estavam saudáveis. Com o SARS-CoV-2 aconteceu a mesma coisa”, pontuou o executivo.

O novo normal – “A verdade é que estamos em um momento bastante diferente. O que você acha que precisa mudar no setor de diagnósticos agora que estamos vivendo esse ‘novo normal’?”, perguntou Claudia ao iniciar o debate sobre a medicina diagnóstica na pandemia do novo coronavírus.

Relembrando que a COVID-19 representa um desafio para todos os países e para todos os setores da economia, Shcolnik lembrou que ainda estamos vivenciando a pandemia pois não temos uma vacina comprovada e disponível e os tratamentos ainda não são tão eficazes. Além da gestão dos surtos em si, o executivo apontou outro grande desafio vivenciado pelo setor nos últimos meses: o afastamento dos pacientes das consultas e exames relativos à outras enfermidades e doenças além da infecção pelo SARS-CoV-2.

“As pessoas deixaram de recorrer aos serviços de saúde. No Brasil, temos uma grande população de idosos com mais de uma doença crônica e esses pacientes ficaram limitados na assistência, com receio de sair de casa e com muitas clínicas fechadas”, pontuou ao comentar a proatividade de muitos laboratórios e clínicas que começaram a disponibilizar serviços em formatos alternativos como, por exemplo, a coleta domiciliar e o sistema de drive-thru a fim de evitar que as pessoas tivessem de se deslocar até as unidades.

Hoje, com a flexibilização da quarentena e a reabertura de algumas clínicas e unidades, os espaços já estão preparados para receber com segurança os pacientes, visto que criaram novos fluxos de atendimento, separando pessoas sintomáticas e que estão em busca de testes para diagnóstico da COVID-19 de outros pacientes lidando com patologias distintas.

Capacidade de testagem – Os executivos também falaram sobre a capacidade de testagem do Brasil, tão questionada pela população. Shcolnik mencionou relatórios recentemente divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre a quantidade de exames realizados no âmbito da saúde privada nos primeiros meses da pandemia. “Em março, o Rio de Janeiro realizou apenas 928 exames. Em abril, saltou para 2 mil testes. Então esses números refletem o que foi observado, de que testamos pouco apesar dos nossos esforços”, declarou.

Porém, com os exames sorológicos, há uma melhor perspectiva. “A oferta da sorologia é maior e a indústria está nos municiando com uma nova geração de kits muito mais preciso e que nos dão ainda mais confiança para ofertar os exames. Além disso, temos a expectativa de que a ANS divulgue sua normativa para tornar obrigatória a cobertura dos testes sorológicos pelos planos de saúde”, complementou.

E, para garantir qualidade dos exames à sociedade, Shcolnik também mencionou o Programa de Avaliação de Kits de Diagnóstico para SARS-CoV-2, uma iniciativa da Abramed em parceria com a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), e a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), que utiliza a estrutura de grandes laboratórios com atendimento hospitalar para avaliar testes disponíveis no mercado brasileiro, disponibilizando as análises no portal www.testecovi19.org.

Reforçando a importância de fazer o teste correto, no momento correto, Claudia declarou que “é preciso escolher um bom kit e não fazer o exame à toa, seja o RT-PCR, seja a sorologia. E a melhor pessoa para auxiliar nessa decisão é o médico”.

Pesquisa e Desenvolvimento – Os executivos também entraram na seara da pesquisa e desenvolvimento no setor de saúde, abordando a qualidade dos profissionais que hoje estão em atuação no Brasil. “No nosso segmento, por exemplo, durante a pandemia vimos pesquisadores desenvolverem alternativas incríveis para diagnóstico da COVID-19”, disse Shcolnik. Segundo o executivo, as dificuldades existem e estão sempre sendo enfatizadas pelos cientistas como, por exemplo, o atraso na liberação de reagentes importados por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que muitas vezes leva ao atraso da pesquisa no país.

“Porém, mesmo diante dos entraves, acredito que os grandes grupos de medicina diagnóstica investem muito em pesquisa e em desenvolvimento. E quem ganha com isso é a população”, complementou.

O webinar está disponível na íntegra no canal do YouTube do Grupo Mídia. Clique AQUI para acessar.

A corrida dos laboratórios privados para ampliar a testagem de COVID-19

Além da agilidade na disponibilização de kits para RT-PCR e de validar outras metodologias diagnósticas, rede privada desenvolve alternativas para a população

31 de julho de 2020

Nenhuma nação estava totalmente preparada para enfrentar uma pandemia como a que estamos vivendo com o novo coronavírus e, por isso, a capacidade de tomar decisões rápidas e de agir com assertividade tornou-se uma competência primordial. No Brasil, assim que o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado, os laboratórios privados iniciaram um trabalho imediato para desenvolver, artesanalmente, os testes moleculares recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), necessários para confirmação do diagnóstico dessa doença. Desde então, foram inúmeras as ações para contribuir com a contenção do surto no país e garantir o acesso da população aos testes capazes de detectar a infecção.

“A resposta do setor privado de medicina diagnóstica no país foi extremamente rápida. Assim que houve a confirmação da chegada do novo coronavírus em nosso território, os laboratórios trabalharam para desenvolver os kits de diagnóstico in house. Nas primeiras semanas, processavam centenas de exames moleculares RT-PCR diariamente. Porém, em pouco tempo já tinham capacidade para processar milhares de exames a cada 24h”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Mesmo enfrentando dificuldades como, por exemplo, a falta de insumos – prioritariamente importados – e problemas logísticos ocasionados pela interrupção da malha aérea, esses laboratórios seguiram atuantes para ampliar a capacidade de testagem no país, desenvolvendo, inclusive, grandes parcerias com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Em termos operacionais, além do desenvolvimento ágil in housedos primeiros kits de RT-PCR – exame que continua sendo apontado como o padrão ouro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para diagnóstico da COVID-19 – e do investimento na ampliação da capacidade de processamento, esses laboratórios seguiram também atentos a outras possibilidades: estabeleceram sistemas de drive-thru para coleta de amostras visando evitar aglomeração nas unidades de atendimento; participaram do Programa de Avaliação de Kits para SARS-CoV-2, uma iniciativa da Abramed em parceria com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) que está validando diferentes kits de reagentes relacionados à COVID-19 disponíveis no mercado brasileiro e disponibilizando os resultados em testecovid19.org; atuaram na melhoria dos testes sorológicos a fim de aumentar a sensibilidade e a especificidade dessas metodologias; e criaram novos métodos de exames para ampliar o acesso e melhorar a capacidade de testagem do país.

Confira alguns dos principais testes para diagnóstico da COVID-19 disponíveis hoje no Brasil:

RT-PCR – Exame molecular de alta complexidade, o RT-PCR é o teste indicado para detecção da infecção pelo novo coronavírus na fase aguda da doença, ou seja, logo nos primeiros dias após o surgimento dos sintomas. Essa metodologia consiste na identificação do RNA do vírus na análise de amostras nasofaríngeas coletadas até o sétimo dia da infecção por meio de um cotonete estéril (swab). Considerado o padrão ouro pela OMS devido à sua alta sensibilidade e especificidade, é o exame ideal para a contenção da transmissão do patógeno por permitir que os indivíduos infectados sejam identificados e possam permanecer em isolamento, além de garantir que as pessoas que estiveram em contato direto com esse paciente também sejam testadas e, caso apresentem resultados positivos, isoladas. Os resultados levam, em média, 48 horas para serem disponibilizados.

Sorológicos – Diferentemente do RT-PCR, que identifica o código genético do vírus, os testes sorológicos detectam anticorpos. Portanto, é preciso respeitar a janela imunológica (tempo que o organismo leva para produzir anticorpos detectáveis) realizando esses testes no mínimo oito dias após o surgimento dos sintomas (estudos publicados mostram que a sensibilidade desses exames aumenta após a terceira semana da infecção).

Existem diferentes metodologias de testes sorológicos. Os testes rápidos, que são realizados pela punção digital, ou seja, por um pequeno furo na ponta do dedo do paciente, são qualitativos e há grande variabilidade na sensibilidade desses kits. Já os testes sorológicos realizados em laboratório são feitos em amostras venosas coletadas em ambiente adequado e processadas em diversas metodologias como a ELISA e a quimioluminescência, entre outras. Esses exames, diferentemente dos testes rápidos, são quantitativos, ou seja, capazes de apontar a quantidade de cada anticorpo presente naquela amostra e realizados por profissionais capacitados, em ambientes laboratoriais com equipamentos que permitem escalabilidade e garantia da qualidade. Hoje, após acompanhar as particularidades da COVID-19, a maioria dos laboratórios está oferecendo exames sorológicos para detecção de anticorpos totais (IgG + IgM) por acreditarem que esses exames trazem mais assertividade do que os que detectam o IgG e o IgM isoladamente. Os testes rápidos têm resultados entregues em poucos minutos e os testes sorológicos de laboratório costumam ter os resultados disponíveis em 24 horas.

Proteômica – Assim como o RT-PCR, o teste por proteômica é realizado em amostras nasofaríngeas que devem ser coletadas até o sétimo dia do início dos sintomas para detecção da COVID-19 na fase aguda. Porém, enquanto o RT-PCR detecta o RNA do vírus nessas amostras, o método proteômico por espectrometria de massas detecta a proteína do novo coronavírus. Por ser totalmente automatizado, é apontado como uma alternativa ao RT-PCR e observado como oportunidade para testagem em massa e para o controle da expansão dos casos.

Considerando que a proteína é mais estável do que o RNA do vírus, o método oferece melhor estabilidade permitindo que as amostras sejam transportadas em temperatura ambiente, característica excelente para um país continental como o Brasil, onde muitas vezes as amostras percorrem milhares de quilômetros entre a coleta e seu processamento. Os resultados ficam prontos em média em três dias úteis.

Sequenciamento genético de nova geração – O Brasil desenvolveu o primeiro teste genético do mundo para detecção em larga escala do novo coronavírus utilizando a técnica de Sequenciamento Genético de Nova Geração (Next Generation Sequencing – NGS). Com 100% de especificidade, o exame não apresenta casos de falsos positivos e oferece 90% de sensibilidade, o que também reduz drasticamente a chance de falsos negativos. O teste é processado por amostras coletadas com swabs em contato com a região nasal ou com a saliva dos pacientes nos primeiros dias dos sintomas.

O exame é apontado como alternativa viável para diagnóstico em massa por permitir um volume de processamento 16 vezes maior do que o RT-PCR e, assim, poder contribuir para a contenção da disseminação da infecção. Os testes têm resultados disponibilizados em média em três dias úteis.

RT-LAMP – Para detecção na fase aguda da doença, o exame molecular pela metodologia RT-LAMP (amplificação isotérmica mediada por alça com transcrição reversa), assim como o RT-PCR, permite a detecção do material genético do novo coronavírus, porém em amostras de saliva dos pacientes que devem ser coletadas nos primeiros dias dos sintomas. Com especificidade de 100%, ou seja, não gera resultados falsos positivos, o teste tem sensibilidade equiparada ao RT-PCR (baixa chance de falsos negativos) e surge como um reforço para que a sociedade brasileira possa aumentar sua capacidade de testagem principalmente por utilizar reagentes e equipamentos que não estão escassos e gerar resultados em até uma hora.

Na pandemia, empresas com programas de integridade consolidados estão menos expostas

Em webinar, especialistas debateram a manutenção da ética durante a crise gerada pelo novo coronavírus

29 de julho de 2020

Diante de tantos dilemas gerados ao setor de saúde durante a pandemia de COVID-19, a Alliance for Integrity, iniciativa do setor empresarial para incentivar a transparência no sistema econômico, realizou um webinar para debater a integridade no setor de saúde em tempos de crise. Com participação de Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e moderado por Paula Oda, coordenadora de Projetos em Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, o encontro virtual também contou com apresentações de Eduardo Winston Silva, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde (IES); e Luiz Eduardo Lemes, gerente de Ética e Compliance da Takeda Brasil.

Para Paula, são inúmeros os entraves que vão desde a escassez de fornecedores e insumos até instabilidades do mercado e falta de transparência, o que torna a discussão sobre a ética ainda mais relevante. “Nesse cenário de crise caracterizado pela urgência, imprevisibilidade e ameaças à saúde, precisamos assumir uma postura que nos permita olhar os riscos iminentes e trabalhar em cima deles”, comentou ao abrir o evento.

Uma das principais discussões enfatizou que o mundo não estava preparado para enfrentar uma pandemia, algo bastante imprevisível do ponto de vista dos negócios, porém todos há tempos sabem da importância de investir em programas de integridade e as empresas que já tinham implementado essa cultura em suas organizações vem conseguindo enfrentar esse período com mais serenidade.

Para Priscilla Franklim Martins, da Abramed, é uma pena que não haja, ainda na educação primária, uma disciplina sobre integridade. “Esse tema tem que ser abordado ainda na infância. Quando ensinamos os pequenos sobre a importância da ética, não precisamos ensinar os adultos pois passa a ser um valor natural”, declarou ao explicar que a Abramed vem trabalhando o tema junto aos seus associados desde 2017 quando lançou o primeiro Código de Conduta do setor de medicina diagnóstica. Já em 2019, a Associação lançou sua Cartilha de Compliance, um material didático para auxiliar não só seus associados, mas qualquer empresa, na criação de programas de integridade.

E se ética e integridade deveriam ser aprendidas ainda na escola, são temas que nunca devem ser deixados de lado. Como explicou Eduardo Winston Silva, do IES. “Ética não é um grupo de regras bem definidas que podem ser decoradas. O que lá atrás não era antiético, hoje pode ser”, disse.

Cautela e cuidado diante da pandemia

Para Luiz Eduardo Lemes, da Takeda Brasil, é hora de desacelerar, mesmo que essa instrução soe estranha em um momento repleto de necessidades urgentes. “A pandemia trouxe um senso claro de urgência, mas quando falamos em negociações, condução de contratos e programas de integridade, a pressa é inimiga da perfeição”, declarou ao exemplificar que situações onde há muita pressão para assinatura de parcerias podem levar à erros e falhas.

Quando a pandemia estourou gerando incertezas em todos os setores da economia e causando medo na população, as instituições precisaram se fundamentar ainda mais em seus programas de integridade para evitar deslizes. Segundo Priscilla, com a falta de previsibilidade de quando a crise irá de fato se desmanchar, foi necessário flexibilizar muitos processos para que o setor de saúde pudesse manter o atendimento à população.

“Encontramos uma série de dificuldades como, por exemplo, a falta de insumos para testes de diagnóstico, uma situação que nunca tínhamos vivenciado. Foi então que nos vimos frente a uma concorrência mundial por reagentes laboratoriais. O mesmo ocorreu com os equipamentos de proteção individual, indispensáveis para a segurança dos profissionais de saúde na linha de frente da luta contra a COVID-19. Diante desse panorama, algumas alçadas de aprovação precisaram ser flexibilizadas”, explicou.

E é nesse momento que podem surgir deslizes, como detalhou Silva. “Teve muita gente que se aproveitou da flexibilização para ter vantagens indevidas seja pelo overpricing seja por meio de fraudes”, disse ao mencionar que nos últimos meses foram notados muitos indícios de corrupção no segmento. Para evitar que esse cenário de falta de ética se consolidasse diante da pandemia, o IES criou um canal de assessoria onde tanto empresas privadas quanto gestores públicos podem se apoiar na hora de realizar compras necessárias para o controle da disseminação do novo coronavírus.

O principal alerta, na opinião de Silva, está no fato de que a flexibilização não representa liberdade para que os processos sejam feitos em desordem. “Não significa que todos podem fazer o que querem da forma como querem. No futuro mapearemos quem agiu com integridade e quem agiu em benefício próprio”, concluiu.

Novamente veio à tona a importância da consolidação da ética e da integridade nas empresas quando Priscilla reforçou que os ilícitos existem, mas que as empresas, quando preparadas, têm um comportamento padrão focado em minimizar esses ilícitos. “Quando há flexibilização, há aumento do risco. Mas, ainda assim, empresas que tem integridade, compliance e ética em suas espinhas dorsais ainda manterão esse comportamento que mitiga o risco. Na crise, o ilícito aconteceu, infelizmente, mas as empresas sérias estiveram menos expostas a isso do que as que realmente se abriram mediante a total flexibilização”, completou.

Integridade é para todos

O setor de medicina diagnóstica, conforme enfatizou Priscilla, já vinha se preparando para programas de integridade há anos, reconhecendo que essa temática deve estar envolvida em qualquer empresa de qualquer porte.

Para Lemes, é preciso desmistificar alguns conceitos que se enraizaram. “Criou-se uma aura de que programas de integridade são luxuosos, caros e dão muito trabalho, porém na prática, somente de reunir os colaboradores para uma conversa franca e transparente, estar aberto para ouvir esses profissionais e discutir o que está acontecendo, já é um excelente caminho”, explicou. Segundo o especialista, não adianta apenas ter uma lista de regras, é necessário trabalhar a cultura e a educação, sempre lembrando que na pirâmide corporativa, as pessoas do mais baixo nível hierárquico repetirão o comportamento dos líderes.

Priscilla concordou com essa percepção e colocou, em debate, a importância da liderança pelo exemplo. “Realmente não adianta estabelecer um programa de integridade onde as lideranças não dão o exemplo. Não podemos exigir que a base da pirâmide tenha um comportamento íntegro se as lideranças não têm”, complementou.

O webinar “Integridade no setor de saúde em tempos de crise” está disponível no canal do YouTube da Alliance for Integrity. Clique AQUI para acessar.

Inclusão de testes sorológicos no rol de procedimentos dos planos de saúde segue em debate

Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, participou do Programa Gente que Fala, na Rádio Trianon (740 AM kHz)

27 de julho de 2020

Uma das fortes atuações da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) durante a pandemia do novo coronavírus é levar informações esclarecedoras para a população, principalmente no que diz respeito às diferenças entre os tipos de testes para diagnóstico da COVID-19 e quais suas melhores aplicações. No dia 23 de julho, Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da entidade, foi um dos convidados do Programa Gente que Fala, transmitido pela Rádio Trianon, de São Paulo. Na ocasião, o executivo teve a oportunidade de abordar a inclusão desses exames no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde. Também participaram Jandaraci Araújo, professora e empresária; Júlio Marcelo de Oliveira, procurador de contas do TCU; e a advogada Melissa Abramovici Pilotto.

Entre uma amplitude de temas debatidos durante o programa, o apresentador e jornalista Mauro Frysman, que comanda a atração, abordou o recente debate sobre a necessidade de os planos de saúde cobrirem exames sorológicos para identificação de indivíduos expostos ao novo coronavírus. “No dia 16 de julho a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) derrubou a liminar que incluía esses testes no rol, alegando que eles apresentavam uma significativa taxa de falsos positivos. Como fica essa situação?”, questionou.

Enfatizando que diante de uma pandemia há sempre o teste certo, para o paciente certo e no momento certo, Figueira apresentou os principais pontos que norteiam essa discussão que, na opinião do executivo, é um debate muito mais econômico do que de saúde pública.

“Os maiores questionamentos sobre a testagem surgem principalmente dos planos de saúde, e não das sociedades científicas ou do próprio Ministério da Saúde. A Abramed estima que, neste primeiro semestre, a saúde suplementar deixou de realizar 130 milhões de exames por conta da pandemia, o que gerou uma economia de aproximadamente R$ 6 bilhões. Muitas pessoas deixaram de ser assistidas na sua integralidade devido à crise de saúde que vivemos”, comentou.

Para Figueira, o debate financeiro da inclusão dos testes no rol de procedimentos se encerra com esses argumentos que comprovam que o sistema de saúde privado nunca teve uma sinistralidade tão baixa quanto a que está vivendo diante da COVID-19.

Já sobre as questões técnicas relativas à segurança e eficácia dos métodos sorológicos, o executivo reforçou que os testes sugeridos para inclusão são os testes sorológicos executados em laboratórios, exames de alta complexidade com valor agregado em inteligência de análise e monitoramento. E que é importante que todos sigam as recomendações de aplicar esses testes no momento correto da curva de infecção. Para isso, Figueira enfatizou que a Abramed apoia as diretrizes de utilização elaboradas pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) que orientaram tanto o Ministério da Saúde quanto as operadoras sobre a melhor aplicação desses exames.

“Quando os passos não são seguidos e, em paralelo, há uma liberação da realização de testes rápidos em farmácias e drogarias, o país perde sua análise epidemiológica, bem como o controle dos resultados dos exames ali aplicados. A sociedade ganha em acesso, mas perde em qualidade e em qualificação técnica”, declarou. “Temos que ter como norte que esses testes precisam ser realizados para que a sociedade aos poucos retorne à suas atividades, mas que precisam ser realizados com critérios, em laboratórios e com o controle efetivo do que está sendo processado”, concluiu.

Controle epidemiológico

Depois de declarar que o Brasil tem inteligência epidemiológica, Leandro Figueira deu mais detalhes sobre como funciona o controle dos surtos no país e qual a relevância dos testes sorológicos nessa estratégia.

“Quando conseguimos ter uma testagem mínima da população, os epidemiologistas são capazes de fazer as projeções necessárias para o controle. A questão é que não estamos conseguindo testar a população nacional e temos uma quantidade insuficiente de dados epidemiológicos para tratar a pandemia”, declarou.

Reforma tributária

Figueira aproveitou o assunto levantado pelo apresentador Mauro Frysman sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) para reforçar a importância de os setores de saúde e educação – que têm pleitos tributários muito similares – estarem atentos às movimentações devido à Reforma Tributária que corre no Congresso Nacional.

“Saúde e educação são áreas extremamente próximas e a sociedade precisa ficar alerta com essa discussão tão relevante sobre a Reforma Tributária. Se nós, como sociedade, não formos vigilantes, o recurso transferido da União para o FUNDEB terá um retorno avassalador para o setor privado por fazer com que tanto saúde quanto educação sejam extremamente onerados com as mudanças propostas pela reforma. Todos devem ficar atentos à Reforma Tributária para que a carga não seja ampliada colocando esses dois segmentos tão importantes em uma situação ainda mais complicada”, disse.

Debate geral

Além de falar sobre testes sorológicos e reforma tributária, o time de convidados também debateu privilégios da magistratura no país; números relativos às contas públicas nacionais; e a porcentagem da verba destinada ao combate ao novo coronavírus já gasta pelo Ministério da Saúde.

A edição está salva no canal do programa no YouTube e pode ser assistida clicando AQUI.

O diagnóstico no contexto da segurança do paciente

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, falou sobre a importância da medicina diagnóstica em webinar promovido pelo Proqualis

16 de julho de 2020

A segurança do paciente também depende da excelência da medicina diagnóstica. A fim de debater esse assunto, o Proqualis, que produz e dissemina informações e tecnologias em qualidade e segurança do paciente, promoveu, no dia 15 de julho, um webinar com a participação de Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

O evento virtual, que também contou com a participação de Lucas Zambon, diretor científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), e foi moderado por Maria de Lourdes de Oliveira Moura, da assessoria técnico-científica do Proqualis, abordou como os erros em diagnóstico ocorrem e quais os melhores caminhos para evitá-los. Os especialistas também entraram no contexto do diagnóstico relacionado à COVID-19.

Todos os anos, o Emergency Care Research Institute (ECRI) divulga uma lista com as prioridades para manutenção da segurança do paciente e, em 2020, atrasos e falhas no diagnóstico assumiram o topo do ranking como a principal preocupação. “A previsão é de que todos nós sofreremos ao menos uma vez na vida um atraso ou uma falha no diagnóstico de alguma patologia”, comentou Shcolnik baseado em dados publicados no relatório Improving Diagnosis in Health Care do Instituto de Medicina dos Estados Unidos.

Enfatizando que nem sempre a falha está relacionada à displicência dos profissionais de saúde, Shcolnik declarou que são diversos fatores que podem levar à raciocínios imprecisos. “Médicos são humanos, se deparam com casos clínicos e têm a função de diagnosticá-los, paralelamente temos pacientes com limitações que, por muitas vezes, não conseguem descrever com precisão seus sintomas e não sabem se comunicar adequadamente”, explicou sobre essa via de mão dupla na qual cada componente envolvido em todo o processo contribui para um cuidado de saúde satisfatório.

Complementando esse pensamento, Lucas Zambon, durante sua palestra, trouxe uma explicação prática sobre o raciocínio do profissional médico. “Temos duas formas de pensar e a mais rápida e intuitiva delas chamamos de heurística, que representa os nossos gatilhos, percepções e decisões ágeis. O lado ruim desse raciocínio é que nem sempre ele nos leva a conclusões corretas”, esclareceu antes de apresentar todos os vieses cognitivos à que o médico está exposto.

O presidente da Abramed também falou sobre os conceitos de overuse e underuse que por tantas vezes permeiam os debates do setor e apresentou um estudo sobre o cenário de testes laboratoriais inadequados que afirma que, em média, as evidências disponíveis sugerem que a subutilização é mais prevalente do que a superutilização (44,8% versus 20,6%). “Existem situações que temos os exames disponíveis para diagnóstico e eles deixam de ser utilizados por diversas razões que podem ser a falta de cobertura do plano de saúde, a falta de acesso daquele cidadão ao teste e até o desconhecimento do médico”, esclareceu.

Diagnóstico na pandemia de COVID-19

A relevância do diagnóstico nas infecções causadas pelo novo coronavírus não ficou de fora do debate. Para Wilson Shcolnik, da Abramed, em um cenário de pandemia na qual a infecção traz sintomas em sua maioria comuns, é natural que o médico ao receber um paciente com febre e tosse logo imagine que se trata de um caso de COVID-19. Porém as outras patologias – e os outros sintomas – não devem ser descartados.

O presidente, que é médico patologista, aproveitou para enfatizar conceitos laboratoriais que devem sempre ser compreendidos para a melhor escolha diagnóstica. Além de explicar o que é a sensibilidade e a especificidade de um teste, ou seja, a probabilidade daquele teste dar falso negativo e falso positivo, Shcolnik falou sobre o valor preditivo.

“O conceito de valor preditivo positivo e preditivo negativo traz um novo ator para a interpretação dos exames chamado de prevalência da doença na população”, disse ao explicar que quanto maior a prevalência e maior a especificidade, maior o valor preditivo positivo, cenário que estamos vivendo no atual momento da pandemia no Brasil onde a curva de contaminação segue alta em muitas regiões.

Shcolnik também aproveitou a oportunidade para reforçar que o teste molecular RT-PCR, que detecta o RNA do novo coronavírus nas amostras nasofaríngeas dos pacientes, segue como o padrão ouro para diagnóstico da COVID-19 e que resultados falsos negativos nesse exame estão normalmente atrelados à baixa qualidade da amostra que pode ter sido colhida de forma inapropriada, mal manipulada ou mal transportada. “Swabs que não forem bem conservados, ou seja, que não estejam refrigerados ou, após 72h da coleta, congelados, podem gerar resultados falso negativos”, pontuou.

Na sequência, ao explicar sobre os exames sorológicos, Shcolnik apresentou um estudo do The British Medical Journal que aponta como os métodos sorológicos têm diferenças significativas de sensibilidade e especificidade. A publicação analisou 24.842 exames e compara três metodologias sorológicas: ELISA, LFIA (que envolve os testes rápidos) e Quimioluminescência.

Em pacientes comprovadamente infectados com o novo coronavírus e submetidos à testagem sorológica, o resultado mais confiável foi o obtido através da quimioluminescência, diante do qual 98% dos resultados foram corretos. Já o método ELISA apontou anticorpos em 84% dos testes e a metodologia LFIA, dos testes rápidos, conseguiu identificar anticorpos em apenas 66% dos pacientes que já tinham sido infectados.

Relembrando que alguns países europeus já deixaram de recomendar os testes rápidos como alternativa de diagnóstico durante a pandemia devido à sua alta variabilidade, o executivo mencionou que no Brasil já tínhamos vivenciado uma experiência parecida com testes para detecção do HIV e que, para evitar repetição deste cenário no país, associações de medicina diagnóstica nacional se uniram à laboratórios privados em um projeto de validação de kits para COVID-19.

Shcolnik se referia ao Programa de Avaliação de Kits de Diagnóstico para Sars-Cov-2, uma iniciativa da Abramed em parceria com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) que utiliza as estruturas de grandes laboratórios nacionais para avaliar diversos kits de testes para COVID-19, disponibilizando os resultados no portal testecovid19.org.

Lidando com uma doença nova

Saindo do setor laboratorial para tratar do diagnóstico clínico, Lucas Zambon, do IBSP, reforçou que o cenário de crise intensifica percepções equivocadas por parte dos especialistas. “Temos uma doença nova entrando na mente do médico. Porém, junto com ela, há um gap de informação, a pressão do tempo e o medo da contaminação, fatores que levam o profissional a tentar agir de forma muito ágil”, declarou.

Para o especialista, o diagnóstico clínico da COVID-19 encara dois tipos de erros principais: o erro por desconhecimento da doença, que ocorria principalmente no início da pandemia, e o erro por conta de apresentações atípicas da patologia como, por exemplo, indivíduos com ausência de sintomas respiratórios porém com anosmia e sintomas do trato gastrointestinal, além de possível AVC ou embolia pulmonar.

Por ser uma doença nova, a falta de compreensão que ainda persiste sobre o comportamento do novo coronavírus no organismo humano também impacta a interpretação dos exames. Para Shcolnik o momento é crítico. “Há pessoas que fazem o RT-PCR uma semana antes de apresentar sintomas e o resultado já é positivo. Além disso, existem indivíduos nos quais o exame molecular segue com positividade até dois meses após a sintomatologia. E ainda não temos certeza do que isso representa, se essa pessoa ainda está com o vírus replicando, o que seria uma ideia de transmissibilidade, ou se ela apenas tem partículas não replicantes”, detalhou.

Zambon finalizou o webinar enfatizando que a figura do médico representa duas atividades principais: diagnosticar e propor uma terapia. E que é importante reconhecer que os computadores e a inteligência artificial estão a cada dia mais presentes, otimizando as análises e trabalhando em prol da segurança do paciente, afinal “os computadores vão ajudar os médicos a diagnosticar melhor, visto que é pouco provável que a máquina sofra com algum viés cognitivo”.

Clique AQUI para assistir ao webinar completo.

Em live com jornalistas, Abramed apresenta o papel da medicina diagnóstica frente à pandemia

Com especialistas do setor, Bootcamp Abramed de Jornalismo explicou as diferenças entre os testes e a relevância dos exames na retomada da economia

7 de julho de 2020

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) reuniu jornalistas para a segunda edição do Bootcamp Abramed de Jornalismo em Saúde. O evento contou com a apresentação de especialistas do ramo de medicina diagnóstica que reforçaram a importância do segmento no combate ao novo coronavírus e as expectativas para a retomada da economia.

Moderado por Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, e com a presença de Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade, o Bootcamp recebeu Cristóvão Mangueira, diretor médico do departamento de patologia clínica e anatomia patológica do Hospital Israelita Albert Einstein; Gustavo Campana, diretor-médico da Dasa; Roberta Paulikevis, gerente-executiva médica da BP Medicina Diagnóstica; Rafael Jácomo, diretor-técnico do Sabin Medicina Diagnóstica; Alessandro Ferreira, VP do Hermes Pardini; e Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed e diretor comercial da Alliar Médicos à Frente.

Confira detalhes sobre os principais tópicos abordados:

RT-PCR e testes sorológicos

No primeiro módulo com o tema “RT-PCR e testes sorológicos. Qual o próximo passo para o Diagnóstico da Covid-19” foram apresentadas as diferenças entre as metodologias diagnósticas atualmente disponíveis para detecção do novo coronavírus. Antes de esclarecer quais as aplicações corretas de cada metodologia, Gustavo Campana, da Dasa, mostrou a dinâmica de contágio do novo coronavírus e a janela imunológica, esclarecendo dúvidas sobre como o vírus atua no organismo humano, quais são as formas de identificá-lo, e quando o corpo começa a produzir anticorpos.

O especialista também explicou o que significam sensibilidade e especificidade, termos tão utilizados na avaliação dos testes de COVID-19 para apontar se esses exames são confiáveis. Segundo Campana, a sensibilidade é a probabilidade de o exame dar positivo em um indivíduo infectado; e a especificidade é a probabilidade de o exame dar negativo em um indivíduo saudável. Com isso é possível mensurar a confiabilidade e entender quais as chances daquela metodologia gerar resultados falsos tanto positivo quanto negativo.

“Se temos um teste com 80% de sensibilidade, sabemos que há 20% de chance daquele resultado ser um falso negativo. Se a especificidade é de 98%, sabemos que há 2% de chance daquele exame dar um resultado falso positivo”, esclareceu enfatizando que esses indicadores não são usados apenas para diagnóstico de COVID-19, são parâmetros comuns a quaisquer exames laboratoriais.

Na sequência, Cristóvão Mangueira, do Hospital Albert Einstein, complementou a apresentação de Campana ao reforçar que tanto o RT-PCR, apontado como padrão ouro para diagnóstico da COVID-19, quanto os testes sorológicos exigem capacidade técnica para coleta e processamento das amostras. “Existem fatores pré-analíticos que podem afetar os resultados dos testes de RT-PCR como, por exemplo, coletas muito precoces ou muito tardias; diferentes sítios de coleta; diluição das amostras; técnica pouco apurada; e a estabilidade das amostras que devem ser mantidas refrigeradas somente por 72h, depois desse tempo é preciso congelá-las”, disse.

Ao tratar sobre os testes sorológicos, Mangueira enfatizou a percepção de que os testes rápidos são pouco confiáveis e esclareceu que a maioria dos laboratórios está optando, agora, por testes sorológicos de anticorpos totais que se mostraram mais eficientes e confiáveis. Houve menção, também, ao Programa de Avaliação de Kits para Coronavírus, uma iniciativa da Abramed, da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) junto a uma rede de laboratórios para validação dos testes para COVID-19. Os resultados dessas avaliações estão disponíveis em https://testecovid19.org/.

Retomada econômica

Reforçando que o amplo desejo por testes de diagnóstico de COVID-19 volta com força nesse momento de retomada econômica, Rafael Jácomo, do Sabin, iniciou o segundo módulo com o tema “O papel do diagnóstico na retomada das atividades pós-pandemia” enfatizando que em nenhum contexto a ciência utiliza teste sorológico para detecção de infecções virais respiratórias, como é o caso da COVID-19. Para ele, as empresas que estão retornando às atividades devem investir em medidas de distanciamento social e em comunicação transparente com seus clientes e colaboradores.  

“A empresa que quer ter um retorno saudável e tranquilo tem que estar preocupada com as expectativas dos seus colaboradores. As proteções individuais e coletivas não devem ser extintas em nenhum contexto de testagem. Mesmo que uma pessoa tenha confirmado o diagnóstico por meio do RT-PCR, deve seguir com as medidas de prevenção”, disse reforçando que a imunidade adquirida após a infecção pelo novo coronavírus ainda não é tão conhecida e que os cientistas não puderam, até o momento, confirmar que uma vez infectada, essa pessoa não volta a ser vulnerável. O especialista também informou que não há teste errado, mas sim um teste correto para cada momento.

Contribuindo com o debate sobre o papel do diagnóstico na retomada da economia, Roberta Paulikevis, da BP Medicina Diagnóstica, enfatizou que mesmo que haja um processo de ampliação da testagem, é preciso saber interpretar esses resultados. “Não adianta fazer o exame e não saber conduzir essas pessoas posteriormente. Há casos em que há o resultado positivo e o gestor não sabe se deve testar de novo esse indivíduo, depois de quanto tempo repetir o exame”, comentou. Segundo Roberta, não há uma fórmula exata. “A melhor estratégia depende do objetivo de cada instituição. São diversas as regras e não há uma matemática que oriente todos de uma única forma”, finalizou.

Impacto do diagnóstico tardio

O terceiro e último módulo com o tema “Os exames que ficaram para trás. O Impacto do diagnóstico tardio no paciente e no sistema”, teve a participação de Alessandro Ferreira, do Hermes Pardini, e Leandro Figueira, da Abramed, para tratar sobre outra crise gerada pela pandemia do novo coronavírus: a de doenças negligenciadas pela COVID-19. “Teremos esse problema no pós-pandemia. A redução das consultas, das cirurgias e dos exames diagnósticos, inclusive para controle e acompanhamento de várias doenças, provavelmente está piorando, desde março, a condição de saúde de alguns pacientes”, pontuou Ferreira.

Para o executivo, essa bolha criada pela retenção de procedimentos ao longo dos últimos meses gerará uma grande pressão tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na rede privada.  Principalmente pois, como destaca Ferreira, é possível observar um novo comportamento global que reforçará problemas futuros de saúde. “Temos notícias do crescimento do tabagismo, do aumento do consumo de álcool e de ganho de peso considerável durante essa fase de distanciamento social. E essas três condições agravam grande parte das patologias já adquiridas”, esclareceu.

Em concordância com o que vinha sendo debatido, Leandro Figueira mostrou a preocupação da Abramed frente a esse cenário. “Essa conta vai chegar e o agravamento da crise assistencial no Brasil levará a um adoecimento populacional. São três meses de paralisação que geram sequelas por anos”, disse. Segundo Figueira, as publicações internacionais ainda não conseguiram balizar o impacto negativo da falta de atendimento à outras doenças durante a pandemia, mas alguns dados podem mostrar a gravidade da situação: em São Paulo (SP) houve queda de 90% no número de exames de anatomia patológica realizados, procedimentos normalmente responsáveis por concretizar o diagnóstico dos principais tumores.

Figueira reforçou a importância da mídia e do jornalismo em saúde na escalada de forças para o combate à crise. “Os meios de comunicação são vitais. Precisamos orientar as pessoas a retomar o controle da saúde”, pontuou.

Encerrando o Bootcamp, Wilson Shcolnik mencionou o protagonismo do setor neste primeiro semestre. “O diagnóstico vive um momento especial dentro do cuidado com a saúde. Como podemos ver, temos um enorme arsenal para diagnosticar e combater diversas doenças”, declarou o presidente do Conselho de Administração da Abramed ao agradecer a presença de todos e a explanação dos palestrantes.

Telemedicina exige regras para garantir atendimento e segurança dos dados

Ética e compliance minimizam riscos à confiabilidade das informações

7 de julho de 2020

Não é de hoje que a medicina e a tecnologia são aliadas na busca por uma maior eficiência nos serviços de saúde. Nesse contexto, surgiu a telemedicina, altamente relevante e que vem se tornando uma ferramenta importante na rotina de profissionais de saúde, clínicas, laboratórios e hospitais.

No Brasil, a telemedicina já vinha sendo discutida há algum tempo e, agora, em razão da pandemia do novo coronavírus, ganhou maior destaque. “Há muitas discussões sobre o tema e muitas dúvidas, entre elas a questão da ética, a forma de garantia da segurança das informações no atendimento e na tomada das decisões”, comenta Leandro César dos Santos, coordenador da área Corporate do Escritório Machado Nunes Advogados e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).  

Com a chegada do novo coronavírus ao Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM), em 19 de março, reconheceu a relevância da telemedicina como recurso assistencial que permite resguardar a saúde de médicos e de pacientes, contribuindo para minimizar o contágio durante a pandemia de Covid-19.

No ofício nº 1.756/2020, encaminhado ao Ministério da Saúde (MS), o CFM informou sua decisão de reconhecer a possibilidade e a eticidade de uso da telemedicina no país, além do que já estabelecia na sua resolução nº 1.643/2002, que continua em vigor, admitindo o desempenho da medicina a distância em três modalidades: teleorientação, que permite os médicos realizarem, a distância, a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento; telemonitoramento, para o monitoramento remoto de parâmetros de saúde e/ou doença; e teleinterconsulta, para a troca de informações e opiniões entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico.

O posicionamento do CFM não alterou as normas do órgão que já admitiam e disciplinavam a prática da telerradiologia e telepatologia.

Entretanto, o CFM não incluiu, no ofício emitido, menção à possibilidade da realização de teleconsulta, permanecendo o definido no artigo 37 do Código de Ética Médica, que impede a prescrição de tratamento e outros procedimentos sem o exame direto do paciente, ressalvados os casos de urgência ou emergência nos quais a realização de exame físico se faça impossível.

Para resolver essa questão, o MS, por intermédio de ato normativo próprio, autorizou e disciplinou o uso da telemedicina no sistema de saúde brasileiro enquanto durar a pandemia. A portaria n° 467/2020, de 20 de março, foi mais abrangente, ampliando as possiblidades de emprego da telemedicina no atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico, no âmbito do SUS, bem como na saúde suplementar e privada, por meio de tecnologia que garanta a integridade, segurança e o sigilo das informações geradas em razão do atendimento prestado. A norma admite ainda a emissão de receitas e atestados médicos por meio eletrônico.

Consagrando o disposto na portaria do MS, foi publicada a lei nº 13.989/2020, de 15 de abril, que, considerando o cenário de emergência em saúde pública, autorizou o uso da telemedicina enquanto durar a crise ocasionada pelo novo coronavírus.

Segurança de dados

O uso da telemedicina se faz altamente relevante, ainda mais com o cenário atual de emergência em saúde pública, em que o distanciamento social precisa ser praticado. Porém, Santos ressalta que as empresas precisam estar atentas ao cumprimento dos padrões éticos na prática do teleatendimento e seguir a normatização estabelecida, inclusive para a emissão de laudos a distância, bem como implementar ações para resguardar de forma absoluta o sigilo médico. “Há cuidados que precisam ser tomados para manter a segurança das ações de telemedicina, principalmente no que diz respeito à transmissão e armazenamento de dados do paciente. E, antes de tudo, é preciso contar com uma infraestrutura tecnológica adequada, confiável e que garanta a proteção e sigilo dessas informações”, afirma.  

Tal alerta se faz necessário porque os riscos existem. Desde o compartilhamento indevido de dados de pacientes, dos exames de imagens, além da questão da segurança da informação e, até mesmo, a atuação de hackers. “Pela lei, os médicos, as clínicas e laboratórios, assim como os demais estabelecimentos de saúde devem informar ao paciente todas as limitações sobre o uso da telemedicina e seguir os mesmos padrões normativos e éticos do atendimento presencial”, destaca o advogado.

Para isso, é importante monitorar as etapas realizadas e o controle de acesso dos usuários por meio de senhas individuais e conteúdo restrito, de forma a garantir o sigilo das informações transmitidas. Os exames têm de receber assinatura digital de todos os profissionais envolvidos na sua realização, desde sua execução até a emissão do respectivo laudo. “Isso garante mais segurança ao paciente sobre o serviço que está sendo prestado”, garante Santos.

Para minimizar os riscos na prática da telemedicina e proporcionar a proteção dos dados dos pacientes para que atendam os pilares da segurança da informação, é importante se pautar na confidencialidade, para garantir o acesso aos dados exclusivamente por pessoas previamente autorizadas; integridade, que permita certificar a inviolabilidade das informações; disponibilidade, para dispor os dados para quem for previamente autorizado, levando-se em consideração os princípios inerentes da assinatura digital, como: autenticidade, irretratabilidade e conformidade.

Todos esses conceitos ganham importância ainda maior com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), nº 13.709/18, que entra em vigor em maio de 2021. As disposições contidas na lei, especificamente referente à área da saúde, deverão ser observadas também no uso da telemedicina, pois essas informações só poderão ser coletadas, tratadas e armazenadas após a autorização do paciente.

O advogado destaca ser importante que o paciente seja informado e esteja ciente que a realização de exames está limitada ao diagnóstico que o médico entender ser adequado à distância. “A decisão deve ser sempre a que garanta mais segurança ao paciente e qualidade do serviço que está sendo prestado.”

Ética e compliance

A ética é um dos pilares mais importantes dentro dos serviços de saúde, sejam eles presenciais ou remotos. É neste ponto que o advogado e membro do GEC da Abramed orienta que os laboratórios devem rever os contratos com laboratórios parceiros, a fim de prever e endurecer a questão da confidencialidade e compartilhamento de dados. “É muito importante a gestão de terceiros – conforme definição da Lei Anticorrupção (12.846/2013), pessoas físicas ou jurídicas que podem agir em benefício de uma organização e, por conseguinte, gerar responsabilidades legais e éticas às empresas contratantes. Por esse motivo, muitos estabelecimentos de saúde estão adotando políticas de compliance”, ressalta.

Outra maneira de garantir a confiabilidade e segurança dos dados é a realização de due diligence com o laboratório parceiro, a fim de se precaver em eventual compartilhamento das informações. “A realização de uma due diligence ainda que simplificada ou de um background check em relação a uma pessoa física ou jurídica para que a organização saiba com quem está se relacionando ou pretende se relacionar é adequada e não é apenas ‘legal’, mas também ‘recomendada’ pelo ordenamento jurídico brasileiro. Dessa forma, com conhecimento prévio das práticas realizadas, caso o laboratório processador seja questionado no futuro, terá a prova de que tomou o cuidado e a diligência necessária para saber com quem estava se relacionando”, alerta Santos.

O fato é que embora a autorização para o uso amplo da telemedicina vigora apenas durante a pandemia de Covid-19, em caráter excepcional e temporário, as ações de telemedicina em todo território nacional parece ter, até agora, apenas um consenso entre os profissionais e estabelecimentos de saúde: dificilmente o atendimento voltará a ser como antes da crise sanitária depois de se testar as facilidades do atendimento remoto. Na visão de Leandro César dos Santos, para o setor de medicina diagnóstica que já vinha atuando com o serviço a distância, é um caminho sem volta.  “Ainda podemos avançar, e muito, rumo à eficiência e qualidade do atendimento e do diagnóstico, ainda mais porque a tecnologia não retroage, principalmente na área médica. É usar isso em benefício do paciente”, conclui.

Saúde pode aprimorar eficiência dos sistemas com comunicação mais eficaz entre os players

Dificuldades com interoperabilidade de informações podem levar à desperdício

6 de julho de 2020

País continental com quase 210 milhões de habitantes, o Brasil vem desenvolvendo – desde a construção do SUS há três décadas – um sistema de saúde extremamente complexo e que, para atender aos princípios de universalidade, conta com a união dos serviços público e privado. Durante a pandemia do novo coronavírus, a importância de o país investir no fortalecimento dessa estrutura ganhou ainda mais destaque nos debates entre os líderes do segmento.

Uma das dificuldades enfrentadas no setor diz respeito à entraves no diálogo entre os diversos atores da cadeia de saúde. Hoje, sistema público e agentes externos que são indispensáveis para o bom funcionamento das estruturas – entre eles as instituições privadas que atuam pela saúde suplementar no atendimento à aproximadamente 22% da população – sofrem com carências para uma boa comunicação entre as partes.

Conforme mencionado por Fábio Cunha, diretor da câmara jurídica da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e diretor jurídico do Grupo Dasa, e por Roberta de Morais, do Milaré Advogados, em artigo recentemente publicado no jornal Valor Econômico, para que haja a integralidade da assistência, ou seja, um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos em todos os níveis bem como a organização dos serviços orientada para evitar duplicidade de meios na busca por fins idênticos, é preciso aprimorar essa interlocução entre público e privado.

“Este conjunto de ações e serviços preventivos e curativos que compreendem a assistência terapêutica integral incorpora desde os mais preliminares diagnósticos, perpassando pelos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas, até a aplicação de medidas de controle e verificação de resultados. No entanto, a agregação entre tais elementos somente se mostra possível por meio de um mecanismo eficiente de comunicação compartilhada sobre o paciente”, dizia o artigo que você pode acessar na íntegra clicando AQUI.

Hoje o que vemos são dois mundos que não conversam. Quando um cidadão conta com um plano de saúde e, por meio dele, realiza toda a sua assistência, seu histórico clínico não fica disponível para o sistema público. E caso ele faça seus atendimentos no SUS, a rede privada também não tem acesso às suas informações. Dessa forma, é natural que haja um desperdício por conta da repetição de procedimentos que não puderam ser acessados pela outra vertente que compõe o sistema.

Muitas dessas dificuldades estão embasadas na tecnologia, como tem sido possível observar durante a pandemia de COVID-19. Na crise, os testes para diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus assumiram papel fundamental na elaboração das estratégias de combate à disseminação do patógeno e a Abramed reforçou que é conduta de seus laboratórios clínicos associados cumprir as diretrizes da Portaria 204/2016 que, ao definir a lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública, obriga que todos os exames para COVID-19 sejam notificados periodicamente às vigilâncias sanitárias municipais.

Devido à dificuldades de acesso às informações atualizadas – o que mostra também mais um entrave no âmbito da interoperabilidade de informações – a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS-MS) solicitou a contribuição da Abramed para que as empresas associadas também notifiquem os resultados diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (DATASUS).

Assim, reconhecendo a importância desse intercâmbio de informações, o setor privado de medicina diagnóstica se colocou à disposição, porém vem enfrentando questões técnicas relacionadas à tecnologia da informação para que a notificação direta ao DATASUS seja feita de forma efetiva.

Webinar aborda os próximos passos para testagem de COVID-19

Moderado por Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, encontro virtual promovido pela Saúde Business contou com executivos da Dasa, do Fleury e da Seegene

02 de julho de 2020

Os testes para diagnóstico da COVID-19 seguem como pauta constante dos debates em saúde por fundamentarem as estratégias para controle da pandemia no mundo. A fim de esclarecer um pouco mais o atual cenário do Brasil, a Saúde Business, da Informa Markets, realizou o webinar “Medicina Diagnóstica e os próximos passos em testagem”. Com moderação de Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o encontro virtual recebeu Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa; Guilherme Ambar, diretor da Seegene, líder mundial em diagnóstico molecular; e Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios do Grupo Fleury.

Para Priscilla, o setor de medicina diagnóstica tem se mostrado protagonista nesta crise de saúde. “Muitas vezes fomos negligenciados como parte do sistema e, agora, a pandemia colocou um holofote sobre o segmento de diagnóstico e todos, inclusive a população geral, conseguem enxergar nosso valor”, declarou.

A executiva também reforçou que a ampliação do diálogo entre todos os atores da complexa cadeia de saúde ficará como um legado positivo da crise. “Essa foi a primeira vez que eu vi, realmente, um movimento para que juntos pudéssemos propor uma solução rápida que enxergasse que a engrenagem precisa continuar rodando e que o desfalque de um elo a faz paralisar”, relatou.

A relevância desse diálogo aberto mencionada por Priscilla durante o webinar, ficou clara na fala de Ambar ao apontar alguns dos principais desafios da Seegene para distribuir os kits de testes RT-PCR pelo país. “Ficou aparente que o Brasil não tem produção nacional de produtos e insumos para a medicina diagnóstica, sendo totalmente dependente das importações. Mesmo os laboratórios que tinham suas soluções desenvolvidas in house careciam de insumos importados”, pontuou sobre a corrida internacional por kits de diagnóstico que desencadeou uma escassez em todos os continentes. “Quando os insumos começaram faltar fomos atrás de parceiros no Brasil que pudessem nos fornecer esses insumos. E, assim, fomos validando novos produtos”, complementou.

Segundo Ambar a demanda brasileira, com quase 210 milhões de habitantes, foi tão relevante na cadeia global que chegou a ser responsável por 50% das vendas da Seegene no globo. E, então, encontrar aliados para a produção foi estratégico. “Não vamos conseguir abraçar o mundo, então precisamos nos cercar de parceiros que possam nos auxiliar”, disse.

Um dos questionamentos feitos por Priscilla durante o debate foi como as empresas trabalharam para gerir esse momento inédito e inesperado. Para Gasparetto, da Dasa, a criação de um comitê de crise foi extremamente estratégica e relevante para que o grupo conseguisse vencer os desafios impostos pela pandemia.

“Criar esse comitê foi o que fez o jogo mudar. Montamos um time com muita sinergia para lidar com um cenário onde tudo muda o tempo todo e o que soa correto hoje, pode não ser mais amanhã. Por isso a necessidade de pessoas com bom senso de urgência”, declarou reforçando que nesse momento era importante ter, no comando, gestores que diante do medo não se retraiam, mas tomavam ações rápidas.

A tensão e o receio foram apontados, por Gasparetto, como alguns dos principais desafios enfrentados pela sua equipe. Para vencer o medo, a Dasa apostou em excelência técnica e em uma relação próxima e transparente com seus colaboradores e pacientes. “Ficou claro que o conhecimento técnico era muito importante e que somente por meio da conversa conseguíramos fazer a diferença”, disse.

O que há de novidades?

O Grupo Fleury anunciou recentemente uma nova metodologia para diagnóstico da COVID-19 na fase ativa, e Jeane aproveitou a oportunidade para explicar esse modelo de teste e suas vantagens diante dos outros formatos já em uso. Nomeado teste de proteômica e apresentado em 26 de maio, o exame é capaz de detectar a presença de proteína do vírus em amostras nasofaríngeas dos pacientes potencialmente infectados, sendo indicado para o início da contaminação, assim como o teste molecular RT-PCR que é o padrão ouro para diagnóstico da doença.

“A diferença do teste de proteômica é que enquanto o RNA do vírus, detectável pelo RT-PCR, vai degradando ao longo do tempo, a proteína tem mais estabilidade. Considerando que vivemos em um país continental onde as amostras são colhidas em uma região e analisadas em outra, essa estabilidade soa importante pois conseguimos os mesmos resultados em amostras advindas de diferentes locais sem a necessidade da conservação em gelo seco”, explicou a executiva.

Essa busca constante por melhorias e por tecnologias que ampliam o acesso da população aos exames de diagnóstico da COVID-19 também tem sido uma preocupação da Seegene. Segundo Ambar, a marca conseguiu trabalhar os kits de RT-PCR e, agora, conquistaram 72 horas de estabilidade do RNA do vírus mesmo em temperatura ambiente, o que facilita o transporte das amostras.

Capacidade de testagem nacional

Mesmo com todo o empenho, o Brasil ainda tem um dos piores índices de testagem no mundo. “A OMS diz que países que estão com uma testagem ampla devem ter a taxa de positividade mantida em 5%, o que significaria que estamos testando suficientemente a população. No Brasil, essa porcentagem chega a 36,6%, de acordo com detalhamento da John Hopkins University. Onde estamos errando?”, provocou a diretora-executiva da Abramed.

Para Jeane, do Grupo Fleury, há empatia e solidariedade no setor, que se mobiliza para aumentar a capacidade de testagem no país. “São iniciativas que, em conjunto, nos levarão a testar mais. Porém há políticas públicas e ações do Ministério da Saúde que precisam ser adequadamente endereçadas. Acredito cada vez mais que precisamos estar juntos buscando soluções”, declarou.

Gasparetto, da Dasa, acredita que as parcerias público-privadas (PPPs) são indispensáveis. “O Brasil é gigantesco e sabíamos que o comportamento do novo coronavírus seria diferente em cada região. A testagem é extremamente estratégica e o governo tem estrutura mínima para assumir o desafio da testagem em massa. Sem dúvidas essas parcerias serão necessárias. Não haverá testagem em grande volume se não forem as PPPs”, disse enfatizando que se refere ao exame padrão ouro e não aos testes rápidos que vêm apresentando baixa confiabilidade e grande número de resultados falso positivo e falso negativo.

O webinar promovido pela Saúde Business, da Informa Markets, está disponível em seu canal no Youtube. Clique AQUI para acessar.