Abramed integra nova gestão do Instituto Coalizão Saúde

Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Administração do ICOS, fala da importância da medicina diagnóstica como um dos pilares de sustentabilidade da assistência ao paciente

O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, agora integra o Conselho de Administração do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) – Gestão 2022-2025, entidade formada por representantes da cadeia produtiva do setor da saúde que tem um importante papel no fortalecimento de políticas e processos para melhorar o ecossistema de saúde no Brasil, promovendo discussões propositivas, trabalhando em inovações e soluções para os principais desafios e engajando toda a cadeia produtiva. O novo corpo diretivo, que inclui ainda os Conselhos Fiscal e Consultivo, foi eleito, em assembleia extraordinária, no final do mês de junho.

De forma inédita, criou-se o cargo de presidente institucional, para o qual foi indicado o ex-presidente do Conselho de Administração, Claudio Lottenberg, que segue contribuindo para a instituição, participando das reuniões do Conselho de Administração e atuando junto ao novo presidente, Giovanni Guido Cerri, na representatividade e multiplicação das propostas do ICOS.

“A Abramed é uma entidade relativamente jovem, e eu fiz parte da sua criação. Atualmente, a medicina diagnóstica é um dos pilares de sustentabilidade da assistência ao paciente, é um setor enorme e mostrou o seu valor na pandemia de covid-19, a sua importância na estratégia para diagnosticar e mostrar os caminhos para o atendimento aos pacientes, seja na área laboratorial, seja na radiologia. Trata-se de uma associação que representa um setor realmente estratégico na saúde. A Abramed está muito bem contemplada nesta diretoria. Wilson mostrou grande interesse em participar ativamente e trazer propostas dentro da nossa agenda ao longo dos próximos anos”, fala Cerri.

O presidente do Conselho de Administração do ICOS ressalta que, durante a pandemia, a Abramed teve participação muito importante na discussão de temas relevantes para contribuir no enfrentamento e no atendimento aos pacientes. Em diversas ocasiões, esteve com o ICOS para tratar sobre a relevância dos exames de diagnóstico. Cerri destaca os encontros que tiveram com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para evitar uma judicialização desnecessária.

“Discutimos essa pauta com o Ministério Público do Estado de São Paulo e também com o próprio Governo do Estado, sempre com a participação da Abramed, visando facilitar o acesso aos exames diagnósticos pela população em geral. A Abramed participou com o ICOS de diversas iniciativas importantes ao longo da pandemia, sempre com o intuito de garantir à população uma assistência ágil e um diagnóstico rápido da covid-19”, salienta Cerri.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Abramed, a nova gestão do ICOS marca uma nova fase para o Instituto, tendo à frente Giovanni Guido Cerri. “A Abramed está representada no Conselho de Administração do ICOS, agora com uma nova presidência, o professor Cerri, um radiologista bastante conhecido, com uma trajetória política muito relevante. Ele já foi Secretário de Saúde em São Paulo, é professor titular de Radiologia e Diagnóstico por Imagem na Universidade de São Paulo, e vem com novas ideias, entendendo que o ciclo passado não estava atendendo a muitos associados. Diante disso, ele pretende reverter esse quadro dando mais oportunidades e destaque a várias das entidades representadas ali. O ICOS tem uma importância política, que nós já evidenciamos a partir de vários encontros realizados, com acesso a muitas autoridades”, ressalta Shcolnik.

Gargalos na saúde

Cerri lembra o subfinanciamento do setor de saúde como um dos principais gargalos que inviabilizam o aumento do acesso. No sistema privado, o financiamento chega a 55%, porém reúne apenas 25% dos usuários, em contrapartida aos 75% dos pacientes que dependem, exclusivamente, do Sistema Único de Saúde (SUS). Como o Brasil é um país de renda per capita relativamente baixa, segundo o presidente do Conselho de Administração do ICOS, os investimentos do PIB em saúde acabam sendo insuficientes para atender de forma adequada a população.

“E o que temos que fazer? Temos que buscar, primeiro, que esses recursos sejam utilizados adequadamente, que não haja desperdício, e para isso a gestão é muito importante. A segunda questão é aprimorar o uso e a incorporação da tecnologia, que durante algumas décadas sempre representaram um impacto de aumento de custo e não contribuíram nessa equação de capacidade limitada de investimentos. Temos, atualmente, a saúde digital, por exemplo, que pode gerar redução de custos, melhoria de acesso e redução da desigualdade, levando especialistas para onde não existem, a fim de ajudar a regular o sistema, e permitir o acesso de populações em locais remotos, ou seja, a utilização da tecnologia é uma alavanca para essa redução de desigualdade e melhoria de acesso à saúde”, explica Cerri.

União para o fortalecimento do setor

Desde sua criação, em 2015, o ICOS assumiu o compromisso de ser uma instituição propositiva de políticas inovadoras para a saúde do país. Sua atuação ao longo desses sete anos tem sido pautada por grandes realizações, promovendo o diálogo com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em busca de soluções efetivas para os desafios do setor. O Instituto também atua juntamente com as organizações associadas, desenvolvendo conteúdos e publicando títulos fundamentais para entender e desenvolver os diferentes aspectos da cadeia produtiva de saúde e a realização de fóruns de discussão, sempre com a participação de acadêmicos, especialistas e grandes lideranças, congregando os diversos agentes do segmento.

“No ICOS, temos representantes do setor de medicina diagnóstica, dos hospitais, das operadoras, das indústrias farmacêutica e eletromédica, isto é, temos um universo do segmento produtivo de saúde, que, embora tenha seus embates, compreende a necessidade que temos de construir uma agenda estratégica de interesse comum, com assuntos prioritários, com ações que fortaleçam tanto o SUS como a saúde suplementar”, destaca Cerri.

Confira os nomes que compõem os conselhos do ICOS (2022-2025)

Conselho de Administração:

Presidente: Giovanni Guido Cerri (FFMUSP)

Vice-presidente: Claudia Alice Cohn (Dasa)

Elizabeth de Carvalhães (Interfarma)

Fernando Silveira Filho (Abimed)

Francisco Balestrin (Sindhosp)

Henrique S. S. Neves (Anahp)

Omar Abujamra Júnior (Unimed do Brasil)

Ruy Salvari Baumer (Sinaemo)

Wilson Shcolnik (Abramed)

Presidente institucional:

Claudio Luiz Lottenberg

Conselho Fiscal:

Mirócles Campos Veras Neto (CMB)

Nelson Augusto Mussolini (Sindusfarma)

Renato Casarotti (Abramge)

Conselho Consultivo:

Fernando Ganem (HSL)

Guilherme Freire (Sanofi)

Lídia Abdalla (Sabin)

Manoel Peres (Fenasaúde)

Sérgio Dilamar (Abraidi)

Sidney Klajner (Hospital Israelita Albert Einstein)

Diretora executiva:

Denise Eloi

Membros da gestão 2022 – 2025 dos Conselhos de Administração e Fiscal da Abramed foram apresentados durante o 6º FILIS

Wilson Shcolnik foi reconduzido à presidência do Conselho de Administração e Cesar Higa Nomura assumiu a vice-presidência. Conheça os demais conselheiros

Durante a sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), realizado em 24 e agosto, no Teatro Santander, em São Paulo, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) apresentou os membros que irão compor os Conselhos de Administração e Fiscal da entidade pelos próximos três anos. A eleição dos nomes ocorreu no mês de agosto, em Assembleia Geral Extraordinária. Wilson Shcolnik (Grupo Fleury) foi reeleito à presidência do Conselho de Administração e Cesar Higa Nomura (Hospital Sírio-Libanês), já integrante do Conselho na última gestão, assumiu a vice-presidência. Os demais membros nomeados são Ademar Paes Junior (Clínica Imagem), Carlos Figueiredo (Cura Grupo), Claudia Cohn (Dasa), Eliezer Silva (Hospital Israelita Albert Einstein) e Lídia Abdala (Grupo Sabin). O Conselho Fiscal da próxima gestão é formado por Caio Duarte (DMS Burnier), Guilherme Colares (Grupo Pardini) e Isadora Bittar (Lab Rede).

“Esse é um momento muito especial para a Abramed, de expansão, de implantação de conhecimento estratégico; um momento desafiador e rico do mercado. Temos a possibilidade de continuar a cumprir com nossa missão enquanto entidade empresarial setorial, defendendo sempre os interesses não apenas das empresas associadas, mas de todas que integram o segmento de medicina diagnóstica, promovendo acesso à saúde, ao tratamento e ao diagnóstico”, disse a diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano.

Na gestão anterior, a Abramed viu o seu segmento ser alçado a um protagonismo poucas vezes observado, dada a importância que os exames de diagnóstico tiveram na pandemia de covid-19, contribuindo para confirmar infecções agudas, proporcionar informações sobre a gravidade da doença, na identificação de variantes do vírus e na avaliação de resposta vacinal.

Houve, ainda, a capacitação de equipes, a adaptação da infraestrutura e dos processos e a inovação do drive thru. Os atendimentos domiciliares aumentaram e os pacientes que precisavam tratar outras doenças não foram abandonados. As empresas associadas à Abramed solidarizaram-se e muitas delas contribuíram com atendimento na área pública.

Shcolnik ressalta o apoio oferecido aos associados na interlocução com diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que muito contribuíram para a liberação de reagentes e de kits que proporcionaram a realização dos exames de covid-19; assim como os diálogos com diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que possibilitaram a incorporação dos exames de covid-19 no rol de cobertura obrigatória. Além disso, outros biomarcadores para monitoramento de gravidade da doença em doentes hospitalizados foram igualmente incorporados.

Em discurso no FILIS, o presidente mencionou a cooperação da entidade para possibilitar a transmissão de resultados de exames para a rede nacional de dados em saúde, possibilitando, dessa maneira, ao Ministério da Saúde monitorar epidemiologicamente o que se passava durante a pandemia.

“Fechamos um ciclo e agora temos de olhar para a frente, e acho que com esse time a Abramed vai conseguir cumprir a sua missão. Sabemos da importância do setor de medicina diagnóstica, tanto na promoção de saúde como na prevenção e no gerenciamento de doenças, e agora com a definição de tratamentos com a medicina personalizada. Somos conscientes da nossa importância para o segmento de saúde e temos um papel a desempenhar em nosso país”, completou Shcolnik após ser reconduzido à presidência do Conselho de Administração.

Novos membros

Pequenas mudanças foram feitas na composição da atual gestão, uma delas é a entrada do CEO do Cura grupo, Carlos Figueiredo, que descreve o novo desafio como uma “imensa responsabilidade”. Segundo ele, a Abramed conquistou o espaço para representatividade ao longo das últimas gestões, atuando na defesa do segmento de medicina diagnóstica e se consagrando no mercado de saúde; sua tarefa é contribuir naquilo que o time já vinha realizando.

Para Figueiredo, a pandemia foi um momento muito importante para o setor, mas continuamente a medicina diagnóstica tem novos desafios surgindo. O papel da Abramed é exatamente estar atento na defesa do setor, fazendo advocacy e representação, buscando fortalecimento das empresas associadas e reconhecimento junto a todas as esferas legislativas e executivas, assim como movendo ações quando necessárias, inclusive junto a entidades congêneres.

Ele considera a Abramed um projeto vencedor para o qual pode contribuir com sua expertise no setor de regulação. Ele atuou na ANS durante oito anos como servidor público federal e conhece, portanto, intimamente o processo regulatório de elaboração de normas e câmaras técnicas.

“A minha trajetória profissional me possibilita apoiar a Abramed no fortalecimento e desenvolvimento de tudo o que ela vem fazendo até agora. Obviamente ninguém faz nada sozinho. Esse é um trabalho de equipe, todo mundo está engajado nessa jornada, no entanto estou à disposição e muito animado para contribuir com todos os projetos da Associação”, comemora o CEO do Cura grupo.

Para o atual Conselho Fiscal da Abramed, juntam-se ao grupo a presidente do Conselho de Administração do Lab Rede, Isadora Bittar, e o diretor-executivo do Laboratório DMS Burnier, Caio Duarte.

Para Isadora, é uma honra fazer parte do Conselho Fiscal da Abramed. Ela conta que o Lab Rede tem em seu DNA laboratórios de médio e pequeno porte, então estar no Conselho garante representatividade interna. Isso se soma ao propósito de avançar para o amadurecimento das boas práticas de governança e, consequentemente, maior diversidade empresarial na representatividade da entidade. Sobre o momento atual da medicina diagnóstica, especialmente no pós-pandemia de covid-19, a executiva faz apontamentos.

“Na minha leitura, o momento requer adaptabilidade, flexibilidade e visão inovadora por parte dos empresários, mas sem perder o DNA e lastro assistencial que o caracteriza. O protagonismo e a importância da medicina diagnóstica foram reconhecidos, mas é preciso fortalecer esse espaço/reconhecimento. É certo que os desafios se estendem desde os setoriais até os mais genéricos e macroeconômicos. Mas a vivência, a natureza, o protagonismo e o grau de exposição variam de acordo com o porte, a região e a localidade da empresa. Não dá para medir com a mesma régua a intensidade e complexidade dos desafios, mas isso certamente traz à tona uma necessidade pujante para rever estratégias corporativas e novos modelos de parcerias funcionais”, sentencia Isadora.

Duarte também cita a honra e responsabilidade em fazer parte do Conselho Fiscal da Abramed, especialmente pelo crescimento e pela notória relevância que a entidade vem conquistando. “Faço parte de uma organização de médio porte do interior de São Paulo, esse fato demonstra que a constituição do Conselho é um ato democrático, não tendo como influência o porte da empresa”, afirma diretor-executivo do Laboratório DMS Burnier.

Isadora ressalta que o Conselho Fiscal é, por natureza, um órgão que visa garantir a integridade das boas práticas, a transparência e o controle dos atos internos. E, acima de tudo, garantir a representatividade. Obviamente, a sua plenitude funcional acompanha uma curva de amadurecimento da governança. Isadora almeja somar, junto aos demais membros, para que esse propósito seja alcançado.

“A missão do Conselho Fiscal não é só analisar relatórios da administração da entidade, mas também propor melhorias em prol do bom andamento da Abramed. Entendo que temos o papel de sermos divulgadores da nossa Associação”, complementa Duarte.

Segundo ele, a pandemia acelerou as operações de M&A (mergers and acquisitions, ou fusões e aquisições, em português), tornando o setor ainda mais concentrado em poucos players. Enquanto o volume de exames covid-19 estava alto, as empresas estavam gerando caixa, mas, a partir do momento em que houve uma queda acentuada, as organizações começaram a sentir o efeito negativo da crise. De modo geral, os custos subiram acima da inflação e as receitas dos exames recorrentes não foram ajustadas pelas operadoras. O resultado foi a compressão de margem, o que pressionou os empresários de médio e pequeno porte a buscarem uma saída via M&A.

Sobre perspectivas e tendências da medicina diagnóstica, Duarte fala que o setor será cada vez mais concentrado em poucos players, empresas de médio e pequeno porte serão raras no mercado. O modelo one stop shop estará cada vez mais presente e necessário para atender às necessidades dos clientes, assim como os processos serão cada vez mais automatizados e rápidos, agregando valor para a experiência do paciente nos postos de coleta.

“A mudança no formato de remuneração das operadoras para os prestadores de serviços será um dos pontos cruciais para o controle de sinistralidade. Verticalização de grandes grupos, mas também o desaparecimento de grupos já verticalizados, comprovando que essa estratégia não é tão simples como pensam. Exames cada vez mais voltados a cada indivíduo irão tornar a medicina de precisão algo mais acessível”, revela Duarte.

Conselho de Administração – Gestão 2022 – 2025

Presidente

Wilson Shcolnik – Grupo Fleury

Vice-presidente

Cesar Higa Nomura – Hospital Sírio-Libanês

Ademar Paes Junior – Clínica Imagem

Carlos Figueiredo – Cura Grupo

Claudia Cohn – Dasa

Eliezer Silva – Hospital Israelita Albert Einstein

Lídia Abdalla – Grupo Sabin

Conselho Fiscal – Gestão 2022 – 2025

Caio Duarte – DMS Burnier

Guilherme Colares – Grupo Pardini

Isadora Bittar – Lab Rede

Painel Abramed no CBR22 promoveu debate sobre tendências do mercado de saúde

LGPD, desafio populacional e tecnologias foram temas abordados por representantes do setor de radiologia durante congresso

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participou do 51º Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR22), que aconteceu de 1º a 3 de setembro, em Florianópolis, SC. Além de estar presente com um estande institucional, a entidade promoveu, no último dia do evento, o painel “Tendências do Mercado de Saúde”, que fez parte da programação do I Simpósio de Qualidade e Gestão de Clínicas do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).

Participaram do debate Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed e presidente da Clínica Imagem; Valdair Francisco Muglia, presidente do CBR; Marcos Queiroz, diretor suplente do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein; e Marcelo Rodrigues de Abreu, diretor do SIR – Serviço Integrado de Radiologia. A moderação foi de Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, e de Luiz Ronan Souza, diretor do CBR.

Paes Junior iniciou com um panorama da saúde no Brasil, mostrando que estamos passando pelo fim do bônus demográfico, ou seja, até 2020 a população dependente era menor do que a ativa, período que proporciona ao país crescer, gerar riqueza e estruturar os serviços de saúde e a previdência, já que mais pessoas no mercado de trabalho geram mais tributos para financiar tanto o SUS quanto a saúde suplementar. “Agora, a população dependente está voltando a crescer, especialmente devido ao aumento da idade média, e o mercado não tem indicado tendência de conseguir absorver essa população com mais idade”, expôs. 

Segundo Paes Junior, o grande problema da saúde brasileira é a despesa per capta em dólar por poder de qualidade de compra. O valor é muito baixo comparado com os investimentos em saúde. “Se quisermos ser um país desenvolvido, precisamos aumentar o investimento e a participação no PIB para 16%, que hoje é de 9,6%. É importante contar com esforços públicos e privados para estimular esse movimento”, disse, acrescentando que o mercado de saúde é favorável em termos de fluxo de capital, o que é uma tendência para seu crescimento e desenvolvimento. 

Os principais desafios enfrentados no setor hoje no Brasil são: envelhecimento da população, aumento dos custos acima da inflação, regulação complexa e judicialização, fatores que levam ao aumento da taxa de sinistralidade e a uma menor rentabilidade do negócio, por isso é fundamental pensar em soluções para mitigar esses problemas. “Embora tenhamos muitos desafios, o setor da saúde tem as maiores possibilidades de ser protagonista dentro da economia”, disse Paes Junior.

Uma das soluções para vencer esses desafios é usar a tecnologia, que pode ser dividida em três grupos: saúde digital (realidade virtual, robótica, telemedicina e wearables), saúde de precisão (com grande destaque para a biologia molecular) e big data & analytics (machine learning, inteligência artificial e blockchain). A adoção dessas ferramentas conduz à melhoria da performance do sistema. 

Por sua vez, Milva salientou a questão da geração de dados de saúde fora dos hospitais e centros médicos, por meio de aplicativos e softwares que monitoram o indivíduo o tempo todo. “Na última pesquisa com associados da Abramed, dois itens chamaram a atenção: aumento expressivo no número de aplicativos utilizados pelos pacientes e aumento dos softwares de gerenciamento. Qual é o impacto dessa tecnologia e da inteligência artificial tanto na jornada do paciente quanto para o prestador de serviço?”, questionou.

Queiroz vê com bons olhos esse movimento, pois as pessoas estão se colocando como protagonistas do seu cuidado à saúde, fazendo o próprio gerenciamento. “Elas estão se sentindo mais empoderadas, sem esperar que um terceiro faça isso por elas. Na pandemia, inclusive, o número de usuários de planos de saúde aumentou, o inverso do que se esperava”, comentou.

Já Abreu lembrou que o desperdício de dinheiro é o principal problema da saúde mundial e, portanto, a coleta de dados tem grande benefício financeiro ao colaborar para a prevenção de doenças, evitando gastos com tratamentos para casos já avançados. “Os planos de saúde estão de olho nos aplicativos e bancos de dados, pois querem reduzir os custos de qualquer forma. Nós que somos médicos, sabemos que há muito desperdício no setor, com cirurgias e exames desnecessários, mas é preciso tomar cuidado com o vazamento de dados”, disse. 

Neste tópico, entrou em discussão a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), cujo objetivo é proteger a sociedade, como ressaltou Muglia. “Pode ser que uma operadora de saúde tenha acesso a um dado que indique histórico familiar de câncer, negando o acesso do indivíduo como beneficiário. Ou seja, o big data pode ser usado para o bem ou para o mal, por isso, é necessária a regulamentação. Para isso, é importante a união de entidades que tenham afinidades, pois o mercado é bastante competitivo”, ressaltou. 

A preocupação com o vazamento de dados é importante, mas os benefícios com a disponibilização dessas informações precisam ser considerados. Segundo foi apresentado no painel, vale a pena o risco de acordo com o benefício oferecido, a exemplo do que acontece no setor bancário com relação ao capital das pessoas e à confiança depositada nas administradoras. As empresas da cadeia de saúde terão de mostrar claramente como a sociedade poderá ser beneficiada ao ceder seus dados, já que eles podem ajudar na melhoria de políticas públicas, além de colaborar para a redução de reajuste no caso de planos coletivos empresariais, ao permitir a gestão mais adequada da demanda. Como mostrou o debate, a LGPD precisa de revisão e reajuste, mas o caminho está sendo traçado. 

Milva lembrou que é fundamental ter em mente quem é o proprietário do dado: o paciente. “As operadoras de planos de saúde são as mais interessadas no gerenciamento dos dados, pois isso permite a redução da sinistralidade, bem como aplicar o recurso certo no local certo. Ao mesmo tempo, vemos por parte delas uma posição de proprietária do dado, o que não é verdade. Os profissionais, quando geram esses dados dentro de suas entidades, precisam ter isso claro”, apontou.

A diretora-executiva da Abramed salientou que a LGPD veio para normatizar esse setor, sob regulamentação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). “Mas ela não é especialista em saúde, cabe a nós, que atuamos na área, orientar a entidade sobre as peculiaridades do setor.”

Em relação ao uso da inteligência artificial, ficou bem claro que ela não vai substituir o profissional de saúde. De acordo com as discussões no painel, o papel do profissional na prevenção de doenças vai ser cada vez maior, com o diferencial de ser baseado em dados bem estruturados e bem coletados.

Outro assunto colocado em pauta foi a redução de exames de imagem, em razão da pandemia. A tendência, agora, é de crescimento, motivado tanto por exames represados quanto pelo aumento da preocupação das pessoas com a própria saúde. Ainda, a relação entre número de empregos formais e a quantidade de vidas no plano de saúde influencia na quantidade de exames na saúde suplementar. No SUS, há outras questões; apesar da sobreoferta de alguns exames, existem aqueles que estão muito aquém da necessidade. Nesse ponto, convém criar estratégias que favoreçam o crescimento da oferta de exames de imagem dentro do sistema público.

Em outubro, Abramed participa do 54º Congresso da SBPC/ML

Associação terá estande institucional e o presidente do Conselho de Administração coordenará mesa-redonda sobre a revisão da RDC 302, da Anvisa. 

De 4 a 7 de outubro, em Florianópolis/SC, acontecerá o 54º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica Medicina Laboratorial, promovido pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) marcará presença no evento com estande institucional e participação na programação.

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, será o coordenador da mesa-redonda “Revisão da RDC 302: o que podemos esperar?”, que ocorre no dia 5 de outubro. Como palestrante, a participação de um diretor da Anvisa – cujo nome ainda não foi divulgado pela organização do evento –, e, como debatedores estarão Fábio Brazão, presidente SBPC/ML; Maria Elizabeth Menezes, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC); e Edgar Garcez Junior, conselheiro titular do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM).

A norma publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dispõe sobre o regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos e visa definir os requisitos necessários para o funcionamento dos laboratórios clínicos e postos de coleta laboratorial públicos e privados que realizam atividades na área de análises clínicas, patologia clínica e citologia.

A RDC 302 abrange diversas instruções para a realização dos procedimentos laboratoriais, desde as etapas de coleta, armazenamento e esterilização, até questões de infraestrutura e recursos humanos. Por isso, estabelece um padrão de qualidade para os serviços laboratoriais, garantindo a biossegurança bem como evitando erros e riscos em seus laudos, o que faz sua revisão ser fundamental para a atualização e o posicionamento do setor laboratorial.

A programação completa e o caminho para inscrições estão disponíveis em: http://www.cbpcml.org.br/.

Sobre o evento

Após dois anos no formato virtual, o 54º Congresso da SBPC/ML ocorrerá de forma presencial, na capital catarinense, Florianópolis. O tema deste ano é “A Patologia Clínica/Medicina Laboratorial como Protagonista no Apoio à Decisão do Diagnóstico”. O evento reúne, em média, 4,2 mil participantes entre congressistas, visitantes, palestrantes e expositores do Brasil, da América Latina, dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. 

A programação científica começa no dia 3 com cursos pré-congresso, e, a partir do dia 4, serão mais de 100 atividades entre conferências, mesas-redondas, cursos, encontros com especialistas, workshops, casos clínicos, entre outras – apresentadas por palestrantes brasileiros e estrangeiros. Haverá também lançamentos de publicações técnicas voltadas aos profissionais da área laboratorial.

“Monkeypox: como diagnosticar e prevenir?” foi tema de webinar promovido por Abramed e SindHosp

Evento virtual contou com apresentações de médicos especialistas, sob moderação de Wilson Shcolnik

O Brasil registrou 4.876 casos confirmados de monkeypox, a varíola dos macacos, segundo último boletim do Our World in Data, publicação digital especializada em mostrar pesquisas e dados sobre mudanças nas condições de qualidade de vida ao redor do mundo. Para discutir esse importante tema de saúde pública, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do estado de São Paulo (SindHosp), com apoio da Associação Paulista de Medicina (APM), realizaram, no dia 31 de agosto, o webinar “Monkeypox: como diagnosticar e prevenir?”.

Uma das palestrantes foi Carolina dos Santos Lázari, médica assessora para análises clínicas em Infectologia do Grupo Fleury e chefe da Seção de Biologia Molecular da Divisão de Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou o tema “Diagnóstico laboratorial”.

Para falar sobre “Aspectos clínico-epidemiológicos”, foi convidado Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, médico infectologista, professor da Disciplina de infectologia do Departamento de Medicina da EPM-Unifesp, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo – HU-Unifesp, pesquisador do CNPq e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia.

A moderação ficou com Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e vice-presidente do SindHosp.

Embora a monkeypox exista há muito tempo na África em forma de surto em algumas áreas e em nível endêmico em outras, a doença da qual se fala agora é bem diferente, como destacou Medeiros. “A forma de transmissão, a evolução e o tipo de disseminação não são iguais aos que ocorrem na África, embora seja um vírus muito semelhante. Vamos aprender com o tempo”, disse.

No momento, os gráficos mostram quedas no número de casos na Europa, embora ainda esteja em crescimento na região das Américas, porém com evolução menor em comparação ao registrado do início ao meio do mês de julho. “A doença vai chegar ao seu pico e, provavelmente, com o tempo, o número de casos vai diminuir”, expôs Medeiros.

As medidas de prevenção da doença citadas por ele foram: higienização das mãos, precauções de contato e gotículas, uso de óculos, máscaras, avental e luvas descartáveis para atendimento, manter o paciente em quarto único e preferencialmente em pressão negativa, cobrir as lesões se for preciso sair de casa, no transporte e no ambiente hospitalar, higiene ambiental, principalmente roupas e objetos, e não sacudir roupas para evitar a dispersão de partículas.

Durante sua palestra, Carolina explicou que o exame diagnóstico para monkeypox é o RT-PCR específico para a doença. Para a coleta, a orientação é fazer o raspado da lesão cutânea ou mucosa, e é preciso utilizar EPIs tanto para contato quanto para gotículas, como óculos de proteção. Os swabs não podem ser de algodão nem ter haste de madeira, ambos precisam ser de fibra sintética. O acondicionamento da amostra deve ser em tubo seco, sem meio de transporte.

Em termos de lesão melhor para diagnóstico, a preferência é pela vesicular íntegra, pois o líquido contido é rico em quantidade de vírus. Na lesão rompida, é preciso fazer raspagem e, no caso de lesão crostosa, desprender essa crosta e enviá-la para análise. “Estão em processo de validação coletas menos invasivas”, salientou Carolina.

Vale lembrar que qualquer laboratório com nível de biossegurança adequado para o processamento de covid-19 também está habilitado para monkeypox. “Incentivamos o aumento da capacidade diagnóstica tanto na rede pública quanto na rede privada porque certamente os oito centros públicos credenciados pelo governo não são suficientes para cobrir um país com as dimensões do nosso”, comentou Carolina.  

Shcolnik questionou se há alguma notícia da incorporação do exame diagnóstico para monkeypox também para beneficiários da Saúde Suplementar, assim como aconteceu nos casos de covid-19, citando que, em São Paulo, 40% da população é beneficiária da Saúde Suplementar.

De acordo com Carolina, houve uma reunião extraordinária no dia 16 de agosto entre o comitê que se dedica ao tema e a Associação Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para discutir as novas inclusões no rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelas operadoras de planos de saúde. As entidades que fazem parte desse comitê estão reunindo documentação para que haja uma nova discussão sobre o assunto. “Do ponto de vista médico, somos a favor dessa inclusão, até porque é uma doença que veio de fora do país e tem mais relação com pessoas que contam com cobertura de convênio, devido à classe social econômica.”

Carolina relatou que as pessoas que buscam consultórios privados vinculados ao seu convênio estão tendo dificuldade de obter o exame porque seria necessário passar por outro atendimento na rede pública, ou, então, o médico do consultório não tem acesso ao Núcleo de Telessaúde (NUTES). “Algumas dificuldades diagnósticas podem ser suplantadas pelo maior acesso via Saúde Suplementar”, ressaltou.

Com base na palestra de Eduardo, que mencionou que 70% dos casos da doença foram diagnosticados no estado de São Paulo, Shcolnik perguntou ao palestrante se esse número seria uma questão de subnotificação ou se os oito laboratórios públicos que estão credenciados não estão dando conta dos casos suspeitos.

Medeiros disse que é um pouco dos dois pontos. “Às vezes o paciente tem poucas lesões e elas podem passar despercebidas. Vale lembrar também que a população de São Paulo é grande, então seria preciso avaliar proporcionalmente. Outra questão é a realização de eventos importantes em São Paulo, atraindo muitos turistas, inclusive do exterior, que podem ter contribuído para a maior transmissão, já que a doença acomete mais homens que fazem sexo com homens”, explicou.

Carolina complementou, ainda, que o primeiro laboratório a ser credenciado pelo governo está em São Paulo, ou seja, as notificações começaram no estado. “Só nas publicações mais recentes do Ministério da Saúde apareceram outros laboratórios. O diagnóstico confirmado nas outras regiões fora do Sudeste estava com uma logística mais complicada até o meio do mês de agosto.”

Shcolnik lembrou que, durante a pandemia de covid-19, uma ampla rede de diagnóstico foi mobilizada para atender à demanda por testagem e que agora não se sabe como o surto de monkeypox progredirá, se será preciso contar com o apoio de laboratórios privados. “Será que esses laboratórios costumam reportar os dados de resultados às autoridades sanitárias?”, perguntou para a médica Carolina.

Por lei, os laboratórios são obrigados a notificar resultados de todas as doenças classificadas como de notificação compulsória. “Assim como o médico deve reportar o caso suspeito do ponto de vista clínico, o laboratório, quando tem um resultado positivo, precisa reportar independentemente de o médico ou o hospital de origem do paciente já o terem feito”, salientou.

Carolina disse, ainda, que foi publicada uma portaria que obriga os laboratórios públicos e privados a fazer a notificação desses casos via Rede Nacional de Dados em Saúde, assim como aconteceu com a covid-19. “É o melhor caminho, pois automaticamente todos os dados que o laboratório liberar no seu sistema interno já serão enviados diretamente para o DataSUS, consolidando e centralizando as informações.”

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, fez uma breve participação no webinar, parabenizando as entidades pela iniciativa, cujo objetivo é ajudar o setor a enfrentar situações difíceis e dar uma resposta adequada. O evento completo pode ser visto no YouTube do SindHosp, aqui.

Professor Dimas Covas é o homenageado da 4ª edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Criado pela Abramed como um reconhecimento aos profissionais que fomentam o desenvolvimento e a melhoria da saúde no Brasil, premiação foi entregue durante a 6ª edição do FILIS

Foi na 6ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde, a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) anunciou o ganhador da quarta edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, criado pela entidade como um reconhecimento aos profissionais que fomentam o desenvolvimento e a melhoria da saúde no Brasil. O eleito em 2022 foi o Professor Dimas Tadeu Covas, Presidente do Instituto Butantan e do Conselho Curador da Fundação Butantan, que, assim como o médico que dá nome a premiação, é hematologista, especialidade médica diretamente relacionada à área de medicina diagnóstica. O evento foi realizado em São Paulo, no Teatro Santander, no dia 24 de agosto.

“Sem a sua atuação à frente do Instituto Butantan, não teria sido possível iniciar a vacinação de brasileiros contra covid-19 em tempo hábil. E não teríamos chegado até aqui. A população brasileira agradece, e a Abramed tem a honra de premiar Dimas Covas”, ressaltou Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

No palco para entrega da homenagem esteve Cláudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed e Nydia Bacal, hematologista e viúva de Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, que salientou sua inquietação científica, seu pioneirismo em terapias celulares que beneficiaram centenas de pacientes hematológicos e sua participação ativa na produção de vacinas virais como a da dengue e a da covid-19.

“O importante é a atitude frente a uma pandemia, que só conhecíamos em livros e que pegou a nossa geração totalmente de surpresa. A atitude de vacinar que, em 2020, vivemos. Vimos que não era só conhecimento científico; era necessária a imposição daquele momento na vacinação; era coragem; era realmente mudar a história do Brasil. É de se admirar e honrar o Dr. Luiz Gastão que também era inquieto, líder e pioneiro. Fico muito feliz pela escolha deste ano”, ressalta.

Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo, mestre e doutor em medicina pela mesma instituição, Dimas Covas é livre-docente da USP desde 1999. É professor titular de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, membro do Conselho Curador da Fundação Hemocentro, coordenador do Centro de Terapia Celular da FAPESP, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Células-tronco e Terapia Celular, membro titular da Câmara de Hematologia e Hemoterapia do Conselho Federal de Medicina. Covas é também membro fundador, ex-presidente e atual diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular, editor associado da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, editor acadêmico da Revista Close One e membro da Academia de Ciências de Ribeirão Preto. Além disso, foi ganhador do Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, em 2007, com o Livro Células-tronco, a nova fronteira da medicina

Na pandemia, Covas integrou o Centro de Contingência do Coronavírus do estado de São Paulo, participação que o levou a ganhar vários prêmios e ser escolhido o profissional do ano por diversas entidades e organizações de comunicação em reconhecimento ao papel desempenhado durante a pandemia de covid-19.

“É uma emoção enorme e uma satisfação imensa receber esse prêmio. Quando me formei e fiz minha residência médica, o Luiz era presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, e tivemos em alguns momentos de nossas vidas a oportunidade de nos relacionarmos. Agradeço à Abramed de todo coração por essa premiação”, ressaltou o premiado durante a cerimônia.

Sobre o Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

O prêmio foi criado pela Abramed em 2018 e leva o nome de Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, membro da Câmara Técnica da Abramed e uma das maiores autoridades em patologia clínica e hematologia do Brasil. Seu legado influenciará por anos gestores e lideranças que militam no setor.

Entre os ganhadores das edições anteriores estão Jarbas Barbosa, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018; Mayana Zatz, bióloga molecular e geneticista, em 2019; e Dra. Margareth Dalcolmo, médica pneumologista, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2021.

Painel sobre inovação digital na humanização do cuidado encerra programação do 6º FILIS

Temas como inteligência artificial, IoT e deep learning surgem como ferramentas para auxiliar o trabalho médico visando melhorar a qualidade dos serviços e os desfechos dos pacientes

O módulo de encerramento da sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), no último dia 24 de agosto, no Teatro Santander, em São Paulo, debateu “Inovação digital na humanização do cuidado”, reunindo lideranças para falar sobre como as tecnologias em saúde estão revolucionando a medicina. A moderação desse painel foi do jornalista Sidney Rezende, que engrandeceu o evento com seus 37 anos de carreira.

Para o presidente do Conselho de Administração da Dasa, Romeu Domingues, a transformação digital tem sido bastante notória, especialmente nos últimos cinco anos, é muito bem-vinda, e toda empresa na área de saúde precisa abraçá-la, e não vê-la como uma ameaça. Inteligência artificial e deep learning, por exemplo, são ferramentas que surgem para auxiliar todos os médicos visando melhorar a qualidade do laudo e a produtividade. Segundo ele, a pandemia de covid-19 mostrou que a telemedicina é eficiente e que 80% das consultas podem ser solucionadas por meio de uma boa anamnese. Com empatia e carinho com o paciente, é possível realizar o diagnóstico.

“Todas essas ferramentas e a internet das coisas (IoT) levam à digitalização da saúde, a mais acesso, à democratização. Observamos, por exemplo, algumas startups que hoje dão laudo de padrão de tuberculose; você poder oferecer isso no interior do Brasil ou na Nigéria – que não contam com radiologistas –, significa democratizar a saúde. As empresas precisam ter o espírito da transformação digital para se construir uma cultura. Tudo isso trará benefícios. Existe uma preocupação muito grande com a sustentabilidade da saúde, que está cada vez mais cara, e podemos utilizar da tecnologia para trazer mais eficiência, mais qualidade, usar os algoritmos de inteligência artificial para errar menos. Eu vejo com muito bons olhos, sou muito otimista e acho que todo mundo tem que estimular as empresas a dar esse salto”, destacou Rodrigues.

O presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner, integrou a discussão abordando o humanismo. De acordo com ele, quando se fala de algoritmos que farão o diagnóstico, às vezes até com melhor acurácia que o próprio radiologista, por exemplo, se está a referir a um suporte, não a uma substituição, permitindo que o médico deixe de realizar atividades que sejam tediosas e repetitivas para dedicar o seu tempo àquilo em que, de fato, ele faz a diferença, isto é, no contato com o paciente ou até na vigilância do algoritmo para que ele não saia da linha para a qual foi programado.

“Quando falamos de humanismo, quer dizer que o médico poderá chegar ao paciente com uma maior oportunidade de acesso. Temos ido muito por esse caminho no Einstein quando vemos a complexidade de um paciente que procura uma organização de saúde com queixas que, às vezes, podem até ser comuns, mas por necessidades que diferem bastante. Usamos cada vez mais uma mudança cultural não só dos colaboradores, mas em investimento e plataformas que permitem acompanhar esse paciente em todos os pontos de contato, gerando dados que nos permitirão obter informações ainda com maior acurácia, para que isso se reverta, através de pesquisa de satisfação, de busca ativa de opinião sobre como que podemos contemplar a melhor experiência por meio de transformação digital, de aplicativos, de engajamento em termos do cuidado com a sua própria saúde utilizando a digitalização”, enfatizou o presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Segundo Klajner, o grande desafio das organizações é utilizar todo o arsenal tecnológico que está disponível e um primeiro grande passo seria lidar com a “nuvem”’, para, então, poder oferecer aquilo de que cada ser humano necessita.

O futuro é agora

O country manager da Bracco Imaging do Brasil, Tommaso Montemurno, reiterou que a transformação digital na saúde não se trata de um tema do futuro, pois já é uma realidade, e que durante a pandemia se percebeu que o “futuro estava mais perto do que se imaginava”. Para ele, a indústria tradicional não pode prescindir dessa digitalização, assim como não pode limitar-se à entrega de produtos e serviços de qualidade. Deve-se considerar a integração, no ecossistema digital, desses produtos e serviços.

Montemurno frisa a necessidade de atenção sobre dois aspectos que dizem respeito diretamente ao paciente. O primeiro é a capacidade de otimizar todas as fases do processo de suprimentos, o que leva a uma otimização do processo, aumentando quantitativamente a disponibilidade de recursos para o paciente e reduzindo o custo. “À medida que otimizamos processos, de alguma forma, pensamos no acesso do paciente a esses recursos, temos uma abordagem humanizada. A otimização de todo o processo libera recursos, sobretudo humanos, para o atendimento do paciente. Então, toda essa cadeia consegue tirar o profissional de saúde de atividades burocráticas, repetitivas ou de problemas operacionais para focar na atenção ao paciente”, reforça o country manager da Bracco Imaging do Brasil.

O market lead Healthcare and Life Sciences Solutions Americas do Google Cloud, Esteban López, que abriu o módulo ministrando uma palestra exclusiva, retornou ao debate, unindo-se aos demais membros do painel para trazer novas contribuições. Em sua apresentação anterior, López mencionou a necessidade da visão integral sobre telemedicina, assim como sobre eficiência, automação de processos e inovação digital, reiterou também quanto a pandemia mudou e permitiu ao setor de saúde se atualizar tecnologicamente.

“Precisamos criar tecnologias que podem tanto afetar a experiência do paciente quanto a desses profissionais, porque o que fizemos tradicionalmente na área de saúde foi criar soluções que somente incluíam os clínicos. Precisamos analisar os sistemas de saúde para trazer informações de valor para os médicos, dessa forma eles se engajarão no projeto. Talvez a nova fronteira seja como gerar valor para o corpo clínico para que ele possa atender melhor os pacientes, de forma mais eficiente, com melhores desfechos, com melhor satisfação tanto para os pacientes quanto para os médicos”, complementa López.

Confira aqui a matéria sobre a palestra de Esteban López no 6° FILIS.

O futuro do setor da saúde no Brasil e na América Latina é tema de palestra internacional no sexto FILIS

Abrindo o módulo inovação e futuro, Esteban López abordou assuntos como a digitalização e transformação da indústria médica e o papel da inteligência artificial e da machine learning

O futuro da saúde no Brasil e na América Latina foi o tema central da palestra internacional que abriu as discussões do módulo de inovação da sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Esteban López, líder de mercado – Saúde e ciências da vida para as Américas no Google Cloud, não só trouxe sua visão internacional, mas também mostrou como a tecnologia e a computação em nuvem são cruciais na transformação da indústria médica e de medicina diagnóstica na América Latina.

Segundo o executivo, atualmente o setor de saúde está desestruturado e desorganizado quando se trata de dados de saúde. E, quando se pensa em futuro, quatro pilares devem ser considerados: a digitalização; a inteligência artificial e o machine learning; o atendimento virtual; e a integração. O cenário é marcado pela alta disponibilidade de dados médicos por conta da IoMT (internet das coisas médicas). Para se alcançar valor, é preciso utilizar tanto dados médicos como operacionais para embasar uma definição mais correta das próximas ações visando alcançar melhores desfechos clínicos e eficiência operacional.

“Faltam médicos e enfermeiros no mundo. Precisamos do atendimento virtual e que mais profissionais atuem em um nível mais alto. Nesse sentido, recursos como IA e machine learning nos permitiram otimizar o atendimento. Além disso, o suporte à decisão clínica com base na inteligência artificial ajudará nas tomadas de decisões. E, claro, isso tudo precisa ser integrado. O acesso a dados e informação precisa ser otimizado para redução de custos e para se obter uma visão integral do paciente”, ressaltou. 

López apontou que existem alguns desafios reportados pelos próprios CEOs. A busca pelo conhecimento, pela experiência digital do paciente e por melhorias na eficiência operacional e na prestação de cuidados digitais estão entre os anseios. “Uma porta digital com trabalho macro de analytics pode aprimorar os processos e reduzir custos administrativos. Os pacientes têm uma experiência melhorada nesses casos e a eficiência operacional é essencial para reduzir custos. A covid destacou muitas falhas no sistema e propiciar desfechos mais assertivos é fundamental, tanto quanto os modelos digitais de atendimentos tornaram-se um novo padrão. A automação desses processos amplia os insights, traz mais agilidade. Os sistemas precisam de mais dados e informações e a possibilidade de usá-los”.

A saúde é hoje uma prioridade no Google Cloud, conforme explicou o especialista. A instituição tem trabalhado para organizar as informações do setor no mundo, com o intuito de impactar a saúde por meio de dados e para acelerar a capacidade de todas as empresas de saúde e biociências no sentido de transformar e reimaginar os diagnósticos por meio da inovação baseada em dados.

“Sabemos que os sistemas de saúde do mundo inteiro estão cerca de 15 anos atrás de outros segmentos quando o assunto é uso da tecnologia e inovação. A pandemia permitiu acelerar esse processo. E o futuro da saúde é realmente o deep learning.

A patologia digital também foi apontada como um campo emergente da inteligência artificial. Nos próximos cinco anos, hospitais e laboratórios alavancarão as tecnologias digitais para melhorar a qualidade, a velocidade e a precisão na patologia, visando suprir uma escassez mundial de patologistas. Por exemplo, lâminas precisam ser digitalizadas e transformadas em novo padrão tecnológico. Depois disso, há uma grande economia no armazenamento e processamento, assim como uma grande oportunidade na revisão dessas imagens quando o conhecimento não está disponível localmente. Mas é possível aplicar a IA, o machine learning e o deep learning para descobertas e previsões relacionadas à saúde.

Para finalizar, o executivo trouxe uma visão geral de como o Google Cloud é importante para organizações de saúde e biociências, trazendo, entre outros pontos, segurança e conformidade para a indústria médica e oferecendo tecnologia de ponta.

Debate sobre ecossistema em saúde e os impactos regulatórios reuniu representantes da ANS, IDEC e Abramge durante a sexta edição do FILIS

Modelos de remuneração, planos populares, interoperabilidade, digitalização e biometria facial foram temas discutidos no painel

O 6° Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), iniciou com um debate sobre o tema: “Ecossistema: A reinauguração da Saúde e seus impactos regulatórios”. Foram convidados para esta discussão Ana Carolina Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC); Paulo Rebello, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); e Renato Freire Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). A moderação ficou com Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Modelos de remuneração, planos populares/acessíveis, interoperabilidade, open health, digitalização e biometria facial foram abordados com foco nos desdobramentos para a saúde suplementar. Palavras como qualidade, acesso, sustentabilidade, segurança, diálogo, transparência, conexão, regulamentação e confiabilidade fizeram parte da discussão, sempre tendo o paciente no centro do cuidado.

Shcolnik iniciou com um breve panorama sobre o assunto. “Sabemos que o sistema de saúde é fragmentado e muito se tem falado sobre a formação dos ecossistemas em saúde, na verdade, há tempos, os sistemas já existem em diferentes operadoras de saúde, sobretudo nas chamadas verticalizadas, que oferecem serviços próprios aos seus beneficiados.

”A verticalização é uma estratégia dos planos de saúde que consiste na criação de redes próprias de atendimento.. “Esse modelo tem riscos e benefícios, mas costumo dizer que não há modelo bom e ruim, mas sim gestor bom e ruim. Para um bom grupo verticalizado, a força está em excelentes protocolos para tratamento, com boa governança das exceções”, destacou Casarotti. Segundo ele, não devemos barrar a criação de ecossistemas, o desafio é fazê-los conversar entre si..

Para comentar sobre a opinião dos consumidores a respeito desses ecossistemas, Shcolnik chamou Ana Carolina, que disse que o IDEC não tem uma posição, já que o foco do instituto é o direito à saúde do usuário e a qualidade do atendimento. No entanto, a respeito da verticalização, fez duas ponderações. Uma delas é o impacto concorrencial, que merece atenção cuidadosa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). E outra é o fato de ser o mesmo agente econômico aquele que paga a conta e aquele que prescreve o tratamento, pois isso não garante necessariamente o melhor desfecho em saúde.

“A experiência com a CPI da Pandemia trouxe uma lacuna que precisa ser preenchida em termos de quem fiscaliza, quem pune e quem cuida, ao tratarmos de serviços de baixíssima qualidade. Isso é uma preocupação que temos em relação aos modelos verticalizados”, expôs Ana Carolina.

A respeito de novas formas de remuneração, que indicam como será cobrado o serviço em saúde, Shcolnik falou sobre o sistema atual, que é o fee for service, ou seja, pagamento por volume de procedimento. “Este modelo é muito criticado, pois afeta a sustentabilidade do sistema de Saúde Suplementar.” Ele questionou como a ANS analisa a formação de ecossistema e as novas formas de pagamento, como o pagamento por resultados.

Rebello disse que a agência tem estimulado outros modelos diferentes do fee for service“Mas é o desfecho para o paciente que vai fazer com que os ecossistemas se encontrem e tentem chegar num consenso sobre o modelo mais adequado, colocando sempre o paciente como foco, senão não será possível destravar essa questão. A ANS está estabelecendo alguns indicadores de desfechos clínicos para induzir a mudança através do diálogo. Os problemas não são simples, mas, se não dermos um passo à frente, a realidade vai nos atropelar. Precisamos nos acomodar para garantir a sustentabilidade do sistema”, destacou.

“Lembro que no setor de medicina diagnóstica já medimos muitos indicadores e sabemos da importância que eles têm na contribuição para um bom desfecho em saúde. Medimos atrasos na entrega de exames e repetição de exames por conta de algumas inadequações. Esses são exemplos de indicadores que merecem nossa atenção”, comentou Shcolnik.

Em se tratando de modelos de pagamento diferentes, Casarotti acredita que só será possível avançar quando o diálogo for aberto e houver o entendimento de que é fundamental caminhar juntos. “O que me traz esperança, mais do que modelos, é o diálogo na busca por uma melhor solução para todos os envolvidos: os que cuidam do financiamento, os que entregam o cuidado e, principalmente, os que recebem esse cuidado. Cuidado este que deve ser acessível, sustentável e com padrão de qualidade aceitável”, reforçou.

Ana Carolina comentou que essa discussão está bem distante do consumidor, já que a preocupação maior é que esse modelo não gere violação no direito à saúde ou impacto na qualidade do serviço. “Também fazemos uma ressalva sobre o quanto esse modelo de remuneração vem atrelado a uma discussão sobre o repasse da economia gerada para o usuário, o que não é necessariamente uma verdade, pois há outros setores que podem absorver esse valor. Claro que faz sentido promover a discussão sobre a formas de pagamento, mas não sei quanto vale colocar no consumidor essa expectativa.”

Na questão do prontuário único integrando Sistema Único de Saúde (SUS) e Saúde Suplementar, os participantes o consideram fundamental para deixar a navegação do usuário mais fluida. “No entanto, é preciso ter ouvido aberto para ouvir os riscos, entender as oportunidades e discutir as alternativas”, acrescentou Casarotti.

Na discussão sobre se planos de saúde acessíveis vão ajudar no acesso à saúde, Ana Carolina chamou a atenção para aqueles com cobertura parcial de doenças, que representam um retrocesso do marco legal. “Permitir que esteja disponível à população um serviço restrito é colocar no usuário o dever de saber do que ele vai precisar para se tratar ou que tipo de doença vai ter. E não há negócio jurídico válido que se sustente nessa base.”

Sobre as clínicas populares e as exigências regulatórias, Shcolnik fez um questionamento ao representante da ANS. “Sabemos que a regulação contribui para a redução drástica do número de operadores. Assim, muitas health techs e clínicas populares surgiram para alcançar usuários que não têm acesso ao sistema de Saúde Suplementar. Mas essas clínicas não são reguladas pela ANS, como garantir a proteção dos usuários?”

Rebello revelou que a ANS não tem previsão de regular o mercado das health techs e dos planos acessíveis. “É um serviço prestado pontualmente que não se enquadra na legislação como plano de saúde. Não há iniciativa da agência em fazer qualquer regulação desse mercado”, afirmou mais de uma vez durante o debate.

Com relação a esse assunto, Casarotti se revelou preocupado com aquelas empresas que fazem um paralelo entre o que ofertam e o que mercado regulado de planos de saúde oferece. “O modelo fechado de atendimento é uma demanda, mas, quando ele passa a querer competir com o plano de saúde, dá início à precarização. É preciso, também, acompanhar o acesso à telemedicina, pois aumentou muito a oferta, o que pode gerar problemas de qualidade. É fundamental equilibrar acesso com qualidade para o serviço oferecido fazer sentido.”

Já na questão da interoperabilidade, Rebello disse que a ANS tem discutido bastante o assunto, pois sua preocupação é trazer segurança nas informações e trabalhar com os dados dos pacientes. “A agência vem dialogando com o setor e mantendo contato com a autoridade nacional”, expôs.

Para Ana Carolina, existe grande potencial de uso positivo de intercâmbio de informações dos usuários de serviço de saúde entre prestadores. Mas alerta que é preciso cuidado para não haver vazamentos, como visto em 2021, pois, segundo ela, não há como falar em interoperabilidade sem pensar em uma plataforma segura. “Outra questão é a privacidade, pois são dados sensíveis de saúde, e é necessário impedir o cruzamento dessas informações. Além disso, não devemos fazer a discussão de prontuário único e open health sem ter em mente o perigo que é acharmos que o indivíduo é responsável por sua situação de adoecimento. O IDEC está olhando para essas questões”, salientou.

Ana Carolina também comentou que a digitalização na saúde é uma tendência, mas não deve ser via única. São necessários alguns cuidados para que ela, de fato, melhore a experiência do usuário. Esses cuidados envolvem segurança contra o vazamento de dados, sem falar no quanto o sistema é capaz de gerar dados sobre o usuário que transcendem o próprio conhecimento que ele tem de si, podendo ser usado em seu prejuízo.

Já a biometria facial ligada à informação de dados em saúde é outro tema muito sensível para o IDEC, de acordo com a coordenadora do Programa de Saúde, pois convém pensar na proporcionalidade da medida e na vantagem que ela traz. Em sua consideração final, fez uma provocação referente à expansão do mercado. “Qual a finalidade desse crescimento? Crescer para aumentar lucro sem retorno para a sociedade do valor saúde, no contexto de hoje, em que colhemos os aprendizados com a pandemia, me parece estéril. E crescer aumentando a desigualdade entre quem acessa os mercados público e privado também tem que entrar nessa discussão”, finalizou Ana Carolina.

Em sua fala de encerramento, Casarotti disse querer acreditar na intenção positiva das pessoas envolvidas no sistema de saúde. “É possível avançar se sairmos das zonas de conforto, pararmos de ver o outro como inimigo e ouvirmos mais do que falamos.”

Por fim, Rebello comunicou que, a partir de setembro, a ANS vai abrir audiência pública para sua agenda regulatória, ou seja, o planejamento das prioridades para o próximo triênio. “Peço a todos que nos procurem, nos provoquem, apresentem suas sugestões e apontem as necessidades. Estamos abertos a debater todo e qualquer tema referente à Saúde Suplementar.”

A sexta edição do FILIS aconteceu em formato híbrido no último dia 24 de agosto, no Teatro Santander, em São Paulo.

Em palestra no FILIS, CEO da Aceso Global abordou o Value-Based Health Care e sua experiência dos EUA

Maureen Lewis citou as ACOs – redes de médicos, hospitais e outros provedores – que utilizam formas de pagamento baseadas em VBHC

Uma das palestras internacionais da sexta edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foi proferida por Maureen Lewis, CEO da Aceso Global, organização sem fins lucrativos que concentra seu trabalho em questões relacionadas ao sistema de saúde no setor público e no privado em mercados emergentes.

A palestrante abordou o financiamento e suas aplicações no diagnóstico, os desafios do cuidado em saúde no Brasil, a importância da qualidade no setor, o Value-Based Health Care (VBHC), os novos modelos de pagamento e as implicações para o setor de medicina diagnóstica.

Falando em desafios e oportunidades, a Maureen apontou que apesar do grande impacto na saúde global, a covid-19   alavancou o uso da telemedicina no mundo todo. Outros pontos citados foram o aumento rápido dos custos na saúde brasileira, o envelhecimento populacional, o crescimento das doenças crônicas e a busca dos pacientes por conveniências e conforto.

“No Brasil, o nível da qualidade do cuidado é muito baixo, com grande quantidade de eventos adversos, que são caros não só para o paciente como também para todo o sistema. Faltam qualidade e eficiência, mas o mais sério é que não existem dados para avaliar isso. Um prédio bonito, como os usuários gostam, não significa qualidade no cuidado”, disse.

Segundo ela, o paciente fica confuso com a bagunça no sistema, sem saber para onde vai: quem manda, como é organizado e como o financiamento funciona? Isso é um desafio também nos Estados Unidos, que tem um sistema muito parecido com o do Brasil.

Maureen citou que 25% da população brasileira custeia o próprio tratamento, enquanto nos Estados Unidos são 11%. No Brasil, 34% utilizam planos de saúde e 41% o SUS. De acordo com ela, o sistema brasileiro ainda não está pronto para pensar em valor em saúde, devido aos problemas já apontados, além do uso inadequado dos dados, da utilização do pronto-socorro em vez de consultas e da falta de informações sobre o desempenho.

As prioridades da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), com relação a financiamento e estrutura de saúde, são: colocar a qualidade do cuidado no centro; identificar e estratificar os riscos; concentrar-se em pacientes de alto risco e alto custo, mantendo-os saudáveis e evitando a hospitalização; sistema de dados integrados; e novos sistemas de pagamento.

Maureen mostrou um estudo feito nos Estados Unidos, em 2004, apontando que apenas metade dos pacientes recebeu o cuidado apropriado. Havia alta incidência de eventos adversos nos hospitais, baixa aderência a protocolos, alta morbidade e reinternações. Ao mesmo tempo, a despesa em saúde crescia em percentual do PIB sem melhores resultados. Depois desses dados preocupantes, o país mudou o sistema totalmente. 

O Value-Based Health Care foi uma resposta a alguns desses problemas. Trata-se de uma estratégia para promover qualidade e valor nos serviços em saúde com base nos pagamentos por resultados. Até então, o modelo predominante era o fee for service, pagamento por volume, que não informa sobre desempenho, nem se o gasto foi útil, além de não oferecer incentivos para eficiência nem qualidade. O pagamento por resultados é uma evolução do sistema.

Dentro do VBHC, Maureen citou bundled payments (pagamento por pacote), diagnostic related groups (DRGs), shared savings/risk (compartilhamento dos ganhos entre médicos e planos para melhorar qualidade e baixar custos) e pay for performance (P4P). Também falou sobre as Accountable Care Organizations (ACOs), redes de médicos, hospitais e outros provedores e prestadores de serviços de saúde, que utilizam várias formas de pagamento juntas, especialistas no VBHC. Essas entidades têm uma parceria muito forte entre gestão e equipe clínica, com enfoque em atenção primária e infraestrutura digital robusta. A palestrante acredita que, no Brasil, as ACOs podem oferecer muitos benefícios.

Segundo experiências de executivos de planos de saúde, com a adoção de VBHC, a qualidade melhorou em 80%, além de reduzir custos desnecessários. “Mas é difícil convencer operadores dos benefícios de bundled payments e outros sistemas de pagamento episódicos, porque é um modelo novo e há resistência”, disse.

Para melhorar a eficiência e aumentar a qualidade, as implicações para o setor diagnóstico, apontadas por Maureen, são: reduzir o desperdício no sistema, limitar o underuse, controlar os erros médicos, reduzir o número de infecções adquiridas em hospital e utilizar benchmarks para acompanhar o desempenho.