Debate do 5° FILIS discutiu as consequências da pandemia no desenvolvimento da medicina no Brasil

Representantes de instituições de pesquisa, da indústria de produtos para a saúde e da medicina diagnóstica apontaram erros e acertos do período e quais pontos merecem maior atenção

“O avanço da medicina sob pressão” foi tema da sala paralela no segundo dia do 5° Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica). Patrocinada pela Thermo Fisher, a sessão contou com a moderação de Cláudia Cohn, CEO do Alta Excelência Diagnóstica e Diretora-Executiva da Dasa.

Participaram do debate Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da      Universidade de São Paulo (USP); Esper Kallas, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da USP; Roberto Santoro, CEO do Grupo Pardini; e Nicolas Marchon, diretor de marketing Latam da Thermo Fisher.

Para iniciar, Claudia contextualiza explicando que a medicina sofre pressão em todos os aspectos e durante a pandemia continuou em plena ação, mesmo com os desafios remotos na organização e gestão da saúde, na produção de equipamentos e insumos, no transporte e logística dos materiais, enfrentando novos casos e diagnósticos variados nestes quase dois anos. Segundo ela, um Brasil sofrido que continuou a exercer sua atividade incansavelmente na área médica. 

“Vimos a medicina pública e privada contribuindo entre si, eliminando todo o viés político. Foi muito importante termos entes públicos que continuaram a regular e a definir políticas de diagnóstico e tratamento”, disse a moderadora, citando também a importância da indústria nesse período e convidando Nicolas Marchon  para iniciar sua fala.

Para ele, a velocidade de resposta da indústria à pandemia foi ímpar, após o momento inicial de surpresa. Entre os fatores primordiais que geraram este resultado citou o senso de urgência, devido ao potencial pandêmico; o avanço na pesquisa voltada aos testes de Covid-19, pois não foi necessário      desenvolver nenhuma tecnologia nova; e a colaboração entre os stakeholders da saúde. “Vimos indústria, universidades, agências reguladoras e      governo      atuando de forma uníssona”, ressaltou.

Na sequência, Ester Sabino contou que quando os casos de covid-19 começaram, a entidade já estava trabalhando em como responder de forma rápida a epidemias. “Tão logo apareceram os casos na China, nós nos organizamos. A resposta imediata depende do fortalecimento pré-pandemia. Por isso é importante investir em ciência”, expôs.

Outra questão importante citada foi o fato de a ciência ter passado a fazer parte do dia a dia das pessoas, recebendo seu merecido reconhecimento. “Isso estava faltando, não se conhecia o que a ciência vem produzindo no Brasil”, disse, comentando, inclusive, como o conceito de fator R0 (R zero) acabou se tornando assunto entre os leigos. 

Já Esper Kallas  aproveitou para chamar a atenção para as zoonoses, que podem dar um salto e causar outras pandemias. “Precisamos crescer na identificação dos vírus e outros patógenos que estão em circulação, temos um longo caminho para nos desenvolvermos nesta área. As iniciativas de enfrentamento que surgiram no Brasil se deram através da colaboração entre grupos que já existiam. Não há investimento em estudo de novas zoonoses. Veja, ainda, o recente corte no orçamento para pesquisas. É ultrajante”, comentou.

Segundo ele, o país não está preparado para enfrentar as próximas doenças, não tem fortalecido grupos para estudar pandemias, como de zika, nem criado estratégias racionais de enfrentamento, tampouco investido em ciência. “Claro que sempre há a possibilidade de erro. Erramos em vários momentos durante a pandemia. Poderíamos ter evitado mortes, mas, na posição de médicos, tivemos de encontrar uma solução. Tentamos algumas estratégias de tratamento, mas o que faltou, de forma geral, foi entender que a ciência é construída e se desenvolve ao longo do acúmulo do conhecimento”, frisou Esper.

O professor também criticou a politização durante a pandemia no Brasil, que acabou gerando a morte de muitas pessoas. “O conhecimento científico deveria ser respeitado. Essa interferência externa prejudicou ainda mais a situação. A saúde pública tem de ser, sim, uma conjunção entre ciência e política, mas, no nosso caso, a integração foi muito danosa. Faltou construir com a população, ao longo dos anos, a aceitação da importância da ciência. E faltou nutrir os nossos políticos de opiniões mais especializadas para a tomada de decisão. Temos de trazer essa discussão para a sociedade. A ciência é um método para encontrar soluções para a saúde coletiva.”

Claudia Cohn aproveitou a ocasião para ressaltar que a Abramed vem fazendo seu papel de levar luz a essas questões, para que políticos e sociedade entendam a importância do conhecimento científico. “Não dá para transformar o Brasil em uma referência sem construirmos isso juntos.”

Para Roberto Santoro, durante a pandemia, foi evidenciada a importância da medicina diagnóstica no Brasil e a sua adaptação sob pressão. “A medicina diagnóstica é infraestrutura, é logística, é capacidade de produção, é pesquisa & desenvolvimento, é interface de sistemas. A pandemia trouxe a visão da necessidade de uma infraestrutura melhor no Brasil”, disse.

Quando a demanda aumentou, o Pardini, que tem 10 mil laboratórios em todo o Brasil, desenvolveu inovações tanto na produção quanto na logística. “Hoje percorremos 90 mil quilômetros por dia, estamos em mais de dois mil municípios e temos mais de 100 bases logísticas. Nunca atuamos nesta dimensão.”

Um ponto que preocupa Santoro está relacionado justamente a esse crescimento e ao futuro. Uma projeção sobre a necessidade de laboratórios nos próximos cinco anos mostra que haverá um déficit no setor. Outro ponto que merece atenção é a falta da medicina diagnóstica na atenção primária e secundária e também na área oncológica. “Receio que este gap pode evoluir levando ao aumento da mortalidade desses pacientes”, expôs.

Santoro também citou a questão da interoperabilidade no Brasil. “Utilizar os dados coletados para construir modelos preditivos através de analytics e fazer interface com operadores de saúde, atenção pública e privada são grandes desafios. Na Europa, os setores público e privado compartilham dados, mas isso ainda é difícil no Brasil.”

Confira aqui o debate na íntegra deste e das demais palestras e painéis concretizados nesta 5° edição do FILIS. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Medicina diagnóstica brasileira investiu em diferentes ações sociais para minimizar os impactos da pandemia

Empresas atuaram para a ampliação da testagem, arrecadação e distribuição de doações diversas

Para encerrar a 5ª edição do FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), empresas associadas e parceiras da Abramed estiveram reunidas na sala paralela com o tema “O papel social da Medicina Diagnóstica no enfrentamento da Pandemia”. Com moderação de Cesar Higa Nomura, superintendente de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês, o encontro promoveu um debate interessante sobre a importância da responsabilidade social em momentos de crise como o que estamos vivendo.

“A pandemia impactou todos os setores. Vimos um lado triste, mas pudemos notar também uma grande preocupação social que merece ser destacada”, comentou Nomura ao abrir as apresentações realizadas por Caio Duarte Hashimoto, diretor administrativo financeiro da DMS Burnier; Daniel Marques Perigo, gerente de Sustentabilidade do Grupo Fleury; Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin; e Raquel Dilguerian de Oliveira Conceição, gerente médica de Saúde Populacional e Saúde Corporativa do Hospital Israelita Albert Einstein.

Na visão de Lídia, a pandemia ampliou dois problemas que já enfrentávamos enquanto comunidade: a desigualdade social e a violência doméstica. “No Sabin sempre pensamos a responsabilidade social de dentro para fora. Então cuidamos dos nossos colaboradores e familiares, assumindo o compromisso de não fazer demissões durante os quatro primeiros meses da crise, já que não existe nada mais sério do que garantir o emprego e, consequentemente, a dignidade das pessoas”, comentou. Além disso, o Sabin também investiu em uma campanha interna e externa de quarentena sem violência, promovendo um trabalho bastante forte junto à comunidade. 

Na sequência, Raquel falou um pouco sobre o empenho do Hospital Israelita Albert Einstein diante de tantas dificuldades enfrentadas pela população brasileira nos últimos meses. Entre colaboradores e dependentes, a instituição somou quase 5 mil infectados e para o melhor controle desse cenário investiu em um monitoramento forte, promovendo a assistência segura de forma remota. 

“Criamos um cinturão de segurança durante o qual foram realizados mais de 150 mil contatos para identificação das necessidades básicas das pessoas, inclusive daquelas que viviam nas comunidades e tinham dificuldade de manter o isolamento”, explicou. Nesta ação, o Albert Einstein fez um mapeamento da força interna de trabalho, detectou necessidades básicas de alimentação em 30% da equipe, e para isso fez a opção de, mesmo com a pandemia, manter o refeitório aberto de modo a prover refeição de qualidade para todos. Para a comunidade, além de doação de cestas básicas, foram feitas captação e distribuição de máscaras e álcool gel para que as pessoas pudessem evitar a disseminação do novo coronavírus em casa.

Já no Grupo Fleury, a gestão definiu iniciar com ações filantrópicas de responsabilidade social baseadas em parcerias com outras empresas e entes públicos para a realização de exames de covid-19 e, na sequência, buscou formas de promover ações de voluntariado engajando os colaboradores sem que eles tivessem de se expor a riscos.

De acordo com Perigo, ao longo de 2020 foram investidos mais de R$ 14 milhões em pesquisa e desenvolvimento. “Trabalhamos inclusive com a criação do teste de proteômica, técnica que permite uma maior estabilidade das amostras, o que é excelente para a testagem em regiões mais afastadas onde há maior tempo de transporte”, explicou. No grupo também foram desenvolvidas diversas ações para cuidado e apoio aos colaboradores e suas famílias, o que inclui um benefício oferecido durante três meses para todas as famílias com crianças acima de 12 anos. “Foi a maneira que a empresa entendeu ser mais efetiva para apoiar os times inclusive financeiramente”, disse Perigo.

Hashimoto também compartilhou as experiências sociais da DMS Burnier. Segundo o diretor, a empresa já promovia ações sociais como a doação de alimentos e brinquedos, mas com a chegada da pandemia, essas ações foram intensificadas. “Começamos a colocar metas de arrecadação e contrapartida da empresa quando alcançávamos essas metas. Assim estabelecemos maior frequência e criamos o nosso braço social”, declarou.

Na visão do executivo, a percepção de que o setor se movimentou para auxiliar não só no aspecto da medicina diagnóstica, mas também com preocupações comunitárias, merece ser destacada. “O objetivo principal das campanhas sociais da DMS Burnier está alinhado com os valores da empresa, de nos colocarmos sempre no lugar do outro. Não só dos nossos clientes, mas de toda a comunidade que participa da nossa cadeia de valor”, disse.

Parceira da Abramed, a BioMérieux foi representada por Barros, que reforçou duas preocupações da empresa durante a pandemia: a resistência antimicrobiana ocasionada pelo uso indevido de antibióticos para tratamento da covid-19 e os impactos alimentares gerados pela crise na sociedade.

“A carência alimentar foi uma grande preocupação, pois sabemos que no nosso país esse já era um problema. Assim, contribuímos com esse cenário global e localmente conquistando engajamento importante dos nossos colaboradores. A cada R$ 1 real doado, a empresa colocava mais R$ 2. Arrecadamos cerca de 15 toneladas de alimentos”, comentou. Quanto à resistência antimicrobiana, a empresa utilizou estudos diversos da União Europeia para desenvolver medidas educativas e evitar o uso indiscriminado desses medicamentos.

Para finalizar, Nomura falou um pouco sobre as ações criadas pelo Hospital Sírio-Libanês como, por exemplo, o projeto Radvid, que uniu diagnóstico por imagem e inteligência artificial para otimizar o manejo dos pacientes com covid-19. “Qualquer instituição de saúde, de qualquer região do Brasil, que contasse com um equipamento de tomografia podia enviar imagens para esse servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a probabilidade de uma infecção pelo novo coronavírus e quantificar o acometimento pulmonar em cada exame de imagem compartilhado”, explicou.

O hospital também investiu no treinamento das equipes que passaram a atender os novos leitos de UTI do Hospital das Clínicas. “Eram profissionais que nunca trabalharam em unidades de terapia intensiva. Então desenvolvemos essa capacitação para cerca de 700 enfermeiros e técnicos de enfermagem”, comentou Nomura.

Para encerrar o painel, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, comentou sobre o espírito de colaboração que tomou conta do setor de medicina diagnóstica durante a pandemia. “Foi encantador perceber a união das empresas em prol de um bem maior independentemente de bandeira, marca e do seu papel corporativo”, finalizou.

Os apontamentos feitos pelos participantes foram apenas algumas das ações desenvolvidas pelas empresas desde o início da crise no primeiro trimestre de 2020. 

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui a gravação completa deste debate e de todas as palestras e painéis concretizados nesta edição. O conteúdo gravado ficará disponível até o final do mês de outubro.

Clique aqui acesse o resumos dos cases enviados pelas empresas que participaram do evento.

Margareth Dalcolmo, médica pneumologista da Fiocruz, é premiada durante 5º FILIS

A especialista foi agraciada com a terceira edição do prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, reconhecimento da Abramed pela sua atuação durante a pandemia de covid-19

Há três anos a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) instituiu o prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld durante a realização anual do FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde) a fim de homenagear profissionais que fomentam o desenvolvimento e a melhoria da saúde no Brasil. Nesta edição de 2021, a homenageada foi Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Neste ano a Abramed conferiu o prêmio à doutora Margareth reconhecendo sua inestimável contribuição ao combate da pandemia especialmente pelo compartilhamento de informações científicas corretas e confiáveis com toda a população tanto sobre as características da doença quanto sobre as mais seguras formas de proteção”, disse Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed ao entregar o prêmio.

Participando ao vivo da cerimônia, Margareth agradeceu a homenagem. “Esse troféu me deu honra e um enorme sentimento afetivo de pertencimento lembrando, mais uma vez, que a união entre clínica e laboratório nunca esteve tão presente”, disse. 

A especialista aproveitou a oportunidade para vangloriar a atuação de todos os profissionais de saúde que se mostraram prontos e disponíveis para gerir a crise no Brasil. “Esse não é um reconhecimento somente a mim, mas a todos os médicos que mais do que eu estiveram na linha de frente, no SUS e na rede suplementar, e foram exigidos exaustivamente em uma realidade tão adversa como a que enfrentamos há vinte meses”, pontuou agradecendo à Abramed.

Margareth Dalcolmo tem sido uma das grandes porta-vozes da ciência durante todo o período da pandemia, visto que, segundo a Fiocruz, tem mais de 100 artigos científicos publicados nacional e internacionalmente. 

Graduada em medicina pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória, tem especialização em Pneumologia Sanitária pela Fiocruz e doutorado em medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Com ampla experiência na condução e participação de protocolos de pesquisa clínica e tratamento da tuberculose e outras microbacterioses, é presidente eleita para a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o biênio 2022-2024.

Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Ao criar o Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, a Abramed buscou prestar uma homenagem a este renomado profissional do setor que, por décadas, esteve empenhado em tornar o segmento de diagnóstico mais unido. Médico hematologista e patologista clínico, Luiz Gastão Rosenfeld foi membro da Câmara Técnica da Abramed, além de diretor de Relações Institucionais do DASA e conselheiro do Hospital Israelita Albert Einstein.

No 5° FILIS especialistas debatem se a realização de exames fora dos laboratórios representa risco ou acesso

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, moderou o bate-papo 

O primeiro debate do segundo dia de programação da 5ª edição do FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde) trouxe um tema extremamente relevante e se tornou ainda mais prioritário durante a pandemia de covid-19. Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, moderou o painel “Exames fora do ambiente laboratorial: acessibilidade ou risco?” e recebeu Fabiana Barini Rodrigues Alves, diretora adjunta da Terceira Diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o deputado federal (PP-RS) Pedro Westphalen.

Durante uma hora, foram debatidos assuntos inerentes à revisão da RDC 302, que trata justamente dessa temática, sendo que Fabiana trouxe uma visão bastante aprofundada de como a ANVISA lida com o assunto e Westphalen  reforçou a competência da Agência diante de todas essas análises técnicas e se mostrou bastante confiante de que em breve teremos bons resultados dessa revisão.

“A RDC 302 representou um marco para a qualidade dos serviços laboratoriais e a literatura aponta que a realização de testes rápidos fora dos laboratórios clínicos apresenta erros preponderantes na fase analítica. O que precisamos assegurar para que esses exames não causem danos aos nossos pacientes”, questionou Shcolnik.

Na visão da diretora da ANVISA, passados 15 anos a norma precisa de uma readequação à nova realidade que vivemos. “O que precisamos lembrar é que para a realização de qualquer etapa de um exame, dentro ou fora do ambiente laboratorial, precisamos ter profissionais qualificados, processos bem definidos, equipamentos validados e produtos com eficácia e segurança. Assim, entendo que todos os serviços que realizarão esses testes, resguardadas as diferenças de complexidade entre eles, devem garantir a qualidade da execução nas três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica”, disse.

Após relembrar como é o passo a passo de uma revisão normativa dentro da ANVISA, Fabiana relembrou que das quase 3 mil propostas recebidas durante a revisão da RDC 302, 94% eram de impacto negativo ao setor. “Um número muito expressivo. Então nossa equipe técnica tem feito um trabalho aprofundado sobre cada tema, atenta para readequar tudo o que se faz necessário”, declarou. Para Westphalen, é importante valorizarmos a atuação da Agência. “A ANVISA é um órgão técnico que tem que ser tratado dessa forma, pois é isso que nos traz segurança e garantia”, disse. 

Lembrando que a medicina diagnóstica é um setor muito atrelado e preocupado com a qualidade de suas entregas, o presidente da Abramed questionou Fabiana: “o controle de qualidade é uma ferramenta preciosa tradicionalmente usada pelos laboratórios para assegurar a precisão e a exatidão dos resultados obtidos. É aceitável que um controle de qualidade seja realizado à distância, fora do local onde a amostra é manipulada e onde a reação química de fato ocorre?”.

A executiva explicou que tanto os controles internos quanto os ensaios de proficiência são inerentes ao ato de realização do exame. “Esses controles devem sempre ser feitos nas mesmas condições e locais. Esse foi um dos temas com maior número de considerações e mereceu atenção especial da nossa equipe técnica. É esperada a inclusão de critérios que assegurem e fortaleçam essa avaliação”, declarou.

Para encerrar o debate, Westphalen mostrou uma percepção bastante positiva sobre os próximos passos. “Não tenho dúvidas de que avançaremos nessa discussão garantindo que os interesses dos pacientes sejam preservados”, disse após lembrar que Antonio Barra Torres, diretor-presidente da ANVISA, recebeu o setor pessoalmente para ouvir os pleitos e os impactos que a revisão da norma pode desencadear.

Sistema Único de Saúde merece aplausos

Os participantes aproveitaram a ocasião para reforçar a relevância do Sistema Único de Saúde e da Saúde Suplementar nacional no combate à pandemia. “Temos de fortalecer o sistema e entender que a rede suplementar é fundamental. É importante olharmos as formas de financiamento para termos um sistema efetivo em toda a assistência”, comentou o deputado federal.

Trazendo uma ampla visão, Fabiane declarou: “tenho muito orgulho do nosso sistema de saúde. Durante oito meses de pandemia tive a oportunidade de visitar vários estados, cidades afastadas dos grandes centros, para ver como o atendimento estava preparado. E pude observar a grandiosidade do Brasil, a complexidade, e o que significa não ter acesso a médicos, assistências e exames. Foi um grande ensinamento que hoje me ajuda na tomada de decisões”.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Clique aqui e confira a cobertura completa deste e de todas as palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

5° FILIS trouxe debate sobre LGPD com visão de diversos atores da cadeia de saúde sobre adequação

Em sala paralela, bate-papo atualizou as perspectivas do setor

No primeiro dia da 5ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS) foi realizado, em uma das salas paralelas, o debate sobre os impactos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) na saúde. Moderado por Marcos Ottoni, coordenador jurídico da CNSaúde e conselheiro da ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), a conversa trouxe a visão de alguns dos principais atores dessa complexa cadeia sobre como o segmento está se adequando à nova legislação.

Participaram do encontro Cesar Brenha Rocha Serra, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) traçando os principais desafios da saúde suplementar, e Matheus Zuliane Falcão, assessor jurídico do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) que apontou as grandes preocupações do ponto de vista do cidadão, protagonista diante de todo esse cenário. 

Também estiveram presentes Waldemar Gonçalves Ortunho Junior, presidente da ANPD, apresentando todo o trabalho desenvolvido nesse quase um ano de existência da Autoridade, e Renato Adriano Martins, gerente jurídico, compliance officer e data protection officer da Roche Diagnóstica no Brasil, que trouxe informações sobre como a indústria da saúde vem se comportando para estar completamente adequada aos princípios da Lei nº 13.709/2018.

“A LGPD traz um enorme impacto para o setor de saúde que utiliza, no dia a dia, desde a anamnese, o diagnóstico, a identificação e o tratamento de doenças, dados sensíveis. Principalmente agora, com a pandemia de covid-19, temos ainda mais desafios voltados inclusive à cibersegurança e até mesmo às relações trabalhistas no momento em que precisamos compreender a saúde dos colaboradores e se eles estão ou não vacinados”, comentou Ottoni ao iniciar o debate. Ottoni representa o setor de saúde na Autoridade Nacional.

Visão de operadoras e beneficiários

O tema é bastante complexo para todos os atores da cadeia de saúde e, justamente por isso, o diálogo aberto e transparente é fundamental. Na saúde suplementar, que atende mais de 40 milhões de brasileiros, as preocupações com a LGPD são diversas. 

De acordo com Serra, logo no início, dentro da ANS, a legislação acarretou a revisão do Padrão TISS (Troca de Informações na Saúde Suplementar) por meio do Comitê de Padronização das Informações em Saúde Suplementar (COPISS), que conta inclusive  com participação ativa da Abramed. O novo formato foi publicado no final de julho e entrará em vigor no prazo de um ano.

Paralelamente, na saúde suplementar há uma vasta preocupação para impedir que os dados dos pacientes possam ser utilizados para seleção de risco, trazendo uma possibilidade de escolha, por parte dos planos de saúde, daqueles “clientes ideais”. Essa preocupação foi demonstrada tanto por Serra quanto por Falcão, que reforçava a defesa do cidadão brasileiro.

“O IDEC acompanha o tema com atenção. A tecnologia tem papel importante para aprimorar a assistência, mas também pode ampliar a possibilidade de discriminação por preço, ou seja, de responsabilizar o consumidor por sua condição de saúde”, pontuou o executivo do IDEC enfatizando que transparência deve sempre ser a palavra-chave.

Desafio dos dados para inovação e ampliação de acesso

A indústria é um dos importantes atores da cadeia de saúde e tem papel fundamental na construção da cultura de proteção de dados. Na visão de Martins, há total interesse dessa fatia de mercado em cumprir as exigências de forma completa, atuando pelo benefício do setor. “Temos a ambição de levar nossas soluções a mais pacientes de forma cada vez mais rápida. E isso só acontece quando temos consciência do valor dos dados coletados diariamente em equipamentos, soluções e estudos clínicos”, disse. “Devemos usar esse manancial, esse universo à nossa disposição, para conquistar benefícios ainda imensuráveis”, completou.

Do ponto de vista da Roche, que é uma empresa global com sede na Europa, essa cultura de proteção de dados já foi internalizada, visto que no cenário europeu o assunto teve início há mais tempo. “Hoje cada colaborador se percebe como um cidadão de dados, responsável por ser guardião daquelas informações e utilizá-las para fins corretos”, pontuou.

O executivo também comentou sobre o conceito de “privacy by design”, abordagem focada na incorporação de estratégias de privacidade de dados em todos os projetos desde a sua concepção. “Qualquer solução gerada na companhia em caráter global tem, no seu desenvolvimento, o envolvimento direto e a avaliação de um encarregado de dados responsável por aquele time e focado em identificar quais informações são efetivamente necessários e como mitigar eventuais exposições”, explicou concluindo que o mais assertivo é ter o critério de proteção de dados como valor efetivo da companhia em suas ações.

ANPD – Autoridade Nacional de Proteção de Dados

Para falar sobre a constituição e o desenvolvimento da ANPD, Ortunho Junior reforçou que é um órgão que ainda está se estruturando, mas que já são mais de 50 funcionários e que muitas conquistas precisam ser celebradas. “A ANPD é transversal, ou seja, qualquer empresa, independentemente do ramo, tem sua base e utiliza dados pessoais, estando sob a batuta da LGPD e, por consequência, da ANPD, Autoridade responsável pela normatização, fiscalização e sancionamento”, disse.

Com o plano estratégico e a agenda regulatória já traçados, a Autoridade batalha para, gradualmente, implementar no país a cultura da proteção de dados. Como comparativo, o executivo mencionou o cenário europeu, que mesmo com 25 anos de debates sobre o assunto, ainda vem definindo alterações nas suas leis. A General Data Protection Regulation (GDPR), inclusive, que é a lei europeia, serviu de base para a construção da LGPD no Brasil.

Lembrando que a ANPD não nasceu com o objetivo principal de punir quem não cumprir o que dita a legislação, Ortunho Junior enfatizou que a Autoridade também trabalha a orientação. “Tanto que fiscalização e sancionamento foram as últimas partes a entrar em vigor, em 1º de agosto deste ano. A razão de tudo é, claro, o titular dos dados, a quem vamos proteger, mas todos os atores devem compreender que a lei existe e que se trata de um investimento”, declarou. Outro ponto importante é que a fiscalização está embasada em riscos, ou seja, nos setores onde haverá mais risco, a Autoridade atuará de forma mais próxima.

Quanto ao trabalho da Autoridade frente às micro e pequenas empresas, o presidente foi claro ao enfatizar que haverá sim uma diferenciação de cobrança. Segundo ele, após trocar muitas experiências tanto com as agências reguladoras quanto com autoridades inclusive internacionais, não há como aplicar, às micro e pequenas empresas, o mesmo nível de exigência das grandes. Importante enfatizar, inclusive, que as normas para essas companhias foram priorizadas e devem ser publicadas até o início do próximo ano.  Mas nunca é demais reforçar que todas as ações que mostrem que a empresa está focada em minimizar os riscos serão bem-vista. Entre elas estão, por exemplo, a minimização de dados, ou seja, parar de coletar informações que não são necessárias para a atividade.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui, a cobertura completa desta e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

A Pandemia e os aprendizados da telemedicina são tema de Painel no 5°FILIS

Regulamentação, formação dos médicos, exemplos reais, uso de dados do paciente e mundo “phygital” estiveram entre os tópicos abordados

A regulamentação da telemedicina como caminho para garantir o acesso amplo e rápido a saúde, bem como todos os aprendizados que a pandemia trouxe no uso da tecnologia para transformar o sistema de saúde brasileiro, foram temas da discussão mediada por Eduardo Cordioli, presidente da Saúde Digital Brasil, durante na 5ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (Filis), promovido pela Abramed. Adriana Ventura, Deputada Federal e presidente da Frente Parlamentar em Telemedicina; Caio Soares, diretor médico da TelaDoc Health; e  Clara Rodrigues Alves de Oliveira, coordenadora Clínica do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC- UFMG), debateram o tema e trouxeram suas visões a respeito de como enxergam o cenário em um futuro próximo.

Eduardo Cordioli abriu o painel apresentando dados da Saúde Digital Brasil que mostram que, entre 2020 e 2021, foram mais de 7,5 milhões e meio de pessoas atendidas na modalidade de pronto atendimento, sendo que em 6,5 milhões deles os pacientes tiveram seus casos resolvidos totalmente no digital, ou seja, evitando idas desnecessárias ao pronto atendimento. No mesmo período, foram cerca 75 mil vidas salvas graças ao uso da telemedicina. 

Ele enfatizou ainda que existem muitas oportunidades a serem exploradas no mundo da telemedicina. “Não podemos ser dicotômicos. Precisamos eliminar a ideia de que o que se começa no físico, tem que seguir exclusivamente no físico, assim como o digital deve ser 100% digital. Ou então que, o que é realizado no Sistema Único de Saúde (SUS) tem que ficar só no SUS, e o que é do segmento privado, no privado. O sistema de saúde é um só e se convergir pode ganhar sinergia e todo mundo ganha com isso”, complementa.

Adriana Ventura, autora da lei que garantiu a plenitude da telessaúde durante a pandemia, reforçou que a COVID-19 só acelerou algo que, apesar de já existir, estava bastante atrasado. Ela reiterou ser um momento de evolução que deve ser usado para aprimorar o que deu errado. Sobre a regulamentação definitiva, salientou que os trâmites estão avançando, assim como outros projetos de telessaúde de sua autoria, no Congresso Nacional, e foi enfática em dizer que embora existam divergências que precisam ser discutidas entre todos os envolvidos de maneira bastante objetiva, é fato que não se pode retroceder. “O Brasil não pode ser a eterna lanterninha do mundo. Queremos para nós uma telemedicina que proporcione dignidade, respeito, traga rapidez, dê acesso e seja simples”, reforçou. 

Clara de Oliveira contou um pouco da trajetória e apresentou os números do projeto da Rede de Telessaúde de Minas Gerais (RTMG). Chamada inicialmente Minas Telecárdio e que hoje atende mais de 1.020 municípios no Brasil, desde 2006, o projeto já realizou mais de 5,5 milhões tele-eletrocardiograma, o que faz da rede o maior serviço de telediagnóstico e tele-eletrocardiografia do mundo. 

Caio Soares ressaltou que a pandemia provocou uma transformação imensa, derrubando todos os planos previstos e provocando um novo e acelerado curso para disponibilizar tecnologias capazes de suportar o atendimento digital. Segundo ele, existem muitos aspectos positivos para o paciente, que têm um acesso muito mais amplo aos players do sistema de saúde (médicos, nutricionistas, enfermeiras, psicólogos), com segurança e protegidos inclusive pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 

“No começo da pandemia realizávamos 35 atendimentos médicos em média, e isso acabou sendo multiplicado por 10. Foi preciso reorganizar essa estrutura em menos de um mês, sempre tomando cuidado para não colocar a tecnologia na frente do atendimento médico. Mais do que colocar o paciente no centro do sistema, queremos que ele seja parte dele. E telemedicina construiu essa mensagem para aumentar a nossa participação como paciente, nesse ecossistema”, pontua. 

Quando indagado sobre o futuro da saúde ser “phygital” (integração entre o mundo físico, com o mundo digital), Soares explicou que em sua visão, o presente já é digital, mas ressaltou que não se pode  esperar que o digital resolva 100% dos casos. “Quando um médico atende um paciente, independente do meio e do local onde ele está, ele tem uma capacidade de resolver até um certo limite. Alguns casos podem ser resolvidos na hora, outros requerem encaminhamentos. Sempre será preciso de um sistema”, ressalta o executivo que complementa: “A telessaúde faz parte de um sistema que, se bem utilizado, no momento adequado, com amplo acesso, com alta capacidade técnica,  maior resolução, maior qualidade, trará um melhor desfecho clínico, com menos desperdício”.

A necessidade de investir na formação dos médicos e a inclusão da disciplina de saúde digital nos cursos de medicina também foi apontada como uma estratégia importante a ser adotada daqui para frente para garantir esse amplo acesso. Além disso, também foi abordada brevemente a necessidade de ampliar a discussão a respeito sobre a propriedade dos dados dos pacientes e como eles podem ser usados a favor da humanidade e no avanço da ciência e tecnologia. 

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui a gravação completa deste debate e de todas as palestras e painéis concretizados nesta edição. O conteúdo gravado ficará disponível até o final do mês de outubro.

Pesquisas comprovam a importância do diagnóstico na geração do valor em saúde

Especialista internacional em medicina diagnóstica ministra palestra no 5° FILIS

A Saúde baseada em valor foi abordada por diferentes ângulos e ferramentas na palestra “Maximizando o Valor do Diagnóstico no Período Pós-Pandemia, ministrada pelo co-fundador da Society to Improve Diagnosis in Medicine (SIDM), Paul Epner no primeiro dia da 5ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), evento organizado pela Associação Brasileira e Medicina Diagnóstica (Abramed).

Para Epner, o trabalho de diagnóstico é fundamental para os resultados que trazem valor na área da saúde e para a sustentabilidade dos tratamentos. “Sabemos quais são os geradores de custos, mas se o diagnóstico estiver errado, muito possivelmente todo o cuidado que segue será sem propósito, ineficaz ou até prejudicial”, explicou ele, que também preside a Coalition to Improve Diagnosis, uma coalizão com mais de 60 sociedades profissionais, sistemas de saúde, organizações de pacientes e entidades focadas na melhoria da qualidade da assistência.

O palestrante internacional apresentou dados da indústria norte-americana de saúde e diagnóstico, incluindo causas e números referentes a erros médicos e seus principais danos. “100 mil pessoas morrem todos os anos nos Estados Unidos em hospitais devido a erros de diagnósticos”, disse.

Entre as causas que podem levar ao avanço do câncer, por exemplo, foi citada a não realização de exames de maneira preventiva. Epner apresentou um estudo realizado pelo grupo Kaiser Permanente (plano de saúde norte-americano sem fins lucrativos) que mostrou como as colonoscopias em pacientes com anemia levaram ao diagnóstico precoce de câncer e outras doenças, como diverticulite e hemorroidas. Nos cinco anos de pesquisa (de 2015 a 2020) foram contatadas 2.288 pessoas com deficiência de ferro, 561 delas foram submetidas a colonoscopias e 24 destes pacientes (4%) estavam com câncer.

Já outro estudo que analisou as principais reclamações de práticas médicas no Johns Hopkins Hospital, nos Estados Unidos, mostrou que três causas no ranking das top 5 estavam relacionadas ao diagnóstico, incluindo a primeira delas: falha ou atraso em pedir o teste diagnóstico. Falha em apreciar sintomas relevantes ou resultados de testes aparece como terceira causa e a interpretação equivocada dos estudos diagnósticos, patologias, exames de imagem como o quinto motivo que levou a reclamações litigiosas sobre cuidados médicos.

De acordo com Epner, existem boas medidas para garantir a excelência diagnóstica no mundo, citando o Fórum de Qualidade Nacional (NQF, sigla em inglês para National Quality Forum), que disponibiliza diferentes pesquisas em seu site; ação focada em segurança, qualidade e relação custo-benefício do atendimento em todos os ambientes de saúde global. Citou ainda que há empresas de diagnóstico nos Estados Unidos que utilizam algoritmos para contabilizar quais exames levam a quais tipos de diagnóstico com maior precisão e rapidez.

Em relação ao período pós-pandemia, o palestrante lembrou os desafios futuros. Segundo ele, o atraso em tratamentos e diagnósticos porque os pacientes evitaram ir aos hospitais durante a pandemia de Covid-19 criou mais danos e custos aos pacientes e ao sistema.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui, a cobertura completa deste e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Anvisa e ANS tratam dos desafios regulatórios da saúde no 5º FILIS

Diretores de ambas as agências participaram de debate moderado por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed

Logo após a apresentação do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, realizada na primeira hora de programação da 5ª edição do FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, recebeu Cristiane Jourdan, diretora da terceira diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e Paulo Rebello Filho, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), para tratar dos atuais pleitos regulatórios da saúde. 

Durante o debate “Desafios Regulatórios para o desenvolvimento do sistema de saúde”, o trio tratou da revisão de algumas RDCs  (Resolução de Diretoria Colegiada) que impactam diretamente a rotina dos provedores de serviços de medicina diagnóstica e reforçou a atuação de ambas as agências durante a gestão da pandemia no país.

“A revisão da RDC 302, que dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos, é algo que nos preocupa. O texto proposto em agosto de 2020 desagradou o setor regulado e houve grande reação de várias entidades – entre elas a Abramed”, comentou Shcolnik.

Trazendo um parecer da Anvisa, Cristiane confirmou estar atenta a toda a movimentação em torno dessa revisão. “Venho acompanhando a revisão pessoalmente e no momento a área está trabalhando para que a norma proposta garanta a execução de exames com qualidade, segurança e eficácia indispensáveis a um diagnóstico correto”, disse.

Ainda abordando processos de alteração de normas em vigor, a diretora também foi questionada sobre a revisão da RDC 25, que trata do recondicionamento de produtos para saúde usados e que, ao ser reestruturada, pode ampliar o acesso da população brasileira a exames mais tecnológicos e de qualidade. 

“Compreendemos que a possibilidade do comércio de produtos usados é uma pauta necessária. Vamos permitir o acesso aos equipamentos garantindo segurança e eficácia e ampliando o acesso de toda a população a tecnologia de ponta”, disse. Segundo ela, o uso de equipamentos fora dos parâmetros definidos pelo fabricante pode impactar o diagnóstico e o tratamento, levando a danos e eventos adversos. Por isso é necessário instituir mecanismos para mitigação de riscos.

Na visão do presidente da Abramed, essa revisão é importantíssima para o país. “Muitas das nossas empresas têm interesse em fazer doações de equipamentos para Santas Casas e para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas com a regulamentação vigente isso ainda não é possível. Esperamos que com a revisão possamos reverter o quadro”, apontou.

Outro ponto relevante do debate foi a exímia atuação da ANS na rápida e emergencial incorporação de exames para detecção da Covid-19 no rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde. “No dia 11 de março de 2020 foi decretada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e no dia 19 já tínhamos incorporado o RT-PCR, padrão ouro para detecção da doença”, contou Rebello Filho que aproveitou para relembrar o setor que a Agência também reduziu de dois anos para no máximo 18 meses a atualização desse rol de procedimentos. “Isso demonstra que estamos acompanhando todas as alterações que a vida cotidiana impõe à saúde”, completou.

Ainda falando sobre testes de Covid-19, Shcolnik aproveitou a presença do diretor para perguntar como a Agência lida com as reclamações de beneficiários com dificuldades em conseguir realizar os testes pelos planos de saúde. Segundo Rebello Filho, a ANS tem tido um empenho fantástico nesse sentido. “Foram 284 mil reclamações entre janeiro de 2020 e setembro de 2021 e a nossa resolutividade supera a casa dos 90%. Isso significa que 9 a cada 10 reclamações são sanadas”, disse enfatizando que a Agência tem canais para receber reclamações e contestações tanto por parte dos beneficiários quanto por parte dos prestadores de serviço.

Preocupação com qualidade

Tanto a Anvisa quanto a ANS têm um compromisso com a qualidade. Ao ser questionada, por Shcolnik, se há movimentação na Agência para maior rigor no momento dos registros de produtos para a saúde a fim de mitigar o risco em sua utilização, Cristiane enfatizou que “proteger a população é a grande missão da Anvisa, reconhecida internacionalmente como uma das principais autoridades regulatórias do mundo”.

Rebello Filho também foi questionado sobre as preocupações da ANS com a qualidade do setor. “Há um foco na qualificação apenas entre os hospitais. Já seria hora da Agência se preocupar também com a qualidade dos serviços oferecidos por outros prestadores de serviços não hospitalares? Na medicina diagnóstica, por exemplo, já temos programas de acreditação para análises clínicas e diagnóstico por imagem, mas não vemos um estímulo concreto para que esses prestadores se insiram nos programas”, perguntou Shcolnik.

Segundo o diretor da ANS, esse é um tema que está em pauta na entidade. “Programas de acreditação colaboram de maneira indutiva para garantir resultados qualitativos. Temos que avançar nessas discussões e a Câmara Técnica de Contratualização e Relacionamento com Prestadores (CATEC) é um dos espaços que estão abertos a esse diálogo”, disse. Importante enfatizar que a ANS retomou as atividades da CATEC em agosto deste ano.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui a cobertura desta e das demais palestras e painéis desta edição.

Programação do 5º FILIS começa com palestra do Ministro da Saúde

Na manhã do dia 13 de outubro, primeiro dia de programação da 5ª edição do FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), logo após a abertura conduzida por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, o evento recebeu Marcelo Queiroga, Ministro da Saúde, para falar sobre a importância do diagnóstico na coordenação da pandemia e como as relações entre os sistemas público e privado de saúde são indispensáveis para a melhor sustentabilidade do setor. 

Marcelo Queiroga atualizou o cenário brasileiro da pandemia e enfatizou a relevância da medicina diagnóstica para melhor gestão da crise

Traçando um panorama atual da crise de covid-19, o ministro elencou três prioridades de sua gestão: acelerar a vacinação, garantir assistência aos infectados pelo novo coronavírus e reforçar a implementação de medidas de higiene e saúde pública, com foco especial em um programa de testagem ampla e sistemática. 

Enfatizando que o Governo Federal adotou a estratégia de diversificar a compra das vacinas e já contratou mais de 550 milhões de doses a serem entregues até o final do ano, Queiroga pontuou que, até o momento, já são mais de 150 milhões de brasileiros com ao menos uma dose do imunizante. Além disso, deu amplo destaque ao lançamento do Programa Nacional de Testagem para o coronavírus. “Ampliaremos, de forma sistemática, a testagem da população brasileira para continuidade segura de nossas atividades”, declarou. Segundo ele, o programa define critérios e parâmetros objetivos para os testes, com foco em populações vulneráveis e setores essenciais como educação, comércio e transporte público.

Parcerias entre os setores público e privado

Assim como muitos líderes do setor têm enfatizado, o ministro declarou ser preciso encarar com unicidade o sistema de saúde brasileiro considerando que fazem parte dele a área pública e a área suplementar. Para iniciar essa discussão, trouxe dados relevantes sobre os gastos da pasta.

“O Brasil destina 9,2% do seu PIB à saúde. Desse total, os gastos públicos representam 3,8% do PIB e os privados 5,4%. Apesar de proporcionalmente menores, os gastos públicos com a saúde representam parcela significativa do orçamento do Governo Federal e crescem a taxas mais elevadas do que a arrecadação fiscal”, declarou. Segundo o ministro, para que o Sistema Único de Saúde (SUS) possa responder a futuras emergências, é preciso obter mais investimentos, mas, principalmente, melhorar o uso dos recursos existentes.

Entre os principais desafios elencados por Queiroga durante sua apresentação no FILIS estão: ineficiência na prestação de serviços, fragmentação dos cuidados com a saúde com pouca coordenação entre os níveis de atenção e entre os provedores, e limitada ou inexistente integração do SUS com a Saúde Suplementar.

“Reforçar o sistema de saúde brasileiro passa necessariamente por formular políticas públicas que enfrentem esses desafios e melhorem a qualidade dos gastos”, pontuou. Para ele, as mudanças devem envolver alteração nos modelos de remuneração substituindo o atual modelo de pagamento por volume por um novo modelo de pagamento por desfecho, incentivo às práticas inovadoras de gestão através de parcerias público-privadas que garantam acesso a serviços gratuitos e de qualidade a toda a população, fortalecimento da regulação da saúde suplementar de modo a estimular a competitividade e potencializar sinergias com o setor público, e investimento no complexo econômico industrial da saúde, motor indiscutível da economia e com amplo potencial de crescimento.

Como exemplo de uma parceria exitosa, o ministro apresentou o case da Fiocruz/Biomanguinhos com a Universidade de Oxford e a empresa AstraZeneca diante do contrato de encomenda tecnológica e posterior transferência de tecnologia na fabricação das vacinas contra a covid-19. “Essa aposta bem-sucedida, que já resultou na entrega de mais de 78 milhões de doses, foi possível graças ao investimento de R$ 1,9 bilhão em agosto de 2020. A parceria permitirá a produção de uma vacina 100% nacional e o Brasil passará de importador para exportador, ajudando a população além de suas fronteiras”, disse.

Medicina diagnóstica como protagonista

O ministro Queiroga aproveitou a oportunidade para destacar a relevância da medicina diagnóstica no combate à covid-19 e pontuar a representatividade das associadas à Abramed no mercado, já que essas empresas são responsáveis pela realização de 516 milhões de exames, o que representa 56% do total de exames concretizados na saúde suplementar. 

“Esses números deixam claro a importância de o Brasil buscar a sustentabilidade tecnológica e econômica do SUS a curto, médio e longo prazos por meio da promoção de condições estruturais para aumentar a capacidade produtiva e de inovação do país, resultando na redução do déficit comercial do setor e na garantia do direito à saúde de todos os brasileiros”, finalizou.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira, no site da Abramed, a cobertura completa de todas as palestras e painéis concretizados nesta edição.

Ministério da Saúde assina carta de intenções para parto seguro e respeitoso

Abramed é uma das instituições signatárias do documento que estabelece diretrizes pela assistência segura às gestantes e neonatos

6 de outubro de 2021

O Ministério da Saúde assinou, por meio do secretário de Atenção Básica, Raphael Parente, a carta de intenções promovida pela Aliança Nacional pelo Parto Seguro e Respeito. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) é uma das 52 entidades que integram essa coalizão focada em garantir uma assistência segura para todas as gestantes e seus recém-nascidos.

Considerando que há alta mortalidade tanto de gestantes quanto de neonatos, a Organização Mundial da Saúde fez um apelo e elegeu “Cuidado Materno e Neonatal seguro” como o tema de 2021 do Dia Mundial da Segurança do Paciente, comemorado em 17 de setembro. A Aliança foi constituída a fim de atender à essa demanda de saúde pública.

A razão de mortalidade materna no Brasil, em 2021, tende a passar de 100 óbitos maternos a cada 100.000 nascidos vivos – quase o dobro do que se tinha antes da pandemia. Uma em cada cinco das mortes maternas por COVID-19 ocorreu fora de uma unidade de terapia intensiva. Também é grave a mortalidade neonatal: 2,5 milhões de recém-nascidos morrem todos os anos.

A carta de intenção que foi assinada pelo Ministério da Saúde traz as principais medidas para redução da mortalidade como, por exemplo, garantir acesso a leitos para o cuidado obstétrico e neonatal de alto risco por meio de regulação efetiva.

Reconhecendo a importância da medicina diagnóstica na assistência segura, a Abramed participa da Aliança representando o setor. “Nos colocarmos à disposição de todo o ciclo de cuidado para a redução das altíssimas taxas de mortalidade materna e neonatal. Os exames têm um peso enorme na construção de uma gestação segura e seguem nos acompanhando ao longo de toda a vida”, diz Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação.