Indispensáveis à segurança materna e neonatal, exames estão presentes em todas as fases da gestação

Do pré-natal ao nascimento, exames laboratoriais e de imagem contribuem com o cuidado; Abramed participa da Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso

8 de setembro de 2021

Em 17 de setembro comemora-se o Dia Mundial da Segurança do Paciente e, a cada ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define um tema focal para a construção de ações que visam a melhoria contínua da assistência. Diante de um cenário em que cerca de 810 mulheres e 6.700 recém-nascidos (1) morrem todos os dias ao redor do globo, muitas vezes por causas evitáveis, o assunto escolhido para 2021 foi Cuidado Materno e Neonatal Seguro.

Considerando que a medicina diagnóstica tem papel extremamente relevante na segurança da gestação e do nascimento, integrando muitas das etapas do pré-natal, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participa da Aliança Nacional para o Parto Seguro e Respeitoso colocando todo o setor de diagnóstico à disposição das ações que promovem a melhor qualidade da assistência.

Os exames, tanto laboratoriais quanto de imagem, integram os cuidados obstétricos ao longo de todas as fases da gestação e permanecem presentes nas primeiras horas de vida dos bebês. “Durante a gravidez, a mulher faz uma série de exames para detectar doenças e mesmo os testes mais simples e rotineiros, como hemogramas e exames de urina, são fundamentais nesse momento”, comenta Alex Galoro, diretor do Comitê de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin.

Segundo o especialista, os exames de sangue auxiliam na detecção de anemias e diabetes que podem evoluir com a gestação e por meio da análise laboratorial da urina pode-se detectar infecções e perdas de proteína capazes de contribuir para o parto prematuro. “Exames laboratoriais também checam incompatibilidades entre os tipos sanguíneos da gestante e do bebê; detectam sorologias diversas como hepatite, HIV e sífilis; infecções por citomegalovírus, toxoplasmose e rubéola, doenças que podem acarretar má formação fetal; e existem marcadores bioquímicos para pré-eclâmpsia”, complementa Galoro. Importante lembrar que, no Brasil, a hipertensão arterial é a causa de morte materna mais frequente, responsável por 23% dos óbitos maternos diretos (2).

A gestante também passa por exames de imagem, um momento que costuma vir repleto de ansiedade (KimONeillPsychic). “Além dos ultrassons obstétricos normais, existe o ultrassom morfológico, que avalia o feto em detalhes, podendo detectar má formações cardíacas, pulmonares e esqueléticas”, relata Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Alliar e diretor do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed.

O médico também recorda que pela ultrassonografia é possível identificar as circulares de cordão – principalmente em torno do pescoço, presentes de 20 a 37% dos bebês ao nascimento (3) –, e algumas outras condições do feto que podem ser tratadas antes mesmo do parto, com intervenções intraútero.

Chegado o momento de dar luz a uma nova vida, os exames seguem presentes. Logo ao nascer, há um acompanhamento do bebê, principalmente nos casos em que a mãe desenvolveu alguma condição clínica ao longo da gestação. “Caso ela tenha tido diabetes, por exemplo, há risco de o recém-nascido desenvolver hipoglicemia e para isso são feitos exames de monitoramento”, pontua Galoro. Outro teste extremamente importante é o de bilirrubina: “a icterícia pode desencadear problema neurológico grave”, complementa o especialista.

Há, também, os testes de triagem como o teste do pezinho. Realizado nos cinco primeiros dias de vida, vem em contínua evolução e, hoje, consegue detectar 53 patologias, todas raras. “Agora temos, também, um outro teste que é chamado de ‘teste da bochechinha’. Com um cotonete, é feita uma raspagem das células da mucosa oral do bebê de onde é possível extrair o DNA. Com essa amostra, fazemos uma triagem para várias doenças genéticas que possam trazer implicações para o desenvolvimento da criança”, comenta Galoro.

Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso

Promovida pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), a Aliança para o Parto Seguro e Respeitoso – que conta com participação ativa da Abramed – é uma iniciativa que busca o comprometimento de todo o setor de saúde com a assistência materna e neonatal. Alinhada com a campanha proposta pela OMS, reúne cerca de 40 entidades que buscam a redução da mortalidade materna, um dos problemas de saúde pública mais graves do país.

“Muitas das causas de morte materna e neonatal são evitáveis. Precisamos da mobilização de toda a sociedade para conscientização sobre esse problema e a criação de medidas que consagrem os direitos ao parto seguro e respeitoso. Assim, unindo agências governamentais, empresas privadas, institutos, associações e profissionais de saúde, ampliamos a discussão”, comenta Victor Grabois, presidente da Sobrasp.

Representando o setor de medicina diagnóstica nessa coalizão de áreas, a Abramed reconhece a necessidade de amplificar esse tema junto a seus associados. “Nos colocarmos à disposição de todo o ciclo de cuidado para a redução das altíssimas taxas de mortalidade materna e neonatal. Os exames têm um peso enorme na construção de uma gestação segura e seguem nos acompanhando ao longo de toda a vida”, diz Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Na visão de Grabois, o setor de diagnóstico é fundamental durante todo o pré-natal, mas ainda mais importante para aquela parcela de mulheres com comorbidades e risco aumentado de complicações. “Gestantes e recém-nascidos com quadros clínicos mais graves e complexos precisam da medicina diagnóstica. Não é possível pensar em segurança do paciente sem todo o aporte laboratorial e de imagem”, diz.

O tema tornou-se ainda mais emergencial agora. Segundo divulgado pela Sobrasp, em 2021, dados do Observatório Obstétrico Brasileiro mostram que 38 gestantes morrem por semana no Brasil em decorrência da COVID-19. “Quando somamos as taxas já altas de mortalidade materna com a crise do novo coronavírus, temos uma situação trágica. Ano passado tínhamos 10 mortes maternas por semana e esse ano estamos beirando 40 mortes semanais”, finaliza Grabois.

Referências:
(1) Dia Mundial da Segurança do Paciente 2021
(2) Fatores de risco relacionados à pré-eclâmpsia
(3) Qual a melhor orientação para gestantes com 38 semanas, com circular de cordão?

Racionalizar – e não racionar – é o caminho para a sustentabilidade da medicina diagnóstica

Debate sobre os limites do setor de diagnóstico hospitalar foi conduzido pela Abramed na Digital Journey

01 de setembro de 2021

O setor de saúde como um todo segue debatendo de forma consistente tanto o underuse quanto o overuse, ou seja, a não realização de exames mesmo quando necessário e a realização excessiva ou desnecessária de procedimentos diagnósticos. Reconhecer essa realidade é fundamental para que o segmento possa atuar na busca pela segurança do paciente e sustentabilidade dos sistemas. Para tratar desse assunto principalmente no ambiente hospitalar, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conduziu um painel com especialistas durante a segunda edição da Digital Journey, evento digital promovido pelo time da Feira Hospitalar.

Na noite de 30 de agosto, Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, recebeu Alessandro Ferreira, vice-presidente comercial e de marketing do Grupo Hermes Pardini, e Marcos Paulo Novais Silva, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), para tratar desses questionamentos.

Um dos primeiros pontos – e talvez um dos mais relevantes do debate – se prendeu à diferenciação de termos com grafias muito parecidas, mas conceitos totalmente diferentes: racionar x racionalizar. No âmbito da medicina diagnóstica, entender que a racionalização é importante para todos os atores da cadeia, mas que o racionamento tende a ferir alguns princípios fundamentais, é imprescindível.

O assunto foi iniciado por Silva. “Somos favoráveis à racionalização no sentido de buscar o melhor uso, de forma consciente, evitando tanto o overuse quanto o underuse. Mas somos contra racionar no intuito de reduzir a assistência, entregando menos do que seria necessário”, destacou.

Na visão de Ferreira, a racionalização é, inclusive, um objetivo global. Segundo o executivo, a proposta universal é sermos cada vez mais assertivos na prescrição e na realização dos exames diagnósticos. E isso extrapola o ambiente hospitalar. “Na prática, os dois extremos seguem acontecendo, tanto o excesso quanto a ausência. E isso pode acontecer pela falta de esclarecimento da equipe médica quanto a maneira mais adequada de conduzir aquela situação ou pela falta de conhecimento sobre as possiblidades diagnósticas que estão disponíveis naquele serviço laboratorial do hospital”, disse.

O executivo exemplificou como a falta de esclarecimento e de conhecimento impactam na prescrição com um cenário visto durante a pandemia de COVID-19. “Observamos, de modo geral, um uso acima do necessário de exames como a procalcitonina, que só apresenta alteração depois de 48 ou 72 horas da infecção, e de testes de dímero D. Tudo isso em decorrência da insegurança causada pela novidade do novo coronavírus no ambiente hospitalar”. Segundo Ferreira, com o melhor entendimento sobre o curso da doença, essas solicitações também diminuíram.

Na outra ponta o especialista mencionou uma baixa utilização de exames ligados à medicina personalizada e à genômica que mesmo não sendo aplicados à urgência e à emergência, tem um papel essencial em especialidades mais avançadas e hospitais que são centros de referência em algumas especialidades. “A falta de conhecimento dos benefícios que esses exames podem trazer para o hospital, os médicos, as operadoras e os pacientes leva a baixa utilização. Cabe a nós, que entendemos as duas vertentes, termos uma conversa transparente e auxiliar na construção de protocolos que conversem com todos os players da cadeia de saúde”, disse.

Medicina defensiva

A judicialização da saúde também foi tema de debate nesse painel sobre os limites da medicina diagnóstica no ambiente hospitalar. “Hoje existe uma prática defensiva da solicitação de exames para embasamento clínico e para a tomada de decisão. Qual o limite da solicitação de exames dentro de um ambiente hospitalar”, questionou Figueira.

Reconhecendo que a medicina defensiva é uma calamidade não só no Brasil, mas no mundo, Ferreira apontou que o limite está no bem-estar do paciente, e isso não envolve apenas ele estar fisicamente saudável, mas ele estar confortável e consciente de tudo o que está incluso no seu ciclo de cuidados.

“Devemos levar em consideração também o conforto psicossocial dos pacientes. Como balancear tudo isso? Com argumentação clínica”, declarou. Para o executivo, uma das maneiras de garantir esse bem-estar está em ser transparente com esse paciente assim que ele chega para o atendimento.

“Sabemos que a jornada pode depender da evolução da doença, mas existem processos definidos e o paciente pode ter acesso ao desenho dessa jornada. Porém, em muitos casos, ele fica sem a informação e acaba acordado no meio da noite para uma coleta de exames que nem sabia que ocorreriam. Demonstrar quais serão as etapas diminui a ansiedade e deixa menos abertura para a busca desenfreada de informações na internet”, detalhou. Essa falta de previsibilidade de sua própria jornada vai contra o cuidado centrado no paciente e atrapalha a segurança psicológica.

Além disso, Ferreira pontuou ser preciso uma observação de potenciais pressões externas, inclusive de familiares, que possam indicar um risco de judicialização. Nesses casos, com embasamento clínico e científico para qualquer decisão tomada, mesmo que seja a negativa para a realização de determinado procedimento, há tranquilidade por parte do corpo clínico.

Na visão de Silva, que complementa o apresentado pelo executivo do Hermes Pardini, dois pontos estão em jogo. O primeiro é o conhecimento técnico e a formação do profissional de saúde, que tem que estar sempre muito bem atualizado para agir com confiança. O segundo é que esse profissional atende uma grande quantidade de pacientes diferentes, com necessidades diferentes, todos os dias. Então ele precisa de protocolos e guidelines que o auxiliem nessa tomada de decisão.

“Além da educação continuada, eu aponto como fundamental a formatação de bons protocolos que deem amparo maior para que os profissionais de saúde possam tomar boas decisões de forma rápida”, declarou.

Dificuldades, métricas e educação continuada

Avaliando como a medicina diagnóstica funciona nos diferentes formatos de assistência, Silva pontuou que a assimetria de informações é um fator complicador. “Nas redes verticalizadas, temos operadoras e hospitais olhando de forma única e isso pode levar a um resultado menor do que o desejável por conta de um alinhamento grande demais entre as duas pontas. Por outro lado, fora da verticalização, o grande dificultador é a assimetria pois há dois grupos independentes que se baseiam no fee-for-service, e podem levar a uma busca pelo aumento da remuneração.

Na visão de Ferreira, talvez o modelo mais transparente possível seja a inclusão de terceiros na estrutura dos hospitais e operadoras. “Pois o serviço terceirizado não vai trabalhar custo como o laboratório verticalizado do próprio hospital e o hospital não olhará seu laboratório como uma central de custos. Quando há outros prestadores de serviço lá dentro, eles emergem como moderadores dessa relação”, explicou.

Na sequência, o time de especialistas mencionou a importância da educação continuada para que haja, de fato, essa racionalização da medicina diagnóstica. “As grandes empresas do setor têm a obrigação de investir em programas de educação médica continuada a fim de prover atualização para os profissionais”, disse. Segundo ele, essa ação também contribui com o acesso à saúde.

Outro ponto que merece investimento, na opinião de Silva, é a construção de dados e indicadores mais ricos e confiáveis para o setor. “Precisamos de informações sobre a efetividade de protocolos, sobre resultados clínicos para levar para as universidades e auxiliar na formação médica”, finalizou.

Mais acurácia e mais acesso – Como a inteligência artificial contribui com a medicina diagnóstica

Tema encerrou a participação da Abramed na segunda edição da Digital Journey by Hospitalar

01 de setembro de 2021

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) encerrou sua participação na segunda edição da Digital Journey, evento virtual promovido pela Feira Hospitalar, com uma rica apresentação sobre a inteligência artificial como facilitadora do acesso ao diagnóstico e redutora das disparidades sociais. O tema foi conduzido por Cesar Higa Nomura, superintendente de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração da entidade, na noite de 30 de agosto.

“A inteligência tem várias faces e nosso foco, nessa apresentação, é apontar suas funcionalidades quando aplicadas ao diagnóstico relacionado à linha de cuidado”, disse Nomura ao iniciar sua palestra que trouxe uma sequência de exemplos, sempre fundamentados em evidências científicas, de como algoritmos bem treinados são capazes de auxiliar na definição diagnóstica e otimizar os tratamentos em diversas especialidades médicas.

Câncer de pele e dermatologia

Em 2016, o The Lancet, um dos principais periódicos científicos do mundo, publicou um artigo que questionava se o câncer de pele poderia ser diagnosticado por meio de inteligência artificial. Naquele mesmo ano, um trabalho divulgado por outra renomada revista, a Nature, apontou que algoritmos de inteligência artificial conseguiam identificar carcinomas e melanomas com alta acurácia.

“O estudo envolveu a análise de 129 mil imagens dermatológicas e o trabalho de diagnóstico de 21 médicos e o que foi observado foi que a acurácia do algoritmo para a detecção do câncer de pele foi de 0.96, ou seja, o software atingiu uma excelente capacidade”, explicou Nomura.

Segundo o executivo, no Brasil há, inclusive, um aplicativo de teledermatologia que permite que o paciente tire uma foto e envie para avaliação e potencial diagnóstico de câncer de pele. “Se pensarmos que não temos especialistas em dermatologia em todos os cantos do nosso país, esse app tem muita utilidade e pode ser absolutamente interessante”, destacou.

Oftalmologia

Outra possibilidade diagnóstica somada à inteligência artificial foi publicada pelo JAMA Network. “120 mil imagens de fundo de olho foram analisadas junto com sete oftalmologistas experientes. Nesse caso, a acurácia do software para detectar retinopatia diabética foi de 0.99. É o algoritmo ajudando o diagnóstico de um acometimento muito importante relacionado à diabetes”, explicou Nomura destacando que a inteligência artificial é tão precisa que com essas imagens consegue até mesmo apontar se o paciente é homem ou mulher.

Cardiologia

A cardiologia também se beneficia do diagnóstico via inteligência artificial. Existem algoritmos para eletrocardiograma capazes de detectar infarto agudo do miocárdio. “Esses algoritmos também podem predizer a função ventricular, apontando se está normal ou alterada. Além disso, trazem estimativas interessantes”, disse Nomura. Segundo o especialista, a capacidade é tão vasta que a inteligência artificial pode identificar até mesmo anemia por esse eletrocardiograma e predizer o risco daquele paciente falecer nos próximos doze meses.

Outra adesão tecnológica à especialidade mencionada por Nomura diz respeito a reserva de fluxo para avaliar angiotomografia de coronária. “Existe a tomografia de coronária e é possível avaliar o fluxo por meio dela. Porém, os algoritmos que existem atualmente utilizam supercomputadores, são exames caríssimos que precisam de um longo tempo de processamento e que exigem que as imagens sejam enviadas para fora do país. Porém estão surgindo alternativas. No Sírio-Libanês publicamos, este ano, conteúdos com algoritmos mais simples em machine learning que conseguem simplificar a análise para uso em estações de trabalho mais simples. São softwares que avaliam a coronária e ainda dizem se, além da estenose, há algum achado que possa estar reduzindo o fluxo”, pontuou. “É um campo vasto de possibilidades”, complementou.

COVID-19

No Brasil, um trabalho ganhou destaque. Qualquer assistência, em qualquer local do país, que tivesse um equipamento de tomografia poderia enviar gratuitamente as imagens dos seus pacientes para um servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a chance daquela imagem representar um caso de COVID-19 e quantificar o comprometimento do pulmão.

Com apoio e financiamento de muitas instituições e empresas, o projeto auxiliou 52 hospitais espalhados por todo o Brasil. “Avaliamos 27 mil tomografias computadorizadas de tórax nessa plataforma que ficou em funcionamento até janeiro de 2021. E além da contribuição diagnóstica, alguns achados foram interessantes. Dados preliminares mostraram que pacientes com mais de 50% do pulmão acometido com vidro fosco tinham maior mortalidade. Além disso, os pacientes com mais da metade do pulmão afetado tinham mais chances de irem para a UTI e de precisar de intubação”, destacou o especialista que participou ativamente do projeto.

Por fim, ao encerrar sua apresentação, Nomura declarou que mesmo na inteligência artificial existem falhas e que para sanar essas falhas é preciso investir em treinamento contínuo dos dados. “É um passo de cada vez com um conhecimento que vai sendo adquirido aos poucos”, disse.

Na visão do executivo, os algoritmos quando bem empregados aumentam a acurácia diagnóstica, encurtam distâncias e democratizam o acesso. “Com a comunidade, a academia, o setor privado e o governo trabalhando como parceiros, é possível fazer muito mais com muito menos”, finalizou.

Na pandemia, indústria foca em priorização para vencer os desafios

Adriano Caldas, vice-presidente para América Latina da Guerbet, comemora o fato de vencer a pandemia sem demissões

01 de setembro de 2021

Com drástica diminuição na quantidade de exames e procedimentos eletivos realizados nos primeiros meses da pandemia, a indústria de saúde também sofreu no país vendo a demanda cair vertiginosamente. Para vencer esses desafios impostos pela COVID-19, mantendo-se firme para seguir em atuação, muitas empresas precisaram tirar o pé do acelerador e reformular suas estratégias.

Na Guerbet, empresa de origem francesa especialista em imagens médicas no mundo, os gestores apostaram em manter, intocadas, suas equipes. Adriano Caldas, vice-presidente para América Latina, conta orgulhoso como conseguiu sobreviver a 2020 sem desligamentos. Nessa entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, aborda, também, quais as outras estratégias adotadas pela companhia e como estão os planos de negócios para o futuro.

Confira o papo na íntegra.

Abramed em Foco – Com a chegada da pandemia, o setor de diagnóstico sofreu bastante, especialmente o de diagnóstico por imagem, já que mesmo que houvesse uma continuidade de demanda de tomografias de tórax, outros exames como ultrassonografias, ressonâncias e mamografias ficaram parados. Como esse afastamento dos pacientes das clínicas e laboratórios impactou os negócios da Guerbet?

Adriano Caldas – É fato que houve uma queda bastante expressiva na realização de exames, confirmada, por exemplo, pelos boletins divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre abril e maio de 2020, vimos o volume de exames e atendimentos caindo na faixa de 60% no comparativo com o período pré-pandemia. Já com a recuperação do último trimestre de 2020, chegamos a números bem mais próximos do que tínhamos antes.

Toda essa oscilação teve um forte impacto que nos exigiu ações estratégias para ajustar nosso fluxo de caixa. Aqui a palavra-chave foi priorização. No ano passado tivemos de olhar realmente ao que era essencial não só para o curto prazo, para o longo prazo. Tentamos não paralisar investimentos importantes, críticos e estratégicos que impactaram os anos de 2021, 2022 e 2023. Porém, tínhamos que fazer escolhas para conter os gastos. Essa foi a tônica de 2020, acreditando que o cenário começaria a melhorar no final do ano.

Abramed em Foco – E o ritmo da Guerbet foi o mesmo dos clientes?

Adriano Caldas – Interessante observar que a velocidade de recuperação dos nossos clientes não foi padronizada. Dependia do tipo de negócios e da região. Mas a sequência foi parecida, tendo início em outubro com um crescimento gradativo dos negócios.

Abramed em Foco – Os recursos humanos da companhia foram impactados?

Adriano Caldas – Na Guerbet, temos muito orgulho de dizer que mesmo tendo de fazer escolhas difíceis durante o ano de 2020, nós conseguimos priorizar nosso time. Temos uma organização muito eficiente, com pessoas com conhecimento e competência, além de processos bem ajustados. Assim, conseguimos passar por tudo isso sem desligar nenhuma posição. Na verdade, acabamos contratando posições adicionais. Por fim, não tivemos desligamentos, tampouco redução das jornadas. Passamos pela pandemia mantendo nosso maior ativo que é a nossa equipe.

Abramed em Foco – Muitas empresas de diagnóstico tiveram de mudar seus cardápios de exames para reequilibrar as atividades. Aconteceu o mesmo na indústria?

Adriano Caldas – Ao longo de toda a pandemia fomos acompanhando a realidade do mercado. Nosso portfólio não tem produtos dedicados a essa ou aquela patologia. Vendemos, por exemplo, contrastes para ressonância magnética de forma geral. Se o número de ressonâncias cai, cai também a nossa produção. Foi algo que nos afetou e não tivemos como mudar. Então, no curto prazo, buscamos alternativas de crescimento junto a novos clientes a fim de aumentar nosso volume de exames.

Globalmente, a aposta da Guerbet vem sendo a de incluir, na vitrine, algumas soluções digitais, investimentos nos exames e no contraste para ressonância magnética, e produtos atrelados à maior incidência de casos oncológicos no mundo (já que o aumento da expectativa de vida tende a também aumentar os casos de câncer). Além disso, outra área de dedicação é a radiologia intervencionista. A empresa tem muitos planos para se desenvolver nesse segmento com soluções ainda mais completas.

Abramed em Foco – E quanto à pesquisa, desenvolvimento e inovação? Na sua opinião, a pandemia promoveu um avanço da tecnologia em saúde?

Adriano Caldas – A Guerbet definiu cinco áreas de investimentos globais prioritários e a boa notícia é que, com isso, todos os projetos andaram na velocidade esperada, apesar da pandemia. Teremos lançamentos de produtos na área de contrastes, bem como parcerias com empresas para adesão de soluções digitais que complementam nosso portfólio, incluindo softwares que utilizam inteligência artificial para suportar o diagnóstico de patologias em áreas como demência, esclerose múltipla, pâncreas e fígado. No Brasil, essa estratégia se traduziu em uma dedicação a projetos pilotos. Estamos discutindo e trazendo essas soluções sempre com o objetivo do aprendizado.

Abramed em Foco – Quais mudanças foram implementadas por conta da COVID-19 que acredita que permanecerão pós pandemia?

Adriano Caldas – O primeiro ponto, sendo quase óbvio, é a conectividade. Com a transformação digital muito acelerada – lembrando, claro, que mais em alguns locais do que eu outros a depender da infraestrutura e da capacidade de cada um em investir e se adaptar – encontramos maneiras de nos tornarmos mais digitais, e penso que isso vai permanecer. Não voltaremos a ser como antes, mesmo que vivenciemos um balanço entre as relações pessoais e o uso de ferramentas virtuais. Diante disso, temos um longo caminho pela frente para investir e digitalizar processos de compra, de pedidos, entregas e fortalecer as interações com os clientes.

Essa conectividade ampliada chega, também, ao paciente. Quantas e quantas vezes vemos que o paciente não mais carrega aquela pasta repleta de exames, pois quando ele chega ao consultório, o médico já tem acesso ao laudo digitalizado. Isso era algo que já estava acontecendo, mas se fortaleceu.

Assim, apostamos em uma estratégia totalmente relacionada a soluções mais amplas que envolvam produtos e serviços. Soluções que ajudem as pessoas a gerenciar melhor todos os processos. Assumimos cada vez mais um papel consultivo.

Abramed em Foco – Qual o papel da indústria na ampliação de acesso da população a exames de qualidade e na implementação de ações que promovam melhorias aos processos já estabelecidos?

Adriano Caldas – Quando falamos em acesso, temos duas direções a seguir. A primeira é diminuir o custo ao mesmo tempo em que aumenta a eficiência e a produtividade. E aqui está justamente o core da Guerbet ao oferecer soluções de contraste, injetoras e produtos somados a serviços fundamentais que garantem o funcionamento dos equipamentos com baixa manutenção. A segunda está em agregar soluções digitais que ajudam na identificação de métricas que mostram onde aquele cliente pode mexer para reduzir seus custos. Esses dois direcionamentos atuam pela melhoria de acesso.

Paralelamente, temos de mencionar o papel da inovação nesse contexto. Precisamos entender que não podemos olhar apenas o custo daquela inovação, mas sim o ciclo como um todo. Muitas vezes o investimento inicial pode ser mais alto, porém, quando se olha todo, o custo total, há economia na cadeia. Por exemplo, quando conseguimos detectar casos oncológicos muito precocemente, teremos redução dos custos de tratamento, além, claro, de melhor prognóstico para esse paciente.

Abramed em Foco – Como enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

Adriano Caldas – Sou sempre favorável às associações sejam da indústria ou dos prestadores, pois essas entidades permitem que o setor ganhe força e colocam mais cabeças para pensarem juntas sobre um mesmo tema. Problemas complexos exigem visão sistêmica para serem sanados, e para isso é indispensável reunir muita gente.

No caso da Abramed, em particular, vejo uma atuação fundamental na consolidação do valor da medicina diagnóstica no país. Um diagnóstico correto, com bons exames, e a capacidade de entregar valor junto à prevenção de doenças é uma mensagem que precisa ser clara e sempre validada até mesmo para evitar aquele famoso mal-entendido de que há exames desnecessários. Com isso, vejo que a Abramed pode evoluir gerando uma interação importante com a comunidade médica e, para o setor empresarial, auxiliar compartilhando informações que mostram o tamanho do nosso mercado e a capacidade que nosso país tem de buscar investimentos.

Por fim, a possibilidade de interação e discussão sobre os problemas e as oportunidades do setor de saúde geradas pela Abramed com seus eventos e reuniões é essencial, pois a sustentabilidade do sistema exige esse trabalho em conjunto.

Diagnóstico por imagem e inteligência artificial otimizando o manejo dos pacientes com COVID-19

Estudos reforçam os benefícios da tecnologia agregada à medicina diagnóstica; projeto brasileiro que uniu achados de tomografia com IA avaliou mais de 25 mil casos em apenas nove meses

01 de setembro de 2021

Passados 15 meses do início da pandemia, muito se aprendeu sobre a COVID-19 e seus impactos no organismo humano, mas muito ainda precisa ser desvendado. Além de ser fundamental para a rápida detecção dos infectados, possibilitando o isolamento e a redução da disseminação do patógeno, a medicina diagnóstica tem papel extremamente relevante durante todo o curso da doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que o RT-PCR, teste molecular de alta complexidade, é o padrão-ouro para o diagnóstico. Paralelamente, outros testes laboratoriais surgiram e os exames de imagem assumiram um papel bastante relevante no manejo dos pacientes contaminados.

Lembrando que a medicina diagnóstica é um setor em constante evolução e inovação, a adesão tecnológica traz ganhos consideráveis. Estudo publicado em julho deste ano pela Sociedade Europeia de Radiologia (1) desenvolveu um sistema de inteligência artificial que, integrado à tomografia computadorizada de tórax e utilizando dados clínicos, conseguia prever a deterioração futura de doenças críticas em acometidos pela COVID-19.

Para os pacientes, essa antecipação do risco de agravamento é crucial, pois permite uma intervenção oportuna, melhorando os resultados. Já para o sistema de saúde, possibilita a criação de uma estratégia mais assertiva pela melhor alocação de recursos como, por exemplo, ventiladores mecânicos ou máquinas de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).

Foram incluídos no estudo, 1.051 pessoas comprovadamente infectadas pelo novo coronavírus, sendo que 282 delas desenvolveram doença crítica responsável por internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ventilação mecânica, ou óbito. Na ocasião, o sistema de inteligência artificial conseguiu estratificar com sucesso quais pacientes tinham alto risco de piora clínica.

Esse estudo foi conduzido no cenário internacional com pacientes da China e dos Estados Unidos, porém no Brasil a comunidade científica focada no desenvolvimento de inovação diagnóstica também atuou com a somatória de exames de imagem e inteligência artificial para a melhor gestão da crise.

Ainda em julho de 2020, poucos meses após a OMS ter declarado a pandemia de COVID-19, Gustavo Meirelles, vice-presidente médico da Alliar e diretor do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, publicou um artigo de revisão intitulado “COVID-19: uma breve atualização para radiologistas” (2) no qual além de abordar os principais aspectos clínicos e imaginológicos da infecção e as diretrizes para solicitação e utilização dos métodos de imagem durante a pandemia, mencionava as inovações que surgiam citando, inclusive, a utilização da inteligência artificial para análise das imagens e a construção de modelos preditivos.

Na publicação, o especialista relatava um potencial benefício dessa tecnologia para a triagem rápida de pacientes com suspeita clínica da doença em locais com poucos recursos diagnósticos.

Justamente nesse sentido, foi desenvolvido o projeto RadVid-19. Um grupo de pesquisadores, radiologistas e profissionais das ciências da computação e exatas atuaram no desenvolvimento de uma solução inovadora e de rápida implementação para diagnóstico da COVID-19 em todo o país.

“Qualquer instituição de saúde, de qualquer região do Brasil, que contasse com um equipamento de tomografia podia enviar imagens para esse servidor que utilizava dois algoritmos para detectar a probabilidade de uma infecção pelo novo coronavírus e quantificar o acometimento pulmonar em cada exame de imagem compartilhado”, explica Cesar Nomura, superintendente de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Conduzido pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo por meio do InovaHC, o projeto contou com patrocínio de muitas empresas, associações e entidades da saúde. Entre maio e dezembro de 2020, com 50 hospitais cadastrados, emitiu mais de 50 mil reports de inteligência artificial construindo um banco de dados com 25 mil casos analisados.

“A inteligência artificial tem sido cada vez mais utilizada como apoio ao diagnóstico nos mais diferentes tratamentos de saúde e, em tempos de pandemia, utilizá-la é fundamental. Nos últimos anos temos avançado na aplicação dessa tecnologia para diferentes tipos de exames”, comenta Meirelles.

Corroborando com essa percepção, outro estudo (3), dessa vez publicado em fevereiro desse ano pela Sociedade Norte-Americana de Radiologia (RSNA), considerou todos os avanços no diagnóstico por imagem da COVID-19 – inclusive a aplicação de inteligência artificial – e relatou que mesmo que nos estágios iniciais da doença, as imagens de tórax possam deixar de apresentar alterações, no ciclo de cuidado desempenham papel importante informando as decisões clínicas relacionadas à necessidade de internação hospitalar, momento de intubação, manejo do paciente e eficácia terapêutica. Com a agregação da inteligência artificial, esses exames podem melhorar a precisão do diagnóstico e a avaliação da gravidade.

Referências:

(1) Artificial intelligence for prediction of COVID-19 progression using CT imaging and clinical data

(2) COVID-19: uma breve atualização para radiologistas

(3) COVID-19 Imaging: What We Know Now and What Remains Unknown

Especialistas debatem a relação entre custo e investimento na medicina diagnóstica

Terceira edição da série #DiálogosDigitais Abramed foi realizada em 24 de agosto e moderada por Wilson Shcolnik

31 de agosto de 2021

Especialistas em medicina diagnóstica estiveram virtualmente reunidos em mais uma edição da série #DiálogosDigitais Abramed. Neste episódio, comandado pelo presidente do Conselho de Administração da Associação, Wilson Shcolnik, o debate mesclou assuntos diversos que permeiam o setor com o objetivo principal de esclarecer: medicina diagnóstica é custo ou investimento?

Participaram do bate-papo Alexander Buarque, diretor de ética da Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT); Bernardo Barros, gerente médico da BioMérieux; e Malu Sevieri, diretora-executiva da Medical Fair Brasil.

“Nosso setor teve um papel importante nessa pandemia, fomos mais valorizados e novos recursos surgiram ao longo do tempo. Hoje temos testes diferentes, cada um com sua aplicação correta. E isso nos colocou em evidência. Conseguimos perceber como o investimento em medicina diagnóstica é importante dentro desse momento de tantos novos recursos que podem, inclusive, gerar muita economia para o sistema de saúde, indicando a terapia certa para o paciente certo”, comentou Shcolnik.

Considerando que a medicina ocupacional vem ganhando cada vez mais relevância no ciclo de cuidado – inclusive agora com o retorno dos trabalhadores para seus escritórios e espaços de trabalho –, Buarque comentou como a testagem para COVID-19 foi aplicada à rotina das empresas como uma forma de prover mais segurança e tranquilidade. “Com a testagem, principalmente quanto aplicada diariamente, conseguimos captar algumas pessoas assintomáticas, em estágio inicial da infecção pelo novo coronavírus”, explicou. É a medicina diagnóstica agindo para detectar precocemente os contaminados evitando a disseminação do patógeno.

Na sequência, o executivo falou um pouco sobre as mudanças da medicina do trabalho. Segundo ele, nos últimos cinco anos, esse segmento da saúde alcançou um novo patamar, saindo do desenho de coordenação de ações básicas e exames de aptidão, para elaboração de estratégias populacionais, tanto de diagnóstico quando de cuidado coordenado.

“A medicina do trabalho tinha um perfil de exames focados no risco. Então, às vezes eram elaborados testes especialmente para algumas posições. Hoje entendemos que as pessoas passam dez horas por dia dentro do trabalho e que esse é um excelente lugar para que possamos cuidar e acolher esses trabalhadores elaborando, inclusive, estratégias de autocuidado”, completou. Quando se enxerga todo esse potencial da medicina ocupacional, agrega-se ainda mais valor à medicina diagnóstica.

Seguindo essa reestruturação, a medicina do trabalho passou a focar nas principais patologias, trazendo para perto de si a atenção primária, deixando de lado exames sem evidência de atuação para rastreio – como o eletroencefalograma para quem vai trabalhar diariamente em altura mencionado por Buarque – para englobar um checkup mais dinâmico.

De acordo com ele, foi adotada a estratégia “Know your numbers”, focada em fazer com que cada trabalhador conheça seus principais dados de saúde: pressão arterial, diâmetro da cintura abdominal, IMC, colesterol e glicemia de jejum. “Os três primeiros tínhamos acesso na consulta, mas os outros dois dependiam de exames laboratoriais. Então colocamos esses testes na estratégia para que as pessoas já saíssem da consulta conhecendo esse diagnóstico”, explicou. Além de realmente utilizar a medicina diagnóstica para traçar um perfil de risco, essa estratégia agrega um valor que antes não era visualizado nos exames ocupacionais.

Outro ponto do debate foi a possiblidade de empresas com grande número de funcionários trazerem, para dentro de seus workplaces, laboratórios clínicos. Na opinião de Buarque, essa não é uma decisão que pode ser padronizada. “Temos muitas empresas estruturando agora suas estratégias. É um mercado que ainda não apareceu 100%. É importante que os prestadores fiquem atentos a esse nicho, pois será preciso avaliar cada cenário, fazer estudo de mercado e entender as dores de cada cliente”, disse.

Medicina diagnóstica no ambiente hospitalar

Atuando em ambientes críticos, Barros falou um pouco sobre a rotina de solicitação de exames nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e quais as mudanças mais recentes. Entre os apontamentos do especialista, estavam os exames focados no diagnóstico sindrômico. “Temos tentado alternativas com mais valor como, por exemplo, exames que auxiliam no diagnóstico de diarreias e pneumonias trazendo uma identificação do agente etiológico em menor tempo para início do tratamento antibiótico adequado mais rápido. Temos vários fabricantes, alguns já trabalhando com resultados prontos em até 60 minutos. Excelente para uma terapia empírica até mesmo dentro do pronto-socorro”, detalhou.

Contribuindo com a explanação sobre a relevância desses avanços diagnósticos, Shcolnik mencionou: “esses painéis que permitem diagnóstico muito rápido, para um caso de uma criança que chega ao pronto-socorro com suspeita de meningite, por exemplo, são fantásticos para permitir uma orientação terapêutica imediata. Faz muita diferença também para quem trabalha dentro do laboratório hospitalar”.

Barros mencionou, inclusive, que cada hora de atraso no início do tratamento com antibiótico correto há acréscimo linear na mortalidade. Quando esse atraso chega a seis horas, aumento de 30% na mortalidade e quando passa de 12 horas aumento de até 50%.

Lembrando que para cada tecnologia agregada a um sistema de saúde é preciso investir na educação e treinamento dos profissionais que ficarão responsáveis pela operação, Barros disse que a adesão tecnológica tende sempre a trazer benefícios, tanto para os pacientes quanto para o sistema.

Relacionamento, tecnologia e novos produtos

Considerando que a tecnologia segue em constante evolução trabalhando, inclusive, para agregar valor à medicina diagnóstica na construção de exames cada vez mais acessíveis e assertivos, trabalhando pela redução de custos e aumento do alcance, o relacionamento entre vendedores e compradores dentro do setor é indispensável para a construção de uma medicina diagnóstica sustentável. Nesse sentido, Malu trouxe algumas de suas principais perspectivas globais já que atua diretamente com a organização da Medical Fair Brasil, versão brasileira da Feira MEDICA da Alemanha.

Segundo a executiva, o Brasil é extremamente atrativo do ponto de vista de negócios por conta do tamanho do seu mercado, porém há ainda algumas barreiras de confiança a serem vencidas. Quanto a diferenças na apresentação dos produtos, Malu acredita que o mercado global está equilibrado. “Não vejo muita diferença na parte de avanços tecnológicos. A diferença maior está na oferta. Fora do Brasil temos muitas empresas vendendo as mesmas tecnologias que, quando chegam no mercado brasileiro, chegam com custo alto. Na Ásia, por exemplo, temos muito mais variedade para um mesmo tipo de produto”, pontuou.

Para exemplificar como o mercado está aquecido e trabalhando pela inovação, a diretora trouxe alguns exemplos: aplicativos para gerenciamento de cirurgias, tirando a responsabilidade de definição de prioridades do médico e colocando na inteligência artificial, o que é uma boa alternativa para o Sistema Único de Saúde (SUS), que lida com filas para operações; e softwares que trabalham com o cruzamento de dados de exames a fim de predizer o risco de pacientes internados nas UTIs.

O terceiro episódio da série #DiálogosDigitais Abramed está disponível na íntegra no canal do YouTube da entidade. Clique AQUI para assistir.

Lidando diariamente com dados sensíveis, medicina diagnóstica avalia os impactos da LGPD

Lei Geral de Proteção de Dados está em vigor; bate-papo na Digital Journey trouxe importantes apontamentos sobre o que merece mais atenção

31 de agosto de 2021

A participação da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) na Digital Journey, evento virtual promovido pelo time da Feira Hospitalar, foi iniciada com uma entrevista sobre proteção de dados no setor de medicina diagnóstica. O encontro, realizado na tarde de 30 de agosto, contou com a participação de Milva Pagano, diretora-executiva da entidade, direcionando perguntas à Rogéria Leoni Cruz, diretora jurídica e Data Protection Officer do Hospital Israelita Albert Einstein.

Na visão de Milva, esse é um dos assuntos mais importantes para serem debatidos agora no setor de diagnóstico, visto que é um segmento que lida diariamente com dados sensíveis. “Há sempre uma grande preocupação do setor de saúde quanto ao manejo desses dados. Antes mesmo da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrar em vigor, já existia um tratamento repleto de cuidado, proteção e confidencialidade. Mas agora novas regras foram criadas despertando muitos pontos de atenção”, esclareceu.

Para detalhar quais esses pontos, Rogéria – que também é a diretora do Grupo de Trabalho (GT) de Proteção de Dados da Abramed – enfatizou que inicialmente é preciso reconhecer que a implementação da lei no Brasil ocorreu de forma um tanto quanto atípica, já que primeiro veio a legislação e somente depois foi criada a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). “Tivemos um gap grande nesse sentido e, consequentemente, uma demora razoável”, pontuou.

Dando sequência ao debate, Rogéria listou alguns pontos que merecem destaque:

  • Portabilidade
  • Posição do controlador e operador
  • Definição de qual o limite da tutela da saúde para a segurança de dados
  • Transferência internacional de dados

“Esses são alguns dos pontos críticos para a nossa atividade dentro da medicina diagnóstica”, disse a especialista. Para ela, essas questões em breve serão regulamentadas, mas há uma preocupação maior até mesmo porque a medicina diagnóstica também foi muito afetada pela pandemia de COVID-19, o que pode ter atrasado os investimentos em proteção de dados nas corporações. “Alguns programas talvez tenham sido freados, principalmente de conscientização e treinamento, já que todos estavam focados na linha de frente no combate ao novo coronavírus”, complementou.

Autoridade Nacional de proteção de Dados (ANPD) e punições

Na visão de Rogéria, a ANPD tem desempenhado uma função crítica em um curto espaço de tempo, mas aparentemente as fiscalizações serão responsivas. “Até mesmo pelas atitudes da agência, vejo um trabalho focado em diálogo e transparência somado à uma forte participação social”. A executiva diz perceber que a ANPD está ouvindo os setores e acredita que em breve chegará a hora da medicina diagnóstica ser recebida para tratar de suas demandas.

Para Milva, um dos pontos que merece muita atenção da ANPD é, mesmo, a tutela da saúde. “Um tema delicado e esperamos poder discutir com eles o assunto para abordar conceitos, limitações e as linhas muito tênues que existem entre os elos da cadeia”, comentou.

Passando para a percepção de quais faltas serão consideradas graves, Rogéria foi bastante enfática ao dizer que acredita que as punições severas estarão atreladas à falta de responsabilidade. “Vejo que nossa legislação está muito próxima ao que vem sendo feito na Europa. Então acredito que faltas graves serão aquelas aliadas a ambientes com inconsistências técnicas grandes e a falta de evidência de boas práticas”. Entre os erros por ela mencionados estariam a permissão de acessos indevidos por falta de controle, falhas que atinjam muitas pessoas dentro do ambiente e que tragam desconforto e contrariedade aos princípios da lei, e vazamentos irresponsáveis.

Especificamente dentro da medicina diagnóstica, os erros mais comuns podem envolver os cuidados com acessos indevidos, compartilhamentos desnecessários de informações e falta de transparência.

Ao mesmo tempo, Milva aproveitou a oportunidade para reforçar que existe um atenuante e que as empresas devem ficar atentas a isso. “A partir do momento em que a empresa mostra um cuidado, a implementação de um sistema de controle, seguido da orientação dos colaboradores, há a percepção de que acidentes acontecem e que houve empenho e dedicação em evitá-los”.

Próximos passos e preparação

Para que estejam preparadas para cumprir as obrigatoriedades da LGPD, as empresas devem, na opinião de Rogéria, iniciar um bom programa de proteção de dados. “O que temos visto é uma abordagem muito grande nas organizações em programas de conscientização, apresentando as armadilhas que existem no ambiente digital. Assim é importante evitar a coleta de informações desnecessárias, estruturar bem os sistemas de segurança da informação e investir em ciberseguros. Essa é a nossa nova realidade”, declarou. A especialista mencionou, também, que já vínhamos trilhando esse caminho, mas a pandemia o acelerou trazendo mais conectividade no ambiente de saúde.

Para auxiliar as empresas a compreender os desafios da LGPD enfrentando as mudanças, a Abramed em breve lançará uma Cartilha de Boas Práticas em Proteção de Dados. O guia, que está sendo finalizado pelo GT de Proteção de Dados coordenado por Rogéria, trará desde questões relacionadas ao departamento de Recursos Humanos até detalhes sobre o relacionamento com as operadoras de planos de saúde.

“Esse é, de fato, um trabalho de formiguinha, assim como toda mudança cultural. Mas eu vejo a LGPD com bons olhos, como uma vantagem competitiva. É uma boa lei e os associados à Abramed estarão bem amparados”, finalizou a especialista.

Com segurança e controle, Abramed transforma dados em informações setoriais

Comitê de Dados Setoriais trabalha continuamente na gestão de indicadores para traçar uma visão do setor de medicina diagnóstica

11 de agosto de 2021

A construção de um panorama setorial é de fundamental importância para que todas as empresas envolvidas naquela cadeia de produtos e serviços possam desenvolver suas estratégias com base em informações fidedignas e que reflitam detalhadamente o comportamento e as tendências do mercado.

Na Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o Comitê de Dados setoriais atua no desenvolvimento e aprimoramento dos principais indicadores setoriais das empresas associadas; e o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico consolida e apresenta o conjunto dessas informações, reunindo detalhes sobre as principais instituições que atuam na oferta de serviços do segmento no país.

O trabalho, além de contínuo, é composto por muitas etapas para que as informações dos associados sejam mantidas em segurança. “Todas as informações recebem tratamento confidencial e são sempre divulgadas de forma consolidada, preservando a anonimização dos dados. Esse processo é garantido por meio do termo de confidencialidade (NDA), assinado pela nossa área de inteligência”, explica Álvaro Almeida, economista e analista de inteligência da Associação, que reforça que o processo é todo estruturado segundo os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Ao mesmo tempo em que coleta e trata os dados compartilhados pelos associados, que, hoje, são responsáveis por cerca de 60% dos exames realizados na saúde suplementar, a área de inteligência setorial atua na obtenção de informações em bancos de dados já consolidados como os da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), entre outros, com objetivo de apresentar evidências robustas do impacto da medicina diagnóstica no setor de saúde e na economia do país.

Com todas essas informações em mãos, é possível fazer uma avaliação abrangente do setor, o que leva ao lançamento anual do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico. “A elaboração do Painel leva, em média, seis meses e envolve diversas atividades de planejamento e execução com atuação multiprofissional”, pontua Almeida. O especialista ainda relata que a criação do Comitê de Dados Setoriais contribuiu para aproximar ainda mais as empresas associadas do processo de desenvolvimento da publicação.

Durante a pandemia de COVID-19, a coleta e análise desses dados intensificou a percepção de relevância, visto que o compartilhamento das informações quanto à realização de exames para diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus pautou, por diversas vezes, a imprensa e contribuiu com avaliações epidemiológicas e tomada de decisão.

Atualmente, a área de inteligência setorial da Abramed trabalha na coleta e consolidação dos dados que embasarão o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico 2021. Desde a edição passada, o relatório traz uma seção específica sobre a COVID-19, pontuando todo o protagonismo do setor no controle da pandemia e no combate à disseminação do patógeno.

Com mudança no menu de exames e engajamento dos colaboradores, medicina diagnóstica encara os desafios da COVID-19

Abramed comandou um painel no Medical Conecta sobre os impactos da crise no setor

10 de agosto de 2021

Na terça-feira, 10 de agosto, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conduziu um painel no Medical Conecta, plataforma criada pela Medical Fair Brasil para movimentar o mercado médico-hospitalar e promover o fechamento de negócios enquanto os eventos presenciais ainda não foram retomados. Na ocasião, reuniu especialistas para tratar dos desafios do setor de diagnóstico durante a pandemia de COVID-19.

Para esse bate-papo e troca de experiências, estiveram reunidos Carlos Aita, médico patologista e responsável técnico na DB Diagnósticos; César Amaral de Camargo Penteado, diretor médico do CURA; e Gabriela Brincas, diretora da Clínica Imagem. A moderação foi feita por Alex Galoro, diretor do Comitê de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin.

Após a abertura do painel, feita por Milva Pagano, diretora-executiva da Associação, Galoro declarou: “estamos em meio a uma pandemia de um vírus ainda pouco conhecido. No início, não tínhamos vacina tampouco muitas informações sobre como lidar com ele e ainda não temos tratamento específico. Tudo isso trouxe um grande impacto para a organização dos nossos serviços e tivemos de nos adaptar apostando em diferentes medidas para diferentes fases”. Na sequência, convidou os participantes a contar um pouco mais sobre como cada empresa enfrentou esse cenário.

O painel foi interessante por trazer a realidade de três modelos diferentes de negócios no setor de medicina diagnóstica. E, mesmo assim, as realidades muitas vezes coincidiram e os desafios enfrentados foram os mesmos.

A Clínica Imagem está instalada dentro de uma unidade hospitalar no estado de Santa Catarina e tem foco em exames de imagem, o que permitiu, à Gabriela, falar um pouco sobre a realidade do diagnóstico nesses dois ambientes. “Assistimos a uma queda muito grande na volumetria de diagnósticos entre março e abril do ano passado. A readequação de equipes e o medo dos nossos colaboradores frente ao desconhecido foram os principais desafios nos primeiros 40 dias de pandemia”, pontuou.

Penteado, cuja empresa abraça tanto o diagnóstico laboratorial quanto o de imagem, também destacou a queda considerável no número de exames realizados nos dois primeiros meses da crise. “No início foi bem difícil para nos equilibrarmos, mas é interessante perceber que a nossa estrutura predial, térrea e fragmentada, que antes considerávamos uma fraqueza, se mostrou uma vantagem competitiva. Por conta desse formato, conseguimos estabelecer uma boa segmentação de fluxo, para a segurança de todos, garantindo a tomografia ao nível ambulatorial para confirmação de diagnóstico de COVID-19”, declarou.

Mesmo atuando principalmente como laboratório de apoio, Aita tem uma percepção similar à de Gabriela e de Penteado, porém trouxe, ao debate, um outro desafio muito importante durante a crise: a logística. “Além de depender dos laboratórios que são nossos clientes e foram impactados, também dependemos da logística, que teve o fluxo aéreo interrompido nos obrigando a atuar com a logística terrestre”, disse.

Atrelado à questão logística, está o aumento considerável dos preços. “Estamos sofrendo, ainda hoje, pois a alavanca está voltando, mas o preço de compra ainda é um preço pandêmico. Quanto tempo vamos carregar o aumento de valor dos nossos consumíveis do dia a dia?”, questionou Gabriela. Esse aumento, inclusive, teve de ser absorvido pelas empresas de medicina diagnóstica, já que não foram repassados para as operadoras e planos de saúde, o que aumenta ainda mais o impacto já existente sobre as operações.

Mudanças no catálogo de exames

Além de impor mudanças estruturais aos laboratórios e clínicas de imagem, a pandemia também levou as empresas a uma adaptação do seu catálogo de exames. No setor de imagem, Gabriela comenta que o carro chefe passou a ser a tomografia de tórax, exame também utilizado para diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus. “A tomografia virou, de fato, a nossa sustentabilidade financeira e volumétrica quando vimos o ultrassom e a mamografia despencarem”, declarou.

Na DB Diagnósticos, uma das estratégias foi concentrar os exames que dependiam de insumos chegando por via aérea nas unidades de São Paulo, deixando, no sul, os exames que poderiam ser abastecidos pela malha rodoviária. Tudo isso somado a uma drástica mudança no menu geral de exames que incorporou os testes de COVID-19. “Tivemos que nos adaptar e o que facilitou foi nossa agilidade em incorporar esses testes em nossa rotina”, disse Aita.

Porém, essa queda no número de exames preocupa não só as empresas por questões de sustentabilidade, mas de saúde. O amplo afastamento dos pacientes de exames preventivos atrasa diagnósticos de doenças e piora os prognósticos. Atuando para evitar que muitas pessoas deixassem de realizar seus exames, as empresas privadas de diagnóstico investiram em ações pontuais. A Clínica Imagem, por exemplo, fez um trabalho de aproximação com os oncologistas para que as biópsias não parassem, mesmo tendo de enfrentar um certo desafio logístico para a obtenção das agulhas próprias para esse procedimento.

Além da mudança nos exames ofertados, houve mudança também no formato. Penteado comentou que além do drive-thru – sistema abraçado por muitos laboratórios para evitar que pessoas potencialmente infectadas com o novo coronavírus tivessem de circular pelas unidades para fazer os testes – o CURA investiu no walk-thru a fim de atender aqueles que chegavam sem carro ao laboratório.

Equipes e recursos humanos

A queda no número de procedimentos impacta, diretamente, as equipes, exigindo, da gestão, a tomada de decisão. No CURA, foi possível manter todo o time. “Em um primeiro momento, todos ficaram assustados com os números de exames despencando. Porém, com as medidas provisórias que surgiram, como, por exemplo, a possibilidade de antecipação de férias e implementação de jornadas reduzidas, pudemos nos reequilibrar”, disse Penteado.

Na DB, houve uma redução do quadro de pessoal, porém esse cenário já foi reestabelecido. “O maior impacto foi no mês de abril de 2020, mas com a retomada da produção, hoje temos uma equipe maior do que antes”, falou Aita.

Essa necessidade de equilíbrio também foi um dos desafios apontados por Gabriela, que enfatizou que além das questões administrativas, o time teve de lidar com afastamentos por sintomas respiratórios e, inclusive, com um aumento significativo do número de gestantes, que também impactou o quadro.

Porém, mesmo diante desse cenário de altas taxas de infecção no país, os três executivos contaram motivados que entre seus times o número de casos de COVID-19 foi significativamente baixo, não ultrapassando 25% em nenhuma das empresas.

Interessante observar, inclusive, alguns apontamentos sobre os potenciais locais de infecção. Segundo Aita, na DB Diagnósticos foi possível perceber uma maior taxa de infecção nas pessoas que estavam atuando em home office. “Aparentemente, quem estava em trabalho presencial, acabava se cuidando mais. Em casa, podemos nos desarmar e ficamos mais suscetíveis ao contágio”, declarou.

Expectativas e futuro da medicina diagnóstica

“Vendo o momento atual, com tendência de queda de casos e aumento da vacinação, como vocês enxergam a evolução dos próximos meses? E o que fica de aprendizado”, questionou Galoro.

Para Gabriela, um dos grandes aprendizados foi perceber que mesmo com todas as dificuldades, os colaboradores estavam engajados. “Apesar dos afastamentos, das infecções, das novas regras, vimos uma equipe muito motivada e com senso de pertencimento”, declarou a executiva que também mencionou que durante a crise eles conseguiram reduzir o tempo do laudo, uma novidade que permanecerá e beneficia os pacientes que acabam acessando seus resultados mais rapidamente. Penteado e Aita também concordaram que a resiliência das equipes foi fundamental. Para encerrar o encontro virtual, Milva enfatizou que o fator humano tem, de fato, um peso positivo em todo esse cenário desafiador. “Apesar das limitações e do medo, fico feliz em ver a capacidade humana de união, resiliência e motivação. Especialmente no setor de saúde, sempre me emociono ao ver as pessoas atuando na linha de frente, expostas ao risco e mesmo assim em um espírito de doação, entrega e atenção ao outro. Acredito que sairemos desse túnel chamado pandemia melhores do que entramos”, finalizou.

“Todos nós teremos de tomar decisões muito mais assertivas”

Malu Sevieri, diretora-geral da Medical Fair Brasil, fala sobre a retomada das feiras de negócios para o setor de saúde

10 de agosto de 2021

Saúde é um setor essencial e que envolve muitos players distintos para que a complexa cadeia possa fluir. Em entrevista exclusiva à Abramed em Foco, Malu Sevieri, CEO da Emme Brasil – representante do grupo alemão Messe Düsseldorf –, e diretora-geral da Medical Fair Brasil (MFB) aborda os principais impactos da COVID-19 na paralisação de feiras de negócios, fundamentais para promoção do relacionamento entre compradores e vendedores. A executiva fala sobre quais soluções adotou para minimizar os imensos desafios que surgiram e reforça que a retomada está com data e hora marcada.

Confira a entrevista na íntegra.

Abramed em Foco – É notável que o setor de feiras e eventos profissionais foi um dos mais afetados pela pandemia de COVID-19. Um impacto gigantesco para as organizadoras e também para os expositores e compradores, que tiveram de encontrar outros meios para se aproximar de seus clientes e parceiros. Quais os prejuízos dessa paralisação para todo o setor de saúde?

Malu Sevieri – Estamos há mais de um ano e meio sem poder realizar eventos profissionais, um setor que movimentava, antes da pandemia, cerca de R$ 1 trilhão. O próprio Ministério do Turismo declarou que fomos o segundo segmento mais afetado, atrás somente do entretenimento. O setor precisou se reinventar, intensificamos nossa presença no meio digital e embora tivéssemos alguma resposta positiva na tentativa de ajudar nossos clientes com a geração de novos negócios, a falta do contato presencial nos é completamente desfavorável. É incomparável o poder do olho no olho, do estar junto e como isso se reflete em fluxo financeiro. Sem eventos físicos, a demonstração de um produto fica comprometida. O que tivemos bastante foi geração de conteúdo de qualidade. Isso não podemos negar. Mas qual o objetivo de uma feira? A geração de negócios. E quanto a isso, infelizmente, nossos resultados não foram os melhores. Além disso, vivemos todo esse tempo com a invisibilidade do nosso setor, sem que nos dessem a atenção devida, como se fôssemos menos importantes para a sociedade. O impacto econômico que nós geramos prova o contrário. Quando temos evento físico são apresentadas diversas novas tecnologias e equipamentos que todo mundo pode conhecer e manusear, o evento é democrático, deixa a tecnologia disponível para todos, para a saúde isso é muito importante, aqueles profissionais de hospitais e clínicas têm a possibilidade de estar em contato com tecnologias que podem não adquirir naquele momento, mas o aprendizado está sim sendo adquirido.

Abramed em Foco – Comparando o impacto da COVID-19 no setor no Brasil e nos outros países, como nos saímos? Quais as principais diferenças vistas entre nós e outras nações?

Abramed em Foco – Em outras nações, como países da Ásia, os eventos retornaram ainda no segundo semestre do ano passado. Claro que com protocolos de segurança seguidos à risca, diminuição da capacidade de público, uma nova realidade, mas estavam acontecendo, dando oportunidade de emprego a milhares de pessoas e contribuindo justamente para a geração de negócios. No Brasil, somos um segmento propulsor de 12 milhões de postos de trabalho, mas ainda assim fomos relegados e silenciados, não tivemos qualquer tipo de abertura e compreensão por parte dos governos em suas diferentes instâncias. Há mais de 50 anos, eventos como feiras de negócios se firmaram como principal canal de relacionamento, prospecção de oportunidades de negócios e vendas de curto, médio e longo prazo para a grande maioria das atividades comerciais no Brasil, não somente o setor da saúde. O que fazemos é gerar receita, circular a economia e promover o turismo de negócios que, obviamente, também sofreu com a falta de organização de eventos. Também faz diferença a parte da cultura das pessoas, na China todo mundo super respeita o uso de máscara, por exemplo, todo mundo foi se vacinar. Por lá, existem aplicativos para monitorar as pessoas, tudo isso ajuda na retomada segura.

Abramed em Foco – A medicina diagnóstica é uma das áreas da saúde que se mantém em contínua evolução. Depende bastante de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação para aumentar o portfólio de exames capazes de diagnosticar a cada dia mais rápido, com mais assertividade e com melhor custo uma infinidade de doenças. Como, na sua opinião, laboratórios e clínicas podem agir para se manter em contato com o que está sendo lançado de mais inovador no mundo enquanto os eventos ainda permanecem paralisados?

Abramed em Foco – A indústria médico-hospitalar não ficou parada durante a pandemia. Ela se manteve ativa, se reorganizando e analisando o seu portfólio de produtos e serviços para suprir as necessidades de mercado, inclusive dos laboratórios. A razão de ser dos eventos corporativos é o relacionamento e essa é a palavra que deve ser trabalhada continuamente, inclusive no meio digital. Se informar, acompanhar os lançamentos, participar dos eventos online. Essa tem sido a realidade atual, mas é perene e está passando, para que nosso networking presencial torne a ocorrer novamente. A indústria deve promover mais encontros com os usuários, não com o CEO do laboratório ou o profissional de compras, mas aquele que fica na ponta, que operacionaliza equipamentos, eles são fonte barata e pura de informação para evoluir o negócio.

Abramed em Foco – É sabido que diante da pandemia, as notícias acabam mudando muito rapidamente, bem como medidas restritivas aumentam e diminuem com o passar dos dias. Porém, qual é a sua expectativa hoje para os próximos meses? Podemos imaginar uma retomada das feiras?

Abramed em Foco – A partir do dia 17 de agosto, o governo de São Paulo vai começar a permitir o funcionamento de eventos sociais, museus e feiras corporativas, que estavam proibidos desde o início da pandemia. Essa liberação estará condicionada ao controle de público e o uso de máscara será obrigatório. Foi informado que esses eventos não podem gerar aglomeração. O setor de eventos é uma indústria e o que nos diferenciou até agora das outras que logo retomaram foi o fato de continuarmos inoperantes, por acreditarem que nosso negócio é menos relevante e nos considerarem um fator de risco para transmissão do novo coronavírus, com a justificativa de que propiciamos aglomerações. Um evento corporativo possui um protocolo de segurança bem mais rígido que um de um shopping center, com controle, registro e banco de dados completos de quem entra e de quem sai, pessoas que vão única e exclusivamente para prospectar e fechar negócios e, obviamente, para ampliarem seu networking e o alcance das marcas que representam. A retomada está com data e hora marcada, ainda bem, agora temos que seguir os protocolos e logo, logo estaremos juntos na Medical Fair Brasil.

Abramed em Foco – A pandemia mudará para sempre a forma como laboratórios e clínicas de imagem se relacionam com seus parceiros de negócios?

Abramed em Foco – Acredito que não somente com parceiros de negócios, o que vai ocorrer é que todos nós vamos precisar tomar decisões muito mais efetivas, que nos tragam retorno positivo. No caso da medicina diagnóstica, essa eficiência vai se refletir no melhor relacionamento com pacientes. É preciso que a gestão seja capaz de estabelecer um vínculo saudável com os parceiros, para que juntos compreendam as mudanças que o mercado já está exigindo, como o impacto cada vez maior da tecnologia. Aplicativos, monitoramento em tempo real, soluções digitais de maneira geral devem ser uma constante em todos os vieses. Com todos focados em uma mesma perspectiva, o relacionamento não tem como dar errado.

Abramed em Foco – Observando a movimentação do segmento, que tipo de soluções voltadas à medicina diagnóstica vocês acreditam que se destacarão nesse futuro próximo?

Abramed em Foco – A pandemia do coronavírus certamente deixará um legado positivo para a medicina diagnóstica, principalmente se pensarmos que os laboratórios criaram seus próprios testes in house para já atender a população, junto com um investimento massivo em mudanças estruturais para evitar a disseminação do vírus, mudaram até o agendamento, criaram o drive- thru de exames, assim como um maior número de equipamentos portáteis para fazer exames na casa do paciente, com aumento, consequentemente da coleta domiciliar. Tudo isso, aliado aos investimentos em tecnologia certamente ditarão as tendências desse amanhã que estamos próximos. Também será interessante acompanhar a evolução deste mercado, como ficará a relação com operadoras de saúde, telemedicina, segurança dos dados? Acredito que muito vai mudar e rápido.

Abramed em Foco – Como enxerga a atuação da Abramed no setor? O que espera da entidade como parceira para melhoria dos negócios?

Abramed em Foco – A Abramed é fundamental para o setor de medicina diagnóstica, não somente por representar as empresas líderes desse mercado, como também por unir todos os elos para uma atuação conjunta para garantir o foco na atenção ao paciente, dialogando e estabelecendo agendas positivas com as sociedades científicas. Em uma década, ela já compreendeu que o intercâmbio de informações e experiências é uma maneira de propagar o conhecimento e compartilhar boas práticas, qualidade e inovações deste segmento que assumiu protagonismo e continua sendo fundamental ao enfrentamento da COVID-19.