Inserção de novos exames no Rol da ANS otimiza assistência à saúde com impacto orçamentário mínimo

Consulta Pública capta opiniões sobre cobertura obrigatória de novos procedimentos diagnósticos para 2021; estudo da Abramed sobre última inclusão traça comparativo entre número de exames esperados e realizados nos 12 primeiros meses da incorporação e mostra que impacto é inferior ao sugerido

20 de novembro de 2020

Com a Consulta Pública (CP) 81 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aberta para que a sociedade opine sobre a inclusão de novos procedimentos no rol de obrigatoriedades dos convênios médicos, a medicina diagnóstica vivencia uma nova oportunidade para ofertar aos usuários de planos de saúde exames mais modernos, tecnológicos e assertivos para uma infinidade de patologias. Corroborando com a aceitação da inclusão, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) elaborou um estudo sobre a incorporação anterior e confirma que o impacto orçamentário da inclusão de 10 novos exames de alta complexidade no rol foi mínimo.

Segundo a análise da Associação, os benefícios gerados pela ampliação do número de procedimentos extremamente eficazes para diagnóstico precoce de doenças são muito maiores do que o possível aumento do custo assistencial. “Quando temos diagnóstico precoce e correto, o tratamento é mais assertivo melhorando o prognóstico dos pacientes e, inclusive, diminuindo o custo da assistência”, explica Alex Galoro, diretor do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

O processo para a inclusão de novos exames, cuja lista deve ser anunciada ainda no primeiro trimestre de 2021, começou em 2018 e diversas entidades de classe e sociedades científicas fizeram sugestões de procedimentos sempre apresentando evidências científicas e análises financeiras. Entre os exames propostos pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), por exemplo, estão painéis para diagnóstico de infecções do sistema nervoso central, como meningites e encefalites, e de infecções respiratórias, incluindo a COVID-19.

Atualmente, quando um paciente chega com suspeita clínica de meningite, ou seja, apresenta febre, rigidez na nuca e alteração do nível de consciência, são realizados exames diversos para obtenção do diagnóstico, o que envolve exame de líquor por punção lombar, análises epidemiológicas e de imagem, e testes bioquímicos. Além disso, também são feitas coletas de sangue e de fezes para identificação de várias possibilidades virais, bacterianas ou fúngicas da encefalite. Todo esse procedimento faz com que o diagnóstico final seja obtido, em média, após 13,3 horas.

Se aplicada a identificação multiplex por PCR em tempo real de até 25 agentes infecciosos simultaneamente – exame que está na lista avaliada pela ANS para incorporação como procedimento obrigatório dos planos de saúde – em menos de três horas há definição do diagnóstico e o melhor tratamento pode ser iniciado. “Em casos de meningite bacteriana, se o paciente não começar a terapia adequada em até quatro horas ele pode ter sequelas irreversíveis como surdez, lesão no sistema nervoso central e déficit intelectual e pode, inclusive, chegar a óbito”, explica Alvaro Pulchinelli, diretor científico da SBPC/ML.

Essa nova metodologia diagnóstica para infecções do sistema nervoso central que já é utilizada por grandes laboratórios e hospitais de referência no atendimento particular e que está sendo avaliada na CP 81 apresentou sensibilidade entre 84,4% e 100% e especificidade superior a 99,9%.

Quando adotado esse novo exame em substituição a todos os outros tidos como padrão hoje, o custo permanece praticamente o mesmo. Do diagnóstico ao tratamento, o custo mediano por paciente com o método padrão é de US$ 239,63. Quando utilizado o painel multiplex, esse custo é de US$ 239,14.

Para infecções do trato respiratório – tipo mais comum de infecção entre os brasileiros – a utilização dessa nova metodologia diagnóstica também traz resultados muito positivos. Pacientes diagnosticados com influenza pelo painel multiplex permaneceram internados por 38,8 horas, enquanto os submetidos ao teste rápido de antígeno (padrão atual) ficaram hospitalizados por 49,8h. Além disso, aqueles que tiveram acesso à nova metodologia ingeriram antibióticos por menos tempo e fizeram menos radiografias do tórax. Em pessoas imunocomprometidas, por exemplo, a incorporação desse exame traz uma economia de R$ 251,22 por paciente no comparativo com o atendimento utilizando os exames tidos, hoje, como padrão.

Além de analisar a incorporação ou não de novos procedimentos, a consulta pública também sugere a inclusão ou a alteração de Diretrizes de Utilização (DUT) desses testes. “Tem sido frequente a criação de diretrizes que obrigam a realização dos exames apenas nos casos que se enquadram em determinadas situações clínicas”, explica Galoro. É o caso de alguns exames de imagem que estão sendo reavaliados como, por exemplo, a mamotomia via biópsia percutânea à vácuo guiada por raio X ou ultrassonografia.

O procedimento, que é indicado para investigação de alterações mamárias, já integra a lista da ANS e a nova consulta pública sugere algumas mudanças para a autorização, indicando que o exame deve ter cobertura obrigatória quando preenche alguns critérios específicos e quando os nódulos são menores do que 2 centímetros, de categorias 4 ou 5 do BI-RADS (ou seja, quando há suspeita de malignidade) e permanecem dúvidas mesmo após a realização de core biopsy orientado por ultrassonografia. Diferentemente do procedimento que está sendo discutido que é feito à vácuo, o core biopsy é uma biópsia na qual a amostra é retirada com uma agulha de calibre mais grosso.

Diante desse cenário, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) reafirma que existem várias situações clínicas na qual não é possível – ou mesmo necessária – a realização do core biopsy antes do procedimento à vácuo. Essa diretriz pode aumentar a ansiedade do paciente por submetê-lo a mais exames, atrasar o diagnóstico e elevar os custos da assistência.

Inclusão de 2018 gerou impacto mínimo no orçamento

A Abramed realizou um estudo baseado na incorporação, em 2018, de 10 novos exames na lista de procedimentos com cobertura mínima obrigatória dos planos e seguros de assistência médica elencada pela ANS, todos exames de alta complexidade como, por exemplo, ressonância magnética de fluxo liquórico, que atua na identificação de presença de líquor no cérebro e na medula espinhal, auxiliando o diagnóstico de hidrocefalia e outras condições; e a elastografia hepática ultrassônica, exame que pode substituir a biópsia de fígado.

Para a análise, a Abramed computou a quantidade de exames realizados por suas associadas ao longo do primeiro ano de vigência do novo rol e, também, os dados compartilhados pela ANS nesse mesmo período. E, então, comparou as informações com as estimativas traçadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em estudo que avalia as consequências financeiras da adoção de novas tecnologias ou procedimentos em saúde. Importante ressaltar que as associadas à Abramed foram responsáveis pela realização de mais de 480,8 milhões de exames em 2018, o que representa 56% do total de procedimentos diagnósticos realizados na saúde suplementar.

Na estimativa da CNI, seriam efetivados 77.441 exames da lista dos 10 novos procedimentos diagnósticos incorporados ao Rol em 2018. Porém, encerrado o primeiro ano de vigência, as associadas à Abramed confirmaram a realização de apenas 37.665 exames, o que confirma que a inclusão de novos procedimentos não atingiu sequer 50% do volume de exames que eram esperados para os primeiros 12 meses após a ampliação do Rol.

Traduzindo os percentuais para valores monetários, a CNI estimava uma despesa assistencial de R$ 50,9 milhões com a realização dos novos exames, porém, segundo dados das associadas à Abramed, o valor total concretizado no período foi de R$ 20 milhões.

Desta forma, a Abramed reforça, em seu estudo, que a incorporação de novos procedimentos em saúde é, muitas vezes, apontada como um dos principais fatores que impulsionam o crescimento das despesas assistenciais sem que haja uma análise mais aprofundada de quanto essas novas tecnologias são benéficas para o diagnóstico precoce e, por consequência, para o bem-estar do paciente e a redução dos custos com tratamentos e terapias.

LGPD – Desafios extrapolam a tecnologia e envolvem mudança de cultura

Sétimo encontro do #DiálogosDigitais Abramed reuniu especialistas para tratar dos melhores caminhos para adequação à legislação

11 de novembro de 2020

Em vigor desde 18 de setembro no Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018) vem causando muitos debates e questionamentos. Influenciada pela legislação europeia e promovendo a regulamentação do tratamento de dados pessoais, a norma brasileira promove alterações nas rotinas empresariais e traz diversos impactos diretos ao setor de saúde.

Abordando os inúmeros desafios inerentes à adaptação à lei, o sétimo encontro da série #DiálogosDigitais Abramed reuniu, na noite de 10 de novembro, Fernando Torelly, CEO do Hcor; Marcelo Lorencin, presidente da Shift e diretor presidente da Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Sistemas de Informação Laboratorial (LIS Brasil); e Teresa Gutierrez, sócia da Machado Nunes, para um bate-papo completo moderado por Rogéria Cruz, coordenadora do GT de Proteção de Dados da Abramed e Diretora Jurídica do Hospital Israelita Albert Einstein.

A LGPD entrou em vigor durante a pandemia de COVID-19, o que foi mais um entrave para as instituições de saúde que já estavam lidando com um cenário totalmente inesperado. “Um setor extremamente impactado pela pandemia teve de se adaptar ainda mais. E sabemos que proteção de dados é um processo contínuo e multidisciplinar que requer esforço de todos. Não há como relacionar a LGPD apenas à uma área”, comentou Rogéria ao dar início ao debate.

Bastante regulado, o setor de saúde já tinha boas percepções quanto ao tratamento de dados, principalmente por lidar com dados sensíveis. Porem é preciso lembrar que dentro do segmento existe uma variedade de empresas com diversos níveis de maturidade. E isso tornou necessário o investimento em um processo educacional, de mudança de cultura.

“A proteção de dados não deveria ser uma novidade para o setor que já tinha de contar com essa preservação de dados embutida em qualquer instituição. Mas vejo, hoje, que o aculturamento é necessário”, comentou Teresa enfatizando que a lei está inserida até mesmo em atitudes consideradas rotineiras como a troca de informações de pacientes por WhatsApp, uma plataforma que já se comprovou insegura.

Para Lorencin, esse processo de instrução também deve enfatizar que a adequação à LGPD não envolve apenas a tecnologia, como muitos empresários pensam. “O primeiro grande desafio está na cultura do Brasil e das empresas nacionais, pois o problema vai muito além da tecnologia da informação. É uma questão de compliance e de processos”, disse. Segundo o executivo, há pessoas que questionam quando que será lançada uma nova versão dos softwares com compliance 100% adequado à LGPD. “Não há uma compreensão de que não haverá essa ‘nova versão’. As versões lançadas incorporam novidades que auxiliam a adequação, mas há muito além disso”, declarou.

No HCor, por exemplo, onde há grande dedicação ao tema com reuniões semanais entre os envolvidos, há uma revisão da política de utilização de dispositivos pessoais na organização e um debate interno aquecido quanto ao desenvolvimento de uma plataforma substitutiva ao WhatsApp. “Pensamos em como criar uma ferramenta institucional para que o corpo clínico possa transitar informações de forma segura, pois hoje boa parte do segmento utiliza o WhatsApp”, declarou Torelly. O executivo também mencionou que dentro do hospital já foram levantadas 150 oportunidades de melhorias e ajustes que auxiliarão na adequação da instituição às normas impostas pela LGPD.

Investimentos necessários

A adequação à LGPD passa, impreterivelmente, por investimentos tanto em recursos humanos quanto em tecnologia da informação. Porém dentro de um setor tão complexo, onde há empresas de todos os portes e maturidades, esse processo não será igualitário para todos. “O que me preocupa não é apenas a aplicação da LGPD em si, mas a estrutura do nosso segmento. Temos mais de seis mil hospitais pelo país, poucos acreditados e poucos com condições de investir em segurança da informação”, pontuou Torelly.

O Hcor já contratou um Data Protection Officer (DPO) exclusivo para a instituição. “O tema  proteção de dados deixou de ser um projeto estratégico para se tornar um tema central da gestão e, a partir de agora, é um processo que não terminará nunca pois cada vez teremos mais informações importantes dos pacientes. Por isso entendemos que o DPO é um cargo de liderança, estratégico, que reporta direto ao CEO”, completou o executivo.

Teresa concorda com Torelly que a LGPD deve ser observada com continuidade. “Esse é um trabalho que nunca vai acabar, que não terá fim. É preciso investir dinheiro, investir em sistemas e aqueles que ainda não têm, por exemplo, prontuários eletrônicos implementados terão um passo ainda maior a ser dado”, enfatizou.

Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD)

Os cinco membros do primeiro conselho diretor da ANPD foram aprovados pela Comissão de Infraestrutura do Senado em meados de outubro e o órgão foi estabelecido para garantir a eficácia da LGPD. Para Lorencin, é importante que a Autoridade atue como uma facilitadora dos processos. Teresa concorda e reforça: “Esperamos que seja uma atuação mais consultiva nesse primeiro momento, que não seja apenas punitiva. Vamos torcer”.

Gestão de dados sem bloqueios

Para Lorencin é preciso empoderar o paciente, garantindo sua privacidade, mas sem coibir o trânsito relevante de informações que beneficiam o próprio paciente. “Os negócios vão sendo transformados pela tecnologia, mas sempre a favor do ser humano. Empoderar sim, trancar não”, disse.

Um bom exemplo de como a troca de informações entre players do setor pode impactar positivamente o paciente foi apresentada por Torelly. Segundo ele, as grandes instituições de saúde estão criando programas de atenção primária para atendimento aos colaboradores. Com isso, o médico da atenção primária tem todas as informações sobre doenças crônicas e acompanhamento dos profissionais. Paralelamente, o departamento de recursos humanos tem os atestados médicos. Na terceira vertente, os sistemas hospitalares têm as informações de atendimento nos prontos-socorros.

“Em três sistemas diferentes, a soma das informações pode predizer quem vai infartar no ano que vem e apontar eventos preditivos mais graves. Se essas informações não são trabalhadas, é tirada dessa pessoa a oportunidade de tratar aquele evento antes que ele de fato ocorra”, declarou lembrando que é fundamental que essa pessoa autorize a utilização desses dados diversos. “Pode ser que a pessoa não autorize, porém creio que com a explicação, 99% das pessoas vai permitir”, complementou.

Em Portugal, segundo Torelly, o médico da família tem total acompanhamento do paciente, inclusive recebendo um SMS quando ele é internado em algum hospital. Também por mensagem de texto, o paciente pode autorizar o acompanhamento do médico de família e, assim, as informações são trocadas entre os profissionais que estão prestando a assistência. Por lá, além do médico de família, a estrutura também oferece um enfermeiro e um secretário responsável por cuidar dos agendamentos de procedimentos evitando que o paciente postergue exames preventivos relevantes para a manutenção da saúde.

Para encerrar o debate, Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, trouxe a pergunta do presidente do Conselho de Administração da entidade, Wilson Shcolnik: “sabemos que os serviços de saúde têm sido alvo de hackers. Em suas respectivas empresas, vocês já fizeram testes de pishing?”.

Lorencin disse ser normal a contratação de empresas para um autoataque; Rogéria confirmou que dentro do Hospital Israelita Albert Einstein há empresas que testam o ambiente simulando esses ataques; Torelly disse que inclusive é comum a contratação de mais de uma empresa para que o ataque não seja padronizado, testando de fato a segurança local; e Teresa citou que há sim testes de vulnerabilidade, porém que o vazamento de dados costuma ocorrer por conta das pessoas mesmo, nem sempre em decorrência de falhas nos sistemas. O bate-papo completo deste episódio está disponível no canal do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir) e a última edição está marcada para 24 de novembro e trará, como tema principal, “Aprendizados COVID-19”.

Laboratórios privados associados à Abramed já realizaram mais de 6 milhões de testes para COVID-19

Desse montante, 57% foram RT-PCR e 43% exames sorológicos

11 de novembro de 2020

No início de março, Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou pandemia do novo coronavírus e pediu aos países que aumentassem seus programas de testagem como melhor caminho para conter a propagação do patógeno. Levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) mostra que, desde o início da crise até outubro, os laboratórios privados associados à entidade já realizaram 6,2 milhões de exames relacionados à doença no Brasil, sendo que desse montante 57% foram RT-PCR, padrão ouro utilizado para detecção na fase ativa; e 43% exames sorológicos que checam anticorpos para indicar se o individuo já teve contato com o vírus.

A rápida resposta dos laboratórios privados no país foi fundamental para que o Brasil trabalhasse dentro dessa perspectiva. “Os números refletem o empenho das empresas associadas à Abramed na intensificação da oferta e na ampliação da capacidade de processamento desses testes”, comenta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo o executivo, é importante ressaltar que nenhuma nação estava preparada para enfrentar uma epidemia de um vírus desconhecido, porém logo que o surto chegou ao Brasil, os laboratórios privados – mesmo frente à escassez de insumos e problemas logísticos – se movimentaram para desenvolvimento in house dos primeiros exames moleculares, ofertando com agilidade boas possibilidades diagnósticas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, de março até a primeira quinzena de outubro foram realizados cerca de 15,2 milhões de exames para COVID-19 no país. Considerando que as associadas à Abramed foram responsáveis por 6,2 milhões de todos os exames no período, os outros 9 milhões foram feitos por laboratórios e hospitais privados que não integram a vitrine da Associação; pelo Sistema Único de Saúde; e pelas farmácias e drogarias.

Dos mais de 15 milhões de testes no país, 7,8 milhões foram sorológicos (entre testes rápidos e exames laboratoriais para IGG, IGM e anticorpos totais) e 7,5 milhões foram de RT-PCR. “Importante frisar que os exames sorológicos realizados pelos laboratórios em ambientes controlados que respeitam as boas práticas laboratoriais levaram a resultados mais confiáveis do que aqueles realizados fora do ambiente laboratorial”, especifica Shcolnik.

O executivo reforça que a fim de garantir que a população brasileira utilizasse apenas testes de qualidade, laboratórios e entidades do setor de saúde se uniram em um projeto para verificar o desempenho dos kits disponibilizados em território nacional, apresentando os resultados – incluindo os que evidenciaram problemas – no portal testecovid19.org.

Due diligence tem papel-chave nas operações de fusão e aquisição

Atenção ao compliance também é necessária para o sucesso dos negócios

10 de outubro de 2020

Para fortalecer seu posicionamento no mercado, ampliando o potencial do negócio, muitas empresas, inclusive na área da saúde, vêm apostando em iniciativas de fusão e aquisição (M&A).

Embora seja promissor, esse tipo de operação requer uma série de cuidados e processos, que são fundamentais para assegurar o sucesso da operação e, principalmente, resguardar o comprador da empresa-alvo (target firm) de possíveis dificuldades e prejuízos por conta de multas decorrentes de práticas de corrupção, fraudes ou violação de legislações, por exemplo.

Para tanto, é necessária uma série de diligências investigatórias na etapa que antecede a M&A. A due diligence tem a função de levantar e auditar informações técnicas, contábeis, fiscais, além de jurídicas da empresa-alvo relacionadas às esferas trabalhistas, societárias, ambientais, imobiliárias, de propriedade intelectual, administrativas, dentre outras, conforme o caso. Para Walquiria Favero, superintendente jurídica e Compliance da Dasa e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), “o propósito é determinar os riscos relacionados a eventuais comportamentos adotados por representantes da empresa a ser adquirida em suas relações com os entes públicos e privados, levantar todos os fatores que possam contribuir positivamente ou negativamente para o sucesso do projeto, como um diagnóstico de riscos e oportunidades. Dessa maneira, a operação terá mais confiabilidade e capacidade de alcançar os objetivos esperados pela empresa compradora”.

Além disso, a due diligence tem um papel-chave no auxílio dos negócios e na tomada de decisões dos gestores por dar subsídio para a execução de melhorias e medidas de governança e boas práticas para que o retorno dos investimentos realizados seja ampliado.

É a partir desse processo investigativo que a empresa interessada na aquisição poderá equilibrar os riscos identificados e, por meio de exigência do contrato de compra e venda (Sales and Purchase Agreement – SPA), estabelecer disposições que lhe protejam em caso de futura responsabilização por atos de corrupção ou antieconômicos praticados anteriormente à operação.

A atenção ao compliance também é mais do que necessária, ainda mais que, com a globalização, as transações das empresas ultrapassaram os territórios e as fronteiras. Entretanto, apenas a adoção de práticas para cumprir normas legais e regulamentares, políticas e diretrizes estabelecidas para as atividades da instituição ou da empresa não são suficientes para o sucesso de uma organização.

Para Walquiria, é importante implementar um programa de compliance que esteja em constante atualização, visando preservar a conformidade ética e jurídica dos comportamentos adotados pela companhia, especialmente nas relações mantidas com entes públicos – seja na área em processos licitatórios, na contratação de terceiros que mantenham interação com órgãos públicos, no recebimento de fiscalizações, nas políticas da empresa para doação eleitoral, concessão de doações, brindes e patrocínios –, bem como deve ser garantido os aspectos relativos a conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. “A implementação exitosa de uma política de compliance é uma tarefa sobremaneira complexa. Requer desde um código de ética, padrões de conduta e treinamentos periódicos dos funcionários até o estabelecimento de canais abertos e seguros para a denúncia de irregularidades, a garantia da independência da instância responsável por aplicar as medidas disciplinares, de registros contábeis íntegros e transparência nas doações com caráter político”, explica.

Por mais que represente um objetivo que demanda grande dispêndio de energia e de recursos, a efetiva adesão dos colaboradores à política de compliance da companhia é indispensável para o desempenho regular das atividades empresariais e uma condição relevante – por vezes, até indispensável – no caso de uma operação de M&A, pois auxilia a identificar falhas de práticas e condutas que possam existir na companhia-alvo, possibilitando a estruturação de mecanismos jurídicos que mitiguem o risco de responsabilização da empresa adquirente. “Uma análise panorâmica sobre o compliance aplicado às operações de fusão e aquisição revela como é avançado o grau de relevância das políticas de integridade para o sucesso dessas operações societárias”, destaca a advogada.

Dessa forma, os riscos relacionados às eventuais práticas em desconformidade com a política de compliance poderão ser devidamente quantificados e equilibrados no contrato. Em algumas hipóteses, condições antecedentes à operação poderão requerer até a prévia celebração de ajustes com os órgãos de controle, com um acordo de leniência – acordo administrativo por meio do qual o ente público, em troca da obtenção de vantagens materiais e processuais, ameniza, por substituição definitiva e consensual, as penalidades civis e administrativas que seriam eventual e oportunamente por si aplicadas ou requeridas contra a empresa colaboradora.

Walquiria lembra que o adquirente é sucessor dos direitos e obrigações da empresa target. Ainda que sob o ponto de vista criminal a conduta seja respondida por quem efetivamente praticou o ato ilícito, o comprador será sucessor de processos civis e administrativos.

Essas medidas de precaução, segundo a advogada, diminuem os riscos de que a empresa adquirente seja surpreendida com a responsabilização por atos e fatos anteriores à aquisição. Mas é preciso avaliar se essas eventuais práticas não violam a Lei Anticorrupção (lei nº 12.846/2013), que disciplina a responsabilidade de companhias que se submetem a uma operação de M&A.

A referida lei prevê a responsabilização das empresas independente de culpa – no âmbito administrativo e civil – em virtude de atos de corrupção praticados por terceiros em seu benefício ou interesse. Destaca-se que para a configuração da responsabilidade da empresa adquirente, basta que ela seja beneficiada com o ilícito cometido pelo terceiro, e mesmo que os gestores desconheçam a prática de corrupção, serão responsabilizados.

Isso mostra, mais uma vez, que para diminuir riscos é necessário que qualquer empresa, independentemente do porte ou segmento, adote a due diligence como critério de confirmação de efetividade do programa de integridade, como previsto no decreto federal nº 8.420/2015, que regulamentou Lei Anticorrupção.

Mas, a superintendente jurídica e Compliance da Dasa alerta que apesar das  obrigações quanto à realização da prática de diligência em operações de fusão e aquisição constarem no normativo, foi mencionado que o legislador é que regularia como isso se operacionalizaria em M&A de pequenos e médios negócios, o que não foi feito até o momento. “Na saúde isso é uma incógnita, pois como o setor é formado majoritariamente por pequenas empresas e está passando por um processo de consolidação, a aplicação de medidas como previstas na lei torna a operação de fusão e aquisição custosa e pode não refletir o risco real da operação”, esclarece.

Para tanto, Walquiria orienta que seja feita uma verificação de antecedentes da target firm, dos acionistas e diretores; análise das doações para campanhas eleitorais; se a sociedade possui Programa Especial de Parcelamento (PEP) em posição relevante e contratos públicos, especialmente de licitações. A verificação de políticas para doações, brindes e hospitalidades, especialmente no relacionamento com órgãos públicos também é recomendável. “Dessa forma, o gestor terá como evitar riscos, dar mais segurança às suas decisões, planejar ações e garantir que os resultados sejam alcançados num cenário real, apoiado em dados mais robustos e confiáveis”, conclui.  

Reforma Tributária – Mesmo que votação não se concretize em 2020, tema segue aquecido nos bastidores

Saúde permanece em contato com líderes do governo abordando os drásticos impactos que a reforma pode causar ao setor

09 de outubro de 2020

Além dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19 neste segundo semestre, o setor brasileiro de saúde vem lutando para mostrar aos parlamentares e decisores os altíssimos impactos que a Reforma Tributária, nos moldes em que está sendo traçada, terá sobre a população e os negócios. Com a Comissão Mista – grupo composto por deputados e senadores e encarregado de analisar a PEC 45/19 e a PEC 110/19 elaborando uma proposta única para simplificação do sistema tributário nacional – adiada até 10 de dezembro, há incertezas se teremos, de fato, uma definição sobre o assunto ainda em 2020 ou se a votação se concretizará em 2021.

Com as eleições se aproximando – o primeiro turno ocorrerá em 15 de novembro e as cidades que seguirão para o segundo turno terão a votação concluída em 29 do mesmo mês – a expectativa é a de que o assunto retorne com mais força em dezembro.

“Em novembro continuaremos debatendo o tema e participando de seminários”, comenta Armando Monteiro Bisneto, advogado e especialista em Relações Governamentais. Segundo ele, caso o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), que é o relator da Comissão Mista da Reforma Tributária, apresente seu parecer em 10 de dezembro, serão poucos dias úteis para que haja uma movimentação mais assertiva ainda em 2020. “Torna-se pouco provável que a reforma seja votada na Comissão Especial e passe por duas votações no Plenário da Câmara esse ano”, opina lembrando que a Comissão Mista não tem amparo regimental e que as votações na Câmara devem ocorrer com quórum de maioria qualificada, ou seja, com no mínimo 2/3 dos vereadores.

Paralelamente às eleições, outros assuntos ganharam prioridade no governo como, por exemplo, a PEC 186/2019, chamada PEC Emergencial para regulamentar o teto de gastos; o valor a ser pago pelo Renda Cidadã, programa que substituirá o Bolsa Família; e a votação do orçamento. “Essas externalidades entraram e tomaram a vanguarda, porém nos bastidores a Reforma Tributária continua sendo debatida, tanto que seguimos em um ritmo elevado de reuniões com assessores e parlamentares”, esclarece Eduardo Muniz Machado Cavalcanti, consultor para Reforma Tributária da Abramed.

Para o executivo, é notável que o empenho do setor de saúde em mostrar os impactos da reforma no acesso da população à assistência vem surtindo efeito. “Enxergamos que esse ponto está maduro, que os deputados entendem que saúde e educação merecem tratamento diferenciado”, pontua. Para ele, esse é um período de trabalho silencioso, porém muito importante pois a percepção da realidade trazida por uma reforma míope está sendo construída “tijolo a tijolo”.

Na visão de Monteiro Bisneto, o tema nunca saiu de cena e seguirá com ainda mais força no começo de 2021. “É um assunto que desperta muito interesse dos gabinetes e justamente por isso devemos sempre reforçar a nossa mensagem de quão prejudicial uma reforma mal elaborada será para setores essenciais como saúde e educação. Não podemos deixar a chama se apagar, mesmo que a reforma não seja votada ainda esse ano”, declara.

Entenda o impacto

A proposta de Reforma Tributária apresentada pelo Governo Federal ameaça a saúde de forma generalizada. Sem reconhecer a essencialidade desse setor, o texto considera a unificação de PIS/Pasep e Cofins sob uma alíquota única que aumentará drasticamente a carga tributária de instituições de saúde e ampliará ainda mais as dificuldades de acesso já existentes.

No setor de medicina diagnóstica os custos tributários podem subir até 40,4%. Isso representa aumento médio de R$ 3,6 bilhões ao ano para laboratórios e clínicas de imagem; para o paciente, exames até 10% mais caros.

“O sistema tributário brasileiro é, de fato, disfuncional e tem uma complexidade que contribui para a construção de um ambiente de negócios pouco favorável a investimentos e empregabilidade. Precisamos de uma reforma focada na simplificação dos processos com objetivo de reduzir, entre outros entraves, o custo de conformidade. Porém, onerar ainda mais o segmento de saúde inviabilizará a atuação de inúmeras empresas de medicina diagnóstica, que deixarão de existir, especialmente em regiões menos desenvolvidas economicamente”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed.

Clique AQUI e confira todas as matérias já publicadas pela Abramed sobre os drásticos impactos da Reforma Tributária na saúde. Aproveite para acessar, também, o estudo completo elaborador pela Associação (clique AQUI).

Representante do Ministério da Economia dialoga com executivos da saúde sobre ‘Projeto Custo Brasil’

Reforma tributária foi tema de webinar com participação de Lídia Abdalla, membro do Conselho de Administração da Abramed

6 de novembro de 2020

O “Custo Brasil” é uma expressão emergente no país há algumas décadas. Quem acompanha o debate econômico certamente já se deparou com o termo. Trata-se de uma denominação abrangente para uma série de custos de produção, ou despesas incidentes sobre a produção, que impactam tanto o exportador brasileiro na hora de colocar seus produtos no mercado internacional, quanto o produtor nacional de competir com mercadorias importadas. O tema foi debatido no “Painel Digital ICOS: Projeto Redução do Custo Brasil – Impactos no Setor da Saúde”, realizado no dia 20 de outubro.

No Brasil, as empresas gastam em média 1,5 mil horas por ano para organizar e preparar o pagamento de seus impostos, ou 89% mais do que a média dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O chamado “Custo Brasil” consome por ano R$ 1,5 trilhão do setor produtivo, ou o equivalente a 22% do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados são de um estudo realizado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) em parceria com o Ministério da Economia.

Esses custos estão relacionados com aspectos legais em diferentes camadas que compõe a economia do país. Dentro desse cenário, a Reforma Tributária é uma das principais discussões em diversos setores brasileiros, inclusive o da saúde, e foi uma das principais pautas do encontro on-line.

Durante o webinar, executivos da saúde puderam dialogar diretamente com o CEO do Projeto Redução do Custo Brasil no Ministério da Economia, Jorge Lima. A conferência foi moderada pelo presidente do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), Claudio Lottenberg, e contou com a participação de Eduardo Amaro, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Fernando Silveira Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed), João Alceu, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), e Lídia Abdalla, membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e presidente do Grupo Sabin.

No debate, sob a ótica da medicina diagnóstica, Lídia destacou a preocupação sobre os impactos da Reforma Tributária no setor. “Apoiamos a simplificação de tributos desde que não haja prejuízos. No entanto, a forma como ela está sendo proposta no Congresso traz um peso muito grande para as empresas. Nossos serviços, que hoje têm em média 5% de impostos, passariam a ter uma carga tributária próxima de 12%”, disse ao representante do Ministério da Economia.

Dessa forma, o custo da rede privada será maior e dificultará o acesso da população à assistência, resultando na superlotação do Sistema Único de Saúde (SUS). “A nossa atenção não é só com os grande e médios serviços de medicina diagnóstica, mas também sobre como trazer mais eficiência e otimização de recursos para que possamos garantir a sobrevivência dos pequenos serviços, que são importantes para muitas cidades brasileiras”, acrescentou Lídia.

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), nos últimos quatro anos, devido à instabilidade econômica e ao aumento do desemprego, cerca de 3 milhões de pessoas deixaram de contar com planos de saúde. Com a atual proposta da Reforma Tributária, a Confederação Nacional de Saúde, Hospitais, Estabelecimentos e Serviço (CNSaúde) prevê o aumento de 5,2% no valor das mensalidades dos planos de saúde, sugerindo a perda potencial de até 500 mil beneficiários, que também passarão a depender do SUS.

“Medidas que afetam e inviabilizam a presença de usuários dentro do sistema privado, além de ter um impacto direto no setor suplementar, acarretam na sobrecarga de pessoas dentro do sistema público de saúde, que inclusive já terá consequências danosas devido a pandemia”, destacou Lottenberg durante a mediação do evento.

Outro alerta feito pelos executivos da saúde para o representante do Ministério da Economia foi o reconhecimento da essencialidade do setor nas discussões sobre a Reforma Tributária que acontecem no Congresso. “Isso não significa diferenciação, mas sim trazer competitividade para um setor que é gerador de riquezas para o país”, disse Silveira Filho.

Além de também defender a essencialidade da saúde, João Alceu destacou que na proposta de reforma que o governo enviou ao Congresso há uma alíquota diferenciada para os planos de saúde. “Gostaria de enfatizar que toda a cadeia produtiva da saúde deve ter este tratamento, porque assim é em outros países que têm o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) como mola mestra do sistema tributário de serviços”.

Segundo levantamento realizado pela Abramed, de todos as nações que possuem impostos sobre valor agregado, mais de 80% aplicam isenção ou alíquota reduzida aos serviços essenciais de saúde e educação, assim evitando todos os efeitos negativos acima indicados. “Precisamos avançar com uma reforma tributária que nos dê competitividade, mas sem onerar o bolso do cidadão brasileiro”, completou Silveira Filho.

Desoneração da folha de pagamento

Para minimizar os impactos negativos da reforma tributária no setor, uma das sugestões é a adoção da desoneração da folha de pagamento, o que permitiria que o setor de serviços abatesse os impostos sobre mão de obra assim como a indústria abaterá os impostos sobre insumos. A folha de pagamento representa cerca de 50% das despesas de laboratórios e clínicas de imagem, considerando contratações diretas e indiretas, segundo levantamento realizado pela Abramed.

Durante o debate sobre os impactos do Projeto Redução do Custo Brasil na saúde, Amaro explicou que as instituições associadas à Anahp somam cerca de 220 mil empregos formais e que “o custo com o pessoal é em torno de 50%”. Segundo ele, ao comparar o Brasil com países membros da OCDE, é possível observar uma grande discrepância e encontrar um caminho para conseguir melhorar o ambiente de trabalho no setor.

O representante do Ministério da Economia assegurou que o atual governo é defensor da desoneração. “A intenção é diminuir o custo trabalhista, essa é a nossa prioridade. Somos a favor da desoneração em tudo”, pontuou.

Durante o evento online, Lima também destacou a importância da saúde e educação no Brasil. “Todo país que conseguiu avançar cuidou desses setores. Nenhum conseguiu crescer sem se desburocratizar, inovar e sem ser mais liberal”. Ele também explicou que o Projeto Custo Brasil é complexo, transversal – atingindo todos os ministérios e órgãos independentes –, e que conta com o diálogo do setor produtivo com o Congresso.

Confira a íntegra do webinar clicando AQUI.

Câncer de Próstata – Homens deixaram de realizar exames preventivos na pandemia

Durante a crise de COVID-19, queda média de 34,6% no número de alguns exames relacionados à patologia preocupa; sem diagnóstico precoce, tratamento torna-se menos eficiente e há redução na chance de cura

5 de novembro de 2020

São diversos os exames que podem auxiliar os urologistas na detecção precoce do câncer de próstata, patologia que mata mais de 15,5 mil brasileiros todos os anos. Porém, dados levantados pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) apontam queda em todos eles durante a pandemia de COVID-19, o que leva a um cenário preocupante. Avaliando os números divulgados pelo Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS do Ministério da Saúde referentes aos procedimentos realizados entre janeiro e agosto de 2020 e comparando-os com as quantidades de testes no mesmo período de 2019, nota-se queda média de 34,6% no número de exames para diagnóstico da patologia na esfera pública.

A dosagem de antígeno prostático específico (PSA), exame de sangue que identifica uma proteína produzida pela próstata e, assim, pode apontar alterações no órgão, assinalou queda significativa de 34,4%. Outros dois exames de imagem também relacionados ao diagnóstico da patologia, ultrassonografia de próstata por via abdominal e por via transretal, apresentaram queda de 37,8% e 35,7% respectivamente. Já a biopsia reduziu 22,7% no período.

“Esses dados refletem o afastamento dos pacientes das unidades de saúde durante a pandemia. Além de encontrar algumas unidades fechadas, com receio de contrair o novo coronavírus, as pessoas adiaram procedimentos, o que pode levar ao atraso na detecção de doenças, entre elas o câncer de próstata. Com esse atraso, nos deparamos com consequências como o agravamento das patologias, piora do prognóstico e redução da chance de cura”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed. As empresas associadas à entidade – responsáveis pela realização de mais da metade dos exames de beneficiários da saúde suplementar – confirmaram redução de 39,5% no número de testes de PSA realizados entre março e agosto de 2020 no comparativo com o mesmo período do ano passado.

Culturalmente, os homens já são menos atentos à saúde e prevenção. Tanto que, em 2018, segundo dados do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, dos mais de 50 milhões de pacientes atendidos nas associadas à entidade, apenas 38% eram homens.

Mas as doenças não escolhem gênero. De acordo com estatística do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata deve acometer 65.840 pessoas somente em 2020. “Com essa drástica redução no número de exames para detecção da patologia, quantos brasileiros perderam a oportunidade de ter a doença detectada em tempo hábil para receber o melhor tratamento?”, questiona Shcolnik.

No setor privado, a fim de reforçar à população que outras doenças não esperam a pandemia de COVID-19 acabar para se manifestarem, estimulando que todos retomassem seus cuidados, exames e procedimentos, laboratórios e clínicas intensificaram ainda mais os seus já rígidos protocolos de segurança. “Foi preciso investir em uma comunicação transparente, mostrar que as unidades estavam atuando com toda a segurança para receber esses pacientes. A redução de atendimento chegou a 70% no pico da pandemia, porém agora estamos conseguindo retomar nosso ritmo normal, levando novamente a possibilidade do diagnóstico precoce à população”, finaliza Shcolnik.

Gigantes da saúde, corrupção e o papel das associações são temas de debate virtual

Wilson Shcolnik participou de encontro no FHCB 2020 e enfatizou o empoderamento da Abramed no diálogo setorial

3 de novembro de 2020

A edição deste ano do Fórum Healthcare Business (FHCB 2020) também abordou a vertente do diagnóstico. Em encontro realizado em 21 de outubro, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foi um dos convidados para discursar sobre a nova realidade gerada pela pandemia de COVID-19 no painel intitulado “O salto quântico para uma nova realidade: a saúde global”.

Também participaram Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO), e Sérgio Rocha, presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI). A moderação foi realizada por Lauro Miquelin, chairman do Grupo Mídia, marca idealizadora do evento.

O primeiro assunto abordado no debate enfatizou a formação de gigantes da saúde. Na medicina diagnóstica, segundo comentado por Shcolnik, a consolidação teve início há 20 anos com a Dasa e com o Fleury, porém, o executivo observa que essa movimentação não foi acentuada durante a pandemia. “Apesar da fragilidade de muitas clínicas e laboratórios que tiveram seus atendimentos reduzidos à 30% do normal, não ouvimos falar de fusões e aquisições no nosso setor”, explicou.

Porém, o executivo aproveitou a oportunidade para comentar que na área hospitalar e entre operadoras esse movimento de formação de gigantes segue ativo. “A Rede D’Or, que é a maior rede hospitalar do Brasil, anunciou a aquisição de uma clínica no Rio de Janeiro e o desejo de iniciar IPO. E a Notredame Saúde divulgou a aquisição de um grupo em Minas Gerais, adentrando um território dominado pela Unimed”, comentou.

Pensando no setor industrial, a China desponta ainda mais como uma das principais fornecedoras de materiais e equipamentos, como relatado por Rocha. “Os chineses têm uma participação extremamente importante no mundo inteiro na nossa área. Nas commodities, o domínio deles é enorme”, disse o executivo. Para ele, o Brasil sofre com a falta de investimento. “Não somos competitivos. Precisamos de investimento para essa virada”, complementou.

Pallamolla seguiu o raciocínio de Rocha afirmando que a consolidação já vinha em um ritmo crescente e que a pandemia contribui para que surjam ainda mais gigantes. “Temos de nos adaptar a isso, a lidar com players cada vez mais potentes. E, hoje, nossa indústria parece ser o elo mais frágil dessa cadeia”, disse.

Papel das associações

Diante de um cenário de desafios, Miquelin questionou o que as entidades estão fazendo para apoiar os associados. Na ocasião, Shcolnik comentou que a Abramed comemora 10 anos em 2020, consolida empresas de todos os portes e regiões e tem ganhado força e notoriedade para o debate público. “Temos conseguido interlocução com o executivo, o legislativo e com as agências reguladoras. Aproveitamos esse empoderamento para fazer essa aproximação”, disse ao mencionar que um dos principais pleitos do setor na atualidade tem sido a Reforma Tributária e que a Abramed elaborou estudos e se reuniu com lideranças para mostrar os graves impactos que uma reforma míope pode gerar no segmento. “Não estamos buscando vantagens, mas sim neutralidade tributária em relação ao que temos hoje. É o que estamos defendendo”, declarou.

Sobre a atuação junto aos associados, Pallamolla citou a parceria que a ABIMO tem com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para capacitar a indústria e mencionou a campanha “Saúde Feita no Brasil”, que privilegia a indústria nacional. Já Rocha contou que o maior desafio da Abraidi foi a variação cambial e que a união das entidades é extremamente importante para que o setor vença os empecilhos criados durante a crise.

Corrupção

“Na pandemia tivemos de fazer uma reflexão sobre a impunidade no Brasil. As empresas que são julgadas e condenadas por atos de corrupção, são expulsas das associações?”, questionou Miquelin.

Shcolnik apresentou o código de conduta da Abramed e lembrou que a Associação é membro do Instituto Ética Saúde, com aproximação recente até para compartilhamento do canal de denúncias. “Sabemos que na saúde esses atos ilícitos também ocorrem. Então temos nosso código de conduta com normas para relacionamento com fornecedores e operadoras de saúde, visto que nossas associadas têm cerca de 80% de seus exames contratados por essas operadoras e temos que nos relacionar com esses players”, contou.

Na ABIMO, Pallamolla afirmou nunca terem vivenciado uma empresa condenada e reforçou que, na verdade, não é a empresa que comete o desvio, mas sim as pessoas físicas. “Temos um manual de conduta ética e mecanismos para chegar a excluir um associado se necessário for”, afirmou. Na Abraidi, Rocha também citou o código de conduta e enfatizou a importância da participação de todos no Instituto Ética Saúde. “Essa é uma das lutas da Abraidi nos últimos anos”.

O debate completo pode ser assistido AQUI, no canal do YouTube do Grupo Mídia.

“São muitas vidas sendo perdidas por falta de prevenção”, diz Priscilla Franklim Martins

Em live da You Care Brasil, executiva reforça relevância dos exames preventivos para diagnóstico precoce do câncer de mama

30 de outubro de 2020

A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para 2020 é de que 29,7% de todos os diagnósticos de câncer no Brasil sejam de câncer de mama. A alta estatística assusta e liga um alerta ainda maior nesse Outubro Rosa: as mulheres precisam estar atentas à sua saúde, realizando os exames preventivos e, assim, ampliando suas chances de bons prognósticos caso sejam identificadas patologias como essa. Para falar sobre esse assunto, Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), participou de uma live comandada por Daniela Camarinha, sócia diretora da You Care Brasil.

Na ocasião, Priscilla trouxe outros dados alarmantes. “Serão mais de 76 mil casos de câncer de mama somente no Brasil em 2020. E, infelizmente, desse montante, aproximadamente 16,9% viram óbito. Estamos falando em muitas mulheres morrendo, muitas vidas sendo perdidas também pela ausência de exames preventivos”, comentou.

A alta taxa de mortalidade poderia ser reduzida com iniciativas que priorizam a prevenção. Considerando que, no Brasil, 70% dos diagnósticos de câncer são feitos nos estadiamentos 3 e 4, podemos perceber que há muito espaço para investir em conscientização. “Nos Estados Unidos, apenas 2% dos cânceres são identificados assim tão tarde”, comentou Priscilla sobre como o nosso país precisa investir em prevenção e valorizar os exames diagnósticos que a cada dia estão mais tecnológicos e com maior capacidade de identificação precoce de tumores. Uma mamografia, por exemplo, consegue identificar um nódulo de até 1mm no seio, ou seja, antes mesmo de ser possível senti-lo pela palpação.

Comentando ter ficado assustada com esses números, Daniela também apoia essas campanhas. “Sabemos que apenas com prevenção vamos conseguir sustentar a saúde no Brasil”, pontuou.

As previsões do INCA para 2020 não consideram, ainda, um cenário de pandemia, o que pode se tornar ainda mais drástico no futuro, visto que muitos exames diagnósticos e tratamentos foram atrasados (ou paralisados) devido ao receio trazido pela alta transmissibilidade do novo coronavírus.

“Vimos, no setor de diagnóstico, uma debandada muito preocupante dos pacientes. Claro que houve o impacto nos negócios, já que laboratórios e clínicas de imagem sentiram queda média de 70% no número de atendimentos nos primeiros meses da pandemia, mas esse afastamento é muito prejudicial à saúde das pessoas. Há quem interrompeu tratamentos e há quem estava com o pedido médico de um exame e o engavetou. Quantas doenças deixaram de ser diagnosticadas em tempo hábil de serem tratadas?”, questionou Priscilla.

Para trazer o paciente de volta aos serviços de saúde foi preciso investir em uma comunicação transparente, mostrando que saúde já é um setor altamente regulado e que os protocolos de segurança, já existentes, foram ainda mais reforçados. “Tivemos que educar a população de que outras doenças não esperam a COVID-19 passar, que elas não podiam esperar a vacina chegar para fazer os exames que poderiam também salvar suas vidas”, disse a diretora.

Daniela questionou, então, o que o Brasil precisa para melhorar esse cenário.

Toda essa atuação educacional, para Priscilla, deveria ser iniciada ainda no período escolar, para que as crianças crescessem aprendendo sobre saúde e sobre a importância da prevenção. Além disso, as famílias precisam estar unidas, para que todos cuidem uns dos outros. “Muitas vezes a mulher, quando vira mãe, está tão dedicada à família, aos filhos, que deixa de se cuidar. O homem também precisa aprender que ele faz parte disso, que ele também é responsável pela família. É uma mudança cultural, mas sou otimista e vejo que ela está acontecendo”, declarou.

Outros pontos mencionados pela diretora foram o investimento em políticas públicas mais eficientes, que facilitem o acesso à saúde; e a união de todos os elos da complexa cadeia, para que todos estejam alinhados em um mesmo propósito de prevenção. “É bom para o paciente e é bom para o sistema”, disse.

Priscilla também aproveitou a oportunidade para apresentar a Abramed, falar de todo o empenho dos grupos de trabalho que desenvolvem ações diversas buscando melhorias para o setor de diagnósticos, e comentou que a entidade está comemorando 10 anos agora em 2020.

A live está disponível no Instagram da YouCare e pode ser assistida AQUI.

Exames em farmácias aumentam acesso, mas aumentam também o risco ao paciente

Consultas públicas abertas pela Anvisa buscam opinião da sociedade sobre a realização de exames laboratoriais em farmácias e drogarias; Abramed mostra preocupação com a segurança dos pacientes

27 de outubro de 2020

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu duas Consultas Públicas (CPs) visando ouvir a sociedade brasileira quanto à realização de exames laboratoriais em farmácias e drogarias. Porém, a falta de definição de quais deles poderão ser realizados fora dos ambientes altamente controlados dos laboratórios clínicos é o que preocupa a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Hoje, farmácias e drogarias estão autorizadas a realizar apenas testes rápidos de COVID-19 e de glicemia.

“A história nos mostra que muitos testes rápidos têm desempenho ruim, o que pode levar a resultados incorretos, imprecisos, e à falta de segurança dos pacientes”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed. O executivo, médico patologista clínico, reforça que os laboratórios contam com profissionais altamente treinados para operação de modernos equipamentos de classe mundial em ambientes controlados que seguem diretrizes rígidas impostas pela regulamentação atual, contribuindo para a obtenção de resultados confiáveis. “Exames realizados em laboratórios contam com profissionais que estudaram a calibração, a validação e o controle de qualidade desses equipamentos”, diz. “De que adiantaria uma moderna aeronave sem um piloto treinado para operá-la?”, complementa.

Segundo o presidente, a maioria dos testes rápidos – também denominados point-of-care testing (POCT) – não passa por avaliação da Anvisa antes de ter a utilização liberada. “Eles são registrados, porém não são validados. Cabe, assim, aos laboratórios, com toda sua expertise, realizar uma análise qualitativa dos dispositivos antes de analisar amostras colhidas de pacientes”, disse.

Foi o que ocorreu agora durante a pandemia do novo coronavírus. Com muitos testes chegando ao mercado, começaram a surgir os resultados tanto falso positivos quanto falso negativos. A fim de sanar esse problema, diversos laboratórios privados e entidades do setor de saúde se uniram em um projeto objetivando verificar o desempenho dos kits disponibilizados em território nacional. Os resultados provenientes de cerca de 15 mil amostras de pacientes analisadas evidenciaram problemas e estão disponíveis ao público.

Na visão da Abramed, a oferta de exames em farmácias e drogarias pode ser positiva, desde que haja regulamentação limitando a liberação apenas daqueles de baixa complexidade, à semelhança do que vem ocorrendo em diversos países. “A Inglaterra, por exemplo, só autoriza testes para controle de glicemia, colesterol, gripe e hepatite nas farmácias. Além da glicemia, a França autoriza a exames para influenza A e B e estreptococos. Já a Escócia permite apenas testes de gravidez e de HIV”, esclarece o presidente.

Para a Associação, é possível ampliar o acesso sem prejudicar a segurança dos pacientes. Exames laboratoriais embasam até 70% das decisões médicas, tamanha sua relevância no diagnóstico, na definição de tratamentos e no gerenciamento de doenças. Por esse motivo, liberar qualquer tipo de teste rápido em farmácia pode acarretar sérias consequências aos pacientes. “Um exame com resultado impreciso, pouco confiável, não é benéfico à sociedade. Não adianta ampliarmos o acesso aos exames, se os médicos não terão confiança naqueles resultados para escolherem a melhor abordagem no cuidado do paciente”, diz Shcolnik. Além disso, há a preocupação com os resultados críticos, ou seja, que exigem intervenção médica imediata.

As consultas públicas que tratam o assunto são a 911 e a 912, que seguem abertas no portal da Anvisa até 7 de dezembro. Hoje, os laboratórios clínicos são regulados pela RDC 302, que impõe rigorosas recomendações sanitárias. “Essa resolução representou um marco na conquista da qualidade dos serviços laboratoriais no Brasil. Caso as farmácias passem a realizar exames, devem seguir a mesma regulação dos laboratórios, até porque são esses rígidos protocolos que garantem a segurança e a confiabilidade dos resultados”, finaliza Shcolnik.