Abramed conquista a revisão da RDC 25/2001

Norma da Anvisa sempre gerou incertezas para seu cumprimento, em especial quanto aos requisitos mínimos e necessários para caracterizar o recondicionamento de um equipamento

Vitória para o setor de medicina diagnóstica. A Abramed conquistou a revisão da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 25/2001, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que trata especificamente da importação, comercialização e doação de produtos para saúde usados e recondicionados. Desde 2018, a Associação vinha enfatizando seu posicionamento de ter como premissa a segurança do paciente e elencando razões pelas quais as restrições da RDC impactavam negativamente o setor.

Com a revisão da RDC 25/2001 e as propostas da Abramed acatadas, definiu-se que equipamentos usados devem ter a etiqueta indelével para viabilizar a rastreabilidade; para Classes I e II – produtos considerados mais simples e menos perigosos, passa a ser autorizada a transferência de equipamentos usados mediante avaliação de profissional dentro do mesmo grupo econômico; para as Classes III e IV, passa a ser cobrado laudo técnico, emitido por empresa detentora de registro, pelo fabricante ou terceiro por ela indicado, atestando atendimento às especificações do fabricante. Serão isentos de laudo os equipamentos da RDC 330/2019, bem como transferências dentro do mesmo grupo econômico.

“A Anvisa já tem uma regulamentação específica para transferência de equipamento usado, a RDC 25/2001, que basicamente falava que nenhum equipamento usado poderia ser transferido sem atuação do detentor do registro do produto; portanto, se você fosse transferir um equipamento de raio-x ou ultrassom ou qualquer outro, a empresa ou o proprietário teria que pedir autorização para o detentor do registro do produto e ele próprio autorizar esse recondicionamento ou um terceiro autorizado por ele, de modo que a limitação regulatória acabava inviabilizando a transferência de equipamento usado no país”, explica Teresa Gutierrez, sócia da Machado Nunes Advogados.

Segundo ela, ao se pedir um equipamento para o detentor do produto, que via de regra é o fabricante, a autorização da transferência era cobrada num valor muito alto, fazendo ser mais viável comprar um novo – situação que há anos acontecia no mercado. “[Com a revisão] a medicina diagnóstica foi amplamente contemplada”, comemora Teresa.

A Abramed alegou – e defendeu – que a antiga legislação onerava a transferência segura e adequada dos equipamentos para saúde, fomentando transferências irregulares; e que a emissão de laudo por profissional habilitado e a notificação ao detentor do registro eram mecanismos hábeis para garantir a segurança do equipamento e sua rastreabilidade.

“Agora, serão criadas empresas de manutenção locais, o que facilitará também a manutenção dos nossos equipamentos. Existe uma série de vantagens com essa revisão, de curto, médio e longo prazo, excepcionais para o setor da saúde. Parabéns, Abramed”, sentenciou Fábio Cunha, diretor do Comitê Jurídico da entidade.

Apesar de antiga, a RDC 25/2001 sempre gerou incertezas para seu cumprimento, em especial quanto aos requisitos mínimos e necessários para caracterizar o recondicionamento, e o setor regulado também sempre esteve preocupado com isso, sobretudo empresas que atuam com aluguel e comodato de produtos para saúde usados e recondicionados.

“Entre os benefícios dessa revisão teremos a possibilidade de doação de equipamentos, assim como a criação de um mercado secundário, que barateará o custo dos equipamentos no Brasil e acelerará a atualização do parque industrial, sem contar os benefícios ao meio ambiente, pois equipamentos que antes eram descartados agora poderão ser vendidos ou doados, apresentando maior tempo de uso e chegando às mãos das entidades mais necessitadas, que não têm condições de adquirir produtos novos”, detalha Cunha.

A falta de objetividade da norma gerava insegurança jurídica àqueles que deveriam cumpri-la e, tal insegurança não beneficiava nenhum dos elos da cadeia de saúde – importadores, clínicas, hospitais, laboratórios, pacientes e o sistema de saúde na totalidade.

“Queria parabenizar muitas pessoas que trabalharam para que chegássemos a esse ponto com a RDC 25/2001, que estava esquecida na Anvisa, mas trouxe uma ameaça enorme, tanto para o setor de imagem, como para laboratórios clínicos e de anatomia patológica, que também utilizam equipamentos. Essa RDC falava de equipamentos na totalidade. Teresa Gutierrez, em conjunto ao Grupo de Trabalho de Engenharia Clínica da Abramed, atuou fortemente para podermos convencer a Anvisa dos impactos que essa norma já vinha trazendo no momento em que também era desnecessária. Estendo minhas felicitações à importante atuação do Colégio Brasileiro de Radiologia para que pudéssemos comemorar esse feito”, disse Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

“Demitir trabalhador que se recusa a tomar vacina tem amparo legal?”

Artigo assinado por Francisco Balestrin* e João Pedro Figueira**

A publicação da Portaria 620 pelo Ministério do Trabalho, no início de novembro, trouxe ainda mais dificuldade no já tão difícil combate à pandemia de Covid-19 no Brasil, ao proibir a demissão de trabalhadores que se recusam a tomar a vacina e as empresas de exigirem comprovante de vacinação. Também iguala a exigência da vacinação a práticas discriminatórias de sexo, raça, cor, etc e impõe punições para os empregadores que descumprirem a norma. Recente liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu temporariamente trechos da Portaria, permitindo aos empregadores a exigência do certificado de vacinação e a demissão, caso a recusa do funcionário represente risco ao ambiente de trabalho. O governo federal promete recorrer da decisão.

Afinal, uma pessoa pode, através de uma escolha individual, prejudicar não apenas um terceiro, mas toda uma coletividade? Por se aplicarem a todos os indivíduos indistintamente, a Constituição Federal trata a saúde como um direito social (artigo 6º) e não individual ou coletivo (artigo 5º) e determina que o seu cuidado é de competência comum a todos os entes federativos (União Estados e municípios). Indo além, determina que a saúde é direito de todos e dever do Estado (artigo 196), do que se depreende a obrigação do Estado de impedir que não vacinados coloquem em risco a saúde de terceiros.

Essa portaria traz enorme insegurança jurídica e coloca a segurança assistencial, pilar importantíssimo na prestação de serviços de saúde, em xeque. Uma das razões do êxito de um programa de vacinação é justamente a imunização coletiva. No caso da Covid-19, impedir novos contágios pelo vírus. Por esse motivo, a vacinação é organizada dentro de um programa público e nacional de imunização, pois deve atingir a todos. Cabe ressaltar que a vacinação até o momento é a única alternativa que, comprovadamente, está fazendo com que a normalidade do trabalho e o fluxo entre os países sejam retomados e, com isso, a atividade econômica.

No Brasil, os trabalhadores têm direito a um meio ambiente de trabalho seguro e saudável, e os empregadores o dever de garantir esse direito. É o que diz a Constituição Federal e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Covid-19 matou mais de 5,1 milhões em todo planeta e registrou 253 milhões de casos. Em nosso país são 611 mil mortes e 22 milhões de casos confirmados da doença. Cerca de 40% da população mundial já está imunizada com duas doses contra a doença, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e isso se reflete na queda drástica de internações e mortes, ou seja, as vacinas funcionam e estão cumprindo seus objetivos. 

Frente a uma doença que ainda não tem tratamento eficaz e os únicos “remédios” existentes são as vacinas e as medidas sanitárias, os trabalhadores que lidam diretamente com os pacientes ou com o público precisam estar vacinados. Já as empresas não podem ser impedidas de excluir de seus quadros trabalhadores que recusam a vacina e colocam em risco o ambiente de trabalho e a integridade dos demais profissionais e das pessoas em geral. 

Não conseguimos conviver bem em sociedade sem nos colocar minimamente no lugar do outro. Quando alguém se vacina não está apenas se prevenindo de uma doença, mas garantindo que outras pessoas – talvez mais vulneráveis – não sejam infectadas. Por isso que se vacinar extrapola a individualidade e é um ato coletivo. 

*Francisco Balestrin é médico e presidente do SindHosp – Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo

**João Pedro Figueira é advogado da Andrade Figueira Advogados Associados e membro da Comissão de Saúde Suplementar do Conselho Federal da OAB

ABRAMED promove discussões no Global Summit 2021 sobre transformação digital na medicina diagnóstica

A convite da entidade, especialistas em tecnologia e em telessaúde falaram sobre o 5G e as inúmeras possibilidades de aplicações, bem como os desafios e as oportunidades que ajudarão a aprimorar a qualidade do diagnóstico e a experiência do paciente 

A Abramed participou da edição 2021 do Global Summit Telemedicine & Digital Health visando discutir a saúde digital e os seus impactos na medicina diagnóstica. O evento é promovido anualmente pela Associação Paulista de Medicina (APM) em parceria com o Transamerica Expo Center e aconteceu de 9 a 13 de novembro. 

No segundo dia de evento, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, moderou o painel “Empresas de Diagnóstico”, com participação de Daniella Maria M. Bahia, diretora Médica do Grupo Fleury; Victor Gadelha, head de Inovação Médica de Operações Hospitalares e Cuidados Integrados da DASA; Gustavo Meireles, vice-presidente médico do Grupo Alliar Médicos à Frente; e Istvan Camargo, head do Skyhub do Grupo Sabin.

Eles abordaram temas como a saúde digital no diagnóstico a serviço da melhor experiência na Saúde, a inovação como caminho para saúde baseada em valor, as estratégias para geração de valor, eficiência e qualidade em diagnóstico por imagem e a transformação da user experience de análises clínicas. 

Shcolnik acentuou que a saúde digital tem papel importante na eficiência do diagnóstico, na melhoria da experiência do paciente, na qualidade do atendimento e também na redução de custos. “Este é um processo irreversível e vem acontecendo aceleradamente no setor”, ressalta. 

Daniela trouxe diversos aspectos sobre como a experiência do usuário, médico ou paciente, deve ser agradável e reforçou como isso conquistou relevância nos últimos dez anos. No entanto, segundo a médica, ainda existe um questionamento a respeito de ainda ser possível conciliar a humanização e o digital mantendo uma boa experiência e respondeu à pergunta afirmativamente. “Fazemos telemedicina desde os primórdios da medicina diagnóstica se pensarmos nos 95 anos do Fleury, por exemplo, e nas inteirações entre os profissionais discutindo casos clínicos. No contexto do diagnóstico, na radiologia especificamente, isso é uma realidade, e sabemos quanto a digitalização nos auxiliou no contexto da covid-19 e também na hematologia, o quão é possível uma centralização de laudos. São recursos que agilizam o diagnóstico, que permitem acurácia e qualidade no nosso dia a dia. A mesma coisa na patologia digital, trazendo flexibilidade no local de trabalho”, enfatiza.

E é exatamente a experiência do paciente que embasa esse processo de transformação digital tão importante para a saúde que foi contextualizado por Victor Gadelha. Nesse cenário, os pacientes têm conquistado cada vez mais força e estão engajando-se cada vez mais em seu tratamento, demandando do profissional de saúde outro comportamento. Segundo ele, a medicina baseada em evidência mudou a saúde e a colocou um patamar muito avançado, mas a medicina de precisão e os algoritmos permitem um passo a diante. 

Com esse aprendizado profundo e inteligência artificial, é possível descer ao nível do indivíduo, o que está muito forte, por exemplo, na genética. “O algoritmo é importantíssimo para diagnosticar precocemente as doenças e fazer uma terapia que entregue muito valor em saúde, melhorando muito o desfecho clínico e fazendo as pessoas viverem por mais tempo. Esse é um atributo fundamental. E já estamos vendo isso. Criamos esse mundo real baseado em dados”, complementa. 

Ainda sobre agregar valor, Gustavo Meireles trouxe um exemplo real sobre algumas estratégias de geração de valor, eficiência e qualidade em diagnóstico por imagem. O executivo detalhou um modelo que já vem sendo operado no Grupo Alliar há alguns anos, que é a IDR (Inteligência Diagnóstica Remota), uma plataforma de soluções em saúde que congrega um command center, treinamentos, protocolos padronizados, algoritmos de inteligência artificial, serviços de telemedicina – incluindo telerradiologia e telecardiologia – e reconstruções avançadas. Na radiologia e no diagnóstico por imagem, por exemplo, ela surge como apoio para a realização de exames à distância, comandados remotamente por médicos especialistas e feitos por braços robóticos. 

“Isso permite não só ampliar o acesso, levando os exames para regiões mais distantes, como também diminui o tempo de realização e aumenta a assertividade dos diagnósticos, inclusive com apoio da inteligência artificial para fazer as primeiras triagens e reconstruir as imagens em 3D. O objetivo é aumento das receitas, disponibilidade maior de ativos, redução de custos, a qualidade médica e de gestão, gerando, claro, valor para o cliente final”, ressalta Meireles. 

Voltando um pouco para experiência do paciente e entrando especialmente na esfera das transformações nas análises clínicas, Istvan Camargo contextualizou que esse conceito de inovação mudou, assim como no mercado como um todo. Ela está deixando de ser direcionada somente a novos produtos, medicamentos, testes, vacinas, e volta-se, especialmente, à geração do valor, com foco mais do que nunca na experiência do usuário. “É aqui que a inovação deve acontecer daqui para diante. Nesse ponto, o setor de saúde sempre foi muito criticado e apontado como conservador, mas é preciso quebrar esse dogma. De fato, sempre investimos muito em produto e temos uma prestação de serviços de excelência. Mas, o consumidor quer mais e busca uma experiência mais similar com a que está acostumado em outros setores de sua vida. A boa notícia é que não estamos parados: a pandemia acelerou isso e mexeu profundamente com a UX.” 

No caso do usuário de análises clínicas, Camargo ressalta que a aplicação da tecnologia já avançou e está desde a consulta e o pedido médico, agendamento do exame, preparação e orientação, até a realização dos exames e o envio dos resultados, ajudando a trazer mais fluidez e otimização dos processos. 

Painel Nacional – Abramed e Anahp

No dia 11, representando a Abramed, Carlos Figueiredo, superintendente de Negócios e Operações do HCor, abordou os desafios da telessaúde na medicina diagnóstica. Figueiredo contou como o telediagnóstico já vem sendo usado na prática, por meio do TeleCG, um programa no HCor com o PROADI-SUS, que atende os pacientes nas ambulâncias do SAMU. Os exames à distância ampliam o acesso ao diagnóstico em regiões com escassez de recursos, equilibrando a oferta e a demanda, bem como aumentam a qualidade da avaliação diagnóstica, em especial se combinados a ferramentas de suporte à decisão clínica e algoritmos de inteligência artificial que ajudam na priorização dos diagnósticos, evidenciando o que, talvez, não seria percebido pelo olho humano. Além, claro, de proporcionar redução de custos. 

“Às vezes não temos disponibilidade de profissionais para fazer uma avaliação de um eletro em tempo real. Com o telediagnóstico, atingimos uma população que, se não fosse através de uma ferramenta digital, não teria acesso no tempo necessário e no local necessário”, enfatiza. 

Sobre os desafios, Figueiredo ressaltou que nesses dois anos a adoção de métodos digitais acelerou de uma forma que, em períodos normais, aconteceria em décadas. No entanto, enfatizou que ainda existem muitos problemas relacionados a infraestrutura no país. Muitas cidades no Brasil ainda não têm acesso a conexão de qualidade para a integração e para que o diagnóstico aconteça no tempo e na forma adequada, com discrepâncias entre regiões. A segurança da informação também foi apontada como desafio recente e deve ser olhada com atenção, assim como as barreiras culturais, que, dependendo do tipo da aplicação, principalmente na área diagnóstica, ainda existem. Além disso, outro ponto é a dificuldade de dar seguimento ao cuidado, seja no tratamento, seja na orientação do profissional que está recebendo o laudo a respeito da conduta a ser seguida. “É preciso oferecer não só o diagnóstico e orientação, mas também mecanismos e ferramentas que gerem disponibilidade no sistema para continuidade no tratamento”, reforça.

Participaram ainda do debate Eduardo Cordioli, gerente médico de telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente da Saúde Digital Brasil e Felipe Cabral, Coordenador Médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento.

Cordioli complementou um ponto importante colocado por Figueiredo, que é a falta de estrutura. Para o especialista, a chegada do 5G será uma importante alavanca para levar ao cenário ideal da saúde: médicos e pacientes conectados ao longo de toda a jornada do cuidado. Cabral também colocou a interoperabilidade e a colaboração entre todos os stakeholders da saúde também foi apontada como uma condição essencial. Assim como, a educação e o treinamento dos profissionais para estarem aptos a exercerem com excelência a telemedicina, que nada mais é do que medicina.

Diagnóstico e genética foram tema do quarto episódio de #DiálogosDigitais Abramed

Exames genéticos, diagnósticos mais precisos, oncologia de precisão, painéis hereditários e mapeamento genético estiveram entre os assuntos debatidos no encontro virtual

O quarto episódio de 2021 da série #DiálogosDigitais Abramed abordou o tema “A prevenção é mesmo o futuro? Diagnóstico e Genética”. O bate-papo aconteceu no dia 16 de novembro e contou com a moderação de Cristovam Scapulatempo Neto, diretor médico de Anatomia Patológica e Genética da DASA e diretor do Comitê de Anatomia Patológica da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Participaram como convidados Fábio Ferreira, coordenador da Clínica de Alto Risco da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Mariano Zalis, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da OC Precision Medicine; e Marlene Oliveira, presidente e fundadora do Instituto Lado a Lado pela Vida.

Zalis explicou que desde o momento que se tem um câncer e o tumor começa a crescer, é importante entender quais foram as mudanças que geraram a doença, ou seja, não apenas os riscos genéticos, mas também a influência do sol, do tabaco, do álcool e do meio ambiente onde a pessoa vive. “Saber quais são essas mudanças está muito relacionado com o tipo do tratamento. Há, atualmente, drogas-alvos associadas a uma mutação específica de um gene e cada vez mais surgem novas drogas, novas terapias, referentes às mudanças genéticas do câncer”, expôs.

Ele disse que o monitoramento do tumor está virando uma realidade, pois já existe exame de sangue para detecção precoce do câncer. “Atualmente há algoritmos para identificar modificações no DNA que são muito específicas para o tumor e o tecido. O sistema de acetilação consegue identificar a origem do DNA tumoral. Chegaremos ao ponto onde o paciente terá um rastreamento precoce, principalmente pessoas com alto risco de ter câncer. E depois ainda tem o monitoramento com drogas específicas, sendo uma terapia de precisão.”

Também foi comentado que a biópsia líquida não substitui o patologista, mas veio para ficar. “Chega o momento em que não se tem o material e não adianta utilizar o mesmo de um ano atrás, pois ele se tornou geneticamente outro e agora está muito mais complexo, com muito mais mutações perigosas, não tem mais como consertar o DNA. Hoje é possível sequenciar os genes sem precisar expor o paciente”, contou. 

Por sua vez, Marlene apresentou o trabalho do Instituto Lado a Lado pela Vida, que percorre o país inteiro para orientar e conscientizar a população, com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer. “Hoje, o tumor tem nome e sobrenome. Como traduzir isso para o paciente, os familiares e o cuidador? É isso que fazemos através de nossas campanhas, como a de Novembro Azul e Outubro Rosa.”

A instituição foi uma das primeiras do país a falar do câncer de pulmão além do tabaco. Antigamente, 7% dos pacientes com câncer nunca fumaram. Hoje, já são 22%. Vários fatores precisam ser entendidos e orientados. “Estamos realizando um trabalho muito forte também de políticas públicas. Não adianta a medicina avançar e as pessoas não terem acesso a ela.”

Marlene destacou que a medicina personalizada pode ser uma luz e que a instituição precisa acender esse interruptor, pois só assim será possível influenciar positivamente o cenário da saúde no país, com profissionais de saúde, pacientes, familiares, gestores, todos focados na conscientização.

O Instituto Lado a Lado pela Vida foi a primeira organização social a incluir, em 2015, a medicina personalizada na agenda, tanto na comunicação com a sociedade, quanto realizando eventos com formuladores de políticas públicas. “A medicina personalizada pode organizar todo o sistema de saúde. Precisamos avançar nessas discussões e nos aproximar dos legisladores. Temos de ampliar o acesso aos testes, o que ainda está muito longe no sistema público de saúde”. Ao que Scapulatempo Neto comentou: “são dois caminhos, primeiro acesso ao teste e depois acesso ao tratamento.”

De acordo com Fábio Ferreira, medicina personalizada, de prevenção e previsão estão muito interligadas. “Ao ter uma medicina de precisão baseada em dados genômicos, acaba-se personalizando ainda mais o tratamento, sem esquecer o lado humano, a importância da consulta médica, o histórico familiar e o risco de fatores ambientais. Com isso, a longo prazo, diminuímos o custo do sistema de saúde. Trocaremos o diagnóstico em fase avançada por uma situação de risco pré-diagnóstico de câncer, permitindo que se invista em orientações e mudança de estilo de vida baseados naquele risco individual, genético, determinado pela tecnologia atual.” 

Segundo Ferreira, em pouco tempo, será possível, através de um simples exame de sangue, visualizar um painel de risco para câncer, doença cardiovascular e neurológica, por exemplo. “Isso é fundamental em termos de saúde pública. O caminho não é focar exclusivamente em mutações conhecidamente patogênicas, mas na ideia de desenvolvimento de estratégias de registro que permitam, em algum momento, também fazermos estudos poligênicos, que são os estudos de associação de genoma completo.” 

Disse ainda que ao mapear a população, é possível ter um perfil dos polimorfismos daquela comunidade e colocar os indivíduos em percentil de risco, o que permitiria, daqui a um tempo, fazer programas de rastreamento de forma muito mais dirigida.

Confira o quarto episódio desta temporada na íntegra clicando aqui.

bioMérieux vislumbra crescimento após pandemia

Marcelo Agostinho, Diretor de Vendas, Marketing e Acesso ao Mercado, fala sobre desafios, ajustes e perspectivas

Líder global em diagnóstico in vitro, a bioMérieux é parceira da Abramed – Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica. Em entrevista exclusiva para o Abramed em Foco, o Diretor de Vendas, Marketing e Acesso ao Mercado, Marcelo Agostinho, fala como a empresa enfrentou – e se ajustou – à pandemia de Covid-19, sempre buscando entender a dinâmica de seus clientes e o mais importante: sem fazer backorder. Segundo ele, mesmo em um cenário de crise, se pôde atender com satisfação, sem ruptura ou qualquer falta de itens ou insumos. E mais: a perspectiva é de crescimento.

Confira o bate-papo na integra.

Abramed em Foco – Quais foram os principais desafios da bioMérieux ao longo da pandemia de Covid-19? E como a empresa atuou para vencê-los?

Marcelo Agostinho – Tivemos alguns desafios. O primeiro foi como gerenciar as pessoas, os funcionários num momento tão crítico e delicado, onde não tínhamos a perspectiva da realidade do futuro. De alocar as pessoas em casa e manter toda a rotina e o processo. Foi um grande desafio não só para a bioMérieux, mas para o mercado como um todo, de continuar atendendo aos clientes com as nossas soluções. O segundo desafio foi atender a nova dinâmica, como se daria a realidade da microbiologia e como poderíamos continuar suportando nossos clientes para atender as necessidades especificas desse período. Esses foram os dois pontos mais críticos, que, obviamente, nós, posteriormente, verificamos que tanto o cuidado dos nossos funcionários que ficaram em home office até esse mês de novembro – quando voltamos à rotina normal, foi uma decisão acertada, porque conseguimos preservar as pessoas e também manter toda rotina de operação. Em relação aos nossos clientes, conseguimos entender a dinâmica e suportá-la nas suas necessidades para atender a comunidade cientifica e os pacientes da melhor forma possível.

Abramed em Foco – Muitas empresas de diagnóstico tiveram de mudar seus cardápios de exames para reequilibrar as atividades. Aconteceu o mesmo na indústria?

Marcelo Agostinho – Nós temos soluções que fomos desenvolvendo para Covid-19 tanto em sorologia quanto o nosso PCR sindrômico, que não somente contribuiu no primeiro momento, quando não havia ainda os testes para detecção do novo coronavírus, onde ele foi, inclusive, protocolo de alguns grandes clientes, para fazer uma varredura do paciente de múltiplas possibilidades de patógenos e se de fato desse tudo negativo, se utilizava a possibilidade mais assertiva que poderia ser Covid-19. Suportamos os nossos clientes dessa seguinte forma e posteriormente com estas soluções fomos nos adaptando e atendendo a demanda.

Como foi longo período pandêmico, quase dois anos, obviamente que a dinâmica de mercado foi se ajustando e o que fizemos foi sempre estar atento, conversando, orientando e discutindo com os clientes para entender a dinâmica diária ou mensal e atender com as soluções que temos, sem fazer backorder. Essa foi a dinâmica com a qual conseguimos atender com uma grande satisfação, porque não tivemos ruptura ou qualquer falta de itens ou insumos por conta da pandemia.

Abramed em Foco – A pandemia impactou negativamente os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação? Ou mesmo diante da crise os projetos conseguiram avançar?

Marcelo Agostinho – Todo o mercado se voltou a entregar soluções e atender a uma necessidade latente na comunidade científica e do mercado de saúde como um todo. Pesquisa & Desenvolvimento, na verdade, não foi um segmento afetado, mas foi norteado para trazer soluções o mais rápido possível para contribuir com a saúde pública. Eu acho que todas as empresas de diagnóstico e as ‘farmas’ trabalharam neste propósito de correr com uma solução para atender a uma necessidade e isso não foi diferente com a bioMérieux, que também trabalhou na possibilidade de, mais rapidamente, trazer testes que poderiam suportar a comunidade científica na sua tomada de decisão naquele momento que era mais crítico, então de certa forma nós fomos atuando para trazer soluções adequadas a uma necessidade latente do mercado.

Abramed em Foco A medicina diagnóstica brasileira vem batalhando para ampliar o acesso aos exames. E sabemos que a tecnologia tem papel fundamental nessas estratégias. Quais os obstáculos, em sua perspectiva, para que consigamos aplicar a tecnologia na expansão do setor?

Marcelo Agostinho – Isso é um grande desafio para todas as empresas, trazer à luz tanto ao Ministério da Saúde quanto ao segmento privado que o diagnóstico é fundamental no direcionamento e na tratativa desse paciente. O diagnóstico precoce, assertivo, que possa orientar a comunidade científica tem grande valia e grande poder no Impacto no tratamento do paciente e, obviamente, na possibilidade de redução de custos desse tratamento. Acho que esse eixo de duas variáveis é fundamental, porque a perspectiva que o diagnóstico pode trazer para o mercado é contribuir numa redução de custos dá para uma orientação precoce, no direcionamento do tratamento, e esse paciente ter a remissão da sua doença em um breve espaço de tempo. Esse é o grande desafio que, de fato, com as novas tecnologias vai ser transformador e o diagnóstico sendo realmente protagonista nesse processo de atendimento ao paciente.

Abramed em Foco – O setor de medicina diagnóstica tem falado muito sobre integração diagnóstica, ou seja, a utilização de resultados de diferentes exames para a melhor tomada de decisão. Como a indústria tem atuado, quais os segmentos que são mais promissores quando pensamos nessa integração?

Marcelo Agostinho – Acho que essa integração na verdade se dá em todas as esferas. Nós ainda discutimos bastante que, muitas vezes, no próprio hospital tem os silos – departamentos que trabalham de forma isolada -, com seus orçamentos, com seus budgets e acredito que a microbiologia onde atuamos fortemente é fundamental nessa integração entre CCH – Hospital de Cuidado Contínuo, farmácia, infectologistas, intensivistas e laboratório no tratamento do paciente, não somente na questão das doenças infecciosas, mas também na orientação de um todo, de um olhar centrado, com paciente no centro desse processo. Quando falamos do futuro da septicemia – ou sepse, condição de resposta exagerada a uma infecção no corpo, seja por bactérias, fungos ou vírus, que acaba causando disfunção orgânica, ou seja, que dificulta o normal funcionamento do corpo –, por exemplo, obviamente que o gerenciamento de antibióticos Stewardship Program vai passar por essa integração que o laboratório possa fazer como um elo muito importante na gestão. A medicina tem que ser cada vez mais integrativa e que todos os olhares são fundamentais para um direcionamento mais assertivo desse paciente.

Abramed em Foco – Quais as perspectivas da bioMérieux para o pós-pandemia no Brasil? Há potencial para crescimento?

Marcelo Agostinho – A nossa perspectiva é de crescimento no geral. Nós temos uma concepção de trazer uma abordagem de uma solução que a bioMérieux de fato é uma empresa, dentro do segmento de microbiologia, que tem uma solução ampla, um portifólio de produtos que vai atender aos médicos de uma forma extremamente efetiva, através dos laboratórios de análises clínicas. Nós falamos muito em resposta rápida, com informação rápida para o sistema de saúde.

Abramed em Foco – Como enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

Marcelo Agostinho – Acredito que a Abramed é fundamental como uma associação que levanta a bandeira de que o diagnóstico é um processo fundamental no ciclo de cuidado do paciente e como uma entidade de classe, com a sua representatividade, ser atuante entre os órgãos competentes, os tomadores de decisões, quer sejam da esfera política ou da esfera empresarial, promovendo um grande diálogo. O papel da instituição é tentar gerenciar todos os stakeholders, todos os agentes em um único propósito, entendendo toda a cadeia produtiva de valor e trazendo uma solução cada vez mais prospectiva para o segmento de saúde.

ESG: um investimento que pode fazer bem para saúde

Como incentivo e apoio para seus associados avançarem em suas estratégias de sustentabilidade ambiental, social e de governança, a Abramed cria um Comitê para compartilhar melhores práticas e conhecimento sobre o tema

O ESG (Environmental, social and corporate governance), (sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa) tem conquistado cada vez mais espaço nas agendas de investimentos das empresas e saído da teoria para ser aplicado na prática. Esse conceito amplia o olhar da sustentabilidade para eixos diferentes, extrapolando as questões relacionadas ao meio ambiente, e envolvendo ações que impactem positivamente a vida das pessoas de diversas maneiras e com diversas frentes.

Um estudo realizado por pesquisadores de Harvard, Oxford, London Business School e de outras instituições apontam que em 10 anos as empresas que já trabalham com isso terão seus resultados fortemente potencializados. Além disso, de acordo com dados da mais recente pesquisa “Tendências Globais em Relações com Investidores”, realizada duas vezes ao ano pelo The Bank of New York Mellon (“BNY Mellon”), 71,3% das equipes de RI em todo o mundo relataram que, em 2019, as conversas com investidores sobre ESG (Ambiental, Social e Governança) e CSR (Responsabilidade Social Corporativa) tornaram-se parte essencial do trabalho.

No Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) surgiu como uma ferramenta para acompanhar e incentivar a postura sustentável por parte das companhias, bem como ressaltar as empresas alinhadas a essa ideia e tornar mais atrativo o investimento nesse campo. Além disso, recentemente a B3 e a Great Place to Work (GPTW) anunciaram o Índice GPTW, voltado para as práticas ESG, que começa a valer em janeiro de 2022.

Claudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed e CEO do Alta Excelência Diagnóstica, que além de entusiasta do tema é uma profunda conhecedora, relembra que, apesar de o termo ESG ter sido cunhado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2014, foi mais recentemente, que essas questões passaram a ter uma atenção especial. Larry Fink, CEO da BalckRock, uma das maiores investidoras do mundo, fez uma declaração afirmando que o risco climático afeta a capacidade das empresas de criarem valor, e pode ser considerado um risco de investimento. “Isso foi uma virada de chave importante”, explica a executiva.

Na área de saúde e medicina diagnóstica, ESG já é um tema presente no dia a dia das empresas. Muitos laboratórios associados da Abramed já estão trilhando esse caminho da sustentabilidade há alguns anos. Porém, Claudia ressalta que para os que ainda estão engatinhando, este não deve ser um fator desmotivador e sim impulsionador.

“Precisamos olhar de agora para o futuro. O que já aconteceu infelizmente não pode ser mudado. Por outro lado, temos clara a ideia de que não importa o seu tamanho, onde está alocado e nem há quanto tempo você começou e, sim o quanto você vai se dispor a criar essa cultura e como isso impactará todos os stakeholders, isso inclui fornecedores, investidores, clientes, colaboradores e as empresas”. 

Também vale ressaltar que não é preciso começar do zero, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU – que endereça 17 objetivos relacionados a acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima – podem servir de guia para definir a ação das empresas de acordo com sua atuação.

Para quem deseja de fato começar a estabelecer e direcionar os seus investimentos, a dica é seguir três passos importantes. Em um primeiro momento tomar conhecimento; no passo dois analisar por onde começar a transformar a sua cultura; e, no passo três, atuar no sentido de tornar a empresa mais competitiva e mais aceita pelo paciente por entregar e proporcionar retorno. Outro ponto importante é que as escolhas de cada um são únicas e devem ser respeitadas.

“Cada um tem um viés, um tamanho, uma possibilidade diferente, e é muito interessante essa diversidade de cada um poder trabalhar de uma forma diferente, contribuindo para o setor. E, principalmente, não se deixar levar pelas estratégias de greenwashing, que está relacionada à injustificada apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. No fim, se for genuíno, ganha a saúde, o paciente, o cidadão, a sociedade”, enfatiza.

Um ponto direcionador

Considerando que a disseminação da cultura ESG é uma das missões que as empresas que fazem isso a mais tempo têm, a colaboração é um aspecto muito importante. Empresas mais maduras na adoção de estratégias de ESG podem direcionar e apoiar as que estão ingressando.  Exatamente enxergando a relevância e poder do compartilhamento de conteúdo e de melhores práticas, que o Conselho de Administração da Abramed deliberou para a criação de um Comitê de ESG.  A ideia surgiu a partir do interesse e também de algumas iniciativas que já vêm sendo desenvolvidas por alguns associados. O kickoff aconteceu no início de novembro e a próxima reunião já irá definir a liderança deste comitê, que será responsável por traçar o plano de atuação para 2022.

Segundo Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, o Comitê terá uma atuação em três pilares: benchmarking para trazer para os associados as melhores práticas; geração de conteúdo; e projetos aplicados, que consistem nas iniciativas que serão abraçadas pela entidade em ESG. Um dos desafios está em desmistificar o ESG, que muitas vezes fica associado exclusivamente às questões ambientais, trazendo para o contexto da área de saúde.

“Nosso ponto é permitir essa troca entre os associados e trazer as melhores práticas para colaborar com uma atuação consistente e efetiva. A maioria das empresas associadas à Abramed tem estratégias de ESG, mas temos níveis de maturidade bastante distintos entre elas, que variam conforme a cultura e porte da organização. Convidamos todos os nossos associados a se engajarem e participarem do Comitê de ESG para avançar ou tirar suas iniciativas do papel”, finaliza a diretora-executiva. 

“Telepredicina” : um remédio para o sistema de saúde

Artigo assinado por Caio Soares*

Ao longo do último ano, nunca antes no cenário da saúde havíamos ouvido falar tanto de todos os termos iniciados com o prefixo “tele”: telemedicina, teleatendimento, teleconsulta, teleassistência, teleoperação, telemonitoramento. Da mesma forma, a discussão e a percepção dos impactos, dos prós e contras, extrapolaram as barreiras das instituições de saúde e do âmbito governamental para entrar em rodas de discussões da população em geral.

No entanto, existem alguns impactos, que muitas vezes não são tão evidentes, em especial para quem não está no dia a dia. Além de facilitar o acesso e aumentar a velocidade com que o paciente é cuidado, entregar resolutividade, aumentar a segurança e evitar desperdícios, outra grande vantagem da telemedicina é antecipar cenários, algo crucial quando estamos falando sobre saúde de populações.

Apelidei esse conceito de “telepredicina”. Parece até nome de medicamento, o que não deixa de ser.  Afinal, essa predição pode ser de fato um remédio para o sistema de saúde. Isso porque, quando partimos para um lado mais analítico, a telemedicina revela informações que nos ajudam a corrigir rotas, a nos prepararmos, prevermos aumentos ou quedas de demanda. Explico o motivo.

Segundo dados extraídos das bases da Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital – a Saúde Digital Brasil (SDB), de março do ano passado a abril deste ano, foram mais de 7,5 milhões de atendimentos. Destes, 87% foram primeiras consultas, evitando as famosas idas desnecessárias e até identificando por meio de exames a necessidade de um atendimento em unidade hospitalar.

Aliás, uma das grandes capacidades que a telemedicina tem é de absorver um atendimento que seria tradicionalmente direcionado às estruturas mais complexas. Ela assume o papel dos prontos-socorros, que são em geral a porta de entrada do sistema, mas que foram desenhados para atender a um nível de complexidade superior ao que a grande maioria das pessoas realmente precisa.

Obviamente, todos que por ali chegam terão as suas queixas acolhidas. No entanto, ao mesmo tempo, essas pessoas estão usando um recurso de grande complexidade estrutural, quando, na verdade, a real necessidade seria de uma unidade de atendimento de grande densidade de conhecimento, capaz de resolver, na maioria dos casos, o problema, ou então encaminhar para um serviço  mais especializado, já muito certeiro.

Sendo assim, pode-se dizer que, além de desafogar essa estrutura complexa e evitar tanto a subutilização de especialistas quanto a superutilização do sistema, a telemedicina, pela agilidade que proporciona e pelo volume de dados que registra, consegue evidenciar, do ponto de vista populacional, os movimentos que acontecem de saúde e o adoecimento com alguma antecedência.

Isso, inclusive, mostrou-se verdadeiro durante a pandemia, quando tivemos um volume de atendimento muito grande e conquistamos a capacidade de acompanhar os indicadores que eram obtidos nas consultas online e compará-los com dados de atendimentos presenciais nas unidades ambulatoriais e hospitalares presenciais. Fazendo uma análise estatística com base nas curvas de crescimento dos atendimentos via telemedicina, no caso da Covid-19, por exemplo, percebemos que eles permitem antecipar a informação entre cinco e sete dias em relação ao que é observado no presencial.

Enquanto os números oficiais mostravam regressão e estabilidade, os da telemedicina apontavam crescimento. E temos visto isso se repetir constantemente, nas últimas quatro ou cinco semanas, com um aumento sistemático de casos entre 15% e 30%. Seria este uma predição do que está por vir e que impactará o sistema como um todo, mais uma vez?

Estamos falando apenas desta pandemia, que tem proporções assustadoras. Da mesma forma, a  telemedicina poderia ajudar a antecipar também outras variações e demandas do sistema de saúde (público e privado) de doenças e/ou surtos. Sabemos que as tendências dizem muito a respeito de epidemias e pandemias. Ou seja, é algo diretamente proporcional – se muitas pessoas entram no sistema com a mesma queixa, é (ou pode ser) um valioso sinal de alerta. Significa que tem algo errado. E aí voltamos para a questão de quanto a tecnologia pode ser preditiva e antecipar o que pode acontecer.

Posto isso, já parou para pensar quanto dinheiro, quantos recursos e, principalmente, quantas vidas poderiam ser poupadas, se a tecnologia for utilizada da forma correta e em todo seu potencial? O benefício é para todo mundo. O ganho é para o gestor, é para o sistema de saúde, é para o paciente e para o médico. A telepredicina, a telemedicina, a teleconsulta, o uso da tecnologia, ou como preferirem chamar, são definitivamente bons remédios para a nossa saúde.

*Caio Soares, vice-presidente da Saúde Digital Brasil –  Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital

Setor da saúde precisa de união para ampliar o acesso à população e avançar nas políticas públicas

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, participou do Encontro Estratégico Conahp 2021 e questionou sobre a oneração que a Reforma Tributária pode trazer ao setor

25 de outubro de 2021

O Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, participou, no dia 8 de outubro, do Encontro Estratégico Conahp 2021 – evento que antecede o Congresso Nacional de Hospital Privados –, que reuniu lideranças políticas, representantes das agências reguladoras, gestores das instituições associadas à Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e representantes das principais entidades de saúde.

Do encontro também participaram os deputados federais Pedro Westphalen (PP-RS) e Luiz Antônio Teixeira (PP-RJ), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família na Câmara dos Deputados; Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde); Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo); Rafael Cremonesi, diretor-geral do Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre-RS); e José Octávio Leme, diretor-geral do Hospital Marcelino Champagnat (Curitiba-PR).

No debate, Westphalen destacou a importância do estreitamento do relacionamento dos representantes do setor com as lideranças políticas nacionais envolvidas nas temáticas de saúde nos últimos anos, principalmente durante a pandemia, e como isso tem sido decisivo para o entendimento sobre os projetos de lei que poderiam impactar na sustentabilidade do setor.

“As entidades estão se aproximando da política para tomar as decisões, com informações corretas e adequadas. O Congresso Nacional deu respostas muito importantes durante a pandemia, mostrando os caminhos que temos de trilhar juntos pela assistência à saúde no país e para definir o futuro do nosso setor”, disse Westphalen, que é médico.

A saúde, comentou Teixeira, representa 9,5% do PIB nacional, é o segundo setor que mais emprega no país e, para ele, não é dada a devida atenção, principalmente no que se refere a investimentos e desenvolvimento.

“Quando se trata de desonerar alguns setores, não se pensa na saúde e nem em estimular o setor, que além de gerar emprego e renda, é um dos que mais gera benefícios à população”, afirmou o deputado.

O presidente da Abramed reiterou que o estímulo é um dos pontos sensíveis à saúde, e questionou os parlamentares sobre a Reforma Tributária que tramita no Congresso. “Como está essa questão e como podem nos ajudar? Somos um setor essencial e não podemos ser mais onerados. Os deputados nos ajudaram a superar as barreiras com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), fundamental para que 17 milhões dos mais de 23 milhões de testes RT-PCR realizados até agosto fossem feitos pela iniciativa privada e pela saúde suplementar, mostrando que tivemos um papel essencial na pandemia e podemos complementar a atuação do SUS”, pontuou Shcolnik.

Westphalen explicou que a Reforma Tributária o preocupa sobremaneira e que não pode ser aprovada da maneira que hoje tramita na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Disse ser preciso “lutar para que o Congresso entenda que a saúde foi o setor que mais contratou durante a pandemia; e respeitar e dar estabilidade à indústria brasileira da saúde, pelo menos, previsibilidade, já que são as empresas nacionais que mais investem em pesquisa e desenvolvimento (18%, antes 1,5% do governo)”.

Para Teixeira, que também é médico, várias ações têm sido feitas junto aos parlamentares frente aos vários projetos que tratam da Reforma Tributária no Congresso. “Conseguimos desonerar os profissionais liberais, com a redução da alíquota do imposto de renda. Mas tem outro projeto tramitando no Senado que pode onerar a saúde. Enfim, todo dia é uma guerra frente ao controle tributário, por isso, precisamos de um programa de Estado para a saúde”, explicou.

Fraccaro concordou com o deputado e falou da falta de isonomia tributária ao país que, segundo ele, é prerrogativa dada pela Constituição Federal de 1988, que dá isenção de tributos para a compra de produtos importados, o que reflete na competitividade da indústria nacional.

Por todos esses motivos, Teixeira defendeu um programa estratégico nacional de saúde e a autonomia do Ministério da Saúde para que o país consiga implementar e ampliar as políticas públicas no setor e o acesso da população a uma assistência de qualidade, com o apoio do segmento privado.

“Precisamos da união dos prestadores de serviços com os médicos, a indústria de transformação, a medicina diagnóstica que, dessa forma, proporcionará um melhor desfecho clínico e, por consequência, diminuir o impacto nos custos das operadoras. Oferecendo mais qualidade e ampliando o acesso ofertaremos uma saúde melhor e uma prestação de serviço mais efetiva”, afirmou o deputado.

Na visão de Vera, os custos na saúde suplementar são absurdos e faltam projetos de lei que visem à sustentabilidade do setor, para que o resultado não seja o reajuste dos planos e a redução no número de beneficiários. Ela comentou que uma comissão especial na Câmara dos Deputados trabalha na modernização da lei nº 9.656 (Lei dos Planos de Saúde) e espera que “olhem com responsabilidade para o cenário brasileiro, visando realmente à ampliação do acesso da população ao sistema privado de saúde”.

Para ter essas conquistas, Cremonesi disse ser importante que haja um grau de entendimento e de relacionamento entre todos os atores da cadeia da saúde. Ele apoia a estratégia do deputado Teixeira de união no setor, pois, na sua opinião, “enquanto houver um cabo de guerra entre pagadores e prestadores, as soluções sempre serão míopes”.

Há ainda outras questões que são desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde no Brasil. Leme lembrou haver projetos de lei de reajustes de pisos salariais para algumas categorias no Congresso que têm causado enorme preocupação ao setor.

O deputado Teixeira concluiu dizendo acreditar que este ano nada deve evoluir em nenhuma das duas Casas, mas que no próximo ano, devido às eleições, os riscos aumentam, e que, por isso, é fundamental que os parlamentares e o setor estejam unidos para que todos entendam o quanto é importante garantir a sustentabilidade dos sistemas público e privado de saúde para uma assistência de qualidade à população brasileira.

5° FILIS discute a transformação e o futuro da medicina diagnóstica

Debate reuniu especialistas de mercado no segundo dia do evento

Moderado pelo conselheiro da Abramed e sócio da Clínica Imagem, Ademar Paes Junior, o debate “Transformação e o Futuro da Medicina Diagnóstica” marcou o segundo dia do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS).

Abordando temas relacionados à pandemia e a inovação, o painel contou com a participação de relevantes nomes do mercado como Armando Lopes, Diretor de Diagnósticos por Imagem e Digitalização da Siemens Healthineers na América Latina; Carlos Martins, presidente Roche Diagnóstica no Brasil; Cleber Morais, diretor-geral da Amazon Web Services; e Rafael Palombini, presidente e CEO da GE Healthcare para a América Latina. Juntos, eles discutiram como a Covid-19 transformou a visão da indústria diagnóstica, quais mudanças e oportunidades de avanços tecnológicos nos últimos 18 meses trouxeram para o Brasil e a humanidade.

“Na pandemia, a tecnologia passou a ser o grande habilitador de tudo, da manutenção preventiva, consulta remota, mas o mais importante é entender o paciente como o core de tudo isso, como a tecnologia pode ajudar o paciente nesta jornada”, afirmou Cleber Morais, da Amazon Web Services.

Para Morais, como divisão da Amazon que leva serviços de computação, armazenamento e segurança aos clientes através da internet, o apoio da empresa foi fundamental para ajudar os clientes a passar por este período pandêmico, destacando o papel da empresa na elaboração de uma das vacinas contra a Covid-19. “A Moderna utilizando uma tecnologia nossa, da WS, para conseguir desenvolver a vacina em um tempo recorde, por meio inteligência artificial, elasticidade e capacidade tecnológica maior”, reafirmando que o período consolidou a tecnologia como grande habilitador de redução de custos e acelerador de benefícios para os pacientes.

Mas antes da vacina ficar pronta, Carlos Martins, da Roche, lembrou que o teste diagnóstico foi “um herói silencioso no meio de tudo isso que ocorreu”. “Isolar doentes para separar da população saudável foi o que pode nos salvar antes da vacina”, pontuou ele, que utilizou dados significativos para contextualizar a relevância da medicina diagnóstica na prevenção e cura de doenças: “70% das decisões clínicas são baseadas em exames diagnósticos, seja in vitro, de laboratório; ou in vivo, no doente, de imagem”.

Segundo ele, devido à demanda, foi necessário um foco muito grande para que o primeiro teste de RT-PCR fosse lançado em janeiro de 2020. Deste esforço, ele acredita que nasceu um dos principais aprendizados da pandemia. “Vimos do que nós, seres humanos, fazemos quando estamos focados em um tema, qual o poder que temos quando estamos determinados a realizar algo conjuntamente”, afirmou.

Nesta linha, Rafael Palombini, da GE Healthcare para a América Latina, compartilha que “pessoas, empatia e relacionamento” foram a chave para toda uma nova perspectiva decorrente da pandemia. “ Precisamos entender como gerar valor em termos de relacionamento, de apoio, de estar próximo e se reinventar na busca do que fosse melhor para manter o setor de saúde funcionando e operando”, afirmou ele, contando que a partir daí, foi possível apoiar o time da linha de frente na utilização de equipamentos diferenciados, buscando ritmo e eficiência.

“Adicionalmente aos temas de volumetria de atendimento, acesso à saúde e utilização de máquinas está esse olhar no paciente em uma visão completa da sua jornada, como antecipamos buscando a saúde do indivíduo, o que em cima do hoje podemos prevenir o amanhã, essa conscientização”, explicou.

O nível de conscientização das pessoas com relação ao valor do zelo da saúde também foi destaque na fala do diretor da Siemens- Healthineers, Armando Lopes, explicando que essa conscientização “mudou de patamar”, lembrando que a taxa de abandono de exames diminuiu brutalmente. “A pessoa faz e no mesmo dia ou no dia seguinte quer saber o resultado. A discussão sobre comorbidades, como pressão alta, diabetes e sobrepeso também passou a ser discutida inclusive à luz da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados)”.

Tecnologia, convívio e investimentos – Outro aspecto citado por Lopes foi o fato de que embora muitas das ferramentas utilizadas na pandemia já estivessem disponíveis antes de 2020, foi durante essa “tragédia que se abateu sob a humanidade” que a telemedicina, por exemplo, foi usada com sofisticação tecnológica. “A maneira que enfrentamos esta pandemia é o que deixará um legado muito grande. O desafio do pós-pandemia será o modelo híbrido, que precisará manter o legado do afastamento, mas resgatar coisas anteriores importantes do convívio do nosso antigo normal”.

“O Brasil já consome tecnologia há muito tempo, no mundo ocidental somos o segundo maior mercado de full service depois dos Estados Unidos, temos uma rede pública bastante ampla, população grande, mas em alta tecnologia acabamos consumindo mais que desenvolvendo“, pontuou o moderador Ademar Paes Junior, que também preside a Associação Catarinense de Medicina (ACM). Segundo ele, o pós-pandemia traz a oportunidade de tornar o Brasil mais relevante no cenário de desenvolvedor de tecnologia e soluções para a saúde.

Para isso, Carlos Martins, da Roche, destaca a importância da proatividade da indústria na busca por parcerias. “Temos que nos conectar com todos os stakeholders, autoridades e profissionais de saúde, pois há necessidade de investimentos”, apresentando dados de que embora 2% de todo o valor associado à saúde esteja associado à medicina diagnóstica ao nível mundial, no Brasil este percentual é de apenas 0,5%.

Os demais debatedores também concordam que ainda há muitas lacunas a serem preenchidas no segmento de medicina diagnóstica no Brasil, responsável por suprir a necessidade de 25% da população que utiliza a saúde suplementar. “Investimos US$ 5 bilhões de dólares em desenvolvimento e pesquisa de healthcare e o fato da população brasileira ser heterogênea é muito importante para os algoritmos da inteligência artificial”, explica Rafael Palombini, da GE Healthcare para a América Latina.

Outro desafio citado no debate foi o envelhecimento da população. “O Brasil está se preparando para fazer uma transição demográfica muito grande. A população envelhecerá      nos próximos anos”, afirmou Ademar, que lembrou o pioneirismo do segmento da Abramed. “A medicina diagnóstica sempre foi pioneira em levar inovação para o paciente, e tenho certeza de que continuaremos a fazer esse trabalho de antecipar o futuro lá na ponta com o paciente, no consultório médico, na sala de cirurgia, no laboratório, na sala de imagem, para oferecer uma saúde cada vez melhor para o brasileiro”, completou.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui, a cobertura completa desta e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.

Pesquisas em saúde ganham escala na quarta revolução industrial

Em palestra no 5° FILIS, especialista britânico destaca necessidade de maturidade digital nos sistemas 

“Com muito investimento, existe a aplicação de ciência de dados e inteligência artificial para a pesquisa na área da saúde do diagnóstico ao tratamento”, afirmou o britânico Andrew Morris, Diretor do Health Data Research UK no segundo (14) no Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). Diretamente da Escócia, ele ministrou ao vivo e de maneira remota a palestra “Ciência de Dados e Tecnologia em Medicina Diagnóstica” .

O médico destacou que a ciência e a pesquisa em saúde estão prestes a vivenciar a quarta revolução industrial que unirá disciplinas como robótica, sensores e tecnologia web para criar produtos incríveis. “A segunda coisa que será abraçada é a escala com grandes números, com mais pessoas participando de estudos clínicos”, explicou. Para ele, outra vantagem conquistada por meio da big data e de estudos mais amplos é a possibilidade de uma mesma pesquisa mapear diferentes tipos de doenças.

Após citar dados históricos da pesquisa em saúde – como o estudo realizado por cientistas de Boston (EUA) com 5.200 pessoas que, em 1948, levou a criação do termo fator de risco para englobar hipertensão, tabagismo, colesterol e diabetes; e a criação do National Health Service (NHS), o amplo sistema público de saúde britânico; Morris destacou os atuais desafios dos estudos globais do setor.

De acordo com ele, o nível de maturidade digital dos sistemas é o principal deles. “É tudo muito fragmentado, então precisamos pensar como impulsionar o acesso e o compartilhamento de dados de grandes sistemas e isso precisa de uma equipe de ciência bem escolhida”.

Para enfrentar tamanho desafio, o NHS criou a organização que Morris dirige atualmente – a Health Data Research UK (HDRUK) – que conta com 12 financiadores nacionais e internacionais independentes. Por meio da organização, o Reino Unido consegue trabalhar com dados diversos de seus 68 milhões de habitantes. “É a democratização da ciência de dados e saúde. O setor precisa saber que tem dados com confiabilidade e transparência para serem usados de maneira escalada em benefício público”.

Nos últimos três anos, o HDRUK criou quatro institutos nacionais de dados, compostos por 86 organizações em 32 localizações do Reino Unido. “Isso mostra como conseguimos juntar a comunidade para compartilhar as políticas, os insights, as tecnologias de maneira escalada”. Além disso, foram instituídos subgrupos temáticos, os hubs, focados em câncer e saúde mental, por exemplo. “É uma coordenação para apuração e mentoria de dados, com evidências, que disponibilizamos para mais de 400 projetos da academia e do governo”, completou.

Segundo ele, o modelo de banco de dados da organização permite que sejam realizados diferentes tipos de pesquisa em todo o Reino Unido. Para exemplificar essa capilaridade geográfica e temática, ele apresentou alguns estudos de caso promovidos por meio do HDRUK, como a pesquisa da British Heart Foundation que conectou dados de doenças cardiovasculares com a Covid-19 através de dados de 54 milhões de pessoas cujas informações de cuidados primários e secundários estavam catalogados.

Outro exemplo citado pelo palestrante foi o estudo relacionado à eficácia das vacinas. “Sei que existem parcerias de trabalho com o Brasil nesta questão, mas o nosso time foi o primeiro a mostrar a eficácia de uma dose das vacinas da Astrazeneca Biontech e da Pfizer em termos de proteção, infecção, hospitalização e mortalidade”, lembrando que tais informações foram muito importantes na tomada de decisões políticas. “Em termos de genômica viral, o Reino Unido conseguiu sequenciar mais de 1,1 milhão de genomas virais para saber também a eficácia de vacinas, dados e resultados para demonstrar como esses diagnósticos podem influenciar políticas públicas”, afirmou ele, lembrando que há 18 meses a sequência viral era uma ferramenta de pesquisa e agora é uma ferramenta de uso clínico, que detecta, inclusive, a importação de novas variantes da Covid.

Internacionalmente, o HDRUK está trabalhando com diferentes organizações com o mesmo modelo. “É um cenário bem amplo de alianças de dados de Covid-19. Agora estamos com 12 grandes projetos e dois deles são em parceria com a Fiocruz para responder perguntas importantes globalmente”, completou ele, explicando que este esforço internacional possui liderança, inovação e especialização muito fortes também vindas do Brasil.

O 5º FILIS foi realizado de forma totalmente digital, em dois dias com intensa programação. Confira aqui a cobertura completa desta e das demais palestras e painéis concretizados nesta edição. A gravação estará disponível até o final do mês de outubro.