Cresce 49,8% número de exames de covid-19 realizados na rede privada, segundo Abramed

Os dados comparam as semanas de 28 de janeiro a 3 de fevereiro e de 4 a 10 de fevereiro; positividade sobe de 30% para 34%

A quantidade de exames de covid-19 realizados na rede privada cresceu 49,8%, na comparação entre a semana de 4 a 10 de fevereiro (18.172) e a semana anterior, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro (12.129). Os dados são das empresas associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que representam cerca de 65% do volume total de exames realizados na saúde suplementar no Brasil.

Além disso, a taxa de positividade subiu de 30% para 34% no período. O número de casos positivos confirmados também aumentou consideravelmente de uma semana para outra, com 6.210 positivos registrados na semana de 4 a 10 de fevereiro, em comparação com os 3.676 da semana 28 de janeiro a 3 de fevereiro, um crescimento de 69% em quantidade de pessoas.

Ao longo de seis semanas (7/1 a 10/2), a Abramed realizou 62.500 exames, dos quais 17.635 foram positivos, representando uma taxa média de positividade de 28,2%.

Diante desse cenário, a entidade reforça a importância contínua das medidas de prevenção e controle, bem como a necessidade de intensificar os esforços na detecção e no tratamento precoce da doença.

“Defendemos que os exames sejam feitos em laboratórios clínicos, que oferecem precisão, testes mais abrangentes e conformidade com padrões de qualidade. Além disso, os laboratórios clínicos associados à Abramed enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde. Essas informações são essenciais para avaliar a situação da doença e orientar as medidas de saúde pública”, declara Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Exames de dengue realizados nos laboratórios privados crescem 39,55% em uma semana, segundo Abramed

A comparação é entre a semana de 4 a 10 de fevereiro de 2024 e a semana anterior, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro. O número de casos está muito acima do ano passado.

O número de exames de dengue realizados nos laboratórios privados do país cresceu 39,55% em uma semana, segundo as empresas associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que representam cerca de 65% do volume total de exames realizados na saúde suplementar no Brasil. A comparação é entre a semana de 4 a 10 de fevereiro de 2024 (43.210) e a semana anterior, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro (30.962).

Já a positividade caiu de 21% para 17%, no mesmo período. No entanto, em termos de quantidade de pessoas com a doença, foram 6.383 positivos na semana de 28 de janeiro a 3 de fevereiro, contra 7.547 positivos na semana de 4 a 10 de fevereiro. Um aumento em número de indivíduos com dengue de 18,23%.

“A positividade caiu de 21% para 17% somente porque o número de exames realizados aumentou muito. Mas vejam que o número de casos está muito acima do ano passado também”, explica Bruno Santos, coordenador de Inteligência de Mercado da Abramed. 

Ele se refere à comparação entre os dados da sexta semana epidemiológica deste ano e do ano passado. Em 2023, foram realizados 16.030 exames de dengue, enquanto em 2024, foram 43.210, uma variação de 170%. Em relação aos positivos, foram 4.387 na sexta semana epidemiológica de 2023, contra 7.547 na mesma semana de 2024, uma variação de 72%.

Vale ressaltar que a pesquisa realizada pela Abramed não apresenta dados separados por regiões do país, ou seja, todos os números estão disponíveis apenas em nível Brasil, sem qualquer recorte local.

Veja abaixo as tabelas:

Exames

O exame laboratorial é crucial para diferenciar doenças que têm os mesmos sintomas, como dengue, a zika e a Chikungunya. Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, explica que, nos estágios iniciais da dengue, até o quinto dia após o início dos sintomas, é feita a pesquisa de antígeno do vírus. E entre o décimo e o décimo quarto dia, é possível identificar a presença de anticorpos.

Como há quatro sorotipos de vírus da dengue circulando no Brasil (um, dois, três e quatro), há reagentes que possibilitam identificar todos juntos, não um de cada vez, o que facilita o processo de diagnóstico. 

Os profissionais de saúde utilizam vários métodos laboratoriais, sendo o ELISA (enzimaimunoensaio) um dos mais comuns, por ser muito sensível e específico para detectar a presença de antígenos ou anticorpos em uma amostra biológica, como o sangue.

No caso da dengue, o ELISA é usado para detectar o NS1 (antígeno do vírus) ou os anticorpos produzidos pelo sistema imunológico em resposta à infecção pelo vírus. O NS1 é uma proteína viral produzida durante a infecção aguda e sua presença no sangue indica uma infecção ativa. 

No entanto, Shcolnik alertou que a identificação do sorotipo responsável pela infecção requer testes mais sofisticados, geralmente realizados em estudos epidemiológicos. “Além do teste específico para dengue, é fundamental também realizar a contagem de plaquetas e avaliar o estado de hidratação do paciente. Abaixo de 40 mil plaquetas há risco de sangramento, identificando dengue hemorrágica”, alerta Shcolnik.

Vale ressaltar que os exames feitos em laboratórios oferecem uma série de vantagens em termos de precisão, capacidade de diferenciação de doenças, possibilidade de testes mais abrangentes, aconselhamento profissional e conformidade com padrões de qualidade.

Além disso, os laboratórios clínicos associados à Abramed enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde. Essas informações são essenciais para avaliar a situação da doença e orientar as medidas de saúde pública. 

Alerta

Importante lembrar que com as altas temperaturas e as chuvas, aumenta a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, gerando uma grande preocupação, especialmente após o recorde histórico de 1.017 mortes em 2022 e um continuado aumento de casos em 2023. 

Além disso, as mudanças climáticas, incluindo fenômenos como o El Niño, têm contribuído para a expansão do vetor em regiões antes consideradas menos propensas à disseminação da dengue, como Centro-Oeste e Sul, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Com o aumento global de casos de câncer, Abramed enfatiza a importância do diagnóstico precoce

Inovações prometem revolucionar a precisão do diagnóstico e a personalização do tratamento, destacando a importância da Medicina de Precisão no combate à doença.

Em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer (4/2), a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) reforça a urgência de intensificar os esforços em pesquisa, prevenção, diagnóstico e tratamento para enfrentar o crescimento dos casos de câncer globalmente.

Divulgada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1º de fevereiro de 2024, a pesquisa Globocan 2022 mostrou que aproximadamente 20 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com câncer em 2022, com a previsão de que esse número ultrapasse 35 milhões nos próximos 30 anos. Atualmente, 53,5 milhões de indivíduos vivem com a doença, considerando um período de prevalência de cinco anos.

No cenário brasileiro, foram identificados 627.193 novos casos em 2022. O tipo mais prevalente, excluindo o câncer de pele não melanoma, foi o de próstata, com 102.519 (representando 16,3% do total e 32,1% no recorte por gênero). Em segundo ficou o câncer de mama, que apresentou 94.728 novos casos (15,1% do total e 30,8% no recorte por gênero).

De fato, esse número tem aumentado ano a ano. “A projeção para 2023 é de um incremento de cerca de 12% em relação a 2022. Para se ter uma ideia, a taxa de crescimento da população brasileira foi de 0,52% ao ano, de acordo com o Censo de 2022”, expõe Marcos Queiroz, líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e diretor de medicina diagnóstica no Hospital Albert Einstein.

Ele se baseia nos dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), que estima a ocorrência de 704 mil novos casos de câncer no Brasil neste ano, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, responsáveis por 70% da incidência. “Isso acontece porque essas regiões têm a maior população do país, além de serem locais onde os métodos diagnósticos são mais disponíveis, favorecendo a detecção das lesões”, acrescenta.

Segundo o oncologista Carlos Gil, presidente do Instituto Oncoclínicas e diretor médico da Oncoclínicas&Co., associada Abramed, com o aumento da expectativa de vida da população em geral, os casos também tendem a crescer. Além disso, fatores ambientais, como estilo de vida, além de algumas mutações genéticas hereditárias em casos mais raros, influenciam no aparecimento da doença.

“Medidas de prevenção e políticas que promovam exames regulares para detecção precoce de tumores são fundamentais para as chances de sobrevivência das pessoas. O grande desafio é fazer com que tanto os tratamentos quanto os exames preventivos cheguem com equidade às pessoas. Há um desafio médico, mas também social no combate ao câncer”, explica.

Novidades em diagnóstico

São muitas as novidades para o diagnóstico de câncer. Entre elas, Queiroz cita os testes de análise molecular somática, que consistem no estudo da presença de mutações e outros biomarcadores em tecidos tumorais. Isso ajuda os médicos a entenderem melhor a biologia do câncer e a personalizarem o tratamento de acordo com as características genéticas do tumor.

“Recentemente, foi lançado o primeiro painel molecular para o estudo do linfoma e outras neoplasias linfoides. O desenvolvimento desses painéis é fundamental para um diagnóstico mais preciso e para direcionar terapias mais eficazes”, explica Cristóvão Mangueira, diretor médico de Análises Clínicas do Hospital Albert Einstein.

Também há painéis germinativos para avaliar predisposição hereditária ao câncer. Isso permite intervenções preventivas, como aconselhamento genético e monitoramento mais frequente. Há, ainda, a biópsia líquida, que envolve o estudo do sangue do paciente para pesquisa de mutações com impacto clínico. A biópsia líquida é menos invasiva do que biópsias tradicionais de tecidos e pode ser usada para monitorar a resposta ao tratamento e detectar precocemente a recorrência do câncer.

Existem também pesquisas avaliando o sequenciamento de genoma completo (WGS, do inglês Whole Genome Sequencing), que permite uma análise abrangente de todo o material genético de uma célula ou tecido. No contexto do câncer, o WGS pode revelar mutações específicas que impulsionam o crescimento tumoral, possibilitando estratégias terapêuticas mais personalizadas.

“Outra inovação presente nos Estados Unidos e que deve chegar ao Brasil em breve é a utilização de biópsia líquida para rastreio de diversos tipos de câncer, atuando como diagnóstico precoce, ou seja, antes de os sintomas aparecerem”, explica Mangueira.

Por último, surgiram, recentemente, aparelhos para a detecção intraoperatória de tecido tumoral através de espectrometria de massa (Mass Spect Pen). O dispositivo pode ser usado durante uma intervenção cirúrgica para análise em tempo real de tecidos biológicos. Ele permite a identificação rápida e precisa de tecido tumoral, ajudando os cirurgiões a distinguirem entre tecido saudável e canceroso durante a operação.

Já na área de imagem molecular, estão sendo desenvolvidos novos métodos de diagnóstico para câncer, que utilizam marcadores especiais para exames de PET-CT, como o FAPI (inibidor da proteína de ativação de fibroblastos), mais sensível que o tradicional PET-FDG para alguns tipos de tumores. Também há o marcador PET-FES, para detectar e acompanhar o câncer de mama. “Esses novos marcadores tornam o diagnóstico e o acompanhamento das lesões neoplásicas muito mais precisos”, reforça Queiroz.

“Dessa forma, todos esses avanços direcionam a um tratamento mais específico, melhorando o resultado clínico desses pacientes. É a chamada Medicina de Precisão, que significa personalizar o tratamento com base nas características únicas de cada caso”, explica.

Dia Nacional da Mamografia: exame fundamental para o diagnóstico do câncer de mama

Além do Dia Mundial do Combate ao Câncer (4/2), é celebrado, em 5 de fevereiro, o Dia Nacional da Mamografia, principal método de rastreio para diagnóstico precoce do câncer de mama, que muitas vezes não é realizado na frequência recomendada, especialmente em países em desenvolvimento.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomendam a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade. No entanto, o Ministério da Saúde preconiza o rastreamento bianual, a partir dos 50 anos.

“A alta taxa de ocorrência de diagnósticos em estágio mais avançado que ainda ocorre no país e o desafio relacionado à equidade de acesso a tratamentos avançados impulsionam a letalidade”, frisa Gil.

A Abramed desempenha um papel crucial nesse cenário. As empresas associadas realizaram 1.4 milhão de mamografias em 2022, o que equivale a 29% dos exames na Saúde Suplementar e 16% do total no Brasil, segundo o Ministério da Saúde e a 5ª Edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico.

“A conscientização sobre a importância da mamografia, especialmente a tomossíntese, exame de mamografia tridimensional, que apresenta resultados ainda melhores que a mamografia tradicional, e o acesso a informações respaldadas por profissionais de saúde são fundamentais para salvar vidas e combater a doença”, salienta Queiroz.

Estudos demonstraram que a tomossíntese pode aumentar a taxa de detecção do câncer de mama em até 30% em comparação à mamografia convencional. A resposta está em sua capacidade de produzir imagens tridimensionais da mama, permitindo uma visualização em camadas. Isso é fundamental para detectar lesões pequenas e identificar anormalidades em mulheres com tecido mamário denso, reduzindo as taxas de falsos positivos e falsos negativos.Em 2023, a Abramed apoiou fortemente a inclusão do exame no rol de procedimento da ANS em prol da sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro.

Em uma semana, cresce 21% o número de exames de dengue realizados na rede privada, segundo Abramed

A comparação é entre a semana de 14 a 20 de janeiro e a semana de 21 a 27 de janeiro. A positividade pode ser considerada estável: foi de 25% para 24%.

O número de exames de dengue realizados na rede privada aumentou 21% em uma semana, de acordo com as associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que representam cerca de 65% do volume de exames realizados na saúde suplementar no Brasil. A comparação é entre a semana de 14 a 20 de janeiro e a semana de 21 a 27 de janeiro de 2024 (última atualização dos dados). A positividade pode ser considerada estável: foi de 25% para 24%.

Comparando a semana de 31 de dezembro de 2023 a 6 de janeiro de 2024 (10.916) e a semana de 21 a 27 de janeiro de 2024 (21.984), o aumento é de mais de 101% na quantidade de exames realizados no período de quatro semanas. Apesar do crescimento, a positividade é a mesma: 24%. 

Desde a semana de 23 a 30 de dezembro de 2023, o número de exames de dengue vem subindo, enquanto a positividade tem variado entre 22% e 25%. Esses números mostram que as pessoas estão buscando a confirmação do diagnóstico ao sentirem sintomas associados à doença, como febre alta, dores musculares, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo.

“Se o risco de uma epidemia de dengue se concretizar, o papel do laboratório clínico para avaliar o risco de hemorragias será fundamental para evitar mortes”, explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Exames

O exame laboratorial é crucial para diferenciar doenças que têm os mesmos sintomas, como a dengue, a zika e a Chikungunya. Shcolnik explica que, nos estágios iniciais da dengue, até o quinto dia após o início dos sintomas, é feita a pesquisa de antígeno do vírus. E entre o décimo e o décimo quarto dia, é possível identificar a presença de anticorpos.

Como há quatro sorotipos de vírus da dengue circulando no Brasil (um, dois, três e quatro), há reagentes que possibilitam identificar todos juntos, não um de cada vez, o que facilita o processo de diagnóstico. 

Os profissionais de saúde utilizam vários métodos laboratoriais, sendo o ELISA (enzimaimunoensaio) um dos mais comuns, por ser muito sensível e específico para detectar a presença de antígenos ou anticorpos em uma amostra biológica, como o sangue.

No caso da dengue, o ELISA é usado para detectar o NS1 (antígeno do vírus) ou os anticorpos produzidos pelo sistema imunológico em resposta à infecção pelo vírus. O NS1 é uma proteína viral produzida durante a infecção aguda e sua presença no sangue indica uma infecção ativa. 

No entanto, Shcolnik alertou que a identificação do sorotipo responsável pela infecção requer testes mais sofisticados, geralmente realizados em estudos epidemiológicos. “Além do teste específico para dengue, é fundamental também realizar a contagem de plaquetas e avaliar o estado de hidratação do paciente. Abaixo de 40 mil plaquetas há risco de sangramento, identificando dengue hemorrágica”, alerta Shcolnik.

Importante lembrar que com a chegada das altas temperaturas e da temporada de chuvas, aumenta a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, gerando uma grande preocupação, especialmente após o recorde histórico de 1.017 mortes em 2022 e um continuado aumento de casos em 2023. 

Além disso, as mudanças climáticas, incluindo fenômenos como o El Niño, têm contribuído para a expansão do vetor em regiões antes consideradas menos propensas à disseminação da dengue, como Centro-Oeste e Sul, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Vale ressaltar que os laboratórios clínicos associados à Abramed enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde. Essas informações são essenciais para avaliar a situação da doença e orientar as medidas de saúde pública. 

Tendências e perspectivas para 2024 no setor de medicina diagnóstica

A expectativa é por diagnósticos mais rápidos e precisos, com a ajuda da tecnologia, impulsionando intervenções preventivas

O cenário da área de medicina diagnóstica para 2024 é muito promissor, com grandes oportunidades, embora haja alguns desafios. Segundo Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), as condições epidemiológicas continuam a impulsionar a demanda por exames, tanto na área laboratorial como na de imagem, especialmente em relação às doenças crônicas e ao envelhecimento da população.

De acordo com dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, o Brasil está passando por uma significativa transição demográfica. Essa mudança, relacionada à transição epidemiológica, indica uma alteração nos padrões de saúde do país. Anteriormente, as doenças infectocontagiosas eram a principal causa de mortes, especialmente em nações de baixa renda.

Contudo, à medida que a população amadurece, as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes, tornam-se mais proeminentes como causas de óbito. O Brasil reflete essa transição, com uma crescente prevalência de doenças não transmissíveis, evidenciando o impacto do envelhecimento populacional nesse cenário epidemiológico.

Além disso, Shcolnik ressalta que de acordo com as previsões do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 704 mil casos novos de câncer ao ano no triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência da doença. Essa realidade vai demandar ainda mais um diagnóstico precoce e preciso.

Por outro lado, estão surgindo novos biomarcadores que poderão auxiliar ​​em diversos aspectos do diagnóstico, como identificação de doenças, avaliação de riscos, estratificação de pacientes e monitoramento de tratamentos. Sua utilização tem permitido a individualização de tratamentos para a medicina personalizada.

“A busca por métodos mais avançados e precisos é evidente, com a espectrometria de massa ganhando destaque como uma metodologia analítica no laboratório clínico. Apesar de ser uma opção custosa, oferece vantagens na identificação e quantificação precisa de marcadores”, acrescenta Shcolnik.

No que diz respeito à população, o presidente da Abramed observa um aumento na conscientização sobre a importância da prevenção, refletido na realização de procedimentos preventivos. “Exames acessíveis, como o papanicolau e a pesquisa de sangue oculto nas fezes para identificar câncer de colo de útero, são ferramentas que ganharão ainda mais relevância”, destaca.

Um assunto que merece atenção é o risco de uma epidemia de dengue. Se isso se concretizar, o papel do laboratório clínico para avaliar o risco de hemorragias será fundamental para evitar mortes. Segundo dados preliminares das associadas à Abramed, o número de exames de dengue realizados na rede privada aumentou mais de 77% em quatro semanas (de 16 de dezembro de 2023 a 13 de janeiro de 2024), enquanto a positividade variou entre 18% e 24%.

Falando em tecnologia, uma inovação significativa que Shcolnik ressalta é a integração da inteligência artificial (IA) na análise e interpretação dos dados produzidos por laboratórios clínicos e na área de medicina diagnóstica. A combinação desses dados com informações clínicas e características pessoais pode proporcionar conclusões preditivas, abrindo caminho para intervenções mais eficazes.

No campo do diagnóstico por imagem, Cesar Higa Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, destaca a crescente presença da IA nos exames de ressonância magnética, que prometem aumento na qualidade e redução no tempo necessário para sua realização.

O uso da IA está promovendo uma revolução na prática médica, oferecendo diagnósticos mais rápidos e precisos, melhorando a eficiência operacional e proporcionando uma melhor experiência aos pacientes. “No entanto, é importante considerar questões éticas, regulatórias e de segurança ao integrar a IA na prática clínica, para garantir que os benefícios sejam alcançados de maneira responsável e segura”, salienta.

Além disso, Nomura ressalta a tendência de redução no uso de filmes e papéis nos exames de imagem. “A migração para formatos digitais e armazenamento em nuvem se mostra não apenas mais eficiente, mas também mais ecologicamente responsável, pois sem os filmes não há mais descarte no meio ambiente. Isso é uma tendência mundial”, declara. A Abramed tem se dedicado ao tema, atuando junto a outros atores da cadeia.

Outra tendência cada vez mais proeminente no setor de saúde é a busca pela interoperabilidade, visando otimizar a troca de informações entre diferentes sistemas e proporcionar uma visão abrangente dos dados do paciente. Nesse contexto, o Padrão Internacional de Nomenclatura e Codificação de Observações de Laboratório (LOINC) emerge como uma ferramenta crucial.

O LOINC estabelece um conjunto padronizado de códigos para a identificação única de observações clínicas e resultados de testes laboratoriais, facilitando a harmonização e integração eficiente de dados entre instituições de saúde. A implementação do LOINC contribui para a interoperabilidade ao permitir que profissionais de saúde compartilhem informações de maneira mais precisa e eficaz, promovendo uma abordagem mais coordenada e centrada no paciente.

“Essa tendência reflete o compromisso crescente em aprimorar a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde por meio da integração de sistemas e da adoção de padrões que transcendem fronteiras institucionais. A Abramed tem atuado ativamente pela sustentabilidade do setor, buscando tornar a interoperabilidade uma realidade”, complementa Shcolnik.

Assim, 2024 promete ser marcado por avanços significativos no setor de medicina diagnóstica, desde o aprimoramento de métodos analíticos até a integração da inteligência artificial, proporcionando diagnósticos mais precisos, rápidos e aprimorando as possibilidades de intervenções preventivas.

A medicina não pode mais negligenciar a gestão e a eficiência econômica

Por Alberto Duarte*

É inegável que a medicina contemporânea se depara com desafios complexos, sobretudo quando nos debruçamos sobre o intricado cruzamento entre diagnóstico, gestão e a sustentabilidade de nosso sistema de saúde. Como profissional imerso nesse cenário, percebo que é hora de uma reflexão profunda sobre como podemos promover mudanças positivas, levando em consideração o papel da medicina diagnóstica, pois se sabe que cerca de 70% das decisões médicas se baseiam em resultados de exames laboratoriais.

Quando pensamos em laboratórios e exames de imagem, inevitavelmente, estamos falando de elementos fundamentais na jornada diagnóstica do paciente. Contudo, aprimorar esses ambientes não deve se limitar apenas à sofisticação tecnológica, mas também à consciência de que a busca por diagnósticos precisos deve ser equilibrada com a responsabilidade de evitar exames desnecessários, que não apenas encarecem o processo, mas também expõem o paciente a procedimentos invasivos sem razão clínica.

Ao longo de minha trajetória, tive a oportunidade de liderar iniciativas voltadas para o uso racional do laboratório em um hospital público. Esta experiência ressaltou a importância de conscientizar os médicos sobre a necessidade de solicitar exames de forma ponderada. Alguns deles pecam pelo excesso por receio de serem acusados de negligentes.

Então, criamos algoritmos que indicavam quando e com que frequência determinados exames deveriam ser realizados, evitando excessos e reduzindo a sobrecarga econômica nos serviços de saúde. Esse é o tipo de movimento que contribui para o equilíbrio na cadeia de saúde, que envolve o médico, o paciente e a operadora de saúde.

Entretanto, a responsabilidade não recai apenas sobre os ombros dos médicos. A gestão, muitas vezes negligenciada nos currículos médicos, deve ser incorporada de maneira mais significativa na jornada de aprendizado. Durante minha presidência no conselho do Instituto Central do Hospital das Clínicas, percebi a complexidade que surge quando profissionais, muitas vezes não treinados em gestão, são encarregados de administrar serviços médicos.

A gestão eficaz não é apenas uma habilidade administrativa, mas uma ferramenta essencial para otimizar recursos, escolher opções terapêuticas mais acessíveis e, consequentemente, oferecer um atendimento de qualidade sem exorbitantes custos. No entanto, essa perspectiva de gestão não é amplamente ensinada nas faculdades de medicina, fazendo com que o médico nem sempre esteja apto a tomar decisões eficientes no âmbito financeiro.

Além disso, é importante abordar a assimetria na qualidade do ensino de medicina entre diferentes regiões. A padronização e a normatização nos currículos médicos são imperativos para garantir que todas as faculdades do país formem profissionais aptos a atuar em diversos cenários. Não podemos aceitar faculdades que não ofereçam oportunidades adequadas de prática clínica e residência, afinal, a experiência é crucial para o desenvolvimento de habilidades médicas. Há avanços na conscientização sobre essas questões, mas ainda há muito a ser feito para melhorar o sistema de saúde como um todo.

Nesse contexto de transformações necessárias, a inteligência artificial emerge como uma aliada promissora. A capacidade de reunir e analisar dados de forma rápida e precisa pode ser aproveitada para orientar os médicos na tomada de decisões mais embasadas. Algoritmos podem indicar a necessidade real de determinados exames, evitando solicitações desnecessárias e contribuindo para a racionalização dos recursos.

A Abramed, como representante das empresas de medicina diagnóstica, não tem como normatizar esse tema, mas pode, como vem fazendo, promover a racionalização através da conscientização da cadeia de saúde sobre a importância dessa questão e suas consequências. Dessa forma, a entidade visa a proteger seus associados, evitando glosas e o mau uso da prática médica.

Portanto, o futuro da medicina, na minha visão, depende da sinergia entre conscientização, gestão eficaz e incorporação de tecnologias inovadoras. A inteligência artificial não vai substituir o profissional, mas é uma ferramenta valiosa para orientar práticas mais conscientes e eficientes. As associações médicas, as instituições de ensino e os próprios profissionais têm um papel crucial na promoção dessas mudanças.

Como atuante na área, reafirmo que a medicina não pode mais negligenciar a gestão e a eficiência econômica. A busca incessante pelo que é mais recente e saliente na mídia nem sempre se traduz no melhor para o paciente. É chegada a hora de um realinhamento na formação médica, incorporando uma visão mais holística que compreenda a importância da gestão, da responsabilidade financeira e do uso consciente da tecnologia em prol de um sistema de saúde sustentável e de qualidade.

*Alberto Duarte – Graduado em Medicina pela Universidade de Pernambuco, com doutorado em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e aperfeiçoamento em Imunologia pela Harvard Medical School. Conquistou livre-docência na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1983, e implantou o serviço de Imunologia Clínica do Hospital das Clínicas, além de ser responsável pela criação do Laboratório de Investigação Médica também nessa faculdade. Entre 2011 e 2013, foi Diretor do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e entre 2012 e 2023 foi Professor Titular de Patologia da FMUSP e Diretor do Laboratório Central do Hospital das Clínicas da FMUSP.  Recebeu o Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld de 2023, homenagem criada pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Desenvolvimento da inteligência artificial na saúde esbarra em questões éticas e integração de dados

Enfrentar esses desafios é imprescindível para que a IA desempenhe um papel efetivo no avanço do cuidado à saúde

Na incessante busca por avanços no campo da inteligência artificial em saúde, enfrentar seus desafios tornar-se prioridade. A busca por algoritmos eficazes e éticos demanda uma atenção meticulosa em relação à qualidade, diversidade dos dados, integração à infraestrutura de saúde e interpretação dos resultados.

Há vários pontos que precisam ser avaliados, conforme salienta Regis Otaviano França Bezerra, radiologista do Hospital Sírio-Libanês – associada Abramed – e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Um deles envolve a qualidade e a quantidade de dados. “Para um algoritmo ser efetivo, é preciso ter um extenso conjunto de dados diversificados. A qualidade desses dados é primordial, ou seja, eles precisam ter sido bem anotados e representar diversas populações. Um algoritmo limitado a uma única região ou população não pode ser extrapolado com sucesso para outros contextos”, explica.

Um segundo desafio é a integração desses dados à infraestrutura de saúde, pois isso é fundamental para sua aplicação abrangente. Não basta ter dados somente em uma instituição ou hospital, pois ele não poderá ser utilizado de maneira geral. 

E aí também entra um tópico importante: a necessidade de estabelecer padrões e protocolos de interoperabilidade. A interoperabilidade é fundamental para superar barreiras entre sistemas de saúde diversos, permitindo a troca eficiente e segura de informações entre plataformas distintas. Isso não apenas facilita a implementação de algoritmos de IA, mas também promove uma abordagem mais unificada na prestação de cuidados de saúde.

Em termos de obstáculos, Regis também cita as questões éticas e regulatórias, como a divulgação de dados, a transparência, a equidade, a responsabilidade e a conformidade com as leis e regulamentações locais e internacionais. “O consentimento e o uso responsável de dados médicos sensíveis são aspectos críticos. Essa discussão continua em evolução e precisa ser trabalhada de maneira muito cuidadosa, devido à sua grande importância.”

Outros pontos desafiadores são a validação e a padronização de dados. Segundo Regis, antes de uma implementação generalizada, é necessário validar a eficácia clínica e a confiabilidade dos modelos de inteligência artificial. Este processo é complexo e dispendioso, exigindo uma abordagem meticulosa.

Nesse contexto, também há a generalização entre populações. Modelos treinados em uma população específica nem sempre representam outros grupos. Por exemplo, com relação ao câncer de próstata, sabe-se que afrodescendentes têm, em geral, tumores mais agressivos, por isso, qualquer modelo de inteligência artificial deve contemplar esse grupo de pessoas para que seja completo, principalmente em populações como a brasileira, cuja diversidade é muito grande.

Mais um ponto de atenção está na interpretação de modelos de inteligência artificial, frequentemente considerados “caixas-pretas”. Compreender e interpretar os resultados é fundamental para garantir a transparência, a responsabilização e a confiança nas suas aplicações.

Por fim, Regis cita que a implementação da inteligência artificial implica em um investimento significativo em tecnologia, energia, treinamento e infraestrutura. Esse custo elevado representa um obstáculo, especialmente em países como o Brasil, que já enfrentam limitações de recursos, especialmente ao lidar com doenças com grande taxa de prevalência.

Ter ciência desses pontos e buscar superá-los é essencial para que a inteligência artificial possa ser aplicada de forma eficaz no cuidado à saúde, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do setor de saúde. E, portanto, a Abramed acredita que todo o ecossistema deve agir de forma integrada para alcançar esse objetivo.

Acesso digital a resultados de exames médicos: uma mudança cultural necessária

Por Cesar Higa Nomura*

A era digital trouxe consigo a necessidade de repensar processos em diversos setores, e a área da saúde não fica imune a essa revolução. A retirada de resultados de exames médicos pela internet é uma peça importante desse cenário, onde tecnologia, sustentabilidade e cultura comportamental convergem.

Isso porque a transição para a digitalização não é apenas uma mudança operacional, mas também um processo complexo e gradual de transformação cultural que impacta hospitais, laboratórios, profissionais da saúde e, principalmente, os pacientes.

Segundo a quinta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, 122 milhões de laudos foram acessados eletronicamente em 2022, representando 19% do total de exames realizados, o que reflete a crescente tendência de acesso digital impulsionada pela disponibilidade de novas tecnologias de compartilhamento de dados. Importante ressaltar que os associados à Abramed são responsáveis por 65% do volume de exames feitos na saúde suplementar no Brasil.

Um aspecto particularmente esclarecedor desses dados está relacionado ao mito do desperdício na medicina diagnóstica, que algumas fontes sugerem estar próximo de 30%. Segundo dados do Painel Abramed, menos de 3,8% dos exames laboratoriais e 9% dos exames de imagem não são acessados ou retirados pelos pacientes nos laboratórios clínicos brasileiros.

A disparidade pode ser explicada pela não consideração dos acessos diretos de pacientes e médicos aos resultados de exames pela internet, bem como pela utilização de e-mail e outras tecnologias para a transmissão desses resultados. Essa constatação desafia a percepção comum e destaca a necessidade de uma compreensão mais abrangente das práticas digitais na medicina diagnóstica.

Vale reforçar que a Abramed trabalha para a adequada utilização dos recursos da cadeia da saúde, considerando que a entidade é o elo que atua no diagnóstico e na prevenção, o que reduz o desperdício. Importante lembrar, ainda, que o acesso online aos laudos está em crescimento constante, e a fonte mais precisa para informações são os próprios laboratórios.

Apesar disso, ainda existe uma certa resistência em trocar o meio físico pelo digital, especialmente entre os pacientes com mais de 50 anos, que muitas vezes preferem receber os resultados em papel. A transição para a digitalização é um desafio, que deve levar em conta as diferentes necessidades dos usuários e as novas demandas da sociedade em termos de sustentabilidade.

Os pacientes também desempenham um papel fundamental nesse processo. Ao buscarem informação sobre responsabilidade ambiental e a contribuição de cada pessoa na saúde do planeta, podem iniciar uma mudança de cultura que influencia outros ao seu redor. Ao assumir isso, não apenas se beneficiam das inovações tecnológicas na área da saúde, mas também se tornam ativos na construção de um mundo mais sustentável para todos.

O mais importante é que a retirada de exames online não é apenas uma questão econômica, mas também uma iniciativa alinhada aos princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança Corporativa). Essa tomada de decisão reflete um compromisso mais amplo com valores que promovem a integridade corporativa e a contribuição positiva para o meio ambiente e a sociedade.

Assim, podemos dizer que a retirada de exames online transcende o aspecto puramente tecnológico; é uma jornada cultural que exige compreensão, paciência e personalização. A resistência à mudança não deve ser vista como um obstáculo intransponível, mas como uma oportunidade de envolver os pacientes nesse processo evolutivo.

Ao integrar a tecnologia com sensibilidade cultural, podemos moldar uma nova era na medicina diagnóstica, beneficiando, acima de tudo, as vidas daqueles que servimos.

*Cesar Nomura, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e Superintendente de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês

Regulamentação da Inteligência Artificial no Brasil: desafios e perspectivas na saúde

O PL 2338/2023 está em tramitação, mas há pontos que precisam de revisão para garantir o uso da IA com eficiência

Não é mais novidade que a Inteligência Artificial (IA) tem provocado transformações em diversos setores, principalmente na saúde. Isso porque são diversas as possibilidades de aplicação, por exemplo, softwares que  analisam grandes volumes de dados e imagens médicas para identificar padrões e sinais precoces de doenças, proporcionando avanços significativos na precisão e eficiência dos diagnósticos médicos. 

No entanto, para assegurar que a ferramenta seja utilizada de forma ética e segura, é fundamental estabelecer normas gerais para desenvolvimento, implementação e uso responsável da tecnologia, que já está no nosso dia a dia e seguramente será amplificada. Este é um dos principais objetivos do Projeto de Lei 2338/2023, que dispõe sobre a utilização da IA no Brasil e está em tramitação no Senado Federal, ainda sem previsão para ser votado.

Não há como negar a importância do respeito às singularidades de cada setor, sobretudo pela transversalidade dos sistemas de IA. Neste sentido, a participação dos agentes da cadeia de saúde para auxílio no amadurecimento da norma é essencial. Tendo isso em vista, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) tem acompanhado o PL e contribuído para seu desenvolvimento através do Comitê de Proteção de Dados.

Além disso, a entidade é membro do Fórum de Privacidade e Proteção de Dados do Setor de Saúde, que, junto a outras associações, como a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) e a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), busca debater e fomentar discussões envolvendo privacidade, proteção de dados, inovação e tecnologia para o segmento.

Entre os pontos-chave do PL 2338/2023, que se relacionam à área de saúde e necessitam de ajustes na redação – de acordo com análise das entidades –, três merecem atenção, conforme explica Lucas Bonafé, membro do Comitê de Proteção de Dados da Abramed e coordenador da área de Inovação do Machado Nunes, escritório que presta assessoria jurídica para a associação.

O primeiro ponto é a classificação da saúde como IA de alto risco. Em resumo, isso significa que sistemas de diagnóstico médico são considerados pelo Projeto de Lei como, automaticamente, ferramentas que têm o potencial de causar danos significativos aos usuários e, por tal razão, devem ser submetidos a avaliações rigorosas e medidas de segurança adicionais, como a elaboração obrigatória de relatório algorítmico, preparo da documentação do software antes da disponibilização no mercado e adoção de medidas técnicas para viabilizar a explicabilidade dos resultados dos sistemas de IA, dentre outros. 

O objetivo almejado ao enquadrar as aplicações na área da saúde como de alto risco é proporcionar maior segurança e transparência no uso da tecnologia, especialmente diante de informações extremamente sensíveis. Mas, segundo Bonafé, isso pode acabar gerando morosidade no processo de desenvolvimento de novas tecnologias e inibindo o investimento em inovação, uma vez que haverá o aumento das exigências que os agentes da cadeia precisarão cumprir.

“Além disso, a categorização de qualquer produto ou serviço de saúde como de alto risco sequer segue a lógica adotada pelas autoridades sanitárias em todo o país, o que reitera a necessidade de modificação do PL”, explica, lembrando que a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já possui regulamentação sobre a regularização de software como dispositivo médico. 

Neste contexto, Bonafé faz questão de ressaltar que o PL, de forma alguma, considera a possibilidade de decisões autônomas na saúde, seja por restrições legais ou pelas diretrizes rigorosas dos conselhos profissionais. Isso quer dizer que o profissional de saúde vai continuar sendo o responsável pela decisão final com relação aos tratamentos dos pacientes.

O segundo ponto é que o PL estabelece a responsabilidade civil para os operadores e fornecedores de sistemas de IA de forma absoluta, ou seja, não há distinção do dever destes agentes no que diz respeito à obrigação de indenizar por eventuais danos que algum sistema venha a causar, sem considerar que o papel de cada um destes atores no desenvolvimento e aplicação dos sistemas é completamente diferente.

“A responsabilização absoluta frente aos resultados da utilização de IA pode significar estagnação da inovação tecnológica, pois a gestão dos riscos não justificaria o investimento em sistemas de IA, contrariando o próprio fundamento do desenvolvimento tecnológico e a inovação defendido pelo PL”, salienta Bonafé. 

A ideia é estabelecer critérios claros, para que o desenvolvedor que tenha agido com transparência e seguido procedimentos adequados não seja responsabilizado por uso inadequado na ponta. A proposta de alteração apresentada pelo setor da saúde no PL visa diferenciar as responsabilidades entre desenvolvedores, fornecedores de software e usuários (tanto pessoas jurídicas quanto pacientes), atribuindo uma responsabilidade específica. 

O terceiro aspecto relevante diz respeito à autoridade de regulação da IA. O PL estabelece a criação de uma Autoridade Competente para implementar e fiscalizar a lei, com responsabilidades que incluem proteger direitos fundamentais, promover a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, elaborar estudos e incentivar boas práticas, além de expedir regulamentações. A autoridade também terá a competência de aplicar sanções e elaborar relatórios anuais sobre suas atividades. No entanto, não foi especificada qual será essa autoridade, deixando a tarefa para o Executivo.

Enquanto isso, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) defende o posicionamento de que deve ser a responsável pela regulação da IA no país, argumentando que possui forte sinergia da proposta apresentada no PL com os temas tratados na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No entanto, segundo Bonafé, é preciso considerar que nem todos os aspectos de concentração da regulação da matéria em um só ente são positivos, tendo em vista que sistemas de IA estão em diferentes setores da economia, com características únicas, que demandam conhecimento aprofundado de cada setor.

“Uma entidade responsável por todos os setores é uma tarefa bastante complexa. Com relação a esse ponto, pedimos alteração para que cada agência reguladora dos setores envolvidos seja responsável pelas particularidades de seu domínio, por exemplo, a Anvisa, na área de saúde. Embora princípios e normas de IA se apliquem a todos, as especificidades devem ser delineadas por cada agência, dado o conhecimento técnico e histórico que possuem”, aponta Bonafé.

Em meio a esses desafios, entre outros relacionados ao PL, a Abramed destaca a importância de encontrar um equilíbrio preciso entre a proteção dos direitos fundamentais, o estímulo à inovação e a eficácia na aplicação das normas, especialmente no contexto da saúde e medicina diagnóstica. A associação reforça a necessidade de considerar as particularidades do setor, garantindo que o uso ético e responsável da inteligência artificial contribua efetivamente para avanços dos serviços médicos no Brasil.

Retrospectiva Abramed 2023: foco em integração, ética e sustentabilidade

Interoperabilidade, ESG, Reforma Tributária e inteligência artificial estão entre os temas trabalhados pela entidade no ano

Ao longo de 2023, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) desempenhou um papel fundamental no avanço e na promoção da medicina diagnóstica no país, concentrando esforços em diversas frentes para construir um ecossistema de saúde mais integrado, sustentável, ético e seguro.

Através do trabalho dos Comitês, alinhados à estratégia do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva, a entidade discutiu os principais desafios para atender às demandas do setor com seriedade e transparência. “Trabalhamos incansavelmente para sermos agentes de transformação, colaborando com as instâncias governamentais e demais entidades para promover avanços que beneficiem a população brasileira”, ressalta Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed.

Um dos temas de grande importância abordados neste ano foi a interoperabilidade. A Abramed retomou o projeto de codificação de exames pela terminologia LOINC (Logical Observation Identifiers, Names, and Codes), como fator crítico para o sucesso da integração de dados. A entidade atuou para estabelecer cooperação técnica com o Ministério da Saúde, buscando uma padronização nacional. “Defendemos a interoperabilidade como uma peça-chave para o futuro de toda a cadeia da saúde. Acreditamos que adotar o LOINC é fundamental para garantir a integração eficiente e segura de dados clínicos”, destaca Milva. O assunto é tão importante que a associação criou em 2023 o Comitê de Interoperabilidade.

Ainda sobre o uso da tecnologia, a Abramed vem trabalhando em prol do desenvolvimento de regras para prescrição eletrônica, prontuário único eletrônico e inteligência artificial (IA), acompanhando todos os desdobramentos sobre os temas, apresentando os detalhes para os associados e levando os pleitos do setor às autoridades, para adequação das normas à realidade.  

Outro ponto fundamental abordado ao longo do ano foi a sustentabilidade do setor, que envolve a necessidade de manutenção de boas práticas entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços, além de questões éticas e de governança. Em um contexto de transformações no qual a relação paciente-plano-profissional é cada vez mais centralizada em mecanismos online, a entidade atua incansavelmente no combate a ações que ofendam a sustentabilidade do sistema.

Conforme expressamente previsto em seu Código de Conduta, a associação não coaduna, não concorda e não incentiva qualquer oferta de benefícios financeiros diretos e indiretos por quaisquer instituições aos profissionais de saúde, que estejam atrelados ao volume de solicitação de exames, que possam configurar situações de incentivo à solicitação desnecessária de exames e violações à ética médica.

ESG

A pauta ESG (governança ambiental, social e corporativa) tem sido cada vez mais trabalhada junto aos seus associados. Reconhecendo o significativo impacto das empresas de saúde no meio ambiente e na comunidade, a Abramed busca conscientizar e orientar seus membros sobre a necessidade de atuação responsável. A 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico trouxe pela primeira vez dados sobre as iniciativas já adotadas por essas empresas, indicando uma mudança em andamento, mas ressaltando a necessidade de ampliação.

A entidade incentiva ações proativas e preventivas, como melhoria da eficiência energética, redução no consumo de água, digitalização e campanhas educacionais para minimizar o impacto ambiental. Inclusive, vem atuando pela eliminação do uso de filmes e papéis em exames de imagem, estimulando a implantação de formatos digitais e armazenamento em nuvem. Essa mudança não apenas aumenta a eficiência no processo, mas também evita o descarte de filmes no meio ambiente. 

Ainda sobre ESG, a Abramed trabalhou fortemente questões de diversidade e da inclusão durante este ano, debatendo o papel das empresas de medicina diagnóstica e seu olhar para a sociedade.

Legislação

Em relação à legislação, destaque para a atenção dedicada à RDC 786/2023 da Anvisa, substituta da RDC 302/2005, que, entre outros temas, permite a realização de testes de análises clínicas em farmácias e consultórios. A Abramed ressalta a importância da nova norma, desde que acompanhada por rigorosos procedimentos de qualidade para garantir a precisão e confiabilidade dos resultados dos exames.

“Os laboratórios são locais responsáveis pela realização de exames para efetivo diagnóstico, com resultados precisos e confiáveis. Investimos constantemente em tecnologia e expertise para oferecer o melhor aos pacientes e profissionais de saúde”, assegura Milva.

Por conta disso, foi criada a campanha nacional “Eu Confio no Laboratório”, uma ação nacional de valorização dos Laboratórios Clínicos, realizada conjuntamente pela Abramed, Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Associação Paulista de Biomedicina (APBM) e Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL). O objetivo é conscientizar a população sobre a relevância do diagnóstico obtido através exames realizados em locais adequados, garantindo a qualidade dos resultados. “Unimos esforços visando à saúde e à segurança dos pacientes”, destaca Milva.

Sobre a Reforma Tributária, a Abramed vem acompanhando todos os desdobramentos. Em novembro deste ano, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 45/19 venceu mais uma etapa: o Plenário do Senado aprovou a proposta. A matéria segue para a Câmara dos Deputados, de onde o texto original veio, porque foi modificada no Senado. Haverá uma alíquota padrão e outra diferenciada para atender setores beneficiados com isenções, como educação e saúde, conforme o pleito da Abramed e de outras entidades.

Outra pauta que recebeu atenção foi o Piso de Enfermagem. Para entidades privadas com fins lucrativos, as condições de pagamento aos profissionais são regidas por acordos ou convenções coletivas. Na ausência destes, o Piso Nacional de Enfermagem (PNE) da Lei nº 14.434/2022 se aplica com impacto na folha de pagamento a partir de agosto de 2023. Diante desse cenário, a Abramed e outras entidades de saúde vêm tomando medidas judiciais e recomendando que seus associados reavaliem as negociações coletivas em andamento, considerando a decisão da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 7.222. A entidade apoia a valorização dos profissionais de enfermagem, mas defende abordagens sustentáveis ao longo desse processo.

Representatividade

Neste ano, a Abramed marcou presença em relevantes eventos, consolidando seu compromisso com a defesa e a promoção dos interesses da medicina diagnóstica e com a integração de todos os atores da cadeia de saúde, incentivando o debate de ideias em busca da sustentabilidade do setor. Também participou de diversos encontros e reuniões em 2023, estabelecendo conexões com entidades e representantes governamentais. 

Destaque para a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), realizado pela entidade, que apresentou diversos temas e contou com participantes de toda a cadeia de saúde, promovendo discussões para o avanço e aprimoramento do setor. “Este encontro foi marcante, reunindo líderes e representantes, e espera-se que tenha desdobramentos significativos. O evento trouxe inovações, como o Leaders Connection, para networking entre participantes, e o Momento Transformação, que apresentou casos de inovação”, aponta Milva.

Vale ressaltar, ainda, o lançamento da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, em versões português e inglês, uma fonte abrangente de informação, inspiração e transformação para o ecossistema de saúde. A publicação apresenta o panorama do setor de medicina diagnóstica no Brasil em 2022 com responsabilidade e transparência. 

Em termos de representatividade na mídia, em 2023, a Abramed foi fonte de mais de 2.500 matérias em diversos e relevantes veículos, tanto impressos e virtuais quanto de TV e rádio, sempre como mídia espontânea. “Ao comunicar-se de maneira consistente, a associação se estabelece como uma fonte confiável de informações, mantendo uma relação produtiva e o diálogo contínuo com jornalistas de diversos veículos de comunicação, com o intuito de assegurar que as informações sejam fornecidas de forma precisa e atual a toda população”, reforça Milva.

Em um ano repleto de desafios e conquistas, a Abramed superou os obstáculos do cenário da saúde e atuou como uma força transformadora, concentrando esforços em temas necessários para o desenvolvimento do setor. “A busca pela integração eficiente de dados, a defesa incansável da ética médica, a promoção de práticas responsáveis e a cooperação com o governo e outras entidades foram pilares fundamentais do compromisso da Abramed em 2023”, finaliza a diretora-executiva.