Inovar para evoluir é o caminho da medicina diagnóstica

Confira a entrevista com Henrique Pasqualette, mastologista e diretor médico do Centro de Pesquisas e Estudos da Mulher (CEPEM)

30 de junho de 2020

A evolução da medicina diagnóstica ao longo das últimas décadas é nítida identificando patologias cada vez mais precocemente, promovendo exames cada vez mais específicos e garantindo resultados com extrema confiabilidade. Pensando em saúde da mulher, é perceptível, por exemplo, como o segmento contribuiu para que o câncer de mama – doença tão temida pelo público feminino – pudesse ser identificado e tratado de forma rápida e muito menos agressiva.

Especializado em diagnóstico no universo feminino, o CEPEM (Centro de Estudos e Pesquisas da Mulher) está há 27 anos atuando no Rio de Janeiro (RJ) e acompanhou de perto grande parte dessa evolução, incorporando ano a ano tecnologias capazes de salvar vidas. Conversamos com Henrique Pasqualette, mastologista e diretor médico do CEPEM, sobre os avanços já computados, os impactos da pandemia no segmento e os principais desafios que se desenham neste cenário onde há alta competitividade e onde a inovação se mostra o melhor caminho para a evolução.

Confira a entrevista completa.

Abramed em Foco – O CEPEM é especializado em saúde feminina. Como enxerga a evolução da medicina diagnóstica voltada à mulher?

Henrique Pasqualette – Quando eu me formei, o diagnóstico do câncer de mama, por exemplo, se baseava na palpação, os exames de imagem estavam apenas começando. E isso fazia com que o prognóstico fosse muito ruim, as cirurgias mutilavam as mulheres e a maioria das pacientes chegava a falecer. Nos últimos 40 anos o cenário mudou de forma fantástica e é raro assistirmos mulheres morrerem em decorrência do câncer de mama, já que temos todas as oportunidades para um diagnóstico precoce e tratamentos cada vez mais evoluídos. Na obstetrícia também assistimos à uma evolução surpreendente.

Abramed em Foco – Falando em evolução, pioneirismo e inovação estão no DNA do CEPEM. Por que é tão importante investir em pesquisa e desenvolvimento?

Henrique Pasqualette – No CEPEM estamos constantemente incorporando tecnologias e inovação para oferecer, às pacientes, o melhor que podemos. Temos sempre muitas novidades. Ainda em meados de 1997 trouxemos, para o Brasil, a mamotomia, tipo especial de biópsia auxiliar no diagnóstico do câncer de mama. No início dos anos 2000 incorporamos a mamografia digital de campo total e, já em 2003, a mamografia digital com detecção inteligente. Temos essa tendência de trabalhar com tecnologias que aprimoram os resultados dos exames e melhoram a qualidade de vida da população.

Abramed em Foco – O relacionamento com outros players da medicina diagnóstica é importante?

Henrique Pasqualette – Com certeza. No início sentíamos falta de ter essa relação com o mercado para que pudéssemos desenvolver um ponto de vista mais profissionalizado, e a Abramed abriu as portas para que nossos executivos aprendessem com o mundo que se desenvolvia fora da nossa casa. Acho muito importante que nossos especialistas participem das reuniões e dos eventos promovidos pela associação e acredito que quanto mais laboratórios e clínicas participarem da Abramed, mais fortalecidos seremos.

Abramed em Foco – E como fica a competitividade nesse cenário tão acirrado?

Henrique Pasqualette – Estamos há 27 anos no Rio de Janeiro e temos várias gerações que evoluíram conosco. No começo tínhamos de disputar os profissionais, hoje temos uma relação muito forte com nossos especialistas que estão engajados com nossa marca. Vejo a competitividade como algo positivo que nos obriga a melhorar a cada dia, a buscar a excelência. Contamos com certificados PADI e PROQUAD e não nos deixamos afetar pela massificação que muitas vezes observamos quando as marcas começam a ampliar seus segmentos. Além disso, entendemos que a medicina é algo que exige um contato próximo com os pacientes e um tratamento individualizado, humanizado.

Abramed em Foco – A pandemia de COVID-19 mudou o ritmo de trabalho de todos. Passada a crise, qual o legado que o novo coronavírus nos deixa?

Henrique Pasqualette – Esse momento que vivemos é muito significativo e ninguém imaginava que chegaríamos a essa situação. Na pandemia, a medicina diagnóstica ganhou representatividade e despontou como um dos atores da solução. Com os testes de COVID-19, somos parte importante do entendimento da crise e da elaboração de estratégias. Por outro lado, vivemos um momento complicado do ponto de vista econômico e financeiro, todos nós sofremos muito. E nesse momento, inclusive, a Abramed foi fundamental ao capitanear uma série de atitudes em prol do setor, levando as nossas dificuldades ao Ministério da Saúde, ao Governo Federal e aos bancos de investimentos. Acredito que a pandemia, de certa forma, nos auxilia a consolidar a relevância da medicina diagnóstica no contexto da saúde. Vínhamos fazendo um bom trabalho e, nesse momento, aproveitamos a oportunidade para apresentar, com mais força, que somos indispensáveis.

Abramed em Foco – Quais os grandes desafios da medicina diagnóstica nos próximos anos?

Henrique Pasqualette – Enxergo quatro grandes ondas ocasionadas pela COVID-19. A primeira, que já vivemos, dos pacientes infectados que necessitavam de cuidados, sendo que nossos recursos eram finitos. A segunda, que está começando a surgir, é composta pelos pacientes que não tiveram suas necessidades além da COVID-19 atendidas durante a pandemia, quando procedimentos foram cancelados e adiados. A terceira onda, que logo chegará, diz respeito às pessoas que tinham comorbidades, não receberam a atenção devida durante a crise, não foram monitoradas, e acabaram tendo suas condições agravadas. A quarta, e última, onda que percebo será a de uma população que sofre as consequências da pior pandemia do século, um grupo de desempregados, pessoas que perderam os entes queridos, órfãos e toda uma gama de cidadãos com necessidades bem específicas. Dessas quatro ondas, a medicina diagnóstica se faz indispensável nas três primeiras e precisará suportar a população também na quarta. Afinal, quando eu me formei, a medicina, com a anamnese e o exame clínico, era soberana. Hoje, após tanta evolução tecnológica, agregamos exames laboratoriais e de imagem e a medicina não mais existe sem o setor de diagnóstico.

Abramed em Foco – O que o CEPEM espera da Abramed como associação para vencer os desafios do setor para os próximos anos?

Henrique Pasqualette – Vejo a Abramed cada vez mais forte, desde a gestão da Claudia Cohn que teve uma atuação exemplar até essa nova gestão, com o Wilson Shcolnik, que está fantástica. É uma associação que tem muito a oferecer. Um dos caminhos que vejo é a Abramed atuando para auxiliar a dificuldade que os profissionais que vem de outras áreas da medicina têm para se adaptar ao setor de diagnóstico, que tem particularidades. Vejo a entidade assumindo um bom papel na formação educacional desses futuros profissionais. Além disso, os dados que a Abramed compila e divulga são balizadores muito importante para o nosso segmento que está a cada dia mais profissionalizado. Temos um belo caminho a percorrer, a entidade está a cada dia mais robusta, as reuniões e os eventos que promove são ótimos e a assessoria jurídica é indispensável. Durante a pandemia vimos como a Abramed foi importante para nossa área e tenho certeza de que a entidade vai continuar crescendo.

Saúde no Brasil testa positivo para COVID-19: tratamento é regulatório e tributário

Não é crível pensar a saúde como uma fórmula genérica e sob dosagem uniforme aplicada a todos os segmentos de atividades econômicas

29 de junho de 2020

* Por Fábio Cunha e Eduardo Muniz Machado Cavalcanti

Quando se pensa em sistema de saúde no imaginário popular vem a figura do hospital e seus leitos, com toda a estrutura ao redor, máquinas e equipamentos, médicos, enfermeiros, laboratórios. Essa composição, por si, já exige alto grau de complexidade para seu bom e correto funcionamento, mas é preciso enxergar para além desta disposição contextual, muito além.

Gira em torno da órbita do sistema de saúde um complexo aparelho formado de elementos estruturantes fundamentais para a conexão entre os agentes e o funcionamento desta entrelaçada engrenagem, cujo horizonte é composto por dois protagonistas: a saúde pública e a saúde suplementar.

As peças se encaixam, e a dinâmica do sistema funciona, a partir do reconhecimento de que desde o antecedente em pesquisas, até a fabricação de um medicamento pela indústria farmacêutica, ou sua importação, compreendem o entrelaçado setor de saúde, passando pela distribuição, inserida numa operação logística com todas as espécies de malhas de transporte, especialmente a aérea, com exigências de acondicionamento dos produtos transportados, com rígido controle de fiscalização e inspeções, até alcançar o comércio varejista e atacadista, e, claro, os laboratórios, as clínicas e os hospitais.

São, portanto, atores protagonistas deste enredo: os hospitais, os laboratórios, as clínicas, as entidades filantrópicas, os institutos de pesquisas, os fabricantes e importadores de máquinas e equipamentos, as indústrias de alta tecnologia de produtos para a saúde, os distribuidores de produtos e equipamentos médicos, sem deixar de falar das operadoras de planos de saúde, todos eles submetidos a um complexo sistema de regulação do Estado, sujeitos ao controle da ANVISA, ANS, CADE, RFB.

Pois bem! O que parecia complexo se transformou em algo inimaginável. Se esta cadeia de operações em saúde exigia significativo grau de particularidades, com uma logística própria em relação aos demais segmentos produtivos, agora o “maquinário” deve continuar funcionamento mesmo com a sensação de que “jogaram areia” nas engrenagens com a proliferação do COVID-19.

Entre os desafios impostos em tempos de COVID-19, as condutas anticompetitivas são preocupantes porque compreendem a formação de carteis, com acordos de preços, quantidades, regiões e condições de fornecimento; utilização de meios enganosos para provocar oscilações de preços, inclusive com discriminação de adquirentes por meio da fixação de valores ou condições operacionais diferenciadas; imposição de contratos com cláusulas e condições comerciais leoninas; retenção de bens de produção ou de consumo.

Nesta tempestade de desafios impostos pelo novo cenário desenhado pelo COVID-19, ao contrário do que se imagina, o setor de saúde não está “nadando de braçadas” contra a correnteza da crise instalada.

Dados indicam que a medicina diagnóstica fechou centenas de unidades em todo país, com registro de perda de arrecadação da ordem de até 70%. Os hospitais estão com fluxos de caixa comprometidos, com queda de faturamento, sobretudo diante da suspensão dos atendimentos eletivos (consultas, exames e cirurgias), aumento significativo dos preços de insumos, além de sua exponencial utilização (EPI’s), do custo financeiro com empréstimos,  da necessidade de altos investimentos em infraestrutura, especialmente para aumento do número de leitos de Unidade de Tratamento Intensiva (“UTI”), contratação de novos profissionais, aquisição de equipamentos, entre outros fatores.

Com os rumos turbulentos, exigindo um esforço sobrenatural para manter o regular funcionamento desta cadeia produtiva de serviços, o setor vem sendo bombardeado por todos os lados.

Estados e municípios promoveram uma avalanche de requisições administrativas de materiais e produtos relacionados, de forma descoordenada, provocando desabastecimentos e ameaças ao próprio funcionamento de hospitais. No Maranhão, o Decreto n. 35.786, de 04 de maio de 2020, estabeleceu a requisição administrativa de serviços de profissionais da medicina como medida de combate ao COVID-19 sem que houvesse uma sincronização com a saúde suplementar. E se o médico ou enfermeiro no momento da requisição administrativa já tem compromisso com carga horária máxima na rede privada de saúde, como conciliar? E se o médico atender ao chamado de requisição pública e deixar a descoberto o hospital privado? São questões que precisam ser coordenadas, com urgência e prioridade, mas não podem ser desprezadas.

No âmbito do Poder Legislativo, alguns projetos de lei estão em curso no Congresso Nacional que, direta ou indiretamente, afetam o funcionamento do setor de saúde no Brasil, alguns deles já aprovados e em vigor, fincando diretrizes favoráveis.

A Lei n. 13.989, de 15 de abril de 2020, estabelece a utilização da telemedicina durante a pandemia do COVID-19, cuja permissão alcança o uso da tecnologia para realização de atendimento médico sem necessidade de proximidade física com o paciente. O texto original previa a regulamentação da telemedicina pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), após o período de crise causado pelo COVID-19, porém houve veto neste ponto sob o fundamento de que as atividades médicas por vias remotas devem ser reguladas por lei após o fim da pandemia. Diante do rumo que a sociedade está tomando, inevitável que este tema volte à pauta, inclusive, e sobretudo, pós COVID-19. É preciso evoluir, de forma segura e eficiente, proporcionando bem-estar a todos.

O PL 2324/2020, que trata do uso compulsório de leitos privados, que já conta com aprovação no Senado Federal em 26 de maio, até o momento aguardando votação na Câmara dos Deputados, prevê condições à requisição administrativa de leitos hospitalares privados de UTI, para fins de internação de pacientes com COVID-19, entre as quais, as seguintes: i) os serviços hospitalares poderão ser submetidos ao uso compulsório pelo poder público desde que estejam com taxa de ocupação inferior a 85%; ii) prévia negociação entre os gestores do SUS e as instituições privadas para contratação emergencial dos leitos disponíveis, mediante chamamento público que contenha quantidade e prazo de utilização dos leitos, além de valores de referência, cotados no mercado; iii) regulação dos leitos a cargo da Comissão Intergestora Bipartite (CIB); e, iv) justa indenização pelo uso compulsório dos leitos privados ociosos terá como referência ato do Ministério da Saúde ou será definida pelo colegiado da CIB, com base nos valores de referência do mercado.

No âmbito fiscal, o Governo Federal editou a Resolução CAMEX nº 17/2020, promovendo a redução temporária da alíquota do imposto de importação para álcool etílico, desinfetantes, vestuários, acessórios de proteção e outros, com a redução a zero das alíquotas do Imposto de Importação para produtos médico-hospitalares.

Os Decretos ns. 10.285 e 10.302/2020, tratam da desoneração temporária do IPI para produtos essenciais no combate à COVID-19, com redução a zero das alíquotas do imposto para álcool etílico, desinfetantes, gel antisséptico, vestuário e acessórios de proteção, aparelhos de eletrodiagnóstico, aparelhos de oxigenoterapia e outros, além da redução a zero das alíquotas do referido imposto incidentes sobre: (i) artigos de laboratório ou de farmácia; (ii) luvas, mitenes e semelhantes, exceto para cirurgia; e (iii) termômetros clínicos.

Não obstante este tímido avanço, é indispensável pensar em uma rede de proteção regulatória e fiscal própria ao setor de saúde sob pena de colapso geral do sistema.

Não é crível, nem muito menos adequado, pensar a saúde como uma fórmula genérica e sob dosagem uniforme aplicada a todos os segmentos de atividades econômicas.

Recentemente na MP 936/20, por meio de projeto de conversão em lei, discutiu-se na Câmara dos Deputados, por apoio das lideranças, a prorrogação da desoneração da folha pela contribuição previdenciária sobre receita bruta (CPRB), ao invés da incidência sobre a folha de salários, a diversas atividades econômicas, sem que o setor de saúde tenha sido contemplado, muito embora ainda se aguarde a sanção, ou veto, do Presidente da República.

A postergação de recolhimento de tributos federais deve alcançar, inclusive, aqueles sujeitos à retenção na fonte, e não somente do INSS Patronal e do PIS/COFINS por um par de meses, bem como a prorrogação do cumprimento de todas as obrigações acessórias relativas a tributos federais, e não somente da DCTF e da EFD-Contribuições, até final do ano. Adoção do regime de caixa para fins de recolhimento do PIS/COFINS. Abatimento integral de prejuízos fiscais e redução a zero de PIS/COFINS sobre produtos médico-hospitalares.

Do atual cenário, pouco se enxerga medidas legais com viés fomentador, cujos aspectos regulatórios e fiscais estejam relacionados à cadeia produtiva e de serviços do setor de saúde. As medidas tributárias de alívio, muitas vezes de suspiro, tais como diferimentos ou prorrogações de tributos (não se trata de dispensa do pagamento), ou até mesmo monetárias (de linha de crédito), são as mesmas direcionadas a outros setores, desconsiderando que a saúde, para além de direito fundamental, está sendo extremamente castigada pelo COVID-19 e, somente por meio dela, como ator principal deste enredo, poderemos superar os impactos mais letais desta pandemia.

* Fábio Cunha é diretor do Comitê Jurídico da Abramed e Eduardo Muniz Machado Cavalcanti é consultor para reforma tributária da Associação

** Artigo originalmente publicado no portal JOTA

Setor de saúde debate a Reforma Tributária na retomada da economia

Abramed está ativa nas discussões sobre as necessidades do setor de diagnóstico frente às propostas que tramitam no Congresso Nacional

22 de junho de 2020

Com a pandemia do novo coronavírus diversos temas que fluíam no Congresso Nacional tiveram seus trâmites desacelerados, entre eles a Reforma Tributária. No início de março, poucos dias após o diagnóstico do primeiro paciente com COVID-19 no Brasil, o governo formalizou uma Comissão Mista composta por deputados e senadores e encarregada de, com base na PEC 45/19 e na PEC 110/19, elaborar uma proposta única para simplificação do sistema tributário nacional. Agora, passados três meses, o tema está ganhando força novamente no poder legislativo e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) segue atuando para apresentar os impactos das propostas na saúde nacional.

Fortalecendo o diálogo com outros setores com demandas similares, a Abramed participou de dois eventos virtuais realizados no dia 17 de junho e organizados para tratar da retomada da economia e da importância da Reforma Tributária frente às necessidades no período pós-pandemia.

“Devido ao enfrentamento da COVID-19, a pauta da Reforma Tributária deixou de ser priorizada, porém o governo está retomando o tema para que a discussão seja fortalecida no segundo semestre. Em defesa da sustentabilidade do setor de medicina diagnóstica estamos ativos neste debate junto a entidades parceiras que também temem pelos resultados de uma reforma que não aposta em neutralidade e excepcionalidade para o setor de saúde”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed.

Pela manhã, Priscilla representou o segmento no webinar “Reforma Tributária: Pensando a retomada da economia”. Organizado pelo portal de notícias políticas, jurídicas e econômicas Migalhas, o encontro – que lançou o Instituto Brasileiro Independente de Estudos Fiscais e Econômicos (IBIEFE) – também recebeu Pedro Westphalen, médico e deputado federal (PP/RS); Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp); e Alberto Macedo, consultor técnico da Associação Nacional dos Auditores-Fiscais de Tributos dos Municípios e Distrito Federal (ANAFISCO).

Moderado por Eduardo Muniz, consultor para Reforma Tributária da Abramed, e por Renato Nunes, sócio do Machado Nunes Advogados, o debate reforçou a importância de os setores estabelecerem boa interlocução com as autoridades a fim de apresentar as suas necessidades e os impactos dos atuais textos que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Tanto Priscilla quanto Marco Aurélio apresentaram a atual situação do setor de saúde perante os textos que estão em tramitação, enfatizando que a saúde é um segmento estratégico e que precisa ser observada com excepcionalidade e neutralidade. “A Reforma Tributária é muito bem-vinda desde que feita de forma responsável, pois onerar esse setor essencial pode significar inviabilizá-lo”, declarou Priscilla.

Segundo a executiva, caso seja aprovada uma reforma que aumente ainda mais a carga tributária da medicina diagnóstica, o setor não conseguirá se manter sem repassar os custos aos pacientes, o que deve gerar uma queda considerável no número de beneficiários dos planos de saúde e, por consequência, aumento expressivo da população totalmente depende do Sistema Único de Saúde (SUS).

Após ouvir as declarações da Abramed e da Anahp, Pedro Westphalen se posicionou em defesa do setor. “Saúde é um dos setores com maior empregabilidade no país e se a reforma vier, de fato, como está prevista, trará um impacto muito grande e o setor não aguentará. Esse debate é atual e muito importante e agora é a hora de fazermos pressão e de demonstrar, claramente, para os parlamentares qual a real situação”, disse.

Diálogo aberto – Já no período da tarde, a medicina diagnóstica brasileira teve a oportunidade de apresentar suas demandas diretamente para o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), relator da Comissão Mista da Reforma Tributária, em um evento organizado pelo escritório Honda Teixeira Araújo Rocha Advogados.

Wilson Shcolnik e Fábio Cunha, respectivamente presidente do Conselho de Administração e diretor da Câmara Jurídica da Abramed, representaram a Associação no webinar “Reforma Tributária – Novo cenário pós pandemia”, que também recebeu Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP); Luiz Lemos Leite, presidente da Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil (ANFAC); e Paulo Roberto Rossi, presidente-executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) para um debate moderado por Armando Monteiro Bisneto, advogado e assessor parlamentar.

Com demandas similares, os setores de saúde e educação prezam por uma reforma que não traga uma carga de impostos ainda mais elevada. “Nosso setor de medicina diagnóstica defende a reforma tributária como simplificação e fonte de desenvolvimento econômico, porém o aumento da alíquota distorceria muito a nossa carga atual e teríamos uma perda muito grande”, declarou Cunha.

Após as argumentações da Abramed e da ANUP, o deputado Ribeiro declarou que será um desafio aprovar a reforma que, antes da pandemia, já era necessária e que agora torna-se ainda mais importante, e mencionou que o setor de serviços precisará ser analisado com cautela. “Já estudávamos soluções para o setor de serviços como, por exemplo, a desoneração da folha de pagamento como instrumento para neutralizar o desequilíbrio. E isso não está descartado”, declarou.

Complementando o raciocínio, Cunha enfatizou a responsabilidade dos setores na geração de empregos formais e qualificados. “Sairemos dessa grande crise sanitária e enfrentaremos problemas de empregabilidade onde a proteção ao emprego tanto na saúde quanto na educação será muito importante”, disse.

Entenda a Reforma Tributária e os impactos ao setor de saúde – Clique AQUI e confira uma matéria explicativa publicada pela Abramed com detalhes sobre os impactos da Reforma Tributária na área de medicina diagnóstica e na saúde como um todo. O texto apresenta o atual cenário e traz, inclusive, informações de um estudo elaborado pela Associação sobre os prejuízos da reforma ao setor. Entre os dados levantados, um possível aumento de aproximadamente 72% sobre a carga tributária atual caso a reforma siga sem que os líderes do governo compreendam as demandas do sistema de saúde brasileiro.

Webinar promovido pela Associação apresenta resultados da avaliação de testes para COVID-19

Projeto já validou mais de 20 kits de diagnóstico e tem outros 20 em processo de análise

17 de junho de 2020

Na terça-feira, 16 de junho, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) reuniu entidades parceiras em um webinar para apresentar os primeiros resultados do projeto de validação de testes para COVID-19. Até o momento 20 kits de diagnóstico já foram validados e tiveram seus resultados compilados no portal testecovid19.org e outros 20 estão em processo de análise.

Comandado por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, o encontro recebeu Leandro Pereira, gerente-geral de tecnologia de produtos para a saúde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Fabio Arcuri e Carlos Eduardo Gouvea, presidente e diretor-executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL); Luiz Fernando Barcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC); e Carlos Eduardo dos Santos Ferreira e Álvaro Pulchinelli, presidente e diretor da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, fez as apresentações.

Antes de dar início ao debate, Pulchinelli, que atua como coordenador técnico do programa de validação gerido pela parceria entre Abramed, CBDL, SBAC e SBPC/ML (clique AQUI para saber mais), apresentou o histórico da ação e detalhou a criação de protocolos que permitem que todas as análises sigam os mesmos parâmetros.

Explicando que são feitas avaliações de desempenho e de reprodutibilidade, o executivo declarou que a intenção não é reprovar kits de diagnóstico. “Nosso objetivo é ver quais as virtudes de cada produto e entender em que momento eles podem ser úteis para acompanhar a saúde dos pacientes”, disse ao esclarecer que um kit que tem mais confiabilidade de resultados após 21 dias do início dos sintomas não contribuiu com a identificação da infecção na fase aguda, mas pode auxiliar na fase de recuperação do paciente contribuindo na melhor programação de alta e na segurança do retorno desse paciente às suas atividades.

O sucesso do projeto foi pontuado por Gouvea que destacou o atual momento das validações. “Hoje temos muitas avaliações já concretizadas e à medida que o projeto avança, incorporamos melhorias. Temos 20 testes validados e outros 20 em avaliação. A ação virou referência tanto no setor público quanto no mercado privado, visto que recebemos até mesmo solicitação de empresas interessadas em adquirir esses mecanismos e que, para isso, estão esperando que os validemos”, declarou. Gouvea também reforçou que se trata de um projeto totalmente voluntário dentro do qual os laboratórios participantes doam tempo e recursos para executar as validações. Entre os laboratórios associados à Abramed que contribuem com o programa hoje estão Dasa, DB, Fleury, Hermes Pardini, Hospital Israelita Albert Einstein e Sabin.

Propondo que os testes-rápidos sejam chamados de testes imunocromatográficos para evitar que essa modalidade diagnóstica seja percebida como um exame que pode ser realizado de forma simples, em qualquer lugar e a qualquer hora, Barcelos enfatizou que a orientação para os laboratórios é de que, em hipótese alguma, adquiram testes que não tenham sido registrados pela Anvisa. “Esse é um perigo que se soma aos perigos de uma doença nova, rápida e da constante necessidade de novos testes. São muitas variedades de exames e, consequentemente, teremos respostas naturalmente diferentes”, declarou reforçando a importância de uma execução do teste e análise de resultados adequadas. Essa preocupação com a execução e processamento dos exames vai ao encontro dos objetivos das fabricantes que, nas palavras de Arcuri, da CBDL, “se preocupam em entregar, ao mercado, exames e produtos com a qualidade adequada”.

Complementando a preocupação de Barcelos, Carlos Eduardo dos Santos Ferreira apontou percepções do setor de diagnóstico que, ao longo do tempo, mostram impacto direto da execução dos exames nos resultados obtidos. “Podemos ter, durante o processamento, variações que importam no momento de liberação do laudo como, por exemplo, o volume da amostra utilizada, as diferenças entre o soro e o plasma, e as preocupações com os resultados tanto falso negativos quanto falso positivos”, disse. Segundo o presidente da SBPC/ML, a sociedade não deve se esquecer que o teste rápido é um teste de laboratório que exige técnica na execução e capacidade de interpretação de resultados.

Gouvea, então, reforçou que os testes rápidos não são auto testes e que precisam seguir as metodologias adequadas, relembrando, inclusive, que esse tipo de exame costuma ser utilizado pelo Ministério da Saúde em situações em que não é possível realizar outra metodologia diagnóstica.

“Precisamos lembrar que temos o teste certo, para a pessoa certa, no momento certo e que em uma infecção pelo novo coronavírus não nos baseamos apenas no resultado do exame, mas no inquérito e nos dados clínicos dos pacientes. A COVID-19 é uma doença nova, todos estamos aprendendo, e acredito que com o projeto de validação estamos conseguindo gerar informações relevantes para abastecer o sistema, seja para que o fabricante possa rever seu processo, seja para o distribuidor rever sua decisão, seja para as empresas optarem ou não pela compra”, declarou o diretor da CBDL.

Relacionamento com a Anvisa

A presença de Leandro Pereira, gerente-geral da GGTPS/Anvisa, no webinar fortaleceu o relacionamento do setor privado de medicina diagnóstica com a Agência. “A pandemia trouxe um desafio imenso e estamos vivendo a maior crise sanitária da nossa história”, declarou o executivo.

Pereira citou os benefícios da RDC 348/2020, que flexibilizou os critérios regulatórios a fim de permitir que os insumos pudessem chegar com mais agilidade ao mercado, e falou sobre a atuação da Anvisa no registro de dispositivos diagnósticos. “Com esses ajustes de gestão já estamos nos aproximando de 500 testes protocolados, sendo que 179 foram aprovados e 79 reprovados”, disse. Segundo o gerente, esses números de aprovação e reprovação são os maiores do mundo e ainda no mês de junho o órgão deve chegar a 200 testes aprovados.

Sobre o projeto de validação comandado pela iniciativa privada, o executivo enfatizou que a ação representa uma excelente complementação ao trabalho da Anvisa. “Esse monitoramento realizado pelas entidades tem grande valor para nós. Apesar de não ter finalidade regulatória, nos aponta indícios de insumos que necessitam de análises”, disse. Pereira também citou que a Anvisa mantém parceria com o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e que, graças a esse suporte do Instituto, já analisou 26 lotes diferentes de produtos, tendo 23 laudos satisfatórios.

A ampliação do relacionamento da Anvisa com o setor de medicina diagnóstica é um dos legados que será mantido após a crise de COVID-19 na opinião de Wilson Shcolnik. “Essa aproximação do segmento de laboratórios clínicos com a gerência comandada por Pereira beneficia todo o setor de saúde e a população brasileira de forma generalizada, afinal, temos a missão de ofertar sempre os melhores serviços e essa missão será otimizada nessa aproximação com o órgão regulador”, pontuou o presidente da Abramed.

Clique AQUI e assista ao webinar na íntegra.

Medicina diagnóstica tem relevância de alto impacto para a sustentabilidade do setor de saúde

Confira a entrevista com Carlos Marinelli, presidente do Grupo Fleury

5 de junho de 2020

A saúde é uma das áreas que melhor tem feito uso dos avanços tecnológicos. Nos últimos anos, a medicina diagnóstica evoluiu a ponto de permitir que se detecte a probabilidade de alguém desenvolver determinada doença. A evolução da genômica tem permitido que a medicina de precisão e personalizada traga benefícios inestimáveis para a vida das pessoas e para a prática médica e aumente exponencialmente a chance de diagnóstico precoce e de sucesso nos tratamentos.

Com base neste conceito, o Grupo Fleury, com seus mais de 90 anos, tem investido constantemente em inovação e agregado à sua cultura a excelência em gestão como pilar para a sua longevidade. Para Carlos Marinelli, presidente da instituição, conhecimento, combinado com excelência técnica, médica e em atendimento, contribui para manter a competividade e a relevância da empresa no mercado.

Na entrevista a seguir, Marinelli comenta a contribuição para o futuro e as repostas benéficas ao setor trazidas pelo uso intenso de tecnologia; o peso de alta relevância que a medicina diagnóstica tem para a sustentabilidade do sistema de saúde; e como a pandemia da Covid-19 trouxe significado real à palavra prevenção. Confira!

Abramed em foco – O Grupo Fleury tem mais de 90 anos e é considerado um dos maiores e mais respeitados no setor de medicina diagnóstica e saúde do país. O que tem feito para se manter em destaque em um mercado tão competitivo?

Acredito que a consistência da nossa cultura responde por essa trajetória reconhecida que temos. Desde o início, os nossos fundadores, Gastão Fleury e Walter Leser, estabeleceram como compromisso a excelência nas dimensões médica, técnica e em atendimento. 

Esse jeito de ser se perpetuou na nossa instituição atraindo, desde então, profissionais que sempre acreditaram nessas premissas para entregar o nosso propósito de estar no dia a dia das pessoas, provendo saúde e bem-estar para a sua plena realização. Nos últimos anos, agregamos a essa cultura a excelência em gestão também como um pilar que contribui para a nossa perenidade. 

Esse conjunto de atributos permite manter a nossa força competitiva com relevância para nossos colaboradores e médicos, comunidade médica, nossos clientes, pagadores e a sociedade. Temos um ativo de confiança e de atenção ao cuidado que tem grande peso na saúde.

Abramed em foco – Comparando a medicina diagnóstica atual com a que era praticada anteriormente, como vê essa evolução?

A medicina é uma área de conhecimento em evolução contínua e cada vez mais dinâmica, veloz. Hoje vivemos em escala avançada a medicina de precisão e personalizada com base no desenvolvimento da genômica. O benefício para a prática médica e a vida das pessoas é inestimável. Agora, a proteômica surge com sua força e todas as possibilidades de novos avanços.

Outro aspecto relevante é o olhar que toda a sociedade parece agora dar à medicina. A doença começa a dar espaço para a saúde. A palavra prevenção passou a ter um significado real, um processo que já vinha ocorrendo, mas que ganhou força com a pandemia da Covid-19.

Esse contexto torna a prática da medicina ainda mais relevante na vida das pessoas e está contribuindo efetivamente para uma maior sustentabilidade do setor de saúde.

Abramed em foco – Quais foram as maiores inovações implantadas recentemente nas marcas do Grupo Fleury?

O Grupo Fleury vem expandindo sua atuação para além da medicina diagnóstica. Avançamos significativamente em genômica, contando com um portfólio relevante de exames com amplo acesso a pessoas de todo o país por meio de um canal de e-commerce. 

Constituímos uma Plataforma de Negócios em Saúde, com a oferta de soluções cada vez mais voltadas para o cuidado integrado da saúde do paciente. Nesse sentido, grandes movimentos já foram feitos, entre eles o Fleury Day Clinic, para realização de procedimentos de baixa complexidade em ortopedia; e o Centro de Infusões de medicamentos imunobiológicos.

A aquisição da SantéCorp nos inseriu no mercado de gestão de saúde corporativa, com ênfase na oferta por meio de uma plataforma de coordenação de cuidados.

Temos investido significativamente em soluções digitais, um desenvolvimento acelerado há dois anos com a criação do FleuryLab.

Nesse braço de inovação, criamos a plataforma digital de gestão de saúde da SantéCorp e o ‘Campana Até Você’, o primeiro laboratório digital do Brasil, que não tem unidade física.

A partir daí, começamos a conectar tecnologia com todo o conhecimento de saúde que tínhamos. A telemedicina, que estava dentro da plataforma da SantéCorp, deu origem ao ‘Cuidar Digital’, uma versão que permite ao médico prestar assistência a distância aos pacientes. Trata-se de uma plataforma de telemedicina aberta e gratuita para médicos de qualquer ponto do país.

Para nós, a saúde do futuro vai usar cada vez mais tecnologia. Nosso desejo é aproveitar tudo isso para aumentar ainda mais nossa relevância no ecossistema de saúde.

Abramed em foco – O Grupo Fleury lançou dois exames relacionados à Covid-19. Como se deram esses desenvolvimentos diante de um cenário mundial de falta de insumos?

Diante da pandemia da Covid-19, nossos médicos e cientistas desenvolveram em tempo recorde um teste molecular para o novo coronavírus, que foi lançado em meados de fevereiro. Como o mundo já enfrentava severas quebras na cadeia de insumos, naquele momento optamos por não disponibilizar os testes em nossas unidades de atendimento. Eles foram disponibilizados, a preço de custo, em 30 hospitais parceiros, para garantir que pacientes com sintomas mais graves pudessem ter acesso a esses testes. A decisão garantiu que não houvesse rupturas e que o Grupo Fleury conseguisse entregar os resultados em 48 horas, ajudando na conduta dos casos com suspeita da Covid-19.

Além do teste RT-PCR, nossa área de P&D acabou de desenvolver, de forma inédita no mundo, o teste de diagnóstico da Covid-19 que analisa proteínas do novo coronavírus. Além de ser um método altamente confiável e servir como alternativa para falta de insumos do exame RT-PCR, considerado padrão-ouro, esse teste por proteômica se destaca pela maior estabilidade das amostras que podem ser transportadas em temperatura ambiente, ampliando o acesso ao teste a regiões remotas.

Abramed em foco – Quais são os principais desafios que a medicina diagnóstica brasileira enfrenta para se desenvolver?

Estamos vivendo uma situação que é um divisor de águas na saúde brasileira nesse momento. O uso intenso de tecnologia na saúde hoje pode contribuir para o futuro, como a integração de diferentes especialidades médicas aliada ao uso da tecnologia e que pode trazer respostas benéficas ao setor. Ainda, há uma evidente tendência de envelhecimento da população brasileira e a atenção da saúde a grupos de risco, que acentuam as preocupações com a sustentabilidade do sistema. Será cada vez mais importante que toda a cadeia de valor esteja preparada para esse desafio.

O fato é que a medicina diagnóstica tem um peso da mais alta relevância para a sustentabilidade do sistema de saúde. É com ajuda dela que o médico estabelece a melhor conduta clínica para cuidar dos seus pacientes. Isso ajuda a todos e otimiza a utilização dos recursos no sistema.

Abramed em foco – De que forma as novas tecnologias e a telemedicina impactam no acesso ao atendimento, na experiência do paciente e na possibilidade de diagnósticos precoces?

A telemedicina, ainda mais em um momento como o atual de pandemia do novo coronavírus, é um exemplo que evidencia a necessidade de evitar a sobrecarga desnecessária de pronto atendimento de hospitais diante de casos que podem ser solucionados em outro tipo de ambiente. Com os adventos tecnológicos, a comunicação fica mais rápida e capaz de resolver queixas clínicas agudas pontuais de baixa e média complexidades.

No outro extremo, de casos mais complexos, por exemplo, a inteligência artificial já é uma realidade aplicada à medicina personalizada e de precisão. A chance de diagnóstico precoce e de sucesso no tratamento aumentou exponencialmente. E isso demonstra a força da combinação do conhecimento médico com a tecnologia. Definitivamente, estamos fazendo a diferença na vida das pessoas. É isso que importa. 

Abramed em foco – O que o Grupo Fleury espera da Abramed como associação para vencer os desafios do setor para os próximos anos? Em 2020, a Abramed comemora 10 anos de atuação. Qual sua importância para o setor?

A Abramed tem exercido papel fundamental na valorização da medicina diagnóstica no sistema de saúde com uma proposta de diálogo e de convergência entre todas as partes. O protagonismo crescente que a entidade tem alcançado nos inseriu como voz a ser ouvida em todos os fóruns de discussão que buscam um setor de saúde mais sustentável. Esse tom ponderado nos dará relevância ainda maior nos próximos anos.

A importância do compliance em tempos de pandemia

Empresas precisam estar atentas aos procedimentos de dispensa de licitação e ao realizar doações para evitar questionamentos futuros

5 de junho de 2020

A pandemia do novo coronavírus trouxe um cenário nunca visto para empresas no mundo todo. Considerando os crescentes desafios, as organizações estão tendo que tomar decisões extraordinárias e emergenciais para assegurar a continuidade dos negócios. Nesse cenário, o compliance não pode ser deixado de lado e é preciso estar alerta e reforçar certas medidas para mitigar riscos legais e reputacionais após a crise, especialmente quando se trata de interação com agentes públicos.

Diante da crise sanitária que afetou vários países em decorrência da infecção pelo novo coronavírus, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado, em 30 de janeiro, Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, foi aprovada a lei n° 13.979, de 6 de fevereiro, válida enquanto vigorar a emergência em saúde.

A norma traz as medidas de combate à Covid-19 e seus efeitos, como isolamento social, quarentena, procedimentos compulsórios; dispensa de licitação pública, flexibilizando as regras para aquisição de bens, serviços e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia; requerimentos administrativos; e notificação obrigatória.

Para Walquiria Favero, superintendente jurídica e de Compliance da Dasa e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), apesar da previsão de dispensa de licitação nas contratações públicas pela nova lei, é importante que as empresas associadas à Abramed observem o regulamento federal do chamamento público e, nas compras estaduais e municipais, tenham a cautela de seguir os cuidados que se cercam nesses procedimentos, pois pode variar de Estado para Estado, a fim de se evitar futuros questionamentos.

“Estamos vivendo um regime de exceção, de um período temporário na economia. Nesse momento, é preciso estar ainda mais atento aos requisitos na lei, sendo eles: i) a ocorrência de situação de emergência; ii) a necessidade de pronto atendimento da situação de emergência; iii) a existência de risco à segurança de pessoas, obras, prestação de serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares; e, por  fim, iv) a limitação da contratação à parcela necessária ao atendimento da situação de emergência – lembrando que os procedimentos serão observados, auditados e controlados pelos órgãos de controle como Tribunais de Contas e pelo Ministério Público”, explica.

No que diz respeito à especificidade procedimental de cada Estado brasileiro, interessante notar a exigência feita pelo Estado do Rio de Janeiro, o qual exige a implementação de programas de compliance de fornecedores de bens, serviços ou obras, bem como de outras pessoas jurídicas que também possuem relacionamento com órgãos dos três poderes estaduais.

Por lá, a Controladoria Geral do Estado (CGE-RJ) vai auditar empresas contratadas sob o regime de emergência durante a pandemia de Covid-19 para assegurar a implantação eficiente do Programa de Integridade (compliance). Assim, essas instituições terão até 180 dias, a partir da data de celebração do contrato, para comprovarem a implantação de seus programas de compliance. O objetivo é proteger a administração pública estadual carioca de eventuais atos lesivos – causados por irregularidades, desvios de ética e de conduta e fraudes contratuais – assim como garantir a conformidade da lei nº 7.753/2017, que instituiu o Programa de Integridade para os que firmarem contratos com a administração pública estadual com valores superiores a R$ 650 mil para compras e serviços e R$ 1,5 milhão para obras e serviços de engenharia, com prazo igual ou superior a seis meses.

Importante lembrar, também, que outros Estados já exigem a obrigatoriedade do Programa de Integridade para contratar com a administração pública, como, por exemplo, Espírito Santo (lei nº 10.793/2017), Amazonas (lei nº 4.370/2018), Rio Grande do Sul (lei nº 15.228/2018), Goiás (lei nº 20.489/2019) e o Distrito Federal (lei distrital nº 6.112/2018).

Walquiria comenta que a prevenção por meio da análise de com quem se faz negócios e como se faz negócios supera qualquer circunstância atípica, visto que os órgãos fiscalizadores não se inibirão em aplicar as sanções legais, ainda que irregularidades sejam cometidas em períodos de calamidade pública. Pelo contrário: o afrouxamento das regras que balizam contratações e licitações exigirá das empresas maior esforço e foco na prevenção e detecção dos eventuais riscos que serão assumidos por meio das novas parcerias de negócio. “O prosseguimento de determinadas diligências será essencial para que, aos olhos das entidades sancionadoras, a pressa não se confunda com imprudência”, alerta.

Por isso, sugere que sejam adotadas medidas preventivas à realização de reuniões, ainda que virtuais com tais entes públicos, como, por exemplo: a manutenção de agendamento; disponibilização de pautas prévias; e a participação, como boa prática, de ao menos dois funcionários da empresa. Além do mais, o gerenciamento do contrato nestas condições deverá perdurar apenas para o período de emergência.

Nesse sentido, o relacionamento com a administração pública deve continuar sendo feito por escrito (via e-mails), seguindo as melhores práticas e com a maior clareza possível sobre o intuito da comunicação. O momento de urgência e a necessidade de rápida comunicação podem levar à falta de atenção quanto à comunicação escrita – é vital que isso seja monitorado na interação com agentes públicos para evitar escrita que possa gerar interpretações dúbias e/ou questionamentos.

Novas regras para doações

Outro alerta feito pela superintendente jurídica e Compliance da Dasa às empresas associadas à Abramed refere-se às doações feitas a órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.

Justamente para estimular e ampliar as formas de doações da sociedade e de empresas para reforçar o combate à pandemia, o governo federal publicou o decreto n° 10.314/2020, de 7 de abril, permitindo a administração pública federal receber doações com ou sem ônus ou encargos de bem, serviço ou tecnologia. Assim, o governo pode assumir a contrapartida para o recebimento do donativo desde que não envolva compensação financeira. O normativo altera o decreto nº 9.764/2019, que permitia a realização de doações por qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, em situação regular no país, porém, sem qualquer ônus ou encargos para o governo. 

As doações devem ser feitas na plataforma digital Reuse, do governo federal, por meio do chamamento público ou de manifestação de interesse. Na primeira opção, quando a administração pública abre um edital expondo o objeto e as especificações da doação que tem interesse em receber, não se pode gerar qualquer ônus ou encargo para ela e a gestão dos editais da divulgação fica a cargo da Central de Compras do Ministério da Economia.

No novo sistema, não há previsão de doação com encargos via chamamento público. Walquiria Favero afirma ser esta uma decisão acertada por não ser razoável, sob a perspectiva do gestor público, fixar de antemão os encargos vinculados à doação almejada, tendo em vista que sempre há a possibilidade (ainda que teórica) de recebimento dessa contribuição sem encargos (ou com encargos menos gravosos). “Assim, cabe ao interessado no chamamento público avaliar se proporá uma doação com encargos e quais serão eles, se essa for a abordagem escolhida pelo proponente”, explica.

Já na manifestação de interesse, que inclui doações com ou sem ônus para o governo, o usuário deve se cadastrar também no portal Reuse, informar sobre o produto ou serviço, anexar fotos e indicar se a doação é para um órgão específico. Ao finalizar, a oferta será analisada pela Central de Compras do Ministério da Economia. Concluída a avaliação, o anúncio será publicado automaticamente pela plataforma digital do governo e ficará disponível durante dez dias. Nesse prazo, cabe ao donatário aceitar, ou não, a doação. Se tiver optado por não indicar donatários, quaisquer entidades ou órgãos interessados podem se candidatar a receber a contribuição.

Proibições

Uma das proibições está na vedação ao recebimento de doações que gerem obrigações futuras de contratação direta do particular para fornecimento de bens, insumos e peças de marca exclusiva ou de serviços por inexigibilidade de licitação. “Essa proibição visa evitar que a doação direcione contratações futuras do governo em favor do doador, o que artificialmente criaria uma situação de inviabilidade de competição e a subversão do dever de licitar”, explica Walquiria.  

Outra regra relevante é a proibição de recebimento de doações capazes de gerar despesas adicionais ao governo federal, tais como gastos decorrentes de sua responsabilização subsidiária, recuperação de bens ou outras circunstâncias que tornem a doação antieconômica. Essa mesma lógica se verifica em outra regra introduzida pelo atual decreto: a vedação ao recebimento de doações com encargos desproporcionais ao bem ou serviço oferecido a tal ponto que ela se torne desvantajosa à administração pública.

O decreto também proíbe a utilização de bens móveis e dos serviços doados para fins publicitários, na hipótese de haver doação sem encargos. Só é permitido a mera menção informativa da doação no site do doador e de menção nominal de quem fez a doação no site do órgão ou do ente donatário da administração pública.

Para a superintende jurídica e Compliance da Dasa, com as atualizações efetuadas em sua redação, o decreto federal nº 9.764/2019 passou a fornecer instrumentos jurídicos mais abrangentes, seguros e eficientes para coordenar e executar o combate à pandemia por meio de doações de particulares para a administração pública federal. “Trata-se de um louvável esforço que, além de atender às necessidades do país no atual estado de calamidade pública, institui uma regulação mais moderna, prática e sofisticada”, ressalta.

Walquiria Favero ainda reforça que as empresas privadas devem adotar medidas que mitiguem eventuais riscos envolvidos nas doações, em especial os previstos nas legislações pertinentes, na Lei Anticorrupção (nº 12.846/2013) e nas boas práticas dos programas de compliance. Para minimizar riscos de uso inadequado dos recursos doados, ela sugere que se faça uma verificação prévia dos órgãos e pessoas envolvidas no processo e não envolva intermediários. Recomenda o mesmo processo de verificação e nível de cautela nas doações para organizações não governamentais e entidades do terceiro setor, além de verificação da regularidade jurídica do histórico reputacional e checagem de mídia adversa. Para dar mais transparência para o processo, sugere que todos os documentos relativos à doação sejam arquivados, inclusive a prestação de contas. “É importante também, antes de doar, se certificar se não há nenhum conflito de interesses na seleção do ente público que receberá os recursos doados em função da pandemia”, conclui.

Qualidade dos testes diagnósticos é primordial durante pandemia

Especialistas estiveram reunidos em webinar realizado pela Roche Diagnóstica Brasil para tratar da relevância dos exames durante a crise de COVID-19

3 de junho de 2020

Promovido pela Roche Diagnóstica Brasil e dedicado a jornalistas e profissionais de comunicação, o webinar “A Tecnologia por trás dos testes de COVID-19” reuniu, na tarde de 3 de junho, especialistas para falar sobre a importância do diagnóstico seguro durante a pandemia de COVID-19. Com Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed); Gonzalo Vecina, sanitarista, ex-presidente da Anvisa e ex-secretário municipal de Saúde; e Antonio Vergara e Micha Nussbaun, respectivamente presidente e diretor de Valor Médico e Acesso da Roche Diagnóstica Brasil; o encontro virtual promoveu um debate didático sobre as diversas perspectivas dos testes disponíveis para diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus.

Moderado pelo jornalista especializado em saúde, Andre Biernath, o webinar foi iniciado com uma fala de Vergara sobre o valor do diagnóstico e a importância da qualidade em um momento de pandemia. “A testagem para COVID-19 é extremamente importante, bem como é imprescindível contar com um laboratório de qualidade, seguir os protocolos dos exames, entender qual tipo de teste deve ser realizado em cada etapa e prezar pela segurança desses procedimentos”, declarou.

Depois de Nussbaun explicar as diferenças entre o teste molecular RT-PCR, considerado o padrão ouro para diagnóstico da infecção na fase aguda da doença, e os testes sorológicos, capazes de identificar os anticorpos em amostras sanguíneas dos pacientes, Shcolnik destacou que os testes de anticorpos serão importantes em uma segunda fase para que o país possa entender a extensão da epidemia em seu território.

“Sabemos que existem preocupações econômicas e estamos vivenciando as notícias da retomada, então será muito importante termos real compreensão de qual parcela da população já foi exposta ao patógeno”, comentou o presidente da Abramed que reforçou que essas respostas serão ainda mais confiáveis quando obtidas pelos exames convencionais, realizados nos laboratórios, em ambientes controlados que seguem as boas práticas, contam com técnicos qualificados e utilizam dispositivos validados. “Assim, teremos uma quantificação dos anticorpos e poderemos prover uma solução em escala”, completou.

Ao falar em qualidade dos exames, Nussbaun reforçou a importância da especificidade dos kits nos resultados positivos e da sensibilidade deles em caso de resultados negativos: “quando faço o teste, preciso ter certeza de que aquele resultado é exato. Um teste que gera dúvidas não agrega”.

Valorização do diagnóstico e logística afetada

Gonzalo Vecina foi prático ao afirmar que antigamente os laboratórios eram comprovadores de uma hipótese diagnóstica, mas que, agora, diante da COVID-19, são o único caminho possível para dizer se o paciente está ou não contaminado e se poderá desenvolver a doença. “Temos que testar muito para que possamos identificar os contaminantes e, na sequência, testar as pessoas que tiveram contato com esse indivíduo para isolar o maior número possível de diagnósticos positivos. Não basta, inclusive, testarmos apenas os sintomáticos. Precisamos lembrar que 40% das pessoas infectadas são assintomáticas. E que esses assintomáticos também transmitem a doença”, declarou.

Garantir maior capacidade de testagem em todo o território nacional tem sido um dos desafios do Brasil durante a pandemia, e a crise trouxe empecilhos logísticos, como mencionado por Shcolnik. “As companhias aéreas foram as primeiras vítimas da crise. Com a falta de passageiros para viabilizar voos, encontramos problemas para transportar as amostras entre as regiões, o que se tornou um fator crítico”, disse. O executivo também mencionou que a Abramed chegou a contatar o Ministério da Infraestrutura para destravar essa questão.

Outras doenças durante a COVID-19 e uso racional de exames

Tema do último webinar promovido pela Abramed (clique AQUI para acessar), o impacto das outras doenças durante a pandemia de COVID-19 também foi abordado neste encontro realizado pela Roche. Sobre esse assunto, Vecina reforçou a necessidade de o sistema de saúde retomar a assistência principalmente a pacientes crônicos.

“Nos EUA já vimos aumento de 30% nas mortes de cardiopatas em casa que, com medo do novo coronavírus, não buscaram atendimento”, disse enfatizando que todos estão cientes que as intervenções que exigem internação ainda estarão prejudicadas devido à ocupação dos leitos para casos de COVID-19, mas que outros atendimentos como atividades ambulatoriais, consultas, exames e tratamentos precisam ocorrer.

Ao relembrar que o sistema de saúde não deve entender o diagnóstico como alta despesa ou desperdício, Shcolnik disse: “Um atraso no diagnóstico pode atrasar um tratamento e até mesmo uma alta hospitalar, visto que muitos médicos aguardam resultados de exames para então liberar os pacientes”. Para o executivo, o uso racional de exames é prioridade, até por isso a Abramed é apoiadora da iniciativa Choosing Wisely. “Temos que fazer as escolhas certas para não desperdiçar recursos, promovendo um exame bem indicado, no momento certo, para o paciente certo”, complementou.

Inovação e pesquisa

No Brasil, conforme mencionado por Shcolnik, os laboratórios privados foram imprescindíveis atuando de forma prioritária logo no começo da pandemia para confeccionar, in house, os exames de RT-PCR que ainda não eram comercializados pela indústria. Esse pioneirismo somado à rápida ação do setor privado foi fundamental para que os testes pudessem ser iniciados o quanto antes. Na sequência, com o fornecimento da indústria, esses laboratórios passaram a processar os exames focando, inclusive, na ampliação de suas capacidades.

Na Roche, a inovação também é frequente. Tanto que, segundo Vergara, a empresa dedica 20% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento. “O que representa mais de 11 bilhões de francos suíços ao ano”, completou.

Informação clara para a sociedade

A moderação de André Biernath foi muito importante para que os temas mais complexos fossem “traduzidos” de uma forma compreensível para a maior parte da população. Ao pedir explicações sobre termos técnicos como, por exemplo, a eletroquimioluminescência – método diagnóstico apontado tanto pelos especialistas da Roche quanto por Shcolnik como um dos sistemas com melhor desempenho para a COVID-19 – , o jornalista proporcionou um maior entendimento do público que acompanhou o webinar.

Durante toda a apresentação, os participantes se mostraram abertos a discorrer, de forma clara e facilitada, sobre o atual cenário de diagnóstico na pandemia, sempre priorizando a informação de que a segurança da população está diretamente atrelada à realização adequadas de testes validados e com eficácia e qualidade comprovadas.

Ao encerrar, inclusive, Vergara reforçou a importância dos jornalistas e profissionais de comunicação na conscientização da população quanto a necessidade de exigir exames de qualidade para diagnostico da COVID-19. “A população tem que pensar nisso para garantir a própria saúde”, declarou.

Negligenciar manifestações neurológicas associadas à COVID-19 nos coloca em uma rota errada

* Por Carlos Senne, presidente do Conselho do Senne Liquor Diagnóstico

3 de junho de 2020

Vivemos um momento de inúmeros desafios gerados pela disseminação mundial de um patógeno ainda pouco conhecido. Por isso, surgem desafios multidisciplinares que abrangem especialidades diversas e chegam, inclusive, à neurologia, já que possivelmente estamos falando de um vírus neurotrópico.

Em um primeiro momento, especialistas enxergavam a COVID-19 como uma afecção pulmonar. Posteriormente, foram apontados problemas de coagulação e vimos os pacientes infectados pelo novo coronavírus com sintomas renais. Na sequência, observaram-se manifestações neurológicas associadas à infecção. Nenhuma dessas constatações pode ser negligenciada.

Em fevereiro, antes mesmo de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia do novo coronavírus, surgiram estudos internacionais – muitos deles na China, primeiro país fortemente afetado pelo patógeno – apontando relações entre sintomas neurológicos e COVID-19. Um deles, por exemplo, afirmava que 36,4% dos 214 pacientes internados com infecção causada pelo novo coronavírus apresentavam sintomatologia neurológica, entre elas tontura, cefaleia e mialgia com aumento das enzimas musculares.

Além disso, verificamos que anosmia e ageusia, respectivamente perda do olfato e do paladar, poderiam aparecer em até 85% dos pacientes com diagnóstico confirmado, enquanto somente 18% deles desenvolviam obstrução nasal e rinorreia, indicando que esses sintomas não estão associados ao acometimento das mucosas, mas sim de nervos cranianos como, por exemplo, o nervo olfatório.

Comum em outras infecções graves, a encefalopatia também pode acometer pacientes infectados pelo novo coronavírus, gerando agitação psicomotora, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência causada por hipóxia, produção exagerada de mediadores inflamatórios com efeitos em SNC e até mesmo como resultado de medicações depressoras do SNC e crises epilépticas subclínicas.

Reforçamos: não podemos negligenciar e deixar de diagnosticar corretamente pacientes com suspeita de COVID-19 e manifestações neurológicas.

Estudos internacionais também destacam outras condições possivelmente associadas à COVID-19, como encefalopatia necro-hemorrágica, síndrome de Guillain-Barré, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e encefalite. Esta última, por sua vez, foi primeiramente apontada em um paciente chinês de 56 anos de idade com rebaixamento de consciência. Nesse caso, o exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) não mostrou alterações na celularidade e bioquímica, mas no RT-PCR foi identificado o novo coronavírus.

Na sequência, outro paciente analisado apresentou encefalite associada à COVID-19 com crises epilépticas refratárias após nove dias de sintomas respiratórios. Na ocasião, a ressonância magnética mostrou lesão compatível com encefalite. Em um terceiro caso estudado de paciente com encefalite, o LCR não foi coletado, mas a autópsia identificou o coronavírus no tecido cerebral.

Diante desse panorama, o acompanhamento neurológico é fundamental em pacientes acometidos pela COVID-19, com os médicos responsáveis sempre avaliando a necessidade de submeter essas pessoas a exames de LCR e de imagem, além de avaliações cognitivas e biomarcadores liquóricos como, por exemplo, o neurofilamento de cadeia leve (NfL).

Outro fato que precisa ser estudado emergencialmente e que nós, como especialistas em diagnósticos neurológicos, já estamos investindo em pesquisa, está nas consequências da COVID-19 durante a gestação e na saúde dos recém-nascidos. Estudos chineses mostram que as mulheres que contraíram a infecção no último terço da gestação tiveram bebês predominantemente saudáveis, nos quais não foi identificado o novo coronavírus, nem no líquido amniótico, nem no sangue. Porém, de que forma a COVID-19 pode afetar mulheres que engravidaram agora, durante a pandemia, e que, portanto, estão expostas ao patógeno nos primeiros meses de gravidez? A nossa experiência com o Zika Vírus associado à microcefalia nos obriga a ficar atentos a essa situação.

Em seis meses de convivência com o novo coronavírus, com toda a comunidade científica mundial debruçada em pesquisas e estudos para melhor compreensão de como o patógeno afeta o corpo humano, concluímos que se trata de uma doença multidisciplinar e que nenhum sintoma deve ser negligenciado, muito menos suas manifestações neurológicas.

* Carlos Senne é médico, especialista em patologia clínica e presidente do Conselho do Senne Liquor Diagnóstico

Advogada esclarece dúvidas sobre mudanças nas relações de trabalho durante pandemia

Conversamos com Daniela de Andrade Bernardo, sócia da área trabalhista do Machado Nunes

29 de maio de 2020

É inegável que a pandemia do novo coronavírus acuou – e transformou – diversos setores da economia, intervindo inclusive nas relações trabalhistas e nos modelos de negociação praticados em território nacional. No início de abril, o Governo Federal publicou a MP 936/2020 autorizando as empresas a reduzirem salários e jornadas e suspenderem contratos de trabalho, como forma de minimizar o impacto da crise no caixa dessas companhias preservando, de certa forma, a empregabilidade.

Ainda nesse cenário de incertezas, por intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), foi derrubado o artigo 29 da medida provisória 927/2020 que havia sido editada no final de março, com intuito de trazer alternativas para as empresas no enfrentamento do estado de calamidade pública que vivemos, afastando a presunção de que a COVID-19 não é doença profissional.

Somada à essas mudanças, temos também inclusão de muitos profissionais em modelos de trabalho à distância, tais como o trabalho remoto ou teletrabalho que, também, geram questionamentos.

Para responder às principais dúvidas sobre as alterações propostas durante a pandemia de COVID-19, conversamos com Daniela de Andrade Bernardo, sócia da área trabalhista do Machado Nunes. Confira a entrevista completa.

Abramed em foco – Posso fazer as reduções temporárias de jornada e salário permitidas pela MP 936/2020 por meio de acordos individuais?

Daniela Bernardo – Depende da redução. Existem três faixas de corte salarial com redução proporcional da carga horária. Quando o corte for de 25%, a mudança pode sim ser feita por acordo individual entre empregador e empregado independentemente do nível salarial. Já quando essa redução for de 50% ou 70%, os acordos individuais só podem ser firmados com empregados que ganham menos de R$ 3.135,00 ou mais de R$ 12.202,12 e, neste último caso, desde que o colaborador seja portador de diploma de nível superior. Aqueles que estiverem entre esses dois patamares só podem celebrar acordos com seus contratos modificados por acordo ou convenção coletiva com participação do sindicato. Lembrando que não é permitida a redução do salário sem redução proporcional da carga horária e há uma limitação de redução por, no máximo, 90 dias. Importante frisar que estão em tramitação no Senado alterações na MP 936/2020 que podem modificar as faixas salariais, sendo imprescindível acompanhar as notícias para compreender essas mudanças.

Abramed em foco – E como funciona a suspensão do contrato de trabalho?

Daniela Bernardo – Para empresas, no ano calendário de 2019, com receita bruta até R$ 4,8 milhões, durante a suspensão temporária de até 60 dias o governo se compromete a pagar 100% da parcela do seguro-desemprego que o empregado teria direito. Já empresas com receita bruta superior ao mencionado devem fornecer, ao empregado, uma ajuda de custo compensatória equivalente a 30% do seu salário. Durante o período em que o contrato estiver suspenso, é importante que os empregadores compreendam que o empregado não deve estar à disposição da companhia, nem mesmo enviando e-mails.

Abramed em foco – Agora a COVID-19 é considerada doença profissional?

Daniela Bernardo – Não podemos dizer exatamente dessa forma. O que ocorreu foi que o STF afastou a presunção de que a COVID-19 não é doença profissional. O artigo 29 da MP 927/2020 dizia que os casos de contaminação pelo novo coronavírus não seriam considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. A anulação desse artigo não torna todos os casos de COVID-19 automaticamente doença de trabalho. O posicionamento do STF, nesse caso, ratifica a necessidade de as empresas promoverem medidas e controles ocupacionais para que possam provar a inexistência de nexo causal entre a infecção e as atividades de trabalho.

Abramed em foco – Como as empresas podem se proteger?

Daniela Bernardo – O principal é que todas as empresas se munam de documentos que comprovem suas ações em prol da proteção dos empregados e do combate ao contágio dentro do ambiente de trabalho. Entre as medidas, podemos destacar o envio de comunicados com orientações sobre a COVID-19 e que informem sobre as medidas adotadas pela instituição; investir em atendimento separado e bem sinalizado aos pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus; reforço nos processos de limpeza dos espaços; fornecimento contínuo de equipamentos de proteção individual; reforço da importância da higienização das mãos e oferta de álcool em gel; controle e acompanhamento dos trabalhadores infectados; liberação do home office para profissionais de áreas administrativas que podem desempenhar atividades remotamente; entre outras ações positivas diante da crise.

Abramed em foco – E como deve ser a interpretação da COVID-19 como doença ocupacional?

Daniela Bernardo – Segundo a Lei n° 8.213/91, doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho ou em função de condições especiais em que o trabalho está sendo realizado. Além disso, está previsto na referida lei que a perícia médica do INSS considerará a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o caso. Nesse cenário, caberá às empresas adotarem medidas eficazes de controle e gestão na saúde para eventualmente discutirem esses enquadramentos e demonstrarem que a COVID-19 não pode ser reconhecida como doença profissional.

Abramed em foco – O home office passou a ser realidade para muitas empresas, como funciona esse modelo de trabalho durante a pandemia?

Daniela Bernardo – O teletrabalho foi regulamentado pela reforma trabalhista de 2017 e passou a ser um regime que poderá ser adotado através de um aditivo no contrato de trabalho que trará definições claras sobre o funcionamento do home office.

Porém, durante a pandemia de COVID-19, a MP 927/2020 faz algumas abordagens relativas ao trabalho remoto, inclusive dispensando da necessidade de alteração do contrato de trabalho. Mas nossa recomendação é a de que é sempre importante termos tudo documentado. O que não ficou claramente acordado não pode ser usado em uma futura defesa. Combinar a regra do jogo é sempre importante antes de iniciar o jogo.

Abramed em foco – Que precauções devemos tomar com aqueles colaboradores que estão desempenhando trabalho remoto?

Daniela Bernardo – É importante enfatizar que o trabalhador não pode trabalhar de forma ininterrupta, há o direito à desconexão. Observar a carga horária é fundamental para evitar problemas futuros. Para isso, é preciso existir uma separação clara entre residência e local de trabalho, visto que é natural que a falta de deslocamento entre esses dois ambientes físicos leve as pessoas a estender as horas trabalhadas deixando de lado o descanso necessário entre os turnos. É importante lembrar, também, de questões ergonômicas, até porque o trabalho remoto foi imposto de forma emergencial e as pessoas não tiveram como preparar suas casas para essa atuação.  

Daniela de Andrade Bernardo também participou do webinar promovido pela Abramed no dia 15 de abril para tratar sobre as atualizações jurídicas e de recursos humanos durante a pandemia. Clique AQUI para assistir à apresentação.

No Brasil, 87,9% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados quando não há mais possibilidade cirúrgica

A descoberta tardia reduz consideravelmente a sobrevida do paciente; a cada dez casos, oito estão relacionados ao tabaco

28 de maio de 2020

Dia 31 de maio comemora-se o Dia Mundial sem Tabaco, ação que teve início nos anos 1990 e que colocou o Brasil sob holofotes mundiais por ter reduzido de 15,7% em 2006 para 9,3% em 2018 o número de fumantes no país, segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas do Ministério da Saúde (Vigitel). Agora é preciso lutar contra mais um dado alarmante: quase 90% dos casos de câncer de pulmão em território brasileiro são diagnosticados já na fase grave da doença, quando não há mais possibilidade cirúrgica.

Dados compilados pela edição 2019 do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico mostram que, em 2010, 87,9% das neoplasias de brônquios e pulmão foram identificadas com estadiamento III e IV. Quando a doença é percebida ainda no estadiamento I, há um bom prognóstico. Esse prognóstico vai piorando a medida em que o estágio aumenta. Os exames de diagnóstico são fundamentais para que o médico responsável possa avaliar a extensão da doença. Normalmente são utilizados exames de imagem (como raios X, tomografia computadorizada, ressonância magnética e PET Scan) e, muitas vezes, uma biópsia se faz necessária.

De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, o tratamento para o câncer de pulmão diagnosticado nos estadiamentos I e II envolve o procedimento cirúrgico seguido de quimioterapia e radioterapia. Já quando o diagnóstico se dá nos estadiamentos III e IV, a possibilidade da cirurgia é descartada, e a recomendação é de tratamento quimio ou radioterápico.

O INCA afirma que em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco.

Quanto esse atraso no diagnóstico reduz a sobrevida do paciente?

Há uma subdivisão na classificação do câncer de pulmão que responde diretamente pela gravidade da doença: o câncer de pulmão de pequenas células, que, segundo o Instituto Oncoguia representa de 10% a 15% dos cânceres diagnosticados, é mais agressivo e tende a crescer e se disseminar mais rapidamente do que o de não pequenas células, que representa até 85% dos diagnósticos de câncer de pulmão.

Segundo o Instituto, quando a doença é diagnosticada na fase inicial, ou seja, quando o câncer é localizado, a taxa de sobrevida relativa em cinco anos é de 61% para pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células e de 27% para aqueles com câncer de pulmão de pequenas células. Quando há atraso considerável no diagnóstico e a doença é visualizada nas fases mais tardias, quando o tumor já se disseminou para outros órgãos, a taxa respectivamente cai para 6% e 3%.

Por que há tanto atraso?

Hoje, a tomografia computadorizada figura como a metodologia prevalente para diagnóstico do câncer de pulmão. Em um país continental como o Brasil, é visível a concentração tanto de equipamentos quanto de médicos altamente especializados nas regiões mais desenvolvidas. Um dos fatores que contribuem para o atraso no diagnóstico está na falta de disponibilidade da tomografia computadorizada, principalmente da rede pública.

O Painel Abramed aponta que a distribuição de equipamentos de tomografia computadorizada não é homogênea no território nacional. Enquanto algumas regiões concentram parte importante da oferta, outras se encontram distantes de qualquer centro de prestação de serviços de imagem.

Atrelada à questão da infraestrutura, a ausência de programas efetivos para rastreamento e o fato de que os sintomas geralmente não ocorrem até que a doença já esteja agravada (algumas pessoas chegam a apresentar tosse, falta de ar, dor no peito e rouquidão na fase inicial, mas por serem bastante inespecíficos, esses sintomas não costumam despertar o alerta para o câncer, fazendo com que o paciente demore a buscar atendimento médico) consolidam a base do atraso no diagnóstico do câncer de pulmão.

Referências:
Diagnóstico e estadiamento do câncer de pulmão
SBOC – Câncer de Pulmão – Pequenas células
SBOC – Câncer de Pulmão – Células não-pequenas: doença localizada e localmente avançada
INCA – Câncer de Pulmão
Instituto Oncoguia