Com tecnologia como aliada, medicina diagnóstica vislumbra futuro próspero

Marcelo Lorencin, da Shift, fala sobre a gestão da crise e as possibilidades do setor no pós-pandemia

08 de junho de 2021

São 15 meses de pandemia. O setor de medicina diagnóstica, que ganhou protagonismo diante da crise, sentiu os efeitos negativos do novo coronavírus – que afastou os pacientes dos laboratórios e clínicas de imagem, reduzindo as atividades drasticamente durante alguns meses – mas já entrou em rota de recuperação. Segundo Marcelo Lorencin, CEO da Shift, empresa especializada em Tecnologia da Informação (TI) para medicina diagnóstica, houve um aumento significativo das vendas da companhia nesse primeiro semestre de 2021.

Em entrevista exclusiva para a Abramed em Foco, o executivo fala sobre como a adesão tecnológica pode auxiliar o setor a expandir; a relevância da ciência de dados e da humanização, colocando o paciente sempre no centro do cuidado; a tendência de ampliação de portfólio dos laboratórios clínicos e as boas perspectivas da empresa para o futuro.

Confira entrevista completa.

Abramed em Foco – Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pela Shift na pandemia e como a companhia trabalhou para vencer esses desafios?

Marcelo Lorencin – Ao longo destes mais de 15 meses de pandemia, experimentamos diferentes desafios, em diversas fases. Os primeiros meses, por exemplo, foram marcados por uma queda significativa na demanda de nossos clientes. Laboratórios chegaram a registrar uma redução superior aos 75% da demanda nas primeiras semanas de pandemia. Diante desse cenário, foi fundamental nos posicionarmos como parceiros dos nossos clientes e fornecedores, adotando uma estratégia voltada para um olhar sistêmico. Algumas negociações foram necessárias de todos os lados. Levando em consideração que todos estavam enfrentando o mesmo desafio, não cabiam decisões individuais. Sabíamos que somente uma visão do todo seria capaz de manter todos vivos e isso era fundamental para a sustentabilidade de toda cadeia. Nossos clientes, por sua vez, tiveram o mesmo olhar.

Do ponto de vista interno, mantivemos todos os colaboradores, pois diminuir custos seriam desligamentos, o que teria resultados desastrosos a longo prazo. Usamos nossa equipe para apoiar os clientes remotamente, capacitamos à distância, e assim mantivemos toda nossa estrutura.

Já no segundo semestre, houve a retomada e crescimento da demanda de exames, impulsionados tanto pela maior consciência da importância da saúde e crescente busca pela prevenção, quanto pelo adoecimento da população, além do elevado número de exames de COVID. Neste momento, o grande desafio foi o trabalho remoto junto aos clientes, o que aos poucos foi se adaptando.

Em 2021, muitos Centros de Diagnósticos retomaram seus investimentos e já vínhamos em constante preparação para um aumento da demanda por serviços de TI. O desafio hoje é outro: a escassez da mão de obra de TI, que está em déficit, e a locomoção das equipes para implantação e treinamento de novos clientes, mas temos administrado isto e retomamos agora no final deste semestre ao ritmo anterior a pandemia, buscando alternância de entrega dos projetos entre serviços remoto e local.

A pandemia de COVID-19 afetou todos os setores da economia. Porém, com a mudança de hábitos e as novas necessidades que surgiram, algumas atividades se desenvolveram. Os laboratórios e clínicas de imagem aproveitaram esse momento para investir em tecnologia?

No ano de 2020, nossa base de clientes demandou muitos serviços para atendimento remoto, customizações, automatização e projetos utilizando o nosso aplicativo mobile para agendamento, pré-atendimento de pacientes e coleta domiciliar. Entretanto, no primeiro semestre e início do segundo semestre de 2020, as vendas de novos projetos inevitavelmente desaceleraram, pois muitos laboratórios e clínicas de imagem optaram por preservar seu caixa. Porém, aos poucos, com o aumento da demanda e os desafios operacionais, muitos conscientizaram-se da importância do investimento em tecnologias de amplo escopo, capazes de atuar nas frentes de eficiência operacional, gestão, qualidade e jornada do paciente, que são diretrizes de nossas soluções. Isso provocou um aumento significativo nas vendas de 2021.

Como a ciência de dados pode auxiliar o crescimento do setor de medicina diagnóstica, principalmente no período pós-pandemia?

É sabido da importância dos dados para tomada de decisões, seja do ponto de vista operacional, gestão e/ou geração de informação de saúde. Os laboratórios e clínicas de imagem são responsáveis por 70% das decisões médicas e isto é algo inegável e com um valor inestimável. Ainda existe muito espaço para esta evolução, em especial por sabermos da fragmentação dos dados. Os centros diagnósticos são detentores de apenas uma parte das informações disponíveis do “prontuário”, ou seja, do histórico de um paciente. No entanto, mesmo assim, podem trazem muitos insights, conhecimentos. Transformando dados em informação de valor e gerando conhecimento científico a partir disso.

A medicina diagnóstica brasileira vem batalhando para ampliar o acesso aos exames. E sabemos que a tecnologia tem papel fundamental nessas estratégias. Quais os desafios, na sua visão, para que consigamos aplicar a tecnologia na expansão do setor?

Temos um grande desafio para garantir o acesso à saúde, de um modo geral. Existe uma demanda crescente por conta do envelhecimento da população, da própria pandemia e dos avanços da tecnologia na nossa área de atuação, tanto as tradicionais, com o surgimento de novos exames e perfis, bem como de novos formatos, sejam de TLR (testes laboratoriais remotos) ou de exames digitais.

O laboratório e a clínica de imagem podem, se souberem aproveitar, ter uma expansão considerável neste sentido, inclusive navegando mais para a medicina preventiva, sendo um parceiro do setor. A tecnologia, não só da informação, mas de todas as frentes – as já citadas e outras, como por exemplo, devices, wearables, ciência de dados, inteligência artificial – poderão potencializar a expansão do setor. Mas, como sabemos, é fundamental trabalharmos no acesso, visto que, grande parte da população, encontra-se dependente do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, segundo estudos, mais de 45% delas não possuem acesso pleno à internet. Ainda que a teleconsulta gratuita seja liberada, por exemplo, para todo o Brasil, temos um desafio de logística, e isto tem que ser pensado de forma ampla.

A jornada do paciente, com a tecnologia, estende-se muito além da visita aos laboratórios e clínicas de imagem e a obtenção de resultados pela internet e/ou aplicativos. Esta é uma transformação que veremos rapidamente nos próximos anos e isto tem sido potencializado pela necessidade da conveniência de serviços remotos, ágeis e personalizados.

Pensando nas empresas de pequeno e médio porte da área de medicina diagnóstica, enxerga como tendência de mercado a ampliação do portfólio de serviços dos laboratórios? Eles começaram a ofertar uma gama mais variada de exames?

Sim, a oferta de novos exames não é uma exclusividade das grandes redes. Os centros diagnósticos têm buscado diferenciação e ampliação de seu portfólio, seja com investimentos em novos equipamentos ou por meio de parcerias com laboratórios de apoio. Neste aspecto, inclusive, alguns já estão se movimentando para TLR e, alguns poucos, para oferta de serviços digitais.

O setor de medicina diagnóstica sempre teve muito foco em qualidade. Com a pandemia, quando surgiram alguns testes pouco confiáveis e houve um movimento grande para garantir que entrassem no mercado apenas testes validados, essa busca tornou-se ainda mais visível. Você enxerga um movimento dos laboratórios para ampliar o reconhecimento de seus serviços e a qualidade dos atendimentos?

Não há dúvidas com relação a isso. A Shift tem um portfólio de clientes que são referências em todo o Brasil e dos quais temos muito orgulho. Pelo menos 75% de nossos clientes dispõem de uma ou mais certificações e/ou acreditações, seja ela PALC, DICQ, PADI, ONA, ISO ou até mesmo internacionais como o CAP, e isso tem aumentado a cada dia. Vemos muita procura e resultados, pois a qualidade traz robustez aos clientes, não só do ponto de vista técnico, como também de processo e até gestão. Por conta disso, eles perceptivelmente destacam-se no mercado, com eficiência operacional, pouco retrabalho e impactando positivamente na vida dos pacientes, o que acaba sendo valorizado pelo mercado (pacientes, médicos e fontes pagadoras). Os próprios programas de acreditação têm avançado em várias frentes. Indo muito além da qualidade dos exames, trazendo uma visão ampla e sistêmica para os laboratórios. E isso não é diferente nas clínicas de imagem.

Vivemos uma era da humanização em saúde?

A tecnologia e seu desenvolvimento devem estar centrados no lado humano, esse é o mundo ideal em todos os setores e, no caso da saúde, que a tecnologia ajude a colocar cada vez mais o paciente no centro dos cuidados. Meu sonho é que em um futuro muito próximo ela seja capaz não só de proporcionar um aumento na gama de serviços oferecidos, mas também de ampliar e democratizar o acesso à saúde.

Quais as perspectivas de negócios da Shift para os próximos meses?

As perspectivas são muito boas. As vendas estão acontecendo e os projetos sendo entregues, ajudando os laboratórios a avançarem com seu processo de expansão e performance. A Shift também tem ampliado seu escopo de atuação. Acabamos de disponibilizar para o mercado um módulo completo de anatomia patológica e temos investido na consolidação do RIS para clínicas de imagem. Buscaremos alcançar essa mesma referência que somos em laboratórios, nestas outras frentes. Outras iniciativas, relacionadas à transformação digital estão em fase final de amadurecimento.

Como enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

A Abramed, por sua representatividade e atuação exponencial, tem um papel fundamental no setor exatamente por sua capacidade de unir todos os elos dessa importante cadeia da saúde, que é a medicina diagnóstica. Estamos falando de uma entidade com uma abrangência muito significativa em todo país, conduzida por time de peso que ao longo desses anos tem atuado com pulso firme e muita competência para construir um grande legado de apoio, seja nos diálogos com as organizações governamentais e regulatórias, parceria com a comunidade científica, e na geração de conteúdo e conhecimento, entre outras frentes que ajudam a fortalecer o protagonismo e sustentabilidade do setor de medicina diagnóstica. Além de todos os anos trazerem um cenário muito sólido do setor, com o Painel Abramed, que traz dados que ajudam a direcionar o trabalho de todos os stakeholders e players do mercado.

Todo o reconhecimento aos profissionais dos Laboratórios Clínicos

Assinado por Luiz Fernando Barcelos, presidente da SBAC, artigo homenageia os trabalhadores da medicina diagnóstica

* Por Luiz Fernando Barcelos

Como não enfatizar a atuação incansável dos profissionais dos Laboratórios Clínicos ao longo da pandemia de COVID-19? Esses trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente, assim como nos demais Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento (SADT), dentro ou fora dos hospitais, merecem todo o nosso reconhecimento.

A infecção pelo novo coronavírus reforçou a competência das nossas equipes laboratoriais. Quando um indivíduo começa a apresentar febre, tosse seca, cansaço ou outros sintomas sugestivos, é o teste RT-PCR, apontado como padrão ouro para detecção da COVID-19, que indicará se ele está ou não infectado. Somado a exames de imagem como a tomografia computadorizada do tórax capaz de apontar alterações típicas dessa infecção.

Em tantos casos em que a doença se agrava e acarreta internação, novamente são os exames laboratoriais responsáveis pelo monitoramento daquele paciente durante todo o período em que está hospitalizado. Entre os exames laboratoriais relevantes em casos de COVID-19 estão hemograma, gasometria arterial, coagulograma, proteína C-reativa, perfil metabólico, glicemia, ferritina, desidrogenase lática, biomarcadores cardíacos, hemoculturas, entre tantos outros. Quantos profissionais estão envolvidos e dedicados às análises dessas amostras? São, inclusive, os resultados desses exames os responsáveis também por basear a tomada de decisões médicas para que aquele paciente tenha alta assim que estiver estabilizado e pronto para ir para casa.

No processo de recuperação, esse paciente também será acompanhado por exames diversos para analisar possíveis sequelas da COVID-19 e checar a evolução de seu quadro clínico.

Enfim, sistematicamente, o Laboratório Clínico é essencial no diagnóstico, no acompanhamento, nos critérios de alta e cura dos pacientes em todas as patologias.

E não podemos nos esquecer que esses profissionais que se dedicam as análises clínicas também alimentam um banco de dados epidemiológicos extremamente importante para que governantes possam adotar medidas sanitárias, políticas e sociais para controle da pandemia. Sem saber se os casos estão aumentando ou diminuindo – por meio dos exames que são notificados – não há como traçar uma estratégia.

Precisamos colocar os profissionais dos Laboratórios Clínicos e dos Serviços Auxiliares de Diagnóstico lado a lado com todos os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais envolvidos na linha de frente prestando uma assistência incansável e impecável diante de um cenário de pressão, estresse e cansaço. Esses trabalhadores da saúde estão dando suporte para que todas as outras especialidades possam compreender as condições clínicas de cada indivíduo infectado, garantindo um melhor prognóstico.

Devemos reconhecer e homenagear os profissionais dos Laboratórios Clínicos por toda dedicação ao sistema de saúde brasileiro.

* Luiz Fernando Barcelos é presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas


Nunca é demais falar sobre a Lei Anticorrupção, não é mesmo?

Cumprimento da norma garante efetividade aos programas de compliance

11 de maio de 2021

A ética é um dos pilares mais importantes dentro dos serviços de saúde, sejam eles públicos ou privados. Mas ao mesmo tempo em que é vital para a população, o setor de saúde é uma área onde também podem ocorrer conflitos de interesse.

Para tanto, é necessário que as empresas deste segmento atuem em conformidade com leis e regulamentos, dando mais transparência na gestão, nas relações e, com isso, trazendo mais qualidade e segurança aos pacientes.

O Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pela ONU em 2003, em que ficou consignado que os participantes deveriam implantar medidas para dar mais efetividade ao combate à prática corrupta em seu território ou em outras nações.

Os escândalos e a prisão de grandes executivos na última década, aliados à pressão popular, fizeram com que fosse aprovada a lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013.

Conhecida como Lei Anticorrupção, em vigor desde 29 de janeiro de 2014, a norma trata da responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos de corrupção contra a administração pública, nacional ou estrangeira, encerrando a regra tradicional de responsabilidade subjetiva, e atende ao pacto internacional firmado pelo Brasil. O objetivo é coibir a atuação de organizações em esquemas de corrupção e, assim, evitar que grandes prejuízos sejam causados aos cofres públicos.

“Nossa Lei Anticorrupção demorou para ser sancionada se compararmos com outras legislações, como, por exemplo: a lei anticorrupção dos Estado Unidos, sancionada em 1977 (Foreign Corrupt Practices Act), e a lei do Reino Unido (UK Bribery Act), de 2010. De todo modo, o benefício da tardia aplicação é poder aprender e implementar de forma mais célere grandes mudanças que outros países já promoveram no passado, evitando-se repetir os mesmos equívocos, visando, sobretudo, a conscientização da sociedade”, explica Leandro César dos Santos, coordenador da área Corporate do Escritório Machado Nunes Advogados e membro do Comitê de Governança, Ética e Compliance (GEC) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Até 2019, o Brasil ocupava a 75ª posição no ranking mundial de corrupção percebida, sendo que o custo médio anual suportado pelos cofres em razão disto era de cerca de R$ 41,5 bilhões.

“De 2014 para cá, conseguimos enxergar um avanço significativo acerca da conscientização geral da sociedade e, em especial, no mundo dos negócios. Basta pensarmos que hoje é quase que impraticável fazer negócios com empresas que não possuem programas de compliance e/ou não queiram observar as normas de conduta dos players em que prestarão seus serviços. As cláusulas de boas práticas e compliance tornaram-se corriqueiras nos contratos empresariais em geral, pois evitar a corrupção tem se mostrado mandatório pelas organizações”, esclarece Santos.

Regulamentada pelo decreto federal nº 8.420/2015, a mencionada lei tipifica diversas condutas lesivas que podem vir a ser praticadas pelas instituições e prevê, por exemplo, a aplicação de multa administrativa de até 20% do faturamento bruto anual da empresa (caso o valor não seja mensurado, o limite da multa é de R$ 60 milhões).

Uma inovação trazida pela norma foi a previsão do acordo de leniência – instrumento que facilita a recuperação de prejuízos causados aos cofres públicos, pois permite redução da multa caso a empresa admita sua participação no ilícito, coopere efetivamente com as investigações no processo administrativo e atue para ressarcir os danos causados.

Além da responsabilidade objetiva da pessoa jurídica, que desconsidera a necessidade de dolo ou culpa por parte do agente, para aplicação das sanções e penalidades previstas, a Lei Anticorrupção pune individualmente seus dirigentes ou administradores, não excluindo ainda qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe de ato ilícito. E sequer será necessário que o funcionário aceite vantagens para que o caso de corrupção seja caracterizado. Ou mesmo que a vantagem seja de caráter econômico ou financeiro.

“Com isso, as estruturas de compliance das organizações deverão atuar de forma efetiva e preventiva, sem perder de vista a atualização necessária de tempos em tempos. Um programa de compliance que não se atualiza pode perder parte de sua efetividade, afinal, as instituições são orgânicas e estão sujeitas à mudança de seu modus operandi a todo o momento”, ressalta Santos.

Evolução e efetividade

A Lei anticorrupção é considerada um dos maiores marcos do compliance no setor da saúde no país e trouxe avanços importantes para os mecanismos de cumprimento dos atos, regimentos, normas e leis estabelecidos interna e externamente e para a integridade do ambiente empresarial, como um todo.

“A norma é a esperança de mais integridade nas instituições de saúde e possibilidade delas adotarem uma postura no sentido de aperfeiçoar a gestão e garantir uma relação íntegra com todos os públicos envolvidos: colaboradores, fornecedores, clientes e representantes”, destaca Arthur Ferreira, diretor-executivo do Instituto de Análises Clínicas de Santos (IACS) e membro do GEC da Abramed.

Para tanto, Ferreira afirma que é fundamental implementar um programa de compliance efetivo, com uma visão crítica e isenta, que entenda às necessidades e que melhor se adequa à realidade da empresa e das suas relações.

A própria lei 12.846/2013 não trata com profundidade da atividade de compliance, isso é feito pelo decreto 8.420/2015. Ele determina que as organizações implementem um programa de conformidade que estabeleça códigos de conduta ética, políticas e procedimentos de integridade, que devem ser estendidos a todos os integrantes da empresa, desde a alta administração até os colaboradores, independentemente do cargo exercido.

“Fato é que as instituições se tornaram as principais responsáveis por evitar, controlar e remediar, inclusive com punição, os atos antiéticos e de corrupção internamente”, garante Ferreira.

Nesse sentido, os profissionais de compliance adquiriram importância estratégica de zelar pelo compromisso com a conformidade às leis e à ética. Por isso, é fundamental divulgar a Lei Anticorrupção e seu decreto regulador entre todos os funcionários, colaboradores e parceiros da empresa, deixando claro sua intolerância ao descumprimento de regras de Código de Conduta, Políticas e Procedimentos do grupo empresarial.

“Todos esses pilares podem mitigar os riscos de sanções da norma, mas será necessário investir recursos na capacitação de seu público interno e externo”, lembra o diretor-executivo do IACS.

As organizações ainda devem criar canais de denúncia, estimulando colaboradores, parceiros, fornecedores e pacientes a informar, sigilosamente, procedimentos que contrariem normas da organização; e uma área de gestão de riscos específicos para identificar as atividades mais suscetíveis e as pessoas mais expostas a prováveis práticas ilegais, disponibilizando material educativo, a fim de manter mecanismos de prevenção adequados.

“É importante relembrar que mais do que ter um programa de compliance no papel, o efetivo cumprimento e a disseminação do programa é que farão a diferença no mercado. Felizmente, o sucesso de uma empresa nos dias de hoje está diretamente atrelado às suas boas práticas e quão ética é sua postura com os demais stakeholders”, garante Leandro César dos Santos.

Medicina diagnóstica na prevenção de novas pandemias

Setor atua para identificar patógenos potencialmente pandêmicos e evitar que eles se espalhem rapidamente

10 de maio de 2021

Vivenciar uma pandemia infecciosa como a que estamos vivendo gera muita dor (IPRescue), porém muitos aprendizados a todos os setores da economia. Na saúde, além da enorme pressão que a COVID-19 desencadeou exigindo a tomada rápida de decisão e o investimento em plataformas de inovação, o legado deixado pelo novo coronavírus será extremamente útil para a prevenção de novas pandemias e a paralisação de surtos antes do caos. Nesse contexto, a medicina diagnóstica tem um papel extremamente relevante.

Um artigo publicado no periódico internacional The Lancet afirma que muitos patógenos humanos têm origem na fauna. Segundo o documento, aproximadamente 80% dos vírus e 50% das bactérias que infectam o homem são zoonóticos. Para garantir que novos patógenos cheguem às comunidades, é preciso observar atentamente as relações interespécies. “Principalmente em um cenário de ampla urbanização e devastação ambiental”, pontua Wilson Shcolnik, presidente do conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Nas últimas décadas os avanços, principalmente em diagnóstico molecular, foram absolutamente relevantes. Possibilitaram, inclusive, a descoberta de patógenos até então desconhecidos na natureza, garantindo maior agilidade na detecção de doenças potencialmente transmissíveis e infecciosas. Foi uma metodologia diagnóstica molecular a responsável pela identificação, há alguns anos, do primeiro coronavírus SARS.

O que o mundo da ciência vem apontando é que, para termos esse controle mais rígido da migração de patógenos, o mundo precisa se unir rumo à um sistema global de monitoramento. Artigo publicado no The British Medical Journal e assinado por especialistas em prevenção de doenças diz que o primeiro passo é aplicar as mais recentes tecnologias diagnósticas – como métodos multiplex e sequenciamento genético de nova geração, cujos custos vêm caindo com a evolução da técnica – na detecção precoce e em tempo real de qualquer possibilidade de migração de patógenos potencialmente pandêmicos entre as espécies.

Saindo do âmbito da prevenção, caso novos vírus e bactérias consigam vencer as barreiras naturais representadas pelo sistema imunológico e as outras barreiras já testadas na pandemia de COVID-19, a medicina diagnóstica segue fortalecendo um derradeiro bloqueio com a implementação de rápida testagem para confirmação dos diagnósticos, identificação dos infectados, direcionamento aos tratamentos existentes e comprovadamente eficazes, e bloqueio da cadeia de transmissão.

“Ainda no primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia estava começando a se espalhar pelo globo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que “testar, testar e testar” era o melhor caminho para conter o SARS-CoV-2. Porém, o mundo não estava tão preparado para essa demanda crescente. Mas nosso papel é impedir que a história se repita”, diz Shcolnik.

Ao avaliar as ações tomadas no início dessa pandemia, pudemos observar já um cenário dentro desse contexto. Os cientistas – inclusive brasileiros – conseguiram sequenciar em poucas horas o novo coronavírus, o que possibilitou que os sistemas de saúde agissem rapidamente para providenciar kits de testes e investir em medidas de controle. Os laboratórios privados brasileiros, inclusive, foram exemplares criando, in house e em tempo recorde, seus próprios kits para detecção da infecção e, posteriormente, ampliando a variedade de metodologias diagnósticas para ampliar o acesso da população aos exames.

Esse é um dos aprendizados que prometem tornar novas pandemias mais controláveis no futuro. “Caso uma nova pandemia venha a se instalar, já temos histórico, conhecimento e expertise para tornar esse cenário ainda mais otimizado e pronto para vencer qualquer patógeno”, reforça o presidente da Abramed.

Abramed participa de encontro com ministro Marcelo Queiroga

Entidade esteve presente em reunião promovida dia 3 de maio pelo ComSaude, da Fiesp

07 de maio de 2021

Em encontro promovido em 3 de maio pelo Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia (ComSaude), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, apresentou propostas, ações e perspectivas para o setor. Na ocasião, reforçou que a prioridade atual é a vacina e mencionou ser plausível imunizar toda a população do Brasil contra a COVID-19 até o final de 2021. Nessa reunião, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) esteve presente e foi representada por Wilson Shcolnik e Claudia Cohn, presidente e membro do Conselho de Administração da entidade.

Depois de traçar um breve panorama sobre a campanha de vacinação do Brasil, afirmando que o país já entregou mais de 70 milhões de doses aos gestores estaduais e municipais, Queiroga pontuou que o orçamento do Ministério da Saúde em 2020 foi de R$ 183 bilhões e que, agora em 2021, houve uma redução e a pasta conta com cerca de R$ 130 bilhões para cumprir seus compromissos.

Segundo o ministro, uma portaria com investimento de R$ 1 bilhão na atenção primária está sendo apresentada como forma de amplificar a assistência em território nacional.

Ruy Baumer, diretor-titular do ComSaúde, da Fiesp, reforçou que o comitê visa aumentar a interlocução entre o setor, o poder público e o mercado, aproximando todos os elos que constituem a complexa cadeia da saúde no país. Além disso, pontuou que o segmento está à disposição do ministério, apoiando suas ações. “Como todos nós sabemos, a saúde não para. Temos muitos outros temas que não podem ser esquecidos, como procedimentos represados”, disse. Além da Abramed, também estiveram presentes outras diversas lideranças da saúde.

Healthcare Talks debate os pilares da medicina diagnóstica brasileira

Encontro virtual reuniu lideranças para tratar do protagonismo do setor durante e no pós-pandemia

1º de maio de 2021

Líderes da medicina diagnóstica estiveram reunidos na tarde de 29 de abril para debater o protagonismo do setor nos tempos atuais. O evento, intitulado Healthcare Talks e promovido pelo Grupo Mídia, recebeu o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, que trouxe alguns dos principais pleitos dos laboratórios e clínicas de imagem para um rico debate virtual junto a Claudia Cohn, CEO do Alta Excelência Diagnóstica e membro do conselho da Abramed; Adriano Caldas, general manager da Guerbet; e Carlos Gouvêa, presidente-executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL).

Na primeira parte do bate-papo moderado por Carla de Paula Pinto, editora do Grupo Mídia, os executivos falaram sobre alguns dos pilares da medicina diagnóstica brasileira: pioneirismo, espírito colaborativo, senso de urgência e competência.

Para Claudia, o ramo de diagnóstico exige pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica em um fluxo constante e, mesmo que nenhum país estivesse preparado para enfrentar uma pandemia como a de COVID-19, a agilidade das empresas e dos profissionais do setor na busca por ferramentas e estratégias para combater o novo coronavírus precisa ser destacada. “Foi o pioneirismo que nos permitiu a rapidez na criação dos testes necessários para uma maior testagem populacional e que nos levou, também, à uma rápida ação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na incorporação desses exames, nos garantindo a chance de exercer a função diagnóstica que precisávamos”, declarou.

Na sequência, ainda falando sobre o protagonismo do segmento, Shcolnik destacou que os bons resultados foram conquistados graças à união dos diversos players que compõem a cadeia de saúde. “O espírito colaborativo é o que eu ressalto. Sem a indústria que nos fornece os kits e os materiais; sem os equipamentos apropriados que nos levam à maior capacidade operacional; e sem os profissionais de saúde especializados e dedicados, nenhum bom resultado teria sido possível”, disse. Nesse mesmo sentido, Gouvêa relembrou a união de várias entidades, entre elas a CDBL e a Abramed, na construção de um projeto de validação de kits de testes de diagnóstico de COVID-19 para garantir a qualidade da testagem no país. “Hoje o valor do diagnóstico está ainda mais claro”, afirmou.

Ao pioneirismo e ao espírito colaborativo, Caldas acrescentou o senso de urgência e a competência do setor durante a crise de COVID-19. “O sistema de saúde e a medicina diagnóstica responderam às demandas na velocidade adequada desenvolvendo rapidamente as soluções necessárias e, ao mesmo tempo, tomando todos os cuidados para que essas soluções fossem seguras para a melhor gestão da pandemia”, pontuou.

Tecnologia

Para iniciar um novo ciclo de debates, Carla questionou os participantes sobre a importância dos avanços tecnológicos no setor de diagnóstico no combate à pandemia.

Shcolnik fez questão de enfatizar: “a medicina diagnóstica é 100% dependente de tecnologia”. Mas complementou que toda a tecnologia implementada carece de avaliação, teste e validação. Para isso, fez uma analogia e comparou os processos tecnológicos da medicina diagnóstica à aviação. “Somos como uma aeronave que, antes de levantar voo, passa por uma série de checagens feitas pelos pilotos para garantir a segurança dos passageiros. Na saúde, tudo deve ser testado – e precisa de pilotos experientes – para não incorrermos em erros”, observou. Diante de uma cadeia tão complexa, Cláudia reforçou que existe a tecnologia que é visível a todos – aplicada a equipamentos ultramodernos, por exemplo – mas que há, também, muita tecnologia nos bastidores.

Underuse e overuse

Uma das principais pautas da Abramed também ganhou espaço nessa edição do Healthcare Talks: underuse e overuse. Carla perguntou qual o posicionamento da Abramed quanto aos questionamentos de desperdícios ocorridos nas solicitações de exames tanto no sistema público quanto no sistema privado.

Ao responder essa pergunta, Shcolnik explicou qual é o atual cenário nacional. Segundo o executivo, estamos realizando cada vez mais exames, porém existem fatores que justificam esse aumento. “Além de termos uma população envelhecendo, temos muito mais gente preocupada com sua saúde, focadas em prevenção. O que é positivo”, disse reforçando que não se pode interpretar exame com resultados normais como desperdício, visto que o preventivo é extremamente eficaz para o diagnóstico precoce e que o esperado é um exame normal, mas que somente por esse acompanhamento de rotina chega-se a um exame “anormal” no início de qualquer patologia.

O presidente também aproveitou a oportunidade para derrubar mais um mito: o de que muitos exames não têm seus resultados acessados. “Apuramos que apenas 5,4% dos laudos dos exames não são vistos. Há, muitas vezes, essa percepção equivocada, pois vivemos em uma era moderna na qual muitas pessoas não vão mais aos laboratórios pegar seus resultados. Elas acessam pela Internet”, afirmou.

A sustentabilidade do sistema é sim uma preocupação da Abramed e o executivo reconhece que os recursos não são suficientes para suprir toda a demanda populacional e que, portanto, as sociedades médicas precisam ser apoiadas no que tange à orientação dos médicos para a indicação dos exames adequados.

Claudia também se manifestou quanto à necessidade do uso racional desses exames. “Devemos lutar contra os exames pedidos em demasia, mas também precisamos mudar o modelo que está sendo aplicado e que, hoje, atrela a melhor remuneração à maior quantidade de procedimentos. O nosso sistema já entendeu que essa não é uma vertente que dá certo e todos temos trabalhado para mudar. Estou otimista de que vai melhorar e de que teremos o foco sempre no melhor desfecho para o paciente”, explicou ao se referir às mudanças na forma de remuneração que são debatidas na cadeia de saúde.

Hoje o Brasil prioriza o fee-for-service, modelo que paga o prestador de acordo com os procedimentos realizados. O que muitos consideram ideal está aplicado em uma proposta que remunera e gera incentivos de acordo com o desfecho, e não com a quantidade. É o que vem sendo chamado de saúde baseada em valor.

Impactos da pandemia

Os primeiros meses da pandemia trouxeram um impacto extremamente relevante ao setor de diagnóstico, que assistiu a quedas drásticas no movimento em decorrência do receio das pessoas em comparecer aos atendimentos durante uma pandemia infecciosa e, também, à dificuldade de passar em consultas com seus médicos.

Questionado sobre essa redução, Shcolnik trouxe dados chocantes sobre queda no número de exames realizados entre março e agosto de 2020. “Os exames de hemoglobina glicada, que monitoram a diabetes, caíram 32,5%; as mamografias diminuíram 46%; e o Papanicolau, para rastreio do câncer de colo de útero, teve redução de quase 50%. Três exemplos básicos que deixam claro que o afastamento dos pacientes dos exames em 2020 trará consequências para seus prognósticos e também consequências econômicas para o sistema”.

Relembrando qual foi a solução aplicada pelas redes de laboratórios e clínicas do país, Claudia mais uma vez parabenizou o pioneirismo dessa classe ao mencionar que rapidamente as unidades se prepararam para prover uma infraestrutura adequada ao novo cenário e capaz de gerar atendimentos seguros aos pacientes.

Realização de exames fora do ambiente laboratorial

Por fim, as CPS 911 e 912 – sobre realização de exames laboratoriais em qualquer serviço de saúde –, abertas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), também entraram na agenda do webinar. Shcolnik fez questão de enfatizar que a grande preocupação da Abramed está na disponibilização exames que coloquem em risco a segurança dos pacientes. Segundo o executivo, é importante que todo teste seja realizado por um profissional capacitado. Além disso, aqueles com maior complexidade precisam de outro tratamento. “Existem testes diagnósticos laboratoriais de média e alta complexidade que deveriam se manter restritos às infraestruturas totalmente controladas dos laboratórios clínicos”, disse.

Gouvêa defende a ampliação do acesso por meio de testes point-of-care, mas reforçou a importância da qualidade dos kits serem testados e de haver um sistema de treinamento para capacitação dos profissionais. “A Anvisa precisa olhar para isso”, pontuou.

Essa edição do Healthcare Talks sobre o protagonismo da medicina diagnóstica está disponível para visualização AQUI.

Primeiro episódio de 2021 da série #DiálogosDigitais Abramed debate futuro da saúde suplementar

Com representantes de toda a cadeia produtiva, encontro virtual falou sobre reflexos da pandemia, incorporação tecnológica e responsabilidade compartilhada rumo à sustentabilidade do sistema

28 de abril de 2021

O primeiro episódio da edição 2021 da série #DiálogosDigitais Abramed trouxe à tona debates valiosos sobre o futuro da saúde suplementar. Realizado virtualmente na noite de 27 de abril e moderado por Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Associação, o encontro contou com a participação de Alex Galoro, diretor do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin Medicina Diagnóstica; Carlos Eduardo Gouvêa, presidente-executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL); e Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde).

Relembrando todos os impactos que a pandemia de COVID-19 causou nas estruturas de saúde globais, Figueira iniciou o bate-papo questionando como a rede suplementar de saúde no Brasil – indispensável ao atendimento populacional como um complemento à rede pública – fará para dar vazão a todos os procedimentos que foram represados nos últimos meses em decorrência do afastamento dos pacientes das consultas, exames e cirurgias eletivas.

Com ampla expertise nesse cenário e representando uma parte valiosa da rede suplementar nacional, Vera pontuou que houve sim uma paralisação bastante forte nos primeiros meses da crise, mas que o movimento foi sendo retomado e, hoje, já supera o anotado na pré-pandemia. “No final do ano começou uma retomada expressiva e esse primeiro trimestre de 2021 foi histórico. Tanto que o número de autorizações emitidas para realização de exames e terapias em março desse ano foi maior do que o que observamos em março de 2019”, declarou.

Trazendo a perspectiva de quem está dentro de uma das principais redes de laboratório do país, Galoro pontuou que a queda do movimento chegou a 50% em abril do ano passado e que as demandas por testes de COVID-19 chegaram a representar metade do faturamento ao longo de alguns meses. Porém, com o movimento de preparação dos laboratórios e clínicas e a indicação de que as pessoas não deveriam postergar seus atendimentos, houve uma evolução gradual.

“O movimento foi sendo retomado com a busca de outros exames além da COVID-19. Assim, com a chegada da segunda onda, nos deparamos com as duas situações: um nível de exames para detecção do novo coronavírus já alto, acima da linha basal anterior, e o crescimento pelos outros diagnósticos”, disse. Falando sobre o futuro, pontuou que “teremos uma retomada, uma pressão grande para atender as demandas que foram deixadas em segundo plano e a rede precisa estar preparada para absorver”.

Então, sobre o futuro da saúde suplementar no Brasil, Vera finalizou que a pandemia mostrou de forma ainda mais clara como a rede privada atua em conjunto com a rede pública para atendimento geral da população e que esse pensamento de um sistema integrado precisa ser valorizado. “A saúde suplementar cuida de 47 milhões de brasileiros que deixam de utilizar o SUS. Essa complementaridade é importante e temos que compreender formas de trazer ainda mais beneficiários para a saúde suplementar. Essa é uma agenda que estamos bem alinhados, tanto prestadores quanto operadoras”, finalizou.

Rol da ANS

Dentro desse contexto de que a pandemia não exclui as outras doenças que seguem acometendo a população, o quarteto debateu sobre os processos de inclusão de novos exames e procedimentos no Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Para introduzir o assunto, Figueira lembrou que a ANS continuou se movimentando para, mesmo diante de um cenário pandêmico, seguir com a inclusão de novos exames e procedimentos em benefício da população atendida pelas operadoras de saúde.

“O processo de atualização do rol se repete a cada dois anos e esse ano entraram 109 novos procedimentos entre exames, medicamentos, imunobiológicos, cirurgias e terapias, o que foi uma atualização bastante expressiva”, disse Vera ao enfatizar a importância das análises de impacto para que o sistema possa absorver essas novas tecnologias de forma sustentável.

Outro ponto mencionado pela executiva foi a rápida incorporação dos testes de COVID-19 em caráter excepcional. “A ANS, ainda em maço de 2020 e independente do Rol, incorporou o RT-PCR e, segundo nosso levantamento, a rede suplementar desde então já realizou mais de 3 milhões de testes. Ainda dentro da COVID-19, em junho incorporou também os sorológicos e nossas operadoras, até agora, já fizeram cerca de 1,5 milhão desses exames que detectam os anticorpos”, pontuou.

Figueira concorda com Vera quanto a necessidade do uso racional dos exames para a construção de um sistema sustentável. “Tudo tem que ser racionalizado e precisamos ser guardiões das boas práticas junto com o sistema de saúde. Temos, inclusive, essa responsabilidade de disseminar conhecimento técnico para a aplicação das tecnologias disponíveis”, declarou.

Porém, o vice-presidente da Abramed lembra que na última incorporação da ANS, feita em 2018, o impacto orçamentário estimado não foi alcançado. Segundo estudo da Associação – que computou a quantidade de exames realizados por suas associadas ao longo do primeiro ano de vigência do novo rol e, também, os dados compartilhados pela ANS nesse mesmo período – a estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) era de que seriam efetivados 77.441 exames da lista de 10 novos procedimentos diagnósticos apontados como de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Porém, encerrado o primeiro ano de vigência, as associadas à Abramed confirmaram a realização de apenas 37.665 exames, o que confirma que a inclusão de novos procedimentos não atingiu sequer 50% do volume de exames que eram esperados para os primeiros 12 meses após a ampliação do Rol.

Exemplificando que a incorporação sempre acaba trazendo um cunho de racionalidade, Galoro utilizou, como exemplo, os testes de COVID-19 que foram incluídos no Rol em 2020. “As diretrizes de utilização (DUTs) são importantes para racionalizar e regularizar o uso. Para o RT-PCR, a recomendação era de aplicação em pacientes sintomáticos. E quando foram incluídos os sorológicos, também vieram com diretrizes especificadas”, disse.

Outro ponto que também acaba interferindo nesse impacto está na qualidade dos kits. Durante os primeiros meses da pandemia de COVID-19, o Brasil assistiu à uma disseminação de kits de baixa qualidade que entregavam resultados pouco confiáveis e atrapalhavam a estratégia de contenção do novo coronavírus. Mas esse cenário foi minimizado pela atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e também por projetos paralelos de validação.

Pensando nisso, Figueira questionou Gouvêa se ele acreditava que a Anvisa deveria ser envolvida na validação de todo e qualquer tipo de teste disponibilizado no mercado. Porém, para o executivo, não há essa necessidade. “Na minha opinião, não precisa. Temos, como indústria, controles suficientes para garantir bons produtos. E quando há algum extremo, o mercado também tem condições de monitorar, reclamar e denunciar”, finalizou.

Testes pós-vacina de COVID-19

Um dos assuntos mais comentados do momento, os testes sorológicos feitos após a imunização também entraram no debate na noite de 27 de abril. Galoro enfatizou que há o questionamento sobre a importância dessa testagem e que ele é válido, porém trouxe pontos que também devem ser relevantes.

“Os resultados desses testes não interferem na conduta. Se der negativo ou se der positivo, o paciente deve seguir usando máscara, com as medidas de isolamento e proteção. Não há, inclusive, qualquer indicação de reforço da dose, visto que a imunidade pode vir de uma resposta celular, por exemplo, e não dos anticorpos. Porém esses testes trazem informações para a nossa evolução. Sem testar a população vacinada, não teremos esses dados para avaliação”, pontuou.

Ainda sobre os testes pós-vacina, Gouvêa complementou que, infelizmente, a população brasileira vacinada ainda é muito pequena e que muitos só tomaram a primeira dose. “E não há indicação de testagem antes da segunda dose”, disse.

Em um papo muito produtivo, os especialistas também abordaram outros diversos assuntos como, por exemplo, os desafios tributários do setor – que apesar de muitos apontarem impactar apenas a área privada, acabam respingando também no SUS, visto que a indústria muitas vezes precisa repassar o custo dos impostos aumentados – e a relevância da telemedicina como forma de ampliar o acesso populacional às especialidades médicas.

Para encerrar o encontro, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, agradeceu a participação de todos e aproveitou para falar sobre o próximo episódio do #DiálogosDigitais que acontecerá em junho. “No dia 22 de junho falaremos sobre gestão de saúde corporativa e a medicina diagnóstica. Importante lembrarmos sobre a responsabilidade de todos os players dentro dessa busca por sustentabilidade”, comentou.

O primeiro episódio está disponível na íntegra no canal do YouTube da Abramed. Clique AQUI para assistir.

Na indústria, inovação e transmissão de conhecimento para controle da COVID-19

Antonio Vergara, da Roche Diagnóstica, fala sobre as estratégias da companhia durante a crise

Com a pandemia de COVID-19 ainda em curso, o setor de medicina diagnóstica segue com seu planejamento estratégico fortalecido a fim de atender às demandas populacionais para controle do novo coronavírus. Contando um pouco sobre os desafios enfrentados ao longo de 2020 e reforçando a importância do investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação, Antonio Vergara, presidente da Roche Diagnóstica Brasil, concedeu uma entrevista exclusiva à Abramed em Foco.

Nesse papo, o executivo reforça que a atuação global da marca permitiu que o Brasil aproveitasse toda a experiência vivida na China e na Europa para a melhor tomada de decisão e enfatiza que a companhia vem investindo continuamente em educação baseada em ciência para levar conhecimento sobre a infecção e sobre todas as inovações que estão disponíveis para a população.

Confira a entrevista completa.

Abramed em Foco – A pandemia impactou todos os setores da economia, sem exceção. Quais foram os principais entraves vividos pela Roche Diagnóstica ao longo dos últimos meses e qual foi a estratégia da companhia para vencer esses desafios?

Antonio Vergara – No último ano vivemos um período sem precedente, em que adaptação e foco foram fundamentais para encontrarmos com agilidade maneiras para apoiar a sociedade no enfrentamento da COVID-19.

Foram muitos os desafios, desde os cuidados para prezar pela segurança da nossa equipe de campo, que continuou ativa dando todo o suporte aos laboratórios e hospitais pelo Brasil; até a complexidade logística para conseguir disponibilizar os testes em todo país, superando a diminuição do transporte aéreo no início da pandemia.

Por termos uma atuação global, pudemos acompanhar de perto os desdobramentos da pandemia na China e na Europa, o que nos permitiu aprender com a experiência em outros países para estabelecermos planos de atuação locais efetivos. Ao mesmo tempo, nosso time local dedicou todos os esforços em diversas frentes para atuar de forma integrada e colaborar com parceiros, autoridades, governos e instituições para fortalecer as estratégias de combate à pandemia. Outro ponto importante foi o trabalho de educação contínua por meio da ciência em parceria com atores da saúde, levando conhecimento sobre a doença e toda a inovação disponível, estreitando o nosso diálogo com médicos, instituições de saúde e até mesmo a população.

Abramed em Foco – A Roche investe cerca de 20% do seu faturamento global em pesquisa e desenvolvimento, correto? Esse investimento tornou-se ainda mais indispensável frente à pandemia?

Antonio Vergara – Correto. Fazemos um alto investimento em P&D de forma contínua durante os nossos 125 anos e isso permite que possamos inovar constantemente para atender as situações de saúdes mais complexas, como a pandemia de COVID-19. Mas, além de oferecer novas tecnologias ao mercado, temos um compromisso com a segurança de nossos pacientes e isso se reflete na qualidade das nossas soluções.

Nosso foco em apoiar a sociedade neste momento permitiu que, poucas semanas após o anúncio da COVID-19, disponibilizássemos o primeiro teste PCR automatizado para dar suporte aos profissionais da saúde no diagnóstico da doença. De lá para cá, lançamos, globalmente, 15 soluções para auxiliar na gestão da doença, seis delas já estão disponíveis no Brasil: os testes moleculares por RT-PCR, antígeno, sorológicos e Point of Care.

Oferecemos um portfólio completo de altíssima qualidade, especificidade e sensibilidade em toda a jornada do diagnóstico, dentro e fora do laboratório. Seja na detecção do SARS-CoV-2 por RT-PCR ou antígeno, na triagem de pessoas infectadas pela análise de anticorpos totais e, agora, no monitoramento pós-vacinação com os testes de anticorpos Spike.

Considerando a previsão do calendário de vacinação e os tratamentos que estão por vir, a utilização eficiente dos testes é fundamental para mudarmos o cenário da pandemia. Ou seja, realizar o teste adequado, no momento adequado para o paciente certo. E tudo isso, levando em consideração a qualidade dos testes.

Pensar em inovação é também pensar em como ampliar o acesso a novas tecnologias para oferecer melhores resultados para os pacientes e, a longo prazo, promover a sustentabilidade do sistema de saúde. E nós, como Roche, estamos comprometidos em auxiliar a sociedade neste sentido.

Abramed em Foco – Rapidamente a Roche colocou, no mercado, o teste cobas® SARS-CoV-2. Como foi o processo de desenvolvimento desse teste sob a pressão da necessidade por exames diagnósticos? E quais os pilares da companhia para a comercialização de novos testes de qualidade para detecção da infecção pelo novo coronavírus?

Antonio Vergara – Foi preciso dedicação total e foco, em todos os sentidos. Sabemos que nossas soluções são elementos fundamentais no combate da pandemia. Neste último ano, vimos todos os nossos colaboradores, dos cientistas da Suíça, Alemanha e EUA, dos profissionais trabalhando em casa, até os engenheiros em campo nos países, dedicados em desenvolver, aprovar e disponibilizar nossas soluções pelo mundo.

Temos a inovação em nosso DNA, mas sem nossas pessoas sabemos que nosso impacto não seria o mesmo. Por isso, tenho muito orgulho em fazer parte da equipe Roche e estar escrevendo essa história ao lado de cada um de nossos funcionários no Brasil e no mundo. Digo isso porque para conseguir agilizar os processos e disponibilizar os testes o mais rápido possível foi preciso trabalhar em colaboração dentro e fora da companhia.

Outro fator fundamental para nós foi estabelecer o diálogo constante com clientes, governos e instituições para ampliar o acesso da população às inovações. Ao trabalhar ao lado de diferentes atores da saúde conseguimos identificar onde podemos agregar mais valor e estabelecer parcerias que façam a diferença.

Abramed em Foco – A divisão de diagnóstico da Roche fechou o ano de 2020 com crescimento devido à produção de testes de COVID-19 e insumos para esses testes?

Antonio Vergara – De fato, o diagnóstico ganhou uma relevância que nunca vimos antes. Mas apesar do que muitas pessoas acreditam, atuar no mercado diagnóstico não foi sinônimo de alto faturamento. No ano passado, mantivemos um resultado estável fechando o ano com faturamento de R$674 milhões, crescimento de 0,3% em relação a 2019.

Por causa da pandemia, tivemos uma queda nas vendas de rotina. Ou seja, ao mesmo tempo que tivemos uma alta demanda pelos testes de diagnósticos de COVID-19, as pessoas deixaram de realizar exames regulares postergando os cuidados com a saúde de forma geral. Vimos pacientes com doenças crônicas parando seu tratamento, cirurgias sendo canceladas e diagnósticos sendo postergados.

Abramed em Foco – Qual é, a seu ver, o grande desafio da medicina diagnóstica brasileira hoje? E como a indústria pode ajudar o setor a vencer esses gargalos?

Antonio Vergara – O diagnóstico sempre desempenhou um papel fundamental na melhor gestão da saúde. Sabemos que 70% das decisões clínicas são tomadas a partir de análises laboratoriais e, apesar disso, ele representa apenas 0,4% para a Indústria do investimento em saúde. É preciso investir em inovação em saúde de forma constante para promovermos a melhor gestão da saúde. Tecnologias que foram disruptivas no passado já não são mais a melhor opção para evitarmos doenças de alto impacto. Como, por exemplo, quando falamos do câncer de colo de útero, que é prevenível se incorporarmos o teste de HPV no rastreio primário das mulheres com mais de 25 anos. Este é apenas um dos exemplos.

Por outro lado, de nada adianta trazermos inovações para o país se não conseguirmos ampliar o acesso da população a elas. Nesse sentido, temos dedicado nossos esforços para colaborar com clientes, instituições e governos, levar o conhecimento científico à sociedade médica e incentivar a incorporação de soluções que possam aprimorar a gestão da saúde de forma sustentável.

É preciso também que as pessoas tenham mais interesse sobre sua jornada da saúde, permitindo que tenham conhecimento para dialogar com seus médicos e decidir em conjunto o melhor caminho para cada situação. Nós, como líderes do setor, temos um papel importante em promover este conhecimento e auxiliar neste diálogo para evoluir a prática médica e transformar a maneira que cuidamos da nossa saúde.

Precisamos mudar o nosso olhar e investir mais em prevenção de doenças, detecção precoce e monitoramento efetivo, colocando a ciência de qualidade em benefício dos pacientes e da sociedade.

Abramed em Foco – Como enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

Antonio Vergara – A Abramed tem tido um papel crucial em promover discussões dentro do setor e fortalecer nossa atuação junto às instituições, governos e agências regulatórias para a adoção de políticas e medidas que evoluam a assistência médica no país e promovam a sustentabilidade de toda a cadeia de saúde.

Ao promover conteúdos como este, por exemplo, a associação abre espaço para reflexões e debates importantes para o setor e futuras parcerias. Acho que a Abramed pode e deve continuar neste caminho de educação constante da sociedade, fortalecendo a importância da medicina diagnóstica e do impacto de se ampliar o acesso a inovações de qualidade para que as pessoas vivam mais e melhor. Estaremos ao seu lado para continuar ampliando o conhecimento de todos e construindo a saúde do futuro de forma sustentável.

Medicina diagnóstica tem papel relevante desde o início da pandemia

Wilson Shcolnik participou do workshop on-line promovido pelo CBEXs em que comentou os diferentes testes de Covid-19

26 de abril de 2021

Convidado pelo Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) para falar sobre os diferentes tipos de testes para a detecção da COVID-19 desde o início da pandemia, o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, destacou a relevância da medicina diagnóstica e reforçou o protagonismo do setor durante a pandemia.

No encontro virtual, coordenado pelo presidente do Conselho de Administração do CBEXs, Francisco Balestrin, realizado no dia 14 de abril, Shcolnik fez uma avaliação do cenário desde a declaração de emergência em saúde pública decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no início de 2020 até os dias atuais.

Ele afirmou que foi um grande desafio para o setor, pois ninguém no mundo estava preparado para enfrentar essa crise. “Tivemos que organizar nossas infraestruturas e fluxos de atendimento, bem como buscar insumos pelo país e no mercado internacional, trabalhar a comunicação com as comunidades médicas e sociedades científicas quanto com a sociedade, principalmente após a OMS declarar que o melhor caminho para contenção da COVID-19 era a testagem em massa”, disse.

Mas o setor de medicina diagnóstica reagiu rapidamente e se adaptou à nova realidade, sendo pilar essencial para uma resposta eficaz, focada na menor geração possível de danos. “Os laboratórios clínicos ganharam destaque e os testes foram muito valorizados”, destacou Shcolnik, enfatizando a relevância dos exames diagnósticos em momentos de crises de saúde.

Entre os fatores que alavancam o protagonismo do setor estão o fato de que o exame molecular RT-PCR, considerado padrão-ouro para detecção do novo coronavírus, foi desenvolvido in house para que o diagnóstico fosse mais ágil. “Em meio a tantas incertezas sobre como agir contra esse patógeno desconhecido, testar o maior número possível de infectados, isolá-los e testar seus contatantes sempre foi a estratégia número um para combate à disseminação do novo coronavírus. Nunca houve dúvidas quanto à relevância do diagnóstico precoce”, ressaltou Shcolnik.

Além do teste molecular RT-PCR, contou o executivo, no Brasil os laboratórios privados rapidamente passaram a oferecer alternativas como o teste por proteômica, que detecta a proteína do novo coronavírus em amostras nasofaríngeas; o RT-LAMP, capaz de identificar material genético do vírus em amostras de saliva; e o sequenciamento genético de nova geração.

O presidente da Abramed ainda lembrou dos testes sorológicos (exames laboratoriais para IgG, IgM, IgA e anticorpos totais), que, diferentemente dos testes rápidos, quando realizados em ambientes controlados, que respeitam as boas práticas laboratoriais, são bastante confiáveis para identificar anticorpos e, assim, auxiliar no diagnóstico tardio e em inquéritos epidemiológicos.

E para ampliar a capacidade de testagem e, ao mesmo tempo, proteger os cidadãos, as unidades laboratoriais adaptaram suas estruturas para receber os pacientes com suspeita de COVID-19 separadamente dos que foram realizar outros exames. Uma das alternativas encontradas pelos laboratórios foi oferecer o exame para detecção do novo coronavírus em sistema drive-thru, como forma de minimizar qualquer risco ao paciente.

Com todas essas ações, mais de 40% dos diagnósticos da infecção pelo novo coronavírus realizados no Brasil ao longo de 2020 foram feitos por associadas à Abramed. Segundo Shcolnik, essas empresas realizaram, até o fim de dezembro, 10,1 milhões de testes, sendo 4,5 milhões RT-PCR e 5,6 milhões de sorológicos.

Dados confiáveis

A união do setor e a parceria público-privado para a análise de amostras coletadas por laboratórios menores em todas as regiões do país contribuíram para os resultados efetivos dos exames e para o maior controle da COVID-19, contou o presidente da Abramed. Ele explicou que o canal de comunicação direto criado entre os laboratórios privados e a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde tem sido importante para a notificação rápida dos resultados dos exames para diagnóstico da infecção e tem contribuído para que o mesmo ocorra com a unidades laboratoriais do Sistema Único de Saúde (SUS).

O executivo ressaltou que os dados gerados a partir dos testes positivos e negativos são essenciais para consolidar análises e fundamentar estratégias. Porém, não basta gerar dados, é preciso que essas informações estejam corretas.  “De nada adianta coletarmos informações ruins ou, então, de instrumentos pouco confiáveis. Esse é o caminho para tomarmos decisões erradas”, pontuou Shcolnik.

Por isso, ele enfatizou que os testes autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a serem realizados fora do ambiente controlado, como as unidades laboratoriais, devem ser realizados em ambientes apropriados, por profissionais capacitados, que usem controles de qualidade. “Caso contrário, teremos resultados questionáveis, pois um resultado falso negativo gerado pela realização de um teste rápido dentro da janela imunológica do paciente pode, por exemplo, criar uma falsa sensação de segurança.”

Dentro deste aspecto, sobre as Consultas Públicas 911 e 912 – sobre realização de exames laboratoriais em qualquer serviço de saúde –, realizada pela Anvisa em 2020, o presidente da Abramed explicou que a revisão da RDC 302/2005, que regulamenta os laboratórios clínicos para funcionamento, era um pleito frequente do segmento, visto que com a modernização de tantos processos que impulsionaram novas práticas, uma atualização se fazia necessária.

Porém, a revisão da norma por meio das CPs 911 e 912 assustou o setor. “A CP 911 trata das práticas farmacêuticas após a lei nº 13.021/2014 que dá a esses estabelecimentos o status de serviços de saúde. Desde então, farmácias estão se preparando para esse novo papel. Mas, para nós, essa assistência farmacêutica estaria relacionada ao monitoramento e uso de medicamentos (NQSurgicalDentistry). Não seria tão abrangente como estamos vendo agora que outros serviços também são oferecidos”, explicou Shcolnik.

Já a CP 912 cogita, sem limites, a liberação da realização de exames fora dos ambientes altamente controlados dos laboratórios clínicos, e, para o presidente da Abramed, adota terminologias incompatíveis com a realidade internacional, desconstrói os laboratórios brasileiros e desrespeita os profissionais do setor. “Entendemos que para o riscos sanitários serem minimizados, qualquer procedimento realizado em farmácia deve obedecer às regulamentações e normativas para as práticas laboratoriais exigidas dos laboratórios clínicos para a realizações de exames”, afirmou.

Shcolnik disse que as duas CPs (911 e 912) já foram encerradas e agora as entidades do setor de medicina diagnóstica e de análises clínicas aguardam o relatório da área técnica da Anvisa para dialogar com o órgão regulador.

Papel da ANS

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na opinião de Wilson Shcolnik, teve um papel importante ao longo da pandemia ao incluir, desde março de 2020, no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, o teste RT-PCR para diagnóstico laboratorial da COVID-19. Em maio, mais seis exames que auxiliam no diagnóstico e tratamento do novo coronavírus foram incluídos na lista de coberturas obrigatórias dos planos de saúde e fizeram a diferença principalmente para o controle da doença nas pessoas internadas. “Os exames de dosagem de Dímero D, fundamental para diagnóstico e acompanhamento do quadro trombótico tem papel importante na avaliação prognóstica na evolução dos pacientes com COVID-19, e de Procalcitonina, que auxilia na distinção entre situações de maior severidade e quadros mais brandos da doença, são dois bons exemplos que constituíram um marco importante dessa pandemia”, frisou.

Porém, a suspensão no atendimento aos procedimentos eletivos determinado pela ANS nos primeiros meses da pandemia, para o presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi a responsável por momentos difíceis enfrentados pelo setor em 2020. “Chegamos a um decréscimo de quase 40% no número de atendimentos. Com o conhecimento adquirido pelos profissionais, o preparo de infraestrutura das empresas e com o correr natural da crise, o movimento começou a ser recuperado no fim do ano”, disse.

Shcolnik informou que no início de 2021, o setor teve o receio de novamente a agência reguladora decidir pela suspensão da resolução nº 259, responsável pela instituição de prazos para realização dos procedimentos pelos planos de saúde, o que não aconteceu. “A ANS entendeu que tal feito traria impactos à sustentabilidade do setor”, afirmou.

Desafios para o setor

Com o avanço da vacinação contra a COVID-19, o desafio para os laboratórios agora passa a ser também encontrar o teste sorológico com maior precisão para apontar a presença dos anticorpos protetores gerados a partir dos diferentes estímulos vacinais, já que os disponíveis atualmente podem não conseguir.

Shcolnik explicou que os testes sorológicos são desenvolvidos para verificar a presença de anticorpos contra o SARS-CoV-2, proteínas específicas que se ligam ao vírus com o intuito de defender o organismo. Porém, o vírus produz tipos diferentes de proteínas e o organismo pode contra-atacar por várias frentes. As principais proteínas que estimulam o sistema imunológico são a Spike, responsável pela ligação do vírus na célula humana e peça-chave na infecção; e as do nucleocapsídeo viral, envelope que protege e carrega a carga genética do vírus, o RNA viral.

“Dentro desse cenário, os fabricantes de testes de anticorpos utilizam uma dessas proteínas para o desenvolvimento dos reagentes”, ressaltou o executivo, lembrando ainda que cada vacina tem um tipo de mecanismo diferente de levar à imunidade e dependendo do tipo do imunizante, há um estímulo específico de anticorpos contra uma proteína. “Se o teste utilizado não cobrir essa proteína, o resultado pode ser um falso-negativo em alguém que está, de fato, imunizado”, completou.

O que há neste momento, segundo o presidente da Abramed, é que não existe evidência do que possa ser a melhor utilidade do exame que quantifica os anticorpos neutralizantes, mas ele acredita que esses testes podem trazer informações importantes. “Tenho acompanhado estudos nacionais de pessoas vacinadas que não desenvolveram anticorpos neutralizantes. Por isso, eu considero que esse exame, embora não seja ainda inteiramente conhecido, pode trazer sim informações relevantes que podem nos ajudar a entender a ação que houve por parte de organismos que já receberam o imunizante. Só não conhecemos ainda todo o espectro de utilidade dessas informações”, concluiu Shcolnik.

Abramed participa de audiência com o ministro da saúde Marcelo Queiroga

Reunião foi realizada na quinta-feira, 22 de abril, em Brasília (DF)

23 de abril de 2021

O Ministério da Saúde promoveu, na quinta-feira, 22 de abril, uma audiência para ouvir as necessidades da saúde suplementar nessa fase da pandemia e elencar propostas voltadas à sustentabilidade do setor. Wilson Shcolnik e Leandro Figueira, respectivamente presidente e vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), apresentaram as demandas dos laboratórios e clínicas de imagem que seguem atuando fortemente durante a crise, ofertando e realizando múltiplos testes para detecção da COVID-19 e de anticorpos contra o novo coronavírus.

O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recebeu, também, Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp); o deputado Pedro Westphalen, vice-presidente da Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde); Mirócles Veras, presidente da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB); e Aldevânio Morato, presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH).

No encontro, os executivos se colocaram à disposição do Ministério da Saúde para auxiliar na adoção de medidas para enfrentamento da pandemia e ressaltaram a importância da indicação de um profissional da saúde, atuante na área médica e conhecedor do segmento e de seus principais entraves, para assumir a pasta.